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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CESSÃO DE DIREITOS
__________________________________
William Melo Guimarães
Rua H23A 103 – Campus do CTA
CEP: 12228-480, São José dos Campos - SP
iii
ITA
iv
Agradecimentos
Resumo
Abstract
The use of optical sensors in the measurement of various physical and chemical parameters and
for different applications has increased in recent decades, attracting more and more interest
from the scientific community. In the work presented here, detailed numerical studies are
presented on two proposals for sensors based on special optical fibers. For both proposals, the
main procedures used to create the computational models are presented in detail, as well as the
results obtained from the simulations based on these models. The first proposal is a
refractometric sensor implemented through a single-mode – multimode – single-mode fiber
configuration (SMS), with the multimodal section composed of an exposed-core
microstructured fiber. This proposal uses the phenomenon of multimode interference to
produce an interference pattern that varies according to the refractive index of the dielectric
sample. Since the core is exposed to the external environment, the interaction of the sample
with the evanescent field of the modes that propagate in the core region of the fiber is facilitated.
The numerical results are then compared with the experimental results obtained through an
academic partnership between the Laboratory of Computational Electromagnetism at IEAv and
the Institute of Physics at UNICAMP. The second proposal is based on a special optical fiber
with a hollow core, formed by the arrangement of dielectric capillaries distributed around it in
an azimuthally asymmetric way. Both the geometric specifications and the positioning of the
capillaries are chosen so that, through the anti-resonant effect, the optical transmission
characteristics of the sensor vary according to the intensity and direction of the curvature
applied to the optical fiber. Due to the difference in thickness between the walls of the dielectric
capillaries, the coupling between the optical modes of the hollow core and the capillaries occurs
at different wavelengths for each capillary, making the curvature in different directions
responsible for reducing the level of transmission at different wavelengths. By submitting the
optical fiber, through simulations, to different radii of curvature applied in different directions,
the numerical results obtained allow us to observe this behavior. This characteristic makes the
proposed device behave like a curvature sensor with directional discrimination.
viii
Lista de Figuras
Figura 1 – Representação típica do perfil transversal de uma fibra óptica com um perfil de índice
.................................................................................................................................................. 30
baixa (setas azuis) e alta (setas amarelas) concentração de energia no centro do núcleo da seção
MMF. O gráfico à direita mostra a potência no núcleo normalizada pela potência da SMS de
entrada. ..................................................................................................................................... 35
Figura 7 – Representação de corte transversal de uma fibra microestruturada que faz uso da
Figura 8 – Representação de corte transversal de uma fibra microestruturada que faz uso do
Figura 9 – (a) Diagrama esquemático do corte transversal de uma fibra antirressonante simples,
representativo das transmissões e reflexões do sinal óptico nas interfaces entre a parede
espelho móvel que pode ser utilizado para medir pequenos deslocamentos. ........................... 43
Figura 12 – Imagem de corte transversal da fibra a ser utilizada para implementação do sensor
Figura 13 – Imagem de corte transversal da fibra a ser utilizada para implementação do sensor
Figura 17 – Detalhe do pico da curva de referência obtida para LMMF = 2,860 mm, λ = 1,55 μm
Figura 18 – Detalhe do perfil de índices de refração em parte da seção transversal da fibra óptica
para elementos de malha com área de (a) 0,64 µm2, (b) 0,08 µm2 e (c) 0,01 µm2................... 56
Figura 19 – Resposta espectral do sensor a variações do índice de refração a ser medido. ..... 57
amostra dielétrica que preenche um furo lateral próximo ao núcleo da fibra óptica sensora. (a)
Detalhe da função de segundo grau utilizada para determinar o valor máximo das curvas de
transmissão espectral; (b) deslocamento espectral do pico de transmissão em relação a λ0; (c)
curva de sensibilidade do sensor e (d) largura completa a meia altura da banda de transmissão
óptica. ....................................................................................................................................... 58
x
núcleo da fibra são preenchidos com o material dielétrico da amostra a ser sensoriada. ......... 59
Figura 22 – Transmissão espectral do sensor para seis furos preenchido com o material
nm. (a) Transmissão óptica espectral para diferentes índices de refração do material dielétrico
que preenche o furo lateral, conforme indicado; (b) deslocamento espectral do pico de
transmissão em relação a λ0; (c) curva de sensibilidade do sensor e (d) largura completa a meia
altura. ........................................................................................................................................ 61
ao redor do núcleo preenchidos com material dielétrico de índice de refração nvar = 1,42. ..... 62
com material dielétrico. Deslocamento espectral (a) e (b); sensibilidade espectral (c) e (d) e
imagens ..................................................................................................................................... 65
Figura 27 – Corte transversal do modelo de fibra sensora com núcleo exposto e indicação dos
com seção multimodal com um furo preenchido (linhas sólidas) e o sensor refractométrico
baseado no modelo com seção multimodal de núcleo exposto (linhas tracejadas), para diferentes
transmissão normalizada dos dois casos é mostrada através das curvas com linhas pontilhadas.
.................................................................................................................................................. 68
xi
Figura 29 – (a) Variação das curvas de referência (nvar = 1 e λ0 = 1.450 nm) com o
indicado; (b) Deslocamento, em nanômetros, do pico das curvas de referência para as três
para diferentes índices de refração; (e) deslocamento espectral e (f) sensibilidade do sensor. 70
para diferentes índices de refração; (e) deslocamento espectral e (f) sensibilidade do sensor. 71
essas três condições na (b) sentido do núcleo exposto e (d) sentido oposto. ........................... 73
refractométrico. (b) dados brutos, sem filtragem amostral; (b) com aplicação de filtro de média
móvel de 5 elementos; (c) com aplicação de filtro de média móvel de 11 elementos e (d) com
Figura 36 – Detalhe do método utilizado para o cálculo dos vales das curvas de transmissão
Figura 37 – Variação do deslocamento espectral dos vales das curvas de transmissão (a) e
(a) Seção transversal da fibra óptica sensora. (b) Representação tridimensional da fibra óptica
transformação do sistema de mapeamento espacial; (b) perfil de índices de uma SMF28 sem
curvatura e (c) perfil de índices com transformação das propriedades de material referente a
Figura 44 – Modelo geométrico da fibra óptica antirressonante com assimetria azimutal com a
curvatura nas direções (a) θ = 180°; (b) θ = 90°; (c) θ = 0° e (d) θ = −90° ............................. 91
azimutal mostrando o perfil de índices de refração para a fibra óptica reta e curvada com raio
de curvatura de 3 cm. (a) A fibra óptica reta; (b) fibra curva com destaque para valores de
índices de refração nas regiões preenchidas com ar; (c) fibra curva com destaque para valores
de índices de refração das regiões preenchidas de material sólido (sílica). (d) fibra óptica reta
Figura 47 – Variação espectral dos vales de transmissão em função das densidades de malha.
.................................................................................................................................................. 93
com assimetria azimutal sem curvatura, composta por tubos dielétricos de diferentes espessuras
(t1 a t4); (b) perfil transversal de intensidade do modo óptico fundamental nos comprimentos de
onda em que ocorre acoplamento entre modo de núcleo e modo da estrutura dielétrica. ........ 94
curvada com diferentes raios de curvatura. Comparação da resposta espectral da fibra reta com
.................................................................................................................................................. 95
curvada na direção θ = 0°, com diferentes raios de curvatura, e perfis de intensidade do modo
óptico fundamental evidenciando seu acoplamento ressonante com modos ópticos da estrutura
dielétrica da fibra óptica, em especial em capilares de diferentes espessuras: (a) e (b) capilar
com espessura de 650 nm; (c) e (d) capilar com espessura de 800 nm; e (e) e (f) capilar com
dielétrica da fibra óptica. Resultados obtidos considerando Rcurv = 5 cm, para uma janela de 30
nm no entorno das ressonâncias associadas aos capilares dielétricos de (a) 800 nm e (c) 725 nm.
Figura 52 – Desvio espectral dos vales de transmissão em função da direção de curvatura e para
três raios de curvatura. (a) Resultados associados aos capilares de 575 nm e 725 nm e (b)
Sumário
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 17
REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 104
17
1 Introdução
Apesar de não serem nenhuma novidade, visto que já estão presentes em nossas vidas, de
alguma forma, por mais de meio século, os sensores a fibra óptica continuam atraindo o interesse
da comunidade científica mundial. São vários os fenômenos ópticos envolvidos em seu
funcionamento que pode ser direcionado para o sensoriamento dos mais diversos parâmetros
físicos. Entre suas vantagens, se destacam a imunidade à interferência eletromagnética, peso e
dimensões reduzidos, alta sensibilidade, resistência a radiação, banda larga de operação e
possibilidade de operação em condições extremas de pressão e temperatura [1]. Como
desvantagem, podemos citar uma relativa complexidade dos métodos de detecção, requisitos
rígidos quanto à precisão dos procedimentos de instalação e elevado custo de implementação,
quando comparados com outras categorias de sensores [2].
Em virtude dessas características, a utilização de sensores a fibra óptica se mostra
particularmente vantajosa para aplicações espaciais, principalmente no monitoramento da saúde
estrutural de instalações, equipamentos e veículos espaciais, além do sensoriamento ambiental e
no desenvolvimento de sistemas de navegação inercial. Além dos pontos positivos já citados,
outros aspectos, como isolamento elétrico, flexibilidade mecânica, baixo consumo de potência,
capacidade de monitoramento remoto, multiplexação eficiente e possibilidade de sensoriamento
de múltiplos parâmetros fazem com o que sensores a fibra óptica tenham o potencial de superar
outros tipos de sensores para aplicações desta natureza espacial [3].
Motivado pela relevância do tema, este trabalho busca explorar novos designs de fibras
ópticas especiais com potencial de serem aplicadas em sensoriamento, ao apresentar duas
propostas de sensores através de uma série de estudos numéricos. A primeira proposta é
relacionada a um sensor refractométrico baseado em interferência de multimodos em uma fibra
multimodal de núcleo exposto, fibra recentemente apresentada na literatura. O índice de refração
é uma importante propriedade de qualquer material podendo, inclusive, ser utilizado para
mensurar diferentes características físicas, químicas ou biológicas, conforme relatado em um
breve resumo do estado da arte apresentado na seção 2.2.
A segunda proposta refere-se a um sensor de curvatura baseado em uma fibra
antirressonante de núcleo oco com assimetria azimutal, proposta inédita da equipe do Laboratório
de Eletromagnetismo Computacional (LEC) do IEAv e objeto de cooperação com a equipe de
pesquisadores do Instituto de Física da UNICAMP. O sensoriamento de curvatura possui várias
aplicações tendo como exemplos relevantes as aplicações relacionadas ao monitoramento de
18
semelhante à apresentada no capítulo 5, no que tange aos passos para a criação do modelo
computacional e para o tratamento e exibição dos dados gerados através das simulações. O
princípio de funcionamento do sensor é discutido em detalhes e a prova de conceito do
dispositivo proposto é feita através da análise dos resultados numéricos obtidos quando o sensor
é avaliado para diferentes raios e direções de curvatura.
20
2 Revisão Bibliográfica
Um endoscópio flexível pode ser considerado o primeiro sensor a fibra óptica e foi
inventado em 1930 [4,5,6]. Já a implementação de um alarme para identificar a presença pontual
ou não de um objeto pode ser considerada uma das primeiras aplicações industriais de sensores
a fibra óptica que, posteriormente, evoluiu para a determinação precisa de sua localização [7].
Em 1966, foi publicado um estudo que estabeleceu os requisitos, especialmente a máxima
atenuação por quilômetro, para que uma fibra óptica possa se tornar um meio físico capaz de
transmitir sinais ópticos a longas distâncias e ser a base de uma rede de comunicações [8].
Posteriormente esse trabalho rendeu um prêmio Nobel de Física por conquistas inovadoras
relacionadas à transmissão de luz em fibras para comunicações ópticas [9,10].
Com o passar dos anos, a redução nos custos dos componentes utilizados em sensores
ópticos teve papel fundamental nos avanços tecnológicos que permitiram sua popularização.
Diodos LASER monomodo, que nos anos 1970 custavam milhares de dólares e tinham vida útil
de horas, já podiam ser encontrados em milhões de reprodutores de CD com custo reduzido para
o patamar de poucos dólares e com vida útil estimada em dezenas de milhares de horas [5]. Da
mesma forma, fibras ópticas monomodo, que nos anos 1970 custavam 10 dólares por metro,
popularizaram-se na década de 1990, atingindo custos menores que 10 centavos de dólar por
metro após milhões de quilômetros serem instalados a cada ano [11]. O mesmo ocorreu com
outros componentes como moduladores ópticos integrados. Com uma inserção no mercado cada
vez maior devido a essa redução de custos, somada à grande variedade de aplicações em
potencial, é seguro afirmar que os sensores a fibra óptica estarão cada vez mais presentes em
nossas vidas.
Por se tratar de uma propriedade física, diretamente relacionada à forma como uma onda
eletromagnética interage com o meio material, o índice de refração tem impacto direto na
propagação óptica. Materiais dielétricos, sujeitos à ação de alguma grandeza física externa,
podem ter suas propriedades alteradas de forma que seu índice de refração sofre uma mudança.
Ao observar uma variação do índice de refração, é possível sensoriar indiretamente, o agente
físico externo (mensurando) responsável por essa mudança. O elemento sensor pode operar de
duas formas: conhecendo-se a variação dos agentes externos e a forma pela qual esses agentes
físicos alteram as propriedades ópticas do meio material dielétrico, é possível desenvolver um
sensor refractométrico ou sensor de índice de refração. Por outro lado, se são conhecidos os
índices de refração do meio dielétrico e a forma como esses valores são alterados por agentes
externos, é possível desenvolver um sensor óptico para mensurar a variação desses agentes
físicos externos, tais como: temperatura [12], pressão [13], deformação [14], vibração [14],
curvatura [15], campo magnético [16] ou elétrico [17], umidade [18], etc.
Várias aplicações industriais, tais como o controle de qualidade na indústria química, de
alimentos e no setor de combustíveis [19], necessitam de medidas precisas de índice de refração
em seus processos. Atividades de pesquisas na área médica e bioquímica, também fazem uso de
sensores refractométricos como forma de estimar a concentração de material biológico diluída
em uma solução [20]. Como um último exemplo podem ser citados sensores que se baseiam em
materiais com propriedades eletro-ópticas, magneto-ópticas ou termo-ópticas que podem ser
utilizados para medir grandezas físicas como campo elétrico, campo magnético ou temperatura,
respectivamente, através do sensoriamento de seus índices de refração.
Sensores de índice de refração baseados em fibras ópticas podem fazer uso das mais
variadas técnicas de projeto e fabricação [21]. Entre as mais simples, destaca-se a utilização de
fibras afinadas (tapers)a partir de fibras monomodo convencionais. A simples redução do
diâmetro da fibra na região utilizada para o sensoriamento permite obter uma sensibilidade
próxima de 3.000 nm/RIU (onde RIU se refere à variação de uma unidade de índice de refração,
ou Refractive Index Unit) na faixa de índices de refração da amostra entre 1,42 e 1,43 [22],
entretanto, tais sensors têm a desvantagem de serem frágeis. Tapers produzidos a partir de fibras
ópticas mais complexas, do tipo PCF (“Photonic Crystal Fiber”), processo demonstrado em 2005
[23], possibilitaram a concepção de sensores refractométricos com resolução de 1x10-5 RIU.
Outras técnicas, como a implementação de redes de período longo (LPG) em PCF’s, que
permitiu, em 2007, obter uma alta sensibilidade de 1.500 nm/RIU para índice de refração da
amostra próximo de 1,33 [24], também já foram demonstradas, além de processos mais
complexos de fabricação, como os utilizados para a produção de uma fibra PCF do tipo D [25]
22
permitirem atingir altíssimas sensibilidades de 46.000 nm/RIU para amostra com índice de
refração próximo de 1,42. Processos ainda mais elaborados foram utilizados em 2016 para a
criação de uma fibra de núcleo líquido com revestimento nano-poroso com sensoriamento
baseado em plasmon de superfície com faixa ajustável de detecção de índice de refração [26].
Várias outras abordagens, como a utilização de fibras baseadas em interferômetros do tipo Mach-
Zehnder [27] ou do tipo Fabry-Perot [28], ou através da gravação de FBG’s (Redes de Bragg)
[29] já foram demonstradas recentemente na literatura como formas de desenvolver sensores
refractométricos. A Tabela 1 resume e compara, quanto à sensibilidade, os resultados dos estudos
citados e que foram obtidos através da utilização de diferentes tipos de fibras ópticas especiais
para o sensoriamento de índice de refração. Observa-se, por exemplo, que dependendo da
complexidade ou especificidades das técnicas utilizadas podem ser obtidos desempenhos muito
diferentes.
Índice de
Tecnologia do Sensibilidade
Tipo de Fibra Utilizada Refração Ref
Sensor Máxima
Observado
LPG PCF 1.500 nm/RIU 1,33 [24]
Plasmon de
PCF/Tipo D 46.000 nm/RIU 1,42 [25]
Superfície
Plasmon de Fibra de Núcleo líquido com
5.840 nm/RIU 1,33-1,34 [26]
Superfície revestimento nano-poroso
Interferômetro
SMF/Tapers 380 nm/RIU 1,333 [27]
Mach-Zehnder
Interferômetro
MMF 5,49 nm/RIU 1,316-1,457 [28]
Fabry-Perot
FBG SMF < 2 nm/RIU 1,43 [29]
Conforme citado anteriormente, fibras ópticas podem ser utilizadas para o sensoriamento
de diversas grandezas físicas. Uma dessas grandezas, frequentemente associada ao
comportamento de sistemas estruturais ou mecânicos, é a deformação causada pela curvatura,
que pode ter a intensidade ou magnitude definida por seu raio de curvatura.
O sensoriamento de curvatura encontra aplicações em diversas áreas, desde o
monitoramento de estruturas [30] até aplicações médicas e na área de robótica [31]. Para este
fim, sensores baseados em fibras ópticas especiais, utilizando várias técnicas diferentes já foram
demonstrados na literatura. Os mais comuns talvez sejam os baseados em redes de Bragg de
período longo (LPG) que vêm sendo utilizados desde 1998 [32]. Quando sensores de curvatura
baseados em LPG são comparados com sensores baseados em redes de Bragg convencionais
(FBG) [33], podem trazer algumas vantagens, tal como uma maior sensibilidade [34,35]. Os
sensores de curvatura baseados em LPG também podem apresentar uma variação praticamente
linear em sua sensibilidade [36], o que pode ser útil para aplicações específicas. Por outro lado,
os sensores de curvatura baseados em FBG se destacam por serem capazes de medir uma faixa
maior de curvatura, podendo, ao mesmo tempo, sofrer menor impacto a variações de temperatura
[34], desde que sejam levadas em consideração as compensações necessárias para que essas
variações não impactem na medida da grandeza em questão.
Outras técnicas baseadas em interferometria, como as que utilizam interferômetros de
Mach-Zehnder (MZI), podem trazer vantagens como uma altíssima sensibilidade a variações de
curvatura de até 11,987 nm/m-1 [37], que pode ser aumentada ainda mais, chegando a atingir
25,946 nm/m-1 ao se utilizar um recurso de interferometria intermodal através de dois tapers em
cascata [38]. Uma combinação destes dois princípios, LPG e interferometria, foi demonstrada
em 2007, se mostrando particularmente interessante para a medida de elevados raios de
curvatura, comumente presentes em aplicações relacionadas às engenharias civil e mecânica [39].
Fibras com múltiplos núcleos, também baseadas em interferometria, já foram demonstradas
como sensores de curvatura [40,41]. Algumas delas, como uma fibra de sete núcleos proposta
em 2017 [42] que apresentou uma linearidade de 0,997 na faixa de curvatura de 0-1 m-1, permitem
medição simultânea de temperatura, característica muito comum em sensores de curvatura
[43,44,45], uma vez que a resposta do sensor pode ser fortemente influenciada por esse fator.
Estudos recentes também foram publicados sobre fibras de núcleo oco sensíveis à variações de
curvatura e que utilizam o efeito antirressonante como mecanismo de guiagem [46].
Pode haver situações, em que é interessante conhecer não só o raio de curvatura, mas
também a direção na qual a curvatura ocorre. Para este fim devem ser utilizados sensores de
curvatura com discriminação direcional que já foram demonstrados utilizando variações do
24
mesmos princípios [47,48] e continuam atraindo a atenção da comunidade científica nos últimos
anos [49]. Vários sensores baseados em técnicas semelhantes às já comentadas, e capazes de
identificar a direção de curvatura, foram propostos nos últimos anos. Dentre eles, podem ser
citados sensores baseados em FBG [50], LPG [51], MZI [52], fibras de múltiplos núcleos [53,54]
ou antirressonantes [55].
A Tabela 2 mostra um quadro comparativo entre os principais sensores apresentados nesta
seção quanto a algumas de suas características.
Discriminação Sensibilidade
Tecnologia do Sensor Faixa de operação Ref
de Direção Máxima
3,175 nm/m-1
Não -1
0 m-1 a 1,2 m-1 [33]
FBG 18,9 µW/m
Sim 39 pm/m-1 0 m-1 a 8,18 m-1 [50]
Não 5,5 nm/m-1 0,8 m-1 a 4,4 m-1 [32]
LPG
Sim 21,03 nm/m-1 0 m-1 a 2,8 m-1 [51]
Não 25,946 nm/m-1 6,48 m-1 a 7,98 m-1 [38]
Interferometria Modal
Sim 87,7 nm/m-1 0 m-1 a 0,3 m-1 [52]
Não -28,29 nm/m-1 2,79 m-1 a 3,24 m-1 [41]
Múltiplos Núcleos
Sim 3,234 nm/m-1 0 m-1 a 0,588 m-1 [54]
0,164 nm/m-1
Não 0 m-1 a 2,68 m-1 [46]
Núcleo Oco 5,62 dB/m-1
Sim 4,86 nm/m-1 0 m-1 a 0,88 m-1 [55]
25
onde 𝐸⃗ e 𝐻
⃗ representam, respectivamente o campo elétrico e o campo magnético, μr e εr
correspondem, respectivamente, à permeabilidade magnética e permissividade elétrica,
propriedades do material onde a onda se propaga e k0 indica o número de onda, ou constante de
propagação no vácuo. Para um meio dielétrico com 𝜇𝑟 ≅ 1, condição presente nos modelos
utilizados para a obtenção dos resultados apresentados neste texto, a equação de Helmholtz pode
ser reescrita como:
∇2 Ψ + 𝑛2 𝑘0 2 Ψ = 0 (3)
onde 𝑛 = √𝜀𝑟 e equivale ao índice de refração do material dielétrico e Ψ representa os
componentes dos campos elétricos ou magnéticos. A partir da Equação (3), a dependência
26
espacial dos campos dos campos elétrico e magnético, em coordenadas cartesianas, pode ser
definida como:
𝜕2𝛹 𝜕2𝛹 𝜕2𝛹
+ + + 𝑛 2 𝑘0 2 𝛹 = 0 (4)
𝜕𝑥 2 𝜕𝑦 2 𝜕𝑧 2
Figura 1 – Representação típica do perfil transversal de uma fibra óptica com um perfil de índice
(𝑛) do tipo degrau (SMF28 – Corning®).
𝜕 2 𝛹 1 𝜕𝛹 1 𝜕 2 𝛹 𝜕 2 𝛹
2
+ + 2 2
+ 2 + 𝑛2 𝑘0 2 𝛹 = 0 (5)
𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝑟 𝑟 𝜕𝜙 𝜕𝑧
27
cuja solução ψ representa um modo guiado se esta solução satisfizer a condição na qual a
constante de propagação β é menor que o número de onda na região do núcleo (β < nck0) e maior
que o número de onda da casca (β > nclk0) [56], onde nc e ncl representam, respectivamente, os
índices de refração na região do núcleo e na região da casca da fibra óptica.
Maiores detalhes sobre a propagação de modos em guias dielétricos podem ser obtidos
em [56], onde os aspectos matemáticos são abordados de forma aprofundada e os fenômenos
físicos são discutidos de forma mais abrangente.
Fibras ópticas com reduzido diâmetro de núcleo e baixo contraste entre índice de refração
de núcleo e casca, geralmente, propagam apenas dois modos de polarização ortogonal (fibras
monomodo - SMF) ou propagam poucos modos guiados. Entretanto, fibras ópticas com elevado
28
contraste entre os índices de refração de núcleo e casca e/ou região de núcleo com maiores
dimensões, suportam a propagação de múltiplos modos ópticos e são denominadas fibras
multimodo (MMF). Fibras ópticas também podem ser projetadas para ter perfil de índice de
refração variável na região do núcleo e/ou na região da casca (fibras de índice gradual - GRIN).
A tecnologia de fibras ópticas tem sido positivamente impactada por recentes avanços no
emprego de materiais especiais e através de projetos inovadores de fibras ópticas que utilizam:
complexas distribuições de materiais dielétricos em sua seção transversal, a inclusão de
microestruturas de furos preenchidos com ar, além da inclusão de metais, líquidos, gases,
nanopartículas, grafeno, etc., nessas mesmas microestruturas. Tais inovações têm resultado em
novas características para a propagação óptica que tornam as fibras ópticas especiais a principal
tecnologia com potencial de incrementar as comunicações ópticas e superar suas atuais
limitações de banda, bem como permitir o desenvolvimento de sensores ópticos de múltiplos
parâmetros físicos.
Polarização óptica pode ser definida como a orientação do campo elétrico (ou de sua
variação) em relação à direção de propagação, indicada na Figura 3. De modo geral, três tipos
diferentes de polarização podem ser identificados tomando a variação do campo elétrico na
direção de propagação z: linear, circular e elíptica [57].
Direção de
propagação
representado por:
⃗⃗ (𝑧, 𝑡) = 𝐸0 (𝒊̂𝑐𝑜𝑠(𝑘𝑧 − 𝜔𝑡) − 𝒋̂𝑠𝑒𝑛(𝑘𝑧 − 𝜔𝑡)).
𝑬 (14)
Neste caso, um observador olhando em direção à fonte, enxergaria uma onda viajando em sua
direção com a mesma frequência angular ω, mas girando em direção anti-horária. Esse tipo de
polarização é chamado de “Polarização Circular à Esquerda” ou LCP do inglês Left-Circularly
30
Polarized. É importante destacar que, para que a polarização seja considerada circular, (seja RCP
ou LCP), as amplitudes dos campos nas direções x e y devem ser iguais, no caso, 𝐸0 .
Quando não existe nenhuma restrição quanto aos valores de amplitude ou à diferença de
fase entre os componentes x e y do campo elétrico, e caso não sejam atendidas as condições para
que se tenha polarização linear ou circular, teremos uma situação de polarização elíptica. Neste
caso, um observador olhando em direção à fonte, enxergaria uma onda viajando em sua direção,
com a mesma frequência angular ω dos casos anteriores e com a projeção do campo elétrico
transversal total descrevendo uma elipse num plano qualquer, perpendicular ao eixo de
propagação z. A representação da variação espacial do campo elétrico transversal total pode ser
obtida através da equação convencional de uma elipse, tendo como componentes x e y os
componentes dos campos elétricos nessas mesmas direções. A equação da elipse para a
polarização elíptica da onda eletromagnética pode ser obtida a partir da expansão matemática das
equações (9) e (10), obtendo-se
2𝐸0 𝑥 𝐸0 𝑦 𝑐𝑜𝑠(𝜃 )
𝑡𝑎𝑛(2𝛼 ) = , (15)
𝐸0 𝑥 2 − 𝐸0 𝑦 2
onde α é o ângulo entre o eixo principal da elipse e o eixo coordenado x, conforme Figura 4.
Quando a luz se propaga por um meio material qualquer, sempre está sujeita a algum tipo
de perda. Quando este meio é uma fibra óptica (material dielétrico), impurezas em sua
composição tendem a contribuir com o aumento dessas perdas ao causarem um aumento na
absorção de parte da energia que se propaga pela fibra. As perdas por absorção em fibras de
sílica, por exemplo, estão associadas principalmente à presença de íons metálicos como cobre,
cromo e ferro ou à presença de íons de hidroxila (OH-) devido à água dissolvida no vidro [58],
além de serem dependentes do comprimento de onda (λ) do sinal óptico que se propaga no meio.
Tipicamente, as perdas por absorção superam 2 dB/ km em λ = 1,24 µm ou 10 dB/km em λ =
1,38 µm, mas atualmente, com o refinamento dos processos de fabricação, tendem a ser
particularmente baixas, da ordem de menos de 0,2 dB/km, em λ = 1,55 µm [59]. Processos de
fabricação especialmente controlados podem eliminar as perdas por absorção causadas por
impurezas e reduzir substancialmente a presença de hidroxilas. Para comprimentos de onda
superiores a 1,65 µm, porém, existe uma tendência de absorção causada pelas próprias moléculas
de sílica, fazendo com que as perdas aumentem significativamente em certas faixas espectrais
[58].
Quando uma onda eletromagnética incide em uma interface entre dois dielétricos, sua
energia se divide em duas parcelas, uma delas associadas à transmissão e outra associada a
reflexão. Quando a incidência ocorre do meio de maior índice de refração para o de menor índice
de refração e o ângulo de incidência é superior ao ângulo crítico, ocorre a reflexão total interna
(TIR) do sinal óptico. Entretanto, parte do campo óptico penetra além da fronteira do material
dielétrico onde ocorre a reflexão total e é denominado campo evanescente. A intensidade do
campo óptico evanescente decai exponencialmente com a distância à fronteira entre os
dielétricos. No contexto das fibras ópticas, um modo óptico propagante tem campo evanescente
cuja intensidade e penetração entre as fronteiras dielétricas dependem do contraste entre os
valores do índice efetivo modal e do índice de refração do material onde se estabelece o campo
evanescente, além da relação de dependência com o comprimento de onda. Modos ópticos de
ordem elevada, guiados no núcleo da fibra óptica, têm geralmente menores valores de índice
33
efetivo e, por isso, têm menor contraste com o índice do material da casca ao redor do núcleo.
Este menor contraste acarreta campos evanescentes com maior intensidade, maior sobreposição
dos campos modais com o material fora do núcleo da fibra óptica e, em casos especiais, até com
os materiais exteriores à casca da fibra óptica.
A interação do campo evanescente com o meio externo tem potencial de ser utilizada
como princípio de funcionamento de sensores a fibra óptica e tem papel fundamental no
desempenho de uma das propostas de sensores apresentadas neste trabalho (seção 5.1). Sensores
baseados em campos evanescentes buscam aumentar a sobreposição do campo evanescente com
a amostra a ser mensurada. Os projetos de sensores baseados em campos evanescentes utilizam
uma ou mais das seguintes estratégias: emprego de modos ópticos de elevadas ordens, redução
da espessura da casca da fibra óptica, exposição do núcleo da fibra óptica ao meio com a amostra,
utilização de comprimentos de onda mais elevados, exploração de macrocurvaturas ou emprego
de fibras com casca microestruturada, de modo aumentar as perdas de confinamento para
intensificar o campo evanescente.
Saída
SMF
forma mais intensa com algum material específico, através do preenchimento dos furos
adjacentes ao núcleo com o próprio material [68]. As seções 3.3.2 e 3.3.3, apresentam exemplos
de fenômenos de guiagem proporcionados por fibras ópticas microestruturadas – a reflexão total
interna modificada e o bandgap fotônico.
A utilização de fibras ópticas obtidas através de estruturas compostas por capilares de
sílica também permite explorar características interessantes que possibilitam o guiamento da luz
em regiões de índice de refração muito inferior ao da própria sílica, como o ar. Conforme
discutido nas seções 3.3.4 e 3.3.5, o fenômeno da inibição de acoplamento e o efeito
antirressonante permitem tirar proveito de fibras óptica fabricadas a partir de capilares de
espessuras e formatos específicos para se obter bandas de alta ou baixa transmissão, conforme as
necessidades de projeto. Tal característica também pode ser explorada para que essa categoria de
fibras ópticas seja utilizada para a implementação de sensores [69].
O efeito de reflexão total interna pode ser considerado a forma mais comum de guiagem
em fibras ópticas. Tais guias de onda dielétricos são convencionalmente compostos por uma
região central com maior índice de refração (núcleo) envolta por uma região de menor índice de
refração (casca), e o efeito de reflexão total interna é capaz de suportar a propagação na região
de maior índice de refração. A óptica geométrica, uma forma simplificada de representar este
fenômeno [56], estabelece um ângulo crítico acima do qual um feixe óptico que incide na
interface entre núcleo e casca é totalmente refletido para o interior do núcleo da fibra. O ângulo
37
crítico depende do contraste entre os índices de refração do núcleo e da casaca da fibra óptica e
pode ser obtido pela expressão:
𝑛2
𝜃𝑐 = 𝑎𝑟𝑐𝑠𝑒𝑛 ( ), (17)
𝑛1
onde n1 é o índice de refração da região dielétrica interna de onde ocorre a incidência da luz e n2
é o índice de refração da casca, inferior a n1.
A Figura 6 mostra diferentes ângulos de incidência, indicando a condição na qual ocorre
reflexão total interna, ou seja, quando o ângulo de incidência, medido com relação à normal à
interface entre núcleo e casca, é maior que o ângulo crítico.
3.3.2 Reflexão Total Interna Modificada (mTIR – modified Total Internal Reflection)
Sílica (SiO2) Ar
Figura 7 – Representação de corte transversal de uma fibra microestruturada que faz uso da
Reflexão Interna Total Modificada como fenômeno de guiagem.
Sílica (SiO2) Ar
Figura 8 – Representação de corte transversal de uma fibra microestruturada que faz uso do
Bandgap Fotônico como fenômeno de guiagem.
interferências construtivas e destrutivas que, por sua vez, produzem elevadas perdas em
comprimentos de onda bem definidos e espectralmente estreitos, chamados de comprimentos de
onda ressonantes, mas mantendo as perdas em níveis relativamente baixos (e, consequentemente
em um elevado nível de transmissão) em outros de comprimento de onda, chamados de
comprimentos de onda antirressonantes. Diferentemente do mecanismo de guiamento
proporcionado pelo bandgap fotônico, o efeito antirressonante não depende de um arranjo
periódico da microestrutura da região da casca, de forma que um simples cilindro dielétrico com
uma parede de alto índice de refração, por exemplo, permite o guiamento da luz em sua região
interna, de baixo índice de refração, desde que possua uma espessura específica [73]. É possível
analisar a condição de guiagem em uma fibra do tipo capilar considerando a estrutura como um
guia do tipo ARROW (Anti-Resonant Reflecting Optical Waveguide) [74]. Similar a um
ressoador Fabry-Perot de dupla camada, nos comprimentos de onda antirressonantes a
interferência óptica construtiva ocorre dentro do núcleo oco e, assim, suporta a propagação na
região de baixo índice de refração, enquanto nos comprimentos de onda ressonantes, a luz se
acopla aos modos ópticos dissipativos da estrutura dielétrica ao redor do núcleo oco, ocasionando
elevadas perdas na transmissão óptica.
A Figura 9(a) mostra a seção transversal de uma fibra óptica capilar e indica suas
dimensões mais relevantes, enquanto a Figura 9(b) apresenta uma representação das reflexões na
parede da estrutura dielétrica cilíndrica que são responsáveis pelas interferências construtivas e
destrutivas citadas. Os valores aproximados dos comprimentos de onda ressonantes, onde ocorre
baixa transmissão óptica, podem ser estimados analiticamente [73] através da expressão abaixo:
2𝑛1 𝑑 𝑛2 2
𝜆𝑚 = √( ) − 1 , (18)
𝑚 𝑛1
(a) (b)
Figura 9 – (a) Diagrama esquemático do corte transversal de uma fibra antirressonante simples,
do tipo capilar, indicando a espessura da casca e os índices de refração; (b) detalhe representativo
das transmissões e reflexões do sinal óptico nas interfaces entre a parede dielétrica e o núcleo e
entre a parede dielétrica e o meio externo.
42
Existem várias categorias utilizadas para classificar sensores baseados em fibras ópticas.
Quanto à forma como ocorre a modulação óptica, eles podem ser classificados como intrínsecos
ou extrínsecos. Essa modulação pode causar a variação de diferentes características da onda
eletromagnética que se propaga ao longo de uma fibra, como intensidade, comprimento de onda,
fase ou polarização. Nesta seção são comentadas essas classificações e características, mais
especificamente as relacionadas aos sensores propostos neste trabalho.
Em complemento aos sensores intrínsecos que, por definição, são caracterizados pelo fato
de o fenômeno de sensoriamento ocorrer quando a luz se propaga pela fibra, a categoria de
43
sensores extrínsecos é definida pelo fato da interação entre a luz e a grandeza física a ser medida
ocorrer fora da fibra. Um sensor baseado no diagrama mostrado na Figura 10, por exemplo, pode
ser considerado extrínseco, dado que o sensoriamento ocorre do lado de fora da fibra óptica e
depende diretamente do posicionamento do espelho móvel indicado. Sensores híbridos podem
ser considerados uma variação de sensores extrínsecos [5] pelo fato de dependerem de um
componente externo para que ocorra a medição da grandeza física desejada, mesmo que a
modulação do feixe de luz ocorra durante a propagação ao longo da fibra. Um sensor de campo
evanescente para a medida de campo magnético, por exemplo, pode ser considerado híbrido
quando seu princípio de funcionamento depender da interação do campo evanescente com um
material externo cujo índice de refração varia de acordo com a intensidade do campo magnético
aplicado. Neste caso, a variação do campo magnético não seria o fator responsável pela
modulação do feixe de luz, e sim, a variação do índice de refração do material magneto-óptico
em contato com o campo evanescente.
4.2.1 Sensibilidade
O principal objetivo de um sensor é ser capaz de converter uma grandeza física qualquer
(sinal de entrada do sensor) em um sinal mensurável (sinal de saída do sensor). Dito isso, a
sensibilidade de um sensor pode ser definida como uma variação do sinal mensurável de saída
para uma dada variação do parâmetro físico (sinal de entrada ou mensurando) que se deseja
medir. A Figura 11 traz, em eixos coordenados, a curva característica idealizada de um sensor,
na qual um parâmetro físico x está associado a um valor mensurável F(x). Conforme indicado, a
sensibilidade desse sensor é dada por Δy/Δx, que corresponde à inclinação da curva característica.
De modo geral, inclinações maiores ou menores da curva estão associadas, respectivamente, a
um aumento ou redução da sensibilidade do sensor.
y = F(x)
Δy
Δx
x
4.2.2 Ruído
De modo geral, ruído pode ser definido como um sinal indesejado observado durante a
medição de uma grandeza física. Ruídos externos normalmente estão associados a oscilações
aleatórias do parâmetro a ser medido, geradas por fontes externas indesejadas e capazes de causar
flutuações na saída [78]. Ruídos internos, normalmente de natureza elétrica, são comumente
associados à instrumentação utilizada para converter em informação o sinal óptico de saída de
um sensor.
46
Razão sinal ruído ou, do inglês, Signal-to-noise ratio (SNR), é uma característica de um
sensor que compara, em magnitude, o nível do sinal medido com o nível do ruído. Por se tratar
de uma comparação direta de potências ou amplitudes, normalmente expressa em decibéis (dB),
é dada por:
𝑃𝑠
𝑆𝑁𝑅𝑑𝐵 = 10 𝑙𝑜𝑔10 ( ) , (19)
𝑃𝑛
onde Ps e Pn correspondem, respectivamente, à potência do sinal e à potência do ruído, expressos
na mesma unidade.
Quando representada em termos de amplitude, a razão sinal-ruído é dada por:
𝐴𝑠
𝑆𝑁𝑅𝑑𝐵 = 20 𝑙𝑜𝑔10 ( ), (20)
𝐴𝑛
onde As e An correspondem, respectivamente aos níveis de amplitude do sinal e do ruído, também
expressos na mesma unidade.
Faixa dinâmica, também referenciada como gama dinâmica, se refere à diferença entre os
valores mínimo e máximo do mensurando, que podem ser medidos pelo sensor. Tomando como
exemplo um termômetro convencional, se a menor temperatura que ele é capaz medir, Tmin, é de
25 °C e a máxima, Tmax, é de 45 °C, sua faixa dinâmica é dada por:
𝑇𝑚𝑎𝑥 − 𝑇𝑚𝑖𝑛 = 45 °𝐶 − 25 °𝐶 = 20 °𝐶 . (21)
4.2.5 Resolução
4.2.6 Acurácia
De modo geral, acurácia equivale ao grau de proximidade de uma estimativa com seu
parâmetro [79], ou valor verdadeiro. Quando se está tratando de um sensor, refere-se a quão
próximo está o valor de saída do sensor do valor real da grandeza física que está sendo medida.
Considerando que, a priori, o valor real do mensurando não é conhecido, faz-se necessário uma
referência comparativa para se especificar a acurácia de um sensor. Dessa forma, o erro na
acurácia de um sensor (εa), ou inacurácia, pode ser expressa percentualmente como:
(𝑋𝑚 − 𝑋𝑟 )
𝜀𝑎 (%) = × 100 (23)
𝑋𝑟
onde Xm é o valor medido e Xr é o valor real de referência de uma grandeza física X.
48
5 Sensor Refractométrico
O conjunto de estudos tratados neste texto converge para a proposta de dois tipos distintos
de sensores baseados em fibras ópticas especiais. Este capítulo trata da primeira proposta, que se
refere a uma fibra óptica microestruturada de núcleo exposto que compõe a seção multimodal de
uma estrutura SMS (single-mode – multimode – single-mode) utilizada para o sensoriamento de
índice de refração. Será apresentada a metodologia básica utilizada para a criação do modelo
computacional, bem como os resultados obtidos por meios desses modelos. Para validação do
modelo computacional, ao final do capítulo é feita uma comparação entre os resultados
numéricos e os resultados experimentais obtidos através de medidas realizadas utilizando-se uma
fibra fabricada por parceiros experimentais. Neste capítulo, são mostrados os principais
resultados numéricos e experimentais obtidos a partir destes estudos e são tecidos comentários
sobre esses resultados.
Figura 12 – Imagem de corte transversal da fibra a ser utilizada para implementação do sensor
proposto indicando suas dimensões aproximadas.
Figura 13 – Imagem de corte transversal da fibra a ser utilizada para implementação do sensor
proposto indicando as dimensões aproximadas das distâncias entre os furos.
50
Em posse dessas dimensões, o modelo tridimentsional já pode ser criado, com seção
transversal como apresentado na Figura 14. Optou-se por utilizar o software comercial BeamProp
da empresa Synopsys, um propagador que utiliza o Beam Propagation Method, ou Método de
Propagação de Feixe. Foi criada, então, a geometria desejada através da interface do próprio
software. As propriedades de material foram definidas, utilizando-se sílica pura para o material
dielétrico constituinte da fibra óptica (nsilica), ar (nair = 1,0), como o índice de refração para cinco
dos furos ao redor do núcleo e para a região externa à fibra e um índice de refração variável, nvar,
no furo imediatamente à direita do núcleo da fibra óptica (Figura 14), correspondendo ao índice
que se deseja medir. O índice de refração da sílica varia com o comprimento de onda e seu valor
pode ser obtido pela equação de Sellmeyer:
0,95
Transmissão Normalizada
0,90
0,85
0,80
1,52 1,53 1,54 1,55 1,56 1,57
Comprimento de Onda (μm)
Figura 17 – Detalhe do pico da curva de referência obtida para LMMF = 2,860 mm, λ = 1,55 μm e
nvar = 1,00.
55
Figura 18 – Detalhe do perfil de índices de refração em parte da seção transversal da fibra óptica
para elementos de malha com área de (a) 0,64 µm2, (b) 0,08 µm2 e (c) 0,01 µm2.
57
1,0
1,0000
0,8
1,3000
Transmissão Normalizada
1,3900
0,6
1,4100
1,4200
0,4
1,4250
1,4300
0,2
1,4325
0,0
1,45 1,50 1,55 1,60 1,65 1,70
Comprimento de Onda (μm)
A Figura 20(d) apresenta a variação da largura completa a meia altura, ou FWHM (Full
Width at Half Length), das curvas de transmissão espectral em função do índice de refração da
amostra dielétrica que preenche o furo lateral direito próximo ao núcleo da fibra óptica conforme
posição indicada na Figura 14.
58
0,9 80
60
40
20
Curva Original
Parábola Utilizada na Interpolação
Pontos da Curva Original Utilizados na Interpolação 0
Vértice da Parábola
0,8 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5
1,54 1,56 1,58 1,6 Índice de Refração
Comprimento de Onda (μm)
(a) (b)
3000 240
220
Sensibilidade (nm/RIU)
2000
FWHM (nm)
200
180
1000
160
0 140
1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5
Índice de Refração Índice de Refração
(c) (d)
Figura 20 – Características do sensor refractométrico em função do índice de refração da amostra
dielétrica que preenche um furo lateral próximo ao núcleo da fibra óptica sensora. (a) Detalhe da
função de segundo grau utilizada para determinar o valor máximo das curvas de transmissão
espectral; (b) deslocamento espectral do pico de transmissão em relação a λ0; (c) curva de
sensibilidade do sensor e (d) largura completa a meia altura da banda de transmissão óptica.
até agora (aproximadamente 2,86 mm), foram obtidas as curvas de transmissão espectral
mostradas na Figura 21.
0,8
1,00
0,6 1,30
1,39
0,4 1,41
1,42
0,2
0,0
1,50 1,60 1,70 1,80 1,90
Comprimento de Onda (μm)
Figura 21 – Transmissão espectral do sensor refractométrico quando seis furos ao redor do núcleo
da fibra são preenchidos com o material dielétrico da amostra a ser sensoriada.
1,0
Transmissão Normalizada
0,8
1,00
0,6 1,30
1,39
0,4 1,41
1,42
0,2
0,0
1,35 1,40 1,45 1,50 1,55 1,60 1,65 1,70 1,75
Comprimento de Onda (μm)
Figura 22 – Transmissão espectral do sensor para seis furos preenchido com o material dielétrico
da amostra a ser medida, com o pico de referência em λ0 = 1.450 nm.
1,0 80
0,6
40
0,4
1,0000 1,3000
1,3900 1,4100 20
0,2
1,4200 1,4250
1,4300 1,4325
0,0 0
1,35 1,4 1,45 1,5 1,55 1,6 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5
Comprimento de Onda (μm) Índice de Refração
(a) (b)
3000 220
200
Sensibilidade (nm/RIU)
2000
FWHM (nm)
180
160
1000
140
0 120
1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5
Índice de Refração Índice de Refração
(c) (d)
Foram apresentados até aqui os resultados para os dois casos extremos, ou seja, com um
e seis furos ao redor da fibra óptica sensora preenchidos com amostra dielétrica. Para visualizar
o comportamento do sensor refractométrico nas condições intermediárias, foi feito um estudo
considerando dois, três, quatro e cinco furos preenchidos. A comparação das seis situações é
mostrada na Figura 24, que evidencia o deslocamento da curva de transmissão óptica para
maiores comprimentos de onda, quando maior número de furos são preenchidos com material
dielétrico de índice de refração 1,42.
62
1,0
0,8
Transmissão Normalizada
0,6
0,4
0,2
0,0
1,35 1,45 1,55 1,65 1,75
Comprimento de Onda (μm)
12000 12000
Sensibilidade (nm/RIU)
Sensibilidade (nm/RIU)
250
250
200
1 Furo 1 Furo
2 Furos 150 2 Furos
FWHM (nm)
FWHM (nm)
0
100
1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5
Índice de Refração Índice de Refração
(e) (f)
Figura 25 – Comparação da resposta do sensor em função da quantidade de furos preenchidos
com material dielétrico. Deslocamento espectral (a) e (b); sensibilidade espectral (c) e (d) e
largura a meia altura – FWHM (e) e (f).
65
0,8
Transmissão Normalizada
0,6
0,4
0,2
0,0
1,5 1,55 1,6 1,65 1,5 1,55 1,6 1,65 1,5 1,55 1,6 1,65 1,5 1,55 1,6 1,65
Comprimento de Onda (µm)
Índices de Refração
A Tabela 4 mostra uma comparação numérica entre parâmetros obtidos das curvas de
transmissão óptica da Figura 26. Destaca-se uma forte redução na largura à meia altura (FWHM)
das curvas de transmissão, sem, porém, grandes variações no deslocamento espectral e na
sensibilidade. Observa-se, ainda, com o aumento da ordem da re-imagem, um igual aumento na
66
distorção das curvas de transmissão óptica associadas à índices de refração mais elevados,
fenômeno já observado em outros textos da literatura [82].
Até o momento foram estudados modelos idealizados da fibra óptica sensora com um ou
mais furos preenchidos com o material dielétrico cujo valor de índice de refração se deseja
mensurar. Um dos pontos considerados diferenciais da presente proposta de sensor é a presença
do núcleo exposto da seção multimodal da fibra sensora, que permite aumentar a sobreposição
entre o campo modal e a amostra dielétrica para medidas refractométricas. O modelo idealizado
foi, então, modificado através da inserção de um acesso para a parte externa da fibra. Dessa
forma, tem-se um modelo geometricamente mais próximo à geometria da fibra fabricada com
contato direto com a região externa (Figura 12). O modelo foi, portanto, modificado através da
inserção de um corte lateral, fazendo uma ligação entre o furo anteriormente preenchido e a parte
externa da fibra.
67
Figura 27 – Corte transversal do modelo de fibra sensora com núcleo exposto e indicação dos
índices de refração.
1,0 0,025
0,020
0,8
Transmissão Normalizada
0,015
0,6
Diferença
0,010
0,4
0,005
0,2
0,000
0,0 -0,005
1,45 1,50 1,55 1,60 1,65 1,70
Comprimento de Onda (μm)
1,00 1,42 1,4325
1,00 1,42 1,4325
1,00 1,42 1,4325
Conforme relatado anteriormente (Figura 15), esta proposta de sensor é baseada numa
estrutura SMS com fibra MMF de núcleo exposto. A conexão entre as seções monomodo e
multimodo, porém, nem sempre ocorre de forma perfeita, sendo comum algum grau de
desalinhamento entre as fibras, fazendo com que o centro do núcleo da SMF de entrada não esteja
rigorosamente alinhado com o centro do núcleo da seção multimodal (MMF.) Nesta seção é
apresentado um breve estudo das consequências de um desalinhamento da ordem de alguns
micrometros entre os centros geométricos dos núcleos circulares das seções SMF e MMF da
estrutura SMS. Esse estudo foi feito utilizando-se um comprimento de fibra de aproximadamente
3 mm, associado a um comprimento de onda de referência de 1.450 nm.
69
Deslocamento (nm)
0,6 -1
-2
0,4 -3
-4
0,2 -5
-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5
Desalinhamento da SMS
0,0 de Entrada (μm)
1,35 1,45 1,55 1,35 1,45 1,55 1,35 1,45 1,55
Direção x
Comprimento de Onda (µm)
Direção y
Desalinhamento da SMF de entrada (µm)
Direções x e y
(a) (b)
Figura 29 – (a) Variação das curvas de referência (nvar = 1 e λ0 = 1.450 nm) com o desalinhamento
da SMF de entrada, nas direções x, y e x e y simultaneamente, conforme indicado; (b)
Deslocamento, em nanômetros, do pico das curvas de referência para as três condições de
desalinhamento citadas.
A Figura 29(a) mostra a variação das curvas de referência do sensor (nvar = 1,00) com o
desalinhamento da SMS de entrada nas direções indicadas. Observa-se uma queda significativa
da transmissão óptica com o aumento do desalinhamento. As variações em comprimento de onda,
porém, são muito pequenas, da ordem de poucos nanômetros, e podem ser mais bem observadas
na Figura 29(b), que indica o deslocamento do pico de referência nas três condições reportadas.
70
Desalinhamento de -3 μm na direção y
1,0 60
1,30 0
0,6
1,39 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5
Índice de Refração
1,41
1,42
(b)
0,4 3000
Sensibilidade (nm/RIU)
1,425
1,43 2000
0,2 1,4325
1000
0,0 0
1,35 1,40 1,45 1,50 1,55 1,60 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5
Comprimento de Onda (μm) Índice de Refração
(a) (c)
Desalinhamento de +3 μm na direção y
1,0 60
Desloc. Espectral (nm)
40
0,8
20
1
Transmissão Normalizada
1,3 0
0,6
1,39 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5
Índice de Refração
1,41
1,42
(e)
0,4 3000
Sensibilidade (nm/RIU)
1,425
1,43 2000
0,2 1,4325
1000
0,0 0
1,35 1,40 1,45 1,50 1,55 1,60 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5
Comprimento de Onda (μm) Índice de Refração
(d) (f)
Figura 30 – Para a condição de desalinhamento da SMF de entrada em -3 μm na direção y: (a)
deslocamento espectral da banda de transmissão, para diferentes índices de refração; (b)
deslocamento espectral e (c) sensibilidade do sensor; para a condição de desalinhamento da SMF
de entrada em +3 μm na direção y: (d) deslocamento espectral da banda de transmissão, para
diferentes índices de refração; (e) deslocamento espectral e (f) sensibilidade do sensor.
Para avaliar o impacto do desalinhamento entre o centro geométrico dos núcleos das
seções SMF e MMF na sensibilidade do sensor refractométrico, foram, também, analisadas as
bandas de transmissão ópticas para desalinhamentos de ±3 µm no eixo y (Figura 30) e no eixo x
(Figura 31). Pode ser confirmada uma redução geral na amplitude das curvas de transmissão
71
óptica nas condições de desalinhamento. Observa-se, ainda, uma maior distorção nas bandas de
transmissão óptica quando o desalinhamento ocorre no sentido da região de núcleo exposto, ou
seja eixo +x (Figura 31(d)).
Desalinhamento de -3 μm no eixo x
1,0 60
1
0,6 1,3 0
1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5
1,39 Índice de Refração
1,41
0,4 (b)
1,42 3000
Sensibilidade (nm/RIU)
1,425
1,43 2000
0,2
1,4325
1000
0,0
1,35 1,40 1,45 1,50 1,55 1,60 0
Comprimento de Onda (μm) 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5
Índice de Refração
(a) (c)
Desalinhamento de +3 μm no eixo x
1,0 40
Desloc. Espectral (nm)
20
0,8
Transmissão Normalizada
1
0
0,6 1,3 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5
1,39 Índice de Refração
1,41 (e)
0,4 3000
1,42
Sensibilidade (nm/RIU)
1,425
2000
1,43
0,2
1,4325 1000
0,0 0
1,35 1,40 1,45 1,50 1,55 1,60 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5
Comprimento de Onda (μm) Índice de Refração
(d) (f)
Figura 31 - Para a condição de desalinhamento da SMF de entrada em -3 μm na direção x: (a)
deslocamento espectral da banda de transmissão, para diferentes índices de refração; (b)
deslocamento espectral e (c) sensibilidade do sensor; para a condição de desalinhamento da SMF
de entrada em +3 μm na direção x: (d) deslocamento espectral da banda de transmissão, para
diferentes índices de refração; (e) deslocamento espectral e (f) sensibilidade do sensor.
72
60
0
0,6 1,35 1,40 1,45
Índice de Refração
(b)
0,4 4000
Sensibilidade (nm/RIU)
0 μm
3000 -3 μm
-4 μm
0,2 2000
1000
0,0 0
1,35 1,4 1,45 1,5 1,55 1,6 1,35 1,40 1,45
Comprimento de Onda (μm) Índice de Refração
(a) (c)
1,0 60
Desloc. Espectral (nm) 0um
+3um
40 +4um
0,8
20
Transmissão Normalizada
0
0,6 1,35 1,40 1,45
Índice de Refração
(e)
0,4 3000
Sensibilidade (nm/RIU)
0 μm
2000 +3 μm
+4 μm
1000
0,2
0
-1000
0,0 -2000
1,35 1,4 1,45 1,5 1,55 1,6 1,35 1,40 1,45
Comprimento de Onda (μm) Índice de Refração
(d) (f)
Figura 32 – Comparação da resposta espectral entre a condição de perfeito alinhamento da SMF
de entrada com as condições de desalinhamento de 3 μm e 4 μm no (a) sentido do núcleo exposto
e (c) no sentido oposto; comparação do deslocamento espectral e da sensibilidade entre essas três
condições na (b) sentido do núcleo exposto e (d) sentido oposto.
Um parâmetro de projeto do sensor refractométrico que pode ser controlado com relativa
facilidade durante o processo de fabricação é o diâmetro total da fibra, que influencia diretamente
no diâmetro do núcleo da seção transversal da seção multimodal. Um aumento nessa dimensão
impacta diretamente na quantidade de modos suportados para propagação na seção MMF,
alterando o padrão de interferência. Com o objetivo de avaliar a influência desse parâmetro no
74
1,0 100
1400
0,8 80 1200
Sensibilidade (nm/RIU)
1000
0,6 60
800
0,4 40 600
400
0,2 20
200
0,0 0 0
1,45 1,50 1,55 1,60 1,65 1,405 1,415 1,425
Comprimento de Onda (μm) Comprimento de Onda (μm)
(a) (b)
Figura 33 – (a) Transmissão espectral óptica em função do índice de refração da amostra
mensurada para diâmetros de núcleo da MMF de 28 µm, 34 µm e 40 µm e (b) comparação do
deslocamento espectral dos picos de transmissão e da sensibilidade do sensor para os mesmos
diâmetros de núcleo.
A partir dos resultados apresentados Figura 33, pode ser observada uma redução no
deslocamento espectral das bandas de transmissão óptica e na sensibilidade do sensor
refractométrico quando se tem um aumento do diâmetro da seção transversal da fibra MMF. Para
essa análise, o deslocamento espectral das curvas de transmissão foi avaliado para os índices de
refração 1,41 e 1,42. Também foram analisados os valores de sensibilidade mostrados na Figura
33(b), para o índice de refração 1,415.
75
A pré-forma foi, então, submetida a uma torre de puxamento com temperatura de 2005 °C
e velocidades controladas, tanto de alimentação quanto de puxamento. A relação d/Λ foi
aumentada para aproximadamente 0,96 mediante a aplicação de uma pressão controlada nos
furos durante o puxamento. Dessa forma, foi obtida uma fibra com dimensões aproximadas para
a casca e o núcleo de 200 μm e 28 µm, respectivamente, conforme mostrado anteriormente na
Figura 12. Esse mesmo processo de fabricação utilizado para a obtenção de uma fibra óptica
multimodal de núcleo exposto com dimensões diferentes é descrito em [86].
A partir dos estudos numéricos iniciais, que desdobraram nos resultados apresentados na
seção 5.2, optou-se pela utilização de uma seção de fibra óptica multimodal de aproximadamente
3 mm de comprimento para realizar os estudos experimentais com a fibra de 28 µm de núcleo.
Essa seção de fibra óptica sensora foi fixada, utilizando-se uma técnica de splicing, entre duas
seções de fibra óptica monomodo para formar uma estrutura SMS. Para a avaliação das bandas
de transmissão óptica utilizou-se um sinal de banda larga produzido por uma fonte supercontínua
aplicado na entrada da fibra óptica monomodo (SMF) de entrada. As medidas foram realizadas
na SMF de saída, através de um analisador de espectro óptico (OSA) na faixa de comprimentos
de onda de 1.150 nm a 1.750 nm.
77
Proporção Índice de
Material Proporção Água
Glicerina Refração
Ar - - 1,00
Água + Glicerina 1 40% 60% 1,40
Água + Glicerina 2 70% 30% 1,415
Água + Glicerina 3 80% 20% 1,43
Os dados de desvio espectral das curvas de transmissão óptica foram possíveis de se obter
pela adoção de uma condição de referência na qual a banda de transmissão óptica foi medida.
Tal medida referencial corresponde ao caso em que a amostra dielétrica é o ar, considerado com
índice de refração igual a 1,00. As medidas espectrais das bandas de transmissão óptica foram
realizadas para três combinações de concentração de uma solução aquosa (Tabela 5). Entre
medidas com diferentes amostras dielétricas, a fibra óptica de núcleo exposto foi lavada com
álcool isopropílico até que a banda de transmissão espectral voltasse à condição original de
referência. Os resultados experimentais, sem filtragem amostral, são mostrados na Figura 35(a).
Para a redução dos níveis de oscilação dos resultados experimentais, foram aplicadas
diferentes filtragens amostrais pelo emprego de média móvel, cuja ordem foi incrementada para
que os resultados fossem suavizados, sem que fossem perdidas, porém, as principais
características das curvas, como o deslocamento espectral entre elas, parâmetro mais importante
para o funcionamento do sensor. A média móvel foi calculada, para cada comprimento de onda,
utilizando-se a média aritmética simples dos valores de potência associados ao próprio
comprimento de onda considerado e aos valores de potência associados a uma determinada
quantidade de amostras em comprimentos de onda imediatamente inferiores e superiores, de
acordo com a ordem da média móvel a ser aplicada. Para a obtenção de uma curva suavizada
através da aplicação de uma média móvel de cinco elementos, por exemplo, foi considerado
como sendo o valor de potência em um determinado comprimento de onda, o valor obtido através
do cálculo da média aritmética entre o valor de potência associado ao próprio comprimento de
78
-2 -2
Potência na Saída (dB)
-6 -6
-8 -8
1,000 1,000
-10 1,400 -10 1,400
1,415 1,415
-12 -12
1,430 1,430
-14 -14
1,2 1,3 1,4 1,5 1,6 1,7 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6 1,7
Comprimento de Onda (µm) Comprimento de Onda (µm)
(a) (b)
Média Móvel de 11 Elementos Média Móvel de 17 Elementos
0 0
-2 -2
Potência na Saída (dB)
-4 -4
-6 -6
-8 -8
1,000 1,000
-10 1,400 -10 1,400
1,415 1,415
-12 -12
1,430 1,430
-14 -14
1,2 1,3 1,4 1,5 1,6 1,7 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6 1,7
Comprimento de Onda (µm) Comprimento de Onda (µm)
(c) (d)
Figura 35 – Resultados experimentais para a banda de transmissão espectral do sensor
refractométrico. (b) dados brutos, sem filtragem amostral; (b) com aplicação de filtro de média
móvel de 5 elementos; (c) com aplicação de filtro de média móvel de 11 elementos e (d) com
aplicação de filtro de média móvel de 17 elementos.
79
Com os valores de comprimento de onda dos vales das curvas experimentais, foram
traçados os gráficos de deslocamento espectral da banda de transmissão e de sensibilidade do
sensor, mostrados na Figura 37 em função da quantidade de elementos utilizados para a filtragem
dos dados experimentais. Com base nesses gráficos, e considerando uma tendência de
estabilização dos valores de deslocamento espectral e de sensibilidade a partir da utilização da
média móvel de 11 elementos, foi estabelecido este valor como adequado para a redução da
oscilação dos resultados experimentais, sem que houvesse perda das principais características do
sensor.
0
-2
Valor
Potência na Saída (dB)
-4 Médio
-6
-8
-10
2 dB
-12
-14
1,2 1,3 λvale 1,4 1,5
Comprimento de Onda (µm)
Figura 36 – Detalhe do método utilizado para o cálculo dos vales das curvas de transmissão
espectral obtidas a partir dos dados experimentais.
30 1000
Deslocamento Espectral (nm)
25 800
Sensibilidade (nm/RIU)
20 600
15 400
10 1,400 200
1,415 1,4075
1,430 1,4225
5 0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21
Ordem da Média Móvel Ordem da Média Móvel
(a) (b)
Figura 37 – Variação do deslocamento espectral dos vales das curvas de transmissão (a) e
variação da sensibilidade do sensor (b), ambas em função do número de elementos utilizados
para a filtragem dos dados experimentais.
80
0
-2
Potência na Saída - Experimental (dB)
-1
-5 -4
1,000 - Experimental -5
-6 1,400 - Experimental
1,415 - Experimental
1,430 - Experimental -6
1,000 - Numérico
-7 1,400 - Numérico -7
1,415 - Numérico
1,430 - Numérico
-8 -8
1,45 1,50 1,55 1,60 1,65 1,70
Comprimento de Onda (µm)
Dos resultados apresentados na Figura 38, pode ser observado que as bandas espectrais
de transmissão óptica são largas, como é usual em sensores baseados em estruturas SMS. Por
outro lado, nota-se a partir dos gráficos da Figura 35, que as bandas de rejeição, ou vales na
transmissão óptica, são mais estreitos e, geralmente, mais apropriados para uso em
sensoriamento. Dessa forma, a caracterização do sensor refractométrico foi realizada utilizando-
se os deslocamentos espectrais de um vale de transmissão óptica que aparece na faixa de 1,35
µm a 1,40 µm, como apresentado na Figura 39.
81
-2
-4
Potência na Saída (dB)
-6
-8
40 1200
Experimental Experimental
Deslocamento Espectral (nm)
Sensibilidade (nm/RIU)
30
800
20 600
400
10
200
0 0
1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5
Comprimento de Onda (µm) Comprimento de Onda (µm)
(a) (b)
Figura 40 – Comparação entre os dados experimentais e numéricos quanto a: (a) Deslocamento
Espectral e (b) Sensibilidade.
A segunda proposta de sensor, tratada neste texto, consiste na utilização de uma fibra
óptica antirressonante de núcleo oco com assimetria azimutal, onde a guiagem ocorre como
consequência da redução do acoplamento entre núcleo e casca ocasionado pelo mecanismo de
inibição de acoplamento [72,87]. Esta fibra especial se propõe a funcionar como um sensor de
curvatura com discriminação direcional, apresentando variações identificáveis em sua resposta
espectral quando ocorrem mudanças tanto no raio de curvatura quanto da direção de curvatura.
O sensor também pode ser empregado no sensoriamento de ângulo de flexão e frequência de
vibração.
A Figura 41(a) apresenta a seção transversal da fibra óptica antirressonante de núcleo oco
e assimetria azimutal, composta de um tubo dielétrico estrutural e por oito tubos dielétricos ocos
internos que definem o núcleo oco da fibra. Os tubos dielétricos têm diferentes espessuras, o que
confere à fibra óptica sua característica de assimetria azimutal e permite sensoriamento do raio
de curvatura e direção de curvatura (ângulo θ). A Figura 41(b) mostra uma representação
tridimensional (3D) da fibra óptica sensora curvada, como exemplo, em um ângulo θ = +45°.
O sensor proposto tem como princípio de funcionamento o deslocamento espectral das
características de propagação óptica (bandas de transmissão e bandas de rejeição) com a
curvatura. As fibras ópticas antirressonantes se caracterizam por utilizar o fenômeno
antirressonante para suportar a propagação da onda eletromagnética no núcleo da fibra óptica.
Tipicamente, fibras ópticas antirressoantes são constituídas de uma estrutura geométrica na qual
o núcleo da fibra óptica é definido por um anel dielétrico fino, uma borda dielétrica ou um
conjunto de tubos dielétricos finos circundando e definindo os limites do núcleo oco da fibra
óptica [88]. O sinal óptico, ao se propagar no núcleo oco da fibra, tem baixas perdas por absorção,
mas pode se acoplar à estrutura dielétrica, que pode ser formada por anel, arestas ou tubos
dielétricos, e que define a borda do núcleo oco. O acoplamento entre o modo de núcleo e modos
na estrutura dielétrica ocorre em comprimentos de onda específicos, de acordo com a
configuração geométrica e as propriedades dos materiais dielétricos da fibra óptica. Quando esse
acoplamento ocorre, parte da energia do modo de núcleo se transfere para a região da estrutura
84
dielétrica e ocorre a excitação de modos que se propagam nessa região com elevadas perdas por
absorção: esta é conhecida como condição ressonante. Neste caso, o sinal óptico é fortemente
atenuado e a transmissão óptica é muito reduzida em estreito intervalo de comprimentos de onda,
no chamado vale (dip) na transmissão óptica. Por outro lado, fora da condição ressonante, ocorre
a inibição do acoplamento entre o modo do núcleo oco e os modos na estrutura dielétrica da fibra
óptica. Nesta condição, chamada antirressonante, o sinal óptico permanece no núcleo oco da fibra
óptica e a propagação se dá com baixas perdas, resultando em uma elevada transmissão óptica.
As fibras ópticas antirressonantes podem transmitir sinal óptico de banda larga, ou seja,
em um grande intervalo de comprimentos de onda. Entretanto, numa faixa larga de comprimentos
de onda há maior probabilidade de que a condição ressonante, entre o modo de núcleo e o modo
na estrutura dielétrica, ocorra em vários comprimentos de onda. Tal efeito acarreta a existência
85
comprimentos de onda para as ressonâncias de primeira, segunda e terceira ordens, para cada
uma das espessuras t0 a t4 associadas aos tubos T1 a T4, conforme indicado na Figura 41.
1600
Assim como relatado na seção 4.1.2, para o sensor refractométrico, a criação do modelo
computacional da fibra óptica antirressonante tem início com a definição dos parâmetros
90
geométricos da seção transversal da fibra a ser estudada. Neste trabalho, optou-se pela escolha
do mesmo software propagador de feixe óptico (BeamProp®) utilizado para as simulações
anteriores. O software BeamProp tem a funcionalidade de interface gráfica para a construção de
modelos geométricos tridimensionais (3D) de guias ópticos e inclui a técnica de mapeamento
espacial para o estudo de guias ópticos curvos. A Figura 44 apresenta a seção transversal do
modelo 3D da fibra óptica antirressonante com assimetria azimutal com a indicação das
principais dimensões utilizadas.
Figura 44 – Modelo geométrico da fibra óptica antirressonante com assimetria azimutal com a
indicação dos principais parâmetros geométricos.
A análise computacional das fibras curvadas foi realizada considerando que a curvatura
sempre ocorre no plano xz e na direção -x, com raio de curvatura Rcurv, de forma que a fibra
curvada tem o lado distendido na direção +x e o lado comprimido na direção -x. Dessa forma,
para que o mapeamento espacial represente a curvatura na direção desejada, o modelo geométrico
da seção transversal da fibra óptica é rotacionado em um ângulo específico para que a desejada
direção de curvatura se alinhe com a direção -x, conforme Figura 45, onde os eixos coordenados
em azul indicam o posicionamento original do modelo.
91
Para a definição das propriedades de material, optou-se por utilizar um índice de refração
fixo em 1,45 para as regiões de sílica (SiO2) e fixo em 1,0 para as regiões com ar, sem variação
com o comprimento de onda, com a finalidade de ressaltar o efeito da curvatura sobre a
propagação óptica, sem influência de efeitos cromáticos. Nessas condições, o perfil de índices
de refração foi definido conforme mostrado na Figura 46(a) para a fibra reta. A Figura 46(b) e a
Figura 46(c) apresentam o perfil de índices de refração após a aplicação da técnica de
transformação espacial, considerando-se um raio de curvatura Rcurv = 3 cm na direção θ = 180°.
Para uma melhor visualização optou-se por exibir em duas figuras o perfil de índices de refração
obtidos pelo mapeamento espacial referentes à fibra curvada: a Figura 46(b) apresenta a variação
de índices de refração na região de núcleo oco da fibra óptica (regiões preenchidas com ar),
enquanto a Figura 46(c) mostra o perfil de índices de refração nas regiões de material sólido
(sílica). A Figura 46(d) apresenta o perfil de intensidade do modo óptico fundamental lançado
no núcleo oco da fibra óptica.
Nas simulações da propagação de modos ópticos em fibras curvadas considerou-se o
lançamento de um sinal óptico de entrada com distribuição gaussiana de intensidade óptica com
diâmetro equivalente a 70% do diâmetro da região do núcleo oco, ou seja, 0,7(2Rc), conforme
Figura 46 (d). O comprimento do modelo geométrico tridimensional da fibra óptica sensora foi
de 1 mm, que é suficiente para estabilizar a propagação óptica na fibra, calculada pelo Método
de Propagação de Feixe, e evidenciar os vales na transmissão óptica devido ao acoplamento dos
modos de núcleo com os modos da estrutura dielétrica.
92
(a) (b)
(c) (d)
Figura 46 – Representação da seção transversal da fibra óptica antirressonante de assimetria
azimutal mostrando o perfil de índices de refração para a fibra óptica reta e curvada com raio de
curvatura de 3 cm. (a) A fibra óptica reta; (b) fibra curva com destaque para valores de índices
de refração nas regiões preenchidas com ar; (c) fibra curva com destaque para valores de índices
de refração das regiões preenchidas de material sólido (sílica). (d) fibra óptica reta com
representação do perfil de intensidade do modo óptico fundamental lançado na entrada da fibra
óptica.
De forma semelhante ao descrito na seção 5.2.2, foi feito um estudo quanto à densidade
de malha adequada para estabilização das soluções numéricas e melhoria na acurácia dos
93
resultados obtidos. Tomando por base os valores de comprimento de onda dos vales da
transmissão óptica da fibra antirressonante sensora (Tabela 6), foi estuda a transmissão espectral
em uma janela de 20 nm centrada no comprimento de onda λ = 761 nm, correspondente à
ressonância de 2ª ordem (m = 2), associada ao capilar de 725 nm. Para uma melhor avaliação do
valor mínimo da curva de transmissão, foi utilizado o procedimento representado na Figura 20(a).
Em seguida, as modelagens consideraram diferentes densidades de malha (A a F) com o objetivo
de avaliar o desvio espectral do vale de transmissão óptica, cujos resultados são mostrados na
Tabela 7. A Malha D para a seção transversal foi, então, considerada adequada para ser utilizada
no modelo computacional.
1,0
Malha A
Malha B
0,6
Malha C dos vales da transmissão óptica para diferentes densidades
Malha D
0,4 Malha E de malha.
Malha F
0,2
740 750 760 770 Área de um Comp. de
Comprimento de Onda (μm) Malha Variação
770 elemento de malha Onda do Vale
λ Vale (nm)
0,8
0,6
0,4
t2 = 575 nm t1 = 650 nm
0,2 m=2 m=2 t4 = 725 nm t3 = 800 nm
m=2 m=2
0,0
550 600 650 700 750 800 850
Comprimento de Onda (nm)
Comprimentos de onda ressonantes - Aproximação Analítica λ = 758 nm λ = 835 nm
Resposta Espectral
(a) (b)
Figura 48 – (a) Transmissão óptica em função do comprimento de onda da fibra antirressonante
com assimetria azimutal sem curvatura, composta por tubos dielétricos de diferentes espessuras
(t1 a t4); (b) perfil transversal de intensidade do modo óptico fundamental nos comprimentos de
onda em que ocorre acoplamento entre modo de núcleo e modo da estrutura dielétrica.
0,8
0,6
0,4
Reta
R curv
= 15= 15
cmcm
0,2 = 5=cm
Rcurv 5 cm
Rcurv
= 3=cm3 cm
0,0
550 600 650 700 750 800 850
Comprimento de Onda (nm)
0,8
0,6 Reta
Reta
Rcurv
= 15= cm
15 cm
Rcurv
= 5 =cm
5 cm
Rcurv
= 3 =cm
3 cm
0,4
660 670 680 690
Comprimento de Onda (nm) Rcurv = 5 cm Rcurv = 3 cm
(a) (b)
Curvatura em direção a θ = 0° - Capilar de 800 nm λ = 840 nm
1,0 Reta Rcurv = 15 cm
Trasnsmissão Normalizada
0,8
0,6
0,4
Reta
Reta
Rcurv
= 15= cm
15 cm
0,2
Rcurv
= 5 =cm
5 cm
Rcurv
= 3 =cm
3 cm
0,0
820 830 840 850
Comprimento de Onda (nm) Rcurv = 5 cm Rcurv = 3 cm
(c) (d)
Curvatura em direção a θ = 0° - Capilar de 725 nm λ = 758 nm
1,0 Reta Rcurv = 15 cm
Trasnsmissão Normalizada
0,8
0,6
Reta
Reta
0,4 Rcurv
= 15= cm
15 cm
Rcurv
= 5 =cm
5 cm
Rcurv
= 3 =cm
3 cm
0,2
740 750 760 770
Comprimento de Onda (nm) Rcurv = 5 cm Rcurv = 3 cm
(e) (f)
Figura 50 – Transmissão espectral da fibra óptica antirressonante com assimetria azimutal,
curvada na direção θ = 0°, com diferentes raios de curvatura, e perfis de intensidade do modo
óptico fundamental evidenciando seu acoplamento ressonante com modos ópticos da estrutura
dielétrica da fibra óptica, em especial em capilares de diferentes espessuras: (a) e (b) capilar com
espessura de 650 nm; (c) e (d) capilar com espessura de 800 nm; e (e) e (f) capilar com espessura
de 725 nm.
97
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
820 830 840 850
Comprimento de Onda (nm)
Reta θ = 0° θ = 90°
θ = 180° θ = -90° θ = 60°
θ = -120° θ = -60° θ = 120°
(a) (b)
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
740 750 760 770
Comprimento de Onda (nm)
Reta θ = 0° θ = 90°
θ = 180° θ = -90° θ = 30°
θ = 150° θ = -150° θ = -30°
(c) (d)
Para determinar o valor exato de um vale de transmissão óptica foi utilizada uma
interpolação parabólica de forma semelhante ao descrito na Figura 20(a). Os valores de Δλ
referentes às ressonâncias associadas aos capilares de 575 nm (T2) e 725 nm (T4) são mostrados
na Figura 52(a) e os valores de Δλ referentes às ressonâncias associadas aos capilares de 650 nm
(T1) e 800 nm (T3) são mostrados na Figura 52(b). O estudo foi feito para três raios de curvatura,
3 cm, 5 cm e 15 cm, e para direções de curvatura variando entre -180° e +180°, conforme
indicado na Figura 52.
100
Capilar de
Dummy1
575 nm: RRcurv
curv = 15 cm
= 15 cm R
Rcurv ==55cm
curv cm RRcurv
curv = 3 cm
= 3 cm Capilar de
Dummy1
650 nm: RRcurv
= 15=cm15 cm R curv = 5 cm
R = 5 cm RRcurv = 3 cm
= 3 cm
4 4
2 2
Δλ (nm)
Δλ (nm)
0 0
-2 -2
-4 -4
-180 -135 -90 -45 0 45 90 135 180 -180 -135 -90 -45 0 45 90 135 180
θ (°) θ (°)
(a) (b)
Figura 52 – Desvio espectral dos vales de transmissão em função da direção de curvatura e para
três raios de curvatura. (a) Resultados associados aos capilares de 575 nm e 725 nm e (b)
resultados associados aos capilares de 650 nm e 800 nm.
Ao analisar a Figura 52 (a) nota-se que não existe deslocamento espectral (Δλ = 0) quando
é aplicada uma curvatura nas direções θ = 0° ou θ = 180°. Isso ocorre, pois, em ambos os casos,
a curvatura ocorre em direção ortogonal aos capilares T2 (575 nm) e T4 (725 nm), que estão
posicionados, respectivamente em 90° e -90°. Na Figura 52(b) observa-se que o mesmo
comportamento (Δλ = 0) ocorre para θ = ±90°, devido ao fato dos capilares T1 e T3 estarem
posicionados, respectivamente em 0° e 180°. Por outro lado, quando a curvatura ocorre na mesma
direção dos capilares associados às ressonâncias que estão sendo observadas (θ = ±90° para T2 e
T4 e θ = 0° ou θ = 180° para T1 e T3), tem-se a situação em que o deslocamento espectral é
máximo. Também é importante observar que esse comportamento corrobora o apresentado na
Figura 50, de forma que um valor positivo de Δλ representa um deslocamento do vale de
transmissão associado, no sentido de comprimentos de onda maiores, e um valor negativo de Δλ
representa um deslocamento do vale de transmissão associado, no sentido de comprimentos de
onda menores. Além disso, deslocamentos espectrais maiores, independente da direção, estão
associados a raios de curvatura menores e vice-versa, ou seja, |Δλ| é inversamente proporcional a
Rcurv.
Diante do exposto, as curvas da Figura 52, obtidas através do deslocamento das
ressonâncias, têm o potencial de serem utilizadas para a determinação, de forma simultânea, tanto
do raio de curvatura quanto da direção de curvatura à qual a fibra proposta venha a ser submetida.
101
7 Conclusão
Neste trabalho foram propostos dois designs de fibras ópticas especiais para a utilização
em sensoriamento. A primeira proposta, referente a um sensor refractométrico baseado na
interferência de multimodos em uma estrutura SMS (monomodo – multimodo – monomodo),
apresenta como diferencial a implementação de um acesso lateral ao núcleo da seção multimodal
microestruturada, de forma a facilitar a interação entre o campo evanescente dos múltiplos modos
ópticos e o material dielétrico externo.
A modelagem computacional permitiu avaliar o comportamento e desempenho do sensor
em função de vários parâmetros construtivos, tais quais:
• Comprimento da seção multimodal
• Superfície de contato entre o mensurando e o núcleo da seção multimodal
• Diâmetro do núcleo da seção multimodal
• Utilização de estrutura SMS com re-imagens de ordens superiores
• Desalinhamento entre as seções monomodo e multimodo da estrutura SMS
A validação do modelo computacional foi realizada pela comparação entre os resultados
numéricos e os resultados obtidos através da caracterização experimental de um sensor
refractométrico de núcleo exposto. Foi possível observar que o modelo numérico simplificado
representa bem o comportamento espectral do sensor refractométrico baseado em interferência
de multimodos em estrutura SMS com fibra multimodo de núclo exposto. Os resultados
mostraram semelhanças entre os dados numéricos e experimentais quanto ao espectro de
transmissão e ao deslocamento espectral em função da variação do índice de refração da amostra
dielétrica externa à fibra sensora. Experimentalmente, a máxima sensibilidade medida foi de
942 nm/RIU para a faixa de índices de refração entre 1,415 e 1,430, enquanto numericamente
obteve-se a máxima sensibilidade de 991 nm/RIU para a mesma faixa de índices de refração.
Tanto os resultados experimentais quanto os resultados numéricos apresentaram uma
sensibilidade competitiva quando comparadas aos valores alcançados por propostas de sensores
baseados em fibras ópticas especiais com diferentes princípios de funcionamento. O sensor
permite o sensoriamento de diferentes materiais dielétricos após procedimento de limpeza da
fibra sensora de núcleo exposto. Como exemplo, a sensibilidade obtida numericamente se
mostrou consideravelmente superior à apresentada em propostas baseadas em FBG [29], em LPG
[89] ou em interferômetro de Fabry-Perot [28]. Por outro lado, designs mais complexos
permitem alcançar sensibilidades muito superiores aos valores apresentados neste estudo, como
102
pode ser observado na proposta baseada em fibra de cristal fotônico, do tipo D, com deposição
de filme metálico para a excitação de plasmon de superfície [25].
Como estudos posteriores baseados nesta proposta, sugere-se a investigação de
geometrias que ofereçam uma melhor relação entre sensibilidade e largura da banda de
transmissão. Observou-se que o aumento da superfície de contato entre a amostra e o núcleo da
seção multimodal traz um aumento de sensibilidade. Esse aumento, porém, vem acompanhado
de um consequente alargamento espectral das bandas de transmissão, o que tende a reduzir a
resolução do sensor. Os resultados apresentados mostraram que o emprego de comprimentos da
seção multimodal referentes a re-imagens de ordem superior ou a utilização de uma geometria
composta por um maior número de furos com ar delimitando a região de um núcleo de maior
raio, por exemplo, são estratégias com potencial de serem exploradas para se obter uma redução
nos valores de FWHM (largura completa a meia altura) das curvas de transmissão óptica sem
prejuízos para a sensibilidade.
A segunda proposta de fibra sensora se refere a uma fibra óptica antirressonante de núcleo
oco com assimetria azimutal e com o potencial de ser utilizada para a implementação de um
sensor de raio de curvatura com discriminação direcional. Essa proposta possui como diferencial
o fato de se basear em fibra de núcleo oco definido pela distribuição azimutalmente assimétrica
de capilares de diferentes espessuras ao redor do núcleo oco da fibra em sua seção transversal.
Tal característica permite que sejam observadas variações nas curvas de transmissão espectral ao
submeter a fibra a curvaturas com diferentes raios ou diferentes direções.
Na seção 6.2 foi apresentado um modelo computacional, criado a partir da geometria
proposta, que pôde ser submetido a uma série de simulações de diferentes condições de curvatura.
Foi investigado o impacto nas bandas de transmissão óptica causado por variações tanto no raio
quanto na direção de curvatura aos quais o modelo da fibra óptica com assimetria azimutal foi
submetido. Baseando-se nos resultados obtidos a partir dessas curvas, foi concluído que é
possível identificar tanto a direção quanto a intensidade da curvatura ao se observar o
deslocamento espectral dos vales da banda de transmissão em diferentes ressonâncias. Essa
conclusão foi apresentada como a prova de conceito do sensor de curvatura com discriminação
direcional que esse trabalho se propôs a estudar.
Estudos posteriores sobre o tema podem envolver a investigação de geometrias mais
simples que sejam capazes de explorar o mesmo princípio de funcionamento. A partir dos
resultados apresentados pode-se concluir que a implementação de uma distribuição azimutal de
capilares de somente três espessuras diferentes tem o potencial de ser suficiente para a
103
identificação simultânea de raio de curvatura e direção de curvatura, desde que essa distribuição
ocorra de forma assimétrica.
104
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110
Sensor refractométrico e sensor de curvatura com discriminação de direção baseados em fibras ópticas
especiais.
6.
AUTOR(ES):
A utilização de sensores ópticos na medida de diversos parâmetros físicos e químicos e para as mais
variadas aplicações vem aumentando nas últimas décadas e tem despertado cada vez mais o interesse da
comunidade científica. Neste trabalho, são apresentados estudos numéricos detalhados sobre duas
propostas de sensores baseados em fibras ópticas especiais. Para ambas as propostas, são expostos em
detalhes os principais procedimentos utilizados para a criação dos modelos computacionais, bem como os
resultados obtidos a partir das simulações baseadas nesses modelos. A primeira proposta se trata de um
sensor refractométrico implementado através de um arranjo de fibras monomodo-multimodo-monomodo,
com a seção multimodal composta por uma fibra microestruturada de núcleo exposto. Essa concepção
utiliza o fenômeno da interferência de multimodos para produzir um padrão de interferência que varia de
acordo com o índice de refração de uma amostra dielétrica. A interação da amostra com o campo
evanescente dos modos que se propagam na região do núcleo da fibra óptica é facilitada através do núcleo
exposto ao meio externo. Os resultados numéricos são, então, comparados com os resultados experimentais
obtidos através de parceria acadêmica entre o Laboratório de Eletromagnetismo Computacional do IEAv e
o Instituto de Física da UNICAMP. A segunda proposta é baseada em uma fibra óptica especial de núcleo
oco formado pela disposição de capilares dielétricos distribuídos ao seu redor de forma azimutalmente
assimétrica. Tanto as especificações geométricas quanto o posicionamento dos capilares são escolhidos
para que, através do efeito antirressonante, as características de transmissão óptica do sensor variem de
acordo com a intensidade e direção da curvatura aplicada à fibra óptica. Devido à diferença de espessura
entre as paredes dos capilares dielétricos, o acoplamento entre os modos ópticos do núcleo oco e dos
capilares ocorre em comprimentos de onda distintos para cada capilar, fazendo com que a curvatura em
direções diferentes seja responsável pela redução do nível de transmissão em comprimentos de onda
também diferentes. Ao submeter a fibra óptica, por meio de simulações, a diferentes raios de curvatura
aplicados em direções variadas, os resultados numéricos obtidos permitem observar esse comportamento.
Tal característica faz com que o dispositivo proposto se
comporte como um sensor de curvatura com discriminação direcional.
12.
GRAU DE SIGILO: