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Disciplina : Tratamento de Águas Residuárias

Professor: Fernando Hermes Passig


Aluna: Larissa Rios Lima

ATIVIDADE 13
Resumo

Capítulo 7 - Reator UASB


Título: Tratamento de Esgotos Sanitários por Processo Anaeróbio e
Disposição Controlada no Solo - 1999.

O processo anaeróbio usando reatores de manta de lodo oferece


várias vantagens sobre os métodos aeróbios tradicionais, especialmente
em áreas de clima quente, como a maioria das cidades no Brasil. As
vantagens associadas ao reator são :
● Sistema compacto, com baixa demanda de área.
● Baixo custo de implantação e de operação.
● Baixa produção de lodo.
● Baixo consumo de energia (apenas para a elevatória de chegada,
quando for o caso).
● Satisfatória eficiência de remoção de DBO e de DQO, da ordem de
65% a 75%.
● Possibilidade de rápido reinício, mesmo após longas paralisações.
● Elevada concentração do lodo excedente.
● Boa desidratação do lodo.
E alguns desvantagens são :
● Possibilidade de emanação de maus odores.
● Baixa capacidade do sistema em tolerar cargas tóxicas.
● Elevado intervalo de tempo necessário para a partida do sistema.
● Necessidade de uma etapa de pós-tratamento.
Ainda relacionada às vantagens dos reatores de manta de lodo no
tratamento de esgoto doméstico em climas quentes, enfatiza-se que,
quando bem projetados, construídos e operados, esses sistemas podem
lidar com compostos de enxofre e materiais tóxicos em níveis baixos sem
problemas de mau cheiro ou falhas.
A partida do sistema pode ser lenta (4 a 6 meses), mas avanços foram
feitos com metodologias adequadas e inóculos, reduzindo o período de
partida para algumas semanas (2 ou 3 semanas). Apesar das vantagens, a
qualidade do efluente ainda não atende aos padrões ambientais, o que é
crucial devido à fiscalização rigorosa dos órgãos ambientais. Destaca-se
ainda a simplicidade do projeto dos reatores de manta de lodo, mas
ressalta a falta de um roteiro claro e sistematizado para os projetistas,
levando a equívocos de projeto em alguns casos. O texto também
menciona a necessidade de ordenar os critérios de projeto para evitar
esses equívocos.
O Brasil está na vanguarda da tecnologia anaeróbia para o tratamento
de esgotos domésticos, especialmente com os reatores tipo UASB. Mais de
300 desses reatores estão atualmente em operação no país,
principalmente nos estados do Paraná e da Bahia, além de outros estados
como Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pará, Paraíba, São
Paulo e Distrito Federal. A nomenclatura dos reatores de manta de lodo no
Brasil é confusa, mas esses reatores, originados na Holanda na década de
1970, foram chamados de reatores UASB (Reatores Anaeróbios de Fluxo
Ascendente e Manta de Lodo).
Algumas terminologias usadas no Brasil tem sido divulgadas para
identificação desse tipo de reator, são elas :
● DAFA (digestor anaeróbio de fluxo ascendente).
● RAFA (reator anaeróbio de fluxo ascendente).
● RALF (reator anaeróbio de leito fluidizado).
● RAFAMAL (reator anaeróbio de fluxo ascendente e manta de lodo).
● RAFAALL (reator anaeróbio de fluxo ascendente através de leito de
lodo).
Mas para que haja hamonização e difusão dessa modalidade de
tratamento os autores defendem o uso das denominações a seguir :
● Reator UASB.
● Reator de manta de lodo.
● Reator anaeróbio de fluxo ascendente e manta de lodo.

Quanto ao processo de inicialização e operação do reator de manta de


lodo, destaca-se a importância no tratamento de esgoto. Durante a partida,
o reator é inoculado com lodo anaeróbio e a taxa de alimentação aumenta
gradualmente. Isso leva ao desenvolvimento de um leito de lodo
concentrado no fundo do reator, com densidade e características de
sedimentação excelentes. Acima desse leito, há uma zona de lodo mais
dispersa chamada manta de lodo. O sistema é auto suficiente devido ao
movimento ascendente do gás e do esgoto. Um separador trifásico é
essencial para reter e retornar o lodo.
Os reatores UASB têm alta capacidade de retenção de biomassa e
aceitam altas cargas orgânicas, sendo notáveis por sua simplicidade
construtiva e baixos custos operacionais. Alguns princípios-chave incluem
o máximo contato entre biomassa e substrato, evitar "curto-circuitos", e um
dispositivo eficaz de separação de fases, além de um lodo bem adaptado
na região da manta.
Os princípios mais importantes que governam a operação de um
reator de manta de lodo são os seguintes:
● As características do fluxo ascendente devem assegurar o máximo
contato entre a biomassa e o substrato.
● Os "curto-circuitos" devem ser evitados, de forma a garantir tempo
suficiente para a degradação da matéria orgânica.
● O sistema deve ter um dispositivo de separação de fases bem
projetado, capaz de separar de forma adequada o biogás, o líquido e
os sólidos, liberando os dois primeiros e permitindo a retenção do
último.
● O lodo na região da manta deve ser bem adaptado, com alta
atividade metanogênica específica (AME) e excelente
sedimentabilidade. Em relação à sedimentabilidade, o lodo
granulado apresenta características bem melhores que as do lodo
floculento.

Os reatores anaeróbios de manta de lodo, inicialmente criados para


efluentes industriais, foram adaptados para tratamento de esgotos
domésticos, resultando em diferentes configurações. No tratamento de
esgotos, o dimensionamento é feito pela carga hidráulica, sendo crucial
controlar as velocidades ascendentes nos compartimentos de digestão e
decantação para manter a estabilidade do processo.
Em sistemas de esgotos domésticos, o dispositivo de distribuição do
afluente está na parte superior, levando a uma possível redução da área
superficial do compartimento de decantação. Para lidar com variações
extremas de vazão, pode ser necessário aumentar a seção transversal do
reator próximo ao compartimento de decantação. Os reatores podem ser
circulares ou retangulares; os circulares são mais econômicos para
pequenas populações, enquanto os retangulares são preferíveis para
modulações e grandes populações.
Existe ainda uma variante chamada reator anaeróbio de leito
fluidizado (RALF) desenvolvido pela SANEPAR.
Para alcançar melhor desenvolvimento e manutenção de um lodo de
alta atividade e boa sedimentação em reatores de manta de lodo
anaeróbio, são necessárias medidas específicas durante o projeto e a
operação do sistema como a concentração do esgoto, a presença de
substâncias tóxicas e a quantidade de sólidos inertes e biodegradáveis.
O projeto de reatores com valores superiores de carga hidráulica (ou
inferiores de tempo de detenção hidráulica) pode prejudicar o
funcionamento do sistema em relação aos seguintes aspectos principais:
• Perda excessiva de biomassa do sistema, devido ao arraste do lodo
com o efluente.
• Redução do tempo de residência celular (idade do lodo) e
conseqüente
diminuição do grau de estabilização dos sólidos.
• Possibilidade de falha do sistema, uma vez que o tempo de
permanência da biomassa no sistema pode ser inferior ao seu tempo de
crescimento.
Em relação à estimativa da concentração de sólidos suspensos no
efluente final de reatores UASB. Essa concentração depende de vários
fatores, como a sedimentabilidade do lodo no reator, a frequência de
descarte de lodo, as velocidades nas aberturas para o decantador, a
eficiência dos separadores de fases e as taxas de aplicação e tempos de
detenção hidráulica nos compartimentos do reator. A análise de dados
feita em quatro reatores, revelou que as concentrações de sólidos no
efluente variam significativamente com o tempo de detenção hidráulica,
situando-se entre 20 e 100 mg/l. Para evitar a influência desses fatores na
eficiência da remoção de matéria orgânica, a DQO do efluente decantado
é avaliada em cone Imhoff por 1 hora. Com isso, considera-se uma equação
que representa a concentração esperada de sólidos no efluente, embora
com limitações devido ao número reduzido de dados e a variáveis não
consideradas na equação.
Para obter eficiência nos reatores de manta de lodo, é crucial distribuir
uniformemente o substrato afluente na parte inferior, assegurando contato
adequado entre a biomassa e o substrato. Evitar caminhos preferenciais
(curto-circuitos) no leito de lodo é essencial, especialmente ao tratar
esgotos de baixa concentração ou baixas temperaturas, onde a produção
de biogás pode ser insuficiente para uma mistura adequada. Outros riscos
potenciais para a ocorrência de curto-circuitos são:
● Pequena altura do leito de lodo.
● Pequeno número de distribuidores do afluente.
● Ocorrência de lodos com velocidades de sedimentação muito
elevadas e/ou muito concentrados.

Em relação a partida dos reatores anaeróbios de alta taxa, um estágio


crítico que impacta a eficiência dos sistemas. A eficiência desses sistemas
depende das características do esgoto a ser tratado. A partida pode ser
realizada usando lodo adaptado ao esgoto (rápido e satisfatório), lodo não
adaptado (com período de adaptação) ou sem lodo de inóculo (mais
demorado). A sistematização dos procedimentos operacionais é crucial,
especialmente para reatores de manta de lodo. Os critérios como a carga
biológica inicial aplicada ao sistema, pode variar de acordo com o tipo de
inóculo e deve ser aumentada gradualmente para melhorar a eficiência do
sistema durante o regime permanente.
Durante a partida dos reatores anaeróbios de alta taxa, vários fatores
influenciam o processo. A carga hidráulica volumétrica remove a biomassa
sedimentável, favorecendo a seleção da biomassa ativa e afetando a
mistura no reator. A produção excessiva de biogás pode prejudicar o
processo, levando à perda de lodo. A temperatura ideal para operação é de
30°C a 35°C, mas em esgotos domésticos, geralmente varia de 20°C a 26°C.
Em temperaturas subótimas, é crucial usar lodo adaptado ao esgoto.
Fatores ambientais, especialmente a temperatura, devem estar o mais
próximo possível das condições ideais para uma partida eficaz do sistema,
mas isso é muitas vezes desafiador no tratamento de esgotos domésticos.
O pH deve ser mantido acima de 6,5, preferencialmente entre 6,8 e 7,2.
Todos os nutrientes essenciais (nitrogênio, fósforo, enxofre e
micronutrientes) devem estar presentes em quantidades adequadas, e
compostos tóxicos devem estar ausentes ou em concentrações não
inibitórias. Na adaptação e seleção da biomassa em reatores de manta de
lodo, é crucial evitar o retorno do lodo disperso perdido com o efluente,
promover diluição ou recirculação quando a concentração do efluente for
alta, aumentar a carga orgânica gradualmente, manter as concentrações
de ácido acético dentro de limites específicos (abaixo de 200 a 300 mg/l
para esgotos domésticos) e garantir a alcalinidade adequada para manter
o pH próximo a 7.

Adaptação e Seleção da Biomassa


A primeira partida de um reator anaeróbio é um processo
relativamente delicado.
No caso dos reatores de manta de lodo, a remoção suficiente e
contínua da fração mais leve do lodo é essencial, de forma a propiciar a
seleção do lodo mais pesado para crescimento e agregação. As principais
diretrizes para a adaptação e seleção da biomassa em reatores de manta
de lodo são as seguintes (Lettinga et al., 1984):
● Não retornar ao reator o lodo disperso perdido juntamente com o
efluente.
● Promover a diluição do afluente ou a recirculação do efluente,
quando a concentração da água residuária for superior a 5.000
mgDQ0/.
● Aumentar a carga orgânica progressivamente, sempre que a
remoção de DBO/ DQO atingir pelo menos 60%.
● Manter as concentrações de ácido acético abaixo de 1.000 mg/l. No
caso do tratamento de esgotos domésticos, as concentrações de
ácido acético no reator são bem inferiores, devendo ser mantidas
abaixo de 200 a 300 mg/1.
● Prover a alcalinidade necessária ao sistema, de forma a manter o pH
próximo a 7.

Procedimentos Que Antecedem a Partida de um Reator


Caracterização do Esgoto Bruto
A fim de estabelecer a rotina de partida do reator anaeróbio, deve-se
proceder também uma campanha de caracterização qualitativa e
quantitativa do esgoto bruto afluente ao sistema de tratamento.
Caracterização do Lodo de Inóculo
Definida a utilização de lodo de inóculo para a partida do reator,
devem ser realizadas análises para a sua caracterização qualitativa e
quantitativa, incluindo os seguintes parâmetros: pH, alcalinidade
bicarbonato, ácidos graxos voláteis, sólidos totais (ST), sólidos voláteis totais
(SVT) e atividade metanogênica específica (AME).
Além dos parâmetros referidos acima, deve-se proceder com uma
caracterização visual e olfativa do lodo.
Procedimentos Durante a Partida de um Reator Anaeróbio
Os procedimentos durante a partida de um reator referem-se
principalmente: i) à inoculação; ii) à alimentação com esgotos; e iii) ao
monitoramento do processo.
Apresentam-se nos itens seguintes alguns dos procedimentos
adotados durante a partida de um reator de manta de lodo na cidade de
Itabira, MG (Chernicharo et al., 1996).
Inoculação do Reator
A inoculação pode-se dar tanto com o reator cheio quanto vazio,
embora seja preferível a inoculação com o reator vazio, a fim de diminuir as
perdas de lodo durante o processo de sua transferência. Para essa segunda
situação, os procedimentos adotados foram os seguintes:
● Transferir o lodo de inóculo para o reator, cuidando para que o
mesmo seja descarregado no fundo do reator. Evitar turbulências e
contato excessivo com о аг.
● Deixar o lodo em repouso por um período aproximado de 12 a 24
horas, possibilitando a sua adaptação gradual à temperatura
ambiente.
Alimentação do Reator com Esgotos
● Após o término do período de repouso, iniciar a alimentação do
reator com esgotos, até que o mesmo atinja aproximadamente a
metade de seu volume útil.
● Deixar o reator sem alimentação por período de 24 horas. Ao término
deste período, e antes de iniciar uma próxima alimentação, coletar
amostras do sobrenadante do reator e efetuar análises dos seguintes
parâmetros: temperatura, pH, alcalinidade, ácidos voláteis e DQO.
Caso estes parâmetros estejam dentro das faixas de valores
aceitáveis, prosseguir o processo de alimentação. Valores aceitáveis:
pH entre 6,8 e 7,4 e ácidos voláteis abaixo de
200 mg/1 (como ácido acético).
● Continuar o processo de enchimento do reator, até que o mesmo
atinja o seu volume total (nível dos vertedores do decantador).
● Deixar o reator novamente sem alimentação por outro período de 24
horas. Ao término deste período, retirar novas amostras para serem
analisadas e proceder como anteriormente.
● Caso os parâmetros analisados estejam dentro das faixas
estabelecidas, propiciar a alimentação contínua do reator, de acordo
com a quantidade de inóculo utilizada e com a percentagem de
vazão a ser aplicada.
● Implantar e proceder monitoramento de rotina do processo de
tratamento.
● Proceder aumento gradual da vazão afluente, inicialmente a cada 15
dias, de acordo com a resposta do sistema. Este intervalo poderá ser
ampliado ou reduzido, dependendo dos resultados obtidos.

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