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Microtomografia Computadorizada de Raios X para a Caracterização da

Macroporosidade de Concreto Permeável


X-ray Computed Microtomography for Characterization of Pervious Concrete
Macroporosity

Desireé Cardoso Rezende do Nascimento (1); Janine Domingos Vieira (2); Camila Aparecida
Abelha Rocha (2)

(1) Graduanda em Engenharia Civil, Universidade Federal Fluminense


(2) Professor Doutor, Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal Fluminense
desireerezende@id.uff.br
Resumo
Este estudo teve como propósito verificar a viabilidade da caracterização da porosidade de concreto
permeável a partir das imagens geradas com a microtomografia computadorizada de raios X, comparar os
resultados com àqueles obtidos por meio de uma outra técnica e definir os principais fatores que causaram
diferenças entre ambos os resultados. O concreto permeável é um material cuja característica mais marcante
é a presença de uma rede de poros interligados que permite a infiltração de água e isto possibilita a redução
de inundações nos grandes centros urbanos, quando utilizado em pavimentos. Contudo, há um número
limitado de pesquisas que buscam o melhor entendimento de suas propriedades. Desta maneira, além de
utilizar a técnica da micro-CT para a caracterização da porosidade deste tipo de material, buscou-se
compreender também as limitações e vantagens da técnica com relação às demais usualmente utilizadas.
Para tanto, foram realizadas microtomografias tanto de um corpo de prova íntegro, quanto de uma amostra
formada pelo agregado graúdo e por pasta de cimento. Por meio do processamento digital das imagens
geradas com parâmetros de aquisição distintos, definiu-se a porosidade total do corpo de prova e da amostra,
contrastando os resultados com àqueles por meio de diferentes ensaios. De posse dos valores encontrados
foi possível concluir que a porosidade total do agregado graúdo e da pasta de cimento não foi captada pela
microtomografia, o que representa o motivo pelo qual os resultados de porosidade obtidos por meio da micro-
CT apresentaram-se inferiores aos demais. Entretanto, a técnica é capaz de captar os poros de dimensões
entre 2 a 8 mm, que são àqueles que contribuem efetivamente para rápida percolação de água nos
pavimentos permeáveis.
Palavra-Chave: Concreto permeável; Microtomografia computadorizada de raios X; Porosidade.

Abstract
This study aimed to verify the feasibility of characterizing the porosity of pervious concrete from the images
generated with X-ray computed microtomography, to compare the results with those obtained using another
technique and to define the main factors that caused differences between them. Pervious concrete is a material
whose most striking feature is the presence of a interconnected pores network that allows water infiltration,
which enables the reduction of flooding in large urban centers, when used in pavements. However, there are
a limited number of studies that explore its properties. Thus, in addition to using the micro-CT technique to
characterize the porosity of this type of material, the limitations and advantages of the technique in relation to
the others usually used were studied. For this purpose, microtomography of both the intact specimen and a
sample formed by coarse aggregate and cement paste were performed. Through digital processing of the
images generated with different acquisition parameters, the total porosity of the specimen and sample was
defined, contrasting the results with those through different tests. With the values found, it was possible to
conclude that the total porosity of the coarse aggregate and of the cement paste was not captured by
microtomography, which represents the reason why the porosity results obtained through micro-CT were lower
than the others. However, the technique is capable of capturing pores with dimensions between 2 and 8 mm,
which are those that effectively contribute to the rapid percolation of water in permeable pavements.
Keywords: Pervious Concrete; X-ray computed microtomography; Porosity.

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1 Introdução
De acordo com Tucci (2001), as interferências antrópicas alteram a cobertura das bacias
hidrográficas, tornando-as impermeáveis. Nos grandes centros, calçadas de edifícios
associadas às vias pavimentadas diminuem a interação da água com o solo, reduzindo o
processo de infiltração e aumentando o escoamento superficial, que ocorre cada vez mais
rapidamente. Além disso, segundo estudos desenvolvidos por pesquisadores do Centro
Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais – CEMADEN, publicados em
março de 2021 (CENADEN, 2021), o aumento do aquecimento global em diferentes níveis
é capaz de alterar significativamente o regime de precipitações, elevando os riscos de
inundações abruptas. Nota-se, portanto, que os sistemas de drenagem enfrentam um
desafio que tende a ser cada vez maior (HÖLTZ, 2011).

A busca contínua por melhores infraestruturas de drenagem das cidades e o aumento das
pesquisas na área culminaram na ampliação do leque de soluções técnicas viáveis. Surge,
nesse contexto, o chamado concreto permeável. O concreto é o material estrutural mais
utilizado no Brasil (MEHTA e MONTEIRO, 2008) e foi visto, durante muitos anos, como um
material utilizado substancialmente em construções. Sua versatilidade, entretanto, tornou
possível a alteração de algumas características da sua composição e a extensão do seu
campo de aplicação, favorecendo a sua utilização em pavimentos permeáveis. Nos
pavimentos impermeáveis convencionais utilizados nas vias urbanas, a chuva incide sobre
o pavimento e escoa rapidamente, possibilitando a ocorrência de erosões e elevando as
chances de alagamentos. O concreto permeável reduz esses efeitos ao permitir que a água
infiltre no solo.

A estrutura porosa do concreto permeável é formada por poros interconectados (que


permitem a percolação do fluxo), fechados (referente àqueles que não são acessíveis pela
água) e não-interconectados (acessíveis pela água, porém isolados dos demais). Além
disso, cabe destacar que, dentre os poros existentes, existem os que possuem maiores
dimensões e àqueles com dimensões da ordem de micrômetros ou nanômetros, presentes
na pasta de cimento e nos agregados que constituem o concreto. Em se tratando do
concreto permeável, os poros que impactam diretamente na eficiência hidráulica de
pavimentos permeáveis tendem a ser aqueles de dimensões visíveis a olho nu, visto que
permitem a chamada percolação rápida do fluxo precipitado.

Conforme exposto por Magalhães (2010) em seu estudo, é possível classificar os poros
presentes em diferentes materiais, incluindo o concreto, em três categorias distintas,
segundo a proposta da IUPAC – International Union of Pure and Applied Chemistry. De
acordo com esta classificação, os poros com dimensões superiores à 50 nm (ou 0,05 µm)
são considerados macroporos, àqueles com dimensões entre 50 nm e 2 nm (0,002µm) são
mesoporos e, por fim, os poros cujos diâmetros são menores que 2 nm referem-se aos
microporos.

Neste contexto, as técnicas que permitem a caracterização da porosidade do concreto


permeável, no que tange, por exemplo, ao diâmetro e ao volume de poros presentes,
representam importantes ferramentas para a ampliação do conhecimento acerca deste
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tema. Dentre as metodologias utilizadas atualmente, a Microtomografia Computadorizada
de Raios X (µCT) apresenta-se vantajosa, pois além de permitir a inspeção visual de grãos,
minerais, vazios, defeitos, fraturas, trincas etc. por diferentes ângulos e a representação
tridimensional do objeto, torna possível, a partir da imagem, a quantificação de
propriedades como permeabilidade e porosidade por meio de algoritmos matemáticos
(PEREIRA et al., 2016).

O estudo de um material através da técnica da µCT compreende as seguintes etapas:


aquisição das radiografias com o microtomógrafo; reconstrução tomográfica (geração de
cortes transversais da amostra analisada) com software específico; pré-processamento ou
tratamento das imagens obtidas com o auxílio de filtros para a redução de ruído e outros
efeitos indesejados que surgem durante a aquisição, ajuste de contraste e de outros
parâmetros necessários para o processamento adequado dos resultados; segmentação
das fases constituintes do material e, por fim, a análise dos parâmetros de interesse.

Existem diversas lacunas de conhecimento relacionadas às propriedades do concreto


permeável e, para que o seu uso se torne mais difundido, torna-se fundamental entender
melhor como estas propriedades se relacionam. Neste cenário, este estudo buscou,
primeiramente, verificar a viabilidade da utilização da µCT para o melhor entendimento das
suas características. Na sequência, a partir da confirmação da viabilidade da utilização da
técnica em questão, foi possível determinar a porosidade total do corpo de prova estudado,
confrontando os resultados com àqueles obtidos utilizando a metodologia recomendada
pela norma americana ASTM C1754/C1754M e definindo as razões que podem causar
diferenças entre ambos os resultados.

2 Materiais
O concreto permeável utilizado neste trabalho foi produzido por Coelho (2019). Trata-se do
mesmo material apresentado pelo autor em seu Projeto de Conclusão de Curso e no artigo
“Influência do tamanho do agregado na permeabilidade e na resistência do concreto
permeável”, publicado pelo Ibracon em 2019 (Coelho e Rocha, 2019). Os materiais
utilizados para a confecção do concreto foram agregado graúdo (brita), cimento Portland
CP V-ARI, água e pigmento inorgânico vermelho.

As faixas granulométricas e respectivas massas dos agregados graúdos utilizados para a


confecção do concreto em questão, bem como as propriedades físicas dos mesmos estão
apresentados nas Tabelas 1 e 2.

Tabela 1 - Faixas granulométricas e massas utilizadas para a confecção do concreto estudado.


Abertura das peneiras (mm) Massa (kg)
Passado Retido M3
9,5 6,3 22,34
6,3 4,75 22,34

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Tabela 2 - Propriedades físicas dos agregados graúdos utilizados.
Grandeza Valor Orientação normativa
ρap - massa unitária (g/cm³) 1,68
ρ - massa específica da brita seca (g/cm³) 2,72 NBR NM 53 (2003)
A - absorção de água (%) 0,751
An - abrasão de "Los Angeles" 46,80% NBR NM 51 (2006)

A Tabela 3 apresenta o traço M3 considerado para a produção de 1 m³ do concreto


permeável estudado.

Tabela 3 - Traço M3 utilizado para a elaboração de 1 m³ de concreto permeável


Cimento Agregado Água Pigmento fa/c (fator água/cimento) fa/f (fator água/finos)
328 kg 1489,6 kg 119,6 kg 13,7 kg 0,36 0,35

A Tabela 4 apresenta os resultados encontrados por Coelho (2019) para a resistência à


compressão dos corpos de prova produzidos a partir do traço M3 apresentado
anteriormente, bem como para o módulo de elasticidade, aos 7 e aos 28 dias.

Tabela 4 - Resumo de propriedades determinadas por Coelho (2019).


Traço M3
Grandeza
Média dos corpos de prova Desvio padrão
Resistência à compressão (MPa) – 7 dias 8,63 0,71
Resistência à compressão (MPa) – 28 dias* 10,53 -
Módulo de Elasticidade (GPa) – 7 dias 7,95 1,37

*Valor estimado.

Por fim, a Tabela 5 apresenta o resumo das propriedades do concreto permeável analisado,
obtidos por meio de ensaios de massa específica do concreto no estado endurecido, índice
de vazios (executado conforme a ASTM C1754/C1754M), índice de vazios comunicantes e
coeficiente de permeabilidade à água. Estes ensaios foram realizados por Coelho (2019)
na idade de 28 dias. As dimensões dos corpos de prova cilíndricos originais eram iguais a
10 cm de diâmetro e cerca de 7 cm de altura.
Tabela 5 - Resumo das propriedades definidas em laboratório referentes a fatia de fundo do corpo de prova
nº 10 confeccionado com a mistura M3.
Grandeza Valor
Massa específica no estado endurecido (kg/dm³) 2,32
Índice de vazios (%) 32,70
Vazios comunicantes (%) 31,78
Coeficiente de permeabilidade (cm/s) 0,455

3 Metodologia
As práticas experimentais deste estudo foram executadas em duas fases distintas.

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A primeira fase teve como principal objetivo a verificação da viabilidade da caracterização
da porosidade do concreto permeável por meio da microtomografia computadorizada de
raios X. Para tanto, esta fase compreendeu a preparação do corpo de prova cilíndrico, a
execução das primeiras microtomografias e a segmentação das imagens digitais em fases,
o que permitiu a obtenção da porosidade total das amostras e a comparação com os
resultados obtidos por Coelho (2019). A técnica da microtomografia foi inserida no escopo
da pesquisa do concreto permeável a posteriori de 2019. Assim, os corpos de prova
moldados por Coelho no ano de 2019, tiveram as imagens tomográficas obtidas próximo à
idade de 1065 dias.

A segunda fase buscou identificar os fatores que causaram diferenças entre os resultados
das primeiras tomografias e os resultados dos ensaios realizados por Coelho (2019), de
modo a reduzi-las. Objetivou-se determinar a porosidade da amostra segundo os preceitos
da norma ASTM C1754/C1754M, executar uma nova microtomografia do concreto
permeável e, consequentemente, uma nova segmentação.

Desta forma, serão apresentados abaixo todos os métodos relacionados ao estudo do


corpo de prova cilíndrico executados ao longo deste projeto.

3.1 Primeira Fase Experimental

O equipamento utilizado para a execução do ensaio de microtomografia foi o micro-


CTScan, fabricado pela empresa ZEISS, modelo Xradia VersaXRM-510, localizado no
Laboratório de Mecânica dos Solos, na Escola de Engenharia da Universidade Federal
Fluminense (Figura 1).

Figura 1 – Microtomógrafo utilizado para aquisição das imagens.

Apesar das dimensões da amostra estarem de acordo com as especificações técnicas do


microtomógrafo utilizado, buscou-se reduzi-las para assegurar a correta execução da
aquisição de imagens, visto que tamanhos maiores de amostra apresentam,
consequentemente, maior massa, podendo deslocar-se no porta-amostras do
microtomógrafo, invalidando as projeções obtidas.
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Buscou-se reduzir o diâmetro do corpo de prova de 10 cm para 5 cm, mantendo o formato
cilíndrico. Para o corte foi utilizado uma carotadora de corpos de prova de concreto. O corpo
de prova foi segurado por uma morsa e foi utilizada também uma bigorna para manter a
amostra na posição correta. Uma vez que o diâmetro de corte da serra-copo era de 5 cm,
não houve necessidade de marcação das dimensões.

Inicialmente o corte foi feito à seco, mas houve produção excessiva de pó que dificultou a
retirada do corpo de prova do equipamento, culminando na quebra da amostra. Desta
maneira, optou-se por executar todo o processo com o auxílio de água, de modo a reduzir
a quantidade de pó e facilitar a retirada do elemento. Foram necessárias quatro tentativas
até a obtenção da amostra íntegra. A amostra escolhida para a execução das
microtomografias é mostrada na Figura 2.

Figura 2 – Corpo de prova utilizado, após redução do seu diâmetro.

Após extração do corpo de prova pela carotadora, o mesmo foi lavado em água corrente,
para a retirada de material residual do corte e, em seguida, utilizou-se uma estufa para a
retirada da umidade presente no mesmo, antes da execução das microtomografias.

De posse da amostra cilíndrica, pôde-se iniciar a etapa de aquisição de projeções com o


microtomógrafo. Para a execução do ensaio, a amostra foi fixada ao porta-amostra a fim de
reduzir os riscos de movimentação ou até mesmo queda do corpo de prova da base do
equipamento. Após a fixação do porta-amostra no microtomógrafo (Figura 3), foram
determinados parâmetros como distância da fonte de Raios-X e do detector para a base da
amostra, além da voltagem para a aquisição das projeções e definição do voxel size. Para
o ensaio utilizou-se o voxel size de 50 µm.

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Figura 3 – Amostra fixada com os componentes do microtomógrafo identificados.

Para a execução do processamento das imagens, após a reconstrução tomográfica das


projeções, utilizou-se o software Fiji ImageJ. Fez-se necessário o recorte das regiões das
fatias para a retirada de artefatos. Como pré-processamento foram realizadas as operações
de normalização e a aplicação dos filtros Non-Local Means e Unsharping Masks nas
imagens. As fases foram definidas também a partir do software Fiji ImageJ utilizando a
ferramenta Trainable Weka Segmentation que realiza a segmentação da imagem por meio
de machine learning. Foram consideradas 04 fases distintas, a partir da existência de quatro
diferentes tonalidades de cinzas nas imagens, incluindo os poros (fase de interesse).

Ao fim do processo de segmentação, foram analisadas 955 fatias referentes à amostra


cilíndrica, com o voxel size de 50 µm.

3.2 Segunda Fase Experimental

Conforme citado anteriormente, o corpo de prova analisado neste trabalho foi


confeccionado por Coelho (2019). Devido ao lapso temporal existente entre a execução dos
ensaios pelo autor e a elaboração do presente estudo, bem como a alteração no formato
da amostra original, fez-se necessária a execução de novo ensaio físico para a
determinação da porosidade a fim de reduzir possíveis diferenças entre os resultados e
possibilitar maior assertividade durante as comparações entre os mesmos. Assim, um novo
teste de porosidade foi realizado no concreto na idade aproximada de 1125 dias.

O ensaio para a determinação da porosidade total de concreto permeável foi executado


segundo os preceitos da norma ASTM C1754/C1754M. Desta forma, inicialmente a amostra
foi colocada na estufa a uma temperatura de 105ºC por cerca de 24h. Após o tempo
decorrido, a amostra foi colocada no dessecador até atingir temperatura ambiente, de modo
a não sofrer influência da umidade externa. Com o auxílio de uma balança digital, foi
registrada a massa seca do corpo de prova e, na sequência, o mesmo foi colocado
novamente na estufa por mais 2h. De maneira análoga aos passos já descritos, a amostra
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esfriou até que atingisse temperatura ambiente e sua massa seca foi novamente registrada.
Uma vez que a variação entre as massas foi inferior a 0,05%, foi possível prosseguir com
o ensaio.

A sequência dos procedimentos consistiu na determinação das dimensões da amostra com


o auxílio de um paquímetro digital a fim de definir o volume do cilindro. Para a altura, foram
feitas duas medições, em direções opostas. Para o diâmetro, foram feitas três medições
(no topo, meio e base). A altura e o diâmetro considerados foram as médias dos valores
obtidos após as medições. O corpo de prova foi então submerso em água, a uma
temperatura de 23°C, durante cerca de 1 hora e, a fim de retirar as bolhas de ar presas na
amostra, utilizou-se uma espátula de borracha. Foram realizadas batidas igualmente
espaçadas no corpo de prova até que as bolhas se desprendessem. Na sequência, o corpo
de prova foi invertido e colocado em uma cesta metálica para a aferição da massa
submersa. A transferência da amostra do béquer para o cesto foi feita de modo que a
amostra permanecesse, a todo o tempo, submersa.

A porosidade total do corpo de prova foi determinada por meio da Equação 1, apresentada
abaixo.

𝑊2 − 𝑊1
φ (%) = 1 − ( 𝑃 ) × 100 (Equação 1)
𝑤 × 𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒

Em que W1 refere-se à massa submersa da amostra, em kg, e W2 refere-se à massa seca,


também em kg. Pw é a massa específica da água na temperatura do ensaio, em kg/m³, e o
volume corresponde ao volume da amostra utilizada, em m³.

Além da metodologia descrita anteriormente para a determinação do volume do cilindro


(com o paquímetro digital), buscou-se determinar este parâmetro por meio do Princípio de
Arquimedes. Isto porque o corpo de prova de concreto permeável apresentava
irregularidades em sua superfície que dificultaram as medições com o paquímetro digital.
Desta forma, para a execução do ensaio, a amostra foi embalada em plástico filme de modo
a permitir a obtenção de sua massa submersa sem que os vazios fossem preenchidos pela
água. Foram registrados a massa seca da amostra embalada, a massa submersa da
amostra embalada e a temperatura da água no momento do ensaio. O volume total da
amostra pôde ser encontrado pela Equação 2:

𝑀𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑠𝑒𝑐𝑎−𝑀𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑠𝑢𝑏𝑚𝑒𝑟𝑠𝑎


𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 = ( ) (Equação 2)
𝑃𝑤

Para a execução da segunda microtomografia da amostra cilíndrica, cujo principal objetivo


foi confirmar os resultados obtidos na primeira execução do ensaio, repetiu-se o
procedimento de fixação da amostra no porta-amostra apresentado anteriormente. Dentre
os parâmetros para a aquisição das radiografias, destaca-se o voxel size de 50 µm, mesmo
parâmetro utilizado na primeira fase experimental.

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O pré processamento das projeções reconstruídas também foi executado utilizando o
software Fiji ImageJ, de maneira análoga aos passos executados na Primeira Fase
Experimental. Destaca-se, porém, que, nesta tentativa, foi realizada a operação de
equalização das imagens, ao invés do processo de normalização.

A segmentação das fases minerais das fatias também foi realizada por meio da ferramenta
Trainable Weka Segmentation, sendo consideradas cinco fases distintas. O processo de
segmentação resultou na análise de 891 fatias.

4 Resultados
4.1 Primeira Fase Experimental
As Figuras 4 e 5 apresentam as versões originais e as versões pré-processadas das fatias
nº 1, nº 500 e nº 954 do corpo de prova estudado. As fatias foram escolhidas de maneira
aleatória e são exemplos de fatias obtidas no começo, meio e fim do processo de aquisição.

Figura 4 - Fatias originais do corpo de prova cilíndrico obtidas após a reconstrução tomográfica.

Figura 5 - Fatias da amostra cilíndrica após a realização da normalização e aplicação dos filtros.

As fatias devidamente tratadas foram segmentadas com o auxílio do Fiji Image J, após o
treinamento do classificador (Figuras 6 e 7). Ressalta-se que, na etapa de treinamento do
classificador, são identificadas as fases minerais existentes com base nos diferentes tons
de cinza presentes nas imagens. No exemplo em questão, foram identificadas quatro fases
minerais, com foco na fase porosa.
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Figura 6 - Treinamento do classificador responsável pela segmentação.

Figura 7 – Exemplo de uma fatia antes e depois da segmentação.

A porosidade obtida após a realização da segmentação das fases minerais foi de 25,49%.

4.2 Segunda Fase Experimental


Considerando-se a Equação 1 e a determinação do volume da amostra por meio de
medições diretas com o paquímetro digital, chegou-se a uma porosidade total de 34,17%.

Após a segunda tentativa para a determinação do volume, desta vez pelo princípio de
Arquimedes, foi possível chegar a uma porosidade de 32,70%, considerando as Equações
1 e 2. Coelho (2019) encontrou o mesmo teor de porosidade em seu estudo.

A análise quantitativa das fases da amostra foi realizada após o processamento das
imagens segmentadas. A Tabela 6 apresenta os resultados obtidos bem como os valores
resultantes dos ensaios físicos executados.

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Tabela 6 - Análise comparativa dos resultados encontrados para a porosidade total do corpo de prova.
Corpo de prova cilíndrico – M3
Índice de vazios
Porosidade obtida após a Porosidade obtida após a Índice de vazios encontrado neste trabalho,
primeira microtomografia segunda microtomografia encontrado por Coelho por meio da ASTM
na idade de 1065 dias na idade de 1155 dias (2019) na idade de 28 dias C1754/C1754M
Na idade de 1125 dias
25,49% 25,05% 32,70% 32,70%

A partir dos resultados apresentados, notou-se que, apesar da realização de modificações


no pré-processamento e segmentação da segunda microtomografia e da execução de um
novo ensaio de porosidade proposto pela ASTM, não foi possível reduzir significativamente
as diferenças entre os valores obtidos por meio de ambas as técnicas.

Desta forma, considerou-se a possibilidade da microtomografia não ter captado todos os


poros existentes na amostra, em virtude da limitação imposta pelo voxel size de 50 µm
utilizado. A fim de confirmar a hipótese considerada, optou-se por analisar também, ainda
neste trabalho, a porosidade do agregado graúdo e pasta de cimento presente nas
amostras de concreto permeável produzidas a partir do traço M3. Para tanto, foi feita a
extração de uma amostra do agregado graúdo envolvido pela pasta de cimento, obtida com
o auxílio de uma talhadeira e um martelo.

Inicialmente, como uma primeira tentativa para a determinação da porosidade, foi feita a
microtomografia da amostra extraída. Uma vez que os poros de interesse eram poros de
dimensões muito reduzidas, tornou-se imprescindível a utilização de um voxel size
pequeno, igual a 3 µm. A redução expressiva no parâmetro de aquisição justifica-se pelo
fato de que quanto maior o voxel size, menor a riqueza de detalhes captada pelas
radiografias.

Destaca-se que os passos seguidos foram os mesmos que àqueles descritos no item 3.1,
no que diz respeito à fixação da amostra, ao recorte e à aplicação dos filtros, sendo
empregado o processo de normalização (Figura 8). A segmentação das fatias foi realizada
considerando-se a existência de quatro fases minerais, de acordo com os diferentes tons
de cinza presentes nas imagens. Ao fim do processo, foram analisadas 974 fatias.

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Figura 8 – Amostra do agregado graúdo envolvido pela pasta de cimento fixada no porta-amostra para a
execução da microtomografia.

Houve a suspeita de que a aplicação do filtro Non Local Means tenha interferido na
visibilidade de certos poros, justificando um novo pré-processamento e uma nova
segmentação para efeitos comparativos, sem a utilização do respectivo filtro. Também
foram analisadas 974 fatias ao fim desta segmentação, considerando-se apenas a
existência de duas fases, incluindo a fase poros.

Após a análise quantitativa das 974 fatias segmentadas, foi possível determinar a
porosidade total da amostra de agregado graúdo envolvido por pasta de cimento analisada,
conforme Tabela 7 abaixo.

Tabela 7 - Análise comparativa dos resultados das duas segmentações da amostra de agregado e pasta.
Agregado + Pasta de cimento

Porosidade obtida após a primeira Porosidade obtida após a segunda


segmentação segmentação

0,44% 0,54%

Observa-se que, apesar do acréscimo de 0,10%, a porosidade obtida na segunda


segmentação permaneceu com um valor abaixo do esperado. Dentre os fatores que podem
explicar tal resultado, destaca-se a possibilidade do voxel size escolhido, apesar de
bastante reduzido, não ter sido suficiente para captar toda a porosidade existente no
agregado graúdo e na pasta de cimento, principalmente no que tange aos mesoporos e
microporos, de acordo com a classificação da IUPAC (1976).

Desta forma, buscou-se determinar a absorção de água (em massa) de amostras de


agregado graúdo envolvido por pasta de cimento do concreto permeável, de acordo com
os preceitos na norma NBR NM 53:2009. Para tanto, foram reunidos os corpos de prova
produzidos por Coelho (2019) a partir do traço M3, incluindo o corpo de prova cilíndrico
microtomografado, e, com o auxílio de um martelo e uma talhadeira, o material foi

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fragmentado de modo que o montante final possuísse tamanho homogêneo das partículas
e apresentasse massa superior a 2 kg.

A absorção de água do material pôde ser determinada através da equação 03, mostrada a
seguir:
𝑚𝑠𝑠 − 𝑚
𝐴𝑏𝑠𝑜𝑟çã𝑜 = ( ) (Equação 3)
𝑚

Onde mss refere-se à massa da amostra saturada com superfície seca e m refere-se à
massa seca.

Além da absorção de água em massa, foi possível definir, por meio da Equação 04,
apresentada por Liu et al. (2015) em seu estudo, a porosidade (volumétrica) total acessível
à água. Tal determinação fez-se necessária pois os resultados obtidos por meio da técnica
da micro-CT também estão relacionados ao volume total da amostra, permitindo a
realização de comparação direta.
(𝑚 − 𝑚) / 𝜌
𝑃 = (𝑚 𝑠𝑠− 𝑚 × 100 (Equação 4)
𝑠𝑠 𝑎 )/ 𝜌

Onde mss refere-se à massa da amostra saturada com superfície seca, m refere-se à massa
seca e 𝑚𝑎 refere-se à massa submersa.

A partir do ensaio de absorção de água, de acordo com a NBR NM 53:2009, chegou-se ao


valor de 3,39%. Tal parâmetro refere-se à porosidade com relação à massa total da amostra
analisada. A porosidade (em termos de volume) acessível à água encontrada por meio da
equação 07 foi de 8,30%.

Foi possível inferir, a partir dos resultados obtidos, que a microtomografia, de fato, não
conseguiu capturar toda a porosidade do agregado graúdo e da pasta de cimento do
concreto permeável, dada a diferença entre os valores de 0,54% e 8,30%. Isto se deve ao
fato de que o voxel size de 3 µm considerado para os ensaios estava na ordem dos
micrômetros, enquanto que os poros dos agregados e da pasta de cimento podem estar na
faixa dos nanômetros ou até mesmo angstrons, como é o caso do espaço interlamelar do
CSH e dos vazios capilares contidos na pasta de cimento. Além disso, ressalta-se que a
água é capaz de ocupar e percolar vazios muito finos, da ordem de angstrons (equivalente
a 0,1 nm), o que justifica o fato de o ensaio de absorção ter possibilitado a captura de uma
extensa faixa de poros.

Portanto, pode-se afirmar que a porosidade existente no agregado graúdo e na pasta de


cimento do concreto permeável não captada pela microtomografia de raios X representa a
principal razão para as diferenças entre os resultados de porosidade total obtidos por meio
da técnica e por meio do ensaio preconizado pela ASTM. Contudo, apesar de não captar a
porosidade total existente, a técnica é capaz de identificar uma faixa de macroporos que,
conforme a classificação proposta pela IUPAC, são aqueles poros de dimensões superiores

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à 0,5 µm, incluindo os poros entre 2 e 8 mm que são de fato, determinantes para a
permeabilidade do material.

5 Conclusão
Este trabalho teve como propósito verificar a viabilidade da utilização da técnica da
microtomografia computadorizada de raios X para a caracterização da porosidade do
concreto permeável e comparar os resultados obtidos com àqueles resultantes do ensaio
preconizado pela norma americana ASTM C1754/C1754M, identificando os fatores que
causaram as diferenças entre ambos os resultados.

Para tanto, além das microtomografias realizadas, fez-se necessário executar realizar um
novo ensaio para a determinação da porosidade total do corpo de prova (conforme a norma
americana ASTM C1754/C1754M) e estudar a porosidade do agregado graúdo e da pasta
de cimento, sendo este último estudo composto de microtomografia de uma amostra do
agregado envolvido pela pasta, ensaios de absorção de água e determinação da
porosidade total acessível à água. Assim, tem-se as seguintes conclusões:

Foi possível observar que os resultados da porosidade total do corpo de prova, obtidos por
meio da primeira e segunda microtomografias realizadas, apresentaram diferença inferior à
0,5%, validando o processo de segmentação das fases minerais executado. O ensaio
realizado em laboratório, segundo as recomendações da norma ASTM C1754/C1754M,
resultou na mesma porosidade encontrada por Coelho (2019);

Fez-se necessária, portanto, a análise da porosidade do agregado e da pasta de cimento.


A partir da microtomografia realizada com um voxel size de 3 µm, não foi possível reduzir
as diferenças encontradas. Entretanto, a partir da execução do ensaio de absorção de água
e utilização da formulação proposta por Liu et al. (2015), foi possível obter uma porosidade
significativa.

Desta forma, é possível concluir que a técnica da microtomografia pode ser utilizada para
a caracterização da macroporosidade do concreto permeável, destacando-se que, em
situações de alagamentos, são os poros de dimensões entre 2 e 8 mm que são eficientes
para o escoamento da água. A caracterização da porosidade total deste tipo de concreto,
entretanto, deve ser feita em conjunto com outras técnicas existentes, visto que a
microtomografia não é capaz de captar os mesoporos e microporos presentes na pasta de
cimento e no agregado.

6 Referências

AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS – ASTM. ASTM C1754/C1754M:


Standard test method for density and void content of hardened pervious concrete.
2012

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR NM 51 – Agregado
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graúdo - Determinação da massa específica, massa específica aparente e absorção
de água. 2009

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