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Universidade Federal Do Ceará - Campus Crateús

Engenharia Ambiental e Sanitária

Sistemas de Tratamento de Águas Residuárias

Prof. Drª. Raimunda França

DIMENSIONAMENTO DE LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO: SISTEMA


AUSTRALIANO

Thalya Evelyn Silva Bezerra - 403393

Tifanny De Sousa Souto – 494552

Crateús - CE

Outubro de 2023
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I. Introdução

Desde a antiguidade, a humanidade foi testemunha de como o saneamento tem direta


relação com a saúde e qualidade de vida, podemos citar como exemplo a Cloaca Máxima,
construída em 600 a.C que tratava-se de um sistema para drenar o pântano e os dejetos da
população para o rio Tibre.

Segundo a NBR 9648/1986, o esgoto sanitário trata-se do despejo líquido constituído


por esgoto doméstico, industrial, água de infiltrações e a contribuição pluvial parasitária, o
tratamento das águas residuárias são fundamentais para garantir acesso a água de qualidade,
melhores condições de vida e bem estar humano.

Von Sperling (1996), o esgotamento sanitário pode ser classificado como:

● Esgoto doméstico: Proveniente de domicílios, comércios, repartições públicas


e sua taxa de retorno é de 80% da vazão de água distribuída.

● Esgoto industrial: Originários de processos industriais, muitas vezes são


aceitos na rede de esgoto devido à sua composição. Suas características são
variáveis de acordo com o tipo de indústria geradora.
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● Águas de infiltração: São águas que se infiltram através de juntas ou defeitos


na tubulação, paredes em poços de visita e etc.

O tratamento do esgoto sanitário pode ser dividido em: Tratamento preliminar, onde
ocorre a remoção dos sólidos grosseiros, o Tratamento primário, onde são removidos os
sólidos flutuantes, em suspensão e sedimentáveis, Tratamento secundário, que tem como
objetivo a remoção da matéria orgânica dissolvida ou solúvel e o Tratamento terciário que
tem como principal objetivo a remoção de nutrientes como fósforo e nitrogênio. (Von
Sperling, 2005).

Atualmente existem diversas formas de tratar os efluentes, entre elas podemos


mencionar filtros biológicos, lodos ativados, reatores RAFA ( Reator Anaeróbio de Fluxo
Ascendente), todavia os tratamentos feitos através das lagoas de estabilização ganham
destaque por sua facilidade operacional, eficiência na remoção da matéria orgânica e baixos
custos de manutenção e operação.

Dessa forma, esse trabalho tem como objetivo mostrar o dimensionamento detalhado
de um sistema australiano, composto por Lagoa anaeróbia, Lagoa facultativa e Lagoa de
maturação, assimilando conhecimentos repassados pela Dra. Raimunda França e associando a
nomes de autoridade da Literatura, no assunto.

II. Objetivos

A. Objetivo Geral

● Dimensionar um sistema australiano composto de lagoa anaeróbia, lagoa facultativa e


lagoa de maturação.

B. Objetivos Específicos

● Conhecer o processo de projeção e funcionamento das lagoas anaeróbias, facultativa e


de maturação;

● Entender a forma de operação e manutenção do sistema de lagoas;

● Revisar os principais critérios de projeto para as diversas lagoas.

III. Princípio de Funcionamento de Lagoas de Estabilização


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As lagoas de estabilização têm como um dos principais objetivos, a remoção de


organismos patógenos. Durante a passagem do efluente pelas lagoas anaeróbias, e facultativa
certa parte desses organismos são deixados para trás, porém é na lagoa de estabilização onde
ocorrerá a remoção desses patógenos.

Dentro da lagoa facultativa, pode ser dividida em três zonas. A zona anaeróbia, onde é
formada no fundo da lagoa devido a deposição dos sólidos em suspensão, onde boa parte é
composta de matéria orgânica. A matéria orgânica é decomposta através do processo
anaeróbio, resultando na produção de gases como metano, carbônico e sulfídrico. Um pouco
acima ocorre a zona aeróbia, onde a matéria orgânica solúvel e coloidal permanece dispersa
no efluente. A matéria orgânica é oxidada pelo oxigênio dissolvido presente na camada
próxima à superfície da lagoa. O oxigênio é produzido por algas, através da fotossíntese dessa
forma a respiração e fotossíntese tratam-se de reações de oxidação-redução, como podemos
observar a seguir:

CO2 + H2O + Energia ➡ Matéria Orgânica + O2 (Processo de Fotossíntese)

Matéria Orgânica + O2 ➡ CO2+H2O + Energia (Processo de Respiração)

Figura 1: Esquema de Zonas em uma Lagoa Facultativa

Fonte: Von Sperling, 2002.

IV. NBR 12.209 /2011

A NBR 12.209/2011 trata-se de uma normativa que dispõe sobre a concepção de


projetos hidráulico-sanitários de estações de tratamento de esgotos sanitários. A mesma
orienta acerca dos processos de tratamento de esgoto e suas tecnologias. Dessa forma, essa
norma é aplicável aos processos de tratamento por separação de sólidos por meio físico,
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processos físico-químicos, processos biológicos bem como dispõe sobre o tratamento de logo,
desinfecção de efluentes tratados e tratamento de odores.

Outro ponto importante de ser mencionado, é que de acordo com essa normativa nas
lagoas de estabilização, tanques sépticos e destino final de subprodutos do tratamento, assim
como Estações de Tratamento de efluentes compactas não são abrangidas, sendo as mesmas
regulamentadas por outra normativa.

Para o dimensionamento das lagoas apresentadas a seguir, foram utilizados os


principais critérios da NBR 12.209, as quais levam em conta:

a) As vazões afluentes máxima, mínima e média;

b) Demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e demanda química de oxigênio


(DQO)

c) Sólidos em suspensão (SS) e sólidos em suspensão voláteis (SSV);

d) Nitrogênio total kjeldahl (NTK);

e) Ovos de Helmintos

f) Coliformes termotolerantes (CTer.)

g) Temperatura.

A remoção de ovos de helminto fazem parte do processo de tratamento de efluentes e


são fundamentais para prevenir a disseminação de doenças parasitárias como a
esquistossomose, ascaridíase e muitas outras. A eliminação desse patógeno ocorre boa parte
através da sedimentação nas lagoas anaeróbias e facultativas, posteriormente quando o
efluente chega às lagoas de maturação ocorre a sedimentação adicional dos mesmos .

Um dos critérios do projeto para a remoção de Coliformes é garantir que a eficiência


de remoção seja elevada, dessa forma o regime hidráulico adotado está diretamente
relacionado com a eficiência de remoção. As lagoas de maturação podem ser projetadas em
células em séries, ou seja três células ou mais para se obter a eficiência adequada, ou como foi
o caso deste trabalho, onde foi escolhido fazer a lagoa de maturação com chicanas, onde o
percurso é predominantemente longitudinal, e que pode ser alcançado numa lagoa com
chicanas através de defletores, que fornecem um percurso em zig-zag)
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Seguindo ainda as orientações normativas, os cálculos foram realizados baseado nos


dados fornecidos , e em sua ausência foram determinados valores na faixa de 45 a 60 g
DBO/hab.d, 90 a 120 g DQO/hab.dia , 45 a 70 g de SS/hab.dia, 8a a 12 g N/hab.dia, e 1,0 a
1,6 g P/hab.dia. Todos os valores adotados foram justificados de acordo com a NBR referente
e baseados na literatura.

V. Aspectos Construtivos

Para que haja um tratamento efetivo do efluente, é crucial que haja não somente um
bom controle operacional, mas que o projeto atenda aos principais critérios de aspectos
construtivos.

a) Localização das Lagoas.

Alguns aspectos devem ser levados em consideração diante da escolha de localização


das lagoas como a disponibilidade da área de acordo com o tipo de lagoa a ser adotada, a
localização da área em relação ao local de geração dos efluentes, pois uma maior proximidade
implica na redução de gastos quanto ao transporte dos mesmos. Conforme citado
anteriormente, a lagoa deverá ser próxima ao corpo receptor pelos mesmos motivos relativos
ao custo.

Outro aspecto importante é a proximidade desse tipo de construção com residências,


tendo em vista que as lagoas anaeróbias tem a possibilidade de maus odores, logo o
recomendado é um afastamento mínimo de 500 metros da residência mais próxima. No
aspecto estrutural deve ser levado em consideração as cotas de inundação para que seja
definido a altura dos taludes, consoante a isso a topografia, nível do lençol freático e forma da
área são fundamentais para a escolha da área pensando respectivamente em evitar problemas
com a movimentação de terra, necessidade de impermeabilização do solo e criação de zonas
mortas.

Todavia, atender a todos os aspectos mencionados a localização pode ser uma tarefa
difícil, dessa forma deve ser priorizado o posicionamento das lagoas de forma a minimizar o
movimento de terra, tentando fazer o máximo aproveitamento da topografia local.

b) Limpeza, desmatamento e escavação da área


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Segundo Silva (1993), o desmatamento trata-se da derrubada e desenraizamento na


área a ser ocupada por vias de acesso e lagoas. Todavia, esse processo deverá ser feito
mediante a autorização do órgão ambiental competente. Feita a remoção das árvores
existentes, o terreno é raspado superficialmente com a ajuda de máquinas motoniveladoras, de
forma ao resultado final dessa etapa ser um solo puro.

c) Taludes

Quanto à construção dos taludes, a inclinação usualmente adotada é de 1:2 a 1:3, com
uma inclinação mínima de 1:6 para que seja possível o crescimento de vegetação. Para
terrenos argilosos a inclinação deve ser superior a 1:2,5 e no caso do talude ser composto por
terrenos arenosos a inclinação deve ser entre 1:5 e 1:8.

O coroamento do talude, trata-se da pista na crista do talude, esse deve ter largura
superior a 1,5 sendo usualmente adotado uma largura na faixa de 2,0 e 4,0 metros. Essa
largura permite que haja movimentação de maquinário durante a construção da lagoa, bem
como o tráfego de operários para manutenção e operação.

Para que haja um nível de segurança, é fundamental a construção de uma borda livre,
que tem sua altura variando de acordo com o tamanho da lagoa, podendo ser de 0,5m para
lagoas menores que 1 hectares e para lagoas maiores adotando a seguinte fórmula: borda
livre= [Log(área da lagoa)]0,5 - 1 (área em m²).

Dependendo do tipo de material utilizado para a construção da lagoa, será necessário


fazer a impermeabilização do maciço do dique com argila, geomembrana ou outros tipos de
tecnologia que mais se adequarem ao caso visando o custo-benefício e eficiência. Por fim, o
talude externo deverá ser gramado a fim de proteger contra movimentações de terra (erosão).

d) Fundo das lagoas

A percolação de água através do fundo da lagoa pode ser um problema notório, tendo
em vista que o mesmo não pode ter uma permeabilidade excessiva, pois quando isso ocorre é
possível se depara com problemas de contaminação do lençol freático e dificuldades de
manutenção do nível do líquido nas lagoas.

Uma solução para reduzir a taxa de percolação, trata-se de revestir o fundo da lagoa
com uma camada de argila homogênea bem compactada, com uma espessura da ordem de 5 a
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10 cm. Outras soluções bastante mencionadas na literatura são o revestimento asfáltico e a


utilização de geomembranas plásticas.

e) Dispositivos de entrada

No tratamento preliminar o efluente deverá passar pela grade, onde a sua limpeza
deverá ser feita de forma manual, para a maioria das lagoas, por uma caixa de areia onde
deverá estar presente em todas as lagoas visto que a mesma trata-se de um dispositivo
pequeno e de fácil manutenção, e por uma calha ou um vertedor para que seja medida a vazão,
já que a mesma é de fundamental importância para o controle operacional do sistema.

Todavia, é válido ressaltar que a entrada do efluente totalmente junto ao fundo, é de


grande risco de assoreamento localizado, e há grandes possibilidades de ocorrer entupimento,
caso não haja um processo de desarenação eficiente.

f) Dispositivos de Saída

Segundo Mara et al. (1992), a saída do efluente das lagoas de estabilização devem
atender aos seguintes aspectos:

● A saída deve ser localizada na extremidade oposta à entrada, para evitar a


ocorrência de curtos circuitos;

● os dispositivos deverão ter um nível fixo ou variável, a fim de se obter uma


maior flexibilidade;

● A saída deverá contar com defletores com alcance abaixo do nível de água,
para que não ocorra a saída de material flutuante como algas nas lagoas
facultativas, ou escuma nas lagoas anaeróbicas;

● O projeto deverá ter uma flexibilidade operacional, para que possa ocorrer o
ajuste do nível de retirada abaixo do nível de água, de forma a permitir o ponto
desejado entre os objetivos conflitantes entre as concentrações de OD e de SS.

Por fim, quando o efluente for direcionado para uma lagoa a jusante a interconexão
entre as lagoas deverá ser feita através de caixas de passagem de forma que possibilitem a
coleta de amostras, e facilitando a desobstrução de canalizações.
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VI. Manutenção e operação

Tendo em vistas os diversos modelos de tratamento de esgoto, o modelo de tratamento


com lagoas de estabilização na composição anaeróbia, facultativa e maturação possui uma
operação e manutenção simplificada, além do baixo custo desses processos, além de não
necessitar de muita mão de obra qualificada. Apesar dos processos em geral serem
simplificados, deve-se manter uma operação com cuidados constantes, essas atividades
desenvolvidas são de fundamental importância para a eficiência das atividades das lagoas.

A. Início de operação

Para iniciar a operação das lagoas deve-se fazer o seu carregamento inicial. Esse
procedimento de operação pode ser realizado de três maneiras:

● Enchimento das lagoas com água (tratada ou natural), onde ocorre o fechamento da
saída da lagoa e é introduzido uma quantidade de água nas lagoas, logo após,
preenchê-se o restante do volume com as águas residuárias.

● Enchimento de lagoas com esgoto diluído em água (tratada ou natural), onde ocorre o
preenchimento de uma lâmina de 0,40 m de esgoto diluído, essa mistura é deixada em
repouso até ocorrer o aparecimento de algas. Após o aparecimento, alimentar com a
mistura até ocorrer a floração das algas e parar a alimentação por um período (7 a 14
dias), após o período encher a até o nível de operação, esperar estabelecimento de
algas e enfim, alimentar o sistema normalmente.

● O terceiro método é utilizado quando não existe água disponível para alimentação,
pode ser realizado o enchimento com o esgoto bruto e deixado em repouso para
desenvolvimento da população microbiana. Nesse caso, ocorre geração de odor e
necessidade de controle.

O início de operação pode ter aspectos variados considerando o tipo de lagoa a ser
iniciado, tendo as seguintes observações:

● Lagoa anaeróbia: pH alcalino e iniciar partida após a lagoa facultativa.

● Lagoa facultativa: Medir OD diariamente e pH levemente alcalino.


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Após ser dada a partida da operação da lagoa anaeróbia, pode-se dirigir o efluente para
a próxima lagoa com cuidado na equalização da lâmina de água e passagem lenta para a
próxima lagoa.

B. Operação

A correta operação do sistema de lagoas pode ser idealizada por meio da gestão dos
processos de limpeza do sistema de gradeamento, da caixa de areia e calha Parshall para que
não ocorra obstrução, odores e proliferação de insetos. Deve ocorrer de forma regular a
observação de aspectos apresentados pelas lagoas (com maior descrição abaixo) e
monitoramento dos parâmetros de qualidade do efluente, sendo os principais; DBO, OD,
sólidos, cor, pH, coliformes fecais, temperatura e nutrientes. Além desses parâmetros deve ser
observada a vazão e a temperatura local para controle. Outro parâmetro a ser observado para
garantir a operação é o de substâncias tóxicas, já que os microrganismos presentes são
sensíveis à presença dessas substâncias.

A operação a longo prazo deve contar com a retirada e tratamento do lodo residual que
se acumula no fundo das lagoas, esse lodo deve ser tratado para retirada de patógenos e pode
receber destinação final ou ser reutilizado para outros fins.

C. Inspeção e manutenção na operação

Para garantir a continuidade do processo de tratamento, alguns aspectos devem ser


observados pela equipe durante o processo de operação para garantia do funcionamento. No
caso de alguns desses aspectos e requisitos estarem inadequados deve-se ser feita a correção
da ocorrência. Observações necessárias e correções;

a) Levantamento de lodo na lagoa: Em caso de lagoas facultativas e de maturação deve


ser feita a remoção.

b) Manchas verdes na superfície: sinal de proliferação de algas, remoção (caso de


anaeróbia) ou desagregação (caso de facultativa).

c) Vegetação nos taludes e/ou em contato com o efluente: Abstração da vegetação para
proteção dos taludes e desobstrução das lagoas.

d) Manchas de óleo: Prejudicam o funcionamento em vários aspectos e necessitam ser


removidas por rastelo ou jatos de água.
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e) Existência de erosão nos taludes: Identificar fator erosivo, inibir fator (se possível,
caso não seja, manter correção permanente) e corrigir erosão para impedir vazamentos
e/ou arrombamento das lagoas.

f) Existência de infiltração: Identificar o motivo de infiltração no local e corrigir a


ocorrência.

g) Estado da cerca: Deve ser observado que o cercamento esteja adequado para impedir a
entrada de animais, caso não esteja em condições adequadas deve ser realizada a
manutenção.

h) Presença de animais: Caso sejam animais de maior porte, observar as condições das
cercas e se necessitam de manutenção, caso necessite, afugentar animais e realizar
manutenção da cerca. Caso não necessite, identificar como ocorreu a entrada dos
animais para corrigir abertura e afugentá-los. Em caso de animais menores, como
pássaros e jabutis, afugentá-los de preferência encaminhando para o corpo d’água.

i) Presença de insetos: Podem ocorrer por diversas causas, dependendo da causa pode
ocorrer diferentes formas de prevenção, como aplicação de inseticida, limpeza de
material, mudança em disposição, dentre outros.

j) Odores: Deve-se observar onde está ocorrendo (sendo que dependendo da lagoa,
diferentes fatores podem gerar), identificar o motivo de geração, como acúmulo de
material nas grades, presença exacerbada de algas, falta de atividade dos ventos,
temperatura, substâncias tóxicas, má circulação do efluente, zonas mortas, sobrecarga
do esgoto, dentre outros.

k) Variação na passagem de efluente: Observar se ocorreu entupimento das calhas de


passagem e desentupir, caso seja uma variação fora do comum. Caso não tenha
ocorrido, verificar os motivos da variação e realizar controle para não gerar problemas
na operação.

VII. Referências

ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9.648: Estudo

de concepção de sistemas de esgoto sanitário. Rio de Janeiro: ABNT, 1986.


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JORDÃO, E.P.; PESSOA, C.A. Tratamento de esgotos domésticos. 6ª ed. Rio de Janeiro:
ABES, 2011.

VASCONCELOS, Raylan Caminha de. Tratamento de efluentes líquidos :Uma


perspectiva para o desenvolvimento sustentável – Campina Grande : Editora Ampla, 2020.
Disponível em: <http://educapes.capes.gov.br/handle/capes/602557>. Acesso em 01 de
Novembro de 2023.

VON SPERLING, M. Princípios básicos do tratamento de esgotos - Princípios do


tratamento biológico de águas residuárias. Belo Horizonte, UFMG. v.2. 1996.
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Memorial de Cálculo
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DIMENSIONAMENTO DA LAGOA ANAERÓBIA

Cálculo da Carga Afluente de DBO5


Carga = Concentração.vazão
480 g/m ³ ✕ 4.000 m ³/d
Carga= = 1.920 KgDBO/d
1000 g/ Kg

Dimensionamento da Lagoa anaeróbia

I - Taxa da aplicação volumétrica (Lv)


Para esse dimensionamento adotaremos o seguinte valor de Lv:

Lv= 0,35 kgDBO/m³.d

II - Cálculo do volume requerido


carga L 1.920 kgDBO/d
Volume= → V= =
carga volumétrica Lv 0 ,35 KgDBO/d
V=5.485,71 m³

III - Verificação do tempo de detenção


Volume V 5.485 ,71 m ³
Tempo de detenção= → t= =
Vazão Q 4.000 m³ /d
t= 1,4 d

Lagoas com este baixo tempo de detenção devem ter a entrada de efluente pelo fundo,
em contato com o lodo sedimentado.

IV - Determinação da área requerida e dimensões


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A profundidade de uma lagoa anaeróbia pode variar de 3,5 m a 5 m. Sendo 4,5 m o


adotado para o dimensionamento.

Volume V 5.485 ,71 m ³


Área= → A= =
Profundidade H 4 ,5 m
A= 1.219,1 m² ou 0,12 ha
No caso, será adotado sistema com duas lagoas de 609,55m². Tendo as possíveis
dimensões: 27 m x 23 m, ficando com V= 621 m². Acatando a relação comprimento / largura
= 1 a 3, já que o quociente é 1,17 m.

V - Cálculo da concentração de DBO efluente


A eficiência de remoção da DBO na temperatura ambiente é de E=60% de acordo com
o Von Sperling.

DBOefl= So ( 1−E ÷ 100 )


DBOefl= 480 mg/l ( 1−60 ÷ 100 )
DBOefl= 192 mg/l

A DBO do efluente que irá para a lagoa facultativa.

VI - Cálculo do acúmulo de lodo na lagoa anaeróbia


Adotando-se uma taxa de acúmulo de 0,04m³/hab.ano, sendo assim:

Acúmulo anual= Taxa de acúmulo × População


Acúmulo anual= 0 , 04 m ³ /hab . ano ×40.000 hab
Acúmulo anual= 1.600 m³/ano

VII - Espessura da camada do lodo em 1 ano

Acumulação anual ×tempo 1.600 m ³ /ano ×1 ano


Espessura= →
Área dalagoa 1.219 ,1 m ²
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Espessura= 1,3 m/ano ou 130 cm/ano

Essa taxa de acúmulo de lodo anual, expressa em cm/ano, é superior ao comumente


ocorrido, isso provavelmente ocorreu pelo fato da lagoa ser profunda e com baixo tempo de
detenção (menor área superficial para espalhamento do lodo).

VIII - Cálculo do tempo para atingir a altura útil da lagoa

Considerando o tempo para atingir ⅓ da altura útil da lagoa, temos:

H 4 ,5 m
Tempo= 3 3

Elevaçãoanual 1, 3 m/ano
Tempo= 1,15 anos

O volume de lodo acumulado nesse tempo corresponde a ⅓ do volume útil das lagoas,
ou seja, 5.485,71 m³/3 = 1828,57 m³.
O volume do lodo deve ser removido aproximadamente a cada 1 ano, com cerca de
1828,57 m³ acumulado.

DIMENSIONAMENTO DA LAGOA FACULTATIVA

I- Carga afluente à lagoa facultativa

A carga efluente da lagoa anaeróbia é a carga afluente à lagoa facultativa. Com a


eficiência de remoção de 60% na lagoa anaeróbia, a carga afluente à lagoa facultativa é dada
pelo cálculo a seguir:

(100−E). Lo (100−60). 1.920


L= = = 768 kgDBO/d
100 100
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II- Adoção da taxa de aplicação superficial

Adotando Ls = 340 KgDBO/hab.d

III - Cálculo da área requerida

L
A=
Ls

768 Kg /d
A=
340 Kg /ha .d

A=2,25 ha ⇾ A= 22.500 m²

22.500 m²
Adotando duas lagoas, sendo a área de cada lagoa: = 11.250 m²
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Possíveis dimensões de cada lagoa: L = 167,70 m e B=67,08m ( Utilizando a relação


L/B = 2,5)

IV - Adoção de um valor para a profundidade

Usualmente adota-se um valor de H que vai entre 1,5m a 2,0m .

Para esse dimensionamento utilizaremos:

H= 1,80m.

V - Cálculo do volume resultante

V= A.H

V= 22.500 m². 1,80m

V= 40.500 m³

VI - Cálculo do tempo de detenção resultante


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V
t=
Q

40.500 m ³
t=
4.000 m ³/d

t= 10,12 d

VII - Adoção de uma valor para o coeficiente de remoção de DBO (K)

Adotando para o dimensionamento o regime de mistura completa,a 20º C:

K = 0,35 d-1

● Correção da Temperatura de 31º C

Temperatura líquida no mês mais frio é de 31º C (Inmet)

Adota-se .θ = 1,05

Kt=K20.θ(t-20)

Kt=0,35 x .1,05(31-20)

Kt= 0,6 d-1

VIII - Estimativa da DBO Solúvel efluente

Adotaremos para este dimensionamento um modelo de mistura completa , admitindo -


se que a lagoa não é predominantemente longitudinal (relação comprimento/Largura de 2,5),
logo teremos:

So 192
S= = S= S= 27,15 mg/l.
1+ K . t 1+ 0 , 6.10 ,12

IX - Estimativa da DBO particulada efluente


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Adotando-se a concentração de Sólidos Suspensos (SS) efluente igual a 80 mg/l, e


considerando, segundo a literatura que cada 1 mgSS/l resulta numa DBO 5 de 0,35 mg/l, temos
que:

DBO5 particulada = 0,35 mg DBO5 /mgSS .80 mg DBO5 /l = 28 mg DBO5 /l

X - DBO total efluente

DBO total efluente = DBO Solúvel + DBO particulada

DBO total efluente = 27,15 + 28

DBO total efluente = 55,15 mg/l

XI - Cálculo da eficiência total do sistema lagoa anaeróbia-lagoa


facultativa na remoção da DBO

( So−DBO efl .)
E= .100
So

( 480−55 , 15)
E= .100
480

E= 88,51%

XII - Área útil total ( Lagoas anaeróbia + Facultativa)

Área útil total = 0,12 + 2,25 ha = 2,37 ha

XIII - Área total requerida

A área total é da ordem de 25% a 33% superior à área útil requerida. Dessa forma a
área total ocupada pelo sistema de lagoas e estruturas auxiliares é de:

Área total = 1,3 . 2,37 = 3,08 ha


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30.800 m²
Área per capita = = 0,77 m²/hab.
40.000 hab .

XIV - Arranjo do Sistema

O arranjo do sistema de lagoas australiano, poderá ser visto mais detalhadamente no


anexo deste documento.

DIMENSIONAMENTO DA LAGOA DE MATURAÇÃO


Dados:
População Vazão afluente DBO afluente (S0) Temperatura Co= N

5.107 CF/100ml no
40.000 hab. 4.000 m³/d 480mg/l 28ºC
esgoto bruto

Dados da lagoa facultativa:

Nº de lagoas Comprimento (L) Largura (B) Altura (H) Tempo de


detenção (dias)

2 167,70 m 67,08m 1,80m 10,12

Remoção de coliformes da lagoa facultativa

I- Adoção de regime hidráulico

Para esse dimensionamento adotaremos o regime de fluxo disperso.

II- Cálculo do número de dispersão


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Sabendo-se que a relação da lagoa L/B é de 2,5 em cada lagoa facultativa é igual a 2,5,
tem-se:

1 1
d= →
L/B 2 ,5

d= 0,4

III- Cálculo do coeficiente de remoção de coliformes

Kb (disperso)= 0,542 × H ❑−1,259 →0,542 ×1 , 80❑−1,259

kb= 0,26 a 20°C

Correção de Kb para 28°C:

(T −20) (28−20)
Kbt= K ❑b 20 × θ❑ → 0 , 26 ×1 , 07❑

Kbt= 0,45 d-¹

IV- Concentração de efluente de coliforme

Pela fórmula do fluxo disperso, sabendo-se que a detenção é de 10,12 dias, tem-se:

a= √ 1+4 × 0 , 45 ×10 , 12× 0 , 4


a= 2,88

N=
1/ 2 d 1 /(2 × 0 ,4 )
4 ae ❑ 7 4 ×2 , 88 e❑
N ❑0 × 2 a /2 d 2 −a /2 d
→5 × 10❑ × 2 2 ,88 /(2× 0 ,4 ) 2 −
(1+a)❑ e❑ −(1−a)❑ e❑ (1+ 2 ,88)❑ e❑ −(1−2 , 88)❑ e ❑

N= 3,65 × 10❑6 CF/100

Essa concentração efluente da lagoa facultativa é a concentração afluente à etapa de


lagoa de maturação.

A eficiência de remoção de coliformes da lagoa facultativa é:


22

N ❑O −N 7
5 × 10❑ −3 , 65 ×10❑
6
E= ×100 → ×100
N ❑O 5 ×10 ❑
7

E=¿ 92,7%

I- Adoção de regime hidráulico da lagoa de maturação

O regime hidráulico escolhido para uso na lagoa de maturação foi o de fluxo disperso
com chicanas.

II- Volume da lagoa de maturação

Adotando-se o tempo de detenção de 12 dias, temos:

V= t × Q→ 12 d × 4.000 m ³/d

V= 48.000 m³

III- Dimensões da lagoa

Adotando a profundidade: H= 1,0 m

V 48.000 m³
Área superficial: A= →
H 1m

A= 48.000 m²

Adota-se dimensões externas quadradas e dimensões internas divididas com 3


chicanas.

Dimensões internas:

Comprimento: L= 219,09 m

Largura: B= 219,09 m

L 219 , 09
L/B= (n+ 1) ² → (3+1)²
B 219 , 09
23

L/B= 16

Pelo fato de dividir a área interna da lagoa em 3 chicanas, a lagoa terá 4 trechos, cada
um com um comprimento de 219,09 m e uma largura de 219,09/4= 54,77 m. A lagoa pode ser
considerada como comportando-se como uma lagoa retangular, com relação L/B= 16, tendo
um comprimento total de 876,36 m e largura de 54,77 m.

IV- Área total requerida

At= 1,25 × V → 1,25 × 48.000 m²

At= 60.000 m² ou 6 ha.

V- Número de dispersão

1 1

d= L 16
B
d= 0,06

VI- Coeficiente de decaimento de coliformes

Pode ser dado por:

Kb= 0,542 × H ❑−1,259 →0,542 ×1❑−1,259


Kb= 0,542 d-¹ (20°)

Corrigindo a temperatura, tem-se:

Kbt= Kb 20× θ❑(T −20) → 0,542 ×1 , 07(28−20)


Kbt= 0,92 d-¹
24

VI- Coeficiente de decaimento de coliformes

Adotando-se a equação do fluxo disperso, tem-se:


a= √ 1+4 × 0 , 92× 12× 0 , 06
a= 1,91

N=
4 ae ❑1/ 2 d 6 4 × 1 , 91e ❑1/(2 ×0 , 06)
N ❑0 × →3 , 65 ×10 ❑ ×
(1+a)❑2 e❑a /2 d −(1−a)❑2 e❑−a /2 d (1+1 , 91)❑2 e ❑1 ,91/(2 ×0 , 06)−(1−1 , 91)❑2

N= 1,7 × 10³ CF/100 mL

Essa concentração efluente da lagoa facultativa é a concentração afluente à etapa de


lagoa de maturação.

A eficiência de remoção de coliformes da lagoa facultativa é:


N ❑O −N 7
5 × 10❑ −1 ,7 × 10❑
3
E= ×100 → ×100
N ❑O 5 ×10❑
7

E=¿ 99,9%
25

ANEXO
26

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