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Rio Oil & Gas Expo and Conference 2022

ISSN 2525-7579

Conference Proceedings homepage: https://biblioteca.ibp.org.br/riooilegas

Technical Paper

Uso de Plugues Metálicos em abandono permanente de poços: visão


geral e estudo de caso
Use of metal plugs in permanent well abandonment: overview and case study

Pedro Angelo Fores Gonçalves 1 | João Daniel Quissada Gimenes 2 | Camila Aparecida Abelha Rocha 3 |
Troner Assenheimer de Souza 4 | Danilo Colombo 5.

1. UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE, TEM, . NITEROI - RJ - BRASIL, pedrofores@id.uff.br 2. UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE, TEC, . NITEROI - RJ -
BRASIL, joao_daniel@id.uff.br 3. UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE, TEC, . NITEROI - RJ - BRASIL, camilaabelha@id.uff.br 4. UNIVERSIDADE FEDERAL
FLUMINENSE, TEQ, . NITEROI - RJ - BRASIL, troneras@id.uff.br 5. PETROLEO BRASILEIRO SA, CENPES, . RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL,
colombo.danilo@petrobras.com.br

Resumo

Com o exponencial aumento do abandono de poços, é natural que novas tecnologias sejam desenvolvidas e projetadas
objetivando a otimização dessa parte da vida de um poço de petróleo. É evidente o aumento de investimentos em
pesquisa e desenvolvimento buscando encontrar métodos alternativos para os materiais já utilizados no Abandono de
Poços. Com base nesta demanda, busca-se por meio de pesquisa exploratória e um estudo de caso propor a utilização
de ligas de bismuto para o abandono permanente de poços e correlacionar as possíveis variações desta aplicação com
as características dos poços a serem abandonados. As ligas metálicas trazem vantagens em relação aos materiais
utilizados para tamponamento de poços atualmente no setor, que vão desde a redução dos custos operacionais até a
redução dos riscos ambientais, sendo considerada um método mais limpo e eficiente. Este material, por ser novo, requer
estudos e projetos de aplicação para mostrar em quais aplicações ele se torna mais vantajoso, fornecendo assim uma
base de informações para a escolha correta do material a ser utilizado para abandono. O estudo exploratório apresenta
as vantagens, desvantagens e desafios do uso de ligas metálicas, mas especificamente o bismuto. O estudo de caso
apresenta o projeto de abandono em liga metálica, a metodologia de abandono e os ensaios de verificação necessários.
Por fim, ainda existem muitos desafios em relação ao uso de ligas metálicas. No estudo de caso foi possível projetar o
abandono de um poço utilizando ligas metálicas que atendenda às regulamentações atuais.
Palavras-chave: Abandono de poços. Ligas de bismuto. Termita. Materiais alternativos

Abstract

With the exponential increase in the abandonment of wells, it is natural that new technologies are developed and
designed to optimize this part of the life of an oil well. There is an evident increase in investments in research and
development seeking to find alternative methods for the materials already used in the abandonment of wells. Based on
this demand, it is sought through exploratory research and a case study to propose the use of bismuth alloys for the
permanent abandonment of wells and to correlate the possible variations of this application with the characteristics of the
wells to be abandoned. Metal alloys bring advantages over the materials used for plugging wells currently in the industry,
ranging from the reduction in operating costs to lower environmental risks, being considered a cleaner and more efficient
method. This material, being new, requires studies and application projects to show which applications they become more
advantageous, thus providing an information base for the correct choice of the material to be used for abandonment. The
exploratory study presents the advantages, disadvantages, and challenges of using metal alloys, but specifically bismuth.
The case study presents the abandonment project using metallic alloy, the abandonment methodology and the necessary
verification tests. Finally, there are still many challenges regarding the use of metal alloys. In the case study it was
possible to project the abandonment of a well meeting the regulations using metal alloys.
Keywords: Abandonment of wells. Bismuth alloys. Thermite. Alternative materials

Received: October 06, 2021 | Accepted: August 25, 2022 | Available online: September 26, 2022
Article nº: 379
Cite as: Proceedings of the Rio Oil & Gas Expo and Conference, Rio de Janeiro, RJ, Brazil, 2022.
DOI: https://doi.org/10.48072/2525-7579.rog.2022.379

© Copyright 2022. Brazilian Petroleuma and Gas Institute - IBPThis Technical Paper was prepared for presentation at the Rio Oil & Gas Expo and Conference, held in September 2022, in Rio de Janeiro. This Technical Paper was selected
for presentation by the Technical Committee of the event according to the information contained in the final paper submitted by the author(s). The organizers are not supposed to translate or correct the submitted papers. The material as it is
presented, does not necessarily represent Brazilian Petroleum and Gas Institute’ opinion, or that of its Members or Representatives. Authors consent to the publication of this Technical Paper in the Rio Oil & Gas Expo and Conference 2022
Proceedings..
Uso de plugues metálicos no abandono permanente de poços

1. Introdução
A indústria de exploração de petróleo tornou-se parte essencial do cenário mundial, afinal é
fornecedora de inúmeros materiais e insumos de grande relevância para o mundo contemporâneo, bem
como derivados, impactando tanto a economia quanto o social da população. Na cadeia produtiva desta
indústria, uma etapa essencial e inevitável na vida de um poço de petróleo é o processo de
descomissionamento, ou seja, a destinação segura das estruturas de exploração e produção das
plataformas de petróleo após o término de sua fase de produção (Quintella et al, 2021). Com os
números atuais, é possível que dentro de alguns anos haverá mais poços a serem desativados do que
poços a serem perfurados. Isso encoraja o surgimento de novas tecnologias para otimizar esta operação
obrigatória para todos os poços que já foram perfurados, dada sua importância ambiental e econômica,
pois se trata de garantir continuidade nos padrões de segurança por tempo indeterminado, mesmo após
o término da produção e o abandono da área explorada.
Um abandono permanente bem sucedido deve restabelecer permanentemente o selo fornecido
pela camada original de rocha (ou material equivalente) que existia antes da intervenção humana. Além
disso, deve cumprir certos requisitos para evitar qualquer vazamento de fluidos do poço. Isso evita a
contaminação com o ambiente externo que poderia levar a uma catástrofe ambiental.
Um abandono permanente consiste tradicionalmente em colocar pelo menos dois conjuntos
solidários de barreiras que estão dispostos logo acima de alguma camada com potencial de fluxo ou
após um ou mais reservatórios diferentes. Conjuntos solidários de barreiras devem: proporcionar
integridade de tamponamento dentro de uma perspectiva eterna; ser à prova d'água; não sofrer
contração ou retração nas condições impostas; ser capaz de resistir demandas mecânicas; ter resistência
química aos materiais e substâncias ali presentes; ter boa aderência com o revestimento, sem lhes
causar nenhum dano; ter porosidade muito baixa; ser fácil de colocar na posição (bom fluxo ou
posicionamento do material) e preencher toda a seção pré-estabelecida (ANP 46, 2016; IBP, 2017).
Com o objetivo de aprimorar os processos de P&A e, principalmente, de reduzir custos e tempo
da operação de abandono, que podem chegar a 25% do custo de perfuração de um poço (Khalifeh,
2013), novas técnicas vêm surgindo. Isso acarreta em diversos benefícios para toda a Indústria
Petrolífera; dentro deste contexto, o material aqui apontado como tecnologia relativamente nova e
substituta é o Bismuto.
Ele, por si só, já tem várias aplicações industriais fora da indústria petrolífera. Não obstante,
dentro das aplicações de P&A, é apontado por Carragher e Fulks (2018) como material utilizado
diretamente no tampão, para vedação de quaisquer possíveis fluxos no poço ao final de sua vida
produtiva, tendo em vista o Abandono Permanente, e não Temporário.
Os Plugues Metálicos não são tão recentes e foram desenvolvidos visando melhorar todo o
processo de abandono. Começando a sua aplicação na década de 1960, por meio de plugues detonáveis
de Termita (alumínio oxidado pelo óxido de ferro). Os plugues de termita não obtiveram sucesso em
seus usos devido à contração natural que a maioria dos metais sofrem durante o processo de
resfriamento e de solidificação, permitindo a passagem de fluidos entre o tampão e o canal perfurado.
Porém, por volta da década de 2000, novos estudos sobre a utilização de Plugues Metálicos
começaram. Desta forma, trouxe à tona novos materiais e ligas como componentes de fabricação
desses plugues, em particular o Bismuto (Bi). Posteriormente, duas ligas a partir do Bi seriam ainda
mais detalhadas e especificadas, o BiAg e o BiSn.
Este material peculiar nos traz diversas características que permitem a sua abordagem e
utilização em nosso contexto de estudo. Essas características serão abordadas e aprofundadas neste
trabalho através de uma simulação teórica de uso, comparando e ressaltando os seus benefícios com
relação aos outros métodos.

2. Revisão bibliográfica
Segundo Carragher et al (2020), o bismuto puro possui algumas características bem convenientes
para a sua utilização como plugue no lugar do cimento, destacados a seguir:

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Uso de plugues metálicos no abandono permanente de poços

 Seu ponto de fusão é relativamente baixo com relação a outros metais, cerca de 273ºC.
Isso permite que ele seja fundido a um menor custo operacional, necessitando de uma
quantidade menor de energia para desencadear a sua fusão/liquefação;
 Ainda considerando sua forma líquida, ele possui uma viscosidade próxima à da água, o
que faz com que ele preencha todo o espaço possível dentro do volume acondicionado,
dada a ação gravitacional;
 É extremamente denso, uma característica comum aos metais, o que faz com que o seu
coeficiente de porosidade seja tão baixo que não permita a passagem de quaisquer fluidos
(líquidos ou gases);
 Ele não é corrosivo, evitando oxidações e também é inerte aos principais elementos
químicos de um poço, mais em especial do nosso caso, o H2S e o CO²;
 Quando seu processo de resfriamento acaba, solidificando o material, o Bismuto se
expande em cerca de 3%; semelhante à água quando torna-se gelo. Essa característica
garante que após ele ter preenchido todo o volume desejado quando fundido, ele não
retraia e proporcione quaisquer falhas de vedações ou passagens de fluidos. Um problema
recorrente a outros materiais metálicos utilizados previamente como tampões (termita);
 É um metal eutético, o que implica que passa da fase líquida para a fase sólida quase
instantaneamente quando resfriado abaixo de sua temperatura de fusão, pulando a fase
de gel.
Essas características abordadas, quando postas em prática, oferecem alguns desafios, como por
exemplo nos processos de mudança de estado do material. Quando levamos em consideração a
temperatura de 273ºC, isso pode ser um ponto de fusão muito alto para alguns poços mais frios,
geralmente poços rasos; isso também faria com que essa temperatura fosse difícil de ser mantida por
tempo suficiente. Surge como solução, a utilização de complementos junto ao Bismuto, formando
assim ligas.
A primeira mistura eutética obtida foi a associada com estanho (Sn): BiSn (58% de Bi e 42% de
Sn), que proporciona uma variação do ponto de fusão de 93 a 263ºC. Isso é o suficiente para dispor de
ainda menos energia e métodos para fundir o material e faz com que esta temperatura seja mantida por
mais tempo. O tempo adicional garante que todo o material seja devidamente escoado sem que
solidifique rápido demais. (Carragher e Fulks, 2018)
Esta solidificação antecipada, a qual foi supracitada, traria problemas relacionados à passagem
de fluidos pelas extremidades do tampão, entre o plugue e o poço; já que o Bismuto resfriaria rápido
demais e não conseguiria ocupar todo o espaço antes de se solidificar. Assim, a mistura eutética
apropriada de BiSn proporcionaria uma solução viável para tal utilização.
De acordo com Zhang et al (2020), outra vantagem bem relevante ao uso do bismuto como
material principal para a formação de plugues é a quantidade de material envolvida na construção dos
plugues. As Ligas Eutéticas de Bismuto (BiSn ou BiAg) formam tampões significamente menores,
podendo chegar a uma secção de 5 metros contra uma barreira convencional de Cimento Portland, que
pode variar de no mínimo 30 metros, chegando até mesmo em um conjunto de barreiras de 100 metros.
Seguindo um comparativo, também realizado por Zhang et al (2020), observamos que o Bismuto
é um material muito promissor, o qual podemos extrair ainda mais qualidades e benefícios ao o
associarmos em Ligas Eutéticas. Até então no presente trabalho, apresentamos a forma BiSn, porém,
há outra possibilidade viável: a Liga BiAg (97,5% de Bi e 2,5% de Ag). Ela possui características
parecidas com a liga de BiSn, principalmente no processo de aplicação que é basicamente o mesmo.
A adição da prata, no entanto, torna a liga mais resistente à corrosão e às reações químicas severas que
podem ser encontradas em poços mais ácidos.
A liga de BiAg possui um grande diferencial com relação à sua concorrente, o seu ponto de fusão
mais elevado, a 263 ºC. Essa temperatura de fusão maior do que o BiSn a torna melhor em alguns tipos
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de aplicações, em especial as que abrangem os projetos de abandonos de poços que têm temperatura
elevada, normal à poços profundos e/ou sob grandes lâminas d’água. Composta majoritariamente de
bismuto, esta Liga BiAg possui as mesmas características favoráveis à aplicação de P&A do que a
BiSn, além do ponto de fusão mais alto. Este fato faz com que esta liga seja apropriada para poços
onde a temperatura de base faria com que a Liga BiSn não consiga solidificar-se totalmente, ou então
em poços onde que a temperatura não fique numa faixa segura; contando até mesmo com possíveis
elevações de temperatura futuras.
Outra questão a ser ressaltada é sobre a aplicação de fato das ligas de bismuto, que podem ser
usadas em abandonos convencionais e “through tubing” com a utilização de cabos flexíveis ou de
wirelines, dispensando assim o uso de sondas submarinas. Isso faz com que o custo de operação seja
drasticamente reduzido, barateando diretamente e indiretamente o procedimento. (Vrålstad et al, 2018)
No caso de haver necessidade do uso de sondas, por condições específicas de cada caso, o
posicionamento do plugue, sua detonação e também as suas verificações podem ocorrer num curto
período de tempo. Essa redução de prazo faz com que o aluguel ou o custeio da sonda por dia de
utilização seja reduzido para até 1 dia trabalhado. Esses fatores fazem com que o custo seja
essencialmente diminuído, viabilizando esta forma de P&A de maneira mais lucrativa e eficiente.
Essa rapidez tem base na eficiência de transmissão de calor dos metais, que o transfere
rapidamente para o ambiente em volta. Logo, após sua detonação, sua solidificação é extremamente
mais rápida do que a pasta de cimento. E logo em seguida ao seu endurecimento, sua funcionalidade
já se mostra cumprida, podendo passar pelas fases de testes.

3. Estudo de caso
Nesta parte do trabalho, estudaremos o caso teórico de um poço exemplo para a aplicação do
Plugue Metálico. Assim, poderemos analisar sob condições reais de utilização, as vantagens de se usar
as ligas a base de bismuto, com relação entre as duas predominantes (estanho e prata) e também com
o cimento Portland.
Com essa visão inovadora, aplicaremos tal ideia de descomissionamento no “poço-teste” a sofrer
um abandono permanente. Desta forma, poderemos desenvolver e descrever tal procedimento em
como ele seria aplicado na prática, servindo de avanço e de apoio para uma tecnologia futura, que
promete ser mais vantajosa dentro setor. Além de viabilizar uma fortificação na base de dados para a
formação de boas práticas mundiais relacionadas a tais materiais metálicos.
O poço offshore objeto deste estudo localiza-se na Baía de Campos, possuindo uma lâmina
d’água de 900 metros. Trata-se de um poço surgente, ou seja, possui potencial de fluxo ativo, ao qual
se não houver uma contenção, expelirá fluidos. Possui a coluna de produção em boa condição
estrutural, sem falhas no material que a compõe e também possui todas as válvulas da Árvore de Natal
Molhada (ANM) operantes. Sua profundidade máxima é de 3348m, onde começa o seu Potencial de
Fluxo, subindo até 2833m de profundidade.
Apesar de ter todas as válvulas funcionais, elas não estão de livre acesso, pois a sua ANM sofre
de incrustação de hidratos. A sua coluna de produção, que já possuía um histórico de incrustação por
parafina, ao ter a sua produção interrompida, foi observada uma restrição severa, impossibilitando a
injeção na formação, o que vinha impactando a extração. A pressão do reservatório à 2670m é de 8,6
lb/gal ou de 275 kgf/cm2; a uma temperatura de 70.1°C na mesma profundidade em que foi medida a
pressão. Há também, a presença de tais concentrações de poluentes: sulfeto de hidrogênio (H2S) a 15
ppm; e de dióxido de carbono (CO2) a 0,22%.
Por fim, como mostra a figura 1, trata-se de um poço horizontal. A figura 2 mostra a localização
de seus diversos componentes. Segue os esquemas técnicos do poço, antes de apresentarmos as
possíveis tecnologias para serem utilizadas no P&A.

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Figura 1: Perfil longitudinal do poço e esquema de diâmetros.

Fonte: produzido pelo autor.

Figura 2: Localização dos componentes do poço

Fonte: produzido pelo autor.

3.1. Metodologia
O principal objetivo de nossa metodologia é garantir a segurança em todos os aspectos possíveis.
Isso inclui a segurança material e dos equipamentos utilizados, a segurança organizacional de todos os
colaboradores e, principalmente, a segurança ambiental em uma perspectiva eterna.
Devemos respeitar a utilização e as recomendações de cada técnica para obtermos a melhor
experiência possível, além de tomarmos uma postura mais cautelosa e com total responsabilidade. E,
ao realizarmos esse e outros poço-testes, devemos averiguar a viabilidade das propostas e também
recolher os dados pertinentes para os nossos registros. Portanto, seguiremos com o nosso exemplo de
poço e aplicaremos nele a melhor solução cabível.

3.2. Opções
Dentre nossas opções, descarta-se o uso da termita devido à sua contração após sua solidificação,
favorecendo a passagem de fluidos pela ligação barreira-parede. Focando em nossas duas opções de
Ligas de Bismuto, deve-se analisar qual que se destaca melhor para a utilização.
Um projeto de abandono permanente com cimento Portland, geralmente envolve a colocação de
dois plugues independentes, em que o segundo funciona como backup em caso de falha do primeiro.
No entanto, a proposta desse trabalho é a criação de um poço-teste: ao invés do plugue tradicional de

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cimento, propõe-se a instalação de um plugue composto por um material alternativo de forma a atender
todas as exigências e normas de boas práticas mundiais e zelando pela maior segurança possível.
Trata-se, portanto, de um plugue não tradicional que poderá ser testado na prática e monitorado
continuamente para verificar seu desempenho nas condições reais de fundo de poço. Ainda dentro do
contexto experimental, é necessário adotar medidas adicionais de segurança como por exemplo a
utilização do segundo plugue de material já conhecido, assim como o seu comportamento. Sugere-se,
portanto, a colocação da segunda barreira de cimento Portland. Desta maneira, o plugue primário seria
o de teste, estando em contato direto com os hidrocarbonetos. Já o segundo seria composto por um
material confiável dentro do mercado como backup do metálico.
Essa disposição de barreiras é escolhida com o intuito de reduzir a possibilidade de falha, já que
para ocorrer um “blowout”, deveriam ocorrer duas falhas seguidas e combinadas. Essa probabilidade
de situação tende a ser reduzida pelas porcentagens pequenas referentes a cada elemento do conjunto
solidário de barreiras (CSB). Logo, manteremos o formato recomendado de duas barreiras no CSB, e
ainda assim, utilizando uma tecnologia de Ligas Metálicas para testes.
Baseado nisso, definiu-se qual a liga a base de bismuto é a melhor opção, já que ambas possuem
características que são desejáveis. A liga de bismuto e estanho por si só é capaz de cumprir a função
de formar a barreira completa na seção do poço, possuindo até mesmo algumas aplicações práticas já
feitas e bem-sucedidas (Maslin, 2019).
Já a liga de BiAg, por sua vez, foi aplicada poucas vezes na prática, muito embora tenha um
potencial de aplicação maior que a liga de BiSn. Ambas as ligas ainda sofrem com a falta de uma
aplicação dessa técnica em um poço-teste com caráter informativo, ou seja, com a finalidade de obter
dados e realizar estudos relativos ao assunto, para a formação de parâmetros reais para utilização de
Ligas Metálicas nos processos de P&A para as normas mundiais, as quais ainda faltam muitos dados
concretos sobre.
Outro ponto a ser suscitado é de que essa fase de transição de benefícios entre os dois tipos de
materiais é tênue. O nosso poço em questão apresenta uma temperatura de 70.1°C na zona de aplicação,
o que indica que o uso do BiSn sairia melhor, porém, como destacado anteriormente, nessa faixa de
temperatura a diferença entre as propriedades adquiridas dos materiais é relativamente dispensável.
Isso deve-se pois ambas as soluções mostram-se eficazes aos 70º, tendo diferenças significativas em
temperaturas acima ou abaixo dessa; como aponta o estudo de Zhang et al (2020).
Sendo assim, considerando que a liga de BiAg tem uma maior resistência termo-física, bem
como uma maior resistência química à corrosão; considerando que não há estudos anteriores sobre a
aplicação prática da Liga BiAg; considerando a intenção de um poço teste; considerando a temperatura
presente na seção do poço, bem como os componentes químicos ali presentes, foi-se decidido que a
liga de BiAg é o material que melhor desempenharia a sua função.

3.3. Aplicação
No caso do poço abordado, nos atentaremos à possibilidade de pesquisa, e não a especificação
técnica de cada parte da execução do processo de P&A.
Uma das partes mais dispendiosas em um processo de abandono, em termos tanto de custo
quanto de prazo, é a retirada da coluna de produção. Por isso, outra corrida da indústria petrolífera,
além de um substituto mais eficiente para o cimento, é por novas maneiras de realizar abandono
through-tubbing. Porém, isso não é aplicável para o poço em questão, pois a sua alta inclinação, que
chega a 90º, não torna viável, com a tecnologia disponível atualmente, ainda mais com a coluna de
produção necessitando de tratamento mecânico e físico para o controle da incrustação presente no
cenário.
Logo, como o poço apresenta essa curvatura elevada, bem como uma coluna de produção quase
que totalmente obstruída, será feito um procedimento convencional. Tal procedimento pode ser
definido pela suspensão da coluna de produção. O acesso à mesma se dará após a liberação da ANM
e da cabeça de poço por meio de fresagem mecânica e química para eliminar a presença de hidratos.
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Uso de plugues metálicos no abandono permanente de poços

Após a liberação do acesso à ANM, a coluna de produção será erguida, expondo assim o poço,
que concomitantemente terá recebido injeções de “well kill fluid”. Esta injeção consiste em líquidos
de altíssima densidade, que em contato com a fase de Potencial de Fluxo do poço, elimina
temporariamente a possibilidade de vazamento de líquidos ou de gases advindos do poço, que não
conseguem superar a densidade do fluido injetado.
O potencial de fluxo do poço vai desde sua profundidade máxima, a 3348m, até 2833m. Também
respeitando medidas de segurança, a instalação inicial das barreiras começará nem tão próximo da
faixa de potencial, nem tão longe para não haver uma diferença grande de pressão, o que pode vir
ocasionar um acidente, ou piorar as condições de operação da barreira. Considerando todas essas
condições, será estabelecida a primeira barreira a 2800m de profundidade.
Para questões de estudos e de análises de como uma barreira metálica lidaria em condições reais
de uso, ela será a primária. Logo, ela estará em contato direto com os compostos de fundo de poço,
com as diferenças de pressão e também com as forças mecânicas exercidas sobre ela. A operação de
aplicação da liga é o que a torna atraente; será descido até a profundidade desejada um cabo simples
com o conjunto. Quando devidamente posicionado, será acionado os aquecedores elétricos que
dispararão toda a reação em cadeia que atingirá o ponto de fusão da liga, que por sua vez fluidizará e
ocupará todas as lacunas e os espaços na seção do poço. Para conter e focalizar o metal, será utilizado
um tampão mecânico de forma que ofereça um apoio para o metal; tal peça poderá ser implantada de
forma convencional, ou por meio do mesmo mecanismo que trará a carga de BiAg, uma espécie de
tampão retrátil.
Após atingido o estado líquido da matéria, a Liga se espalhará e preencherá toda a seção
desejada. E então, após o resfriamento, ela se expandirá em torno de 3 a 5%, forçando sua posição
contra a rocha e/ou o cimento em seu entorno, preenchendo quaisquer espaços existentes, bem como
fixando-se de maneira exemplar às formações à sua volta. Dependendo da temperatura do poço, em
torno de 8h se dará a completo o processo, devido à boa condutividade térmica dos metais.
Concluída esta parte, estima-se que a seção contínua de metal no poço seja de 5 metros de
comprimento; sendo totalmente capaz em cumprir a função desejada de isolamento. Isso é ocasionado
pelas forças axiais fornecidas pela expansão do material em todas as direções.
A próxima barreira será de material convencional, de cimento Portland. Onde possuirá uma
espessura de 40m. Foi optado por utilizar sílica ativa como adição ao cimento em contrapartida à
acidez presente no poço, devido a presença de H2S e de CO2. Essa barreira secundária começará da
profundidade de 2785, indo até 2725 metros. Esse posicionamento foi estratégico para haver uma
distância de 10 metros entre a barreira primária (liga de bismuto) e a secundária, pois se houver uma
falha na barreira metálica, a pressão dispersada pela falha será alta, e com uma grande distância entre
as barreiras poderia intensificar o impacto da onda de choque; o que poderia causar um esforço maior
na barreira secundária. Esse limite de distância além de respeitar um requesito de segurança, ainda
permite a exploração e coleta de dados da barreira primária.
Após a aplicação do CSB, haverá o processo de mais uma barreira para o controle ambiental,
também constituída com material padrão (cimento Portland). Essa barreira é localizada bem próximo
ao leito marinho para evitar possíveis contaminações de resíduos do poço. Em seguida, será feito o
arrasamento do poço com a retirada da ANM, isto é, deixar o espaço onde houve a perfuração no nível
original ao qual ele possuía antes. Isso é feito para evitar acidentes que possam vir a danificar a cabeça
do poço, expondo os resíduos do poço ao meio ambiente, como por exemplo redes de pesca.

3.4. Verificação do Abandono


Após a aplicação do CSB, será feito um teste por pressão e um por peso em cada uma das
barreiras após sua confecção. O primeiro teste, de pressão, considerará a característica surgente do
poço. Considerando que ele já exerce 3900 psi e adicionando, de acordo com as boas práticas, 500 psi
como margem de segurança, o teste aplicará, na direção do fluxo, uma pressão de 4500 psi ou 316,38

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Uso de plugues metálicos no abandono permanente de poços

KgL/cm². O segundo teste, de peso, será feito com uma medida de 10 a 15 Klb sob o topo de cada uma
das barreiras, respeitando as indicações.
É previsto que a barreira metálica passe pelos testes sem maiores problemas devido à sua maior
resistência à compressão e à tração em comparação com o cimento. Há também a possibilidade de uma
ótima ligação metal com metal em casos through tubing, superando quaisquer outros tipos de plugues.
Para a coleta de dados durante todo o processo de fabricação da barreira, bem como os testes de
segurança, mais dados devem ser coletados para alcançar a máxima experiência dessa oportunidade.
Para isso, deve ser instalado um sensor no espaço físico entre a barreira metálica e a barreira de
cimento.
Esse sensor tem como objetivo coletar dados como temperatura e pressão por um tempo
significativo, próximo a 10 anos, a fim de saber se a barreira metálica está conseguindo desempenhar
a função programada para ela. Caso a barreira metálica não cumpra a sua função e deixe escapar
fluidos, a pressão entre as barreiras seria alterada e essa diferença seria captada por esse tipo de sensor.
Este, passará os dados para uma base, fornecendo assim uma análise completa durante e após o
processo de P&A utilizando liga metálica, no caso de bismuto com prata (BiAg).
É sugerido um sensor que opere sem baterias; após uma breve análise do mercado, viu-se que há
opções que aguentam, segundo o fabricante, 10 anos de uso nas condições do poço em questão. Porém,
essa vida útil estimada do equipamento pode ser superada e, assim, garantir uma sobrevida ao sensor.
Durante a sua operacionalização, ele transmitirá os dados de forma wireless, permitindo que haja
mobilidade de barcos, sem a necessidade de ter algum tipo de embarcação para a coleta dos dados do
poço.

4. Considerações finais
Em uma indústria em que os riscos são tão altos quanto os seus custos, que normalmente estão
sempre na casa dos milhões de dólares, erros de execução podem multiplicar perdas. A instituição não
ganha nada financeiramente nas operações de abandono. Logo quaisquer chances de inovação e de
economia são extremamente bem-vindas, podendo ser economizados milhões, e tal avanço podendo
ser executado com a maior segurança e a responsabilidade disponíveis.
Tendo em vista os pontos abordados aqui, fica claro de que há um futuro promissor para o uso
de tampões metálicos no abandono permanente de poços. Isso se deve pela economia financeira, o que
gera maiores lucros, minimizando a chance de prejuízos. Se deve pela agilidade adquirida em toda a
operação, o que também traz consigo enormes benefícios; pelo avanço ecológico na minimização do
uso de cimentos; pela melhora na logística embarcada; pela melhor efetividade da função exercida, ou
seja, cumprem melhor o objetivo que os tampões de cimentos; e, por fim, a sua total viabilidade de ser
feita.
Os tampões metálicos cumprem todos os requisitos estabelecidos, tendo características
superiores ao do cimento, pois sua composição metálica é muito maciça, tendo uma porosidade quase
nula, inibindo assim qualquer possibilidade de que quaisquer fluidos que possam escapar por dentro
de seu material ou de sua composição. Além disso, possuem uma altíssima resistência às tensões de
cisalhamento, uma boa ligação metal com metal, o que diminui drasticamente as chances de um
“blowout”.
Tem-se o objetivo de melhorar toda uma aplicação mundial, que vem cada vez aumentando mais.
E para alcançá-lo com a máxima eficiência, a utilização das Ligas Metálicas se mostra a melhor opção
a ser investida e a ser estudada, e também, será a opção que trará mais retorno para a indústria e,
consequentemente, também para a população.
Tudo isso pode ser alcançado através de estudos, que podem ser feitos com a máxima obtenção
de dados, respeitando todos os critérios de segurança estabelecidos pelas boas práticas adotadas na
indústria petrolífera mundial. Assim, validando o investimento nessa área da tecnologia para o
aprimoramento e avanço nos estudos da utilização de ligas metálicas na formação de barreiras no
abandono permanente de poços.
Rio Oil & Gas Conference, 2022. | ISSN 2525-7579 8
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