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Geotecnologia Ambiental

ROMPIMENTO DE
BARRAGENS DE REJEITOS
Juan Avila Teixeira
Luyhana Costa Gessi
Vanessa Cristina Adamatti

Jul, 2023.
Introdução

Beneficiamento mineral
Composto por uma série de processos que
objetivam separar e concentrar os minerais
desejados por métodos físicos ou químicos
sem alteração da constituição química.

O que não tem interesse econômico: descarte


Beneficiamento mineral
Seco
Após a britagem e o peneiramento, o material já
está pronto para o mercado;
Só é possível quando o minério possui um alto
teor do mineral;
Estéreis são dispostos em pilhas.

Úmido
Utiliza a água para retirar as impurezas que
prejudicam a qualidade final do produto;
Muita água é utilizada;
Rejeitos são dispostos em barragens.
Barragem de rejeitos
Estrutura construída para depositar resíduos
do beneficiamento úmido.

Rejeito úmido

Material que sobra do processo de separação


da rocha e o minério;
Alta umidade e característica de lama;
Não tem valor econômico;
Pode conter mercúrio, arsênio e outros
contaminantes;
Lama contamina fauna e flora, afetando a
cadeira alimentar e poluindo o meio ambiente.
Barragem de rejeitos
À medida que o rejeito é depositado, a parte sólida se acomoda no
fundo da barragem, e a água decantada é drenada e tratada.

Parte é reutilizada na mineração e


o restante devolvido ao meio
ambiente.

Com o passar do tempo, a barragem vai “secando”, até que deixa de


receber rejeitos e fica inativa.
Ou seja, muito rejeito é produzido e ele precisa ser descartado
Maior barragem de rejeitos do Brasil

Barragem do Eustáquio (mineração de ouro), no Rio Paracatu - Minas Gerais;


Operação desde 2010;
Capacidade de 750 milhões de m³ 143 milhões de m³ já utilizados.
Estrutura de uma barragem de minérios

Instalações de
processamento Água

Rejeitos
Sólidos Contenção
Mistura de materiais
compactados (solo
argiloso, rejeito e
rocha)
Rompimento de barragem de rejeito
Ocore o impacto social, econômico e sobre a fauna e flora
silvestre de forma imensurável.

Perda de vidas humanas;


Aumento da incidência de doenças;
Redução da renda, da disponibilidade de empregos e de atividades
econômicas na região;
Redução da disponibilidade de água para a população e animais;
Degradação da paisagem e da qualidade da água;
Assoreamento e a alteração da vazão de cursos d’água;
Meio biológico afetado: destruição de áreas de reprodução de peixes,
Redução da área coberta por vegetação nativa;
Perda de biodiversidade.
Rompimento de barragem de rejeito

Causas:
Método de construção inadequado;
Falta de fiscalização efetiva por parte do
governo;
Ausência de legislação;
Desinformação e/ou desinteresse;
Interesse econômico exacerbado;
Ausência de um controle rigoroso por
parte da empresa proprietária.
Rompimento de barragem de rejeito

2001 – Nova Lima (MG): A Barragem dos Macacos, de rejeito de minérios da


mineradora Rio Verde, se rompeu, causando a morte de 5 pessoas no distrito de
São Sebastião das Águas Claras.

2003 – Cataguases (MG): Uma barragem de rejeitos industriais se rompeu,


contaminando o Rio Paraíba do Sul. Houve mortandade de animais e
desabastecimento de energia para uma população de mais de 600 mil pessoas.
2007 – Miraí (MG): Diques da mineradora Rio Pomba / Cataguases cederam e
despejaram rejeitos de minério nas águas no Rio Muriaé. Mais de 4 mil pessoas
ficaram desalojadas ou desabrigadas.

2014 – Itabirito (MG): Mineradora Herculano. O rompimento da barragem matou


três pessoas. Investigação da Polícia Civil apontou omissão na prevenção da
tragédia.

2015 – Mariana (MG): Uma das maiores tragédias da história brasileira. O


rompimento da barragem da Samarco deixou 19 mortos, milhares de
desabrigados e afetou todo o ecossistema da bacia do Rio Doce.

2019 – Brumadinho (MG): Pior tragédia da história brasileira. A barragem da Vale


deixou 272 mortos, milhares de desabrigados e provocou danos irreparáveis ao
meio ambiente: despejou 12 bilhões de litros de rejeitos na região.
ASPECTOS CONSTRUTIVOS
Terra Método da Linha Montante;
compactada -
(fundação e Método da Linha Jusante;
até 3
alteamentos) Método da Linha de Centro.

Uso do
próprio
rejeito como
material
construtivo
Espessador Hidrociclone
MÉTODO DA LINHA Para que o material lançado sirva de base
MONTANTE para um novo alteamento, exige-se que os
rejeitos contenham de 40 a 60% de areia

Brumadinho;
Mariana.
MÉTODO DA LINHA menor custo de construção;
MONTANTE maior velocidade de alteamento;
menores volumes na etapa de alteamento;
pouco uso de equipamentos de
terraplenagem.

menor coeficiente de segurança;


a superfície crítica de ruptura passa pelos rejeitos sedimentados, porém não
devidamente compactados;
há possibilidade de ocorrer entubamento;
há risco de ruptura provocado pela liquefação da massa de rejeitos;
MÉTODO DA LINHA
MONTANTE
Os rejeitos grossos são utilizados no
MÉTODO DA LINHA alteamento, e a barragem pode ser projetada
JUSANTE para grandes alturas, incorporando sempre,
neste alteamento, o sistema de
impermeabilização e drenagem.
maior segurança por alteamento controlado;
menor probabilidade de entubamento e de rupturas
MÉTODO DA LINHA
horizontais, em consequência da maior resistência ao
JUSANTE cisalhamento;
maior resistência a vibrações provocadas por sismos
naturais e vibrações em razão do emprego de
explosivos nas frentes de lavra;
instalação de sistema de drenagem e
impermeabilização, à medida que se processa o
alteamento.

custo mais elevado;


maior volume de material a ser movimentado e compactado;
menor velocidade de alteamento da barragem;
não possibilita a proteção com cobertura vegetal e tampouco drenagem superficial
durante a fase construtiva, devido à superposição dos rejeitos no talude de jusante;
Método intermediário;
MÉTODO DA LINHA DE Comportamento estrutural se aproxima do
CENTRO método da linha a montante;
MÉTODO DA LINHA
JUSANTE

facilidade construtiva;
o material para o alteamento pode vir de áreas de empréstimo, estéril ou
do underflow dos hidrociclones;
permite o controle da linha freática no talude de jusante;

a área a montante é passível de escorregamentos;


Características Geotécnicas
dos Rejeitos
Densidade in Situ

Bastante variável, situando-se na faixa entre 0,5 e 1,5 t/m³;


Em geral, por causa da compressibilidade dos rejeitos depositados
hidraulicamente, a densidade in situ aumenta com a profundidade.

Limites de Atterberg

A maior parte dos rejeitos resultantes dos processos de beneficiamento


mineral não possui plasticidade;
Os rejeitos dificilmente atingem índice de plasticidade acima de 25%.
Características Geotécnicas
dos Rejeitos
Índice de Vazios Inicial

G - peso específico dos sólidos secos; (LL) - limite de liquidez do material


expresso em porcentagem.

Consolidação ou Adensamento
A consolidação das frações finas existentes nos rejeitos pode levar até
dezenas de anos. Os materiais situados nas camadas mais profundas
possuem baixos índices de vazios ou elevadas densidades secas, enquanto
os mais próximos à superfície têm materiais com elevados índices de
vazios.
Características Geotécnicas
dos Rejeitos
Compressibilidade

Formação de camadas fofas, constituídas, geralmente, por grãos finos,


alongados e angulosos, o que resulta em materiais de elevada
compressibilidade.
Permeabilidade
Características Geotécnicas
dos Rejeitos
Permeabilidade

Resistência ao cisalhamento
Os ângulos de atrito destes materiais decrescem com o nível de tensão
aplicada, com valores na faixa de 35 a 40º, quando submetidos a tensões
baixas, atingindo 28 a 33º para tensões mais elevadas;
Materiais não coesivos
SEGURANÇA DE BARRAGENS

Política Nacional de Segurança de Barragens

garantir a segurança das barragens


classificar o potencial de risco de cada uma
definir responsabilidades para seus
empreendedores.

aborda questões relacionadas ao projeto


fechamento e fiscalização das barragens
prevenção de acidentes
minimizar os impactos negativos no meio ambiente
e nas comunidades ao redor.
Normas de Segurança

Norma ABNT NBR 13028/2017:


Define critérios e procedimentos para o projeto
de obras de barragens.

Norma ABNT NBR 14323/2013:


Estabelece procedimentos para o fechamento
de barragens de rejeitos.
Foca na segurança e minimização de impactos
ambientais.

Norma ABNT NBR 15849/2010:


Estabelece critérios para o fechamento de
barragens de acumulação de água.
Assegura a estabilidade e segurança.
Normas de Segurança

Política Nacional de Segurança de Barragens (Lei nº 12.334/2010):


Estabelece a Política Nacional de Segurança de Barragens.
Cria o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens (SNISB).
Institui a Agência Nacional de Águas (ANA) como órgão fiscalizador.

Resolução nº 143/2012 da Agência Nacional de Águas (ANA):


Define diretrizes gerais de segurança para barragens.
Classifica as barragens de acordo com o potencial de dano associado.
Atribui responsabilidades aos empreendedores para garantir a segurança das
barragens.

Resolução nº 726/2020 da Agência Nacional de Águas (ANA):


Regula a fiscalização de barragens.
Estabelece a aplicação de penalidades em casos de não conformidade com as
normas de segurança.
Lei 12.334/2010 de Segurança de Barragens no Brasil

Classificação de barragens

Responsabilidades dos empreendedores


Elaboração de Plano de Segurança de Barragens (PSB)


Revisão periódica do PSB


Cadastro Nacional de Barragens (CNARH)


Fiscalização e regulação

Participação da comunidade

Aspectos importantes
Lei 12.334/2010 Lei de Segurança de Barragens no Brasil

Altura do maciço: maior ou igual a 15 metros


Capacidade total do reservatório: 3.000.000 m2


Zona de autosalvamento

Zona de segurança secundária


Causas mais comuns de rupturas:

Piping (entubamento)
infiltração através do corpo da barragem, ao longo
das camadas de solo mais permeáveis.

Essa infiltração cria canais internos, que atuam como


tubos ou galerias, por onde a água flui

redução de sua capacidade de suportar o peso do


reservatório.

colapso da barragem

Causas mais comuns de rupturas:

Piping (entubamento) Galgamento


Aumento repentino da vazão.

Transbordamento sobre a crista:


Erosão superficial

Risco de ruptura:

Causas mais comuns de rupturas:


1. Solo Suscetível: O solo deve ser 3. Perda de Resistência: A pressão da água reduz a
composto por partículas finas, como força de contato entre as partículas do solo,
siltes e argilas resultando em uma perda temporária de

resistência

2. Aceleração Rápida: Eventos como 4. Efeitos na Estabilidade: A liquefação pode


terremotos ou acelerações rápidas comprometer a estabilidade das estruturas
sobrecarregam o solo construídas sobre o solo afetado.

SEGURANÇA DE BARRAGENS

Monitoramento constante (mesmo após a


desativação), com uso de diversos
instrumentos como:

Piezômetros;
Inclinômetros;
Medidores de recalque;
Marcos topográficos
dispositivo usado para medir inclinações ou deslocamentos em
estruturas, como barragens, edifícios, taludes, entre outros. Ele
Inclinômetro consiste em um sensor sensível à gravidade que fornece informações
precisas sobre o ângulo de inclinação em relação à vertical.
dispositivo usado para medir a movimentação vertical
ou deslocamento de uma estrutura em relação a um
Medidor de Recalque ponto de referência fixo. Ele é utilizado para monitorar e
registrar quaisquer mudanças ou deformações que
ocorram na estrutura ao longo do tempo
fundamentais para o monitoramento contínuo da estabilidade
da barragem e de possíveis deformações ao longo do tempo. Eles
Marcos permitem que os engenheiros comparem as medições
topográficas realizadas em diferentes períodos e identifiquem
topográficos qualquer movimentação ou deslocamento da estrutura.
dispositivos amplamente utilizados em barragens para monitorar os
níveis de água e a pressão hidrostática em diferentes pontos da
Piezômetros estrutura. Eles desempenham um papel fundamental na avaliação da
estabilidade e do comportamento hidrogeológico da barragem.
Referências
OLIVEIRA, J. de A. et al. Impactos socioambientais do rompimento de barragens de rejeitos de mineração no Estado de Minas Gerais.
DIsponível em: <https://doi.org/10.18378/rbga.v15i2.8364>. Acesso em jull 2023.

O SUL. Desde 2000, o Brasil tem um rompimento de barragem a cada dois anos. Disponível em: <https://www.osul.com.br/desde-2000-o-
brasil-tem-um-rompimento-de-barragem-a-cada-dois-anos-veja-lista/>. Acesso em jull 2023.

PODER 360. Brasil tem 1 milhão vivendo perto de barragens de risco. Escrito por: Deutsche Welle. Disponível em:
<https://www.poder360.com.br/brasil/brasil-tem-1-milhao-vivendo-perto-de-barragens-de-risco/)>. Acesso em jull 2023.

SOARES, L. Barragem de rejeitos. In: Tratamento de minérios, 5.ed. Rio de Janeiro: CETEM/MCT, 2010. Cap.19. p. 831-888. Disponível em:
<http://mineralis.cetem.gov.br/handle/cetem/769>. Acesso em jull 2023.

VisualiGEO - Visualizando Geociências. Barragens de rejeito. Youtube, 31 out. 2016. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?
v=A8D0BRVpD6w>. Acesso em jull 2023.

WEWNECK, M. de S. O que é e para que serve uma barragem de rejeitos?. 2019. DIsponível em: <https://www.ufabc.edu.br/artigos/o-que-e-
e-para-que-serve-uma-barragem-de-rejeitos#>. Acesso em jull 2023.
Geotecnologia Ambiental

OBRIGADA/O!

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