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SISTEMAS DE RECIRCULAÇÃO DE ÁGUA PARA AQUICULTURA (SRAP)

1. Split Pond

Segundo Kubitza (2015), Split pond é um sistema de cultivo de grandes viveiros


nos quais são divididos em uma área de cultivo que corresponde de 15 a 20% da área
total do viveiro. O restante é utilizado para circulação e recuperação da água. A figura X
mostra a estrutura do dique divisor e o dique central (Figura XX).

Figura XX – Representação do sistema Split pond. As setas indicam a direção do fluxo da água
entre os dois compartimentos do viveiro.

Fonte: Kubitza (2015).

1.1 Funcionamento e Estruturação

O dique central é utilizado para direcionar, através do circulador de pás presente


em uma das extremidades do dique divisor, a agua oriunda da área de cultivo para a área
da qualidade de água. Na outra extremidade do dique divisor há um tubo ou comporta
que serve para que agua retorne à área de cultivo, promovendo a circulação de água nos
dois compartimentos. Na área de circulação, microalgas são responsáveis por restaurar o
nível de oxigênio dissolvido, extrair o gás carbônico e nutriente presente na área
(KUBITZA, 2015).

1.2. Benefícios

A agua que retorna para a área de cultivo apresenta menores teores de amônia e
gás carbonico e é rica em oxigênio. Este mecanismo possibilita maior eficiência de uso
do recurso hídrico, uma produção anual de 3 a 4 vezes maior que em viveiros
convencionais além de maior taxa fotossintética (8 a 12 g de C fixado/m²/dia) quando
comparado aos viveiros tradicionais (2 a 4 g de C fixado/m²/dia). Apresenta também o
uso eficiente do espaço físico, viabiliza a operação em áreas com recursos hídricos
limitados e possibilita policultivo com tilápia e camarão, como mostrado na Figura XX
(KUBITZA, 2015).

Figura XX – Representação do uso de Split pond em policultivo de tilápia e camarão.

Fonte: Kubtiza, 2015.

1.3. Problemática

A transformação de grandes viveiros em Split Pond necessita de investimento


com movimentação de terra para os diques, construção do canal de recirculação e da
comporta para retorno da agua, circulador de água, aeradores e rede de energia para
manter o sistema, além de aeradores caso aconteça interrupção de geradores
(KUBITZA, 2015).

2. Sistema de Bioflocos - Biofloc Technology System (BFT)

Bioflocos são partículas orgânicas em suspensão na água ou aderidas às paredes


dos tanques, no qual se desenvolvem microalgas, organismos microscópicos diversos
(protozoários, rotíferos, fungos, oligoquetos), dentre outros microorganismos, em
especial uma grande diversidade de bactérias heterotróficas (Kubitza, 2011). Os
microrganismos supracitados assimilam e reciclam os compostos nitrogenados
dissolvidos pela excreção e restos de alimento em decomposição, tornando-se uma fonte
de proteínas para os organismos criados (CRAB et al, 2007, BUFORD et al 2003).

Figura 7 – Utilização de substratos verticais para fixação de biofilme em tanques de cultivo de


Litopenaeus vannamei em sistema de bioflocos na Estação Marinha de Aquicultura da FURG.
Fonte: Krummenauer et al., 2013.

2.1. Funcionamento e Estruturação

A eficiência do sistema depende de níveis adequados de oxigênio, pH e


alcalinidade nos tanques de criação. Para cada grama de nitrogênio amoniacal oxidado,
há um consumo médio de 4,18 g de oxigênio e 7,07g de alcalinidade, reduzindo o pH e
produzindo 0,17 g de biomassa bacteriana. Também existe um consumo, ainda que
moderado, pela ação das bactérias heterotróficas, cerca de 3,57g de alcalinidade, para
cada grama de nitrogênio amoniacal consumido (EBELING et al., 2006).

A manutenção das concentrações de amônia e nitrito dentro de limites aceitáveis é


normalmente realizada através da adição de uma fonte de carbono, desta forma a relação
C:N é mantida em níveis adequados para promover o crescimento e manutenção de
bactérias heterotróficas as quais utilizam os compostos nitrogenados para o seu
crescimento (WASIELESKY et al., 2006; BALLESTER et al., 2010). Kubtiza (2011)
recomenda assegurar a relação C/N próxima a 15-20:1 nos resíduos orgânicos.

Para Kubitza (2011) quanto mais proteína na ração, maior será o teor de
nitrogênio, resultando em resíduos com baixa relação C/N. Uma ração com 16% de
proteína possui relação C:N próxima de 20:1, ideal para a formação de bioflocos.
Aplicações periódicas de fonte rica em carbono como açúcar, melaço, farinhas de trigo
e de mandioca, quirera de arroz, fubá, resíduos de padaria ou pastifício, entre outras
possibilidades asseguram a relação C:N presente na agua, onde geralmente são definidas
com base na concentração de nitrogênio.

Os resultados mostram viabilidade no cultivo em sistema de biofloco para juvenis


de Macrobrachium rosenbergii (NEGRINI, 2014), larvas de Jundiá Rhamdia quelen
(POLI, 2013), Litopenaeus vanamei (SCOPEL, 2010); (SILVA, et. al, 2013); PIÉRRI,
2012); (FRÓES, 2012). Segundo (BALLESTER et al., 2007) os microrganismos
presente nos bioflocos são conhecidos pela presença elevada de nutrientes essenciais ao
camarão, como ácidos graxos polinsaturados e aminoácidos que auxiliam no
crescimento de peixes e crustáceos.

Um exemplo desta prática pode ser visto na cidade de Uruguaiana, no Rio Grande
do Sul, localizada a mais de 500 km da costa. Nesta cidade encontra-se o “Projeto
Camaroeste”, uma fazenda modelo de produção de camarões Litopenaeus vannamei em
sistema BFT, que se encontra no quinto ciclo de cultivo, sempre reutilizando a mesma
água (MUTTI et al. 2013).

2.2. Benefício

O sistema proposto não gera efluente, necessita de menor volume de agua, menos
área de cultivo, podem ser conduzidas em estruturas completamente isoladas do
ambiente natural além de apresentar características de sustentabilidade e biossegurança
bastante atrativas (WASIELESKY et al., 2006).

Possibilita o cultivo de camarão marinho em Raceway (Figura XX) com


densidade altas de 400-600 camarões/m² através de aeração na coluna d’agua a fim de
distribuir e manter suspenso uniformemente o material particulado por todo o tanque
(GAONA et al., 2013).

Figura XX- Visão de um raceway utilizado para produção de camarões marinhos, onde utiliza-se forte
aeração para manutenção do biofloco em suspensão.

Fonte: Gaona et al., 2013


2.3. Problemática

A partir da mudança da relação entre carbono e nitrogênio (C:N) há a


necessidade de um período de 6 semanas para estimular o surgimento de bactérias
heterotróficas e todas as outras comunidades microbiana e estabilizar o sistema. Em
decorrência disso, até a estabilização da comunidade microbiana, diversos problemas
podem ocorrer, entre eles altas concentrações de compostos nitrogenados (amônia e
nitrito), podem afetar o crescimento e até causar mortalidades dos camarões quando não
são eliminados do sistema (KRUMMENAUER, et al., 2013).

O uso de uma água que já tenha estabelecida uma comunidade microbiana


estável com bioflocos oriundos de um ciclo de cultivo anterior poderia solucionar este
problema. Desta forma, é possível estabilizar as comunidades microbianas e os
parâmetros de qualidade da água mais rapidamente, encurtando o período de cultivo e
minimizando possíveis problemas com compostos nitrogenados (MCABEE et al, 2003).

3. Recirculação Verde ou Sistema Deckel

Recirculação verde ou sistema Deckel consiste em um sistema de recirculação que


necessita de grandes lagoas de sedimentação e tratamento aeróbio para proporcionar
uma eficiente retirada da matéria orgânica e dos compostos nitrogenados (Figura XX).
Nessas lagoas, o tratamento biológico se dá a céu aberto onde ocorre a proliferação de
bactérias e microorganismos planctônicos. Esse plâncton pode ser utilizado como fonte
de alimento vivo para os peixes (CREPALDI et al, 2006).

Figura 5. Representação esquemática do sistema de recirculação tipo “Deckel” desenvolvido em Israel.

Fonte: Kubitza; Kubitza, 2000.

3.1 Funcionamento e Estruturação


A melhoria na qualidade da água ocorre em virtude de uma ampla comunidade de
microorganismos responsáveis por realizar decomposição dos resíduos sólidos, como as
bactérias nitrificadoras, as algas (fitoplâncton) e plantas aquáticas, que removem a
amônia e o excesso de nutrientes da água para retornar aos tanques de cultivo
(KUBITZA, 2006).

Neste sistema os peixes são produzidos em tanques circulares ou hexagonais com


fundo cônico para facilitar a remoção dos resíduos orgânicos (fezes, restos de ração e
plâncton). A água que deixa os tanques de produção é conduzida a um reservatório
específico, onde ocorrem a sedimentação dos resíduos, os processos de nitrificação e a
reoxigenação parcial da água através da fotossíntese. No reservatório geralmente são
estocados peixes como a carpa comum e mesmo tilápias, que se beneficiam dos resíduos
orgânicos e do alimento natural disponível. Posteriormente, a água retorna, por
bombeamento ou por gravidade, aos tanques de produção de tilápias (KUBITZA, 2000).
Essa forma de recirculação é muito utilizada em pisciculturas de Israel e atualmente nos
EUA (CREPALDI et al, 2006).

3.2. Benefícios

Esse sistema permite a utilização de alimento natural pelos peixes, minimizando


os custos de produção. Para isso, a espécie trabalhada deve ser eficiente no
aproveitamento desse tipo de alimento, ou seja, espécies filtradoras, e que esteja em
densidades não superiores a 20 kg/m³. Há a possibilidade também de usar este sistema
de recirculação em pisciculturas já existentes, ou mesmo em fazendas onde existem
açudes, que podem utilizá-los como um grande filtro biológico (KUBITZA, 2006).

3.3. Problemática

Este sistema apresenta risco de perdas de produção por falha instrumental e/ou por
proliferação de doenças em todo o sistema, exigindo do piscicultor uma atenção maior
quanto aos pontos críticos do sistema (KUBITZA, 2000), além da necessidade de
grandes áreas de instalação (CREPALDI et al, 2006).

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