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Manejo correto dos dejetos – lagoas de

estabilização e biodigestores

Lagoas de estabilização

A lagoa de estabilização é uma das formas mais simples de se fazer o


tratamento de dejetos de uma propriedade rural. Os dejetos produzidos por
uma determinada cultura, antes de serem descartados para a natureza,
passam por um processo em que micro-organismos heterotróficos quebram
moléculas compostas como: proteínas, hidratos de carbono e açúcares em
moléculas mais simples como: CO2, NH3, H2O.

A reutilização da água resultante do tratamento de resíduos é uma boa


opção para que possamos minimizar o gasto de água, pois, sabemos que a
água potável do planeta é um bem finito, portanto devemos preservá-la ao
máximo, otimizando o seu uso.

Para a construção de uma lagoa de estabilização, alguns pontos devem


ser analisados como: topografia do terreno, área disponível e grau de eficiência
desejado. Vale a pena ressaltar que as principais vantagens de adotar um
sistema de lagoas de estabilização é a facilidade de construção, operação e
manutenção. Em contrapartida uma desvantagem é a ocupação de grandes
áreas para a construção do sistema, tendo em vista o elevado preço da terra
em algumas regiões brasileiras.

Iremos destacar agora alguns tipos de lagoas como:

 Lagoas anaeróbicas;
 Lagoas facultativas;
 Lagoas aeradas;
 Lagoas de maturação ou de polimento;

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Para ilustrarmos esse sistema e melhorar a visualização segue o
seguinte desenho esquemático exemplificando o tratamento de dejetos
de uma granja de suínos:

Figura 6.1: http://www.eps.ufsc.br/teses98/medri/figura/FIG33.gif

6.1 Lagoas anaeróbicas:

São lagoas mais profundas, medindo cerca de, 4 a 5 m de profundidade.


Isso impede que o O2 produzido pelas algas e cianobactérias chegue até a
região mais profunda da lagoa. Com isso, o ambiente anaeróbico é mantido,
permitindo a ação dos microrganismos anaeróbicos sobre a matéria orgânica.
Durante a sua decomposição são produzidos gases muito energéticos, com a
presença de metano (CH4)

6.1.2 Lagoas facultativas:

Ocorre basicamente em três zonas da lagoa: zona anaeróbica, zona


aeróbica e zona facultativa.

O efluente produzido pelos animais entra por uma extremidade da lagoa


e sai pela outra extremidade. Esse percurso pode demorar vários dias. Quando
ocorre a entrada do efluente na lagoa de estabilização, a matéria orgânica que
se encontra suspensa começa a sedimentar, descendo para o fundo da lagoa.

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Os dejetos no fundo da lagoa são quebrados por bactérias anaeróbicas
facultativas, que se multiplicam na ausência de oxigênio. Já a matéria orgânica
dissolvida na água e as partículas muito pequenas, sofrerão a ação de
microrganismos aeróbicos, que se multiplicam na presença de oxigênio. Logo,
essa digestão ocorrerá nas camadas mais superficiais da lagoa.

Figura 6.2: http://dc151.4shared.com/img/rynQzZk1/preview_html_3f8f5cac.jpg.


Esquema do processo biológico de lagoas de estabilização.

As trocas gasosas da água com a atmosfera ocorrem através da


fotossíntese realizada pelas algas como está representado abaixo:

Figura 6.3 : http://www.cetesb.sp.gov.br/userfiles/image/od.gif

Esse tipo de lagoa é influenciada pelas condições climáticas, como:


incidência luminosa e temperatura, sendo que, quanto mais elevados, maior a
sua eficiência. Outro fator limitante é a necessidade de grandes áreas e o seu
período de detenção ser de no mínimo 20 dias. A profundidade média ideal
varia entre 1,5 a 2m de profundidade.

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6.1.3 Lagoas aeradas

O processo que ocorre nesse sistema é o mesmo que ocorre nas lagoas
facultativas convencionais. Diferenciando-se apenas pela forma de produção
de oxigênio dentro da lagoa. Nesse sistema, a oxigenação é feita por
aeradores mecânicos que são turbinas rotativas que quando acionadas mexe
com a água em grande velocidade facilitando assim a penetração e dissolução
do oxigênio na mesma. A lagoa aerada é utilizada na maioria das vezes em
duas situações: quando se quer um sistema predominantemente aeróbio
(maior eficiência na degradação da matéria orgânica) e quando a
disponibilidade de área é insuficiente para que se possam construir lagoas
facultativas.

Esse sistema tem um custo de implantação e manutenção maior devido


à compra de equipamentos, outro fator que afeta é que há gasto de energia
elétrica, aumentando assim o seu custo.

Figura 6.4: http://www.engineeringfundamentals.net/LagoasAeradas/fundamentos.htm

6.1.4 Lagoas de maturação e/ou polimento:

São lagoas de baixa profundidade (0,8 a 1,2m) favorecendo a incidência


de radiação solar dentro da lagoa e a eliminação de micro-organismos
patogênicos presentes na água pelos raios UV – ultravioleta. Pode-se utilizar
mais de uma lagoa de maturação em um mesmo sistema de tratamento, sendo
elas construídas em série.

Os tipos convencionais de sistemas estão representados no esquema a seguir:

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Lagoas Anaeróbicas Lagoas Facultativas Lagoas de Maturação em série Corpo Receptor

Lagoas Facultativas Lagoas de Maturação em série Corpo Receptor

6.2 Biodigestor

O homem em busca de construir o seu espaço no planeta terra, utilizou


os recursos naturais de forma indiscriminada e isso levou a degradação. Esse
problema aumentou após o inicio da era industrial, pois, o homem modificou o
meio ambiente de varias maneiras. Vivemos em um planeta onde estão
ocorrendo mudanças climáticas acentuadas e a emissão de gases de efeito
estufa está alterando as características da atmosfera, comprometendo assim a
qualidade de vida no planeta.

Frente a essas mudanças que vem ocorrendo em nosso planeta,


devemos planejar estratégias para minimizar tais efeitos, uma técnica que pode
ser utilizada é a biodigestão, que consiste em um método de reciclagem de
compostos orgânicos como excrementos de animais e restos vegetais. Hoje,
vem sendo muito utilizado em sistemas intensivos de criação de suínos pelo
fato dessa cultura gerar uma grande quantidade de dejetos. Esse processo é
realizado através de bactérias que existem na natureza e é considerada uma
alternativa energética renovável. O produto final resulta em gás combustível e
também em adubos. Para um melhor funcionamento, as estruturas devem ser
construídas abaixo do nível da terra para que o seu interior mantenha-se entre
30 a 35ºC.

Alguns historiadores acreditam que essa técnica foi utilizada no Brasil


pela primeira vez na década de 1960, no recife, Pernambuco. Foram
produzidos gás de cozinha e adubo orgânico, sendo utilizados como fonte
principal o esterco bovino e lixo urbano orgânico.

Os biodigestores são basicamente constituídos por uma câmara fechada


onde ocorre à fermentação microbiana e o gás resultante fica retido na

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superfície da câmara. O seu funcionamento se dá através da fermentação da
matéria orgânica por bactérias anaeróbicas, ocorrendo a liberação de gases
como um de seus produtos finais. O principal gás produzido é o metano, cerca
de 60 a 80% da produção total de gases, que tem alto poder combustível.
Outros gases como o carbônico, o sulfídrico e o nitrogênio também são
produzidos. O biogás, como também é conhecido, pode ser utilizado de duas
maneiras: como queima direta nos fornos para gerar aquecimento interno aos
animais (campânulas) e como fonte de energia elétrica para a propriedade
através de geradores.

Figura 6.6: http://biodigestao-engenharia-ambiental.blogspot.com.br/

Existem vários tipos de biodigestores, sendo eles:

 Indiano;
 Chinês;
Fluxo contínuo de dejetos
 Fluxo Tubular;
 Batelada;

6.2.1 Biodigestor indiano:

O modelo indiano pode ser caracterizado por possuir gasômetro,


responsável em acumular o biogás e o fornecer de forma constante. Existe
uma parede central que divide o tanque de fermentação em duas câmaras. A

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função da parede divisória é fazer com que o material circule por todo o interior
da câmara de fermentação.
Um ponto importante que devemos levar em consideração é que o
resíduo que será utilizado para alimentar o biodigestor indiano deverá
apresentar uma concentração de sólidos totais máximo de 8%, isso facilitará a
circulação do resíduo pelo interior da câmara de fermentação e evita
entupimentos dos canos de entrada e saída do material. Pode ser utilizados
nesse sistema dejetos de suíno e bovino.
Outra característica desse modelo é que ele possui pressão de operação
constante, isso que dizer que quando o volume de gás vai aumentando e não e
consumido imediatamente, o gasômetro tem a função de deslocar-se
verticalmente, aumentando o volume interno deste, fazendo com que a pressão
no interior do biodigestor permaneça constante.

figura 6.7: esquema de funcionamento do biodigestor indiano. Ângelo Liparini.

Figura 6.8: biodigestor do tipo indiano em funcionamento.


http://h2.vibeflog.com/2007/07/19/02/19264200.jpg

6.2.2 Biodigestor Chinês:

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O biodigestor chinês e constituído por uma câmara cilíndrica em
alvenaria, sendo o seu gasômetro fixo. O funcionamento desse equipamento é
com base no acúmulo de biogás no seu interior, de modo a gerar aumentos de
pressão resultando no deslocamento do gás para a válvula de saída de forma
não contínua. O material fermentado no interior da câmara é retirado através
da adição de novas quantidades de material orgânico, fazendo com que o
biofertilizante transponha as paredes internas do biodigestor.
Neste modelo, o resíduo que será utilizado para alimentar o biodigestor
chinês, também deverá apresentar uma concentração de sólidos totais máxima
de 8%.

figura 6.9: esquema do biodigestor chinês.


http://www.feg.unesp.br/emas/vigilantes/Fontes_de_Energia/biogas.htm

6.2.3 Biodigestor de fluxo tubular:


É o modelo mais simples de ser construído. Ele consiste em uma
escavação recoberta por uma lona especial onde ficará depositado o material
orgânico a ser fermentado, sobre ele, é colocada outra lona a fim de, reter o
gás produzido. Esse material é introduzido dentro do biodigestor através da
caixa de entrada e retirado pela caixa de saída. O biogás é canalizado por uma
mangueira conectada na lona superior. Um ponto negativo desse sistema é a
sua baixa durabilidade.

6.2.4 Biodigestor de batelada:


O biodigestor de batelada é um sistema simples e a sua instalação pode
ser feita em apenas um tanque anaeróbico ou em vários tanques em série.

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Usa-se abastecer esse tipo de biodigestor de uma única vez. Esse tipo de
biodigestor não é de fluxo continuo, ele se mantém em fermentação por um
período de aproximadamente 60 dias, onde o material deve ser retirado após o
termino do período de produção do biogás, lembrando que, é recomendado
deixar cerca de 20% do material fermentado no interior do biodigestor para
servir de inoculo para a próxima batelada.

Figura 6.10: http://www.proceedings.scielo.br/img/eventos/agrener/n4v1/031f05.gif

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