Título: Tratamento de Esgotos Sanitários por Processo Anaeróbio e Disposição Controlada no Solo - 1999.
As lagoas de estabilização como uma tecnologia consolidada para
tratamento de águas residuais, tanto sanitárias quanto industriais, devido à sua eficiência e baixo custo operacional. A origem exata dessa técnica não é clara, mas há relatos de seu uso na China para criação de peixes alimentados por resíduos orgânicos e na Alemanha para depuração de efluentes com a ajuda de peixes. As lagoas de estabilização são reservatórios rasos construídos com diques de terra compactada, sendo reconhecidas como uma opção de tratamento amigável ao meio ambiente. No entanto, sua principal limitação é a necessidade de grandes áreas, o que levou ao desenvolvimento de sistemas que combinam diferentes tipos de lagoas para reduzir a área necessária. As lagoas anaeróbias, projetadas para cargas orgânicas elevadas, eliminam a necessidade de oxigênio dissolvido na água, permitindo uma redução significativa na área requerida. No entanto, estas lagoas podem apresentar problemas, como maus odores e acúmulo de materiais flutuantes, que exigem cuidados na sua operação. Apesar de eficazes na remoção de poluentes orgânicos, as lagoas anaeróbias devem ser seguidas por etapas adicionais de tratamento para eliminar substâncias indesejáveis antes de o efluente ser considerado seguro para o meio ambiente. As lagoas anaeróbias são unidades de tratamento biológico onde ocorre intensa atividade bioquímica, convertendo a matéria orgânica carbonácea em biogás. Os poluentes são removidos por forças físicas, com sólidos sedimentáveis no fundo e partículas menos densas na superfície. Os microrganismos ativos estão no lodo acumulado no fundo, onde ocorre produção de biogás. A eficiência de remoção de poluentes nessas lagoas pode chegar a 50%-60%, superando decantadores primários. A camada flotante também degrada a matéria orgânica, sendo variável em espessura e área. Há debate sobre manter ou remover essa camada devido a considerações ambientais. Em climas frios, a proteção contra a perda de calor justifica mantê-la. Dispositivos como cortinas de retenção de gorduras evitam a passagem de materiais flutuantes para unidades seguintes. Comparadas a estações de tratamento convencionais, as lagoas anaeróbias podem substituir eficientemente várias unidades, oferecendo vantagens em eficiência, custo e operacionalidade. Fatores Ambientais Que Interferem no Processo Os principais fatores ambientais que afetam o desempenho das lagoas anaeróbias são: temperatura, ventos, insolação e precipitação pluviométrica. A ação dos ventos pode causar danos físicos e curto-circuitos hidráulicos nas lagoas, sendo recomendada a proteção dos taludes e a posição estratégica de dispositivos de entrada e saída para evitar esses problemas. A temperatura também é crucial, com faixas específicas (psicrofílica, mesofílica e termofílica) impactando a atividade dos microrganismos. A precipitação pluviométrica pode aumentar a vazão de esgoto e causar problemas hidráulicos, enquanto a evaporação natural pode alterar a concentração de substâncias dissolvidas. Esses fatores devem ser considerados no dimensionamento e operação das lagoas anaeróbias. Configurações de Lagoas Anaeróbias A importância da Engenharia de Reatores no tratamento de águas residuais, com foco nas lagoas de estabilização. Para maximizar a eficiência do tratamento, é essencial considerar a configuração dos reatores e as taxas de remoção de poluentes. Nas lagoas anaeróbias, é crucial garantir uma mistura adequada entre a água residuária e a biomassa ativa para melhorar a eficácia do processo. Para isso, são propostos dois modelos hidráulicos básicos: lagoas anaeróbias convencionais e lagoas anaeróbias de alta taxa. Nas lagoas de alta taxa, ocorre um fluxo ascendente próximo à entrada, permitindo um contato mais eficaz entre os poluentes dissolvidos e os microrganismos, resultando em uma melhor remoção de poluentes. O dimensionamento deve levar em conta o modelo hidráulico específico das lagoas anaeróbias. Critérios de Dimensionamento As lagoas anaeróbias convencionais são projetadas com profundidades de 3 a 5 metros e seu volume é determinado pela taxa de aplicação de carga orgânica (TCO) e pelo tempo de detenção hidráulica (Θ). A TCO, expressa em g DBO/m²-dia, garante condições anaeróbias e é mais utilizada do que a aplicação superficial de matéria orgânica. O Θ é um parâmetro crítico que influencia a eficiência do tratamento; valores superiores a 3 dias são recomendados, embora algumas lagoas funcionem bem com menos de 3 dias, especialmente em condições específicas como no Nordeste brasileiro. O volume da lagoa é determinado pela vazão de águas residuárias e pelo Θ selecionado com base na temperatura, devendo também atender aos valores recomendados de TCO. Em efluentes industriais concentrados, é importante verificar o volume da lagoa para evitar desequilíbrios no processo anaeróbio, enquanto em esgotos sanitários diluídos, o dimensionamento deve seguir os valores recomendados para o Θ. Lagoas Anaeróbias de Alta Taxa É abordado quanto à configuração de lagoas de estabilização com poços de entrada para tratamento de águas residuais. Esse método, inicialmente proposto por Oswald et al. (1967), utiliza uma zona anaeróbia de fluxo ascendente para melhorar o contato da matéria orgânica com a biomassa anaeróbia, reduzindo o volume de lodo no fundo das lagoas. No Brasil, a Companhia de Água e Esgotos de Brasília (CAESB) foi pioneira nesse método, aplicando lagoas anaeróbias de alta taxa. Embora essa abordagem seja promissora, há poucos dados operacionais disponíveis sobre sua eficácia na remoção de poluentes. O projeto dessas lagoas deve considerar a distribuição uniforme do esgoto no fundo do reator e determinar o volume do poço de entrada com base no tempo de detenção hidráulico, que pode ser de 24 horas ou mais. Além disso, é necessário prever um volume adicional para armazenamento do lodo digerido, já que as lagoas anaeróbias não têm descarte de excesso de lodo. Considerações Complementares sobre Lagoas Anaeróbias Após determinar o volume útil da lagoa com base em valores recomendados, a área útil é calculada, geralmente, com duas unidades em paralelo. Profundidades maiores reduzem a área necessária, mas há limites (4 a 5 metros) determinados por estudos geotécnicos. A forma da lagoa deve evitar zonas mortas e acúmulo excessivo de lodo, sendo a configuração B preferível para distribuição uniforme do afluente e melhor aproveitamento do volume. A escolha do local de implantação deve considerar a distância de aglomerados urbanos para prevenir maus odores, e estudos detalhados são necessários, especialmente em relação aos ventos predominantes na área.