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LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO
Prof. Me. Ronald Pessoa
DEFINIÇÃO
As lagoas de estabilização são açudes, dentro dos quais, o esgoto flui, entrando e saindo, após
um período de retenção definido, denominado de tempo de detenção hidráulica (TDH), o qual
corresponde ao tempo de passagem de um elemento do fluxo pela unidade de tratamento.
O tratamento que ocorre nestas unidades conta com processos naturais de purificação biológica
que ocorrem em qualquer corpo natural de água. Nenhuma energia externa é exigida para operação,
além da originada pela luz, exceto para o caso de lagoas aeradas. O oxigênio é fornecido pela ação
do vento e pela produção fotossintética realizada pelas algas.
Constituem um processo biológico natural de tratamento de águas residuárias que se
caracterizam pela simplicidade, eficiência e baixo custo.
HISTÓRICO
As primeiras lagoas de estabilização que se tem notícia não foram projetadas, surgiram
acidentalmente. Em 1901, nos EUA, na cidade de San Antonio/Texas, uma lagoa de
armazenamento de esgotos foi construída, para utilização da água residuária em irrigação.
Verificou-se, posteriormente, que a água (esgoto) utilizada para irrigação possuía qualidade
superior aos afluentes nela depositados.
Mais tarde, em 1924, em Santa Rosa, Califórnia, para evitar o custo de uma estação de
tratamento de esgotos e por recomendação do conselho da cidade, lançaram-se os esgotos sobre um
leito natural de pedras, imaginando-se que este funcionaria como um filtro natural, antes do despejo
final em um córrego poluído da região. Porém, observou-se a colmatação do leito de pedra,
formando uma lagoa de 90 cm de profundidade, sem apresentar odores desagradáveis.
Em 1948, construiu-se a primeira lagoa projetada para a estabilização de esgotos na Dakota
do Norte, EUA, a lagoa Mardok. A Austrália tornou-se grande centro de estudos da tecnologia de
lagoas de estabilização, tendo implementado uma das configurações de lagoas mais empregadas, o
chamado sistema Australiano de lagoas de estabilização (anaeróbio/facultativo). No Brasil, as
lagoas de estabilização foram introduzidas, em 1960, pelo engenheiro Benoit Victoretti, com a
construção das lagoas de estabilização de São José dos Campos – SP.
CLASSIFICAÇÃO
Lagoas anaeróbias
São projetadas para receber carga orgânica volumétrica variando de 100 g DBO/m3.dia a 400
g DBO/m3.dia. Não há oxigênio dissolvido no meio líquido, de modo que a matéria orgânica é
degradada via respiração anaeróbia. Sua profundidade varia de 3,0 m a 5,0 m e o tempo de detenção
hidráulica, geralmente, é de 3 a 6 dias, nunca inferior a 2 dias devido à velocidade de crescimento
dos micro-organismos anaeróbios ser baixa, particularmente, dos metanogênicos.
A remoção de DBO é em função da quantidade e da natureza dos sólidos sedimentáveis
presentes no esgoto bruto, obtendo-se um nível primário de tratamento, com remoção em torno de
50% de matéria orgânica. O líquido clarificado necessita ser, então, encaminhado para a lagoa
facultativa ou para qualquer outro sistema de tratamento secundário.
Em relação à configuração de sistema de lagoas, a remoção de DBO na lagoa anaeróbia
representa uma economia de área, fazendo com que o requisito total (lagoa anaeróbia + facultativa)
seja em torno de 2/3 do tamanho necessário para uma lagoa facultativa única.
As lagoas anaeróbias têm sido empregadas para o tratamento de esgotos domésticos e
despejos industriais predominantemente orgânicos, com alta concentração de DBO, como os de
frigoríficos, de laticínios, de indústrias de bebidas, entre outros.
Na decomposição anaeróbia, primeiramente a matéria orgânica é transformada em ácidos
orgânicos, com formação de H+ e CO2. Em seguida, os ácidos orgânicos são transformados em
acetato e posteriormente há formação de metano (CH4).
As células responsáveis pelo processo de degradação anaeróbia oxidam a matéria orgânica até
piruvato, gerando energia na forma de ATP (adenosina trifosfato), responsável pelo transporte de
elétrons na respiração, conforme mostrado nas Eq.1, 2 e 3.
Lagoas facultativas
A produção de energia pelas células aeróbias é muito superior a obtida por micro-organismos
anaeróbios, conforme apresentado na Eq. 6.
Lagoas de maturação
São lagoas usadas para estabilizar efluentes com baixa concentração de DBO. Sua localização
é após o sistema clássico de lagoas de estabilização (facultativa, anaeróbia + facultativa). A matéria
orgânica presente no efluente está praticamente estabilizada e o oxigênio dissolvido se faz presente
em toda a massa líquida.
O principal objetivo destas lagoas é a remoção de patogênicos e a de nitrogênio e fósforo. Os
patogênicos podem ser eficientemente removidos, dependendo da condição climática do local,
devido às características do meio: oxigênio dissolvido em elevada concentração, altos valores de pH
e de grande zona eufótica, permitindo que os raios ultravioletas atinjam camadas mais profundas.
Recomenda-se profundidade de 1 m e, normalmente, o tempo de detenção hidráulica é de 7 dias,
sendo o TDH mínimo de 2 dias.
A remoção de nutrientes neste tipo de lagoa é alta, da ordem de 70% a 80% de nitrogênio,
sendo que no caso do fósforo a remoção pode chegar até 90%. A remoção de coliformes é de
99,99%.
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MICRO-ORGANISMOS
Bactérias
São organismos unicelulares que constituem o grupo mais importante no tratamento de
despejos. Utilizam a matéria orgânica como fonte de carbono e energia para a síntese de novas
células, servindo também como alimento para protozoários, servindo como elemento de
manutenção do equilíbrio do sistema.
O substrato (proteínas, carboidratos, lipídeos) é decomposto em material solúvel ou absorvido
pela parede celular, na presença ou não de oxigênio, em função do tipo de bactéria:
Algas
Podem ser uni ou pluricelulares, móveis e imóveis. Possuem pigmento fotossintético
denominado clorofila, por meio do qual produzem O2, absorvendo a energia solar, convertendo-a
em calor e energia química. Existem 5 tipos de clorofila (a,b, c, d e e), sendo que a clorofila a está
presente em todas as algas e é responsável pela absorção da energia solar.
Em uma lagoa facultativa, as algas desempenham um papel fundamental, sendo responsáveis
pela fotossíntese. Durante o dia produzem oxigênio e à noite o consomem (respiração), porém o
balanço entre produção e consumo de oxigênio favorece amplamente a produção, a qual é 1,5 vezes
superior ao consumo.
Fungos
Organismos aeróbios, uni (leveduras) ou pluricelulares (filamentosos), de grande importância
na decomposição da matéria orgânica. Toleram uma ampla faixa de pH (2 a 9) e são resistente à
escassez de oxigênio.
Protozoários
Organismos unicelulares, de maioria aeróbia ou facultativa. Alimentam-se de bactérias, de
algas e de outros microrganismos. São essenciais para no tratamento biológico para a manutenção
do equilíbrio entre diversos grupos. Alguns protozoários são patogênicos.
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Helmintos
Seus ovos são extremamente resistentes e podem causar doenças.
Fator Influência
Radiação solar Velocidade de fotossíntese
Vento Mistura
Reaeração atmosférica
REMOÇÃO DE NUTRIENTES
Nitrogênio
A remoção de nitrogênio nas lagoas de estabilização ocorre principalmente pela remoção de
amônia, a qual é incorporada pelos microrganismos, principalmente pelas algas, e também
volatilizada, via esta que é considerada por alguns pesquisadores como a principal para remoção do
nitrogênio em lagoas de maturação. O percentual de remoção varia muito, de valores desprezíveis
até 95%.
Na volatilização da amônia, a turbulência, a temperatura e o pH (≥ 11) são fatores que
influenciam sua remoção do meio.
Fósforo
A eficiência de remoção de fósforo depende da quantidade que deixa a coluna líquida e se
deposita na camada de lodo. As transformações de fósforo que podem ocorrer nas lagoas de
estabilização são:
O fósforo orgânico, associado ao material suspenso no afluente, sedimenta na camada de lodo
onde é decomposto anaerobiamente;
A parte solúvel do fósforo orgânico é convertida a (PO4)2-3 pelas bactérias, sendo então
disponível para ser assimilado pelos microrganismos aquáticos, principalmente pelas algas;
O fósforo é precipitado como hidroxiapatita Ca5(PO4)3OH, tanto em lagoas facultativas como
nas lagoas de maturação, onde valores elevados de pH são encontrados. A precipitação se inicia em
pH 8,2 e para cada aumento de uma unidade do pH, estima-se que o fosfato decresce um fator de
10.
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REMOÇÃO DE PATOGÊNICOS
Início da operação
A lagoa deve receber água bombeada do córrego ou proveniente da rede pública de
abastecimento, garantindo uma lâmina mínima de 1 m, sendo somente depois
preenchida com esgoto bruto. Este procedimento impede o crescimento da vegetação
e permite a estanqueidade da lagoa, possibilitando identificar possíveis vazamentos
devido à má compactação do talude.
A lagoa é preenchida de forma intermitente, com esgoto diluído, na proporção de 1:5
entre o esgoto e a água. Assegura-se uma lâmina líquida de 0,4 m. Após 7 a 14 dias,
quando se observa a presença de algumas algas, repete-se o procedimento até alcançar
o nível de operação.
Manutenção
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Limpeza
A limpeza resume-se basicamente na remoção da camada de lodo das lagoas das lagoas
primárias (anaeróbias e facultativas). Essa camada tende a ser mais espessa próximo às tubulações
de entrada, devido à sedimentação do material em suspensão.
Sugere-se que a remoção do lodo deve ser feita quando o mesmo ocupar cerca de 50% do
volume útil da lagoa. O acúmulo de lodo pode acarretar em problema de exalação de maus odores.
A operação de limpeza pode ser realizada sem o esvaziamento da lagoa, sendo o afluente
desviado para outra lagoa em paralelo, sobrecarregando-a temporariamente. Uma draga é utilizada
para a remoção do lodo.
Outra opção é esvaziar completamente a lagoa e efetuar naturalmente a secagem do lodo no
interior da própria lagoa, devendo ser o lodo removido manualmente após a secagem.
Lagoa anaeróbia
Exalação de maus odores Alta carga orgânica aplicada ou tempos de detenção muito
curtos;
Despejos com alta concentração de sulfetos ou
substâncias tóxicas capazes de inibir as arqueas
metanogênicas;
Quedas bruscas e persistências de temperaturas baixas;
pH baixo.
Lagoa facultativa
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Presença de vegetação Falta de conservação e manutenção dos taludes internos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS