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All content following this page was uploaded by Gustavo Marçal de Sousa on 20 May 2020.
RESUMO: Este trabalho apresenta a lavra de rejeitos depositados em barragens como alternativa à
desativação e/ou manejo, com o objetivo de diminuir custos operacionais, aumentar a capacidade de
disposição e redução de passivos ambientais na indústria de mineração. São apresentados dois casos
ilustrando as possibilidades da lavra de barragens, e também dois testes em escala de produção,
projetados para suportar o desenvolvimento de projetos conceptuais, onde a questão geotécnica é
abordada pela análise de estabilidade dos taludes de escavação e pelo comportamento do rejeito
escavado nos pontos de deposição. Os resultados obtidos nos testes, juntamente com a análise dos
casos de lavra, demostram a viabilidade técnica desse tipo de operação, aliando produtividade à
segurança geotécnica, subsidiando critérios no desenvolvimento de engenharia preliminar para lavra
de barragens.
teor de ferro, fazem parte dos planos de algumas reaproveitamento de rejeitos. Um acidente
mineradoras, mas sempre esbarram na (ruptura) em uma barragem em processo de
viabilidade técnica e segurança geotécnica desse lavra pode inviabilizar a continuidade das
tipo de operação, uma vez que algumas operações, trazendo inúmeros prejuízos.
barragens se tratam de aterros hidráulicos, cuja Incidentes geotécnicos ocorridos durante
lavra poderia afetar a estabilidade da estrutura. tentativas de se retomar o rejeito depositado em
barragens podem ser exemplificados nas
Figuras 1 e 2. Nessa última, uma ação
2 VIABILIDADE DA LAVRA DE equivocada nas operações tanto de manejo
REJEITOS como de retomada levou à ruptura do
barramento.
Tal como exposto anteriormente, por
apresentarem alto teor de ferro, alguns rejeitos
de minério de ferro depositados no passado em
barragens do Quadrilátero Ferrífero passaram a
ter valor econômico devido aos preços atuais do
minério de ferro para venda ao exterior, além da
escassez de jazidas do chamado minério “rico”.
O reprocessamento do rejeito é interessante em
termos operacionais, pois possui uma etapa a
menos quando comparado ao ciclo de mina,
dispensando a remoção de material estéril
(baixo teor de ferro para o tratamento), o que Figura 1. Atolamento ocorrido durante operações de lavra
implica em custos reduzidos. de rejeitos.
Pela dificuldade de se lavrar o rejeito de
dentro dos reservatórios, a escala de
aproveitamento dos “finos de barragens” é
reduzida. As atuais operações são quase sempre
pontuais, com o material sendo removido por
meio de escavadeiras e caminhões, que
adentram os reservatórios das barragens
paralisadas ou mesmo em operação e removem
parte dos rejeitos depositados.
Apesar das conhecidas dificuldades (alta
umidade, topografia acidentada, presença de Figura 2. Retroescavadeira soterrada pela lama da
cursos d’água e falta de áreas de estocagem) para Barragem B1 após ruptura – Herculano Mineração
a execução da lavra, barragens com elevado teor (FEAM, 2014).
de ferro são apresentadas por mineradoras a
seus investidores como reservas estratégicas. Avaliar as técnicas de engenharia existentes
Entretanto, a retomada total ou parcial do e que potencialmente poderiam ser empregadas
material depositado dentro dos reservatórios para lavra de barragens, faz parte de um
não é fácil, porque requer estudos que processo fundamental para a elaboração de um
viabilizem essas operações, e hoje, não há projeto consistente, que sirva de base para as
referencial literário suficiente para seu pleno avaliações técnicas e econômicas, que
desenvolvimento. A segurança do desmonte de possibilitem ao empreendedor sua tomada de
uma barragem é uma variável que pode ser decisão quanto aos riscos associados ao se
crucial na tomada de decisão de um projeto de investir em um projeto de retomada.
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018
A lavra de barragens faz parte de uma por sucção e desmonte hidráulico não foram
abordagem recente no Brasil, havendo poucos abordadas pela baixa mobilidade operacional
casos descritos na literatura, e quase sempre, envolvida na primeira opção e da possibilidade
com foco apenas no processo de tratamento a de se gerar instabilidade geotécnica em aterros
ser aplicado aos rejeitos depositados, não sendo hidráulicos quando da aplicação da segunda.
comum a abordagem da metodologia de lavra e
questões de segurança geotécnica desse tipo de 3.1 Casos de Lavra
operação. Daí a necessidade de se realizar testes
prévios com equipamentos para gerar elementos 3.1.1 Manejo Barragem Vargem Grande (VGR)
que possibilitem uma análise técnica coerente,
com a correta escolha do método de lavra, que Após ter seu volume útil para disposição de
possibilite a elaboração de um plano de rejeitos preenchido em 2008, a Barragem VGR
produção, que por sua vez, produzirá os passou a operar como estrutura auxiliar no
elementos necessários para as análises técnica e recebimento de descargas de usinas de
de viabilidade econômica. beneficiamento e também no recebimento de
drenagens pluviais, sendo necessário
implementar um sistema de manejo para os
3 METODOLOGIA rejeitos oriundos de descargas, a fim de garantir
seu volume de amortecimento de cheias,
Após a contextualização apresentada acerca das mantendo a condição de segurança geotécnica.
possibilidades e desafios que envolvem o tema Assim, o manejo do rejeito de descarga passou
relacionado com a lavra de barragens, este a ser realizado de maneira ininterrupta ao longo
trabalho, que propõe a lavra como uma de todo o ano, com as operações de remoção
alternativa para manejo e desativação, seguiu a dos rejeitos acontecendo em duas frentes: lavra
metodologia de desenvolvimento baseada em: mecanizada e dragagem por sucção e recalque.
1) – Apresentação de dois casos de lavra, A operação de lavra mecanizada, que no
sendo o primeiro utilizando a lavra como início avançou no sentido oposto do
medida de desativação, e o segundo como barramento, abrindo frente para a dragagem por
instrumento de manejo de rejeitos; sucção e recalque na região do lago, evoluiu
2) – Apresentação de dois testes de para um sistema de 4 baias que somadas
escavação em rejeitos, em escala de possuem capacidade de 80000 m3, posicionadas
produtividade industrial, sendo o primeiro com entre as cotas 1307,0 m e 1310,0 m dentro do
foco em manejo, realizando o desaguamento do reservatório da barragem (Figura 3), que atuam
material escavado, e o segundo com foco na controlando o assoreamento do lago, contendo
lavra de aproveitamento do rejeito. Para ambos praticamente todo o material das descargas.
serão abordadas questões geotécnicas A dragagem por sucção e recalque é
envolvidas no dimensionamento das realizada na porção central da barragem, a
escavações; aproximadamente 200 m da crista, formando
3) – Na apresentação e discussão de um lago entre a elevações 1302,0 m e 1305,0 m
incidentes durante a realização dos testes, (A1), com área de aproximadamente 160000 m2
descrevendo as “lições aprendidas” pela equipe e volume de água em torno de 480000 m3. Para
técnica envolvida. a descarga do rejeito dragado foi montado uma
Todos os aspectos da lavra discutidos neste linha com 1000 m de comprimento,
trabalho se referem à utilização de possibilitando o lançamento no conjunto de
equipamentos comuns de terraplanagem, baias (A2), sendo feito o manejo do rejeito
associados a escavadeiras dragas do tipo “long dentro dessas baias, possibilitando seu
reach” e/ou “Drag line”. As técnicas de lavra desaguamento e posteriormente a lavra.
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018
(A3)
(A2)
(A1)
Depósito (A3)
Figura 7. Avanço da lavra com o rebaixamento do nível d’água e formação de taludes em rejeito.
2012 2017
Rejeito
Parâmetro
Cenário FS
Figura 11. Arranjo teste 1 (manejo em baias). φ’ (º) φ (º) ru Su (kPa)
σ’Efetivo 29 - 0,42 - 1,54
σTotal - 20 - - 1,39
Su - - - 0,22σ’v 1,20
*φ’ (ângulo de atrito efetivo); φ (ângulo de atrito total); Su
(parâmetros de resistência não drenada); ru (Parâmetro de
poropressão, definido como poropressão/tensão total); σ’v
(tensão efetiva vertical).
►-3,0
►-3,0
►-6,0
►0,0
5m
1
►-3,0
1
►-6,0
Variável
■ Seção (sem escala)