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Método de Ensaios Não Destrutivos pela Detecção de Emissões Acústicas

Aplicação: Fadiga em materiais metálicos 19/04/2022


Eng. Nestor Carlos de Moura SNQC- EA/G 03694 MF-EC-001
INTRODUÇÃO

Para falar sobre Ensaios Não Destrutivos (END) por Emissão Acústica (EA), temos que começar entendendo o
paradoxo que envolve a aplicação desta técnica.

Quando nos referimos aos END’s, estamos falando de técnicas de inspeção que aplicadas na avaliação de uma
peça ou estrutura não causam a destruição total ou parcial do material de sua construção.

Esta condição é observada no resultado das técnicas de END como o Raio X, o Ultrassom, Líquidos Penetrantes
(LP) e Partículas Magnéticas (PM). Nestas aplicações por intermédio de uma propriedade física como a
capilaridade do líquido penetrante (LP), a propagação de ondas magnéticas (RX e PM) ou de sons de alta
frequência em sólidos (US) podemos identificar, quantificar e dimensionar descontinuidades. As
descontinuidades são avaliadas em relação a critérios e normas podendo ser aprovadas ou reprovadas,
permitindo o uso ou não do componente, respectivamente.

Para observar o crescimento dos defeitos e acompanhar sua evolução por estas técnicas, são necessárias
inspeções consecutivas e a comparação dos resultados através de registros que descrevem o status do defeito
(fotos). Nestas avaliações são observadas a morfologia e as dimensões das descontinuidades sob a luz de
referências e procedimentos.
n

1 2 3 4

Figura 1 – Fotos realizadas em microscópio acompanhando o crescimento de uma trinca a partir de uma descontinuidade menor que
0,001 mm. (1) Descontinuidade inicial (2) primeira fase de crescimento da trinca; (3 e 4) fases de crescimento da trinca; (n) trinca com
dimensões maiores que a área de cobertura da lente

O método de END por Emissão Acústica (EA) se difere dos demais em vários aspectos, pois dentre as técnicas
de inspeção não destrutiva é o único capaz de monitorar em tempo real e de modo contínuo, a dinâmica de
crescimento de uma descontinuidade ou da evolução de um mecanismo de dano, quando presentes em um
componente ou uma região localizada da estrutura. Construindo assim um registro histórico (vídeo), que terá
informações sobre a estrutura para todo o período monitorado, como previsto no procedimento de ensaio por
EA.

O método tem a capacidade de avaliar a existência de fontes ativas, isto é, descontinuidades que submetidas
a cargas previstas em projeto, apresentam crescimento em suas dimensões, atribuindo características quanto
ao histórico de ocorrências e a severidade com que o dano se propaga, muito semelhante ao que temos nos
registros de um abalo sísmico da crosta terrestre. Neste ponto, como no exemplo citado, o método de ensaio
por EA. também tem a capacidade de localizar e registrar as coordenadas de origem destas fontes ativas.

Figura 2 – Sinal típico de uma atividade de EA liberada pelo material durante processo de crescimento de uma trinca. A coleta de um
grupo destes sinais gera informações do histórico das ocorrências na base do tempo e do aumento de sua severidade, permitindo
monitorar a evolução da criticidade do defeito.

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O método é considerado uma inspeção “GLOBAL” uma vez que o arranjo de sensores é projetado para
cobertura de toda a área de interesse, monitorando as superfícies internas, externas e a espessura da estrutura.

O sistema para aquisição das Emissões Acústicas (EA) é construído de forma a captar as ondas elásticas
transientes (Emissão Acústica – EA) que são liberadas pelo material da estrutura durante a ocorrência dos
mecanismos de escoamento e ruptura do material a cada avanço da trinca. Estes mecanismos ocorrem e se
repetem por diversas vezes durante os processos de nucleação e crescimento da trinca. Esta é a característica
do crescimento de trincas quando se propagam a partir das extremidades de pontos concentradores de tensão
mecânica.

Resistencia de ruptura Intensidade e


Histórico
das Emissões
Acústicas para
Início escoamento
materiais Frágeis
e Dúcteis

Limite de proporcionalidade

Regime Regime Encruamento


elástico- plástico
linear

Figura 3- Gráfico tensão x deformação para materiais frágeis e dúcteis sobreposto pela atividade de Emissão Acústica

As Emissões Acústicas liberadas pelo material são prioritariamente capturadas pelo sistema de EA nos modos
de propagação superficial, longitudinal, transversal ou uma combinação dos mesmos.

Para o método de EA uma estrutura saudável é aquela que não emite sinais quando submetida aos esforços
operacionais ou de ensaio. Isto é, durante o carregamento final de teste o “silencio” predomina ou pequenas
atividades consideradas irrelevantes, são capturadas. Em resumo, não há em todo material da estrutura
descontinuidades que concentrem tensões conferindo valores que provocariam o crescimento de trincas ou o
dano ao material.

Por outro lado, uma estrutura que durante seu carregamento libera ondas relevantes de EA é portadora de
descontinuidades, que sob a variação dos esforços operacionais, geram em suas extremidades acúmulos de
tensões, os quais superam os limites de escoamento e ruptura do material da mesma, gerando o crescimento
de trincas.

Importante também é reforçar que apesar da característica do material ter que se destruir para que as ondas
de EA existam. O método de ensaio por EA é considerado não destrutivo pelo fato dele ter a capacidade de
avaliar as estruturas, quando submetidas a cargas previstas em projeto, permitindo a localização de uma falha
ainda quando está em sua fase inicial de nucleação e muitas vezes ainda não detectável por outras técnicas de
END ou reprovadas pela Mecânica da Fratura.

Também, em função da capacidade de cobrir grandes áreas ou até mesmo toda uma estrutura em um só
ensaio, o monitoramento por EA permite localizar defeitos ainda em dimensões subcríticas, permitindo que
através de outros END’s ou outras ferramentas, as descontinuidades possam ser dimensionadas, avaliadas e
removidas.

O método é uma potente ferramenta para planejamento e direcionamento dos recursos destinados para a
inspeção e manutenção de sistemas produtivos, principalmente por sua sensibilidade de detectar em qualquer
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momento da vida do equipamento, a presença de processos de degradação do material e crescimento de
danos. Quer seja em avaliações em serviço ou durante paradas de manutenção.

O paradoxo da tecnologia de ensaios não destrutivo por Emissão Acústica está no fato de que estruturas
saudáveis não emitem ondas de EA e estruturas comprometidas por mecanismos de danos emitem ondas de
EA quando submetidas as cargas de projeto. Neste caso o material da estrutura está sendo destruído
localizadamente pelo avanço do mecanismo de dano.

Porém, o método permite localizar e qualificar as áreas de interesse que são portadoras de descontinuidades
ativas, ainda com dimensões subcríticas em estágio que não provocam uma perda significativa da resistência
da estrutura, permitindo atuar de forma preditiva no planejamento e correção dos problemas.

A técnica é sensível a vários mecanismos de degradação e falhas mecânicas. Como por exemplo, os processos
de falha por crescimento de trincas, fadiga mecânica, fadiga térmica, corrosão, Corrosão Sob Tensão (CST),
Trincas Induzidas por Hidrogênio e outros.

É importante reforçar que o método de avaliação por Emissões Acústicas para estruturas carregadas, está
diretamente correlacionado com a distribuição das tensões mecânicas ao longo da estrutura, com a
degradação provocada pelo ambiente de serviço, com o envelhecimento do material ou com a presença de
desvios não previstos em projeto ou não observados na fase de qualificação da sua construção.

O método não tem como resultado o dimensionamento ou a definição da morfologia/geometria da


descontinuidade.

Por outro lado, é extremamente sensível na detecção do crescimento da descontinuidade, desde dimensões
ainda não observadas ou reprovadas por outras técnicas de END, até a detecção de defeitos em dimensões
ainda prematuras, antes da falha catastrófica da estrutura.

Também tem a capacidade de acompanhar de forma dinâmica o comportamento do crescimento do dano e


sinalizar quando este atinge características que o torna instável e oferece risco a integridade da estrutura.

MOTIVAÇÃO

O método de END por Emissão Acústica (EA) desperta grande interesse por responsáveis pela integridade de
estruturas e equipamentos na indústria produtiva por suas características únicas. Em vários setores como as
Petroquímicas, Siderúrgicas, Mineradoras, Geradoras de Energia, produtoras de Celulose entre outros a técnica
é amplamente aplicada.

Um fato comum para o método é a constatação de uma área ativa por EA que nem sempre apresenta defeitos
reprovados por outras técnicas, isto, pelo fato destes defeitos ainda não apresentarem morfologia e ou
dimensões críticas para estrutura.

Este trabalho tem por objetivo mostrar como o método é sensível a detecção e localização de fontes ativas e
como a descoberta prematura de uma descontinuidade ativa é fator importante para garantia da saúde de um
equipamento e ou estrutura.

EXPERIMENTO

O resultado de um ensaio de fadiga é apresentado a seguir, onde um Corpo de Prova do tipo CTOD (figura 4 e
5), construído para determinar o parâmetro de tenacidade à fratura do material ASTM A743 CA6NM, através
um entalhe para concentrar as tensões e induzir o crescimento de uma trinca. Este copo de prova foi
monitorado por EA durante um teste de carga cíclica, com forças aplicadas variando de 10 a 50 kN, em
frequência de 2 Hertz.

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Vista “q”
Distribuição de tensões na ponta
da trinca

Vista q

Força kN Força kN

Figura 4 – Corpo de prova CTOD, referenciado ponto de aplicação da carga e ponta do entalhe para concentração da tensão mecânica.

Figura 5 – Linha azul escala à direita é o registro dos ciclos de aplicação da carga, pontos verdes e vermelhos escala à esquerda
apresenta os valores de amplitude dos sinais de EA para os canais 1 e 2 durante período de 20 segundos.

RESULTADOS

Observamos nos gráficos da figura 6 as quatro principais fases do crescimento da trinca a partir da ponta do
entalhe e as principais características dos sinais de Emissão Acústica, sendo: 1- Nucleação da trinca na ponta
do entalhe; 2- Crescimento estável da trinca; 3- Crescimento instável da trinca e 4- falha (ruptura) do CP.

Podemos observar neste resultado a sensibilidade do método e vislumbrar as diversas aplicações para o
método de Ensaio baseado na detecção de “Emissões Acústicas”

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Na figura 6 é possível observar o início da redistribuição das tensões mecânicas para o tempo de 0 a 100
segundos (100 ciclos), neste período do ensaio o CP foi submetido a cargas de 10 a 50 kN com frequência de
1Hz. Não havendo na ponta do entalhe a presença de uma descontinuidade visível ou detectável por Líquidos
Penetrantes. Neste momento já são detectados sinais de EA.

A partir de 100 segundos a frequência de ciclagem foi aumentada para 2 Hz, e permanece ajustada neste valor
até o final do teste.

No período subsequente até a marca de 4319 segundos (8.438 ciclos) é possível observar um aumento linear
da ocorrência dos sinais de EA, assim como dos valores de contagem e energia. A partir deste momento a trinca
passa a ser visível, apresentando em torno de 1 mm de comprimento. O comportamento linear dos dados
coletados por EA perdura até 8756 segundos (17.312 ciclos). Momento em que a taxa dos valores avaliados
sofre um aumento significativo seguido da mudança para um comportamento exponencial, culminando com a
ruptura do corpo de prova em 10.296 segundos (20.392 ciclos).

(a)

1 2 3 4

4
(b)

3
2

Figura 6 – a) Gráfico com registro histórico dos valores de amplitude dos sinais de EA ao longo de 2:52:19 (h:mm:ss); b) Gráfico com a
somatória do número total de sinais de EA (hits) e dos valores dos parâmetros Energia (Energy) e Contagem (Counts)

A figura 7 é o registro do histórico dos eventos localizados e da posição da fonte de EA durante os ciclos de
fadiga do corpo de prova.

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(c)

(d)

Figura 7 – c) Gráfico dos registros de eventos localizados ao longo de 10296 segundos (20.392 ciclos). d) Mapa de localização gerado
pelo sistema de EA, indicando a região da fonte dos sinais de EA e marcando o ponto “z” como região de acúmulo de eventos (cluster)
com 4754 eventos de EA localizados.

CONCLUSÃO

Os resultados apresentados por este experimento são a síntese da capacidade e da sensibilidade do método
de EA para monitoração do crescimento de uma trinca pelo processo de fadiga em uma estrutura e ou
equipamento, ainda em dimensões que não ofereçam riscos para operação e possibilitando uma manutenção
programada e de maior facilidade na execução.

Mostram como a técnica pode ser utilizada como ferramenta para monitoração de regiões de interesse com o
equipamento em serviço e sua capacidade de identificar com grande antecedência o aumento do risco de falha
do componente.

Podemos interpretar por este experimento que a partir da existência de um concentrador de tensões (entalhe)
e sendo este submetido a ciclos de carga, teremos o crescimento de uma trinca. E que desde a nucleação da
trinca já são coletados sinais de EA genuínos. Com apenas 100 segundos de ensaio já havia cerca de 100 eventos
de EA localizados e a indicação da posição da trinca na ponta do entalhe (figura 7).

O crescimento da trinca ocorreu sem registro visual até cerca 8.000 ciclos, neste momento com comprimento
menor que 1 mm e com registros permanentes por EA da fonte ativa desde o primeiro ciclo. A partir deste
ponto foi possível monitorar a fonte por EA e observar a trinca crescendo em seu comprimento até a ruptura
do corpo de prova com 20.392 ciclos e aproximadamente 15 mm de comprimento.

A capacidade do método de Emissão Acústica em localizar a região que sofre o dano em condição de testes ou
em serviço ainda com o material apresentando boa resistência, deixa evidente que se trata de uma potente
ferramenta preditiva para identificação de estruturas portadoras de “sintomas degenerativos” e suas regiões
de interesse para manutenção.

Mesmo uma avaliação simplificada como esta é uma grande motivação para o uso do método de ensaios não
destrutivos pela captação de ondas de Emissão Acústica para todo tipo de estrutura na Industria produtiva.

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