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Avaliação do Correto Preenchimento da Bainha de Protensão a Partir da

Tomografia Ultrassônica
Inspection of Internal Grouting in Post-tensioned Concrete Duct by Ultrasonic Tomography

Lucas Lopes Vitali (1); Lourenço Panosso Perlin (2); Roberto Caldas de Andrade Pinto (3)

(1) Estudante de Graduação do Curso de Engenharia Civil


Universidade Federal de Santa Catarina
e-mail: lucasvitali@gmail.com

(2) Professor Associado, Departamento de Engenharia Civil.


Universidade Federal de Santa Catarina
e-mail: lourencopp@gmail.com

(3) Professor Titular, Departamento de Engenharia Civil


Universidade Federal de Santa Catarina
e-mail: rpinto@ecv.ufsc.br

Universidade Federal de Santa Catarina


Centro Tecnológico - Departamento de Engenharia Civil
Campus Universitário - Trindade
CEP: 88040-970, Florianópolis - SC
Tel: (48) 37217768 - Fax: (48) 37215191

Resumo
A homogeneidade do concreto é de fundamental importância para garantir a funcionalidade e a segurança
das peças estruturais. Portanto, técnicas não destrutivas para a detecção de falhas internas de
concretagem, fissuras e trincas vêm sendo amplamente estudadas e aplicadas na Engenharia Civil devido
ao fato de não causarem danos à estrutura. Dentre elas, destaca-se o método ultrassônico, que mede o
tempo de propagação do pulso ultrassônico entre dois pontos. Contudo, esse método não revela a
localização exata da não homogeneidade, apenas a detecta. É neste contexto que a tomografia ultrassônica
aparece, pois ela possibilita o mapeamento de toda a seção interna do objeto em estudo a partir de
múltiplas projeções do mesmo, revelando posições de não homogeneidades. O presente artigo efetua uma
análise da utilização da tomografia ultrassônica para identificação do correto preenchimento com nata de
cimento da bainha de protensão emuma peça de concreto. Seus resultados demonstram a capacidade da
tomografia ultrassônica em avaliar o correto preenchimento da bainha de protensão, fator necessário para a
durabilidade das estruturas protendidas.
Palavra-Chave: concreto, ensaios não destrutivos, ultrassom, tomografia, bainha de protensão.

Abstract
The concrete homogeneity is fundamental to guarantee the functionality and safety of structural elements. As
no damage is caused in the structure, the non-destructive techniques for internal flaws and cracking
detection have been widely studied and applied in civil engineering. Among these techniques, the ultrasonic
method stands out, which measures the propagation time of the ultrasonic pulse between two points.
However, this method does not reveal the exact location of the internal flaws, it only detects it. Inside this
context, the tomography appears, because it allows the mapping of the entire internal section of an object
from multiple projections of the same. This paper performs a ultrasonic tomography analysis to identify fails
in the filling of post-tensioned duct. The results evidence the capability of ultrasonic tomography in correct
filling evaluating of such ducts, a necessary factor for structure durability.
Keywords: concrete, nondestructive test, ultrasonic, tomography, prestressing cables.

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1 Introdução

O principal objetivo da Engenharia Civil é projetar e executar estruturas com a garantia


integral da segurança, funcionalidade e durabilidade da mesma. Tratando-se de concreto
armado, a homogeneidade e o correto adensamento da mistura estão diretamente
relacionados no âmbito de alcançar tal objetivo. Portanto, os Ensaios Não Destrutivos
(END) vêm sendo amplamente estudados e aplicados na Engenharia Civil para a
inspeção de estruturas de concreto armado com o objetivo de detectar sua resistência,
nível de carbonatação, falhas internas de concretagem, fissuras, trincas, entre outros.

A utilização dos END é uma maneira de viabilizar a inspeção e a avaliação do estado de


conservação de construções civis, de forma econômica e eficiente. A maioria destes
métodos permite a detecção de anomalias sem ocasionar danos ao material, e, a partir da
sua utilização, é possível proceder com a inspeção de uma estrutura afetada sem
interrupção do uso, propiciando uma economia em termos de tempo e de custos
(GRABOWSKI, PADARTAZ e PINTO, 2008).

Dentre as técnicas não destrutivas, destaca-se o método ultrassônico. Este se baseia no


fato de que a velocidade de propagação das ondas é influenciada pela qualidade do
concreto. O ensaio consiste na medição, por meio eletrônico, do tempo de propagação de
ondas mecânicas ultrassônicas através do concreto, entre o transdutor emissor e o
receptor. O comprimento percorrido entre os transdutores dividido pelo tempo de
propagação resulta na velocidade média de propagação da onda (MALHOTRA,1984).

Contudo, esse método não é capaz de revelar a localização exata da não


homogeneidade, apenas detecta sua presença. É neste contexto que surge a tomografia
ultrassônica, que possibilita o mapeamento de toda a seção interna do objeto em estudo a
partir de múltiplas projeções do mesmo. Resumidamente, o procedimento inicia com a
execução de diversas leituras utilizando o aparelho de ultrassom em diferentes posições
no objeto. Posteriormente, deve-se inserir os tempos de propagação, juntamente com a
geometria envolvida, no programa computacional tomográfico. Este, por sua vez, é
responsável pela resolução do problema tomográfico e exibição do tomograma, o qual
revela as posições das não homogeneidades em uma imagem 2D.

Ainda em relação às falhas internas de concretagem, um cuidado maior é essencial


quando se fala em concreto protendido, sobretudo a protensão aderente. O correto
preenchimento com nata de cimento da bainha de protensão torna-se necessário a fim de
assegurar a aderência entre o aço e o concreto, fator utilizado no cálculo da peça
estrutural.

A proteção dos cabos também deve ser garantida, pois, além do risco da corrosão
eletrolítica, a armadura ativa mostra-se mais sensível a corrosão devido à formação de
fissuras transversais causada pela alta tensão de tração à que é submetida (stress-
corrosion).

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Visto a grande importância dos efeitos causados pela injeção da nata de cimento na
bainha de protensão, o presente trabalho promove a continuidade da linha de pesquisa
desenvolvida pelo GPEND – Grupo de Pesquisa em Ensaios Não Destrutivos
(EMANUELLI JUNIOR et al., 2010 e 2011, PERLIN e PINTO, 2012), utilizando a
tomografia ultrassônica como uma ferramenta de inspeção e averiguação de possíveis
alterações na durabilidade e integridade da nata de cimento dentro da bainha de
protensão. O estudo apresenta os avanços e as melhorias obtidos na execução da
técnica não destrutiva, que vem ganhado cada vez mais espaço no meio acadêmico e
técnico.

2 Tomografia Ultrassônica em Concreto

A tomografia computadorizada, processo de obtenção da distribuição da densidade dentro


de um corpo humano a partir de múltiplas projeções de raios X, revolucionou a radiologia
diagnóstica nas últimas três décadas. Fundamentalmente, o mesmo processo
computacional tem sido usado para a reconstrução de projeções em muitos outros
campos como microscopia eletrônica, medicina nuclear, ultrassom, ciência dos materiais
(HERMAN, 2009).

Diferente da área médica, a qual dispõe dos raios X como medida física para gerar os
tomogramas, na Engenharia Civil, em espacial para o concreto, utiliza-se a Velocidade do
Pulso Ultrassônico (VPU), obtida através do END ultrassônico convencional.

O método envolve apenas o aparelho de ultrassom convencional, pelo qual se realiza as


leituras de VPU e um software tomográfico para processar tais leituras e emitir o
tomograma da seção analisada. Vale ressaltar que, antes das medições serem aferidas, é
preciso demarcar a superfície da peça em estudo com uma malha para definir e
padronizar os pontos de leitura.

As leituras são tomadas com o auxílio de dois transdutores constituídos de material


piezoelétrico ligados ao aparelho de ultrassom. Os mesmos são responsáveis por emitir e
receber o pulso de onda que atravessa o concreto. Existem três posições possíveis para a
combinação dos transdutores, conforme a Figura 1.

(a) (b) (c)

Figura 1 – Configuração para leituras de ultrassom – (a) direta – (b) semidireta – (c) indireta
Fonte: Naik, Malhotra e Popovics (2004)

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Segundo NAIK et al. (2004), O modo direto é o mais desejado e satisfatório, pois a
máxima energia é transmitida e recebida nesta disposição. Já o arranjo indireto é o menos
eficiente, pois a amplitude do sinal recebido é significativamente menor do que o recebido
pelo método direto, por isso está mais suscetível a erros.

2.1 Fundamentação Matemática Básica

Considerando o concreto um meio homogêneo e isotrópico, pode-se afirmar que um pulso


ultrassônico se propaga em linha reta no seu interior, conforme exibe a Figura 2-a. A
velocidade desse pulso entre os dois transdutores é dada pela Equação 1. Percebe-se
que, como a geometria e o posicionamento dos transdutores são conhecidos, a distância
total 𝐿 pode ser determinada. Como o tempo total 𝑇 de propagação da onda é medido
pelo aparelho de leitura ultrassônica, a velocidade 𝑉 é automaticamente conhecida
(PERLIN, 2014).

𝐿 𝐿
𝑉= ∴ 𝑇= (Equação1)
𝑇 𝑉

(a) (b) (c)

Figura 2 – Representação das leituras ultrassônicas – (a) leitura – (b) leitura com elementos discretizados –
(c) várias leituras com elementos discretizados
Fonte: Perlin (2011)

Discretizando a seção transversal em 𝑛 elementos (Figura 2-b), o pulso ultrassônico


passa a percorrer alguns desses elementos com distâncias variáveis em cada elemento.
A distância total percorrida 𝐿 é dada pela soma das distâncias percorridas em cada
elemento. Analogamente, tem-se o tempo total 𝑇, que pode ser representado pela
Equação 2.
𝑅
1
𝑇=∫ ∗ 𝑑𝐿𝑗 (Equação 2)
E 𝑉𝑗
onde:
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𝑇: tempo total de propagação da onda do Emissor ao Receptor;
𝑉𝑗 : velocidade de propagação no elemento 𝑗;
𝑑𝐿𝑗 : distância percorrida no elemento 𝑗.

Reescrevendo a Equação 2 considerando que o termo vagarosidade (𝑝) é o inverso da


velocidade, obtém-se a Equação 3 (JACKSON; TWEETON, 1994).
𝑅
𝑇 = ∫ 𝑝𝑗 ∗ 𝑑𝐿𝑗 (Equação 3)
E

onde:
𝑝𝑗 : vagarosidade da onda no elemento 𝑗.

A Integral da Equação 3 também pode ser entendida como um somatório, apresentado na


Equação 4, onde 𝑛 é o numero total de elementos discretizados.
𝑛

𝑇 = ∑ 𝑝𝑗 ∗ 𝑑𝐿𝑗 (Equação 4)
j=1

Cada nova leitura 𝑖 efetuada cria uma nova equação. Quando forem efetuadas todas as
leituras (𝑚), obtém-se a Equação 5, representada pela Figura 6-c.
𝑛

𝑇𝑖 = ∑ 𝑝𝑗 ∗ 𝑑𝐿𝑖,𝑗 (𝑖 = 1, … , 𝑚) (Equação 5)
j=1

A equação acima pode ser transformada para a forma matricial, conforme a Equação 6.

𝑇𝑚 = D𝑚,𝑛 ∗ 𝑃𝑛 (Equação 6)

onde:
𝑚: número total de leituras realizadas;
𝑛: número total de elementos discretizados;
𝐷: matriz com m linhas e n colunas que armazena as distâncias percorridas pelas ondas
ultrassônicas nos elementos j, quando realizado nas leituras i;
𝑃: vetor com n linhas que armazena as vagarosidades dos diferentes elementos
discretizados j;
𝑇: vetor com m linhas que armazena os tempos de todas as leituras i.

Como a malha e o posicionamento dos transdutores são conhecidos, os elementos da


matriz 𝐷também estão determinados. Os valores do vetor 𝑇 também são conhecidos, pois
são os resultados das leituras. Restando apenas a determinação dos valores do vetor 𝑃.

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2.2 Resolução do Sistema Tomográfico

Apesar da Equação 6 representar um sistema de equações lineares, sua resolução pode


necessitar de métodos não usuais. Essa necessidade existe devido à natureza do
sistema, que normalmente é retangular e não quadrado, ou seja, o número de equações é
diferente do número de incógnitas. Além disso, dentro da lista de equações há equações
linearmente dependentes, as quais podem tornar o problema singular, i.e., sem unicidade
na resposta. Segundo Perlin (2011), usualmente o problema tomográfico resulta em um
sistema de equações sobredeterminado inconsistente. O autor constatou em seu estudo
que o melhor método a ser utilizado é o método iterativo de Cimmino otimizado, uma
variação do método de Cimmino já utilizada por Jackson e Tweeton (1994). Tal método
está exibido na Equação 7 para a resolução do sistema no formato A𝑚,𝑛 ∗ 𝑥𝑛 = 𝐵𝑚 .

𝑥𝑛 (𝑘) = 𝑥𝑛 (𝑘−1) + 𝑊𝑚,𝑛 𝑇 ∗ [𝐵𝑚 − 𝐴𝑚,𝑛 ∗ 𝑥𝑛 (𝑘−1) ] (Equação 7)

onde:
𝑘: é número da iteração atual;
𝑚: é o número de equações do sistema;
𝑛: é o número de incógnitas do sistema;
𝑥𝑛 (𝑘) : armazena os valores do passo iterativo atual 𝑘;
𝑥𝑛 (𝑘−1) : armazena os valores do passo iterativo anterior 𝑘 − 1;
𝑊𝑚,𝑛: matriz construída por:
𝑎𝑖𝑗
𝑤𝑖𝑗 = 𝑚 ;
𝑁𝑗 ∗ ∑𝑘=1(𝑎𝑖𝑘 )2

𝑁𝑗 : número de equações onde o termo da dimensão 𝑗 é diferente de zero;


𝑎𝑖𝑗 : termo da linha 𝑖 e coluna 𝑗 da matriz 𝐴𝑚,𝑛 .

2.2.1 Considerando a Heterogeneidade

Depois de utilizado o processo iterativo de Cimmino otimizado (Equação 7), o meio, que
inicialmente foi considerado homogêneo, passa a ser heterogêneo, pois diferentes valores
de velocidades serão encontrados para cada elemento no intuito de resolver o sistema de
equações. Com isso, a propagação dos pulsos ultrassônicos não será mais retilínea,
conforme assumido no início do item 2.1 (Figura 2-a).

Pode-se utilizar o método da Teoria da Rede, conhecido internacionalmente como


network theory, shortest path ougraphtheory, para calcular os caminhos de onda em um
meio heterogêneo. Tal método, proposto por Moser (1991), consiste na ideia de criar uma
rede de pontos interconectados (Figura 3-a), onde a onda somente pode percorrer por
estes caminhos estipulados. Na Figura 3-a são exibidos os elementos discretizados em
linhas pontilhadas, e os pontos interconectados, criando então os caminhos de onda

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considerados. A quantidade pontos a serem interconectados é escolhida em função da
precisão almejada.

(a) (b)
Figura 3 – Método da Teoria de Rede – (a) exemplo de modelo de elementos, pontos e conexões – (b)
caminhos mais rápidos entre o Emissor e todos os outros pontos
Fonte: adaptado de Moser (1991)

Construída essa malha, têm-se inúmeras combinações de caminhos que podem ser
percorridos para ir de um ponto a outro. Utilizando o Algoritmo de Dijkstra (DIJKSTRA,
1959), identificam-se os caminhos mais rápidos para sair do emissor e chegar a todos os
pontos, como mostra o exemplo da Figura 3-b.

A grande vantagem da Teoria da Rede é o fato do método ser aplicado para qualquer
configuração de pontos e conexões, ou seja, este se adapta às necessidades do
problema. Outra vantagem, é que o método sempre retorna o caminho mais rápido
possível, independente da complexidade do meio.

Depois de executado o procedimento da Teoria da Rede, o caminho de onda é


recalculado, alterando então os valores da Matriz D𝑚,𝑛 da Equação 6. Isso implica que o
sistema de equações da Equação 6 necessita ser novamente resolvido pelo processo
iterativo de Cimmino, alterando novamente as velocidades de cada elemento. Esse
processo entra em um ciclo iterativo onde o critério de parada é definido pela precisão
almejada na determinação da velocidade de cada elemento.

3 Programa Experimental

3.1 Elemento ensaiado

Sendo uma continuidade da pesquisa de Emanuelli Junior et al. (2010) e de Perlin e Pinto
(2012), o presente trabalho utilizou o mesmo objeto de estudo: uma parede de concreto
com as dimensões de 100 cm x 100 cm x 20 cm, exibida na Figura 4. No interior desta,
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encontra-se uma bainha metálica de 9 cm de diâmetro inclinada que cruza a parede de
lado a lado.

Figura 4 – Parede de concreto com a bainha de protensão

O concreto fora adensado adequadamente com vibrador de agulha e, após sete dias da
concretagem, foram introduzidas cordoalhas de aço juntamente com o preenchimento da
bainha com argamassa. O preenchimento foi pleno na parte inferior do bloco, ou seja, da
sua face esquerda até seu centro conforme exibido na Figura 4. Na parte restante, ou
seja, superior, do centro até a face lateral direita na Figura 4, a bainha foi preenchida
parcialmente para simular a falha alvo dessa pesquisa.

3.2 Execução das leituras

Inicialmente, desenhou-se uma malha de 41 colunas e 13 linhas com espaçamento de 2,3


cm. Optou-se por deixar a malha paralela à bainha (Figura 4), possibilitando o uso de
seções transversais a 90° com a bainha, conforme exibe a Figura 5-b.

As leituras tomográficas foram aplicadas em duas seções transversais situadas nas


colunas 5 e 36 da malha, de acordo com a Figura 5-a. A primeira seção (coluna 5), refere-
se à porção da bainha totalmente preenchida com argamassa, e, a segunda seção
(coluna 36), refere-se à porção parcialmente preenchida.

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(a) (b)

Figura 5 – Seções analisadas – (a) localização das seções – (b) corte transversal (dimensões em cm)

As leituras da VPU foram obtidas com o uso de dois transdutores de 200 kHz e gel
acoplante de ultrassom, que garantiu o total contato entre o transdutor e a face do objeto
em teste. Para gerar o melhor tomograma possível foram efetuadas leituras diretas e
indiretas, utilizando todas as combinações possíveis entre os pontos de leitura, conforme
exibe a Figura 6-a. O ensaio produziu 325 leituras para cada seção, gerando um total de
650 leituras.

3.3 Processamento

Os tempos de propagação do pulso de onda ultrassônico foram então digitados no


software tomográfico TUCOM desenvolvido por PERLIN (2015). Também os dados
referentes ao material e a geometria do objeto em estudo e o espaçamento da malha
discretizadora (Figura 6-b), no caso, de 2,3 cm.

O próximo passo foi escolher a quantidade de pontos que compõe a malha da Teoria da
rede. No caso foram escolhidos 7 pontos por aresta, o que proporciona uma distância
entre pontos de aproximadamente 3 mm (Figura 6-c).

Analisando as leituras diretas obtidas, percebeu-se que a velocidade do pulso


ultrassônico no concreto estudado não passa de 4.100 m/s. Deste modo, para melhorar
os resultados obtidos, estipulou-se esse valor como limite máximo de velocidade em
todos os elementos discretizados.

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(a) (b) (c)

Figura 6 – Configurações utilizadas – (a) leituras – (b) discretização – (c) pontos da Teoria da Rede sem
conexões para possibilitar a representação gráfica

4 Resultados

Com a parte experimental finalizada, o programa processou e emitiu os tomogramas das


seções analisadas, como mostra a Figura 7.

(a) (b) (c)

Figura 7 – Tomogramas das seções analisadas – (a) seção 5, totalmente preenchida – (b) seção 36,
parcialmente preenchida – (c) velocidade em m/s

Comparando o tomograma da Seção 5 com a Seção 36 fica evidente que a área central
em azul da Seção 36 é maior e mais intensa, inclusive com áreas lilás, conferindo a esta
seção uma velocidade mais baixa dos elementos centrais discretizados. Elementos estes
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que estão na posição onde se encontra a bainha, conforme indica a seção transversal da
malha (Figura 5-b), demonstrando que a Seção 36 está menos preenchida que a Seção 5.

Esses resultados demonstram que a técnica tomográfica ultrassônica é superior ao


método ultrassônico convencional, pois foi sensível a quantidade do preenchimento da
bainha de protensão. Demais manchas azuis na periferia do tomograma tem sua
presença ainda sem explicação.

5 Conclusões

Neste artigo a técnica da tomografia ultrassônica foi aplicada em uma parede de concreto
para avaliar o estado do preenchimento da bainha de protensão. Optou-se por executar
325 leituras por seção transversal para se obter o melhor tomograma possível. Apensar
da existência de regiões de baixa velocidade sem explicação aparente, a presente
pesquisa demonstrou que a tomografia ultrassônica pode ser utilizada para caracterizar o
estado de preenchimento das bainhas de protensão.

O uso de um baixo espaçamento de malha, gerando uma maior densidade de leituras,


associado à utilização da Teoria da Rede certamente foram fatores que contribuíram para
uma imagem mais condizente e apurada.

Em sua continuidade, essa linha de pesquisa abordará outros parâmetros físicos, como o
formato da onda, energia e frequência, e outros parâmetros técnicos, como a definição do
número de pontos e de seções necessários para obter uma qualidade de análise
desejada.

6 Agradecimentos

Os autores gostariam de agradecer ao Grupo de Pesquisa em Ensaios Não Destrutivos –


GPEND, da Universidade Federal de Santa Catarina, pela disponibilização dos
equipamentos e espaço físico para a realização dessa pesquisa. Também agradecemos
ao Técnico de Laboratório Ivan Ribas, pelo auxílio dentro do Laboratório de
Experimentação em Estruturas da mesma Universidade.

7 Referências

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