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2 - INTRODUÇÃO

As estações de tratamento de água (ETAs) representam uma necessidade


básica para as comunidades, visto que têm a finalidade de fornecer água potável,
proporcionando, desta forma, melhores condições de saúde e higiene à população.
Nos últimos anos, um grande número de estações de tratamento de água
(ETAs) tem-se defrontado com o problema do tratamento e disposição final dos
resíduos sólidos gerados durante o processo de tratamento de água. Embora não
seja um problema recente, o efeito da disposição inadequada dos resíduos sólidos
gerados em ETAs no meio ambiente tem-se mostrado ser extremamente danoso ao
meio ambiente, especialmente nos grandes centros urbanos, seja pelo aumento da
quantidade de sólidos e da turbidez em corpos d’água, como também no provável
aumento da sua toxicidade que, por sua vez, pode comprometer a estabilidade da
vida aquática.
De uma forma geral, os resíduos gerados em ETAs podem ser divididos em
quatro grandes categorias :
A) Resíduos gerados durante processos de tratamento de água visando a remoção
de cor e turbidez. Em geral, os resíduos sólidos produzidos englobam os lodos
gerados nos decantadores (ou eventualmente de flotadores com ar dissolvido) e
as água de lavagem dos filtros.
B) Resíduos sólidos gerados durante processos de abrandamento.
C) Resíduos gerados em processos de tratamento avançado visando a redução de
compostos orgânicos presentes na água bruta, tais como carvão ativado granular
saturado, ar proveniente de processos de arraste com ar, etc ...
D) Resíduos líquidos gerados durante processos visando a redução de compostos
inorgânicos presentes na água bruta, tais como processos de membrana
(osmose reversa, ultrafiltração, nanofiltração, etc.).
Durante o processo convencional de tratamento de água são gerados
basicamente dois tipos de resíduos, a saber:
O primeiro deles é o resíduo sólido gerado nos decantadores (ou
eventualmente em flotadores com ar dissolvido) o segundo, contém os resíduos
gerados na operação de lavagem dos filtros.
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Em termos volumétricos, a maior quantidade de resíduo gerado é proveniente


dos decantadores, e em termos mássicos, a maior quantidade de lodo produzida é
proveniente do sistema de separação sólido-líquido que, em uma estação
convencional de tratamento de água, é basicamente efetuada também nos
decantadores convencionais de fluxo horizontal ou decantadores laminares.
Cada linha geradora de resíduos sólidos apresenta características distintas
em termos de vazão e concentração de sólidos, razão pela qual diferentes
concepções de tratamento devem ser consideradas.
Historicamente, no Brasil, o tratamento dos resíduos sólidos gerados durante
o processo de lavagem de meios filtrantes e o seu posterior reaproveitamento é o
que tem recebido maior atenção e, como exemplo de ETAs que realizam com
sucesso o reaproveitamento de 100% de suas águas de lavagem, podem ser citadas
as ETAs do Guaraú e Alto da Boa Vista, ambas responsáveis pelo abastecimento de
água de parte da Região Metropolitana da Grande São Paulo (RMGSP), com
capacidade para 33,0 m3/s e 11,0 m3/s, respectivamente.
No entanto, são pouco conhecidos os processos de tratamento do lodo
gerado nos decantadores convencionais de escoamento horizontal ou de fluxo
laminar, mais especificamente, as operações unitárias de adensamento, que é
processo preparatório para o seu posterior condicionamento e desidratação final.
Sabe-se através de levantamentos realizados nas próprias estações que o
volume de lodo gerado (sólidos) nos decantadores é muito preocupante uma vez
que hoje se busca estar protegendo os manancias, principalmente quanto a
qualidade dos mesmos, para que num futuro próximo a situação que hoje já é
alarmante não fique ainda pior.
No Estado de São Paulo o que se sabe sobre o assunto chega a ser um
tanto desanimador. Poucas são as ETAs que estão se preocupando com tais
problemas. Segundo dados coletados com profissionais da área sabe-se que no
Estado somente 3 (três) ETAs tem desenvolvido estudos e projetos sobre
tratamento de resíduos sólidos gerados na ETA. São elas: ETA Taiaçupeba do Alto
Tietê com projeto já em funcionamento, ETA 1 Águas de Limeira com projeto em
implantação e ETA Capim Fino de Piracicaba com projeto em implantação previsto
para entrar em operação em abril de 2004. Cada ETA tem sua particularidade
quanto aos sistemas adotados, para isso foram realizados estudos buscando a
viabilidade de estar implantando tais sistemas.
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Nos países desenvolvidos, o lançamento destes resíduos vem sendo


drasticamente reduzido, como resultado de legislações mais rigorosas de controle da
poluição, da crescente escassez de recursos hídricos, e também por causa do
grande desperdício que representa descartar de 2 a 6% do volume de água
produzido numa Estação de Tratamento de Água (ETA), gastos nas atividades de
lavagem dos filtros, e descargas dos decantadores.
O lodo produzido nas estações é composto de argila, siltes, areia fina,
material húmico e microrganismos, bem como de produtos provenientes do processo
de coagulação. Devido à esses fatores os lodos formados por hidróxidos de alumínio
e ferro são de difícil adensamento e desidratação, sendo necessário o seu pré-
condicionamento, antes de serem submetidos a esses processos. Por isso, uma
pratica comum nestas ETA’s é o uso de polímeros, sejam eles catiônicos, aniônicos
ou não iônicos.
A operação unitária de adensamento é uma das mais importantes no
processo de tratamento de lodos gerados em estações de tratamento de água. O
adensamento por ser uma das primeiras unidades do tratamento, tem por finalidade
aumentar o teor de sólidos do lodo gerado. A redução de volume obtido pelo
adensamento do lodo é de fundamental importância para as unidades de tratamento
posteriores, especialmente quanto a desidratação.
Os sistemas para adensar os lodos gerados nas estações podem ser feitos
por gravidade, por flotação ou mecanicamente através de centrífugas ou filtros
prensa de esteira. Estas alternativas apresentam vantagens e desvantagens e, a
sua seleção depende de estudos técnicos e econômicos os quais serão explicados
no decorrer do estudo.
Dentre as alternativas racionais utilizadas para descarte de lodo de ETA’s
está a recuperação e reciclagem de coagulantes, com descarte do lodo excedente
em aterro. Estudos recentes sugerem que a aplicação de coagulantes regenerados
no tratamento físico químico de esgotos, sem a separação dos sólidos inertes, pode
ser uma estratégia interessante para disposição deste tipo de resíduo (Piotto,
Resende e Gonçalves, 1997). Esta prática reduz a quantidade de resíduos
necessitando de disposição final em uma ETA e, além disso, o lodo será transferido
para a ETE que normalmente dispõe de unidades específicas para seu tratamento.
A Estação de Tratamento de Lodo (ETL), assunto estudado neste trabalho,
tem em sua concepção sistemas mecanizados de adensamento e desidratação
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meios pelos quais com a adição de polímeros tornam possível fazer a separação dos
sólidos contidos no lodo de fundo dos decantadores e da água de lavagem dos
filtros, possibilitando assim uma disposição final mais adequada para estes resíduos.
Para se fazer a disposição desse resíduo, correta do ponto de vista ambiental e
factível em termos econômicos, é necessário a separação água-sólido.
Segundo DHARMAPPA et al. (1997), o tratamento de lodo e disposição final
pode ser classificado em seis grandes categorias:

• Adensamento: processo de aumento da concentração de sólidos contidos no


resíduo para reduzir seu volume, antes da disposição final ou pós-tratamento;

• Condicionamento: adição de um produto químico ao resíduo ou alteração


física de sua natureza;

• Desaguamento mecânico: similar ao adensamento, esse processo envolve a


separação líquido-sólidos. É definido como um processo para incrementar a
concentração de sólidos do lodo em mais de 8%;

• Secagem ou desaguamento: uma extensão da separação líquido-sólidos,


aproxima-se do adensamento e desaguamento mecânico. É definido como um
processo para incrementar a concentração de sólidos do lodo em mais de 35%;

• Recuperação de coagulantes: técnica de tratamento para melhorar as


características dos sólidos desaguados e diminuir a concentração de íons
metálicos nos resíduos. A recalcinação é relacionada como um processo
associado ao abrandamento de lodos com o uso da cal;

• Disposição final e reuso: remoção dos resíduos da área da ETA ou


estocagem final na área da ETA. Esta categoria inclui transporte para aterro de
áreas, descarregamento em aterro sanitário, disposição em solos agricultáveis e
várias opções de reuso, tais como suplementação de solos e fabricação de tijolos.
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3 - OBJETIVOS
O lodo sendo um dos subprodutos gerado nos processos de tratamento de
água é classificado como resíduo sólido pela NBR-10004 e por ter sido durante
muito tempo retornado aos cursos d'
água sem prévio tratamento vem prejudicando
os meios aquáticos e também ao meio ambiente. Procurando atender as
necessidades de tratamento destes resíduos, faz-se necessário a investigação de
tecnologias apropriadas para este fim. Este trabalho tem por propósito o estudo da
viabilidade e da implantação de uma estação de tratamento de lodo na recuperação
do volume de água perdido nas operações comuns em ETAs e disposição final dos
resíduos sólidos gerados no sistema, através da Estação de Tratamento de Lodo
da ETA Capim Fino, buscando assim estar atendendo as determinações da
Promotoria Pública e Meio Ambiente da cidade de Piracicaba. Adicionalmente,
também faz parte dos nossos objetivos apresentar algumas informações de outros
sistemas já implantados em outras localidades sobre o tratamento de resíduos em
ETAs.

4 - METODOLOGIA
Esta pesquisa foi elaborada mediante visitas feitas à Estação de Tratamento
de Água Capim Fino por nós alunas, Fhayra e Marta, e pela Profa. Maria Aparecida,
onde tivemos acesso a informações gentilmente fornecidas pelo Tecnólogo José
Maria Sanglade Marchiori, responsável pela ETA Capim Fino, referentes aos
estudos técnicos e econômicos da viabilidade de implantação da Estação de
Tratamento do Lodo (ETL), a qual utilizará centrífuga para a desidratação mecânica
do lodo. No decorrer da elaboração desta pesquisa foram realizadas novas visitas,
onde foram tiradas fotos do prédio de instalação da ETL, e dos equipamentos já
adquiridos para a ETL. Numa segunda etapa, estivemos visitando a ETA-
Taiaçupeba, Suzano – SP, onde fomos recebidas pelo Sr. Célio Mattos,encarregado
da ETA e pelas Técnica Kátia e Química Cláudia, sendo que foram gentilmente
fornecidas informações técnicas e econômicas sobre a ETL – ETA-Taiaçupeba. Esta
ETL já se encontra em funcionamento, utilizando o filtro prensa para desidratação
mecânica do lodo. Finalmente, sabe-se que a empresa Águas de Limeira estará
recebendo o lodo da ETA-Águas de Limeira para adensamento e desidratação junto
ao esgoto da ETE-Águas de Limeira.
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5 - HISTÓRIA DO SEMAE

Não é de hoje que o abastecimento de água é uma questão que tem


merecido a atenção dos órgãos públicos. Para se ter uma idéia local da evolução do
tema e das proporções que ele pode ter na vida de milhares de pessoas, em 1824, a
Câmara Municipal de Piracicaba já começava a incluir o assunto em suas pautas de
reuniões.
Em maio de 1886, foi iniciada a construção de um reservatório de dois
milhões de litros de água, no bairro dos Alemães, a cargo da Empresa Hidráulica de
Piracicaba, de propriedade de João Frick e Carlos Zanotta.
Em 1954 foi criado o Departamento de Águas e Esgotos de São Paulo (DAE).
O SEMAE - Serviço Municipal de Água e Esgoto foi criado em 30 de abril de
1969, através da Lei nº. 1657, tendo sido regulamentado pelo decreto nº. 828, de 30
de maio do mesmo ano. Em agosto de 1969 Piracicaba já contava com inúmeros
projetos de rede de esgoto e de fornecimento de água. Com isso a autarquia
ganhava autonomia econômica, financeira e administrativa.
Nove anos depois (1978), o Semae construiu uma pequena represa, a ETE-
Artemis, três reservatórios e uma casa de máquinas. Em outubro, a sede foi
transferida para a Rua XV de Novembro, 2.200 - onde funciona até hoje.
Em 1982, com a inauguração da ETA-Capim Fino, novas perspectivas foram
abertas para o município.
Em 1989, foi elaborado um Plano Diretor de Água, que gerou as diretrizes e
projetos básicos para o desenvolvimento do sistema de água.
Com o lançamento da primeira Estação de Tratamento de Esgotos Dois
Córregos, em dezembro de 1992, iniciava-se um projeto piloto com capacidade para
tratar esgotos de até mil habitantes. Um ano depois, o Semae deu os primeiros
passos para aumentar o índice de tratamento de esgotos da cidade, iniciando a
instalação de interceptores de esgoto às margens do Córrego das Ondas e na
margem direita do ribeirão Piracicamirim.
Em junho de 1998 o Semae inaugura a ETE-Piracicamirim, dimensionada
para tratar o esgoto doméstico de uma população de 90 mil pessoas. Uma obra que
chama a atenção a partir do seu baixo custo de construção e manutenção e pelos
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sistemas de tratamento de esgotos desenvolvidos na Universidade. A ETE é tão


significativa que tem atraído a atenção de outros serviços de água e esgoto do país
e de outros países, como Colômbia, Chile, Estados Unidos e México.
Em matéria de abastecimento, a cidade conta hoje com três Estações de
Captação: duas no rio Piracicaba e uma no rio Corumbataí. Além disso, o sistema de
abastecimento da cidade está informatizado. Hoje é possível saber qual a
quantidade de cloro ou de água em cada reservatório on-line, de uma central
instalada na sede da autarquia. É possível ainda, remanejar água de um reservatório
para outro, desligar e ligar bombas para economizar energia ou para sanar
problemas emergênciais.
Entre projetos, estudos e avaliações, o Semae procura estar presente no dia-
a-dia de Piracicaba, buscando soluções alternativas capazes de melhorar a
qualidade de vida do povo piracicabano e investindo em pesquisas e projetos que
antecipem soluções para questões futuras.
O Semae, por trabalhar com a área de saneamento, investe em projetos
ecológicos, como é o caso da Semana da Água que acontece anualmente ou os
projetos experimentais com alternativas para o tratamento de esgotos e
recomposição de matas ciliares.
A autarquia tem a competência de exercer todas as atividades relacionadas
com o sistema público de água e esgoto do Município de Piracicaba.
Seu primeiro presidente foi o Dr. Paulo Geraldo Serra e o atual é o
Engenheiro civil José Augusto B. Seydel.

5.1 - O Abastecimento da Cidade de Piracicaba

A cidade de Piracicaba sempre teve como sua principal fonte de


abastecimento de água, o Rio Piracicaba. Em função da queda da qualidade da
água desse manancial, iniciou-se em meados de 1980 a construção do Sistema
Corumbataí como alternativa ao sistema Piracicaba, sendo que a partir de 1980, foi
colocada em operação a nova captação de água instalada junto ao Rio Corumbataí.
Inicialmente, o volume captado representava 33% de toda água produzida, estando
atualmente nos 100%.
Piracicaba conta hoje com um sistema de abastecimento público que atende
praticamente 100% da população urbana, estando interligados a rede
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aproximadamente 104.000 ligações de água que demandam um consumo de


105.000.000 de litros de água por dia para uma população estimada em 350.000
habitantes.
O SEMAE, responsável pelo abastecimento de água do município elaborou
em 1989 um Plano Diretor de Água, que gerou as diretrizes e projetos básicos para
o desenvolvimento do sistema de água. Em função da análise dos diversos
indicadores e relatórios de: qualidade da água do Rio Piracicaba e Rio Corumbataí;
estudo hidrológico, proteção de crescimento populacional e outros instrumentos de
planejamento, ficou evidente que o Corumbataí deveria tornar-se o principal
manancial para o abastecimento público.
Durante esses anos de operação conjunta com os rios Piracicaba e
Corumbataí foi possível acompanhar os principais indicadores de qualidade e
quantidade do dois mananciais. O Corumbataí apresenta-se, até então, bem melhor
que o Piracicaba. Entretanto, nossa grande preocupação está com a "tendência de
qualidade", que ao longo dos anos vem piorando e, somando com a crescente
demanda, não só para uso doméstico, como também industrial e agrícola poderão
comprometer a disponibilidade e a qualidade, principalmente nos períodos de
estiagem.
Todos os dados hidrológicos e de qualidade da água demonstram a urgente
necessidade de uma ação efetiva em toda a Bacia do Corumbataí, para preservar a
qualidade de sua água e manter sua disponibilidade de vazão mínima suficiente
para atender toda a demanda da bacia.

6 - APRESENTAÇÃO DA ETA 3 CAPIM-FINO

A Estação de Tratamento de Água ETA 3 – Capim Fino, localizada no Bairro


Guamium, saída 27 da rodovia 127 (Piracicaba - Rio Claro), em Piracicaba – SP.
Inaugurada em 1982, tem capacidade de produzir até 129 milhões e 600 mil litros de
água diariamente ou 1500 L/s.
A água captada na Estação Elevatória de Água Bruta (Captação 3), localizada
às margens do Rio Corumbataí, onde através de 4 adutoras (tubulações) de
aproximadamente 700 mm de diâmetro, percorre 5,4 Km até chegar a ETA 3. Dados
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da qualidade da água bruta, referentes ao ano de 2001 fornecidos pelo SEMAE


estão resumidos na Tab.1.
A partir dela pode-se perceber a variação sazonal da qualidade da água, com
maior geração de resíduos no período chuvoso, o qual deve ser determinante no
dimensionamento do sistema de tratamento de resíduos.
Na entrada da ETA 3, essa água é recebida em uma “câmara de
tranqüilização” onde ocorre a pré-cloração e aplicação de cal hidratada, seguindo
então para calha Parshall onde é feita a medição da vazão e aplicado-se cloreto
férrico e, às vezes, carvão ativado.
Após essa etapa, a água é encaminhada para as câmaras de floculação (16
ao todo), onde se inicia o processo de separação das impurezas da água através da
formação de flocos, que são pequenas “partículas” que aglomeram a “sujeira” da
água em sua volta, seguindo então para os tanques de decantação (4 decantadores)
com capacidade de 2.200 m3 cada, responsáveis pela sedimentação dos flocos
(partículas sólidas). Após essa etapa a água é conduzida, através das calhas
coletoras dos decantadores e canal de água decantada, para os 14 filtros,
compostos de carvão antracito (mineral) e areia, que tem a função de dar um
“polimento final” na água ou seja, aquela pequena quantidade de sujeira que passou
pelas outras etapas, com certeza ficará retida nos filtros.
Após a fase de filtração, a água já está totalmente límpida seguindo então
para a caixa de nível constante onde é feita a pós-cloração, fluoretação (utilizada
para prevenção de cáries dentárias) e correção final de pH (para eliminar a acidez
da água e proteger as tubulações), indo para os reservatórios e entregue aos
consumidores. A Tabela 2 apresenta dados de consumo de produtos químicos
(médias mensais). A vazão média afluente à ETA no ano de 2001 foi de cerca de
1240 l/s e a tratada de, aproximadamente 1200 l/s.
Durante todo o processo de Tratamento, desde a captação até a chegada à
residência do consumidor, são feitas análises físico-químicas e bacteriológicas,
obedecendo a legislação sanitária vigente, visando assim o fornecimento de uma
água com qualidade a toda população. Ver Tabela 1.
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Tabela 01 – Valores médios mensais de parâmetros de qualidade da água bruta da


ETA Capim Fino em 2001.

MÊS COR TURB pH ALC. A.C. O.C. DBO O.D. Fe Mn Clorof. ST


ppm ftu ppm CaCO3 ppm ppm ppm ppm mg/l ug/l mg/l
PtCo O2 O2 O2 Fe

JAN 626 124 7,0 26 5,3 10,2 2,6 5,6 10,15 0,81 13505 628
FEV 519 116 7,0 27 6,0 10,1 2,2 5,7 11,34 0,35 13391 202
MAR 232 61 7,0 30 2,0 7,1 2,0 5,5 5,15 0,19 8610 254
ABR 163 51 7,0 30 2,8 4,8 2,3 6,0 3,39 0,07 22189 173
MAI 125 18 7,0 26 5,5 3,4 2,3 6,3 1,94 0,13 11045 112
JUN 50 9 6,8 23 5,0 3,1 2,4 6,3 1,38 0,15 8796 93
JUL 40 7 6,7 23 2,0 3,5 2,5 6,1 1,29 0,06 8089 93
AGO 42 11 6,7 25 2,8 4,0 3,1 5,4 1,43 0,09 6323 161
SET 80 25 6,6 26 4,3 4,6 3,7 4,7 2,01 0,17 5579 107
OUT 285 74 6,9 24 5,4 6,6 3,4 4,8 3,26 0,20 10168 431
NOV 199 55 6,8 24 4,7 4,6 3,0 4,1 3,21 0,14 10995 131
DEZ 710 129 6,9 20 4,0 8,5 3,0 4,85 5,77 0,21 7449 141
MIN 20 6 6,3 10 1,0 2,3 0,3 1,5 0,28 0,02 0 87
MED 256 57 6,9 25 4,1 5,9 2,7 5,4 4,19 0,21 10512 210
MAX 5000 360 7,5 43 10,0 21,4 5,0 7,7 37,60 3,95 11160 881
0

Tabela 02 – Dosagem de produtos químicos na ETA Capim Fino em 2001

Média de dosagens (ppm)


MÊS Cloreto Sulfato Cal Cloro Flúor CAP Polímero
Férrico Férrico
JAN 56,8 - 60,7 9,0 0,6 - 0,10
FEV 58,2 49,6 64,5 9,1 0,5 - -
MAR 40,9 78,3 53,1 7,5 0,5 - -
ABR 31,2 - 46,0 6,5 0,5 - 0,18
MAI 26,7 - 39,3 6,6 0,6 - -
JUN 20,8 - 34,2 6,2 0,6 2,63 -
JUL 21,1 - 37,6 6,9 0,6 5,40 -
AGO 22,9 - 40,1 7,6 0,6 4,85 -
SET 25,9 - 43,4 8,5 0,5 1,96 -
OUT 41,3 - 54,4 8,7 0,6 0,93 0,10
NOV 36,3 - 52,8 8,7 0,6 3,19 0,06
DEZ 50,8 - 63,9 10,3 0,6 - 0,10
MED 36,1 64,4 49,2 8,0 0,6 3,20 0,10
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6.1 - Geração de resíduos nos Decantadores

A ETA Capim Fino tem em sua planta física 04 decantadores convencionais,


de 14,50 m de largura por 37,50 m comprimento por 4,50 profundidade média. A
taxa de aplicação superficial média (projeto) é de 55 m3/m2.dia. As calhas de coleta
de água decantada, providas de vertedores triangulares ajustáveis, se encontram
posicionadas no trecho final de cada unidade. As Figuras 1 e 2 mostram os
decantadores convencionais e pontes flutuantes da ETA Capim Fino.

Figura 01 – Decantadores convencionais da ETA Capim Fino.


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Figura 02 – Ponte removedora de lodo dos decantadores da


ETA Capim Fino.

O equipamento de remoção de lodo é do tipo flutuante, similar ao Clarivac,


com descarte semicontínuo de lodo de fundo de decantador, por sinfonamento. São
4 tubos verticais, com diâmetro 100mm. De acordo com o projeto da ETA, a carga
hidráulica do sifão deveria ser maior que 0,30; a vazão de descarga (por tubo)
estaria na faixa de 2,2 a 3,4 l/s; a vazão média de extração seria de 11,2 l/s (968
m3/dia) por decantador e a velocidade do percurso de 2 m/min. O volume de lodo a
ser produzido estimado pelo estudo de tratabilidade que embasou o projeto original
seria de, no mínimo, 89 m3/dia, e de, no máximo, 296 m3/dia. Era esta última
condição, considerada a mais crítica, o tempo total diário de remoção de lodo de
cada decantador seria da ordem de 7 horas por decantador. Contudo, medições
feitas pelo Semae indicaram que a vazão de lodo gerado no decantador é de cerca
de 4 (quatro) vezes maior, em média 40 l/s. No projeto da ETL foi adotada a vazão
de 40 l/s, equivalente a 3.800 m3/dia, cerca de 3% da vazão nominal e 4% da vazão
atual em questão.
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6.2 - Geração de Resíduos nos Filtros

A ETA Capim Fino conta desde sua reforma e ampliação com 14 (quatorze)
filtros rápidos, com área útil de filtração, por unidade, de 30,72 m2 e área total de
430,1 m2. A taxa média de filtração de projeto é de, aproximadamente, 289,7
m3/m2.dia para a primeira etapa (10 filtros) e de 310,4 m3/m2.dia para a 2ª etapa (14
filtros). Para 14 filtros e vazão de 1240 l/s esse valor é mais baixo, da ordem de
249,1 m3/m2.dia. Os filtros são de camada dupla, de antracito (faixa granulométrica =
0,70-2,00 mm; tamanho efetivo T.E.= 0,90-1,00 mm; coeficiente de uniformidade
C.U.< 1,5; coeficiente de esfericidade C.E. = 0,70; espessura da camada = 0,60 m) e
areia (faixa granulométrica = 0,42-1,41mm; tamanho efetivo T.E. =0,50; coeficiente
de uniformidade C.U.< 1,5; coeficiente de esfericidade C.E.=0,75; espessura da
camada =0,30m).
O sistema de lavagem de filtros é do tipo com ar seguido de lavagem com
água, sendo um filtro lavado a cada vez. A velocidade de lavagem é de 0,70m/min.,
equivalente a uma taxa de 1008 m3/m2d. Assim, para exemplificar, para uma
duração de 5 min., seria gerado por filtro lavado um volume de 107,5m3. No projeto
da ETL, particularmente no que se refere ao estudo da equalização de vazões e ao
dimensionamento das elevatórias, considerou-se um volume gerado em cada
lavagem de 200 m3 num tempo de 4 min. Contudo, o valor de 120 m3 para o volume
de água consumido por lavagem de cada filtro está mais próximo do consumo
recentemente medido pelo departamento de água. Para dez lavagens diárias
corresponderia, neste caso, um volume total de 1200m3, como admitido no
dimensionamento das unidades que compõem a ETL. A Figura 3 mostra a lavagem
de filtro da ETA Capim Fino.
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Figura 03 – Lavagem de filtro da ETA Capim fino.

6.3 - Qualificação dos lodos gerados

A maioria dos estudos tem por interesse quantificar os resíduos gerados em


estações de tratamento de água do tipo convencional ou de ciclo completo, pois são
as que geram maior quantidade. Nessas estações, os resíduos são gerados em
duas unidades do tratamento: nos decantadores, com resíduos de teor de sólidos
mais elevado, na faixa de 0,1 a 1 %, e nos filtros, que utilizam grandes volumes de
água no processo de lavagem e apresentam baixos teores de sólidos.
Segundo estudos realizados na tese defendida por Carvalho na UFSCAR
(1999), para os decantadores as características dos sólidos presentes na água
bruta, a dosagem de coagulante e o procedimento de limpeza são os parâmetros
que mais influenciam a quantidade de lodo gerado; enquanto que para os filtros,
além do procedimento de lavagem, são mais determinantes a carreira de filtração e
o volume de água utilizado durante a lavagem.
A descarga de fundo dos decantadores gera resíduos menos concentrados
que os obtidos durante a limpeza mecanizada e estes, por sua vez, são menos
concentrados que os obtidos durante a limpeza manual.
Carvalho (1999) sugeriu que quanto maior for a concentração de sólidos
presentes na água bruta e a dosagem de coagulantes, menor será a concentração
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de sólidos presentes no clarificado e maior será a quantidade de resíduos sólidos


gerados. Coagulantes a base de sais de alumínio têm resultado em resíduos menos
concentrados que os obtidos à base de sais de ferro.
Para a estimativa das quantidades de resíduos gerados no tratamento de
água foram desenvolvidas diversas fórmulas empíricas, baseadas nas
características dos sólidos da água bruta, como turbidez e cor e, nas características
dos coagulantes. As principais são:

1. Fórmula da Water Research Center - WRC (1979)

T.S. = (1,2 * T + 0,07 * C + k * D +A) * 10-3


Onde:
T.S. = taxa de produção de sólidos secos (kg matéria seca / m3 água tratada)
T = turbidez da água bruta (UT)
C = cor da água bruta (°H)
K = coeficiente de precipitação : k = 0,17 (sulfato alumínio líquido)
K = 0,39 (cloreto férrico líquido)
A = outros aditivos, como carvão e polieletrólitos (mg/l)

2. Fórmula de Cornwell

T.S. = (0,4 * SA + 1,5 * T + A) * 10-3

Onde:
T.S. = taxa de aplicação de sólidos secos (kg matéria seca / m3 água tratada)
SA = dosagem de sulfato de alumínio (mg/l)
T = turbidez da água bruta (UT)
A = outros aditivos como carvão e polieletrólitos (mg/l)

3. Fórmula da Association Française pour L'Etude dês Eaux (1982) idem a


fórmula da WRC (1979)

T.S. = (1,2 * T + 0,07 * C + k * D + A)* 103


16

4. Fórmula apresentada por REALI, em 1999, nos trabalhos da PROSAB

Para ETAs que utilizam sulfato de alumínio:


P = (0,26 * SA + 1,5 * T) * 10-3 * q

Para ETAs que utilizam cloreto férrico:


P = (0,40 * CF + 1.5 * T) * 10-3 * q
Onde:
P = produção per capta de sólidos secos por dia (g/hab.dia)
q = consumo per capta por dia (l/hab.dia)

6.3.1 - Volume de lodo gerado na ETA Capim Fino

TS = (1,2 * T + 0,04 * C + K * D + Ad) * 10-3


TS = [1,2 * 55 + 0,07 * 270 + (0,329 * 40000) + 3190 + 60) * 10-3
TS = (66 + 18,9 + 15600 + 3190 + 60) * 10-3
TS = 18,9 Kg/m3 = 18,9 g/L

7- ENSAIOS DE CLARIFICAÇÃO - RESULTADOS E DISCUSSÃO

Devido à incerteza quanto ao comportamento do lodo gerado na ETA Capim


Fino, foram realizados ensaios para definição do comportamento do lodo em relação
ao processo de espessamento. Com esse objetivo, foram desenvolvidos ensaios
abrangendo:
• caracterização físico-química e bacteriológica do lodo removido dos
decantadores;
• caracterização físico-química e bacteriológica da água de lavagem dos filtros;
• ensaios de espessamento por flotação e por gravidade, com utilização de
polímero, do lodo proveniente dos decantadores;
• ensaios de espessamento por flotação e por gravidade, com utilização de
polímero, da água de lavagem dos filtros;
17

• ensaios de espessamento por flotação e por gravidade, com utilização de


polímero, de amostras compostas pela mistura do lodo dos decantadores e da
água de lavagem dos filtros, na proporção de 3 : 1;
• identificação do melhor tipo e dosagem do polímero.

7.1 - Ensaios de espessamento do Lodo removido dos Decantadores

Para realização dos ensaios de espessamento do lodo (flotação e gravidade)


foi empregada uma instalação em escala de laboratório (tipo batelada), designada
“Flotateste”, o qual foi projetado e desenvolvido na EESC-SP. Esse equipamento é
constituído de seis colunas em paralelo, graduadas com escala em “mm”,
interligadas uma câmara de saturação (pressurizada). Para os ensaios por
gravidade essa câmara foi desativada.
Estudou-se a influência de três polímeros, um de cada categoria (catiônico,
aniônico e não iônico) nos ensaios de espessamento, visando a seleção do melhor
polímero e dosagem adequada.
Foi caracterizado o lodo bruto, e após espessamento (flotação e gravidade),
nas condições consideradas como adequadas para o espessamento, caracterizou-
se o líquido clarificado.
Na tabela a seguir consta os resultados dos ensaios físico-químicos e
bacteriológicos do lodo bruto, e os resultados finais dos ensaios de espessamento
por flotação e por gravidade (melhor polímero e dosagem adequada).
18

TABELA 03 - Resumo dos ensaios de espessamento do lodo dos decantadores.


FLOTAÇÃO GRAVIDADE
Amostra Líquido clarificado Líquido clarificado
ANÁLISES Polímero Catiônico Polímero Aniônico
bruta
4,80 g/kg 4,80 g/kg
PH 5,86 7,50 7,40
Turdidez (uT) - 4,36 7,36
Cor aparente (uC) - 44 96
Sólidos Totais (mg/l) 22.928,0 197,2 425,0
Sólidos Fixos (mg/l) 19.912,0 43,5 93,0
Sólidos Voláteis (mg/l) 3.016,0 153,7 332,0
Sólidos Susp. Totais (mg/l) 20.813,0 6,5 12,0
Sólidos Susp. Fixos (mg/l) 18.747,0 2,6 6,0
Sólidos Susp. Voláteis
2.066,0 3,9 6,0
(mg/l)
Sólidos Sedimentáveis
870,0 nd -
(ml/l)
DBO (mg/l) 76,0 10,15 14,0
Coliformes Totais
1732,87x10
6
1046,24 x 103 2419,17 x 103
(nmp/100ml)
Coliformes Fecais
1,0 x 106 < 1,0 5,0 x 103
(nmp/100ml)
DQO (mg/l) 3550,0 42,9 102,0
Íons dos metais totais
(mg/l)
(Zn) 2,32 0,039 0,05
(Pb) 0,92 nd nd
(Cd) nd nd nd
(Ni) 0,12 nd ND
3
(Fe) 3,34 x 10 0,039 0,60
(Mn) 3,88 0,058 0,21
(Cu) 1,36 nd Nd
(Al) 0,04 0,014 nd
+3
(Cr ) 1,04 nd nd
+6
(Cr ) nd nd nd
19

7.2 - Ensaios de Espessamento da Mistura da ALF e do Lodo dos


Decantadores

Nesse ensaio, a proporção adotada na mistura foi de 3 partes do lodo dos


decantadores para 1 parte de água de lavagem dos filtros.
Nessa etapa estudou-se a influência de três polímeros, um de cada categoria
(catiônico, aniônico e não iônico) no espessamento da mistura, visando a seleção do
melhor polímero e dosagem adequada.
Os equipamentos utilizados tanto para flotação quanto para sedimentação
foram os mesmos já citados anteriormente.
Na tabela a seguir consta os resultados dos ensaios físico-químicos e
bacteriológicos do lodo bruto, e os resultados finais dos ensaios de espessamento
por flotação e por gravidade (melhor polímero e dosagem adequada).
20

TABELA 04 – Resumo dos ensaios de espessamento da mistura (lodo + ALF).


FLOTAÇÃO GRAVIDADE
Amostra Líquido clarificado Líquido clarificado
ANÁLISES Polímero Catiônico Polímero Aniônico
bruta
4,80 g/kg 4,80 g/kg
PH 7,60 7,60 7,40
Turbidez (uT) - 1,20 5,32
Cor aparente (uC) - 2 55
Sólidos Totais (mg/l) 19.088,0 167,7 481,0
Sólidos Fixos (mg/l) 16.522,0 37,7 126,0
Sólidos Voláteis (mg/l) 2.566,0 130,0 355,0
Sólidos Susp. Totais (mg/l) 17.100,0 3,9 8,0
Sólidos Susp. Fixos (mg/l) 15.313,0 1,30 2,0
Sólidos Susp. Voláteis
1.787,0 2,60 6,0
(mg/l)
Sólidos Sedimentáveis (ml/l) 720 - -
DBO (mg/L) 63,0 6,5 14,0
Coliformes Totais
248,1x106 387,3 x 103 648,8 x 103
(nmp/100ml)
Coliformes Fecais
1,0 x 106 < 1,0 2,0 x 103
(nmp/100ml)
DQO (mg/l) 1.905,0 41,6 94,0
Zn (mg/l) 3,44 0,17 0,03
Pb (mg/l) 12,80 nd nd
Cd (mg/l) 2,48 nd nd
Ni (mg/l) 7,60 nd nd
3
Fe (mg/l) 2,0 x 10 0,46 0,30
Mn (mg/l) 2,12 0,03 0,14
Cu (mg/l) 2,28 nd nd
Al (mg/l) 46,0 nd nd
+3
Cr (mg/l) nd nd nd
+6
Cr (mg/l) nd nd nd
21

7.2.1 - Conclusão – Lodo dos decantadores e Mistura do Dec. + ALF

O comportamento dos dois tipos de lodo (lodo dos decantadores e ALF)


apresentou-se bastante semelhantes tanto no espessamento por flotação quanto por
gravidade. Assim, as conclusões a seguir são válidas para os dois tipos de amostras
investigadas.
No espessamento por flotação, os polímeros catiônico e aniônico
apresentaram os melhores resultados, com ligeira vantagem para a aplicação do
polímero catiônico. A dosagem adequada dos dois tipos de polímero citados foi de
4,80 g de polímero /kg de SST. Para o espessamento por gravidade, o polímero
aniônico na dosagem de 4,80 g/kg forneceu resultados sensivelmente melhores que
os demais.
Ambos os processos de espessamento (flotação e gravidade) apresentaram
resultados muito bons, com obtenção de lodo espessado por gravidade com teores
de sólidos de até 8,0% e lodo espessado por flotação com teores de até 11,0%.
A qualidade do líquido clarificado resultante do espessamento por fotação e
por gravidade apresentou-se bastante satisfatória, com ligeira vantagem para o
subnadante obtido no ensaio de flotação.

7.3 - Ensaios de clarificação da Água de Lavagem dos Filtros

Nessa etapa, foram realizados ensaios com amostra de despejo líquido


resultante da água de lavagem de filtro (ALF) da ETA Capim Fino. Foram realizados
ensaios de clarificação por flotação e por sedimentação do referido despejo líquido.
O equipamento utilizado foi o mesmo do ensaio de espessamento do lodo dos
decantadores, o “Flotateste”, como já explicado anteriormente.
Foram testados três tipos de polímeros: catiônico, aniônico e não-iônico. Ao
final dos ensaios foi determinado o melhor polímero e a dosagem ótima.
Na tabela a seguir consta os resultados dos ensaios físico-químicos e
bacteriológicos do lodo bruto, e os resultados finais dos ensaios de espessamento
por flotação e por gravidade (melhor polímero e dosagem adequada).
22

TABELA 05 - Resumo dos ensaios de clarificação da ALF.


FLOTAÇÃO SEDIMENTAÇÃO
Amostra Líquido clarificado Líquido clarificado
ANÁLISES Polímero Catiônico Polímero Catiônico
bruta
0,5 mg/l 1,0 mg/l
PH 7,2 7,4 7,36
Temperatura (ºC) 26 26 26
Cor aparente (uC) 800 44 60
Turbidez (uT) 135 4,3 6,10
DBO (mg/l) 2 1 1
DQO (mg/l) 20 6 9
Sólidos Totais (mg/l) 220 147 145
Sólidos Totais Fixos (mg/l) 112 15 18
Sólidos Totais Voláteis
108 132 127
(mg/l)
Sólidos Susp. Totais (mg/l) 130 3,0 6,0
Sólidos Susp. Fixos (mg/l) 100 2,0 4,0
Sólidos Susp. Voláteis
30 1,0 2,0
(mg/l)
Sólidos Dissolv. Totais
90 144 139
(mg/l)
Sólidos Dissolv. Fixos (mg/l) 12 13 14
Sólidos Dissolv. Voláteis
78 131 125
(mg/l)
Sólidos Sedimentáveis (ml/l) 3,2 - -
Coliformes Totais
0 0 0
(nmp/100ml)
Coliformes Fecais
0 0 0
(nmp/100ml)
Zn (mg/l) 0,08 0,07 0,04
Pb (mg/l) nd nd nd
Cd (mg/l) nd nd nd
Ni (mg/l) nd nd nd
Fe (mg/l) 21,0 0,06 0,08
Mn (mg/l) 0,16 nd nd
Cu (mg/l) 0,04 nd nd
Al (mg/l) nd nd nd
+3
Cr (mg/l) nd nd nd
+6
Cr (mg/l) nd nd nd
23

7.3.1 – Conclusão – Ensaios de clarificação da ALF

Analisando os resultados obtidos pode-se observar que tanto a flotação


quanto a sedimentação ofereceram excelentes resultados de clarificação da ALF,
desde que sejam escolhidos os melhores polímeros (tipo) e otimizada as condições
de coagulação/floculação (dosagem de polímero e tempo de floculação).
Comparando-se os dois processos, observa-se que quando foi utilizado o
polímero catiônico, a flotação solicitou menor dosagem de polímero (0,5 mg/l de
polímero) que a sedimentação (1,0 mg/l de polímero).
Nos dois processos investigados, a água clarificada apresentou
características que possibilitariam a sua recirculação para o início da ETA, com
ligeira vantagem para a flotação (melhor remoção de cor, turbidez, sólidos
suspensos e DQO). Deve-se salientar que a ausência de coliformes, tanto na
amostra bruta quanto no líquido clarificado por flotação e por sedimentação deve-se
provavelmente a uma possível operação de pré-cloração adotada pelos
responsáveis da ETA Capim Fino.

7.4 - Novos Ensaios

Estes novos ensaios de tratabilidade dizem respeito a uma caracterização


mais atual dos resíduos gerados na ETA. Os mesmos foram desenvolvidos em
equipamentos de bancada (colunas de adensamento, centrífuga) do Laboratório de
Saneamento e Ambiente da Fac. Engenharia Civil da Unicamp.

7.4.1 - Adensamento por gravidade do lodo de decantador

O polímero que apresentou a maior eficiência no adensamento do lodo do


decantador foi do tipo catiônico (Nalco G9046), com dosagem ótima em torno de 2
mg/gSST. Os resultados foram bastante satisfatórios com dosagens a partir de 2
mg/gSST, sem diferença significativa quanto ao teor de sólidos no lodo adensado
até 15 mg/gSST, mas com diferença significativa quanto à qualidade do
sobrenadante. Para o ensaio B #1, a turbidez do sobreandante ao final do
adensamento foi de 0,33 uT e 0,61 uT para dosagens de 1,866 mg/gSST e 3,731
mg/gSST, respectivamente, contra 2,58 uT e 4,15 uT para 11,194 mg/gSST e 14,925
24

mg/gSST, respectivamente. Para o polímero aniônico, para a mesma amostra, foram


obtidos valores de turbidez de 1,28 uT e 2,69 uT para as dosagens de 1,866
mg/gSST e 3,371 mg/gSST. Para o lodo sem adição de polímero, a turbidez obtida
foi de 4,18 uT. O tempo decorrido até atingir-se o adensamento correspondente a
1/6 da altura inicial foi, neste caso, de aproximadamente 2 horas, contra cerca de
apenas 10 minutos quando se pré-condicionou o lodo com polímero em qualquer
das dosagens.

7.4.2 - Clarificação da água de lavagem de filtro

O melhor condicionamento para a clarificação da água de lavagem dos filtros


foi obtido a partir do polímero aniônico (Nalco G998), com dosagem ótima em torno
de 1,0 mg/gSST. Os resultados foram bastante satisfatórios com dosagens a partir
de 0,093 mg/gSST, sem diferença significativa quanto ao teor de sólidos no lodo
adensado até 4,167 mg/gSST, mas com diferença significativa quanto à qualidade
do sobrenadante. Para o ensaio A #1, a turbidez do sobrenadante ao final do
adensamento com polímero aniônico foi de 3,1 uT para dosagens de 0,926
mg/gSST, contra 5,5 uT para a mesma dosagem de polímero catiônico, para a
mesma amostra. Para o lodo sem adição do polímero, a turbidez obtida foi de 22,3
uT.
O tempo decorrido até atingir o adensamento correspondente a 1/20 da altura
inicial foi, nas amostras sem adição de polímero, de aproximadamente 12 a 30
minutos, dependendo do ensaio, contra cerca de apenas 5 minutos quando se pré-
condicionou o lodo com polímero em praticamente qualquer das dosagens. Destaca-
se aqui que essa significativa redução no tempo de separação sólido-líquido
propiciada pelo condicionamento químico deverá ser fundamental para que o
processo tenha eficiência necessária no tanque pré-clarificador da água de lavagem
de filtros, especialmente quando a operação de lavagem de filtros for realizada em
intervalos inferiores a duas horas.

7.4.3 - Desidratação por centrifugação do lodo adensado

Quanto à centrifugação, o melhor condicionamento para a desidratação da


mistura lodo de decantador adensado mais sedimento da água de lavagem dos
25

filtros foi observado para o polímero catiônico P1 (Stockhausen B852), tendo sido
obtidos valores de turbidez da fase líquida (centrado) de 0,33 uT e 0,53 uT para as
amostras L-07/10 e L-08/10, respectivamente, e maior teor de sólidos na fase sólida
(torta) em relação aos demais tipos. A dosagem ótima observada, em 200 rpm e
3000 rpm, variou na faixa de 3,0 mg/gSST a 5,0 mg/gSST, sendo aqui admitida em
4,0 mg/gSST com base nos valores de turbidez observados para a fase líquida
(centrado).
Os resultados favoráveis relativos à qualidade da água recuperada nas
diversas etapas de tratamento dos resíduos aqui obtidos em reatores estáticos e
equipamentos em escala de laboratório dão apenas uma indicação da eficiência a
ser obtida pelos equipamentos em escala real. A situação ideal teria sido a utilização
de equipamentos similares, em escala piloto, fornecidos pelos fabricantes. Contudo,
os ensaios aqui desenvolvidos são equivalentes àqueles que embasaram a
concepção e o projeto original do sistema de tratamento de lodo. Ressalva-se,
portanto, que a qualidade da água recuperada, principalmente nos adensadores
mecânicos e centrífuga, poderá diferir dos resultados assim obtidos, para melhor ou
pior, sendo necessária sua avaliação a posteriori para tomada de decisão quanto ao
aproveitamento ou descarte da fração recuperada em cada uma dessas unidades.

7.4.4 - Resultados e Discussão

Numa primeira etapa, foram avaliados cinco tipos de polímeros orgânicos


sintéticos de alto peso molecular (< 106), catiônicos, aniônicos e não iônicos, como
pré-condicionamento ao adensamento.
A partir dos resultados preliminares, dois tipos foram selecionados, um
catiônico (Nalco G9046) e outro aniônico (Nalco G998). Ressalta-se, porém, que não
foi observada nenhuma diferença significativa em relação ao desempenho dos
polímeros do outro fabricante. Para cada um deles foram investigadas diferentes
dosagens mais um branco (sem polímero), a condição ótima correspondendo ao
maior teor de sólidos no lodo (%) associado ao menor valor de turbidez do
sobrenadante.
26

8 - ESTUDO DAS ALTERNATIVAS

Algumas considerações iniciais são importantes sobretudo o fato de que a


área disponível para condicionamento, dentro dos limites do terreno da ETA, é o
fator impeditivo da utilização de alternativa com grande exigência de área de
implantação. Assim é que ficaram imediatamente descartadas as seguintes
alternativas: lagoas de lodo e leitos de secagem. De sua parte os resultados dos
ensaios de espessamento, permitem a formulação das alternativas focalizadas a
seguir para o condicionamento e destinação da mistura dos lodos gerados na ETA
Capim Fino. São elas:
1. Elevatória de Lodo, espessamento por gravidade, com uso de polímero, seguido
de desidratação mecânica, por prensa desaguadora, do lodo previamente
adensado;
2. Elevatória de lodo, espessamento por flotação, com uso de polímero, seguido de
desidratação mecânica, por prensa desaguadora, do lodo previamente
adensado;
3. Elevatória de lodo, espessamento mecânico com filtro de esteira (gravity table),
com uso de polímero, seguido de desidratação mecânica por prensa
desaguadora;
4. Elevatória de lodo, espessamento mecânico com filtro de esteira (gravity table),
com uso de polímero e desidratação mecânica por centrífuga, com uso de
polímero;
5. Envio do lodo, através de um Coletor Tronco "Guamium", para ser tratado em
conjunto ao lodo gerado na ETE Principal de Piracicaba .

8.1 - Pré-Dimensionamento das Alternativas

A partir dos dados de vazão e de carga sólidos antes definidos, procedeu-se


o dimensionamento das unidades da cadeia dos processos das três alternativas
mecanizadas. Os resultados dos cálculos encontram-se reproduzidos nas Tabelas
01 a 10 a seguir, sendo também ilustrativo a esse respeito o Tabela 12 logo mais
adiante no texto. Como subsídio ao dimensionamento foram utilizados os dados,
27

capacidades e características de equipamentos obtidos junto aos fornecedores


tradicionais

Tabela 06 - Adensamento por Gravidade

Dados e características de projeto 1ª ETAPA 2ª ETAPA


Quantidade de sólidos (kgSST/d) 12000 24000
3
Vazão de lodo (m /d) 3283 4579
Número de unidades 1 2

Dados dimensionais:
- Diâmetro (m) 15 15
- Área superficial (m2 ) 176,71 176,71
- Profundidade (m) 3,00 3,00
3
- Volume unitário (m ) 530,14 530,14
3
- Volume total (m ) 530,14 1060,29

Taxa de aplicação de sólidos (kgSST/m2 .d) 67,91 67,91

Taxa de aplicação hidráulica (m/d) 18,58 12,96

Tempo de detenção (h) 3,9 5,6


28

Tabela 07 - Adensamento por Flotação

Dados e características de projeto 1ª ETAPA 2ª ETAPA


Lodo a ser espessado (kg/d)
- Médio 12000 24000
- Máximo 24000 48000
Vazão de lodo (m3 /d) 3283 4579

Taxa de aplicação de sólidos (kgSST/m2 .d) 6 6

Dados finais de projeto


Número de tanques 1 2
Dimensões dos tanques
- diâmetro (m) 14 14
- altura média de água (m) 3,5 3,5
- área/tanque (m2) 154 154
- área total (m2 ) 154 308
3
- volume total (m ) 539 1078
2
Taxa de aplicação de sólidos (kgSST/m .h)
- média 3,25 3,25
- máxima 6,5 6,5
tempo de detenção (h) 3,9 6
29

Tabela 08 - Adensamento mecânico

Dados e características de projeto 1ª ETAPA 2ª ETAPA


Lodo oriundo do tratamento de água
- quant. de sólidos SST (ton/d) 12 24
- vazão (m3 /dia) 3283 4579

Produto Químico
- dosagem (kg/ton. De sólidos seco) 5 5
- quantidade necessária(kg/dia) 60 120

Total de sólidos a ser espessado (kg/dia) 500 1000

Lodo espessado
- concentração de sólidos (%) 6 6
- captura de sólidos (%) 98 98
- quantidade de sólidos, SST (ton/d) 11,76 23,52
- densidade do lodo adensado (ton/m3 ) 1 1
- volume de lodo adensado (m3 /d) 196 392

Espessador mecânico
- largura de esteira (m) 2 2
- capacidade em kgSST/h (m. de largura) 150 150
- capacidade unitária (kgSSt/h) 300 300
- período de funcionamento diário(h) 20 24
- número de unidades requeridas 2,00 3,33
- número de unidades adotado 2 4
30

Tabela 09 - Desidratação Mecânica Com Prensa Desaguadora

Dados e Características De Projeto MÉDIO PICO

Lodo, oriundo do adensador mecânico


- Quantidade de sólidos SST, ton/d 11,760 23,52
- Vazão, em m3/dia 196 392
Produto Químico (Polieletrólito)
- Dosagem (kg/ton de sólidos secos) 5 5
- Quantidade necessária, kg/dia 58,8 117,6
Total de SST a ser desidratado, kg/h 490 980
Torta oriunda da desidratação
- Concentração de sólidos (%) 20 20
- Captura de sólidos (%) 98 98
- Quantidade de sólidos, SST, ton/d 11,52 23,05
3
- Densidade do lodo desidratado, ton/m 1 1
3
- Volume do lodo desidratado, m /d 58 115
Desidratação Mecânica
- Largura da esteira (m) 2 2
- Capacidade em kgSST/h (metro de 175 175
largura)
- Capacidade unitária, kgSStT/h 350 350
- Período de funcionamento diário, h 16 16
- Número de unidades requeridas 2,10 4,20
- Número de unidades adotadas 2 4
31

Tabela 10- Desidratação Mecânica Com Centrífuga

Dados e Características de Projeto 1ª ETAPA FINAL

Lodo, previamente espessado


- Quantidade de SST, ton/d 11,76 23,52
3
- Vazão, em m /dia 196 392
Produto Químico (Polieletrólito)
- Dosagem (kg/ton de sólidos secos) 5 5
- Quantidade necessária, kg/dia 58,8 117,6
Total de SST a ser desidratado, kg/h 490 980
Torta oriunda da desidratação
- Concentração de sólidos (%) 25 25
- Captura de sólidos (%) 98 98
- Quantidade de sólidos, SST, ton/d 11,52 23,05
3
- Densidade do lodo desidratado, ton/m 1 1
3
- Volume da torta, m /d 46 92
Desidratação Mecânica (Centrífuga)
- Capacidade unitária, l/h (PROQUIP) (*) 12000 24000
- Período de funcionamento diário 16 16
- Número de unidades requeridas 1,5 2,5
- Número de unidades adotadas 2 3
- Potência, CV 2,2 3,3
- Centrífuga de Pieralisi, Modelo (*) Jumbo 2 Jumbo 2
- Capacidade unitária, m3/h 21 21
- Período de funcionamento diário 16 16
- Número de unidades requeridas 0,58 1,17
- Número de unidade adotados 1 2
- Potência instalada unitária, CV 70 140

(*) Somente como referência para cálculo


32

8.1.1 - Análise Comparativa das Alternativas


Aspectos Técnicos Relacionados às Alternativas

As quatros primeiras alternativas têm por diferenciá-las o método de


espessamento do lodo: adensadores por gravidade na Alt. I; flotadores por ar difuso
na Alt. II; espessamento mecânico por esteira na Alt.III e Alt.IV. A Alt. IV ainda se
particulariza, em relação às demais pela utilização de centrífuga para desidratação
do lodo.
Quanto à performance de espessamento do lodo, os flotadores e
adensadores apresentaram bons resultados dos ensaios realizados, tal como já
destacado anteriormente, tendo a flotação se mostrado mais eficiente. No entanto os
resultados obtidos com o adensamento por gravidade não coloca essa alternativa
em posição desvantajosa em relação a performance da etapa subsequente de
desidratação mecânica do lodo.
O adensamento por gravidade, a um só tempo, envolve menos estágios
operacionais e o conjunto das instalações apresenta menor complexidade sendo
assim lícito esperar-se menos problemas de manutenção e maior simplicidade
operacional. Com relação ao adensamento mecânico, por esteira (gravity table),
trata-se de processos com expectativa de performance minimamente igual a dos
outros dois antes focalizados ( adensamento por gravidade e flotação). Tal como
anteriormente descrito, as alternativas formuladas envolvem dois processos distintos
para desidratação mecânica do lodo: prensa desaguadora para as três primeiras
alternativas (Alt. I, Alt. II, Alt.III) e centrífuga unicamente no caso da alternativa Alt.
IV. Os aspectos que diferenciam essas duas modalidades de processo de
desidratação são os seguintes:
• Melhor performance da centrífuga no que diz respeito ao teor de sólidos na torta
desidratada, situando-se entre 20% a 30%, enquanto que a taxa típica da prensa
desaguadora situa-se entre 15% a 20%, para lodo pré-adensado com teor de
sólidos na faixa entre 4% a 6%.
• Conjunto das duas centrífugas previstas e instalações associadas (sistema de
transporte do lodo espessado e elevatória de alimentação das centrífugas)
apresenta demanda elevada de energia com uma potência instalada da ordem
33

de 120 CV para as máquinas e 3 elevatórias, contra uma potência instalada da


ordem de 10 CV para as prensas desaguadoras e 2 elevatórias.
A torta mais concentrada do processo de centrifugação permite na média uma
redução no volume de disposição final do lodo desidratado da ordem de 25%, o que
obviamente reduz a área necessária para a disposição e o custo de transporte. A
vantagem de redução do custo operacional de transporte é quase que totalmente
neutralizada, haja vista que a disposição final da torta será feita em terreno
adjacente a área da ETA Capim Fino. Resta então apenas a vantagem da exigência
de uma menor área para a disposição da torta que representa um custo de
investimento que não pesa muito para escolha da solução adotada, em função de
não ser elevado o custo unitário do terreno da área adjacente a ETA Capim Fino.
A Alt. V apresenta concepção diferente das demais, haja vista que em lugar
de tratar o lodo no próprio local onde ele é gerado, prevê seu envio para tratamento
em conjunto o lodo gerado na ETE Principal de Piracicaba. Nestas condições,
obviamente trata-se de uma alternativa que envolve incerteza, sobretudo no que diz
respeito ao tipo de tratamento adotado para tal ETE. A quantidade de sólidos que
será enviada para a estação de esgoto seria, de acordo com os resultados dos
cálculos reproduzidos no quadro abaixo, muito grande, evidenciando o quanto será
importante a repercussão dos sólidos sobre o processo adotado para ETE.

Tabela 11 - Cargas de sólidos na ETE Principal.

DADOS E CARACTERÍSTICAS 1ª ETAPA 2ª ETAPA


Lodo gerado na ETA (kg/d) 12000 24000

Lodo gerado na ETE


- Vazão tratada, l/s 190 295
- Conc. Admitida de SST no esgoto a ETE, 300 300
mg/l 4924,8 7646,4
- Aporte de sólidos, kg/d 35 35
- Redução se sólidos no tratamento (%) 3201,12 4970,16
- Carga de sólidos para condicionamento, kg/d
34

No caso da ETE Piracicamirim, na época do estudo ainda em fase de pré-


operação, a fase inicial do tratamento é constituída por um RAFA ( Reator Anaeróbio
de Fluxo Ascendente) precedido por um tratamento preliminar (gradeamento fino e
desarenação) , seguindo-se uma etapa secundária de tratamento biológico por lodos
ativados. Os resultados de experiências internacionais e brasileiras permitem
verificar que os sólidos suspensos no afluente são fatores que causam interferência
no desempenho dos reatores anaeróbios de fluxo ascendente, com manto de lodo
(RAFA), à medida que cria dificuldade a uma boa distribuição do fluxo.
Naturalmente, quanto maior for a concentração de sólidos no afluente ao tratamento
mais difícil se torna a distribuição igual do fluxo entre os reatores em paralelo, assim
como, dentro de cada reator.
Sendo assim, para simplificar os problemas operacionais e tendo em vista
obter a melhor performance possível do tratamento do esgoto, objetivo mais
importante da ETE, torna-se em tudo conveniente, pelas razões assinaladas,
minimizar a concentração de sólidos no esgoto bruto afluente ao tratamento. Vê-se
pois que a Alt. V não condiz com esse objetivo, pelo contrário acarreta um aumento
da concentração de sólidos no afluente ao tratamento, aumentando o potencial de
causas de distúrbios do tratamento com RAFA.

8.2 – Custo das alternativas

Os custos das alternativas estão reproduzidos no quadro à seguir. Os valores


foram estimados tomando-se por base custos de mercados dos equipamentos,
obtidos junto a fornecedores e, custos estimados das obras civis calculados a partir
de levantamento de quantitativos e de índices de preços divulgados para obras
construídas no estado de São Paulo.
No caso da Alt. V, que prevê a descarga dos despejos da ETA no coletor
tronco Guamium para condicionamento na ETE Principal, os custos estimados das
obras lineares foram obtidos com apoio na curva de custos do Plano Diretor.
Desta forma o custo total estimado das obras lineares dessa alternativa
ascende a R$ 900.000,00 o que em relação ao custo original do Plano Diretor (R$
650.000,00) significa um acréscimo a ser debitado à Alt. V de R$ 250.000,00. Para
se obter o custo total dessa alternativa há ainda que ser acrescentado o
investimento a ser feito na ETE Principal para a implantação das instalações de
35

condicionamento do lodo, para disposição final, uma vez que não seria possível
absorver o elevado incremento de sólidos oriundos da ETA nas instalações
projetadas e dimensionadas para tratar o lodo da ETE.
36

TABELA 12 - CUSTO ESTIMATIVO DOS INVESTIMENTOS DAS ALTERNATIVAS

* necessário dois piso

COMPONENTES DAS ALTERNATIVAS ALTERNATIVA 1 ALTERNATIVA 2 ALTERNATIVA 3 ALTERNATIVA 4 ALTERNATIVA 5


1ª Etapa 2ª Etapa 1ª Etapa 2ª Etapa 1ª Etapa 2ª Etapa 1ª Etapa 2ª Etapa 1ª Etapa 2ª Etapa
Adensador por Gravidade
- número de equipamentos 1 1
- custo unitário, R$ 51000 51000
- custo total dos equipamentos, R$ 51000 51000
- custo total das obras civis, R$ 100000 100000
Adensador por Flotação
- número de equipamentos 1 1
- custo um unitário, R$ 54000 54000
- custo total dos equipamentos, R$ 54000 54000
- custo total das obras civis, R$ 100000 100000
Adensador Mecânico, com esteira
- número de equipamentos 2 2 2 2 2 2
- custo unitário, R$ 49000 49000 49000 49000 49000 49000
- custo total dos equipamentos, R$ 98000 98000 98000 98000 98000 98000
- custo total das obras civis, R$
Desidratação Mecânica
- tipo de equipamento Esteira Esteira Esteira Esteira Esteira Esteira Centríf. Centríf. Esteira Esteira
- número de equipamentos 2 2 2 2 2 2 1 1 2 2
- custo unitário, R$ 96000 96000 96000 96000 96000 96000 170000 170000 96000 96000
- custo total dos equipamentos, R$ 192000 192000 192000 192000 192000 192000 170000 170000 192000 192000
- bombas e tubulações associadas, R$ 20000 10000
- correia transportadora de lodo, R$ 10000
- custo total das obras civis, R$ 50000 50000 50000 * 100000 50000
Obras Lineares, R$ 250000

CUSTO DAS ETAPAS, R$ 393000 343000 396000 346000 340000 290000 398000 278000 590000 290000

CUSTO DAS ALTERNATIVAS, R$ 736000 742000 630000 676000 880000


37

8.3 - Solução recomendada, suas características técnicas e descrição


das instalações

O custo mais elevado articulado aos problemas técnicos inerentes da Alt. V


justifica de imediato o seu abandono. Quanto às demais alternativas, em função dos
argumentos focalizados anteriormente, envolvendo aspectos técnicos e potência
instalada para cada alternativa, adotou-se o custo do investimento como critério
recorrente para recomendação da solução mais adequada.
A Alt.III, a um só tempo, apresenta o menor custo de investimento (cerca de
7% menor que o da Alt.IV) e requer menor potência instalada e, por conseguinte,
menor consumo de energia. De fato, a Alt.III, comparada com a alternativa Alt.IV,
apresenta a seu favor uma importante diferença de potência instalada (potência da
Alt.III ≅ 10CV e; potência da Alt.IV ≅ 120 CV). Por outro lado, a Alt.IV deverá,
provavelmente, apresentar um custo de manutenção inferior que o da Alt.III, devido
às características de seus equipamentos. Além disso, o custo de mão de obra de
operação da Alt.IV também deverá ser inferior, por não exigir presença constante de
um operador encarregado de aferir lubrificações de mancais, alinhamento de
esteiras e limpeza com água sob pressão, além de propiciar uma total automação do
processo.
No que se refere aos produtos químicos, as duas alternativas apresentam
demandas de consumo muito próximas. De resto, para ser abrangente, a
comparação da Alt.III e da Alt.IV com as alternativas restantes (Alt.I e Alt.II)
evidencia que elas apresentam valores aproximados aos da Alt.III para os consumos
de energia e de produtos químicos, mas custos de investimentos bem mais
elevados. No seu conjunto as instalações integrantes da Alt.III são as seguintes:
- uma elevatória com bomba submersível para captação e bombeamento dos
despejos até a entrada na unidade de espessamento mecânico.
- Um conjunto de instalações composto de uma unidade do tipo espessador
mecânico apoiada sobre uma prensa desaguadora.
- Uma elevatória para retorno da fase líquida à entrada da ETA.

No que diz respeito a performance dessa solução, ela permite esperar os seguintes
resultados:
38

- lodo espessado mecanicamente, com teor de sólidos na faixa de 4 a 8%;


- lodo previamente espessado desidratado mecanicamente, em prensas
desaguadoras, com teor de sólidos na torta de 20%;
- água da fase líquida retornando ao tratamento, com ganho de vazão de 29 l/s a
58 l/s.

Com relação a Alt. IV, as instalações integrantes abrangem o seguinte:


- uma elevatória com bomba submersível para captação e bombeamento dos
despejos até a cota de entrada na unidade de espessamento mecânico,
- uma unidade do tipo espessador mecânico,
- elevatória de alimentação das centrífugas,
- unidade de desidratação por centrífugas,
- uma elevatória para retorno da fase líquida, proveniente tanto do espessador
mecânico, quanto das centrífugas, até a entrada da ETA.

Quanto à performance dessa solução, ela permite esperar os seguintes resultados:


- lodo espessado mecanicamente, com teor de sólidos na faixa de 4 a 8%,
- lodo previamente espessado desidratado mecanicamente, em centrífugas, com
teor de sólidos na torta de no mínimo 25%, até no máximo de 30%.
- Água da fase líquida retornando ao tratamento, com ganho de vazão de 29 l/s a
58 l/s.

A consultoria dá como sugestão a Alt. III porém, a escolha entre as


alternativas é decisão do SEMAE e, o mesmo optou pela Alt. IV a qual, sofrerá
algumas alterações na sua concepção a fim de se adequar a realidade do
departamento e também da própria estação de tratamento de água.

9 - DISPOSIÇÃO FINAL DA TORTA DESIDRATADA

Os estudos desenvolvidos com o objetivo consideraram inicialmente duas


alternativas como possíveis: disposição da torta no aterro sanitário municipal de lixo
doméstico e, em área de uso particular do Semae.
39

Para que a torta seja disposta em aterro municipal foi exigido que a mesma
atingisse um teor de sólidos de 65%. Devido ao atual estado da arte, os
equipamentos de desidratação disponíveis (filtro à vácuo, centrifugas, filtros de
esteira e filtro-prensa de placas) não têm autonomia para gerar uma torta com tal
teor de sólidos: dentre eles o filtro-prensa é o que gera a torta mais concentrada,
com 40% de sólidos, com adição de cal como condicionante, reduzindo-se a 30% o
teor de sólidos da torta se o condicionante utilizado for um polímero.
A secagem térmica do lodo após a desidratação mecânica embora possa
gerar uma torta com 95% em teor de sólidos, ela não proporcionaria com certeza
65% de teor de sólidos inerte na torta, salvo se a relação SST/SSV (sólidos
secos/sólidos voláteis) do lodo da ETA for igual a 65%, o que é pouco provável. A
análise desenvolvida até então deixa como única solução que atenda a demanda
para a disposição do lodo no aterro municipal a incineração. Tal procedimento torna-
se inviável devido ao custo muito elevado , e por tratar-se de uma operação
complexa e de manutenção sutil e laboriosa.
Diante de todo os argumentos destacados anteriormente, propõe-se então
que o lodo desidratado em centrífugas, com teor de sólidos entre 25% a 30%, seja
disposto na área desocupada adjacente a ETA. Considerando-se o espalhamento do
lodo em camada de 1,75m de espessura e, um tempo de estocagem estimado em 5
anos a área necessária totaliza 4,8 ha (46 m3 /d * 365 d *5 anos/1,75 m) para uma
produção média de 46 m3 /d de lodo desidratado.
É importante salientar que, após cinco anos, se as condições geotécnicas do
lodo depositado o permitirem, nova camada de 1,75 m, ou mais, poderá ser
depositada sobre a camada inicial, com prévia preparação das condições da
superfície dessa camada já depositada, aumentando assim possivelmente a vida útil
da área de depósito para pelo menos mais cinco anos.

10 - ESTUDO DA READEQUAÇÃO DO SISTEMA DE TRATAMENTO


DO LODO

Durante todo levantamento das possibilidades de se implantar uma estação


de tratamento de lodo junto a ETA Capim Fino foram definidos alguns parâmetros de
40

projetos tomando como referência de cálculos o volume de lodo gerado nos


decantadores e nas lavagens dos filtros. Visto que para o "projeto original",
elaborado pela empresa contratada, observou-se uma vazão a ser adensada de
5000 m3 /d e que seriam necessários então um número de equipamentos da ordem
de 4 adensadores e 2 centrífugas. Neste projeto previa-se a execução das
seguintes obras:
- uma caixa de amortecimento,
- um tanque de amortecimento de 700 m3 ,
- uma caixa de sucção do lodo a ser adensado (EE1),
- um edifício para a acomodação das prensas, centrífugas e pontes rolantes,
- uma caixa de recepção da água proveniente dos equipamentos desidratadores
(EE2),
- uma caixa de recepção e homogenização (EE3).

10.1 - Vazões Para Dimensionamento

As vazões de lodo e as cargas de sólidos decorrentes do processo de


tratamento de água da ETA são consideradas como aquelas geradas pelo despejo
decorrentes de duas fontes: decantadores e água de lavagem dos filtros. Ver
esquema a seguir:

3
Vazão = 1200 m /d = 14 l/s
Carga Sólida Tot al
FI LTRO Concentração 0,3 g/l
0,36 t/d

Vazão = 3800 m3 /d = 44 l/s


Carga Sólida Tot al
DECANTADOR Concentração 6 g/l
22,8 t/d

A vazão proveniente dos decantadores (44 l/s) é considerada contínua ao


longo do período de operação da ETA. Por outro lado, a vazão decorrente da
lavagem dos filtros ocorre de forma esporádica a uma taxa de 120 m3 para uma
duração de cerca de 5 minutos.
41

10.1.1 - Condução das vazões de acordo com o projeto original

A vazão do lodo dos decantadores é conduzida para o adensador e centrífuga


através da estação elevatória EE1. A vazão da água de lavagem dos filtros poderia
seguir dois distintos caminhos:

10.1.2 - Situação 01

A água de lavagem dos filtros é conduzida a entrada da ETA, após sua


regularização em 60 l/s, através da elevatória EE3.

Ent rada da
FI LTRO EE3
ETA

Foram admitidas no projeto original 8 lavagens de filtros por dia em intervalos


regulares de 2 horas, com um volume descarregado em cada lavagem de 200 m3 . o
que produz um volume diário previsto de 1600 m3 . O volume de 200 m3 é
descarregado em cerca de 4 minutos sendo considerada uma vazão de 60 l/s de
retorno para a ETA. Desta forma, considerando que o volume de 200 m3 seja
recalcado em 1 hora, fica estabelecido o volume de 190 m3 para a caixa de sucção
para que não ocorra transbordamento.

Vol = 200 - 60/1000 * 4 * 60 = 185,6 m3

A situação 01 apresenta problemas quanto ao retorno da água de lavagem


dos filtros diretamente na entrada da ETA, situação na qual se procura evitar na
atualidade em decorrência da qualidade desejada.
42

10.1.3 - Situação 02

A água de lavagem dos filtros junta-se ao lodo produzido nos decantadores


na caixa de recepção sendo aduzida para os adensadores através da elevatória
EE1.

FI LTRO
CAI XA DE
RECEPÇÃO TANQUE
DECANTADOR

EE1 ADENSAMENTO

Nesta situação o volume do tanque é utilizado como auxiliar na regularização


da vazão que sai da lavagem dos filtros. A vazão de entrada que é considerada
contínua de lodo dos decantadores é de 44 l/s, a de recalque pelo bombeamento
previsto é de 58 l/s, além dos 200 m3 que chegam da lavagem dos filtros em 8
lavagens programadas no dia. Assim o balanço de massa horário e diário ficaria
nesta situação:

Tabela 13 - Balanço de massa


Sistema Vazão Volume Horário
Decantador (entra) 44 l/s 158,5 m3
Recalque (sai) 58 l/s 208,8 m3
Lavagem filtro (entra) - 200,0 m3

Balanço do volume diário


Volume = 8 x 200 + (158,4 - 208,8) x 24
Volume = 390 m3
Este volume residual fica retido no tanque de armazenamento após um dia de
operação. A não veiculação deste residual produz volumes acumulados na
reservação que levam ao transbordamento após alguns dias de operação. Não foi
mencionada no projeto nenhuma referência ao destino deste residual.
43

Assim conforme a aparente inadequação das soluções apresentadas no que


se refere em particular a água de lavagem dos filtros, que deveria receber melhor
adequação, tanto visando a sua recirculação com retorno a entrada da ETA, como
um melhor condicionamento de seu material sólido para a etapa de adensamento e
centrifugação, fica proposta uma alternativa que prevê a clarificação da água de
lavagem de filtro antes de sua recirculação.

10.1.4 - Solução Alternativa

Após levantamentos chegou-se a seguinte conformidade:


- a água de lavagem dos filtros será encaminhada diretamente ao tanque de
amortecimento, para o seu processo de clarificação. A parte sólida será
conduzida ao poço de sucção da estação elevatória EE1. A parcela clarificada
sobrenadante é então conduzida para o compartimento da caixa de recepção
que se comunica com o poço de sucção da EE3 para sua recondução a entrada
da ETA. Ver esquema abaixo:

DECANTADOR CAI XA DE EE1


(alta concentração)

FI LTRO RECEPÇÃO
EE3
(baixa concentração)

TANQUE

A nova proposição exige algumas modificações na caixa de recepção e no


tanque de clarificação. A caixa de recepção, embora não tenha suas dimensões
alteradas, sofrerá modificações internas para isolar a água sobrenadante da mistura
adensada. A tubulação que conduzia o lodo dos decantadores e da lavagem de
44

filtro, conduzirá apenas o lodo dos decantadores e chegará no mesmo ponto


previsto. A câmara de chegada será fechada até a laje superior (fechando-se o
vertedor para o poço de sucção EE3). A água de lavagem dos filtros chegará, após
clarificação no tanque, em compartimento da caixa de recepção que está em contato
com o poço de sucção da EE3. A seqüência dos fluxos e as vazões que serão
admitidas neste memorial estão apresentadas na figura a seguir.
EE3

0,03% - 0,3 g/l


Filtro 1200 m3/d (13,8 l/s)
0,36 ton/d SST e = 0,98 %

6 % - 60 g/l
392 m3/d
Decantador 23,52 ton/d
13,68 ton/d SST

0,013 % - 0,13 g/l


3608 m3/d (41,8 l/s)

300 m3/d (3,5 l/s)


45
46

11 - EQUIPAMENTOS

Com base nas considerações do projeto original, admitiu-se também aqui


para a readequação a mesma concentração média de sólidos no lodo de 6 g/l e na
ALF de 0,3 g/l (300 mg/l). Assim temos:

Carga total sólidos = (3.800.000 l/d x 6 g/l) + (1.200.000 l/d x 0,3 g/l)
= 23.160.000 g/d ≅ 24.000 kg/d

Para o projeto original a indicação do número de equipamentos era de 4


adensadores e 2 centrífugas e, foi previsto que em dias chuvosos possivelmente
estes equipamentos poderiam trabalhar sobrecarregados.
Para o projeto readequado serão utilizados apenas 2 adensadores e 1
centrífuga o que possivelmente, com o volume a ser tratado, irão operar no seu
limite. Para que apenas duas unidades atendessem satisfatoriamente a essas
condições seria necessário reduzir a vazão de lodo gerado nos decantadores para
2.300 m3 /dia, praticamente 67% daquela vazão observada na época dos testes.
Quanto ao número de dosadores de polímeros serão necessárias três
unidades : a) no pré-condicionamento da água de lavagem de filtro para clarificação
onde o polímero escolhido foi do tipo aniônico (e.g., Nalco G998); b) no pré-
condicionamento do lodo para o adensamento onde o polímero escolhido é do tipo
catiônico (e.g., Nalco 9046); c) no pré-condicionamento do lodo adensado para a
desidratação com polímero escolhido para adensar é do tipo catiônico (e.g.,
Stockahausen, B - 852)
47

Figura 04 – Centrífuga da ETL-Capim Fino.

Figura 05 – Adensadores de lodo da ETL-Capim Fino.


48

Figura 06 – Adensadores da ETL-Capim Fino.

12 - READEQUAÇÃO PROPOSTA PELO SEMAE INCORPORADA À


SOLUÇÃO PROPOSTA ANTERIORMENTE

Com a proposta da solução em mãos o SEMAE sugeriu algumas alterações


como:
1- descarga contínua de sólidos decorrentes da água de lavagem de filtro para o
poço de sucção da estação elevatória EE1, ao invés de descarga concentrada
em 1 hora, com vazão de 2,31 l/s.
2- Em decorrência da modificação 1 , redimensionamento da linha de recalque da
EE1 para que atenda uma vazão contínua de 46,31 l/s.
3- Substituição da elevatória de retorno de água do adensador + centrífuga (EE2)
por uma linha de alimentação (por gravidade) para o poço de sucção da EE3
(vazão de retorno dos adensadores 41,8 l/s + vazão de retorno da centrífuga 3,5
l/s, totalizando um volume constante de 45,3 l/s).
49

4- Reavaliação do poço de EE3 em face da modificação 3, onde o mesmo receberá


uma vazão de 11,57 l/s de retorno do tanque de clarificação da ALF + 45,3 l/s
de retorno da modificação 3 totalizando uma vazão contínua de 56,9 l/s a qual
deverá retornar na entrada da ETA.
5- Redimensionamento do recalque da EE3 decorrentes da modificação 3.

Relação dos componentes previstos para esta readequação:

- 2 conjuntos de bombas submersas para a estação elevatória EE1,


- 2 conjuntos de bombas submersas para a estação elevatória EE3,
- 1 válvula de controle de vazão para a linha de drenagem do lodo da lavagem dos
filtros,
- 1 válvula de controle de vazão para a linha de drenagem do sobrenadante do
tanque de clarificação.

Essa readequação visa dar uma melhor solução para a proposta já elaborada
no que tange às construções já existente no sistema e também ao número de
equipamentos a serem empregados no seu funcionamento.
A seguir alguns valores expressivos quanto a custo na implantação deste
sistema readequado (estudo FUNCAMP) em relação ao projeto original (Latin
Consult):
50

TABELA 14 - Custos
PROJETO ORIGINAL PROJETO DE READEQUAÇÃO
(LATIN CONSULT.) (FUNCAMP)
Quant. Descrição dos Custo Quant. Custo aproximado
equipamentos aproximado (R$)
(R$)
02 centrífugas 780.000,00 01 390.000,00

04 adensadores 520.000,00 02 260.000,00

02 Conjunto moto 15.000,00 0,00


bomba submersível
para bombeamento
EE2
02 Equipamento 320.000,00 02 320.000,00
preparador/dosador
de polímero

Total (R$) 1.635.000,00 970.000,00


51

Figura 07 – Prédio da ETL da ETA Capim Fino.

Figura 08 – Tanque de Clarificação da ALF da ETA Capim Fino.


52

FLUXOGRAMA GERAL DO TRATAMENTO DE LODO - ETL (CAPIM FINO)


A seguir fluxograma da ETL - Capim Fino
Água recuperada (retorna para ETA)
Calha Parshall ∝
Vazão ETA Floculadores
≅ 1.500 L/s

Tanque de clarificação
da ALF

Filtros

EE3
×
EE1
V=1 .200 m3
V=100 m3 V=40 m3

Decantadores

Para
adensadores
Aterro próprio do
Descarga de SEMAE A = 8 ha


lodo dos decantadores

Dosador de polímero p/ ALF
d=1 kg/ton ST
↑ ALF
Água recuperada no processo do
tratamento do lodo
(0,3 mg/L ALF)


Dosador de polímero Adensadores
p/ adensadores
LEGENDA: d=2 kg/ton ST
← Descarga de lodo decantadores (11,8 mg/L lodo)
(de 2.300 à 3.800 m3/dia – de 26,6 à 44 L/s)
ST ≅ 0,6% (24 ton/dia Sólidos Suspensos Totais - SST)
↑ Água lavagem de filtros – ALF
3
(≅1.200 m /dia – 14 L/s) – ST ≅ 0,03% - 0,36 ton/dia ° Dosador de polímero p/
→ Sedimentos da ALF (200 m3/dia – 2,3 L/s) Água recuperada
centrífuga
↓ EE-1 (Est. Elevatória 1) recalque para os adensadores
da ETL (2.500 à 4.000 m3/dia – de 30 à 46 L/s) Reserv. água recuperada
≥ d=4 kg/ton ST
(244 mg/L)
ST de 0,6 à 1,0 % ETL
° Lodo adensado (392 m3/dia) ST≅ 5,0%
± Lodo desidratado (92 m3/dia) ST≅ 25,0%
″ Transporte em caçambas para o aterro do SEMAE
≥ Água recuperada na ETL (45,3 L/s) ±
× Água clarificada (11,7 L/s)
Centrífuga

∝ EE-3 (Est. Elevatória 3)
recalque da água recuperada para ETA (57 L/s)
Lodo desidratado
53

13 – OUTROS CASOS

13.1 - Estação de Tratamento de Água Alto Tietê – ETA Taiaçupeba

A estação de tratamento de água Taiaçupeba localizada em Suzano - Alto


Tietê (SABESP) é uma estação do tipo convencional de construção modular:
- captação,
- desinfecção,
- coagulação,
- floculação,
- decantação,
- filtração,
- fluoretação,
- distribuição.
Atualmente ela trata uma vazão de 10 m3 /s , volume aduzido de uma represa
ao lado da estação. Em sua planta física encontramos:
- 6 decantadores de 100 x 30 x 4,25 m de remoção mecanizada de lodo,
- 6 floculadores cada um com 3 compartimentos de 10 x 10 x 4,25 m e 9
agitadores em três níveis de energia.
- 20 filtros de 8,7 x 10 x 4,95 m (possibilita filtração direta),
- RAT - reservatório de água tratada de capacidade d 22.000 m3 ,
- 2 RD - reservatório de distribuição capacidade de 20.000 m3 .

Esta estação, construída de forma modular, será ampliada para tratar uma
vazão de 15 m3 /s , capacidade máxima a ser tratada. A seguir alguns dados
gerados no tratamento de água da ETA Taiaçupeba:
- volume tratado = 884.631 m3 ,
- volume captado = 878.556 m3 ,
- volume aduzido real = 764.100 m3 ,
- volume aduzido estimado = 875.274 m3 ,
- volume recuperado = 6.075 m3 ,
- volume gasto = 9.357 m3 ,
- volume de descarga de lodo = 2.241 m3 ,
54

- volume de lavagem de filtros = 6.645 m3 ,


- volume de água de utilidade = 438 m3 ,
- volume de água de abastecimento = 33 m3 ,
- diferença vol. Aduzido real e estimado = - 111.174 m3 ,
- vazão aduzida = 8,84 m3 /s,
- vazão captada = 10,17 m3 ,
- vazão tratada = 10,24 m3 /s.

A estação de tratamento de água Taiaçupeba tem em sua estrutura física


uma estação de tratamento de lodo. Nela encontramos um tanque para a
equalização do lodo oriundo dos decantadores. Através de bombeamento este lodo
é então enviado para as mesas desaguadoras, antes de entrar no sistema é
adicionado polímero aniônico para um melhor adensamento e separação dos
sólidos. Na seqüência este lodo adensado é enviado para o filtro prensa de
membrana onde recebe adição de polímero catiônico antes de entrar no sistema
para posterior desidratação.
O lodo bruto entra no sistema com uma concentração de 0,6% e após
adensamento e desidratação este, deveria atingir uma concentração de sólidos na
faixa de 30% (valores referidos à eficiência do filtro prensa) infelizmente, na
realidade o sistema hoje descarta um lodo desidratado com concentração 15 a
18%, valores fora do recomendado pela legislação para disposição no solo. A seguir
fotos da ETA Taiaçupeba e suas dependências. As Figuras 09 a 12 ilustram os
equipamentos da ETL.
55

Figura 09 – Tanque de Equalização do lodo – ETL Taiçupeba.

Figura 10 – Mesa desaguadora de lodo – ETL Taiaçupeba.


56

Figura 11 – Filtro Prensa da ETA Taiaçupeba.

Figura 12 – Local de disposição do lodo, adjacente a ETA


Taiaçupeba.
57

13.2 - Estação de Tratamento Águas de Limeira

Somente como citação, sabe-se através de funcionários da empresa Águas


de Limeira que a mesma tem como projeto estar tratando e dispondo de forma legal
todo o lodo gerado no sistema de tratamento de água.
O sistema a ser adotado pela empresa é de estar levando de caminhão todo
o lodo gerado na estação até a ETE Tatu onde, estará sendo misturado ao lodo em
tratamento. O ponto de mistura se dará no adensador e daí para frente segue o
processo normal de tratamento de esgoto daquela estação.

14 - CONCLUSÕES

Atualmente no Brasil a prática de tratamento dos resíduos gerados em


estações de tratamento de água ainda é vista como novidade e, possivelmente
deixada para segundo plano na implantação de sistemas de tratamento de água. De
acordo com as novas regulamentações, programas de gerenciamento completo para
estações de tratamento de água devem prever instalações para remover e dispor os
resíduos de forma a atingir os objetivos de custo - benefício e legislações
ambientais.
A tecnologia para a recuperação da água e separação de resíduos sólidos
esta razoavelmente desenvolvida. Em geral, o custo é o fator decisivo na hora da
escolha do equipamento a ser adotado na implantação deste tipo de sistema,
sobrepondo muitas vezes a técnica.
Um estudo completo que leve em conta o tipo de ETA (sistema adotado),
produtos aplicados e qualidade da água bruta deve ser o ponto de partida para a
escolha da alternativa que melhor expresse os objetivos a serem alcançados. O
processo de tratamento do lodo deve ser selecionado de acordo com o tipo de
disposição final.
Na ETA Capim Fino, os estudos indicam que será possível recuperar
praticamente toda água que seria lançada no corpo d'
água reduzindo as perdas no
sistema, porém, é importante salientar que outro grande benefício, talvez o mais
58

importante, é a redução do volume de resíduos sólidos e outros compostos que


seriam lançados no manancial.
Os resíduos sólidos desidratados serão dispostos em terreno próprio, onde o
tipo de solo favorece a disposição final sem grandes impactos ao meio ambiente,
segundo estudos de caracterização ali realizados. Como o sistema ainda não se
encontra em operação espera-se que o nível de tratamento (adensamento e
centrifugação mecânicos) seja realmente o diferencial para o sucesso desta
implantação, em contrapartida ao exemplo citado da ETA-Taiaçupeba, onde o
equipamento empregado ainda não oferece a eficiência de projeto, a mesma exigida
pela legislação quanto à disposição final.
Quanto ao uso benéfico do lodo desidratado como matéria prima na
elaboração de outros produtos, é de grande valia que seja realizada pesquisa no
mercado comercial, buscando possíveis clientes, aceitação do produto pelos
fabricantes e pelo consumidor final.
Produzir sem gerar danos ao meio ambiente, a chamada produção limpa, é
hoje a opção para a sociedade produtora quanto à redução dos resíduos. Diminuir
os impactos ambientais, proteger os corpos d'
água, gerar novos produtos a partir de
resíduos são características de uma nova visão, onde produzir não significa apenas
transformar mais sim, transformar com responsabilidade.

Recomendações

Sendo o lodo resíduo resultado da combinação de diferentes compostos,


recomenda-se que seja efetuado um estudo detalhado quanto às características
físico-químicas e alternativas de disposição final como, por exemplo, desenvolver
pesquisas junto a universidades buscando assim soluções adequadas, minimizando
os impactos ambientais, sobretudo devido à existência de um tempo máximo
previsto para a disposição final da torta no terreno adquirido pelo SEMAE.
59

15 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARRICHELO, C. M. C. Alternativas de uso e aplicações dos lodos de


Estações de Tratamento de Água. 2003. 96f. Monografia – Gestão e Tecnologias
Ambientais, MBA/USP.

BISOGENIN, J. L.; IDE, C. N.; IMOLENE, L. M. Secagem de lodo de ETA em


Leito Convencional. In: 20º CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA
SANITÁRIA E AMBIENTAL, II – 074, 1999, RIO DE JANEIRO: ABES RIO, 1999, p –
1483 – 1492.

GONÇALVES, R. F.; BRANDÃO, J. T.; BARRETO, E. M. Viabilidade


econômica da regeneração do sulfato de alumínio de lodos de Estações de
Tratamento de Águas. In: 20º CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA
SANITÁRIA E AMBIENTAL, II – 045, 1999, RIO DE JANEIRO: ABES RIO, 1999, p –
1298 – 1306.

GONÇALVES, R. F.; PIOTTO, Z. C.; RESENDE, M. B. Influência dos


mecanismos de coagulação da água bruta na reciclagem de coagulantes em lodos
de Estações de Tratamento de Água. In: 19º CONGRESSO BRASILEIRO DE
ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, II – 049, 1998. ABES, p 1353 – 1364.

ISSAC, R. L.; LUVIZOTTO, E. Estudo de readequação do sistema de


Tratamento de Lodo da ETA Capim Fino em Piracicaba – SP. Relatório Final, 2002 –
FEC – UNICAMP.

LATIN CONSULT, Estudo de alternativas e proposição de solução para


tratamento e destinação final dos despejos da ETA Capim Fino – Piracicaba. 1998,
Relatório 4, Revisão 3.
60

LEME, H. M.; MERLI, G. L. Estação de Tratamento de Lodo gerado pela ETA


Capim Fino. In: 21º CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E
AMBIENTAL, I - 014, 2000, RIO DE JANEIRO: ABES TRABALHOS TÉCNICOS ,
2000

TEIXEIRA, L. C.; FILHO, S. S. F. Ensaios de pré-adensamento em batelada e


semi-contínuo de lodos gerados em Estações de Tratamento de Água. In: 20º
CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, II –
008, 1999, RIO DE JANEIRO: ABES RIO, 1999. p 1039 – 1048

TEIXEIRA, L. C.; FILHO, S. S. F. Influência do tipo e da dosagem de polímero


na capacidade de pré-adensamento de lodos gerados em Estações de Tratamento
de Água. In: 20º CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E
AMBIENTAL, II – 007, 1999, RIO DE JANEIRO: ABES RIO, 1999. p 1031 – 1038

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