Você está na página 1de 11

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/341505201

Lavra de Barragens de Rejeitos: Uma alternativa para manejo e desativação de


estruturas

Article · August 2018

CITATION READS

1 618

2 authors, including:

Gustavo Marçal de Sousa


VALE
2 PUBLICATIONS   2 CITATIONS   

SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Lavra de Barragens de Rejeitos View project

All content following this page was uploaded by Gustavo Marçal de Sousa on 20 May 2020.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

Lavra de Barragens de Rejeito: Uma alternativa para manejo e


desativação de estruturas
Gustavo Marçal de Sousa
Companhia Vale SA, Belo Horizonte, Brasil, gustavo.marcal@vale.com

Romero César Gomes


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, romero@em.ufop.br

RESUMO: Este trabalho apresenta a lavra de rejeitos depositados em barragens como alternativa à
desativação e/ou manejo, com o objetivo de diminuir custos operacionais, aumentar a capacidade de
disposição e redução de passivos ambientais na indústria de mineração. São apresentados dois casos
ilustrando as possibilidades da lavra de barragens, e também dois testes em escala de produção,
projetados para suportar o desenvolvimento de projetos conceptuais, onde a questão geotécnica é
abordada pela análise de estabilidade dos taludes de escavação e pelo comportamento do rejeito
escavado nos pontos de deposição. Os resultados obtidos nos testes, juntamente com a análise dos
casos de lavra, demostram a viabilidade técnica desse tipo de operação, aliando produtividade à
segurança geotécnica, subsidiando critérios no desenvolvimento de engenharia preliminar para lavra
de barragens.

PALAVRAS-CHAVE: Lavra de Barragens, Manejo de rejeitos, desativação de Barragens.

1 INTRODUÇÃO aproveitamento em larga escala dos rejeitos


depositados, mudando a conotação de passivo
A partir dos anos 70, diversas barragens para a ambiental dessas estruturas para “jazidas
contenção de rejeitos de mineração de ferro potenciais”. Isso possibilitaria a empresas de
foram construídas na região do Quadrilátero mineração desenvolver projetos de
Ferrífero em Minas Gerais, visando o reprocessamento de rejeitos de minério de ferro
atendimento às legislações e minimização de com custos inferiores à lavra convencional,
impactos ambientais. Os rejeitos depositados aumentando sua produtividade e lucratividade.
em algumas dessas barragens são extremamente Outra possibilidade seria o manejo do rejeito
ricos em ferro, com teores variando entre 35% e dentro do reservatório, com a deposição do
55%, que representam bons percentuais para a material escavado em depósitos na forma de
indústria de mineração, superando teores de empilhamento drenado, liberando espaço para
jazidas de formação ferrífera em exploração disposição em polpa, com a lavra exercendo a
(em torno de 42%). Desse modo, essas função de desaguamento.
barragens se tornaram verdadeiras reservas, com Na busca pela exploração de forma
grande potencial de aproveitamento e alto valor sustentável, que integre de forma transparente,
agregado. as dimensões econômica, social e ambiental, o
O desenvolvimento de metodologias de lavra estudo de novas tecnologias como a lavra de
para essas barragens, com foco na segurança rejeitos se mostram uma alternativa para
geotécnica das operações, dando ao fechamento de barragens frente a
empreendedor e demais partes interessadas a deficiência/inexistência de legislação específica.
garantia da viabilidade técnica desse tipo de Projetos para o aproveitamento de rejeitos
operação, é a única forma de se concretizar o depositados em barragens, que apresentem alto
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

teor de ferro, fazem parte dos planos de algumas reaproveitamento de rejeitos. Um acidente
mineradoras, mas sempre esbarram na (ruptura) em uma barragem em processo de
viabilidade técnica e segurança geotécnica desse lavra pode inviabilizar a continuidade das
tipo de operação, uma vez que algumas operações, trazendo inúmeros prejuízos.
barragens se tratam de aterros hidráulicos, cuja Incidentes geotécnicos ocorridos durante
lavra poderia afetar a estabilidade da estrutura. tentativas de se retomar o rejeito depositado em
barragens podem ser exemplificados nas
Figuras 1 e 2. Nessa última, uma ação
2 VIABILIDADE DA LAVRA DE equivocada nas operações tanto de manejo
REJEITOS como de retomada levou à ruptura do
barramento.
Tal como exposto anteriormente, por
apresentarem alto teor de ferro, alguns rejeitos
de minério de ferro depositados no passado em
barragens do Quadrilátero Ferrífero passaram a
ter valor econômico devido aos preços atuais do
minério de ferro para venda ao exterior, além da
escassez de jazidas do chamado minério “rico”.
O reprocessamento do rejeito é interessante em
termos operacionais, pois possui uma etapa a
menos quando comparado ao ciclo de mina,
dispensando a remoção de material estéril
(baixo teor de ferro para o tratamento), o que Figura 1. Atolamento ocorrido durante operações de lavra
implica em custos reduzidos. de rejeitos.
Pela dificuldade de se lavrar o rejeito de
dentro dos reservatórios, a escala de
aproveitamento dos “finos de barragens” é
reduzida. As atuais operações são quase sempre
pontuais, com o material sendo removido por
meio de escavadeiras e caminhões, que
adentram os reservatórios das barragens
paralisadas ou mesmo em operação e removem
parte dos rejeitos depositados.
Apesar das conhecidas dificuldades (alta
umidade, topografia acidentada, presença de Figura 2. Retroescavadeira soterrada pela lama da
cursos d’água e falta de áreas de estocagem) para Barragem B1 após ruptura – Herculano Mineração
a execução da lavra, barragens com elevado teor (FEAM, 2014).
de ferro são apresentadas por mineradoras a
seus investidores como reservas estratégicas. Avaliar as técnicas de engenharia existentes
Entretanto, a retomada total ou parcial do e que potencialmente poderiam ser empregadas
material depositado dentro dos reservatórios para lavra de barragens, faz parte de um
não é fácil, porque requer estudos que processo fundamental para a elaboração de um
viabilizem essas operações, e hoje, não há projeto consistente, que sirva de base para as
referencial literário suficiente para seu pleno avaliações técnicas e econômicas, que
desenvolvimento. A segurança do desmonte de possibilitem ao empreendedor sua tomada de
uma barragem é uma variável que pode ser decisão quanto aos riscos associados ao se
crucial na tomada de decisão de um projeto de investir em um projeto de retomada.
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

A lavra de barragens faz parte de uma por sucção e desmonte hidráulico não foram
abordagem recente no Brasil, havendo poucos abordadas pela baixa mobilidade operacional
casos descritos na literatura, e quase sempre, envolvida na primeira opção e da possibilidade
com foco apenas no processo de tratamento a de se gerar instabilidade geotécnica em aterros
ser aplicado aos rejeitos depositados, não sendo hidráulicos quando da aplicação da segunda.
comum a abordagem da metodologia de lavra e
questões de segurança geotécnica desse tipo de 3.1 Casos de Lavra
operação. Daí a necessidade de se realizar testes
prévios com equipamentos para gerar elementos 3.1.1 Manejo Barragem Vargem Grande (VGR)
que possibilitem uma análise técnica coerente,
com a correta escolha do método de lavra, que Após ter seu volume útil para disposição de
possibilite a elaboração de um plano de rejeitos preenchido em 2008, a Barragem VGR
produção, que por sua vez, produzirá os passou a operar como estrutura auxiliar no
elementos necessários para as análises técnica e recebimento de descargas de usinas de
de viabilidade econômica. beneficiamento e também no recebimento de
drenagens pluviais, sendo necessário
implementar um sistema de manejo para os
3 METODOLOGIA rejeitos oriundos de descargas, a fim de garantir
seu volume de amortecimento de cheias,
Após a contextualização apresentada acerca das mantendo a condição de segurança geotécnica.
possibilidades e desafios que envolvem o tema Assim, o manejo do rejeito de descarga passou
relacionado com a lavra de barragens, este a ser realizado de maneira ininterrupta ao longo
trabalho, que propõe a lavra como uma de todo o ano, com as operações de remoção
alternativa para manejo e desativação, seguiu a dos rejeitos acontecendo em duas frentes: lavra
metodologia de desenvolvimento baseada em: mecanizada e dragagem por sucção e recalque.
1) – Apresentação de dois casos de lavra, A operação de lavra mecanizada, que no
sendo o primeiro utilizando a lavra como início avançou no sentido oposto do
medida de desativação, e o segundo como barramento, abrindo frente para a dragagem por
instrumento de manejo de rejeitos; sucção e recalque na região do lago, evoluiu
2) – Apresentação de dois testes de para um sistema de 4 baias que somadas
escavação em rejeitos, em escala de possuem capacidade de 80000 m3, posicionadas
produtividade industrial, sendo o primeiro com entre as cotas 1307,0 m e 1310,0 m dentro do
foco em manejo, realizando o desaguamento do reservatório da barragem (Figura 3), que atuam
material escavado, e o segundo com foco na controlando o assoreamento do lago, contendo
lavra de aproveitamento do rejeito. Para ambos praticamente todo o material das descargas.
serão abordadas questões geotécnicas A dragagem por sucção e recalque é
envolvidas no dimensionamento das realizada na porção central da barragem, a
escavações; aproximadamente 200 m da crista, formando
3) – Na apresentação e discussão de um lago entre a elevações 1302,0 m e 1305,0 m
incidentes durante a realização dos testes, (A1), com área de aproximadamente 160000 m2
descrevendo as “lições aprendidas” pela equipe e volume de água em torno de 480000 m3. Para
técnica envolvida. a descarga do rejeito dragado foi montado uma
Todos os aspectos da lavra discutidos neste linha com 1000 m de comprimento,
trabalho se referem à utilização de possibilitando o lançamento no conjunto de
equipamentos comuns de terraplanagem, baias (A2), sendo feito o manejo do rejeito
associados a escavadeiras dragas do tipo “long dentro dessas baias, possibilitando seu
reach” e/ou “Drag line”. As técnicas de lavra desaguamento e posteriormente a lavra.
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

Área de Dragagem - Lago (A1) Baias de lançamento do material dragado (A2)

(A3)

(A2)

(A1)

Depósito (A3)

Figura 3. Configuração da operação de Manejo Barragem VGR.

A lavra do rejeito contido nas baias é Essa operação garante os requisitos de


realizada por escavadeiras do tipo “long reach” segurança previstos no manual de operação da
e “draglines”, sendo o transporte por meio de estrutura, mantendo a praia com largura mínima
caminhões rodoviários. O rejeito sem de aproximadamente 200 m, especialmente nos
contaminação, lavrado mecanicamente dentro períodos de chuva.
das baias é estocado (A3) e futuramente poderá
ser utilizado na alimentação das plantas de 3.1.2 Desativação Barragem II
beneficiamento. As Figuras 4 e 5 apresentam a
melhoria da condição de praia da Barragem A Barragem II teve sua lavra concluída no ano
VGR após a implantação do manejo. de 2017. Conforme consta em ITAMINAS
(2016), essa estrutura foi projetada e construída
em 1990 com o objetivo de contenção dos
2008
rejeitos oriundos de uma instalação de
tratamento de minério.
A execução do dique de partida foi realizada
com solos argilosos, compactados até a
elevação 940,00 m. O sistema de drenagem
interna era composto de "filtro de pé", filtro
horizontal e filtro inclinado, ambos constituídos
com “Sinter Feed”.
Pelas suas características, a estrutura operou
como empilhamento drenado, praticamente não
Figura 4. Barragem VGR Antes do início do manejo. acumulando água em seu reservatório. A Tabela
1 apresenta as caraterísticas técnicas no final de
sua operação.
2017
Tabela 1. Principais características da Barragem II.
Parâmetro Referencia
Altura máxima 72,00 m
Comprimento de crista 450,00 m
Ângulo geral 1V:3,93H (14,28º)
Volume 4,00 Mm3
Área da Bacia Hidrográfica 0,852 km2
Vazão máxima do vertedouro
17,00 m3/s
Figura 5. Barragem VGR com o manejo implantado. (TR = 10000)
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

De janeiro de 2012 a novembro de 2014, rodoviários traçados de 25 t; escavadeiras


com a finalidade inicial de aumentar a vida útil hidráulicas, “long reaches” e carregadeiras.
do barramento, iniciou-se a metodologia Devido à existência de bolsões de baixíssima
operacional de lançamento e recuperação de resistência em alguns pontos da barragem,
rejeitos concomitantemente. A partir de janeiro foram executadas valas de alívio para drenagem
de 2015, foi interrompido o lançamento de e, em alguns casos, foi necessário a construção
rejeitos, permanecendo exclusivamente a de lastros operacionais. A sequência
operação de retomada até o final do ano de apresentada nas Figuras de 6 a 8 ilustram a
2017. A lavra dos rejeitos da Barragem II foi forma do barramento durante os anos de lavra
total, realizada por meio de escavação até a completa descaracterização. A Mineradora
mecanizada, utilizando-se de equipamentos Itaminas proprietária da estrutura é referência na
convencionais e dragas, tais como: caminhões lavra de barragens no Quadrilátero Ferrífero.

Figura 6. Início da lavra.

Figura 7. Avanço da lavra com o rebaixamento do nível d’água e formação de taludes em rejeito.

2012 2017

Figura 8. Lavra Finalizada.


XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

3.2 Testes em Escala de Produção disponíveis, estando apresentadas nas Figuras 9


e 10.
Testar previamente a produtividade de
equipamentos em campo, realizando tarefas
similares às situações de projeto e, em rejeitos
com características similares aos de produção é
uma forma eficaz de gerar dados para a
definição de métodos de lavra, seções
geométricas de análise e dimensionamento de Figura 9. Geometria de escavação Teste 1.
frota para as operações de retomada de rejeitos,
possibilitando o atendimento das produtividades
almejadas, com a devida segurança geotécnica,
e assim, reduzir custos por ineficiência e
paralisações na fase de execução da lavra. Com
esses objetivos, são apresentados dois testes de
performance com equipamentos de dragagem e
de terraplanagem, em rejeitos saturados, de Figura 10. Geometria de escavação Teste 2.
maneira a subsidiar a elaboração de planos de
lavra com objetivo de manejo e 3.2.1 Teste Manejo em Baias
reprocessamento. Os testes foram realizados
pela Companhia Vale SA, que é apoiadora O Teste Manejo em Baias (Teste 1), foi
dessa linha de pesquisa, com interesse nos estruturado com o objetivo de avaliar o
ganhos potenciais com a diminuição dos desempenho de escavadeiras convencionais,
passivos ambientais associados a suas barragens “draglines” e “long reaches” como opção de
paralisadas e no processamento de rejeitos. equipamentos de escavação em uma eventual
Os testes foram divididos da seguinte forma: operação de lavra de rejeitos composta tanto por
Teste 1: Manejo, utilizando escavadeiras equipamentos de dragagem quanto de
tipos “Dragline” e “Long heach” operando terraplanagem, com o objetivo de manejo de
sobre plataformas; rejeitos oriundos de plantas de beneficiamento,
Teste 2: Lavra, por meio de escavação que seriam parcialmente lavrados, em uma
mecanizada utilizando equipamentos diversos, operação concentrada em uma dada região do
simulando uma lavra em tiras do reservatório. reservatório.
A Tabela 2 apresenta as características do As escavadeiras tipo “dragline” e “long
material escavado, que possui partículas com reach” possibilitam uma maior profundidade e
70% passantes na peneira 200 (0,074 mm). alcance nas regiões de lavra, sendo opção para
diminuir a quantidade de baias, desde que exista
Tabela 2. Caracterização rejeito escavado.
segurança geotécnica para sua operação.
LL LP Gs ρs Wót k
(%) (%) (g/cm3) (g/cm3) (%) (cm/s)
O local de realização consta de uma
16 14 3,31 2.16 10,4 9,70X10-4 barragem convencional de solo compactado,
*Gs (massa específica dos grãos); ρs (massa especifica utilizada para a disposição de rejeitos de
aparente seca); Wót (umidade ótima); k (permeabilidade). minério de ferro, onde um arranjo de baias foi
montado seguindo a geometria da Figura 9.
Ambos os testes foram executados no Sobre os lastros limitantes das baias (Figura
mesmo depósito de rejeitos, apenas com 11), o material escavado foi “dobrado” e
variação do arranjo de escavação em função do colocado em “bota-espera” para secagem prévia
objetivo da lavra. As geometrias utilizadas à remoção, com ciclo de sete dias, conforme
foram definidas em função dos equipamentos (Figura 12).
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

O Fator de Segurança (FS) associado à


estabilidade geotécnica para a geometria do
Teste 1 foi analisado para três cenários (Tabela
4), com base em ensaios de laboratório
realizados no material depositado no
reservatório. A abordagem em termos de
tensões totais (σTotal), apesar de não usual,
simula a geração de poropressões durante o
cisalhamento em rejeitos, conforme proposto
por Vick (1990).
20,00 30,00 20,00 30,00 20,00
PLATAFORMA_03
PLATAFORMA_05 PLATAFORMA_04
1286,00 1286,00 1286,00

Tabela 4. Parâmetros geotécnicos e fatores de segurança.


1 1 1 1 1 1
1 1 1 1 1
1

Rejeito

Parâmetro
Cenário FS
Figura 11. Arranjo teste 1 (manejo em baias). φ’ (º) φ (º) ru Su (kPa)
σ’Efetivo 29 - 0,42 - 1,54
σTotal - 20 - - 1,39
Su - - - 0,22σ’v 1,20
*φ’ (ângulo de atrito efetivo); φ (ângulo de atrito total); Su
(parâmetros de resistência não drenada); ru (Parâmetro de
poropressão, definido como poropressão/tensão total); σ’v
(tensão efetiva vertical).

A Tabela 5 apresenta uma síntese da


programação e execução do teste, mostrando a
Figura 12. Escavação em “bota espera” para remoção.
produtividade obtida para um regime de
O teste teve duração de três meses, a Figura execução em dois turnos diários de oito horas
13 apresenta o aspecto do material lavrado de trabalho, cinco dias por semana.
sendo empilhado. A Tabela 3 apresenta um
Tabela 5. Síntese da programação e execução Teste 1.
comparativo das características de umidade e Nº Equipamentos Produtividade (m3)
densidade na carga do material após o ciclo de Período
Carga Transporte Prev. Real
secagem, e posterior à sua disposição e 09/2016 2 8 22000 29733
compactação em pilha com o tráfego de trator 10/2016 3 10 73000 43786
de esteira, quinze dias após o lançamento. 11/2016 3 10 55000 51200

3.2.2 Teste Lavra de Desativação

O Teste Lavra de Desativação (Teste 2), foi


estruturado com o objetivo de avaliar o
desempenho de equipamentos diversos de
terraplanagem executando uma escavação que
Figura 13. Disposição do material Teste 1. simula a lavra em tiras do reservatório. Essa
metodologia possibilitaria a lavra parcial ou
Tabela 3. Umidade e densidade Teste 1.
total de um reservatório, mesmo o rejeito
W (%) ρs (g/cm3)
Período
Carga Pilha Carga Pilha
estando em condições saturadas, que representa
21/08 a 20/09/16 22,6 17,5 1,55 2,23 a muitas das estruturas com potencial de lavra.
21/09 a 20/10/16 17,8 15,6 1,65 2,57 O Teste 2 foi executado no mesmo
21/10 a 20/11/16 17,1 9,4 1,80 2,21 barramento que o Teste 1, mas em períodos
*W (umidade natural); ρs (massa especifica seca). diferentes. Utilizou-se metodologia de lavra que
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

consistia na escavação em bancos de três metros


de altura, com profundidade máxima de seis
metros, que poderia ser atingida com a operação
de recolhimento do lastro ou avanço direto até
uma profundidade máxima também de três
metros abaixo do patamar do lastro, desde que
resguardada uma berma de calço de cinco
metros, com inclinação de 45º (1:1) conforme Figura 15. Desenvolvimento da lavra em “tiras”, nos
Figura 14. Assim, para que fosse possível um moldes propostos na Figura 14.
novo nível de aprofundamento da lavra, uma
camada com espessura de 6 m teria de ser A Figura 16 apresenta o contraste de
removida em toda a extensão do reservatório. umidade do rejeito escavado logo após seu
lançamento no depósito e sua posterior
compactação após o ciclo de secagem.
►-0,0
►-6,0

►-3,0
►-3,0

►-6,0
►0,0

5m 5m Tabela 6. Umidade e densidade Teste 2.


Ponto de wméd ρméd Nº
coleta (%) (g/cm3) amostras
Lavra 20,60 1,920 43
Patamar de escavação ►0,0
Patamar de recolhimento ►-3,0
Descarga 18,90 1,954 57
Após 15 dias 12,64 1,976 16
■ Planta (sem escala)
*Wméd (umidade natural); ρ (massa especifica natural).
►0,0

5m
1
►-3,0
1

►-6,0
Variável
■ Seção (sem escala)

Figura 14. Operação com recolhimento de lastro.


Figura 16. Disposição do material Teste 2.
Para a realização do teste, como o
reservatório ainda recebia rejeitos, foi O Fator de Segurança (FS) associado à
necessário o desvio do fluxo e isolamento da estabilidade geotécnica para a geometria do
área com o auxílio de escavadeiras anfíbias, Teste 2 foi analisado para 3 cenários (Tabela 7),
além da execução de camadas de lastro com com base em ensaios de laboratório realizados
espessuras entre 0,5 m e 1,5 m para tráfegos dos no material depositado no reservatório. A
equipamentos. Neste arranjo, os caminhões abordagem em termos de tensões totais (σTotal),
foram carregados de forma direta nas frentes de apesar de não usual, simula a geração de
lavra (Figura 15), com possibilidade de poropressões durante o cisalhamento em
alimentação de uma planta de beneficiamento, rejeitos, conforme proposto por Vick (1990).
ou a formação de um depósito temporário para
posterior aproveitamento. Tabela 7. Parâmetros geotécnicos e fatores de segurança.
O teste teve duração de doze meses, a Tabela Cenário
Parâmetro
FS
6 apresenta um comparativo das características φ’ (º) φ (º) ru Su (kPa)
de umidade e densidade nas frentes de lavra, σ’Efetivo 29 - 0,42 - 1,21
σTotal - 20 - - 1,16
descarga do material e após compactado com o
Su - - - 0,22σ’v 1,15
tráfego de um trator de esteira, com um ciclo *φ’ (ângulo de atrito efetivo); φ (ângulo de atrito total); Su
mínimo de secagem de quinze dias, para (parâmetros de resistência não drenada); ru (Parâmetro de
camadas com até cinco metros de espessura. poropressão, definido como poropressão/tensão total).
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

O volume realizado no teste, executado em atuariam poropressões induzidas por


três turnos diários de oito horas de trabalho, sete cisalhamento com origens em ações de
dias por semana foi de 3,05 Mm3, para um carregamento ou descarregamento durante as
volume programado de 4,80 Mm3. etapas de lavra empregadas nos Testes 1 e 2.
Ocorreram dois incidentes de instabilidade,
um em cada teste, que provocaram rupturas com
4 ANÁLISES potencial de danos a equipamentos e pessoas.
Em ambos os casos, as geometrias inicialmente
4.1 Testes de Lavra propostas foram alteradas. O Teste 1 ficou com
um talude contínuo de 5,8 m de altura, quando o
Os testes de lavra em escala de produção projetado foi de 3 m. Na ocasião do Teste 2, um
apresentaram produtividades abaixo do previsto talude contínuo de 6 m de altura foi executado
(17% inferior para o Teste 1 e 36% para o Teste sem a obediência de se resguardar uma berma
2), tendo como principal causa, a ineficiência de calço de 5 m, conforme previsto no arranjo
operacional associada a eventos de chuva, com do teste (Figura 10). A Tabela 9 apresenta um
tempos de retomada das operações variando comparativo do FS para as diferentes
entre 4 e 36 horas em função da intensidade das geometrias.
precipitações. Os taludes das escavações
apresentaram comportamento geotécnico Tabela 9. Comparativo Fatores de Segurança (FS).
satisfatório, quando respeitadas as geometrias Teste 1 Teste 2
Cenário
preestabelecidas. Tecnicamente os maiores 3m 6m Berma S/Berma
desafios constaram no tráfego nas praças de σ’Efetivo 1,54 1,04 1,21 0,64
σTotal 1,39 0,89 1,16 0,81
escavação e nos locais de empilhamento do
Su 1,20 0,84 1,15 0,89
rejeito, cuja trafegabilidade é fortemente afetada
pela umidade do rejeito, principalmente quando
da ocorrência de chuvas. Apesar de deficitárias, 4.3 Lavra como Solução de Manejo e
as escalas de produção alcançadas foram Desativação
satisfatórias, podendo ser facilmente ajustadas
no dimensionamento de frota em função da Engels et al. (2004) destacam que a definição
praticabilidade nos meses de chuva. O nível de do tipo de lavra de rejeitos depende das
controle das variáveis do processo de lavra em características do depósito, da composição, da
ambos os testes (geometria, umidade e condição de armazenamento, das possibilidades
densidade), demonstram o acerto na escolha das de transporte, manuseio e destinação final.
técnicas empregadas, onde sempre se priorizou Assim, sem a realização de estudos de
as condições de segurança geotécnica em cada viabilidade técnica com base na realidade de
etapa do ciclo de operações. cada barragem, dificilmente um projeto de lavra
sairá do papel dadas às incertezas e riscos desse
4.2 Estabilidade Geotécnica das Escavações tipo de operação, onde sempre as questões
técnicas relacionadas com a segurança das
Devido ao caráter temporário das escavações e à operações devem preponderar sobre os critérios
adoção de geometrias altamente restritivas em econômicos da lavra.
relação à altura, com objetivo de minimizar os Quando a lavra se trata de solução para
danos potenciais em uma eventual ruptura, se desativação, a eliminação de uma barragem de
propõe um Fator de Segurança (FS) mínimo de rejeitos pode valer muito a pena para o
1,15 para os taludes de escavação, calculados de empreendedor, independente do valor.
acordo com os cenários propostos no Item 3.2, Os estudos de casos apresentados e os
que simulam condições não drenadas, onde resultados obtidos nos testes em escala de
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

produção ratificam a viabilidade técnica da 5 CONCLUSÕES


lavra de barragens como solução de Manejo e
desativação, ressaltando a existência de O conhecimento de casos de sucesso na lavra de
importantes lacunas a serem preenchidas com barragens é fundamental para agregar a novos
relação a critérios de projeto, os quais este projetos experiências adquiridas e, ao mesmo
trabalho aborda apenas de maneira superficial. tempo, chamar a atenção para a questão
geotécnica envolvida nesse tipo de operação,
4.4 Lições Aprendidas pois a condição favorável encontrada durante a
lavra da Barragem II, aparentemente relacionada
Da experiência de execução dos testes ficaram com a predominância de bons parâmetros de
as seguintes lições: permeabilidade e resistência podem não ser uma
Os rejeitos depositados em barragens, na regra em outras barragens de rejeito. A
maioria dos reservatórios se encontram retomada de rejeitos depositados em barragens é
saturados, com alto grau de dificuldade para sua uma clara alternativa à desativação e/ou manejo,
escavação. Mesmo em estruturas paralisadas a podendo ser viável desde que estudada e
vários anos, poderão haver horizontes saturados desenvolvida. Para tal, seis etapas são
que representem risco para a lavra; necessárias: caracterização do reservatório;
É necessário estudar as características do modelagem qualitativa e quantitativa do rejeito;
rejeito depositado para que as análises de elaboração do plano de lavra; definição da rota
estabilidade das escavações sejam consistentes, de processo/local de deposição; arranjo geral
valendo-se de campanhas específicas; operacionalizado e execução de testes em escala
Nas operações de lavra de barragens é de produção.
imperativo a execução de camadas de lastro
para tráfego de equipamentos, seja com material
de empréstimo ou com o próprio rejeito seco; AGRADECIMENTOS
A lavra no período noturno é viável, com a
adequada preparação durante o dia. Os autores gostariam de agradecer à Companhia
A baixa umidade observada em algumas Vale pelo aporte financeiro dado ao projeto e
frentes não deve servir de justificativa para pela liberação do uso e divulgação dos dados e
alterações de geometrias de projeto. A falsa resultados. À Itaminas Comércio de Minérios
impressão de melhora nas condições do material pela liberação do uso e divulgação de dados da
pode provocar equívocos de avaliação; lavra de sua barragem.
O empilhamento do rejeito escavado deve
ser realizado mantendo sua umidade próxima da
REFERÊNCIAS
ótima, eliminado sua condição de saturação.
Para tal, dependendo da escala de produção, FEAM – Fundação Estadual de Meio Ambiente – MG:
grandes áreas de disposição podem ser Inventário anual de barragens 2014. Disponível em:
necessárias para que o rejeito complete seu ciclo <www.feam.br/...BARRAGENS/correo_inventrio%20
de secagem, com a redução de sua umidade até de% 20barragens_2014>. Em: 15 outubro 2015.
Engels, J; Schönhardt, M; Witt, K. J; Benkovics, I; Berta,
a ótima; Z; Csövári, M; Debreczeni, Á. (2004) Tailings
Em escavações que adentrem reservatórios, Management Facilities-Intervention Actions for Risk
onde os rejeitos se encontrem saturados, a altura Reduction. Disponível em: <www.tailsafe.com> Em:
máxima do talude de escavação deve ser 26 maio 2017.
compatível com o porte e posição de carga dos ITAMINAS – Itaminas Comércio de Minérios SA.
Histórico de Construção e Operação Barragem II.
equipamentos, para que uma ruptura sob Relatório Técnico. Sarzedo, DF, 2016. 15 p.
condição não drenada venha a resultar no VICK, S.G. (1990). Planning, design and analysis of
soterramento desses equipamentos. tailings dams: John Wiley and Sons, Inc, 369 p.

View publication stats

Você também pode gostar