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All content following this page was uploaded by Angelo Fernando Padilha on 21 January 2021.
Resumo
No estudo dos materiais três tipos de microscopia são utilizados em grande extensão:
microscopia óptica (MO), microscopia eletrônica de varredura (MEV) e microscopia eletrônica de
transmissão (MET). Em menor extensão, mas em uma faixa exclusiva de alto aumento e excelente
resolução, encontra aplicação a microscopia de campo iônico (MCI). Deve-se destacar que essas
técnicas são complementares e cada uma delas tem seu campo específico de aplicação. Todavia, se
tivéssemos que destacar a principal potencialidade de cada uma, poderíamos afirmar que:
a microscopia óptica permite a análise de grandes áreas em curto espaço de tempo, além de ser
de utilização simples, rápida e pouco dispendiosa;
Angelo Fernando Padilha (PMT-EPUSP)
Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Escola Politécnica da Universidade de S. Paulo (2021) 3
cerâmicos e poliméricos) dispõe de tensão de aceleração de até 200 kV. Já os MET utilizados em
biologia (materiais orgânicos naturais) em geral operam na faixa de 60 a 80 kV.
4. A preparação de amostras
As amostras utilizadas em MET devem ter as seguintes características: espessura de 500 a
5000Å (dependendo do material e da tensão de aceleração utilizada, conforme ilustram as Tabelas
3 e 4, respectivamente) e superfície polida e limpa dos dois lados. Durante a preparação, a amostra
não deve ser alterada, como por exemplo, através de deformação plástica, difusão de hidrogênio
durante o polimento eletrolítico ou transformações martensíticas.
Tabela 3 - Espessura máxima transmissível a elétrons acelerados com uma tensão de 100 kV para
diversos elementos.
Os corpos de prova podem ser de dois tipos: lâminas finas do próprio material ou réplicas de sua
superfície. A preparação de lâminas finas de metais e ligas segue normalmente a seguinte seqüência
de preparação: corte de lâminas de 0,8 a 1,0 mm de espessura, afinamento por polimento mecânico
até 0,10-0,20 mm de espessura e polimento eletrolítico final. As lâminas finas de materiais
poliméricos e de outros materiais orgânicos são obtidas por microtomia, onde uma navalha corta
películas finas e com espessura controlada. Em geral, o material orgânico é resfriado em nitrogênio
líquido (ultramicrotomia) para minimizar a deformação durante o corte. O afinamento final das
lâminas de materiais cerâmicos é geralmente feito por desbaste iônico.
Três tipos de réplica são normalmente utilizados para obtenção de amostras de MET: de
plástico, de carbono e de óxido. Na técnica de réplica de plástico, uma solução diluída de plástico
em um solvente volátil, por exemplo formvar em clorofórmio, é gotejada na superfície da amostra.
O solvente se evapora e deixa um filme, que pode ser retirado e que representa o "negativo" da
superfície. Na réplica de carbono, este material é evaporado na superfície da amostra. Esta técnica
pode ser utilizada também para arrancar partículas de precipitados da amostra, a chamada réplica de
extração. Na réplica de óxido, usada principalmente para ligas de alumínio, o filme de óxido é
obtido por anodização de uma superfície previamente polida eletroliticamente. Nos três tipos de
réplica, o contraste tem origem nas variações de espessura. No caso de partículas extraídas, um
contraste adicional aparece, pois as partículas, se forem cristalinas, difratam elétrons.
Figura 4:
Projeção de várias espécies microestruturais
contidas em uma lâmina fina.
O contraste nas imagens formadas em MET tem diversas origens, tais como diferença de
espessura, diferença de densidade ou de coeficiente de absorção de elétrons (contraste de massa),
difração e campos elásticos de tensão. Dois casos serão discutidos brevemente em seguida: sólidos
amorfos (contraste de massa) e sólidos cristalinos (difração). A formação de imagem e contraste
será abordada de maneira apenas introdutória e simplificada.
a) Sólidos amorfos
Durante a passagem de elétrons através de uma lâmina fina de sólido amorfo ocorre
espalhamento dos elétrons em praticamente todas as direções (vide Figura 5). Este espalhamento é
causado pela interação do elétron incidente com o núcleo dos átomos da amostra. Ele é tanto mais
intenso quanto mais denso for o material, mais espessa a amostra e maior o número atômico do
material da amostra.
(a) (b)
Figura 5: Interação do feixe de elétrons incidentes com amostra sólida: a) amostra amorfa, lado
esquerdo, mostrando a ocorrência de espalhamento; b) amostra cristalina, lado direito, mostrando a
ocorrência de difração.
Figura 6:
Origem do contraste em sólidos amorfos
com variação de densidade. A região B é
mais densa que a região A.
b) Sólidos cristalinos
Enquanto que para sólidos amorfos é razoável supor uma distribuição uniforme de elétrons
espalhados, para sólidos cristalinos a transparência a elétrons depende das condições de difração
que diferem bastante conforme a direção. Quando um feixe de elétrons passa por uma lâmina de
material cristalino, somente aqueles planos quase paralelos ao feixe incidente contribuem para a
figura de difração (vide Figura 7). Por exemplo, um feixe acelerado com 100 kV tem comprimento
de onda 0,04Å e pela lei de Bragg difratará para o ângulo de 0,01º, isto é, planos praticamente
paralelos ao feixe incidente.
Figura 7:
Formação de imagem de material
cristalino em microscópico
eletrônico de transmissão
(esquemático).
Figura 8:
Tipos característicos de
figuras de difração:
a) região monocristalina;
b) região policristalina;
c) região amorfa.
A Figura 9 apresenta uma figura de difração de elétrons do ferro alfa (estrutura cristalina CCC)
já indexada, isto é, as manchas ou pontos ("spots") já foram analisadas e identificadas.
Figura 9:
Difração de elétrons do ferro alfa, com
as manchas ou pontos ("spots") já
indexadas. (E. Hornbogen, Ruhr-
Universität Bochum, Alemanha. Vide
item 8: bibliografia comentada)
A análise das figuras de difração, por exemplo do tipo a) da Figura 8, permite a determinação
da estrutura cristalina e dos respectivos parâmetros de reticulado, assim como a orientação da
microrregião analisada. Se a área selecionada para análise contiver duas fases, por exemplo um
precipitado disperso em uma matriz, a figura de difração formada será a superposição dos
diagramas de difração das duas fases. Neste caso pode-se determinar adicionalmente as relações de
orientação cristalográfica entre os planos cristalinos das duas fases e concluir se o precipitado é
coerente, semi-coerente ou incoerente com a matriz.
ambiente as discordâncias formam emaranhados arranjados em uma substrutura celular, com muitas
discordâncias nas paredes de célula e com densidade de discordâncias mais baixa no interior das
células. No cobre deformado a quente (500ºC) o arranjo de discordâncias levou à formação de
subcontornos que subdividiram os grãos (cristais) em subgrãos. Enquanto a diferença de orientação
entre grãos vizinhos é da ordem de dezenas de graus, a diferença de orientação entre subgrãos é em
geral menor que 5º. A comparação entre as duas micrografias da Figura 10, permite afirmar que a
densidade de discordâncias da amostra deformada a quente é mais baixa. Determinando-se a
espessura local da amostra e utilizando relações de estereologia quantitativa é possível determinar a
densidade de discordâncias (em cm/cm3 ou m/ m3).
Figura 10: Cobre policristalino deformado até 10% de alongamento em ensaio de tração, em duas
temperaturas diferentes: a) 25ºC e b) 500ºC. (Hans-Jürgen Kestenbach, Departamento de
Engenharia de Materiais da UFSCar)
Figura 11:
Discordâncias parciais delimitando
defeitos de empilhamento.
Figura 12: Micrografia obtida por MET em uma fase Figura 13: Micrografia obtida por MET
CFC de baixa EDE após 3% de alongamento em mostrando carbonetos secundários TiC em
ensaio de tração realizado na temperatura ambiente. um aço inoxidável austenítico DIN 1.4970.
(Wolfgang Klaus Reick, Ruhr-Universität Bochum, Aumento 35000X. (A. F. Padilha, EPUSP)
Alemanha)
8. Bibliografia comentada
A.D. ROMIG, Jr.: Analytical transmission electron microscopy. In: Metals Handbook.
Vol.10; Materials Characterization, pag. 429-489, 9th Edition, ASM, Ohio, 1986.
Este volume do Metals Handbook (nona edição; a de capa vermelha!) aborda de maneira detalhada
e clara as principais técnicas de análise microestrutural e é um excelente texto para estudo e
consulta. A microscopia eletrônica de transmissão é tratada em nível mais profundo que o exigido
em um curso introdutório, todavia, sugerimos que você consulte esta obra. Existe um exemplar na
biblioteca do PMT.
P.E.J. FLEWITT & R. K. WILD: Microstructural characterisation of metals and alloys. The
Institute of Metals, London, 1986.
Este livro apresenta as principais técnicas utilizadas na caracterização microestrutural dos
metais e ligas. No capítulo 3 (“Visual Metallography”), nas páginas 17 a 63, são tratadas as
microscopias (óptica, eletrônica de varredura e eletrônica de transmissão). A microscopia eletrônica
de transmissão é tratada de maneira resumida no item 3.5, a partir da página 37, em nível de
profundidade similar ao exigido neste curso. É uma boa opção para estudo (em inglês). Existe um
exemplar na biblioteca do PMT.
L. C. SAWYER & D. T. GRUBB: Polymer microscopy. Chapman and Hall, London, 1994.
Livro especializado na microscopia de materiais poliméricos, onde a microscopia eletrônica de
transmissão também é tratada. As técnicas de preparação de amostras de materiais orgânicos são
descritas em detalhe. Apresenta muitas micrografias (imagens obtidas com os diferentes
microscópios). É uma boa opção para consulta, para os interessados em materiais poliméricos.
Existe um exemplar na biblioteca do PMT.
L. REIMER: Transmission Electron Microscopy. 4th Edition, Springer Verlag, Berlin, 1997.
É um dos textos clássicos sobre microscopia de transmissão, em nível de pós-graduação. Sugerimos
que você dê uma olhada neste livro e avalie o nível de profundidade que esta técnica (MET) é
conhecida e tratada pelos cientistas e pesquisadores. Existe um exemplar na biblioteca do PMT.
na técnica e que conhecem pelo menos um pouco da língua alemã. Não temos exemplar nas
bibliotecas da EPUSP.
9. Exercícios
1) Escolha entre os 3 tipos de microscopia mais utilizados (MO – microscopia óptica; MEV –
microscopia eletrônica de varredura; MET – microscopia eletrônica de transmissão) qual delas é
a mais adequada para:
Objetivo Técnica
a) Determinar o tamanho médio de grão de uma barra de aço baixo carbono laminado
e recozido.
b) Determinar as relações de orientação cristalográficas entre um precipitado
coerente, com tamanho por volta de 400 Å, e a matriz que o envolve.
c) Determinar o tamanho médio de esferulito de um termoplástico parcialmente
cristalino, como por exemplo o PTFE (Teflon).
d) Determinar o tamanho médio dos cristais que constituem um esferulito.
e) Analisar a superfície de fratura de um material cerâmico.
f) Determinar a energia de defeito de empilhamento de um latão alfa Cu-20%Zn.
g) Determinar a densidade de discordâncias de um metal encruado.
h) Analisar a superfície de fratura de um material polimérico.
i) Determinar o tamanho médio de sub-grãos de um corpo de prova de aço inoxidável
submetido ao ensaio de fluência.
j) Analisar a superfície de fratura de um material metálico.
k) Analisar a superfície de uma peça que sofreu desgaste abrasivo.
l) Determinar o espaçamento interlamelar da perlita de um aço eutetóide.
m) Determinar a distribuição de tamanhos dos carbonetos em um aço bainítico.
n) Estudar a composição química de um precipitado de 10 nm em uma liga de cobre.
o) Estudar a decomposição espinodal em um material polimérico.
p) Estudar a decomposição espinodal em um material cerâmico.
q) Estudar a decomposição espinodal em uma liga metálica.
r) Estudar a microestrutura de uma blenda polimérica.
s) Determinar a fração volumétrica recristalizada em uma amostra de alumínio puro.
t) Estudar aglomerados de lacunas em alumínio puro irradiado com nêutrons.
u) Determinar o tamanho de grão de cobre nanocristalino.
v) Determinar a estrutura cristalina de cristais presentes em polietileno (PE).
w) Observar a martensita induzida por deformação em aço inoxidável austenítico.
x) Observar a martensita em um aço carbono temperado.
5) Uma liga de alumínio, após o tratamento térmico de solubilização (depois do qual quase todo o
soluto da liga encontra-se em solução sólida), permaneceu armazenada em Manaus por 6 meses
na temperatura ambiente. Ensaios mecânicos realizados antes e depois da armazenagem
mostraram que a liga endureceu (aumentou sua resistência mecânica) durante o período que
ficou armazenada. O problema foi levado a um engenheiro metalurgista, que explicou: "durante
a armazenagem ocorreu endurecimento causado por precipitação de pequenos precipitados
coerentes da ordem de 100 Å; fenômeno conhecido como envelhecimento natural. Explique
como você identificaria estes precipitados.
7) Uma das principais grandezas físicas de um material cristalino é sua energia de defeito de
empilhamento. Como se determina a energia de defeito de empilhamento de um material?
(Sugestão: Consulte o Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP número
BT/PMT/9901(ISSN 1413-2176), cujo título é “Uma compilação crítica de valores de energia
de defeito de empilhamento para diversos metais”)
9) Tente explicar a formação das imagens dos precipitados nanométricos das três micrografias (a,
b, c) da Figura 14.