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IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)

VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)


São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Análise do Efeito da Reconstituição de Amostras em Propriedades


de Compressibilidade e Permeabilidade de Rejeitos de Mineração
de Bauxita
Helena Paula Nierwinski
Universidade Federal de Santa Catarina, Joinville, Brasil, helena.paula@ufsc.br

Marcelo Heidemann
Universidade Federal de Santa Catarina, Joinville, Brasil, marcelo.heidemann@ufsc.br

Amanda Reus
Universidade Federal de Santa Catarina, Joinville, Brasil, amandareus@hotmail.com

Pérside da Rosa Siviero


Universidade Federal de Santa Catarina, Joinville, Brasil, perside_siviero@hotmail.com

RESUMO: A atividade mineradora possui grande influência na economia brasileira. Atrelado ao


setor existe uma grande problemática relacionada à destinação dos subprodutos gerados durante o
beneficiamento dos minérios. Usualmente, os rejeitos são transportados por via aquosa e
depositados em barragens de contenção. Desta forma, a análise de propriedades de comportamento
destes materiais é imprescindível para o desenvolvimento de projetos seguros. Entretanto, em
muitas situações, a coleta de amostras indeformadas, que caracterizem a real condição in situ dos
rejeitos, acaba sendo inviabilizada através de métodos convencionais e, torna-se prática comum a
avaliação de propriedades em amostras reconstituídas. No presente trabalho teve-se por objetivo
caracterizar rejeitos de mineração provenientes de uma mina brasileira de extração de bauxita
avaliando-se os efeitos da reconstituição da amostra em propriedades de compressibilidade e
permeabilidade. Foram realizados ensaios de caracterização (granulometria com sedimentação,
limites de Atterberg, densidade real dos grãos e compactação) e definição de parâmetros de
permeabilidade e compressibilidade por meio de ensaios de adensamento. Utilizou-se, inicialmente,
um corpo de prova obtido de uma amostra indeformada coletada com o auxílio de um amostrador
Shelby e, posteriormente, moldou-se um corpo de prova reconstituído com os mesmos índices
físicos do corpo de prova indeformado. Ao final do estudo foi possível comparar as curvas de
adensamento e coeficientes de permeabilidade definidos ao longo do ensaio para ambos os corpos
de prova, além de se verificar possíveis efeitos de cimentação natural dos rejeitos, que não estão
reproduzidos no corpo de prova reconstituído.

PALAVRAS-CHAVE: Rejeitos de mineração, Amostragem, Permeabilidade, Compressibilidade.

ABSTRACT: The mining activity have a big influence in Brazilian economy. Attached to the
sector, there is a big problem related to the destination of byproducts generated during the ores
beneficiation. Usually, the tailings are transported by aqueous medium and deposited in a
containment dam. Therefore, the properties analysis of these materials behavior is indispensable for
safe projects development. However, in many situations, the collection of undisturbed samples,
which characterize the real in situ condition of a tailing, becomes unfeasible by conventional
methods, and then it is common the evaluation of properties in reconstitute samples. In the present
paper, the objective was to characterize mining tailings coming of a Brazilian mine of bauxite
extraction, evaluating the effects of remolded samples with properties of compressibility and
permeability. It were realized characterization tests (granulometry with sedimentation, A

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limit, grains real density and compaction), and definition of permeability and compressibility
parameters by densification test. First, it was utilized an undisturbed specimen, obtained through
Shelby sampler and, later, by a reconstituted specimen with the same physical indices as the
original specimen. At the end of study, it was possible to compare the density curves and
permeability coefficient defined throughout the test for both specimens, besides to verify possible
natural cementation effects of tailings, which are not reproduced in reconstituted specimen.

KEY WORDS: Mining tailings, Sampling, Permeability, Compressibility.

1 INTRODUÇÃO compressibilidade e permeabilidade,


verificando a existência de possíveis efeitos de
A mineração representa umas das principais cimentação natural presente em amostras
atividades econômicas do Brasil. Entretanto, indeformadas, mas que não existem em
apesar dos benefícios, há muitos impactos amostras reconstituídas.
negativos e danos decorrentes da exploração Nos itens a seguir é apresentada uma breve
mineral que produzem interferências no meio descrição do processo de produção dos rejeitos
social, econômico e ambiental. Diversos de bauxita e das metodologias de alteamento
acidentes relacionados a esta atividade fizeram- utilizadas para armazenamento destes produtos.
se presentes na história da mineração, e
considerável parcela está relacionada com o 1.1 Rejeito de mineração bauxita
rompimento de barragens utilizadas para
armazenamento de rejeito (Thomé and Passini, Dentre os metais não ferrosos, o alumínio é o
2018). material mais utilizado. Sua aplicação em
Diante desta realidade, o conhecimento transportes, construção civil e eletroeletrônicos
adequado das propriedades deste material vem se destacando nas últimas décadas (Zhang
peculiar é indispensável tanto para o et al., 2016).
desenvolvimento de projetos seguros, quanto A principal fonte para a produção do
para previsão de comportamento de estruturas alumínio é a bauxita, onde cerca de 90% da
já implantadas (Bedin, 2010; Nierwinski, 2013). alumina produzida é destinada à indústria do
Os ensaios de laboratório contribuem alumínio metálico. O minério é um material
fundamentalmente com a definição destas heterogêneo constituído por uma mistura de
propriedades, desde que retratem as condições hidróxidos de alumínio hidratados com
reais dos rejeitos no interior dos reservatórios. impurezas (Constantino et al., 2002). Seu
Neste contexto, um dos maiores desafios da beneficiamento é realizado em duas etapas:
técnica corresponde à extração de amostras britagem para a redução granulométrica, e
indeformadas, que muitas vezes não é possível purificação para obtenção da alumina. O
de ser realizada através de métodos método mais utilizado para o refinamento é
convencionais. Rezende (2013) demonstra a processo de Bayer (Tutmez, 2018).
utilização de métodos de congelamento para A partir deste processo é produzido o rejeito
extração de amostras indeformadas de rejeito de de mineração de bauxita, que é composto por
mineração de ferro, que embora tenha se óxidos insolúveis de ferro, quartzo,
mostrado eficaz do ponto de vista técnico, ainda aluminossilicatos de sódio, carbonatos e
é inviável economicamente. aluminatos de cálcio e dióxido de titânio, em
Na grande maioria dos projetos envolvendo quantidade que variam com a geologia do local
rejeitos de mineração são utilizadas amostras de extração do minério (Bedin, 2010).
reconstituídas para determinação de parâmetros
de comportamento. Neste contexto, o presente 1.2 Disposição dos Rejeitos
trabalho tem por objetivo avaliar a interferência
da reconstituição de uma amostra de rejeito de A disposição dos rejeitos de mineração,
mineração de bauxita nas propriedades de rotineiramente, é feita em reservatórios contidos

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por barragens ou diques, podendo ser ocorridos no final do século XX e início do
construídos de solo natural ou com o próprio século XXI estão relacionados com estruturas
rejeito. O transporte do local de produção até o alteadas com método de montante. Por este
ponto de disposição usualmente ocorre por via motivo, o conhecimento das propriedades dos
aquosa, o que torna o material altamente rejeitos depositados é imprescindível para o
saturado e com altos índices de vazios desenvolvimento de projetos seguros.
(IBRAM, 2016). Esta característica é
observada no depósito do qual foi extraído o
rejeito estudado nesta pesquisa. 2 PROGRAMA EXPERIMENTAL
O custo da disposição, atrelado ao grande
volume de rejeitos gerado tornam o método de O programa experimental constituiu-se na
alteamento de barragens atrativo, pois o realização de ensaios de caracterização básica
investimento é diluído em etapas, conforme a do rejeito de mineração de bauxita e ensaios de
necessidade de armazenamento do material adensamento. Todos os ensaios foram
(Nierwinski, 2013). realizados no Laboratório de Mecânica dos
O alteamento de barragens pode ser Solos da Universidade Federal de Santa
executado por três diferentes métodos: método Catarina (UFSC), campus Joinville/SC.
de montante, jusante ou linha de centro. Os Para a caracterização geotécnica do rejeito
quais se diferenciam pelo deslocamento do eixo foram realizados os seguintes ensaios:
da barragem em relação ao dique de partida granulometria com sedimentação, limites de
(IBRAM, 2016). Atterberg (limite de liquidez e de plasticidade)
O método mais utilizado pelas mineradoras é com secagem prévia, densidade real dos grãos e
o de alteamento à montante (Figura 1), por ser o compactação. Estes ensaios seguiram as
mais econômico e fácil de executar. Este é, no prerrogativas de suas respectivas normas, NBR
entanto, o que proporciona menor estabilidade 7181 (ABNT, 2017), NBR 6459 (ABNT, 2017),
quando comparado com os outros dois métodos NBR 7180 (ABNT, 2016), NBR 6458 (ABNT,
(Nierwinski, 2013). O alteamento é realizado 2016), NBR 7182 (ABNT, 2016), e as amostras
sobre o material de rejeito previamente foram preparadas de acordo com a NBR 6457
depositado e não consolidado, que quando (ABNT, 2016). Para o ensaio de compactação
combinado com a situação de saturação, faz foi utilizado o cilindro pequeno, com reuso de
com que os rejeitos tendam a apresentar baixa material e a energia Proctor Normal.
resistência ao cisalhamento e predisposição para Foram executados dois ensaios de
ocorrência do fenômeno de liquefação, pelo adensamento, seguindo-se todas as diretrizes da
aumento de poropressões internas (Cardozo et ABNT 12007 (1990). As cargas foram
al., 2016). transmitidas em estágios, cujas cargas aplicadas
eram dobradas a cada 24 horas. Durante todos
os estágios a variação da altura do corpo de
prova foi monitorada em períodos de tempo,
conforme indicados pela norma. Após os
estágios de carregamento, realizou-se o
descarregamento, em períodos reduzidos, até
que atingisse a estabilização das deformações.
Para este ensaio utilizaram-se corpos de prova
com diâmetro de 5 cm, e altura de 2 cm.
O primeiro ensaio foi executado em uma
amostra indeformada, coletada com auxílio de
Figura 1 - Estrutura do barramento à montante. (Fonte: um amostrador do tipo Shelby, no interior de
Cardozo et al., 2016). um reservatório de rejeitos de mineração de
bauxita brasileiro, a uma profundidade
De acordo com Thomé e Passini (2018) aproximada de 3 metros.
quase metade dos acidentes com barragens Já para o segundo ensaio de adensamento,

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foi utilizada uma amostra reconstituída do 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
material coletado, buscando reproduzir as
mesmas características da amostra indeformada. Neste item serão apresentados e discutidos os
O comparativo entre os índices físicos da resultados obtidos em cada ensaio.
amostra indeformada e reconstituída estão
apresentados na Tabela 1. Observa-se que 3.1 Ensaios de Caracterização
embora eles não tenham sido idênticos, há uma
boa similaridade entre os índices de vazios A curva granulométrica do rejeito de mineração
obtidos, com uma diferença menor que 1%, o de bauxita, obtido por meio de peneiramento e
qual no entendimento dos autores permite um sedimentação, sendo apresentada na Figura 2.
bom comparativo entre as amostras ensaiadas. Em análise à curva granulométrica do rejeito
de mineração de bauxita, pode-se perceber uma
Tabela 1. Índices físicos das amostras grande concentração de partículas do tamanho
de silte, cerca de 62% da amostra total. Outra
Amostra n e
(g/cm3) parcela significativa é a de partículas do
Indeformada 1,733 1,213 tamanho de argila, correspondente a
Reconstituída 1,727 1,202 aproximadamente 26% da amostra. O restante,
cerca de 12%, podem ser caracterizadas como
Para a reconstituição da amostra foi utilizada partículas do tamanho de areia fina.
a metodologia proposta por Lade (1978),
moldando-se corpos de prova em camadas de
solo com peso pré-definido. O teor de umidade
adotado para a moldagem foi a umidade ótima,
obtida através do ensaio de compactação. A
adoção deste valor de umidade permite uma boa
qualidade da compactação e homogeneidade do
corpo de prova. Além disso, a umidade ótima
obtida para o material foi muito próxima à
umidade natural do mesmo, de 33% (wnat).
Durante os estágios de carregamento e
descarregamento foram realizadas leituras de
deformação dos corpos de prova, que
permitiram a análise das propriedades de
compressibilidade do rejeito. Além disso,
durante os estágios de carga foram realizadas Figura 2. Curva granulométrica do rejeito de mineração
leituras que permitiram a determinação do de bauxita.
coeficiente de permeabilidade do rejeito durante
a aplicação das cargas. Esta definição foi Ao se realizar o ensaio de Limite de
possível por meio de uma bureta graduada, Liquidez (wL) percebeu-se que o rejeito de
devidamente acoplada à célula de adensamento. mineração de bauxita apresentava grande
Os ensaios nos dois corpos de prova foram interação com a água, sendo que um acréscimo
realizados de forma idêntica, para que fosse muito pequeno de água alterava completamente
possível a comparação entre os resultados o comportamento do rejeito. Logo, foram
obtidos. necessárias várias tentativas para a
Foi possível, com os resultados, obter uma caracterização adequada do material. Em
comparação entre os valores da tensão de pré- função da redução da quantidade de água, estes
adensamento, do coeficiente de permeabilidade mesmos efeitos não foram observados na
e coeficiente de adensamento, entre duas determinação do Limite de Plasticidade (wP).
amostras. Assim, o valor de wL foi determinado como
sendo igual a 32,19% e o valor de wP foi de
29,86%. Com os dados de wL e wP, determinou-

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se o índice de plasticidade (IP), que foi de reconstituído com características idênticas ao
2,33%, o que caracteriza o material como indeformado, as curvas apresentaram bastante
fracamente plástico. Este resultado está de similaridade quando comparadas. A amostra
acordo com este tipo de material, que provém reconstituída apresentou um índice de vazios
de um processo industrial, com adição de sensivelmente inferior ao da amostra
elementos químicos. Em estudo realizado por indeformada e como consequência, sua
Bedin (2010) não são identificados deformabilidade foi ligeiramente inferior,
argilominerais na composição de rejeitos de atingindo ao final do carregamento máximo um
bauxita. Portanto, as características de índice de vazios superior ao atingido pela
plasticidade aqui encontradas, possivelmente amostra indeformada.
sejam resultantes da reação da água com Além disso, foi observada uma leve
elementos químicos, advindos do processo de mudança na inclinação da reta virgem, sendo a
beneficiamento do minério de bauxita. reta do corpo de prova reconstituído menos
Os resultados dos ensaios de densidade real inclinada que a do material indeformado. Este
dos grãos e compactação são apresentados na fato pode estar relacionado à maior
Tabela 2. Observa-se que o rejeito apresenta um homogeneidade de propriedades obtida no
valor de G alto, típico de materiais com corpo de prova reconstituído.
presença de minérios metálicos, como o
alumínio. Em contrapartida, o peso específico
aparente seco obtido foi baixo e a umidade
ótima foi alta, valores estes similares a
resultados encontrados para solos argilosos,
para os quais Sousa Pinto (2006) cita uma
variação de dmáx entre 15 e 14 kN/m³ e umidade
entre 25 e 30%.

Tabela 2. Índices físicos da bauxita

G dmáx wótima
(kN/m3) (%)
2,88 14,2 32,22
Figura 3. Curvas de adensamento.
Além de contribuir para a caracterização do A partir da interpretação das curvas
rejeito, o ensaio de compactação forneceu os apresentadas na Figura 3, determinou-se a
dados de umidade ótima para obter maior tensão de pré-adensamento e o índice de
homogeneidade no momento da reconstituição compressão. Os valores estão apresentados na
da amostra. Conforme comentado Tabela 3. Salienta-se que o rejeito de mineração
anteriormente, como a umidade ótima obtida foi de bauxita é um material proveniente de um
muito próxima à umidade natural de 33%, a processo industrial e que possivelmente não
adoção deste valor mantém boa concordância tenha o mesmo comportamento que uma argila
entre as amostras indeformada e reconstituída. com relação ao histórico de tensões. Entretanto,
acredita-se que a análise dos valores de tensão
3.2 Ensaios de Adensamento de pré-adensamento, fornecidos pelo ensaio,
pode retratar algum efeito de cimentação in situ
3.2.1 Curva de Adensamento ocasionada pelos elementos químicos e licor,
advindos do processo de beneficiamento. Em
Obteve-se, por meio dos ensaios nos corpos de estudo prévio, Bedin (2010) demonstra através
prova indeformado e reconstituído, as curvas de de análise por microscopia eletrônica de
adensamento apresentadas na Figura 3. varredura (MEV), seguida da técnica EDX, que
Observa-se que, embora não se tenha o rejeito de bauxita apresenta em sua
conseguido moldar o corpo de prova composição elementos como sódio (14,33%),

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alumínio (16,85%), silício (12,58%), cálcio carregamentos.
(2,86%), titânio (6,70%) e ferro (46,65%). A Segundo Vick (1983) a curva de
concentração de sais como sódio e cálcio é adensamento de rejeitos nem sempre é de fácil
consequência do processo de beneficiamento interpretação, é complicado obter clara
com adição sulfeto de sódio (Na2S) e óxido de distinção entre o trecho de recompressão e reta
cálcio (CaO), os quais podem interferir no virgem, por isso não foi realizado a análise do
comportamento das amostras avaliadas. índice de recompressão (cr).

Tabela 3. Tensão de pré-adensamento e coeficientes 3.2.2 Coeficiente de Adensamento


angulares
A variação dos valores do coeficiente de
Amostra vm
(kPa)
Cc adensamento (cv) em função do índice de
vazios, para ambos os corpos de prova, está
Indeformada 80 0,251
representada na Figura 4. Estes valores foram
Reconstituída 47 0,194 determinados em diferentes estágios de carga
do ensaio de adensamento, utilizando-se do
Em análise aos resultados resumidos na método de Taylor, citado pela NBR 12007
Tabela 3, pode-se perceber que o valor (ABNT, 1990).
encontrado para a tensão de pré-adensamento
do corpo de prova indeformado é maior que
aquele encontrado para o corpo de prova
reconstituído. Este resultado pode ser um
indicativo de eventuais efeitos de cimentação e
interação química entre os componentes, que
não foram possíveis de ser reproduzidos no
corpo de prova reconstituído. Neste a tensão de
pré-adensamento obtida parece não ter sentido
físico, mas é apenas resultado da forma com
que se exprimem os resultados (escala
logarítmica). Reforça-se que esta análise foi
realizada com intuito de verificar diferenças
devido ao efeito de cimentação. Figura 4. Linha de tendência do coeficiente de
A leve diferença na inclinação da reta adensamento
virgem entre as curvas de adensamento dos
corpos de prova indeformado e reconstituído, Em análise aos dados da Figura 4, observa-se
conforme comentado anteriormente, resultou que em condição reconstituída o rejeito
numa variação no índice de compressão (cc) apresenta valores do coeficiente de
entre os corpos de prova. O índice de adensamento, cerca de três vezes maiores em
compressão encontrado foi levemente superior relação ao valor apresentado pela amostra
no material indeformado, o que pode se indeformada, embora estejam dentro da mesma
justificar pelo fato de o corpo de prova ordem de grandeza (10-2 cm²/s). Estes
indeformado possuir um índice de vazios inicial resultados se contrapõem ao fato de o corpo de
um pouco superior ao do reconstituído e prova reconstituído possuir um índice de vazios
também pelo fato de o corpo de prova menor que o indeformado. A fim de se realizar
indeformado estar em condições naturais, uma avaliação mais criteriosa, buscou-se
podendo representar a heterogeneidade presente verificar o comportamento de variação de altura
nos reservatórios de rejeitos. Além disso, vale dos corpos de prova ao longo do tempo, para
salientar que a amostra indeformada estava com diferentes estágios de carga. A Figura 5 ilustra
os vazios preenchidos pelo licor do processo de este comparativo para um mesmo estágio de
beneficiamento, que pode alterar o carga (100 kPa). Observa-se que o corpo de
comportamento do material quando submetido a prova indeformado sofre uma variação de altura

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bem menos pronunciada do que o reconstituído. deformação do corpo de prova e por
Acredita-se que este comportamento possa estar consequência a saída de água pode se tornar
relacionado a uma possível cimentação natural mais lenta.
existente na amostra indeformada, que não foi
reproduzida no corpo de prova reconstituído, 3.2.3 Coeficiente de Permeabilidade
conforme discutido no item 3.2.1 deste trabalho.
A variação do coeficiente de permeabilidade (k)
pelo índice de vazios dos corpos de prova
indeformado e reconstituído está representada
na Figura 6.

Figura 5. Variação da altura do corpo de prova pelo


tempo para amostra indeformada e reconstituída

Acredita-se que o processo de reconstituição,


no qual o material que estava no tubo Shelby foi
submetido à secagem em estufa e, adição de Figura 6. Curva do coeficiente de permeabilidade
água destilada para atingir uma umidade
próxima da ótima, possa ter quebrado a Observa-se que inicialmente os valores de k
estrutura que o rejeito possuía em campo são maiores para o corpo de prova
(cimentação), facilitando a acomodação das reconstituído, assim como ocorreu na análise de
partículas quando submetidas ao carregamento. cv. Posteriormente os valores tendem a se
Outro aspecto que poderia afetar este aproximar, o que também foi observado nos
comportamento é o fato de que a amostra valores de cv. Acredita-se que após ocorrer a
indeformada tem os vazios preenchidos pelo quebra da cimentação natural do material
licor, proveniente do processo de adensamento. indeformado, ambas as amostras tendem ao
Já no corpo de prova reconstituído foi utilizado mesmo comportamento.
água destilada para se atingir a umidade
adequada à moldagem do mesmo. Quando 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
submetido ao carregamento, o líquido presente
nos vazios do rejeito é pressionado para que Os rejeitos de mineração são materiais
saia e as deformações sejam geradas. peculiares e que merecem atenção especial,
Eventualmente, o licor presente nos vazios do principalmente pela alta ocorrência de acidentes
corpo de prova indeformado poderia ter em estruturas de armazenamento dos mesmos.
propriedades químicas específicas ou até Neste trabalho investigou-se a influência da
desenvolver interações com os grãos do reconstituição, como técnica de preparação de
material, gerando uma maior dificuldade de corpos de prova, sobre o comportamento
percolação (aumento do tempo de dissipação de geotécnico de rejeitos de mineração de bauxita
poropressões). Segundo Singh (1996), Hoegetal em termos de compressibilidade e adensamento.
(2000), Wijewickreme e Sain (2011) a Com base em resultados de ensaios
estruturação ocasiona a diferenciação entre as realizados em corpos de prova indeformado e
amostras, ou seja, em uma amostra indeformada reconstituído, verificaram-se fortes indícios da
o arranjo das partículas pode dificultar a existência de estruturação natural na amostra

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indeformada, e que não são possíveis de ser Cardozo, F. A. C.; Pimenta, M. M.; Zingano, A. C.
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VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)
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Avaliação de Características de Resistência à Compressão e


Durabilidade de Misturas Compactadas de Rejeito de Mineração
de Bauxita e Cimento
Helena Paula Nierwinski
Universidade Federal de Santa Catarina, Joinville, Brasil, helena.paula@ufsc.br

Marcelo Heidemann
Universidade Federal de Santa Catarina, Joinville, Brasil, marcelo.heidemann@ufsc.br

Ana Carolina de Souza Martins


Universidade Federal de Santa Catarina, Joinville, Brasil, ana.carolinarila@gmail.com

Amanda Reus
Universidade Federal de Santa Catarina, Joinville, Brasil, amandareus@hotmail.com

RESUMO: Alternativas de melhoramento de propriedades de solos com a adição de materiais


estabilizantes, como cimento e cal, vêm ganhando destaque em pesquisas, principalmente com o
intuito de dar uso a solos, muitas vezes, considerados de baixa qualidade geotécnica. Neste
contexto, o presente trabalho tem por objetivo investigar o impacto da adição de cimento em
propriedades de resistência e durabilidade de corpos de prova compactados de rejeito de mineração
de bauxita. São analisadas misturas de rejeito de mineração de bauxita com cimento, variando-se a
densidade da amostra e os teores de cimento adicionado. A quantidade de cimento adicionada ao
corpo de prova foi em substituição em peso de uma pequena parcela de rejeito. As características de
resistência foram avaliadas por meio de ensaios de compressão simples, em corpos de prova com
dimensões de 5 x 10 cm. Já a durabilidade foi analisada através de 12 ciclos de umedecimento e
secagem, seguindo-se as diretrizes da ASTM D559, em corpos de prova de 10 x 12,7 cm. Foi
possível correlacionar a resistência à compressão simples com a densidade e teores de cimento e,
também, a porcentagem de perda de massa acumulada em cada ciclo de secagem e umedecimento,
para a condição mais crítica de cimentação, com as diferentes densidades.

PALAVRAS-CHAVE: Rejeito de mineração, Cimento Portland, Resistência à compressão,


Durabilidade.

ABSTRACT: Alternatives to improve soil properties with the addition of stabilizing materials such
as cement and lime is bringing the attention of researches, mainly with the intention of giving use to
soils often considered of low geotechnical quality. In this context, this work has the aim of
investigating the impact of cement addition on properties of strength and durability of bauxite
mining tailings compacted specimens. Mixtures of bauxite mining tailings with cement are analyzed
by varying the sample density and cement content. The amount of cement added to the specimen
was defined by replacing a small amount of tailings. The strength characteristics were evaluated by
simple compression tests conducted in 5 x 10 cm specimens. The durability was analyzed through
12 cycles of wetting and drying, following ASTM D559, in 10 x 12,7 cm specimens. It was possible
to correlate the strength to simple compression with the density and cement contents and, as well as
the percentage of loss accumulated mass in each cycle of drying and wetting, for the most critical
cementation condition, for different densities.

KEY WORDS: Mining tailing, Portland Cement, Compression strength, Durability.

REGEO/Geossintéticos 2019, São Carlos/SP, Brasil.


1 INTRODUÇÃO A bauxita é o minério a partir do qual se produz
a alumina, usada para a produção do alumínio
Os minerais por possuírem diversas finalidades metálico. Este, por sua vez, é aplicado em
importantes, seja na indústria do aço, indústria diversos setores da indústria, que vão desde
cerâmica, construção civil ou entre outras, sua bens de consumo à utilização na construção
produção vem sendo cada vez mais requerida. civil. Segundo Antunes (2012), o minério de
No entanto, o processo de beneficiamento bauxita é constituído essencialmente por
desses minerais produz partículas sem valor hidróxidos de alumínio, óxidos e hidróxidos de
comercial ou qualquer utilidade nomeados ferro e outros elementos. A sua coloração pode
rejeitos. Por questões ambientais, esses rejeitos variar entre o vermelho, amarelo e branco
necessitam ser devidamente descartados e (SANTOS, 1989).
armazenados em locais próprios, sendo este Para o refino da bauxita e produção de
depósito, frequentemente, realizado por meio de alumina, utiliza-se o método denominado de
barragens de rejeitos. Processo Bayer, sendo uns de seus pontos
Relatos de rompimentos e instabilidades em essenciais, a dissolução da alumina e a
barragens de rejeito tem sido recorrentes, separação dos resíduos insolúveis. De acordo
envolvendo não só perdas econômicas, mas, com Bedin (2010), a primeira etapa do processo
também, possíveis perdas humanas (AGÊNCIA constitui-se na digestão, onde ocorre a moagem
BRASIL, 2015). Segundo o Ibama (2015), o da bauxita e a mistura à uma solução cáustica
recente episódio de rompimento da barragem de de hidróxido de sódio (NaOH). Em seguida,
rejeitos de ferro, localizada no distrito de ocorre a etapa de clarificação, ou seja,
Mariana, no estado de Minas Gerais, resultou na separação dos resíduos insolúveis: rejeitos e
degradação da fauna e da flora, principalmente precipitação parcial da alumina.
a bacia do Rio Doce, além de ceifar vidas A composição química dos rejeitos de
humanas. mineração de bauxita varia em relação às
Devido a essas catástrofes e incidentes, impurezas existentes no mineral de origem e
métodos de aproveitamento ou recuperação de como foi o seu comportamento durante o ataque
rejeitos de mineração vem sendo estudados, com a solução cáustica (SILVA et al., 2008).
além da investigação por métodos de melhoria
da estabilidade dessas estruturas. 2.2 Melhoramento de Solos
A alternativa de aproveitamento dos rejeitos
de mineração, poderia reduzir a quantidade de Segundo Tomasi (2018), para um tratamento de
material estocada por meio de barragens, melhoria de propriedades de um solo, é de
reduzindo alturas de alteamento e, com isso, extrema importância a escolha correta do tipo
contribuindo com a estabilidades das mesmas. de agente que será incorporado.
Neste sentido, o presente trabalho tem como Mateos (1964) afirma que a maioria dos
objetivo avaliar a influência da adição de estudos com agentes cimentantes, utilizando o
cimento em propriedades de resistência e cimento como o principal estabilizante da
durabilidade de corpos de prova compactados mistura, demonstraram bons resultados para
de rejeito de mineração de bauxita. Através de diferentes tipos de solos estudados. Uma das
ensaios experimentais busca-se averiguar a grandes vantagens da utilização do cimento, de
possibilidade de uso do material tratado em acordo com o autor, seria um ganho rápido da
pequenas obras ou reforço das próprias resistência máxima da mistura em um intervalo
estruturas de contenção (barragens de rejeito). curto de tempo.
Rosa (2010) afirma que uma quantidade
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA moderada de testes laboratoriais são necessários
para se derterminar a melhor dosagem do
2.1 Rejeito de Mineração de Bauxita cimento, de tal forma, que sejam atendidas as
premissas de projeto.

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2.3 Durabilidade específicos de ensaios são apresentados nos
itens a seguir.
De acordo com Marcon (1977), a durabilidade
pode ser definida como a maneira como o 3.1 Ensaio de Resistência à Compressão
material se comporta, em termos de integridade Simples
de sua estrutura, considerando as condições às
quais é exposto. Os corpos de prova utilizados no ensaio de
O ensaio de durabilidade é justamente uma resistência à compressão simples foram
forma avaliativa, por meios laboratoriais, de moldados com 50 mm (diâmetro) por 100 mm
como o material se comporta quando submetido (altura). A dosagem do cimento foi realizada
a intempéries ou outros agentes que atuam no em substituição parcial de material seco,
meio, ao qual é exposto. As etapas e utilizando-se diferentes porcentagens de
procedimentos para a realização do ensaio são subtituição por cimento e diferentes valores de
apresentados pela norma ASTM D559/2003. densidade seca ( d).
A norma prescreve o método para a Inicialmente, seguindo-se premissas
determinação de perda de massa, variação de econômicas, foram definidos pelos autores, três
umidade e variação de volume, produzidos por valores iniciais de porcentagem de substituição
ciclos de molhagem e secagem, de corpos-de- de material por cimento, sendo eles: 3%, 5% e
prova, de misturas solo-cimento (NOVAES, 7%.
2016). Após a elaboração das amostras para estas
dosagens específicas, evidenciou-se que para as
2.4 Resistência à Compressão Simples misturas realizadas com 3% e 5% de
substituição por cimento, na etapa de saturação
O ensaio de resistência à compressão simples é prévia à ruptura por compressão, como é
utilizado para averiguar o aumento da previsto em norma, os corpos de prova, de todas
resistência de um material quando incorporado as densidades testadas, dissolveram-se
um agente cimentante. completamente.
Segundo Novaes (2016), alguns dos grandes Devido à inviabilidade de realização dos
pontos favoráveis da utilização desta ensaios para os valores iniciais, previamente
metodologia são: i) a rapidez na execução, ii) definidos, foram estabelecidos novos valores de
baixo custo,e iii) a facilidade de realização das porcentagem de substituição por cimento, sendo
etapas. Deve-se ressaltar também o grande eles: 7%, 9% e 11%. Tais valores permitiram
número de pesquisas já realizadas, com que todo o processo previsto em norma fosse
materiais cimentados, que utilizaram esse tipo seguido de forma satisfatória, mantendo-se a
de ensaio. integridade dos corpos de prova.
Para a realização do ensaio de compressão Por meio do ensaio de compactação (Proctor
simples, segue-se a norma americana ASTM Normal), definiu-se a densidade seca máxima
D5102/1996, utilizando-se uma prensa ( dmax) do rejeito de mineração de bauxita,
automática, com um anel dinamométrico obtendo-se um valor de 1,32 g/cm³. A partir
calibrado. deste valor foram definidos três valores de
densidade seca ( d) para as misturas de rejeito e
3 METODOLOGIA DE PESQUISA cimento, conforme apresentado pela Tabela 1.
De acordo com a NBR 5738 (ABNT, 2015),
Os ensaios de resistência à compressão simples para cada dosagem definida é necessária a
e durabilidade de misturas de rejeito de bauxita, moldagem de três corpos de prova, para uma
com a inserção de cimento, foram realizados melhor confiabilidade dos resultados. Sendo
junto ao laboratório de Mecânica dos Solos da assim, para satisfazer a dosagem apresentada na
Universidade Federal de Santa Catarina Tabela 1, foi necessária a moldagem de 45
(UFSC), do Centro Tecnológico de Joinville (quarenta e cinco) corpos de prova.
(CTJ). A metodologia adotada e procedimentos

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Tabela 1. Dosagem definida para moldagem dos corpos sequência, os corpos de prova foram rompidos
de prova. com o auxílio de uma prensa automática.
d
% de cimento 3.1 Durabilidade
(g/cm3)
1,20
7 1,25 Para a realização do ensaio de durabilidade da
1,30 mistura de rejeito e cimento, seguiram-se as
1,20 premissas da norma D559 (ASTM, 2003)
9 1,25
1,30
(Standard Test Methods for Wetting and Drying
1,20 Compactes Soil-Cement), utilizando-se corpos
11 1,25 de prova com 10 cm de diâmetro e 12,7 cm de
1,30 altura.
Como a propriedade de durabilidade visa
As etapas de moldagem dos corpos de prova avaliar a influência do meio na degradação do
seguiram as premissas da norma NBR 5738 solo melhorado, para este estudo a propriedade
(ABNT, 2015). Para a realização da moldagem de durabilidade foi avaliada apenas para os
das amostras foi utilizado um molde bipartido, corpos de prova com o menor teor de cimento,
confeccionado em alumínio, especialmente para ou seja, 7%. As três densidades diferentes
esta pesquisa, conforme apresentado pela foram avaliadas.
Figura 1. As duas partes independentes que Após a moldagem, os corpos de prova foram
compõe o molde auxiliam a desmoldagem do deixados em umidade constante para cura
corpo de prova final. durante sete dias, antes de se iniciar as etapas
do ensaio de durabilidade propriamente dito.
De acordo com a ASTM D559/2003, para a
realização do ensaio de durabilidade é
necessária a realização de 12 ciclos de secagem
e umedecimento, com duração de 48 (quarenta
e oito) horas cada ciclo. As etapas que
constituem cada ciclo de secagem e
umedecimento são apresentadas na Tabela 2.

Tabela 2 Etapas constituintes dos ciclos de secagem e


umedecimento

Duração
Etapa
(h)
Imersão dos corpos de prova em água 5,0
Secagem em estufa (71° C) 42,0
Intervalo para escovação e pesagem 1,0

Figura 1. Molde bipartido utilizado para moldagem dos


corpos de prova. Conforme apresentado na Tabela 2, após
umedecimento e secagem do corpo de prova,
Finalizada a etapa de moldagem, os corpos segue a etapa de escovação e pesagem do corpo
de prova foram deixados em ambiente úmido de prova. A escovação é feita por meio de uma
para a cura, conforme é determinado pela NBR escova com cerdas metálicas, imprimindo uma
5738 (ABNT, 2015), durante um período de 7 pressão constante, de acordo com as indicações
dias. previstas em norma, em todo o faceamento
Decorrido o tempo de cura, durante as 24 externo do corpo de prova, conforme demonstra
horas antecedentes ao ensaio de resistência, os a Figura 2. Nesta etapa é possível determinar a
corpos de prova foram deixados em imersão em quantidade de material perdida pelo corpo de
água, para completa saturação dos mesmos. Em prova em cada um dos ciclos.

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4 RESULTADOS De um modo geral, verifica-se que o aumento
da densidade, por menor que seja, contribui
4.1 Ensaio de Resistência à Compressão para o aumento da resistência.
Simples Os valores de resistência obtidos para as
misturas com densidade de 1,20 g/cm³ estão em
Após ruptura dos corpos de prova, foi possível torno de 220 kPa, para teores de cimento de 7%,
determinar a resistência máxima à compressão 260 kPa para teores de 9% e 330 KPa para
simples (qu) para cada um deles. A Figura 3 teores 11% de cimento, sendo identificada
ilustra os valores de qu relacionados aos três pouca influência do agente cimentante no
teores de cimento ensaiados, bem como, em acréscimo destes valores.
relação às três diferentes densidades. Para a densidade de 1,25 g/cm³ observaram-
se valores de resistência de 450 kPa, para teores
de cimento de 7%, atingindo cerca de 570 kPa,
para 9% de cimento, e em torno de 700 kPa,
para teores de cimento de 11%. Neste caso, o
aumento do teor de cimento teve papel
fundamental no incremento da resistência.
Por fim, para a densidade de 1,30 g/cm³, o
comportamento de crescimento da resistência
em função dos teores de cimento foi similar ao
observado para os corpos de prova com
densidade de 1,25 g/cm³, embora se verifiquem
valores superiores de resistência para cada teor,
consequência do aumento da densidade. Para o
teor de cimento de 7% foi obtida uma
resistência em torno de 630 kPa, para 9% em
torno de 800 kPa e para 11% atingindo uma
Figura 2. Etapa de Escovação e Pesagem do Corpo de
resistência média em torno de 960 kPa.
prova.

A partir dos valores pontuais de resistência,


obtidos através dos ensaios, foi possível
determinar uma tendência linear de crescimento
da resistência de acordo com o teor de cimento,
para todas as densidades avaliadas. Entretanto,
observa-se que o crescimento de resistência em
função do aumento do teor de cimento é mais
pronunciado para os valores de d de 1,25 e 1,30
g/cm³. Possivelmente nas dosagens com
densidades maiores houve uma maior iteração
entre a partícula de rejeito e o cimento,
acarretando num aumento de resistência.
Observa-se, que as linhas de tendência que
representam o comportamento de ganho de
resistência para os corpos de prova moldados
com d de 1,25 e 1,30 são praticamente lineares, Figura 3. Relação entre resistência à compressão simples
dependentes apenas da densidade do material. (qu) e teor de cimento (%) para cada valor de densidade
Já a linha de tendência obtida para os corpos de d) avaliada.

prova com d de 1,20 apresenta inclinação


menor, demonstrando menor ganho de A análise da Figura 3 mostra que, embora
resistência com o aumento do teor de cimento. sejam necessários teores mais elevados de

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cimento, em densidades próximas à densidade vazios presente nesta mistura. A perda de
máxima do material, a resistência do rejeito de material atingiu cerca de 13,6% no último ciclo,
mineração de bauxita é consideravelmente considerando a massa inicial do corpo de prova.
melhorada com a adição de cimento. d= 1,25 g/cm³,
ocorreu uma porcentagem de perda similar ao
4.2 Durabilidade do corpo de prova com d =1,2 g/cm³ nos dois
primeiros ciclos de secagem e umedecimento,
Durante o ensaio de durabilidade, os corpos de reduzindo a perda nos próximos ciclos. Para
prova foram submetidos a ciclos de imersão este corpo de prova observou-se uma perda de
total do corpo de prova em água e, em seguida material em torno de 9,8% no último ciclo,
levados a estufa para secagem dos mesmos. considerando a massa inicial do corpo de prova.
Após cada uma destas etapas, os corpos de d= 1,3 g/cm³, verificou-se
prova foram pesados e submetidos à escovação, a menor perda de percentual de massa,
na qual foi possível se determinar a perda de observando-se uma redução significativa
massa em cada ciclo. quando comparada ao corpo de prova com d
A perda de massa acumulada ao longo de =1,25 g/cm³. A porcentagem de perda de
cada um dos ciclos, para cada um dos corpos de material em relação à massa inicial do corpo de
prova ensaiados, com teores de cimentação prova, no último ciclo, foi cerca de 0,32%, ou
mais crítico (7%) e diferentes densidades, é seja, em torno de 30 vezes menor que aquele
apresentada na Figura 4. medida no corpo de prova com d =1,2 g/cm³.
Tal situação pode ser justificada pela densidade
próxima à densidade máxima do material tornar
o corpo de prova mais rígido.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O armazenamento de rejeitos de mineração por


meio de barragens de mineração é um grande
desafio para a Engenharia Geotécnica, uma vez
que, diversos episódios de instabilidade já
foram relatados nestes locais. Neste trabalho
investigou-se a possibilidade de melhoramento
de propriedades de resistência e durabilidade de
corpos de prova compactados de rejeito de
mineração de bauxita, com a adição de cimento.
Por meio de ensaios de compressão simples,
verificou-se que acréscimos significativos de
resistência somente são obtidos para teores de
Figura 4. Número de Ciclos versus % de Perda de Massa
cimento a partir de 7%. Também ficou evidente
acumulada.
a influência da densidade nos valores de
Em análise à Figura 4, observa-se que a resistência obtidos. Para valores de d= 1,2
perda de massa acumulada é crescente ao longo g/cm³, a baixa densidade afeta tanto a
dos ciclos, conforme esperado e observa-se que resistência do material, que nem o aumento do
a densidade tem papel fundamental na teor de cimento é capaz de aumentar
quantidade de material perdido durante os consideravelmente a resistência. Para valores de
ciclos, sendo a perda tanto menor quanto mais densidade mais próximos aos valores de
denso o corpo de prova. densidade máxima do material, os valores de
Analisando-se os resultados obtidos, resistência aumentam com a densidade e com o
verificou-se que, para o corpo de prova com d teor de cimento.
=1,2 g/cm³, ocorreu a maior perda percentual de Através dos ensaios de durabilidade também
material, justamente devido ao maior índice de se observou grande influência da densidade dos

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corpos de prova, sendo que quanto mais denso o Ibama Instituto Brasileiro do Meio ambiente e dos
material menor a perda de material acumulada Recursos Naturais Renováveis (2015). Relatório de
Gestão,https://www.ibama.gov.br/component/phocad
ao longo dos ciclos. A proximidade da ownload/file/4192-2015-ibama-relatorio-gestao,
densidade do corpo de prova de d= 1,3 g/cm³, acesso em 30/10/2018.
em relação à densidade máxima do material, fez Marcon, A. F. (1977). Durabilidade e Módulo de
com que o percentual de perda de massa Elasticidade de Misturas de Areia-cal-cinza volante.
acumulado ao longo dos ciclos fosse inferior a Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-
Graduação em Engenharia, Universidade Federal do
0,5%. Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, cap 4.2, p. 14.
Diante dos resultados obtidos neste estudo, Mateos, M. (1964). Soil Lime Research at Iowa State
pode-se afirmar que a adição de cimento em University. Journal of Soil Mechanics and
rejeitos de mineração de bauxita contribui para Foundations Divisions, ASCE, New York, v. 90, p.
o melhoramento de propriedades de resistência 127-123.
Novaes, J. F. (2016). Misturas cinza volante cal de
e durabilidade, embora sejam necessários teores carbureto: durabilidade, resistência à tração e
de cimento de pelo menos 9% para que se tenha compressão. Dissertação de Mestrado, Programa de
uma contribuição mais significante. Evidencia- Pós Graduação em Engenharia Civil, Universidade do
se a grande influência da densidade nos Rio Grande do Sul, Porto Alegre, cap. 3.8, p.74.
resultados do trabalho, sendo que quanto mais Rosa, D. A. (2010). Validação da relação vazios/cimento
na estimativa da resistência à compressão simples do
próximas as densidades estiverem em relação à Caulim artificialmente cimentado. TCC (Graduação),
densidade máxima seca do material, mais Curso de Engenharia Civil, Universidade do Rio
eficientes serão as alternativas de melhoramento Grande do Sul, Porto Alegre, cap. 3.2, p. 28.
neste tipo de material. Santos, P. S. (1989). Ciência e Tecnologia das Argilas -
vol 1, 2a ed., Ed. Edgard Blücher Ltda.
Tomasi, L. F. (2018). Comportamento mecânico de
resíduo de mineração estabilizado com cimento.
REFERÊNCIAS Dissertação de Mestrado, Programa de Pós Graduação
em Engenharia Civil, Universidade do Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, cap. 2.7.1, p. 58.
Agência Brasil (2015). Desastre em Mariana é o maior
acidente mundial com barragens em 100 anos,
http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-
01/desastre-em-mariana-e-o-maior-acidente-mundial-
com-barragens-em-100-anos, acessado em
20/11/2018.
ASTM (1996). ASTM D 5102: Standard Test Method for
Unconfined Compressive Strength of Compacted Soil-
Lime Mixtures. Classificação. American Society For
Testing and Materials, Philadelphia.
ASTM (2003). ASTM D 559: Standard test methods for
wetting and drying compacted soil-cement mixtures.
Classificação. American Society For Testing and
Materials, Philadelphia.
Antunes, M. L. P.; Conceição, F. T.; Toledo, S. P. (2012).
Kiyohara, P.K. Bauxita e seu resíduo, Caracterização
e Estudo por Microscopia Eletrônica. 56º Congresso
Brasileiro de Cerâmica; 1º Congresso Latino-
Americano de Cerâmica; IX Brazilian Symposium on
Glass and Related Materials. 03 a 06 de junho de
2012, Curitiba, PR, Brasil, p. 2066-2074.
ABNT (2015). NBR 5738: Concreto - Procedimento
para moldagem e cura de corpos de prova.
Classificação. Associação Brasileira De Normas
Técnicas, Rio de Janeiro.
Bedin, J (2010) Estudo do comportamento geomecânico
de resíduos de mineração. Tese de Doutorado,
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil,
Universidade do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
cap 2.2, p. 29.

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