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Tratamento Anaeróbico das Águas Residuais

2. Processos Tecnologicos e Aspectos de Controle e Operação

2.1. Configurações dos Reactores Anaeróbicos

Há uma gama variada de configurações de reactores anaeróbicos, as quais podem ser classificadas em
reactores para o tratamento de:

- Águas Residuais com Teores de Sólidos Suspensos Menor que 1%. As figuras 1, 2 e 3 são exemlos
desses reactores.

Fig. 1 – Configurações típicas de reactores usaos no tratamento anaeróbico de águas residuais.


Fig. 2 – Representação esquemática de um fluxo ascendente de uma manta de lamas anaeróbicas.

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Fig. 3 – Secção transversal de um reactor BIOBED.
Nestes sistemas o Tempo de Retenção Hidráulica situa-se na região de 1-24 h e as velocidades típicas de
produção de biogás variam de 3-10 m3biogás/(m3reactor d).

- Lamas suspensas com os teores típicos de sólidos suspensos de 1-15%. As figuras 4 e 5 são exemplos
desses reactores

Fig. 4 - Digestores anaerobicos típicos: a) Processo convencional de velocidade d padrã estágio único; b) Processo de
alta velocidade, mistura completa e estágio único, e c) Processo de duas fases.
Fig. 5 – Sistema de digestão da aguas negras (Fonte: Mohanrao, 1970)

Nestes sistemas o Tempo de Retenção Hidráulica situa-se na região de 10-30 dias e as velocidades típicas
de produção de biogás podem variar de 0,5-3 m3biogás/(m3reactor d).

Vários aspectos contribuiram para uma aplicação sucedida de reactores anaeróbicos para o tratamento de
esgotos e águas industriais (sob condições tropicais) nos últimos 40 anos. Por um lado houve interesse
industrial para aplicar o tratamento anaeróbico devido às vantagens à operação (a produção do biogás e a
produção limitada das lamas). Por outro lado houve progressos alcançados na concepção dos processos e
reactores.

Para o tratamento anaeróbico de águas residuais s reactores no princípio haviam disponíveis dois
processos; o Filtro Anaeróbico (“Anaerobic Filter, AF”)e a Manta de Lamas Anaeróbicas de Fluxo
Ascendente (“Upflow Anaerobic Sludge Blanket, UASB”) (vide fig. 1). Tal como no processo AF, as águas
residuais no reactor têm fluxo ascendente. Todavia, contrariamente ao AF, no reactor UASB não contém
nenhum material de suporte. Essencialmente abase do conceito UASB é formada pelas excelentes
propriedades floculantes das lamas anaeróbicas em combinação com as boas características
sedimentadoras (Lettinga, et al., 1982). As lamas no reactor UASB mostram-se crescerem final em
granulos. Este processo de granulação ou peletização é considerado como sendo controlado pelo
dispositivo de separação das três fases GLS bem concebido. A importância do dispositivo de separação
bem concebido das três fases pode ser demonstrada pela diferença nas velocidades de carga de gás entre
os reactores anaeróbicos para o tratamento de águas residuais e os digestores de lamas. O escape de
bolhas de gás no compartimento de sedimentação pode desestabilizar seriamente o processo de
sedimentação, resultando numa lavagem das lamas. Os aspectos mais importantes dos separadores GLS
bem concebidos são (van Handel and Lettinga, 1994):

- a inclinação dos elementos de fase do separador devem ter um ângulo (com a superfície horizontal) de
cerca de 45 e 60º;
- a área superficial da interface gás-líquido sob o separador deve ser concebida à velocidade do gás
superficial no nível da interface na região de 1-3 m3/(m2 h), e
- o volume do sedimentador contribui em 15-20% do volume total do reactor.

Os valores típicos ds velocidads de sedimentação das lamas granulares são de 10-50m/h e são
determinadas

Fi.g 6 – Distribuição dos tamanhos das partículas de cinco tipos de lamas granulares diferentes.

Fig. 7 - Propriedades sedimentadoras de cinco diferentes tipos de lamas granulares. M é a fracção do peso das lamas
sedimentadas no tempo = t.
Fig. 8 - Micrográficos de varrimento electrónico de várias lamas metanogénicas com boa sedimentação cultivados
num reactor UASB. a-c: lamas granulares cultivados numa mistura de acetato e propionato a pH = 7,2; d-f: paletas tipo
esparguete cultivadas numa mistura de acetato e propionato a pH = 7,2; g-i: grânulos do tipo espigão/grampo
cultivados nas águas residuais de uma unidade de processamento de milho/amido, e j-l: grãnulos dominados pela
Methanosarcina cultivados sob uma mistura de acetato e propionato a pH = 6. As barras indicam 100 m para os
paineis a,g e j; 10 mpara os paineis b, e, h e k; 1 m para os paineis c, f, i e l; e 1000 m para o painel d.
pelos tamanhos dos grânulos, os quais estão na região de 0,5-3 mm (vide figuras 6, 7 e 8) e pelas
densidades dos gânulos (vide tabelas 1 e 2).

Tabela 1 - Densidades, teor de cinzas e resistências de cinco tipos granulares de lamas.

Tabela 2 – Densidades, teores de cinzas, resistências e actividades metanogenicas específicas de


grânulos AVIKO sujeitos a diferentes processos de processamento (I = grânulos originais, II = grânulos
alimentados por sacarose, IV = Grânulos sujeitos a 3200 mg Na+/l).

Estes valores devem ser comparados com as velocidades de sedimentação de 1-2 m/h para as lamas do
tipo floculento (e 0,1-0,6 m/h para as lamas activadas indigestíveis).

Outro aspecto importante na concepção de reactores anaeróbicos é o sistema de distribuição. O efluente


deverá ser uniformemente distribuido pois, em caso de uma distribuição não uniforme ocorrerão curto-
circuitos resultando em reduzida eficiência de remoção (1-2 m2 por ponto de entrada). A mistura num
reactor UASB é devido em grande parte à produção do gás. Todavia durante o arranque, a mistura é
meramente determinada pela distribuição do líquido.

Há uns vinte anos atrás foi introduzido o sistema de Mantas de Lamas Granulares Expandidas (“Expanded
Granular Sludge Blankets, EGSB”), no qual as velocidades dos líquidos superficiais foram incrementadas
de 0,5-1 m/h (dos reactores UASB) para 5-10 m/h (vide figuras 1, 3 e 9). Este sistema pode ser aplicado
para águas residuais muito diluidas e, outro aspecto é que o influente pode ser diluido pelo efluente
recirculante (versprille et al., 1994).
Fig. 9 - Eficiências de remoção de sólidos suspensos (SS) como função da velocidade de extravazamento num
sedimentador para as esgoto crú e sedimentado em Bebbekom, Holanda (de Man, 1990).

Digestores das Lamas

Os tanque séptico ilustrado na figura 10 é o tipo de digestor mais simples aplicado para casas individuais.

Fig. 10 – Diagrama de um tanque séptico.

Quando a capacidade do tanque é suficientemente grande e a concentração dos detergentes (ex: ABS) é
baixa, ocorre a produção do metano no fundo do depósito. Em particular as gorduras e graxas serão
hidrolizadas e degradadas para formarem ácidos gordos de cadeias curtas e glicerol, os quais serão
convertidos a metano. Contudo, os tanques sépticos não são particularmente eficientes tais como os
tanques de sedimentação ou os reactores biológicos e para a remoção da matéria orgânica poluente
requere-se um pós-tratamento (ex: os RBC). Embora os tanques de Imhoff desempenhem essencialmente
as mesmas funções que os tanques sépticos, o sistema destes é mehor concebido e foi aplicado em
estações de tratamento de esgoto, especialmente na Alemanha. Hoje em dia os tanques de Imhoff (vide
figura 11) são substituidos por tanques de sedimentação separados e digestores de lamas.

Fig. 11 – Diagrama do tanque de Imhoff (Dabney).

O tanque de Imhoff mostra semelhanças com o sistema UASB aplicado ao esgoto, havendo contudo
diferenças essenciais.

Os digestores das lamas são operados a relativamente longos tempos de retenção hidráulica e as taxas de
produção do gás são substancialmente baixos se comparados aos reactores UASB para águas residuais
industriais. Por forma a manter os processos optimais exige-se o aquecimento e a mistura adicionais. A
mistura pode ser alcançada pela recirculação do gás, bombagem e fermentação líquida ou pela aplicação
de um um impulso num tubo de aspiração (vide figuras 4 e 12).
Fig. 12 - Digestor primário anaeróbico com topo flutuante.

2.2. Aspectos de Operação e Controle

Parâmetros do Processo

Para a definição do parâmetro para a velocidade de carga nos reactores anaeróbicos pode se referir aos
parâmetros similares para os sistemas aeróbicos. A taxa de produção do gás pode ser relacionado com: a)
o volume do reactor conferindo: m3biogás/(m3reactor d) e, b) a quantidade de COD removida dando uma
produção específica de gás de: m3 CH4/kg CODremovida. A medida específica de produção de gás pode ser
comparado com a produção teórica do gás de 0,35 m3 CH4/kg COD. Em condições normais haverá
pequenas diferenças causadas pela produção da biomassa.

Controlo do Processo

A performance de um processo anaeróbico pode ser controlado medindo-se os parâmetros abaixo:


- a temperatura deve ser mantida constante com fluctuações de menos de 3ºC;
- Um decréscimo do pH abaixo de 6,5 pode levar a uma sobrecarga ou ao decréscimo da actividade
metanogénica;
- Nível dos ácidos gordos voláteis (“Volatile fatty Acids, VFA”) – Um aumento acima de 200-300 mg/l pode
ser uma indicação de um declínio da actividade metanogénica;
- Taxa de produção do gás: Uma redução na taxa de produção do gás sob condições de carga normal é
directamente relacionado com o decréscimo da actividade metanogénica, e
- Composição do biogás: O decréscimo do teor de metano abaixo de 60% pode ser uma indicação de
desestabilização do processo.

Em caso de sobrecarga do reactor, a redução da velocidade de carga usualmente resultará numa


recuperação da performance normal do processo. Em caso de compostos tóxicos será necessário substituir
as lamas. Os problemas e transtornos típicos é a formação da escuma, sobrecarga ou inibição por
compostos tóxicos.

Considerações de Segurança

Durante as operações de enchimento ou descarga dos reactores anaeróbicos e colectores de biogás


qualquer mistura com o ar deve ser prevenido devido ao risco de formação de misturas explosivas.
Algumas vezes será necessário evacuar o sistema com o gás nitrogénio. As misturas de biogás ear nas
quais a concentração do metano é 5-15% em volume é explosiva.

Quando se trabalha com efluentes e biogás contendo o sulfeto de hidrogénio é bom se acautelar do perigo
potencial do sulfeto de hidrogénio. O sulfeto de hidrogénio é um gás venenoso que pode ser bem detectado
pelo olfacto a concentrações abaixo de 0,001% (3-5 ppm v/v). O valor mais baixo de odor (“odour threshold
value”) chegam até a 0,002-0,2 (v/v). O OEL (Limite de Exposição Ocupacional, que é mais conhecido por
valores “MAC Value - Maximaal Aanvaarde Concentraties”) é de 10 ppm. Intoxicações sérias podem
ocorrer quando o sujeito for exposto a concentrações acima de 250ppm, o qual pode levar a perca do
olfacto, o que em si só agrava o potencial de risco. Exposições a concentrações acima de 1000 ppm são
letais.

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