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JAMES SILVEIRA

MODELAGEM E ANÁLISE DE
VARISTORES DE ÓXIDO METÁLICO DE ZINCO

FLORIANÓPOLIS
2009
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM ENGENHARIA ELÉTRICA

MODELAGEM E ANÁLISE DE
VARISTORES DE ÓXIDO METÁLICO DE ZINCO

Tese submetida à
Universidade Federal de Santa Catarina
como parte dos requisitos para a
obtenção do grau de Doutor em Engenharia Elétrica.

JAMES SILVEIRA

Florianópolis, Maio de 2009.


i

Resumo da Tese apresentada à UFSC como parte dos requisitos necessários


para a obtenção do Grau de Doutor em Engenharia Elétrica.

MODELAGEM E ANÁLISE DE
VARISTORES DE ÓXIDO METÁLICO DE ZINCO

JAMES SILVEIRA
Maio/2009

Orientador: Prof. Nelson Jhoe Batistela, Dr.


Co-orientador: Prof. Patrick Kuo-Peng, Dr.
Área de Concentração: Concepção e Análise de Dispositivos Eletromagnéticos
Palavras-chave: Pára-raios de alta tensão, varistor, modelagem, corrente de fuga,
degradação de pára-raios.
Número de Páginas: 186

RESUMO: A proposta principal deste trabalho é apresentar um modelo para o varistor de


óxido metálico de Zinco (ZnO) utilizado em pára-raios de alta tensão. Desenvolveu-se um
modelo original por meio de um modelo matemático baseado na função de Langevin
modificada. Quando comparada com curvas experimentais, a representação dos varistores
por meio do modelo fornece resultados próximos à realidade. O modelo possui três
parâmetros para serem encontrados. Desenvolveu-se uma metodologia de determinação
dos valores dos parâmetros, a qual é realizada em um programa computacional. Os
resultados obtidos por meio deste sistema comprovaram a capacidade de ajuste do modelo
às curvas características relativas aos diferentes varistores e suas condições operacionais.
Os três parâmetros do modelo proposto podem ser correlacionados com os fenômenos que
regem os mecanismos de corrente de fuga, bem como permitem avaliar o processo de
degradação do varistor ao longo da vida útil do pára-raios. Com base no modelo proposto e
nos estudos desenvolvidos, uma nova metodologia é proposta para a avaliação dos
varistores de ZnO.
ii

Abstract of Thesis presented to UFSC as a partial fulfillment of the


Requirements for the degree of Doctor in Electrical Engineering.

MODELING AND ANALYSIS OF


METALLIC ZINC OXIDE VARISTORS

JAMES SILVEIRA
May/2009

Advisor: Prof. Nelson Jhoe Batistela, Dr.


Co-advisor: Prof. Patrick Kuo-Peng, Dr.
Area of Concentration: Concepção e Análise de Dispositivos Eletromagnéticos
Keywords: High voltage surge arrester, varistor, modeling, leakage current, surge arrester
degradation.
Number of Pages: 186

ABSTRACT: The main objective of this paper is to present a model for the zinc oxide
(ZnO) varistor used in high voltage surge arresters. An original model was developed
through a mathematical model based on the modified Langevin function. When compared
to experimental curves, the modeled representation of the varistors provides results near
reality. This model consists of three parameters to be determined. A methodology for
determining the values for these parameters was developed, which is carried through in a
computational program. The results obtained through this system corroborated the
adjustment capacity of the model to the typical curves related to the different varistors and
their operational conditions. The three parameters of the proposed model can be correlated
with phenomena that conduct leakage current mechanisms. They also allow the evaluation
of the process of varistor degradation during the whole working life of the arresters. Based
on the proposed model and on carried out studies, a new methodology is proposed for the
evaluation of the ZnO varistors.
iii

SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ........................................................................ vii
LISTA DE FIGURAS ...................................................................................................... viii
LISTA DE SÍMBOLOS .....................................................................................................xiv
LISTA DE TABELAS .................................................................................................... xviii

1 INTRODUÇÃO ..............................................................................................................1

1.1 Objetivos.....................................................................................................................3
1.2 Estrutura da tese..........................................................................................................4

2 OS PÁRA-RAIOS...........................................................................................................7

2.1 Introdução ...................................................................................................................7


2.2 Histórico .....................................................................................................................8
2.3 Evolução dos pára-raios..............................................................................................9
2.4 Pára-raios utilizados em subestações........................................................................10
2.4.1 Constituição básica do pára-raios de ZnO ..........................................................11
2.5 Fatores de solicitação dos pára-raios ........................................................................12
2.5.1 Sobretensões .......................................................................................................12
2.5.2 Sobretensões Temporárias..................................................................................13
2.5.3 Sobretensões Transitórias ...................................................................................14
2.5.4 Sobretensão transitória combinada (temporária, frente lenta, frente rápida e
frente muito rápida) ......................................................................................................16
2.6 Fatores de degradação dos pára-raios .......................................................................16
2.6.1 Perda de estanqueidade e penetração de umidade ..............................................17
2.6.2 Contaminação externa ........................................................................................17
2.6.3 Descargas internas ..............................................................................................18
2.6.4 Descargas de longa duração ...............................................................................18
2.6.5 Descargas de alta intensidade com curta duração ..............................................18
2.7 Consequências dos efeitos degradantes ....................................................................18
2.8 Especificações do pára-raios ....................................................................................18
2.8.1 Tensão nominal...................................................................................................19
2.8.2 Máxima tensão contínua de operação (MCOV) .................................................19
2.8.3 Corrente de referência ........................................................................................19
2.8.4 Tensão de referência...........................................................................................19
2.8.5 Corrente de descarga nominal ............................................................................19
2.8.6 Tensão residual ...................................................................................................20
2.8.7 Capacidade de absorção de energia ....................................................................20
2.9 A curva característica do varistor de ZnO e as principais especificações ................20
2.10 Considerações gerais ................................................................................................21

3 OS VARISTORES DE ZnO ........................................................................................22

3.1 Introdução .................................................................................................................22


iv

3.2 Análise microscópica................................................................................................23


3.2.1 Estrutura cristalina do ZnO.................................................................................23
3.2.2 Exemplos de defeitos na rede cristalina do ZnO ................................................25
3.2.3 Barreiras de potencial nos varistores de ZnO .....................................................28
3.2.4 Mecanismo de condução para varistores de ZnO...............................................29
3.2.5 Composição do Varistor de ZnO ........................................................................32
3.2.6 Sinterização ........................................................................................................33
3.2.7 Degradação do varistor de ZnO..........................................................................35
3.3 Análise macroscópica ...............................................................................................36
3.3.1 Região “linear” de baixa corrente.......................................................................37
3.3.2 Região não-linear intermediária .........................................................................38
3.3.3 Região “linear” de alta corrente..........................................................................38
3.4 Considerações finais .................................................................................................38

4 TÉCNICAS DE INSPEÇÃO DE PÁRA-RAIOS DE ZnO .......................................40

4.1 Introdução .................................................................................................................40


4.2 Medição da resistência de isolamento ......................................................................40
4.3 Medição das perdas dielétricas .................................................................................41
4.4 Tensão disruptiva à frequência industrial .................................................................41
4.5 Contadores de descargas...........................................................................................42
4.6 Medições termográficas............................................................................................42
4.7 Medição da corrente de fuga ....................................................................................44
4.7.1 Medição da corrente total ...................................................................................45
4.7.2 Medição direta da componente resistiva da corrente de fuga.............................46
4.7.3 Análise harmônica da corrente de fuga ..............................................................47
4.7.4 Considerações sobre métodos de avaliação de pára-raios ..................................47
4.8 Critérios de avaliação adotados por empresas ..........................................................49
4.8.1 Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – CHESF .....................................50
4.8.2 Companhia Energética de Minas Gerais – CEMIG............................................51
4.8.3 Eletrosul Centrais Elétricas S.A. – ELETROSUL .............................................53
4.9 Considerações gerais ................................................................................................54

5 MODELAGEM DE PÁRA-RAIOS DE ZnO ............................................................55

5.1 Introdução .................................................................................................................55


5.1.1 Modelo convencional .........................................................................................55
5.1.2 Modelos com característica dinâmica.................................................................58
5.1.3 Modelos baseados nas características do ZnO ...................................................59
5.1.4 Modelo IEEE - GT 3.4.11 ..................................................................................65
5.1.5 Modelos baseados no modelo IEEE ...................................................................66
5.1.6 Modelos usados na análise da corrente de fuga..................................................69
5.2 Considerações gerais ................................................................................................69

6 MODELO PROPOSTO PARA O VARISTOR.........................................................71

6.1 Introdução .................................................................................................................71


6.2 Modelo proposto para varistores ..............................................................................72
6.2.1 Modelagem usando a equação de Langevin .......................................................73
v

6.2.2 Modelagem por meio da equação de Langevin modificada ...............................78


6.2.3 Método de Otimização Sequencial .....................................................................79
6.2.4 Algoritmo Genético ............................................................................................85
6.2.5 Algoritmo Híbrido – Genético e Sequencial ......................................................89
6.3 Modelo inverso .........................................................................................................92
6.3.1 Desenvolvimento do modelo inverso .................................................................92
6.3.2 Algoritmo do modelo inverso.............................................................................94
6.4 Resultados de simulação com o modelo inverso proposto .......................................97
6.5 Análise dos parâmetros do modelo proposto............................................................98
6.5.1 Avaliação dos parâmetros com base na temperatura de operação......................99
6.5.2 Avaliação dos parâmetros com base na degradação.........................................102
6.6 Considerações gerais ..............................................................................................103

7 METODOLOGIAS DE AVALIAÇÃO ....................................................................104

7.1 Introdução ...............................................................................................................104


7.2 Metodologias tradicionais que empregam a tensão aplicada ao varistor e sua
corrente de fuga ..............................................................................................................104
7.3 Avaliação dos varistores pela corrente de fuga ......................................................105
7.3.1 Influência da presença de harmônicas na tensão da rede .................................107
7.3.2 Influência da presença de harmônicas na tensão da rede sobre os parâmetros do
modelo proposto .........................................................................................................113
7.3.3 Influência da amplitude da tensão de rede na avaliação dos varistores............115
7.3.4 Influência da amplitude da tensão de rede na avaliação dos varistores por meio
dos parâmetros do modelo proposto...........................................................................119
7.3.5 Influência da temperatura na avaliação dos varistores .....................................119
7.3.6 Influência da temperatura na variação dos parâmetros do modelo ..................121
7.4 Considerações Gerais .............................................................................................123

8 CONCLUSÕES GERAIS E PROPOSTAS DE CONTINUIDADE ......................125

8.1 Conclusões..............................................................................................................125
8.2 Propostas de continuidade ......................................................................................127

9 APÊNDICE 1 – SENSOR DE CORRENTE – BOBINA DE ROGOWSKI..........131

9.1 Introdução ...............................................................................................................131


9.2 Histórico .................................................................................................................132
9.3 Princípio de funcionamento....................................................................................132
9.3.1 A bobina de Rogowski .....................................................................................135
9.3.2 Sistema de medição ..........................................................................................137
9.3.3 Determinação experimental da indutância mútua da bobina............................139
9.4 Alteração no material do núcleo .............................................................................140
9.4.1 Núcleo de silicone impregnado com pó de ferro ..............................................141
9.4.2 Núcleo de ferrite ...............................................................................................141
9.4.3 Núcleo de material nanocristalino ....................................................................143
9.5 Análise harmônica utilizando a bobina de Rogowski ............................................144
9.6 Considerações gerais ..............................................................................................146
vi

10 APÊNDICE 2 – SIMULAÇÃO DOS VARISTORES .............................................148

10.1 Introdução ...............................................................................................................148


10.2 Simulação do varistor quanto a sua condição física ...............................................149
10.2.1 Varistor Novo: ...................................................................................150
10.2.2 Avaliação geral para o varistor novo.................................................161
10.2.3 Varistor Degradado............................................................................163
10.2.4 Avaliação geral para o varistor degradado ........................................174
10.2.5 Avaliação do varistor para diferentes temperaturas ..........................176
10.3 Considerações Gerais .............................................................................................179

11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................................180


vii

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABB Asea Brown Boveri

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ANSI American National Standards Institute

ATP Alternative Transients Program

CEMIG Companhia Energética de Minas Gerais

CHESF Companhia Hidro Elétrica do São Francisco

CT Comissão Técnica

ELETROSUL Eletrosul Centrais Elétricas S.A.

et al. Abreviação da expressão latina “et alli” correspondendo em português a


“e outros”.

GIS Gas-insulated substations ou subestações isoladas em gás SF6.

GT Grupo de Trabalho

IEC International Electrotechnical Commission

IEEE Institute of Electrical and Electronics Engineers

L(a) Função de Langevin

LCM Leakage Current Monitor

Lm(a) Função de Langevin modificada

LT Linha de Transmissão

MSE Erro quadrático Médio (do inglês Mean Square Error)

NA Não Aplicável

p.u. por unidade

SA Sem Avaliação

SiC Carboneto de Silício

TDH Taxa de Distorção Harmônica (do inglês Total Harmonic Distortion)

VI Instrumento Virtual (Virtual Instrument)

ZnO Óxido de Zinco


viii

LISTA DE FIGURAS

Fig.2.1 - Representação do pára-raios ensaiado por Franklin em 1752.

Fig.2.2 - Evolução dos dispositivos de proteção contra sobretensão.

Fig.2.3 - Curvas características de pára-raios ideal, de ZnO e de SiC.

Fig.2.4 - Pára-raios de ZnO encapsulado em silicone e porcelana.

Fig.2.5 - Forma padronizada para impulso de manobra.

Fig.2.6 - Forma de onda padronizada para ensaio de impulso atmosférico.

Fig.2.7 - Curva característica típica dos elementos de ZnO.

Fig. 3.1 - Formação do cristalino de ZnO – Unidade básica na forma de tetraedro


distorcido.

Fig. 3.2 - Retículo de Bravais para o cristalino de ZnO.

Fig. 3.3 - Representação esquemática da estrutura básica do ZnO.

Fig. 3.4 - Representação esquemática de uma amostra da rede cristalina do ZnO.

Fig. 3.5 - Representação esquemática de defeitos pontuais na rede cristalina do ZnO.

Fig. 3.6 - Representação esquemática do defeito de Poole-Frenkel.

Fig. 3.7 - Representação esquemática do defeito de Schottky.

Fig. 3.8 - Representação esquemática idealizada da microestrutura do varistor de ZnO


com duas e três fases.

Fig. 3.9 - Fotomicrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura (MEV) da


microestrutura de um bloco de ZnO.

Fig. 3.10 - Comportamento não-linear para o varistor de ZnO.

Fig.4.1 - Pára-raios com duas colunas de varistores de ZnO.

Fig.4.2 - Pára-raios com aquecimento uniforme.

Fig.4.3 - Circuito equivalente simplificado do pára-raios de ZnO.

Fig.4.4 - Influência da temperatura na característica tensão/corrente em pára-raios de


ZnO.
ix

Fig.4.5 - Relação entre a variação das correntes de fuga resistiva e total.

Fig.4.6 - Sinais da tensão e da corrente de fuga total em um pára-raios.

Fig.4.7 - LCM-II - Equipamento para monitoramento de corrente de fuga.

Fig.4.8 - Excount-II - Equipamento para monitoramento de corrente de fuga.

Fig.4.9 - Exemplo de utilização da medição termográfica em pára-raios da CEMIG.

Fig.5.1 - Modelo elétrico convencional de pára-raios.

Fig.5.2 - Curvas da característica elétrica de varistores para diferentes valores de α.

Fig.5.3 - Respostas para o equacionamento convencional acrescentando um resistor


linear.

Fig.5.4 - Modelo elétrico proposto por Tominaga et alli..

Fig.5.5 - Modelo elétrico proposto Kim et alli.

Fig.5.6 - Modelo elétrico proposto Levinson e Philipp.

Fig.5.7 - Modelo elétrico proposto Matsuura e Yamaoki.

Fig.5.8 - Modelo elétrico proposto por Emtage et alli.

Fig.5.9 - Modelo elétrico proposto por Burger e Knetch.

Fig.5.10 - Modelo elétrico proposto pela Mc Graw-Edison Company.

Fig.5.11 - Modelo elétrico proposto por Einzinger.

Fig.5.12- Modelo elétrico proposto por Yu-Jin et alli.

Fig.5.13 - Modelo elétrico proposto Schmidt et alli.

Fig.5.14 - Modelo elétrico apresentado por Haddad et alli.

Fig.5.15 - Modelo elétrico proposto Haddad et alli.

Fig.5.16 - Modelo elétrico do pára-raios de ZnO – IEEE.

Fig.5.17 - Modelo elétrico proposto por Pinceti et alli.

Fig.5.18 - Modelo elétrico proposto por Fernandez et alli.

Fig.5.19 - Curvas características de A0 e A1 para o modelo de Fernandez et alli.

Fig.5.20 - Representações de pára-raios para análise da corrente de fuga.


x

Fig.6.1 - Reprodução das curvas apresentadas por Zhu e Raghuveer.

Fig.6.2 - Simulação da componente resistiva da corrente de fuga para um varistor usando


suas curvas características obtidas antes e após a degradação.

Fig.6.3 - Componente resistiva da corrente de fuga nas temperaturas ambiente, 60ºC e


100ºC em função do tempo para a tensão aplicada em 1 p.u.

Fig.6.4 - Comportamento da função de Langevin.

Fig.6.5 - Comportamento da função de Langevin adaptada para configuração de


materiais magnéticos.

Fig.6.6 - Forma simplificada de obtenção do parâmetro a para o modelo do varistor.

Fig.6.7 - Interface do programa (VI)de busca dos parâmetros da equação de Langevin


com os resultados referentes ao varistor novo.

Fig.6.8 - Interface do programa (VI) de busca dos parâmetros da equação de Langevin


com os resultados referentes ao varistor degradado.

Fig.6.9 - Algoritmo do programa de busca dos valores da função de Langevin modificada


pelo método sequencial.

Fig.6.10 - Determinação da tensão u para os n pontos da curva característica do varistor


em função dos parâmetros do modelo.

Fig.6.11 - Interface do programa (VI) para busca de parâmetros da equação de Langevin


modificada pelo método sequencial para o varistor novo.

Fig.6.12 - Interface do programa (VI) para busca de parâmetros da equação de Langevin


modificada pelo método sequencial para o varistor degradado.

Fig.6.13 - Geração de conjuntos “filhos” de parâmetros na etapa de algoritmo genético.

Fig.6.14 - Algoritmo do programa de busca de parâmetros do modelo proposto usando


conceito de Algoritmo Genético.

Fig.6.15 - Interface do VI para busca de um conjunto de parâmetros do modelo proposto


para o varistor novo por meio de programa usando conceitos de algoritmo
genético.

Fig.6.16 - Determinação dos parâmetros da curva característica de um varistor novo para


tensão aplicada sem distorção.
xi

Fig.6.17 - Determinação dos parâmetros da curva característica de um varistor degradado


para tensão aplicada sem distorção harmônica.

Fig.6.18 - Representação das grandezas de entrada e saída dos modelos direto e inverso.

Fig.6.19 - Algoritmo numérico do modelo inverso proposto.

Fig.6.20 - Interface do programa inverso incluindo a tensão aplicada sobre o varistor novo,
a tensão Ug gerada com a corrente do modelo inverso aplicada no modelo
direto, e as curvas características do varistor.

Fig.6.21 - Interface do programa inverso incluindo a tensão aplicada sobre o varistor


degradado, a tensão Ug gerada com a corrente do modelo inverso aplicada no
modelo direto, e as curvas características do varistor.

Fig.6.22 - Resposta do modelo para a corrente resistiva com a variação do parâmetro a,


mantendo-se os parâmetros β e Um fixos (50 e 1,2 respectivamente).

Fig.7.1 - Interface do programa (VI) para avaliação da influência da terceira harmônica


da tensão de rede.

Fig.7.2 - Sinal de tensão senoidal puro aplicado ao varistor (curva azul), e formas
distorcidas pela presença de conteúdo harmônico na tensão de rede. Curva
verde: 5% de 3ª harmônica com fase de zero. Curva vermelha: 5% de 3ª
harmônica com fase de 180º.

Fig.7.3 - Variação da THD da corrente resistiva do varistor novo causada pela presença
de 3ª harmônica na tensão de rede.

Fig.7.4 - Variação da THD da corrente resistiva do varistor degradado causada pela


presença de 3ª harmônica na tensão de rede.

Fig.7.5 - Variação da 3ª harmônica da corrente resistiva do varistor novo causada pela


presença de 3ª harmônica na tensão de rede.

Fig.7.6 - Avaliação do erro causado na 3ª harmônica da corrente resistiva pela presença


de 3ª harmônica na tensão de rede.

Fig.7.7 - Variação da 3ª harmônica da corrente resistiva do varistor novo causada pela


presença de 3ª harmônica na tensão de rede.
xii

Fig.7.8 - Avaliação do erro causado na 3ª harmônica da corrente resistiva pela presença


de 3ª harmônica na tensão de rede.

Fig.7.9 - Correntes resistivas e curvas características simuladas para um varistor novo e


outro degradado, com tensão aplicada de 1,4 p.u. senoidal.

Fig.7.9 - Alterações na THD, na fundamental e nas terceira e quinta harmônicas da


componente resistiva da corrente de fuga do varistor novo com a variação da
amplitude da tensão de alimentação (senoidal pura).

Fig.7.10 - Alterações na THD, na fundamental e nas terceira e quinta harmônicas da


componente resistiva da corrente de fuga do varistor degradado com a variação
da amplitude da tensão de alimentação (senoidal pura).

Fig.7.11 - Variações percentuais da THD, da fundamental e das terceira e quinta


harmônicas da componente resistiva da corrente de fuga para os varistores novo
e degradado com a variação da amplitude da tensão de alimentação (senoidal
pura).

Fig.7.12 - Curvas características experimentais e modeladas para o varistor de ZnO nas


temperaturas: ambiente (20ºC), 60ºC e 100ºC.

Fig.7.13 - Componente resistiva da corrente de fuga para o varistor nas temperaturas de


20ºC, 60ºC e 100ºC.

Fig.9.1 - Aplicação da Lei de Ampère.

Fig.9.2 - Parcela dl da bobina.

Fig.9.3 - Detalhe do desenvolvimento da bobina protótipo, com núcleo de ar


confeccionada em um torno com avanço programável.

Fig.9.4 - Enrolamento da bobina de Rogowski.

Fig.9.5 - Diagrama de blocos do sistema de medição.

Fig.9.6 - Interface do programa desenvolvido para tratamento do sinal da bobina de


Rogowski e apresentação dos resultados.

Fig.9.7 - Variação da indutância mútua medida em relação à calculada.

Fig.9.8 - Ambiente de medição.


xiii

Fig.9.9 - Comparação entre as medições obtidas com a bobina de Rogowski e a sonda


Hall.

Fig.9.10 - Resposta em frequência do sistema.

Fig.9.11 - Resposta em frequência do amplificador de instrumentação.

Fig.9.12 - Sinal da bobina de Rogowski e espectro harmônico.

Fig.9.13 - Bobina com núcleo de ferrite.

Fig.9.14 - Interface do programa utilizado para aquisição de dados com os resultados


relativos à bobina com núcleo confeccionado com ferrite.

Fig.9.15 - Detalhe da forma de onda da corrente de fuga medida com bobina com núcleo
confeccionado com ferrite.

Fig.9.16 - Sensores baseados na bobina de Rogowski utilizando material nanocristalino.

Fig.9.17 - Sinal de corrente medido com a bobina sensora utilizando núcleo de material
nanocristalino (i = 1mAp/60Hz + 0,25mAp/180Hz).

Fig.9.18 - Análise harmônica do sinal de corrente medido com a bobina sensora utilizando
núcleo de material.
xiv

LISTA DE SÍMBOLOS E UNIDADES

a Parâmetro de ajuste da função de Langevin [adimensional]

A(dU/dt,U,k1) Resistência variável [Ω]

A0 , A1 Resistências não-lineares [Ω]

Ar Constante efetiva de Richardson [A/m2K2]

C Capacitância paralela do pára-raios [F]

C(dU/dt,U,k2) Capacitância variável [F]

d Comprimento da coluna do pára-raios [m]

dl Porção infinitesimal da bobina [m]

E Campo Elétrico [V/m]

e,q carga do elétron [C]

E0 Energia no topo da barreira de potencial [J]

fem Força eletromotriz induzida nos terminais da bobina [V]

H Campo magnético [A/m]

h Constante de Plank [J.s]


r
H Vetor campo magnético [A/m]

Hx Campo magnético na direção x [A/m]

I, i Corrente elétrica [A]

I0 Máximo valor da corrente de entrada [A]

IA0 Corrente através do resistor não-linear A0 [A ou p.u.]

IA0 Corrente através do resistor não-linear A1 [A ou p.u.]

Ic, ic Componente capacitiva da corrente de fuga do pára-raios [A]

Iin Corrente de entrada [A]

Ir, ir Componente resistiva da corrente de fuga do pára-raios [A]

Irm Corrente que flui pelo varistor para a função modificada de Langevin [A]
xv

It, it Corrente total de fuga do pára-raios [A]

J Densidade de corrente [A/m2]

J0 Constante referente à densidade de corrente [adimensional]

k Constante de proporcionalidade do equipamento [adimensional]

K1, K2 Constantes de tempo [adimensional]

KB Constante de Boltzmann [J/K]

Cm Comprimento médio da bobina [m]

L Indutor não-linear [H]

L0, L1 Indutâncias para simulação de característica dinâmica [H]

Lbody Indutância própria dos blocos de ZnO [H]

Lc1 Indutância para simulação de característica dinâmica [H]

Lc2 Indutância para simulação de característica dinâmica [H]

Lg Indutância relacionada aos grãos de ZnO [H]

Ll Indutor linear [H]

m, me Massa do elétron [Kg]

M Parcela da bobina com comprimento igual a dl [m]

MSE Erro quadrático médio (mean squared error) [adimensional]

N Número de grãos por unidade de comprimento [adimensional]

n Número de colunas paralelas de blocos de ZnO [adimensional]

Ne Número total de espiras da bobina [espiras]

ND Concentração de espécies doadoras [adimensional]

ne Número de espiras na parcela M [espiras]

R Resistência para implementação numérica [Ω]

R(i) Resistência dependente da corrente [Ω]

R0 , R1 Resistências para implementação numérica e composição de filtros [Ω]


xvi

Rc Resistência linear [Ω]

Rg Resistência relacionada aos grãos de ZnO [Ω]

Rp Resistor não-linear principal ou varistor [Ω]

Sb Seção transversal da bobina [m2]

T Temperatura [K]

t Tempo [s]

T0 Tempo referente ao zero virtual [s]

T1 Tempo referente à frente de onda [s]

T2 Tempo referente à meia cauda [s]


r
u Vetor unitário [adimensional]

U Tensão sobre os terminais do pára-raios (ou do sistema) [V]

UA0 Tensão sobre o resistor não-linear A0 [V ou p.u.]

UA1 Tensão sobre o resistor não-linear A1 [V ou p.u.]

Uc Tensão de crista ou máxima amplitude da tensão [V]

Uc Tensão de crista [V ou p.u.]

Ud Tensão de descarga do pára-raios [V]

Ug Tensão gerada pelo modelo [V]

UIn,8/20 Tensão residual para descarga de corrente com amplitude nominal e forma de
onda 8x20µs [V]

UIn,T1 Tensão residual para descarga de corrente com frente de onda T1 e amplitude
nominal [V]

Um Tensão máxima admitida pelo pára-raios [V]

Un Tensão nominal do varistor [V ou p.u.]

Uop Tensão de operação do sistema [V]

UR1/T2 Tensão residual para surto de 10kA com frente rápida (1/T2 µs) [V]

UR8/20 Tensão residual para surto de 10kA e forma 8x20µs [V]


xvii

∆T Variação de temperatura [oC]

ξ Constante definida pela equação 3.7 [adimensional]

ν Largura da camada de depleção [m]

ϕ Altura da barreira de potencial do grão de ZnO [m]

α Coeficiente de não-linearidade do varistor [adimensional]

β Constante de modificação da função de Langevin [adimensional]

ηb Constante relacionada com a largura da barreira de potencial [adimensional]

η Fator de correção da corrente de pico [adimensional]

φ Fluxo concatenado pelas ne espiras na bobina [Wb]

θ Frente de onda ou taxa de velocidade de crescimento [grau]

µ Permeabilidade magnética de um meio qualquer [Wb/Am]

ρ Resistividade elétrica [Ω.m]

ϕ0 Altura da barreira de potencial com campo elétrico é nulo [m]

ε0 Permissividade elétrica do vácuo [F/m]

µ0 Permeabilidade magnética do ar [Wb/Am]

εg Permissividade elétrica dos grãos de ZnO [F/m]

Γm Constante do material [adimensional]

εr Permissividades relativa do material [adimensional]

µr Permeabilidade relativa de um meio qualquer [adimensional]

φt Fluxo total concatenado na bobina [Wb]

∂U/∂t Derivada temporal da tensão do sistema [V/s]

∆Ures Elevação residual de tensão [V]


xviii

LISTA DE TABELAS

Tab.3.1- Composições de materiais varistores encontrados na literatura.

Tab.4.1- Métodos de diagnóstico utilizados em pára-raios de ZnO.

Tab.4.2- Métodos de monitoramento através da medição de corrente de fuga.

Tab.5.1 - Característica tensão/corrente para A0 e A1 (modelo IEEE).

Tab.5.2 - Característica tensão/corrente para A0 e A1 (modelo Pinceti et alli).

Tab.6.1 - Verificação da estabilidade da busca dos parâmetros de um varistor novo para


diferentes números de iterações.

Tab.6.2 - Verificação da estabilidade da busca dos parâmetros de um varistor degradado


para diferentes números de iterações.

Tab.6.3 - Determinação dos parâmetros do modelo para um varistor novo pelo método
sequencial com diferentes valores iniciais.

Tab.6.4 - Resultados de busca de parâmetros utilizando algoritmo genético com


diferentes graus de liberdade para os parâmetros iniciais.

Tab.6.5 - Verificação da estabilidade dos parâmetros para o varistor novo com resultados
obtidos em simulações com a mesma tensão aplicada sobre o varistor novo.

Tab.6.6 - Verificação da estabilidade dos parâmetros para o varistor degradado com


resultados obtidos em simulações com a mesma tensão aplicada.

Tab.6.7 - Variação dos parâmetros do modelo proposto com relação à temperatura.

Tab.6.8 - Variação dos parâmetros do modelo proposto com relação à degradação.

Tab. 7.1- Verificação geral da estabilidade dos parâmetros de um varistor degradado.

Tab. 7.2- Verificação geral da estabilidade dos parâmetros de um varistor degradado.

Tab. 7.3- Variação das componentes harmônicas da corrente dos varistores novo e
degradado com a variação da tensão de alimentação.

Tab. 7.4- Variação do conteúdo harmônico com a mudança de temperatura do varistor.

Tab. 7.5- Variação dos parâmetros Um, a e β com a mudança de temperatura do varistor.

Tab. 9.1- Características da bobina protótipo [11].


1
1 INTRODUÇÃO
Em um sistema elétrico, a qualidade da energia está diretamente ligada à
confiabilidade desse sistema. Na intenção de melhorar a confiabilidade, estudos são
realizados para os mais diversos fenômenos transitórios, envolvendo variações súbitas de
tensão e de corrente, como as causadas pelas descargas atmosféricas, faltas no sistema ou
operação de disjuntores e chaves seccionadoras associadas à energização de dispositivos ou
de redes elétricas [1, 2]. Para a realização desses estudos, podem-se dividir os fenômenos
como de sobretensões atmosféricas e de manobra. Dentre estes fatores causadores de
sobretensão, e que, portanto, agem na contra mão da confiabilidade do fornecimento de
energia elétrica, as descargas atmosféricas merecem especial atenção, seja pela
imprevisibilidade de sua ocorrência ou pela extensão dos danos que podem causar. A
descarga atmosférica é o principal fator de solicitação das redes elétricas, quer pelas
descargas diretas, de consequências normalmente muito severas, ou devido às tensões
induzidas por descargas que ocorrem nas proximidades das linhas de transmissão, com
grau de severidade menor. Apesar de causarem menor dano, as descargas indiretas são
muito mais frequentes, fazendo com que se tornem agentes condicionadores da
confiabilidade do sistema elétrico [3, 4].

Do conjunto de equipamentos que atuam na proteção do sistema elétrico de energia,


o pára-raios é o responsável por limitar as sobretensões em valores aceitáveis, evitando
danos aos demais equipamentos, normalmente de custos mais elevados. Além disso, reduz-
se o tempo de interrupção necessário para manutenções não programadas.

Quando um pára-raios atua limitando sobretensões, uma corrente elétrica é drenada


pelo mesmo, dissipando uma quantidade de energia. Para que possa garantir o desempenho
satisfatório de proteção com confiabilidade, os pára-raios necessitam de ensaios e/ou
inspeções periódicas que atestem sua qualidade e sua capacidade, antes e durante sua
2

utilização. Diversos são os tipos de ensaios realizados nos pára-raios, entre eles se pode
destacar a medição termográfica, a medição da radiointerferência, a medição da corrente de
fuga, dentre outros estabelecidos por normas ou adotados de forma particular segundo
critérios específicos de uma empresa de energia elétrica.

Essencialmente, o trabalho desenvolvido aqui aborda o pára-raios de alta tensão sob


o enfoque de sua corrente de fuga. Por meio da análise dessa corrente é possível determinar
o grau de degradação do dispositivo. Há equipamentos comerciais destinados a esse fim [5,
6, 7, 8], cada qual com características diferentes, desde a maneira de medição até a forma
de obtenção de parâmetros e de estratégias para a avaliação das condições operacionais de
pára-raios. Nesse aspecto, existem muitos questionamentos pelas equipes de manutenção
quanto à utilização das metodologias de avaliação da vida útil do pára-raios e à eficácia dos
métodos de medição. Na literatura, também não há trabalhos que forneçam uma abordagem
consensual do problema. Nas empresas de energia elétrica e no meio acadêmico, uma das
linhas que está tendo uma crescente adesão e interesse é justamente o desenvolvimento de
estudos sobre a avaliação de pára-raios por meio da corrente de fuga. Há uma necessidade
latente de pesquisa teórica e experimental na busca de uma consolidação de conhecimentos
e metodologias aprofundados da questão.

Além da falta de uma metodologia consolidada de avaliação da corrente de fuga de


pára-raios, não se encontrou um modelo que representasse com precisão o varistor de óxido
metálico de zinco (ZnO) em seu espectro de atuação. As representações existentes
atualmente modelam o varistor por partes, pelo uso de tabelas ou de múltiplas equações.

O desenvolvimento desta tese está centrado na análise de pequenas correntes, mais


especificamente na componente resistiva da corrente de fuga dos pára-raios. Um sensor
para detecção do sinal da corrente de fuga do pára-raios foi estudado e está sendo
desenvolvido em uma dissertação de mestrado conduzida paralelamente, sendo associada
parcialmente a este trabalho. A técnica escolhida para medição dessa corrente é por meio
de um sensor baseado na bobina de Rogowski1. Como a amplitude da corrente de fuga do
pára-raios é da ordem de micro a miliampères, esforços foram centrados no ajuste do
sensor e dos circuitos eletrônicos associados. Medir correntes dessa magnitude não é alvo
das aplicações usuais da bobina de Rogowski. Porém, a utilização do princípio que rege o

1
Sensor para monitoramento de corrente elétrica alternada [9 10].
3

funcionamento desse dispositivo, associada à substituição do núcleo originalmente de ar


por um com permeabilidade relativa maior, está possibilitando a obtenção de resultados
que atendem a necessidade (vide anexo 1). Esta tese colaborou na colocação da questão da
medição das correntes de fuga de baixa intensidade de pára-raios de ZnO, fornecendo as
especificações ao trabalho de mestrado do engenheiro Maurício Rigoni para o
desenvolvimento do sensor bobina de Rogowski [10].

1.1 Objetivos

O objetivo principal deste trabalho é desenvolver uma modelagem de varistores de


óxido metálico de zinco (ZnO) empregados em pára-raios de alta tensão. Paralelamente,
propõe-se uma metodologia associada à aplicação do modelo para avaliação da vida útil de
varistores. No desenvolvimento deste trabalho, os objetivos metodológicos consistiram em:
(a) desenvolver um modelo para o varistor baseado na sua característica tensão aplicada e
corrente de fuga (b) e, com a utilização do modelo analisando a variação dos seus
parâmetros, propor diretrizes e uma nova metodologia de estimação das condições do
varistor utilizando a componente resistiva da corrente de fuga em pára-raios. A
contribuição da tese é a proposição de um modelo para o varistor contemplando a faixa de
operação e atuação, desde a corrente de fuga até a sua corrente máxima nominal.

Sob o aspecto teórico, os estudos realizados do comportamento do varistor de óxido


de zinco levaram ao desenvolvimento de um novo modelo matemático baseado na equação
de Langevin modificada [11]. Essa abordagem proporcionou resultados que o representam
de forma bastante satisfatória quando comparados com medições de correntes de fuga
obtidas em referências bibliográficas ou com dados obtidos experimentalmente. Utilizando
dados experimentais relativos ao pára-raios operando em regime, isto é, sem a presença de
transitórios, propõem-se maneiras de determinação dos parâmetros do modelo, ajustando a
representação do modelo às curvas experimentais. Apesar da temperatura exercer forte
influência na faixa de operação de baixas correntes, uma análise proposta da variação dos
parâmetros se mostra uma ferramenta promissora para o julgamento do grau de degradação
do varistor. Esse enfoque resultou em um pedido de patente [11].

Na maneira de medição da corrente de fuga, um aspecto prático inovador reside na


utilização de sensores de corrente elétrica baseados no princípio da bobina de Rogowski
4

para baixas amplitudes de corrente com respeito às vantagens que ela pode proporcionar.
Explora-se o fato de que o sinal de tensão medido nos terminais da bobina é proporcional à
derivada temporal da corrente que circula no condutor por ela envolvido. Essa abordagem
resultou em um pedido de patente [12].

Os dois enfoques de estudos citados, envolvendo a parte experimental e a parte


teórica de modelagem e de análise, são complementares. Das formas de onda medidas se
extrai o modelo com seus parâmetros, que confrontado com uma metodologia específica
proposta neste trabalho, pode colaborar na avaliação da vida útil e das condições de
operação de pára-raios de alta tensão.

1.2 Estrutura da tese

A tese está estruturada em oito capítulos, abordando o posicionamento do tema até


a proposição e sugestões de continuação do trabalho.

O presente Capítulo 1 trata do posicionamento do tema, descrevendo os dois


principais objetivos traçados: a) o desenvolvimento de um novo modelo para os varistores
(blocos de ZnO) que compõem os pára-raios atualmente utilizados em média, alta e extra-
alta tensões, e b) a proposição de uma metodologia de avaliação da vida útil de pára-raios.
Como objetivo associado há a colaboração na aplicação de bobinas de Rogowski em
medições de correntes de baixa amplitude, tendo um caráter mais experimental.

O estudo geral sobre o pára-raios e sua importância no contexto do sistema de


energia elétrica é abordado no Capítulo 2. O estudo sobre o equipamento resgata, de forma
sucinta, as estruturas utilizadas desde o seu surgimento em 1752 até os tipos de pára-raios
contemporâneos. São tratados também os fatores de solicitação e de degradação dos pára-
raios.

Na busca de uma compreensão da atuação do componente ativo do pára-raios de


ZnO, o Capítulo 3 descreve os mecanismos de operação do varistor em uma abordagem
micro e macroscópica. Obviamente, devido à própria área de desenvolvimento deste
trabalho dentro da Engenharia Elétrica, não sendo um objetivo específico o entendimento
aprofundado dos fenômenos físico/químicos da questão, este capítulo procura introduzir
5

alguns conceitos e descrever fenômenos associados, sem explorá-los com a capacidade e os


conhecimentos próprios da área da Ciência dos Materiais.

No Capítulo 4 são expostas as técnicas de inspeção dos pára-raios visando à escolha


do procedimento mais adequado de análise da degradação dos mesmos. Citam-se também
as técnicas que são mais utilizadas atualmente por empresas distribuidoras e transmissoras
de energia que atuam no sistema elétrico brasileiro.

O Capítulo 5 apresenta uma revisão bibliográfica sobre modelos de pára-raios que,


geralmente, utilizam circuitos elétricos para a representação. De maneira resumida, são
relacionados e descritos os modelos mais citados na literatura para a representação dos
pára-raios completos ou de seus varistores nas diversas regiões de operações. Para os
modelos estudados, colocam-se as suas vantagens e também as suas dificuldades na
exploração dos mesmos.

No Capítulo 6 é apresentada a proposta de um novo modelo para o varistor de ZnO


tendo em vista uma representação simples e mais fidedigna. Apresenta-se o
desenvolvimento do modelo, onde inicialmente foi utilizada a equação de Langevin
aplicada em materiais paramagnéticos, a qual apresentou um desempenho de representação
restrito. Na sequência, adapta-se uma modificação proposta por Weiss na representação de
materiais ferromagnéticos, e apresenta-se o modelo proposto para varistores utilizados em
pára-raios. A modelagem tem como variável dependente a tensão nos terminais do varistor
e a corrente elétrica é a variável independente. Ao final do capítulo é apresentado o
desenvolvimento do modelo inverso para aplicação prática na análise dos varistores, em
que a tensão elétrica é a grandeza aplicada (conhecida). Para o desenvolvimento são
utilizadas curvas de varistores, novo e degradado, obtidas de uma referência encontrada na
literatura [25].

O Capítulo 7 apresenta as metodologias de avaliação dos varistores. Algumas das


maneiras já empregadas por empresas do setor elétrico e/ou recomendadas pelo Grupo de
Trabalho IEEE WG 3.4.11 na avaliação de pára-raios com varistores de óxido de zinco são
testadas com o modelo proposto. Também é proposta uma nova metodologia, com a qual
se busca aumentar o leque de possibilidades e a capacidade de avaliação da vida útil de
varistores, além de prover maior qualidade às informações coletadas em ensaios.
6

O Capítulo 8 contém as considerações finais e propostas de trabalhos de


continuidade para o tema abordado.

São ainda inseridos os apêndices 1 e 2. O Apêndice 1 trata da aplicação do sensor


de corrente baseado na bobina de Rogowski para a medição da corrente de fuga do pára-
raios. No estudo, foram utilizadas bobinas protótipo desenvolvidas por Rigoni [10].
Ensaios foram realizados e são relatados, servindo de referência para o desenvolvimento de
sensores baseados na bobina de Rogowski. Além da apresentação de resultados de ensaios,
análises dos varistores são desenvolvidas e comentadas. O Apêndice 2 traz uma série de
simulações com o modelo proposto. Os resultados foram utilizados para dar base às
conclusões quanto à representatividade e à metodologia de encontro dos parâmetros do
modelo proposto neste trabalho, e também sob o enfoque da variação paramétrica sob a
influência da temperatura, de harmônicas na forma de onda da tensão, da amplitude da
tensão, e da degradação de um varistor.
2
2 OS PÁRA-RAIOS

2.1 Introdução

Devido ao alto custo de equipamentos próprios das subestações de energia elétrica,


sobretudo nas de maior capacidade, faz-se necessário a utilização de mecanismos de
proteção que propiciem ao mesmo tempo alta confiabilidade e disponibilidade do sistema.
Deseja-se que esses equipamentos de proteção também possuam alto nível de
confiabilidade visando à garantia global do sistema elétrico. Isto se traduz na melhoria da
qualidade da energia elétrica. A não observância dos critérios mínimos de proteção que
garantam o fornecimento de energia elétrica de forma ininterrupta e com qualidade
aceitável faz com que ocorram, além do prejuízo na imagem da empresa fornecedora,
prejuízos financeiros decorrentes dos problemas causados. Quando a planta elétrica da
empresa sofre uma avaria, deixa de entregar energia por tempo indeterminado até que se
faça a manutenção necessária ao restabelecimento do sistema. Atualmente, as empresas
transmissoras de energia elétrica recebem por disponibilidade de seus ativos (Receita
Anual Permitida – RAP e Parcela Variável – PV)

A instalação de pára-raios tem se mostrado uma solução eficaz na melhoria da


qualidade da energia ofertada ao consumidor. Um minucioso estudo da relação
custo/benefício da instalação ou não dos pára-raios pode levar à melhor solução,
traduzindo-se em benefícios para a empresa e para os consumidores [13]. Adicionalmente,
a proteção oferecida por cabos pára-raios e por um dimensionamento criterioso de
aterramento dos suportes, quase sempre é suficiente para reduzir o número de
desligamentos das linhas por descargas atmosféricas a valores aceitáveis. Porém, em locais
cujo grau de segurança tenha que ser maximizado, é essencial a utilização de pára-raios nas
linhas para a obtenção de bons desempenhos sob a ação de descargas atmosféricas [13].
8

Quando em operação normal, o pára-raios se assemelha a um circuito aberto.


Quando alguma falha, descarga elétrica ou mesmo uma manobra no sistema causar uma
sobretensão, uma parcela da corrente excedente circula pelo resistor não-linear do pára-
raios, impedindo que a tensão nos seus terminais ultrapasse um valor pré-definido,
protegendo os equipamentos das subestações e dos consumidores. Está também associada
uma componente de corrente capacitiva drenada pelo pára-raios durante um distúrbio, de
maneira que a corrente total também aumenta [1].

Apesar da importante função de proteger outros equipamentos e instalações de


sobretensões impostas ao sistema elétrico, proporcionando-lhe confiabilidade e evitando
prejuízos às concessionárias e aos consumidores, os pára-raios ainda não utilizam técnicas
de diagnóstico que sejam consensualmente definidas. A uniformização dos procedimentos
para verificação do pára-raios facilitaria a avaliação do seu estado funcional. E, assim
sendo, unidades defeituosas e inadequadas ao serviço poderiam ser facilmente identificadas
e substituídas. Grande parte dessa dificuldade de uniformização dos critérios empregados
deve-se às características construtivas e operacionais dos pára-raios. Por serem
equipamentos normalmente selados não permitem a inspeção de maneira simples de seus
componentes internos, necessitando de métodos não visuais de inspeção [14, 15].

2.2 Histórico

Benjamin Franklin (1706-1790) desenvolveu procedimentos para a realização de


uma experiência capaz de demonstrar a sua hipótese de que as nuvens estariam carregadas
de eletricidade, sendo os raios das trovoadas um fenômeno elétrico (vide Fig.2.1). Essa
experiência foi realizada na França, em 1752. Foi montado um mastro metálico isolado da
terra com um fio de cobre próximo ligado à terra. Quando um dos experimentadores
presentes (isolado do cobre com vidro) aproximou o fio de cobre do mastro durante uma
trovoada, observaram-se faíscas a saltar entre o mastro e o fio de cobre, comprovando a
hipótese de Franklin. Essa experiência serviu também para mostrar a capacidade de
proteção que esse dispositivo poderia proporcionar quando o mastro está ligado à terra. A
experiência obteve êxito e foi repetida por toda a Europa, tendo provocado na Rússia a
morte do cientista alemão Richmann que, por não se isolar convenientemente, foi atingido
por um raio [16, 17].
9

Na época, antes da utilização do pára-raios, as mortes causadas por raios eram


frequentes. Mais especificamente, essas tragédias aconteciam quando se tocavam os sinos
durante as trovoadas justamente para afastar os perigos atribuídos a causas sobrenaturais.
Os sinos metálicos atraíam os raios e fulminavam aqueles que os tocavam. Em 1791, o
Papa Pio VI mandou reconstruir uma capela destruída por um raio e ordenou a instalação
de um pára-raios e de uma placa alusiva, em que esse ficou designado na ocasião como
Vara Elétrica de Franklin [16, 17].

raio

mastro metálico
faísca

fio de cobre
plataforma
isolante

Fig.2.1 - Representação do pára-raios ensaiado por Franklin em 1752 [17].

2.3 Evolução dos pára-raios

Após a descoberta de Franklin, a forma de atuação dos pára-raios se tornou


rapidamente conhecida. Desde então, o desenvolvimento da tecnologia concomitante com
o dos materiais produziu vários tipos de supressores de sobretensão até que se chegasse aos
pára-raios empregados atualmente. O processo evolutivo que culminou nos atuais pára-
raios é apresentado de forma esquemática na Fig.2.2. O ponto de partida se deu com um
centelhador (Fig.2.2a), que foi o primeiro equipamento com a função de evitar
sobretensões em subestações. Esse tipo de equipamento tem seu funcionamento baseado no
rompimento do dielétrico entre os dois pólos, limitando o valor da sobretensão a valores
pré-estabelecidos. Possui o inconveniente de proporcionar um curto-circuito, requerendo a
atuação conjunta de um mecanismo de proteção contra esse tipo de falta. Esse tipo de
equipamento foi introduzido por volta de 1892 [1, 2, 18].
10

(a) (b) (c) (d)

Fig.2.2 - Evolução dos dispositivos de proteção contra sobretensão [1].

O segundo estágio de desenvolvimento consistiu na associação em série de um


resistor não-linear com um centelhador ou ‘gap’ (Fig.2.2b). Normalmente eram utilizados
em sistemas de distribuição de energia elétrica com tensão inferior a 138kV. Em caso de
uma sobretensão, a corrente de descarga somente era interrompida quando a tensão passava
por zero [1, 2].

O terceiro estágio de desenvolvimento, mostrado na Fig.2.2c, foi uma necessidade


provocada pelo aumento nos níveis de tensão dos sistemas elétricos, fazendo com que os
pára-raios tivessem que ser dotados de um centelhador ativo. Nessa fase da evolução dos
pára-raios, o varistor utilizado era do tipo carboneto de silício (SiC). O varistor é um
resistor não-linear. O funcionamento é baseado no alongamento do arco elétrico através do
centelhador com o auxílio de um campo magnético. Quando o nível de tensão de proteção
tendia a ser ultrapassado ocorria a descarga para a terra através do resistor não-linear. Essa
etapa teve início por volta de 1954 [1, 2, 18].

A Fig.2.2d mostra o atual estágio dos pára-raios, em que se utiliza apenas o resistor
não-linear. Esse estágio iniciou em 1976, e só foi possível com o desenvolvimento dos
elementos não-lineares de ZnO. Diferentemente dos pára-raios de SiC, o tipo de varistor a
base de ZnO tem uma corrente de fuga de baixa intensidade. O nível de corrente em
questão não é suficiente para provocar aquecimento prejudicial aos blocos de ZnO,
evitando a necessidade de centelhadores [1, 2, 18].

2.4 Pára-raios utilizados em subestações

Atualmente, as subestações utilizam dois tipos de pára-raios denominados em


função do material de que é feito o resistor não-linear: pára-raios de SiC para os que
utilizam blocos varistores de carboneto de silício, e pára-raios de ZnO para os que utilizam
11

blocos varistores de óxido de zinco. Esse elemento não-linear é o componente responsável


pela limitação da sobretensão. Ambos os tipos de pára-raios possuem características
próprias, se diferenciando funcionalmente um do outro. As curvas mostradas na Fig.2.3
apresentam, além da curva de um pára-raios ideal, o comportamento aproximado dos
varistores que constituem os pára-raios de SiC e ZnO quando submetidos a diferentes
níveis de tensão. Nesta comparação se pode observar que para níveis de tensão até o valor
de tensão de operação Uop, a corrente de fuga no pára-raios de ZnO apresenta valores
extrema e relativamente baixos (da ordem de poucos miliampères), o que não se verifica
nos pára-raios de SiC (da ordem de centenas de ampères). Por isso, o pára-raios de SiC
necessita de centelhador. A tensão Ud é denominada de tensão de descarga, a partir da qual
flui no pára-raios uma corrente de descarga de alta intensidade. Idealmente, o pára-raios
deveria limitar a tensão a um valor máximo Um pré-estabelecido. No entanto, os pára-raios
atuais ainda não possuem o comportamento ideal. Quanto mais a curva do varistor for
próxima do comportamento chamado ideal, diz-se que o varistor possui um grau de não-
linearidade elevado. Assim, quanto maior é o grau de não-linearidade, melhor o
desempenho em termos de atuação do varistor.

U (kV)

ZnO
Ud
Um
Ideal
SiC
Uop

< 100mA 100 - 500A 1 - 100kA I(A)

Fig.2.3 - Curvas características de pára-raios ideal, de ZnO e de SiC [2].

2.4.1 Constituição básica do pára-raios de ZnO


Os pára-raios de ZnO são constituídos basicamente de dois elementos.
Externamente encontra-se o invólucro responsável pela proteção mecânica, isolação e
estanqueidade dos componentes internos, que pode ser de cerâmica vitrificada ou
polimérico. Internamente são encontrados os blocos resistores a base de ZnO de
12

característica não-linear responsáveis pela limitação das sobretensões. Outras partes


auxiliares ainda podem ser relacionadas, como os terminais de ligação, molas de
compressão, mecanismos de alívio de sobrepressão, elementos de vedação, dentre outros.
A utilização, ou não, de cada acessório depende basicamente do projeto do pára-raios. A
Fig.2.4 mostra dois exemplos de pára-raios em corte, um com invólucro de porcelana e
outro com invólucro de silicone. São mostrados também os componentes principais
constituintes dos pára-raios.

Fig.2.4 - Pára-raios de ZnO encapsulado em silicone (esquerda) e porcelana (direita).


Fonte: Catálogo ABB – 2004 [19].

2.5 Fatores de solicitação dos pára-raios

2.5.1 Sobretensões
De acordo com a norma NBR 6939 [20], uma sobretensão U pode ser definida
como qualquer tensão entre fase e terra, ou entre duas fases, cujo valor de crista exceda o
valor de crista deduzido da tensão máxima do equipamento Umax.

U max . 2
Fase/terra: U>
3

Fase/fase: U > U max . 2


13

2.5.2 Sobretensões Temporárias


De acordo com a NBR 6939 [20], as sobretensões temporárias ocorrem entre fase e
terra ou entre fases, são oscilatórias de frequências fundamentais relativamente longas,
fracamente ou não-amortecidas. São caracterizadas por sua amplitude, forma de onda e
duração. Mesmo que as amplitudes dessas sobretensões sejam inferiores às de outros tipos
de sobretensões, elas podem ser determinantes no projeto tanto do isolamento interno
como também do isolamento externo dos equipamentos. As sobretensões temporárias são
geralmente causadas por:

 manobras – por exemplo, rejeição de carga;


 faltas – por exemplo, curto-circuito monofásico;
 fenômenos não-lineares – por exemplo, ressonância e ferrorressonância;
 efeito Ferranti2 – que pode ocorrer quando a linha está com carga leve;
 sobretensões longitudinais durante a sincronização.

2.5.2.1 Representação de sobretensões temporárias de manobra


Uma forma de onda representativa do padrão para ensaios de impulso de manobra é
apresentada na Fig.2.5, onde são especificados os tempos de frente de onda (T1) e o tempo
de meia cauda (T2) relativos às normas ABNT (NBR 6936/1992), IEC e ANSI.

Fig.2.5 - Forma padronizada para impulso de manobra [1].

2
Quando uma linha de grande dimensão é alimentada numa das suas extremidades e a outra se encontra
aberta, produz-se um fenômeno de ressonância que se manifesta pelo fato da tensão crescer ao longo da linha
até a extremidade aberta.
14

2.5.3 Sobretensões Transitórias


As sobretensões transitórias caracterizam-se por terem curta duração, com tempo de
duração de alguns milisegundos ou menos, serem de natureza oscilatória ou não
oscilatória, e usualmente são fortemente amortecidas [20].

2.5.3.1 Sobretensões de frente lenta


As sobretensões de frente lenta são definidas como sobretensões transitórias,
usualmente unidirecionais, com tempo até a crista tal que 20µs < T1 ≤ 5000µs, e tempo até
o meio valor (na cauda) T2 ≤ 20ms. Normalmente têm origem em energização e
religamento de linhas, aplicação e eliminação de faltas, rejeição de carga, energização de
transformadores, chaveamento de correntes indutivas ou capacitivas, além de descargas
atmosféricas diretas nas linhas aéreas [20].

2.5.3.2 Sobretensões transitórias de frente rápida


As sobretensões transitórias de frente rápida são definidas como sobretensões
transitórias, usualmente unidirecionais, com tempo até a crista tal que 0,1µs < T1 ≤ 20µs, e
tempo até o meio valor (na cauda) T2 ≤ 300µs. Esse tipo de sobretensão tem, em geral,
forte amortecimento. Possuem origem em descargas atmosféricas diretas nos condutores
fase das linhas aéreas, nos cabos pára-raios, nas estruturas de linhas de transmissão, de
sobretensões induzidas, de operações de manobra e faltas [20].

2.5.3.3 Sobretensões transitórias de frente muito rápida


As sobretensões transitórias de frente muito rápida são definidas como sobretensões
transitórias, usualmente unidirecionais, com tempo até a crista tal que T1 ≤ 0,1µs, duração
total menor ou igual a 3ms, e com oscilações superimpostas de frequências entre 30kHz e
100MHz. São decorrentes da operação de seccionadoras ou de faltas dentro de subestações
isoladas a SF6 (GIS) devidas à disrupção rápida da isolação gasosa e à propagação
praticamente não amortecida do surto dentro da GIS [20].
15

Descargas atmosféricas
Segundo estatísticas internacionais [4], cerca de 65% dos desligamentos não
programados em linhas de transmissão com tensão até 230kV são atribuídos às descargas
atmosféricas. O sistema de transmissão da CEMIG - Companhia Energética de Minas
Gerais, por exemplo, apresenta índices ainda superiores aos internacionais. Por estar
inserido em um Estado onde o índice ceráunico3 é relativamente alto, associado aos altos
valores de resistividade do solo, exige que o sistema de proteção seja eficiente para o bom
desempenho das Linhas de Transmissão (LTs) [3, 4, 21].

As descargas atmosféricas, diretas ou indiretas, dão origem a sobretensões nas


redes elétricas cujas formas de onda caracterizam-se por amplitudes da ordem de até 6 p.u.
e de curta duração, com frentes de onda menores que 20µs e tempo de cauda da ordem de
50µs.

Representação de impulso atmosférico


A título de exemplificação, a Fig.2.6 mostra uma forma de onda normalizada
1,2/50µs (ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnica, IEC - International
Electrotechnical Commission e ANSI - American National Standards Institute). Essa forma
de onda é um modelo contendo as seguintes características específicas:

• a tensão de crista (Uc) é a máxima amplitude da tensão provocada;

• a frente de onda ou taxa de velocidade de crescimento é dada pela inclinação da reta


(θ) que liga os pontos A e B, correspondentes a 30 e 90% da tensão de crista,
respectivamente. Essa taxa pode ficar na faixa de 100 a 1000kV/µs nas descargas
diretas e normalmente abaixo dos 100kV/µs, no caso de descargas indiretas;

• o tempo de meia cauda representa o tempo necessário para que a tensão retorne a
50% da tensão de crista;

• T1 se refere ao tempo de frente de onda e T2 ao tempo de meia cauda, e ambos são


determinados em relação ao zero virtual (T0).

3
Índice que mostra a atividade atmosférica em uma determinada região.
16

Fig.2.6 - Forma de onda padronizada para ensaio de impulso atmosférico


(ABNT/IEC/ANSI) [1, 21].

2.5.4 Sobretensão transitória combinada (temporária, frente lenta,


frente rápida e frente muito rápida)
A sobretensão transitória combinada consiste em duas componentes de tensão
simultaneamente aplicadas entre cada um dos terminais de uma isolação fase-fase (ou
longitudinal) e a terra. É classificada pela componente de maior valor de crista. Pode ter
qualquer uma das origens citadas para as sobretensões descritas anteriormente. Ocorrem
entre as fases de um sistema ou na mesma fase entre partes separadas de um sistema
(longitudinal) [20].

2.6 Fatores de degradação dos pára-raios

A degradação do funcionamento de um pára-raios de ZnO está associada a diversos


fatores técnicos e ambientais que alteram as condições normais de operação. Quando essas
alterações são severas, ultrapassando limites especificados para atuação no sistema, podem
resultar em sérios problemas ao próprio pára-raios e, consequentemente, ao sistema
elétrico. Os danos causados nos componentes do pára-raios podem comprometer
imediatamente a sua atuação ou em eventos futuros. Os fatores mais comuns e importantes
são apresentados a seguir.
17

2.6.1 Perda de estanqueidade e penetração de umidade


A perda de estanqueidade tem sido a principal causa de falhas em pára-raios [22].
Por exemplo, trincas no invólucro do pára-raios ou deterioração da vedação dos
dispositivos de alívio de sobrepressão podem permitir a penetração de umidade no
equipamento. Essa degradação pode ocorrer por variações bruscas de temperatura em caso
de surtos ou mesmo pelo envelhecimento natural dos componentes empregados. A
absorção dessa umidade pelos resistores de óxido metálico de zinco altera
significativamente a relação entre tensão e corrente no pára-raios. O valor da corrente de
fuga se eleva como consequência dessa alteração, uma vez que a sua componente resistiva
é modificada. Os níveis de tensão de proteção também são modificados, comprometendo o
isolamento externo e reduzindo a sua capacidade de absorção de energia em casos de
distúrbios no sistema elétrico.

2.6.2 Contaminação externa


A forma irregular com que os materiais contaminantes4 são depositados ao longo do
invólucro externo do pára-raios implica alteração da distribuição da tensão, uma vez que a
rigidez dielétrica do meio é modificada de forma desigual. Como consequências podem
ocorrer descargas internas produzindo alterações irreversíveis na composição do gás
interno em virtude de reações químicas, queima de oxigênio e criação de componentes
químicos. A ausência de oxigênio e a criação de novos gases gerados pelas descargas
parciais são responsáveis pela deterioração dos blocos de ZnO. A componente resistiva da
corrente de fuga se eleva com a deterioração dos blocos. O acréscimo da corrente de fuga
pode conduzir à instabilidade térmica e à falha total do pára-raios [22].

Outra consequência da contaminação é a alteração da componente da corrente de


fuga que flui pela superfície do isolador.

Conforme um fabricante de pára-raios [19], o efeito da contaminação externa é


menos crítica em invólucros poliméricos a base de silicone. Esse tipo de cobertura auxilia
também na redução de riscos de explosão causados pela expulsão dos componentes
internos quando o pára-raios é submetido a uma condição além da sua capacidade [20].

4
Materiais depositados sobre a superfície do invólucro, como a umidade, a poeira ou o salitre.
18

2.6.3 Descargas internas


As descargas que ocorrem no interior do pára-raios dão origem a gases que podem
alterar as propriedades químicas e dielétricas do material isolante que recobrem os
varistores. Esse fenômeno desvia correntes para a superfície dos varistores evitando a
atuação desses elementos na limitação e eliminação das correntes de 60 Hz subsequentes
aos disparos para os surtos de tensão [22].

2.6.4 Descargas de longa duração


Solicitando severamente os pára-raios, as descargas de longa duração podem
ocorrer em chaveamentos de grandes bancos de capacitores ou de grandes linhas operando
em vazio. Quando esses fatores não são levados em conta no dimensionamento, via de
regra, pode ocorrer a queima ou rachadura dos blocos cerâmicos de ZnO [22].

2.6.5 Descargas de alta intensidade com curta duração


No caso de impulsos de alta intensidade e curta duração pode ocorrer a perfuração
dos blocos. Quando o impulso possui alta intensidade com curta duração, a corrente se
concentra em um único ponto [1]. Normalmente, a corrente tende a se distribuir de maneira
mais homogênea na seção transversal do bloco resistivo sob impulsos não tão severos [22].

2.7 Consequências dos efeitos degradantes


Um dos aspectos mais significativos dos efeitos degradantes nos varistores que
compõem a parte ativa do pára-raios de ZnO é observado no espectro harmônico da
corrente de fuga [23, 24, 25]. Devido à degradação, há um incremento na componente
resistiva da corrente de fuga. Dessa maneira, ocorre a alteração do conteúdo harmônico,
que se eleva por conta da característica não-linear dos blocos de ZnO. Como será
explorado posteriormente, esse efeito não é tão evidente quando analisado na corrente de
fuga total, visto que a componente afetada pela degradação dos blocos é a resistiva, sendo
uma parte da corrente de fuga total [23, 24, 25].

2.8 Especificações do pára-raios

A correta especificação do pára-raios visa dimensioná-lo para que possa atender de


maneira adequada os objetivos para os quais é inserido no sistema elétrico. Considerando
19

somente o pára-raios de ZnO sem centelhador, cita-se a seguir algumas das principais
terminologias aplicadas aos pára-raios e suas descrições.

2.8.1 Tensão nominal


A tensão nominal é um parâmetro de referência para a especificação das
características de proteção e operação do pára-raios. É definida como sendo a tensão
eficaz, na frequência industrial, que pode ser aplicada ao pára-raios sem que o mesmo
perca sua estabilidade térmica, ou deixe de operar corretamente, quando o pára-raios é
submetido a uma sobretensão temporária com duração de 10 segundos, após absorver uma
energia prévia definida no ensaio de ciclo de operação [26].

2.8.2 Máxima tensão contínua de operação (MCOV)


A máxima tensão eficaz em frequência industrial que pode ser aplicada
continuamente ao pára-raios, sem que o mesmo altere suas propriedades elétricas ou
térmicas, é chamada por “máxima tensão contínua de operação” (MCOV) [26].

2.8.3 Corrente de referência


A corrente de referência é o valor de crista da componente resistiva da corrente de
frequência industrial aplicada ao pára-raios para definir sua tensão de referência. Os
valores típicos se situam na faixa de 1 a 20mA [26].

2.8.4 Tensão de referência


A tensão de referência define o ponto de transição entre as regiões de baixas
correntes e de alta não-linearidade. É o valor de crista da tensão de frequência fundamental
dividida por 2 que se estabelece nos terminais do pára-raios quando circula a corrente de
referência [26].

2.8.5 Corrente de descarga nominal


A corrente de descarga consiste na corrente impulsiva que flui pelo pára-raios
quando o mesmo é submetido a uma sobretensão. O valor nominal é o valor de crista da
corrente na forma de impulso 8/20µs utilizado para classificar o pára-raios [26].
20

2.8.6 Tensão residual


O máximo valor da tensão que se estabelece entre os terminais do pára-raios
quando o mesmo é atravessado por uma descarga é denominado por tensão residual. O
valor dessa tensão é determinado em função da forma, amplitude e taxa de crescimento da
corrente de impulso ao qual o pára-raios é submetido [26].

2.8.7 Capacidade de absorção de energia


O pára-raios fica sujeito a uma solicitação térmica quando ele atua. A corrente de
descarga que o pára-raios deve suportar determina também o nível de energia que deve ser
suportada sem que ocorra dano. O projeto do pára-raios deve garantir que essa energia seja
dissipada de forma eficiente, impedindo um colapso termo-mecânico [26].

2.9 A curva característica do varistor de ZnO e as principais


especificações

A Fig.2.7 mostra o esboço de uma curva característica de um varistor de ZnO com


alguns dos valores típicos das especificações descritas anteriormente. O conhecimento da
curva associado às especificações nela contidas é importante para a escolha de um pára-
raios pelo projetista do sistema de proteção de uma subestação ou de uma linha de
transmissão.

kV ou p.u.
Tensão

Fig.2.7 - Curva característica típica dos elementos de ZnO [26].


21

2.10 Considerações gerais

Conforme o exposto neste capítulo, os pára-raios possuem sua importância na


proteção do sistema elétrico de energia. Apesar de uma aparente simplicidade, os pára-
raios têm sido alvos de temas de pesquisa buscando aperfeiçoar suas características
constitutivas e, principalmente, sua eficiência na proteção contra as sobretensões. O
centelhador é indispensável em pára-raios de carboneto de silício que possuem elevado
nível de corrente de fuga (centenas de Ampères). O desenvolvimento de varistores de
óxido metálico de zinco, com corrente de fuga extrema e relativamente baixa, permitiu a
construção de pára-raios sem centelhador. A existência de uma corrente de fuga de baixa
amplitude no pára-raios de ZnO, onde seu valor é afetado pela degradação, possibilitou a
análise da vida útil dos pára-raios por meio do seu monitoramento.

Os invólucros poliméricos em substituição aos de porcelana têm tornado os pára-


raios mais leves. E, conforme os fabricantes, são menos susceptíveis à contaminação e
mais seguros por reduzir a possibilidade de expulsão de componentes internos, não
gerando estilhaços em caso de explosão.

Para a avaliação dos varistores, quando os mesmos são estudados isoladamente, é


necessário basicamente que se tenha conhecimento das características intrínsecas dos
blocos. Porém, quando o alvo do estudo é o pára-raios completo, necessita-se também das
características definidas pelo projeto do equipamento. Estas informações devem ser
fornecidas claramente pelos fabricantes, ou devem ser obtidas por meio de ensaios
definidos por norma.

No capítulo seguinte é apresentado o estudo do varistor de ZnO sob os enfoques


micro e macroestruturais. O estudo realizado e apresentado no Capítulo 3 proporciona
subsídios para uma melhor compreensão sobre as regiões de operação dos varistores e os
respectivos mecanismos de condução.
3
3 OS VARISTORES DE ZnO

3.1 Introdução

O objetivo deste capítulo é apresentar resumidamente uma visão micro e


macroestrutural dos varistores, sem a pretensão de apresentar um estudo acabado sobre este
tema próprio à área da Ciência de Materiais. Aliás, apresenta-se este estudo com os
objetivos de situar, contextualizar e desenvolver uma argumentação, principalmente, e de
instigar e facilitar os desdobramentos e correlação do modelo desenvolvido sob aspectos
macroestruturais com fenômenos próprios e complexos do funcionamento do varistor sob
aspectos microestruturais. Esta tese foi desenvolvida com os conhecimentos típicos da
Engenharia Elétrica. Algumas pesquisas são citadas na forma de referências, e podem
servir de encadeamento para um estudo mais detalhado sobre o tema dentro de um enfoque
interdisciplinar.

O varistor de óxido de zinco (resistor não-linear) é formado por blocos cerâmicos


compostos a partir de uma mistura de óxido de zinco e outros óxidos metálicos, como os de
antimônio, manganês, bismuto e cobalto. O processo para a confecção dos compostos
varistores se inicia na obtenção do pó resultante da mistura dos elementos, sendo prensados
na forma de blocos, com as dimensões determinadas pelas características elétricas
desejadas. Em seguida é realizado um tratamento térmico conhecido como sinterização. O
objetivo desse processo é fazer do bloco um composto cerâmico com as características
físico-químicas previamente definidas. Isto é obtido ao submeter os blocos a elevadas
temperaturas, normalmente entre 1000ºC e 1400ºC. Após cobrir com substância metálica
23

as superfícies planas do bloco cerâmico, o mesmo é submetido a uma série de testes,


depois dos quais é classificado para ser utilizado nos pára-raios [1, 2].

3.2 Análise microscópica

Diversos são os fatores que influenciam o desempenho de um pára-raios que utiliza


o varistor de ZnO desde o momento em que ele é colocado em operação, como já
apresentado no capítulo 2 deste trabalho. Porém, mesmo antes de ser instalado, seu
desempenho pode ser alterado pelos fatores que envolvem sua confecção. Dois destes
principais fatores são a sua composição e os critérios de sinterização utilizados após a
prensagem dos blocos. O grande esforço em aperfeiçoar os resultados desses dois fatores
vem sendo tratados em pesquisas, sobretudo na área da Ciência dos Materiais. Novas
formulações associadas a diferentes processos, ou condições desses, têm alcançado
características operacionais cada vez mais adequadas para os varistores de ZnO. Além
disso, outros tipos de varistores, tais como os de SnO2, TiO2, (Sn, Ti)O2, são pesquisados
com o intuito de servir de alternativa, apresentando melhorias sobre as características já
obtidas pelos de ZnO [27, 28]. Neste trabalho, estuda-se somente o varistor de ZnO,
embora a modelagem possa servir aos outros tipos de varistores (isto não é possível de ser
estudado aqui, pois, ainda não estão disponíveis os dados necessários para estes novos
tipos de varistores que estão sendo propostos).

3.2.1 Estrutura cristalina do ZnO

A rede cristalina do ZnO puro pode ser compreendida por meio de uma sequência
de agrupamentos de elementos químicos. O primeiro deles é a própria ligação dos átomos
de zinco aos de oxigênio. Essa ligação ocorre com um átomo de zinco no centro
coordenado a quatro oxigênios, ou seja, cada cátion (Zn2+) é ligado a quatro ânions (O2-)
[29, 30]. A Fig.3.1a mostra esquematicamente essa ligação, onde as esferas azuis e
vermelhas representam os átomos de zinco e oxigênio, respectivamente [29, 30]. Para
melhor compreensão da distribuição espacial dos átomos, que tem a forma de um tetraedro
distorcido, também são apresentadas as vistas lateral direita (b) e superior (c).
24

Fig. 3.1 - Formação do cristalino de ZnO – Unidade básica na forma de tetraedro distorcido
[29].

Para a constituição da rede cristalina, agrupa-se essas unidades básicas em um


retículo espacial que corresponda a menor amostra que mantenha a simetria intrínseca à
rede. Utiliza-se o estudo do físico francês Auguste Bravais, que se notabilizou pelos seus
trabalhos em cristalografia. Bravais demonstrou em 1848 que na natureza existem 14 redes
cristalinas, divididas em 7 redes básicas [31]. Essas abstrações geométricas são
denominadas redes ou retículos de Bravais em sua homenagem. A Fig.3.2 mostra este
conjunto de pontos que determinam um retículo hexagonal usado para descrever e
correlacionar a simetria intrínseca da rede cristalina de ZnO. O paralelepípedo em destaque
é denominado de cela primitiva, e que forma por rotação simples o retículo hexagonal. Os
parâmetros que definem a cela primitiva do ZnO são os ângulos α e β de 90º, o ângulo γ de
120º, as arestas “a” e “b” que têm comprimentos iguais entre si, e a aresta “c” de
comprimento diferente das demais [29, 30].

Fig. 3.2 - Retículo de Bravais para o cristalino de ZnO [29, 30].

Apesar de ser possível descrever a rede cristalina por meio da cela primitiva,
geralmente se dá preferência à hexagonal para mostrar claramente a simetria de toda rede.
25

A inserção adequada dos componentes básicos no retículo de Bravais dá origem ao


que se pode denominar como estrutura básica [29, 30]. A Fig.3.3 ilustra esquematicamente
a estruturação atômica de uma cela básica do cristalino de ZnO.

Fig. 3.3 - Representação esquemática da estrutura básica do ZnO [29, 30].

O arranjo por simples translação dessas estruturas básicas, que são totalmente
simétricas, forma a rede cristalina completa [29, 30]. Uma amostra dessa rede cristalina
denominada de wurtzita ou zincita é esquematicamente apresentada na Fig.3.4.

Fig. 3.4 - Representação esquemática de uma amostra da rede cristalina do ZnO [29, 30].

3.2.2 Exemplos de defeitos na rede cristalina do ZnO


A estrutura de ZnO foi apresentada como um sistema cristalino perfeito ou
estequiométrico 5. Porém, na prática, os varistores à base de ZnO possuem uma estrutura
que apresenta defeitos. Os defeitos podem ocorrer de forma involuntária ou por ações

5
Palavra que vem do grego stoikheion (elemento) e metriā (medida, de metron), no caso significando que há
equilíbrio na estrutura cristalina.
26

previamente determinadas. Dentre as formas impositivas de defeitos está a dopagem, um


processo que consiste em acrescentar elementos estranhos à estrutura cristalina original,
determinando de maneira decisiva o comportamento elétrico do conjunto. A excitação
térmica em altas temperaturas e processos de oxidação e redução também provocam
mudanças na estrutura regular, o que causa desequilíbrio na relação cátions/ânions, ou seja,
provoca variação na estequiometria do cristal [29].

3.2.2.1 Defeitos Pontuais


Os defeitos pontuais ocorrem nas estruturas cristalinas devido às falhas de
posicionamento dos átomos que as constituem. Os defeitos pontuais podem ocorrer de três
formas distintas a partir de uma estrutura perfeita, como apresentado de forma esquemática
na Fig.3.5. Nela se pode observar a rede cristalina sem defeitos (a), a vacância (b), o átomo
intersticial (c) e o átomo substitucional (d) e (e).

Fig. 3.5 - Representação esquemática de defeitos pontuais na rede cristalina do ZnO [29].

A vacância, também denominada de lacuna atômica, ocorre pela ausência de um


determinado átomo na cadeia regular. No caso do átomo intersticial ocorre o inverso, ou
seja, um espaço anteriormente livre na cadeia regular passa a ser ocupado. O terceiro caso
é resultado da substituição de átomos originais da estrutura cristalina por outros [29].
27

3.2.2.2 Defeito de Poole-Frenkel


O defeito na estrutura que envolve um par composto por uma vacância de cátion e
um cátion intersticial é denominado de defeito de Frenkel. Esse tipo de defeito pode ser
considerado como um movimento de cátion, que sai da sua posição normal na estrutura,
acomodando-se em um sítio intersticial anteriormente desocupado. Como não há alteração
no número de cátions na rede, a carga efetiva da rede é mantida. A Fig.3.6 mostra esse tipo
de defeito de forma esquemática [29, 32].

Fig. 3.6 - Representação esquemática do defeito de Poole-Frenkel [29, 32].

3.2.2.3 Defeito de Schottky


O defeito na estrutura que envolve um par composto por uma vacância de cátion e
uma vacância de ânion é denominado de defeito de Schottky. Essas vacâncias podem ser
resultados da retirada do ânion e do cátion de seus sítios originais, sendo reposicionados na
superfície do material. Sendo a carga elétrica do cátion e do ânion igual, não há alteração
na carga efetiva da rede. A Fig.3.7 mostra esse tipo de defeito de forma esquemática [29,
32].

Fig. 3.7 - Representação esquemática do defeito de Schottky [29, 32].


28

3.2.2.4 Considerações sobre os defeitos na estrutura do ZnO


Os defeitos, intrínsecos e extrínsecos, poderiam ser vistos como falha ou baixa
qualidade do composto. Porém são eles que possibilitam o comportamento semicondutor,
ou seja, eles são a própria razão da não-linearidade do varistor.

Certos materiais apresentam as bandas de valência e de condução separadas por


uma região que os elétrons não podem ocupar, conhecida por banda proibida. A
condutividade do material está diretamente ligada à redução dessa banda. Assim, a
diferença básica entre um material isolante e um semicondutor está na largura da banda
proibida [29].

A falta de estequiometria por excesso de zinco do ZnO utilizado atualmente permite


que átomos de zinco se alojem em interstícios da rede cristalina. Esses átomos, ao perder
um ou dois elétrons por meio de processos de ionização termicamente estimulada,
provocam uma variação na estrutura de bandas de energia do composto, reduzindo o
intervalo de energia proibida entre o topo da banda de valência e o início da banda de
condução. O ZnO se comporta então como um semicondutor, onde os defeitos intrínsecos
conferem à estrutura um determinado nível de dopagem do tipo n [29].

Em sistemas varistores práticos, as características intrinsecamente conferidas não


bastam para que se obtenha o desempenho desejado, o que leva a necessidade da adição de
elementos dopantes ao ZnO. Esse processo de dopagem resulta na formação de defeitos
pontuais extrínsecos, aperfeiçoando as propriedades dos varistores.

3.2.3 Barreiras de potencial nos varistores de ZnO


A característica não-linear do varistor de ZnO está associada à presença de barreiras
de potencial nas fronteiras dos grãos. Essas barreiras de potencial fazem com que a
variação do campo elétrico não se traduza em variações proporcionais na densidade de
corrente.

De acordo com Furtado [27], a formação das barreiras de potencial têm três fatores
essenciais. O primeiro é que no contorno de cada grão de ZnO a rede cristalina é
interrompida. O segundo fator determinante é que os gradientes de defeitos químico-
estruturais nos grãos de ZnO são estabelecidos durante o processo de esfriamento realizado
29

após a sinterização, em condições de desequilíbrio, e ocorrem devido às reações de oxi-


redução. E, o terceiro é a segregação de solução sólida de aditivos nos contornos dos grãos.

3.2.4 Mecanismo de condução para varistores de ZnO


A condução de carga elétrica em varistores está associada à própria natureza do
material utilizado, ou seja, às características intrínsecas dos compostos que constituem os
grãos juntamente com as características da região de fronteira dos mesmos.

Quando um campo elétrico é aplicado com valor superior ao de ruptura, cria-se uma
condição descrita como tunelamento, que é o rompimento da barreira de potencial pelos
elétrons ativados pelo campo elétrico. O mecanismo de tunelamento foi concebido por
Ralph H. Fowler e Lothar W. Nordheim [27].

A condução elétrica em varistores cerâmicos também é fortemente influenciada


pela temperatura na região de baixas correntes. A sua elevação dá origem a um processo
denominado de emissão termiônica, o que contribui para o aumento da corrente de fuga.

Outro fenômeno que está associado à condução elétrica em varistores cerâmicos é o


da geração de portadores minoritários. Estudos realizados por Pike et alli [33, 34] apontam
para a criação de portadores minoritários por ação de elétrons que adquirem energia
cinética suficiente para provocar ionização por choque mecânico ao atravessar a barreira de
potencial. Esses íons positivos sofrem um processo de retrodifusão compensando, por
influência do campo elétrico, parte das cargas negativas da região do contorno do grão.
Esse processo resulta numa redução da barreira de potencial pela passagem de elétrons, e
culmina com a elevação da não-linearidade de transporte de elétrons através dos contornos
dos grãos. Na medida em que vão ocorrendo as recombinações, a barreira de potencial vai
diminuindo permitindo cada vez mais a condução. Cabe salientar que esse fenômeno
depende da aplicação de elevados campos elétricos associado a níveis apropriados de
dopagem [27].

No caso específico do varistor de ZnO, a influência da temperatura é muito


significativa no estágio inicial da curva de operação, que corresponde à região de pré-
ruptura na qual somente a corrente de fuga é observada. No que se refere à região de
30

grampeamento, na qual as sobretensões são limitadas, o efeito do campo elétrico é o fator


mais importante para a condução.

Embora ainda restem incertezas sobre os mecanismos de condução e sua forma de


modelagem, adota-se o modelo de dupla barreira de Schottky para explicar o
comportamento do varistor na região de pré-ruptura por conta da sua grande dependência
da temperatura. No entanto, esse modelo não permite a avaliação da elevada não-
linearidade e mecanismos de degradação dos varistores de ZnO [27]. Outro modelo
aplicado aos varistores é o de Poole-Frenkel, no qual o fator mais importante é o campo
elétrico aplicado, diminuindo a dependência da corrente elétrica com a temperatura. Após a
tensão de ruptura, o mecanismo de tunelamento proporciona uma representação mais
adequada à condução elétrica. O equacionamento apresentado a seguir é uma compilação
dos trabalhos de Furtado, Hosten e Souza [27, 29, 35], e pretende ilustrar relações da
condução elétrica nos varistores com grandezas que influenciam os fenômenos causadores
da própria condução.

3.2.4.1 Emissão termiônica do tipo Schottky


A Equação 3.1 apresenta a dependência da densidade de corrente J no varistor com
relação ao campo elétrico E (V/m) e da temperatura absoluta T (Kelvin). Essa equação
descreve o comportamento da condução em uma junção de materiais governada por
emissão do tipo Schottky [27, 29].

J = ArT 2 exp −
(
 ϕ −η E 
,
) (3.1)
 k B T 

em que Ar é a constante efetiva de Richardson determinada pela Equação 3.2, ϕ é a altura


da barreira de potencial formada na região de interface, η é uma constante relacionada com
a largura da barreira de potencial dada pela Equação 3.3. KB é a constante de Boltzmann de
valor 1,381.10-23(J/K), que relaciona a temperatura e a energia das moléculas [27, 29].

2
4π me K B e  A 
Ar = 3
= 1,20173 x10 6  2 2  , (3.2)
h m K 

em que me e e são a massa e a carga do elétron, respectivamente, e h é a constante de


Plank, que vale aproximadamente 6,62607.10-34(J.s).
31

0 ,5
 q3 
η=  , (3.3)
4π Nν ε0 εr 

em que q é a carga elétrica do elétron, N o número de grãos por unidade de comprimento, ν


a largura da camada de depleção, e ε0 e εr são as permissividades do vácuo e relativa do
material, respectivamente [27, 29].

Considerando a emissão termiônica do tipo Schottky, a estimativa da constante de


não-linearidade do varistor α é dada pela Equação 3.4, na qual E0 é a energia no topo da
barreira de potencial. A constante de não-linearidade é definida como a capacidade do
varistor possuir uma característica próxima à ideal. Na literatura ela também é chamada de
“coeficiente de não-linearidade” (vide Fig.2.3).

E0
α= . (3.4)
2 K BT

3.2.4.2 Emissão termiônica do tipo Poole-Frenkel


A emissão termiônica do tipo Poole-Frenkel possui o modelo dado pela Equação
3.5, apresentando a dependência da densidade de corrente J com relação ao campo elétrico
E e à temperatura absoluta T. Nesse modelo, a emissão dos elétrons que passam à faixa de
condução por conta da temperatura é intensificada pela ação do campo elétrico aplicado
[27, 29]. Nota-se nesse modelo a dependência direta da densidade de corrente com o
campo elétrico.

(
 ϕ − 2η E 
J = Γ r m E exp − ,
) (3.5)
 k BT 

em que, Γm é uma constante do material.

Ao comparar a equação que rege o comportamento da emissão termiônica dada por


Poole-Frenkel com a dada por Schottky, é possível observar que, apesar da semelhança, a
Equação 3.5 é menos dependente da temperatura que a equação 3.1 [27, 29]. Na Equação
3.1, a densidade de corrente J depende diretamente do quadrado da temperatura, e o campo
elétrico exerce influência menos expressiva que na Equação 3.5.
32

3.2.4.3 Efeito de tunelamento (Fowler-Nordheim)


Quando a tensão aplicada sobre o varistor excede a de ruptura, os modelos de
Schottky e Poole-Frenkel não são capazes de justificar a grande não-linearidade do
varistor. Nessa faixa de operação, a condução elétrica se torna pouco dependente da
temperatura. Considera-se que o mecanismo de condução é baseado no efeito de
tunelamento proposto por Fowler-Nordheim. Esse comportamento da densidade de
corrente em função do campo elétrico é descrito pela Equação 3.6 [27, 29].

ξ 
J = J 0 exp   , (3.6)
E

em que o termo J0 é uma constante e ξ é dado pela Equação 3.7, na qual ϕ0 representa a
altura da barreira de potencial quando o campo elétrico é nulo [27, 29].

3
4 2 me (qϕ0 ) 2
ξ= . (3.7)
3qh

Com base no modelo que descreve o efeito de tunelamento, o coeficiente de não-


linearidade α pode ser estimado pela Equação 3.8, em que εg é a permissividade dos grãos
de ZnO, ND a concentração de espécies doadoras e U a tensão aplicada [27, 29]. Note-se a
ausência da dependência da temperatura na Equação 3.8.

4 meε g 1 U
α= 3
. (3.8)
3h ND  U  2
1 + ϕ 
 

3.2.5 Composição do Varistor de ZnO


O composto químico base do varistor é o ZnO. Porém, antes de realizar o processo
que dá origem aos blocos varistores, outras substâncias químicas são adicionadas gerando a
composição total. As propriedades elétricas, como a não-linearidade e barreiras de
potencial, são consequências diretas das características intrínsecas e da distribuição dos
diversos materiais na estrutura do varistor. Convencionalmente, utiliza-se o óxido de
bismuto (Bi2O3), o óxido de Cobalto (Co3O4), de Manganês (MnO2), ou alternativamente, o
óxido de praseodímio (Pr6O11) como dopante para realçar a não-linearidade [36, 37]. Esses
33

compostos são adicionados em pequenas concentrações de modo a tornar a região de


contorno de grão altamente resistiva (1010 a 1012 Ω.cm), e no interior do grão a prevalecer
um caráter semicondutor (0,1 a 10 Ω.cm) [38, 39].

Na Tab.3.1 são apresentas algumas das composições publicadas em trabalhos


científicos. As diferentes composições têm o objetivo de otimizar o desempenho dos
varistores a fim de que possam atuar com alto grau de não-linearidade e de estabilidade
durante a operação.

Tab.3.1- Composições de materiais varistores encontrados na literatura [38].


AUTOR COMPOSIÇÃO
Matsuoka (1971) [36] ZnO, Bi2O3, Sb2O3,CoO, MnO, Cr2O3
Mukae et alli (1977) [37] ZnO, Pr2O3, Sb2O3,Co3O4, MnO2
Asokan et alli (1987) [39] ZnO, Bi2O3, Sb2O3, Nd2O5, CoO, MnO2, Cr2O3, NiO, Al2O3
Kutty et alli (1995) [40] ZnO, Bi2O3, Co3O4, Na2O
Bernik et alli (2001) [41] ZnO, Bi2O3, Sb2O3, SnO2,Co3O4, Mn3O4, Cr2O3, NiO
Peiteado et alli (2004) [42] ZnO, Bi2O3, Sb2O3, SnO2,Co3O4, MnO, NiO
Hosten (2006) [29] ZnO, MnO2, MnO2, Co3O4, Pr6O11

Nessas composições a substância predominante é sempre o ZnO (cerca de 90% do


total da mistura). A adição de elementos pesados, como Bi (Bismuto), Pr (Praseodímio),
Ba (Bário) e Nd (Neodímio) que possuem grande raio atômico, faz com que o coeficiente
de não-linearidade “α” aumente de 3 para cerca de 100, melhorando as propriedades dos
varistores. Esses elementos criam uma barreira de potencial nos contornos de grão do ZnO
tornando-o mais estável. Além desses, outros elementos de transição, como Co (Cobalto),
Mn (Manganês) e Ni (Níquel) são adicionados à composição do varistor, também
contribuindo para a obtenção de uma característica com maior grau de não-linearidade
entre a tensão e a corrente. A adição de Sb2O3 (Óxido de Antimônio) auxilia na contenção
do aumento do tamanho dos grãos durante o processo de sinterização, tornando o material
mais rígido e resistente [38, 39].

3.2.6 Sinterização
O processo de sinterização aplicado ao varistor consiste em submeter o conjunto de
componentes integrantes, prensados na forma de blocos, a um tratamento térmico. É nesse
processo que são formados os grãos na estrutura do ZnO e os seus contornos. A
34

sinterização é responsável pela difusão dos átomos, que resultam na formação dos defeitos
atômicos e eletrônicos, além da formação dos estados eletrônicos presentes nos contornos
dos grãos. Em suma, é no processo de sinterização que os varistores assumem suas
características elétricas.

A densificação e o crescimento dos grãos (características físico-químicas) são


fatores determinantes para as características elétricas do varistor. Sob o aspecto da
durabilidade dos varistores, há uma dependência de múltiplas variáveis que necessitam ser
controladas no processo de sinterização: intervalos de tempo do processo, temperatura,
taxas de aquecimento e resfriamento, e o meio em que o processo é realizado [39, 40].

Após a formação da estrutura é estabelecida uma grande resistividade na região dos


contornos dos grãos (1010 a 1012Ω.cm), enquanto no interior do grão a resistividade é baixa
(0,1 a 10Ω.cm). Normalmente, o tamanho do grão se situa na faixa de 5 a 30µm em
varistores comerciais. Em geral, a distância entre o limite externo e o interno do contorno
para esta análise fica entre 50 e 100nm, sendo essa região conhecida como camada de
depleção, barreira de potencial ou região de cargas espaciais. A ação dos varistores é
baseada na existência dessa camada. Quando um surto de tensão surge externamente, uma
diferença de potencial aparece nos contornos do grão. A diferença de potencial é
proporcional ao número de contornos e inversamente proporcional ao tamanho do grão de
ZnO [38, 39].

A Fig.3.8 ilustra de maneira esquemática e idealizada as estruturas dos varistores


resultantes dos processos de sinterização ternário e binário. A estrutura apresentada na
Fig.3.8 (a) corresponde à observada em varistores convencionais dopados com Bi2O3, que
proporciona uma sinterização em presença de fase líquida. Esse tipo de varistor é
constituído por três fases, que são os grãos de ZnO, seus contornos e o espinélio6 isolante.
Na estrutura da Fig.3.8 (b) com duas fases, em que a sinterização é feita por fase sólida
sem a presença de espinélios, há um aumento da região ativa dos contornos de grão, sendo
responsável pela característica não-linear do varistor, permitindo também a miniaturização
do dispositivo. Essa estrutura de duas fases pode ser obtida, por exemplo, substituindo o
dopante Bi2O3 por Pr6O11 [27, 29].

6
Material isolante presente na região intergranular formado durante o processo de sinterização.
35

Interior
do grão

espinélio

região de
cargas
espaciais

borda do
grão

(a) (b)

Fig. 3.8 - Representação esquemática e idealizada da microestrutura do varistor de ZnO


com três (a) e duas fases (b) [27, 39].

Uma fotomicrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura (MEV)


mostrada na Fig.3.9 apresenta uma microestrutura típica de um varistor sinterizado baseado
em um sistema ternário ZnO-Bi2O3-Sb2O3 aplicada em varistores de pára-raios. A
composição majoritária é de grãos de ZnO correspondentes às áreas mais escuras da
imagem. Nessa figura, os grãos de menores proporções são os espinélios (Zn7Sb2O12)
(correspondentes às áreas que apresentam um tom médio de cinza). Os espinélios são
isolantes e, portanto, não participam do processo de condução elétrica. As fases
intergranulares ricas em bismuto são as que apresentam a cor mais clara [39].

Fig. 3.9 - Fotomicrografia obtida por microscopia eletrônica de varredura (MEV) da


microestrutura de um bloco de ZnO [39].

3.2.7 Degradação do varistor de ZnO


No que se refere à vida útil dos varistores de ZnO em operação sob tensão normal
há uma hipótese de que a degradação se deve à migração iônica. Existem evidências
36

experimentais de que isto ocorra [27]. Quando uma tensão é aplicada, íons positivos,
predominantemente espécies de zinco intersticiais, se movimentam em direção ao contorno
negativo, causando uma reação de neutralização entre as cargas positivas e negativas. Com
o uso contínuo do varistor, o acúmulo de elementos neutros aumenta, causando uma
diminuição da barreira de potencial. Consequentemente ocorre um aumento da corrente, a
qual contribui para a diminuição da vida útil do dispositivo [27, 38]. Estudos realizados por
Furtado e Nóbrega [44] indicam que é possível a recuperação do bloco varistor por efeito
térmico. Na pesquisa realizada, o recozimento de blocos varistores a temperaturas entre
600 e 750ºC proporcionaram uma redução dos elementos neutros acumulados na barreira e
maior estabilidade do varistor, quando comparados às amostras que não sofreram
tratamento térmico, fato também relatado por Menta e Blitzkow [38]. Gupta e Miller [45] e
Menta e Blitzkow [38] apontam uma outra forma de minimizar a migração de espécies de
zinco intersticiais por meio de dopagem com elementos de caráter anfótero, ou seja,
elementos que podem assumir comportamento duplo e oposto entre si, como o potássio e o
sódio. Esses elementos podem se estabelecer nos sítios normais ou intersticiais da estrutura
do ZnO, restringindo dessa maneira a migração que degrada a ação dos varistores [38, 42].

3.3 Análise macroscópica

Em uma visão macroscópica do funcionamento do varistor é possível entendê-lo


como um simples limitador de tensão. Sua atuação se resume no estabelecimento de um
nível seguro de tensão máxima (também chamada de tensão de ruptura) no ponto em que
está conectado. Isto é, quando em um sistema elétrico o nível de tensão tende a ser maior
que o valor da tensão de ruptura do varistor do pára-raios, há a atuação do mesmo ceifando
o crescimento dos níveis de tensão. Esta funcionalidade é dada pela característica não-
linear dos blocos à base de ZnO. A resistência elétrica desses blocos é extrema e
relativamente elevada até o nível da tensão de ruptura. Quando a tensão excede esse valor,
a resistência elétrica interna dos blocos se reduz, permitindo escoamento de corrente para a
terra, mantendo o nível de tensão de segurança.

É possível associar algumas grandezas elétricas com algumas das características


macro ou microestruturais. Por exemplo, a tensão de ruptura com a altura do bloco e o
tamanho médio dos grãos de ZnO. A capacidade de condução de corrente elétrica está
relacionada à seção transversal do varistor. A energia térmica possível de ser suportada
37

pelo varistor sem que ocorra uma avalanche térmica e a conseqüente destruição do
dispositivo está associada ao volume a ao grau de homogeneidade do varistor [27].

A Fig.3.10 apresenta a curva de atuação de um varistor de ZnO publicada por


Menta e Blitzkow [38]. Há três regiões distintas denominadas por: (a) região linear de
baixa corrente, (b) região não-linear intermediária e (c) região linear de alta corrente. Essas
regiões são chamadas de “linear” e “não-linear” dentro de uma abordagem que leva em
conta a tendência do comportamento, não entrando no detalhe de cada região. No rigor e
acepção da palavra, o varistor é não-linear em toda faixa de operação. Segue uma breve
descrição de cada uma dessas regiões.

Fig. 3.10 - Comportamento não-linear para o varistor de ZnO [38].

3.3.1 Região “linear” de baixa corrente


Na chamada região linear de baixa corrente, ou região de pré-ruptura, a condução é
predominantemente termiônica (tipo Schottky), e tem grande dependência da temperatura.
A corrente que flui através do varistor é definida preponderantemente pela impedância de
contorno dos grãos de ZnO [38]. A densidade de corrente (J) nessa região para os
varistores comerciais está na ordem de 60 a 90 µA/cm2 em temperatura ambiente [38, 43].
Ela aumenta com a elevação da temperatura. A amplitude, ou a densidade da corrente de
fuga, juntamente com sua forma de onda, estão associadas aos mecanismos de degradação
do varistor. Sua elevação indica que o varistor está diminuindo sua capacidade de proteção.
A região de pré-ruptura é muito importante para a avaliação do nível de degradação do
varistor por meio das técnicas que utilizam a corrente de fuga.
38

3.3.2 Região não-linear intermediária


A região não-linear intermediária, ou região de ruptura, é a de maior importância
para a atuação do varistor, pois define o controle das sobretensões. Nessa região, grandes
aumentos na corrente implicam em pequenas variações na tensão. A temperatura
praticamente não interfere nos valores da corrente drenada pelo varistor. Nessa região, a
densidade das correntes que atravessam o varistor é da ordem de 10-3 a 103A/cm2 [38].
Quanto mais horizontal for a curva nessa região, maior é o coeficiente de não-linearidade
α, e mais eficiente é o varistor na tarefa de suprimir sobretensões indesejáveis. Um varistor
ideal deve ter uma barreira de potencial que impeça completamente a passagem de elétrons
até o limite entre as regiões de pré-ruptura e de ruptura (vide Fig.2.3). A partir desse ponto,
deve permitir a passagem de todo o excedente de elétrons, estabilizando a tensão no valor
desejado. Esse processo de redução da resistência é reversível, ou seja, o varistor volta a ter
alta resistência quando a tensão retorna ao nível de normalidade, desde que não ocorra
dano permanente no dispositivo [27].

3.3.3 Região “linear” de alta corrente


Na região linear de alta corrente, ou região de pós-ruptura, as densidades de
corrente são acima de 103A/cm2. A característica da relação entre a tensão e a corrente
volta praticamente a ser linear, implicando em grandes variações de tensão. A impedância
do varistor é dada pelos grãos de ZnO [38].

3.4 Considerações finais

As análises micro e macroestruturais, cada qual com seu foco, mostram a alta
complexidade dos varistores cerâmicos de ZnO. Conclusões de estudos são ainda
hipóteses, não havendo um total esclarecimento dos fenômenos que determinam o seu
comportamento, sobretudo na região não-linear.

No que se referem à dependência do comportamento do varistor em função da


tensão aplicada e da temperatura, os modelos propostos para elucidar os fenômenos
dependem da constituição microestrutural, das dimensões físicas dos blocos varistores e
dos processos de tratamento. A temperatura nas fases de aquecimento e resfriamento é uma
39

grandeza que interfere no resultado do processo de sinterização, proporcionando se obter


varistores de melhor qualidade.

Em operação, o varistor é dependente da tensão em todas as regiões de operação,


com comportamento altamente não-linear após a tensão de ruptura. A partir desse valor de
tensão, o processo conhecido por tunelamento permite o escoamento da corrente de forma
a manter a tensão estabilizada em um valor previamente determinado.

A temperatura afeta o comportamento do varistor na região de pré-ruptura. A


condução nessa região está associada à emissão termiônica do tipo Schottky. Quando o
varistor é submetido a uma tensão superior à tensão de ruptura, a influência da temperatura
no processo de condução elétrica é desprezível.

Mudanças de comportamento são observadas no funcionamento dos blocos


varistores com o passar do tempo e com a ocorrência de ações que os degradam. Na
sequência deste trabalho serão apresentadas algumas técnicas de inspeção de pára-raios,
com foco principal nos que utilizam o varistor de ZnO. Essas técnicas têm como objetivo
fundamental determinar se os pára-raios estão ou não em condições de garantir a proteção
para o sistema elétrico contra as sobretensões indesejáveis.
4
4 TÉCNICAS DE INSPEÇÃO DE PÁRA-RAIOS
DE ZnO

4.1 Introdução

Como forma de prevenir problemas que possam ocasionar danos ao sistema de


energia por falha dos pára-raios, pode-se utilizar uma ou mais técnicas na investigação das
condições operacionais desses equipamentos, permitindo avaliar o estado dos mesmos. Na
medida em que a degradação do equipamento ocorre, há um aumento da corrente de fuga,
sobretudo da componente resistiva que flui pelos elementos não-lineares de óxido metálico
de zinco. Esse aumento está associado aos fatores de degradação, apresentados
anteriormente na Seção 2.6.

De maneira geral, os métodos empregados para o diagnóstico de pára-raios estão


associados à corrente de fuga, pelo seu valor, forma de onda, ou aquecimento causado.
Tem-se a análise da corrente de fuga como uma das principais fontes de informação do
estado dos pára-raios de ZnO. Não obstante, outras técnicas podem ser utilizadas, como
por exemplo, os métodos estatísticos envolvendo tempo de operação ou número de
atuações. Na sequência são apresentadas algumas das técnicas atualmente aplicadas para
determinar as condições operacionais dos pára-raios.

4.2 Medição da resistência de isolamento

A medição da resistência de isolamento é feita com a utilização de megôhmetros. A


avaliação é feita por meio da comparação com resultados de ensaios de aceitação ou
valores típicos para pára-raios similares, ou ainda por medições comparativas com
unidades adjacentes. Investiga-se dessa maneira o estado dos blocos de resistores não-
lineares [1]. Apesar de ser utilizada há muito tempo, essa técnica suscita divergência
41

quanto a sua validade como meio para diagnóstico [16]. Uma desvantagem desse método é
a necessidade de que o pára-raios seja retirado de operação.

4.3 Medição das perdas dielétricas

O pára-raios pode ser analisado por meio do valor das perdas dielétricas. O ensaio é
realizado com um equipamento de teste medindo o fator de potência (as perdas dielétricas).
Nesse caso, o diagnóstico é feito por meio de comparações com dados já existentes de
pára-raios novos de mesmas características elétricas. Esse procedimento de avaliação tem
sido realizado como ensaio de recebimento em algumas empresas. Para uma determinada
tensão de ensaio aplicada, o valor obtido no recebimento é utilizado em um processo de
comparação posterior. Outras referências podem ser utilizadas como, por exemplo, as
unidades instaladas adjacentes. Assim como a medição da resistência de isolamento, a
medição das perdas dielétricas utilizada para diagnóstico de pára-raios não é um consenso
devido à forma com que os resultados são avaliados [1, 16].

4.4 Tensão disruptiva à frequência industrial

O ensaio de tensão disruptiva à frequência industrial é realizado a seco e sob chuva.


Consiste em elevar gradativamente a tensão aplicada no pára-raios, completo ou em seus
módulos, até que ocorra uma descarga devido ao rompimento da rigidez dielétrica dos
centelhadores7, sendo considerado o nível de tensão imediatamente anterior à descarga.
Esse ensaio é aplicado somente aos pára-raios que possuem o centelhador em série com o
varistor. Esse método deixa de ser aplicável aos de tecnologia mais atual, visto que os
mesmos dispensam esse componente.

Sempre que possível, e desde que se conheça o arranjo interno do pára-raios, o


ensaio deve ser realizado nos módulos separadamente a fim de se determinar o módulo
com problema. Porém, os pára-raios de tensões elevadas normalmente têm módulos com
tensões nominais diferentes e nem sempre possuem disponíveis os valores nominais,
dificultando a realização dos ensaios por módulos e a análise dos resultados.

7
Os centelhadores existem somente em pára-raios de ZnO mais antigos e nos de SiC.
42

4.5 Contadores de descargas

Uma das possibilidades de avaliação dos pára-raios é por meio do número de


atuações que os mesmos realizaram. Esta tarefa é feita por meio de equipamentos
contadores de descargas. Pode-se saber a quantidade de descargas as quais o pára-raios foi
submetido. Porém, quando o intervalo entre as descargas é muito pequeno, o contador pode
não registrar a quantidade corretamente, tendo uma imprecisão na informação. Os
contadores de descarga podem fornecer, dependendo da sua sensibilidade, informações
importantes com respeito à quantidade de sobretensões. Entretanto, como a maioria dos
contadores não fornece informações específicas sobre o estado do pára-raios, as
informações obtidas servem apenas para auxiliar em diagnósticos das condições dos pára-
raios [16].

4.6 Medições termográficas

Uma técnica empregada em diversos serviços de manutenção é por meio de


medição termográfica. A praticidade e o fato de não exigir a retirada de operação dos
equipamentos inspecionados são duas grandes vantagens dessa técnica. Baseia-se na leitura
termográfica superficial do equipamento investigado, comparando valores, mínimo e
máximo, de pontos de temperatura. Ao empregar essa técnica, é recomendado que as
leituras sejam realizadas no período noturno. Com a presença de partes metálicas nos pára-
raios juntamente com a radiação solar, pode-se interpretar equivocadamente os resultados
de medições. Em pára-raios, exigem-se critérios rigorosos de leitura, uma vez que
pequenos diferenciais de temperatura podem indicar início de defeitos. Os critérios
utilizados nas medições térmicas têm sido objetos de reavaliação permanente em função da
grande variedade de fabricantes e de projetos construtivos de pára-raios [1, 2].

Em alguns casos, a inspeção por medição térmica se torna especialmente difícil


devida à distribuição irregular de temperatura pela forma como são construídos os pára-
raios. A Fig.4.1 [47] mostra um pára-raios de duas colunas, onde o aquecimento é feito de
forma desigual em seu invólucro por causa da distribuição interna dos seus componentes.
Nesse caso, por exemplo, pode haver dificuldade na detecção de um problema.
43

Fig.4.1 - Pára-raios com duas colunas de varistores de ZnO (CHESF).

As dificuldades encontradas ao se utilizar o método da avaliação térmica baseado


no gradiente de temperatura para a avaliação de possíveis defeitos em um pára-raios
exigem procedimentos e atenções adicionais. Como pode ser observado na Fig.4.2,
aquecimentos uniformes podem ocorrer em determinados pára-raios. Nestes casos, o
gradiente de temperatura deixa de ser um critério conclusivo.

Na Fig.4.2 (arquivo da CHESF – Companhia Hidro Elétrica do São Francisco [47]),


observa-se que o aquecimento do pára-raios central é uniforme dificultando a avaliação
com base no gradiente de temperatura do seu próprio corpo. Porém, verifica-se a existência
de aquecimento anormal quando se compara com o pára-raios adjacente.

Fig.4.2 - Pára-raios com aquecimento uniforme (CHESF) [44].

Em companhias como a CHESF, que utiliza a técnica da medição termográfica


desde o início dos anos 80, quando detectado um acréscimo de temperatura de cerca de 5oC
com relação à temperatura ambiente, o pára-raios é submetido ao ensaio de corrente de
44

fuga. Quando não é possível realizar esse ensaio, programa-se o desligamento e o


equipamento é retirado de operação para posterior avaliação em laboratório [48].

Para minimizar o risco de uma interpretação equivocada, empresas como a CEMIG


(Companhia Energética de Minas Gerais) fazem quando possível a leitura térmica em pelo
menos três ângulos distintos em um mesmo equipamento [49]. Esse procedimento traz
consigo a vantagem de aumentar a segurança dos resultados. Por outro lado, aumenta o
tempo, custo de mão de obra, e o grau de dificuldade do trabalho.

4.7 Medição da corrente de fuga

Os pára-raios de ZnO, devido às suas características internas e externas, sempre


permitirão o escoamento de uma corrente de fuga. Essa corrente tem uma componente
resistiva que passa, principalmente, pelo interior dos resistores não-lineares. A componente
resistiva é a responsável pelas perdas e pela degradação dos blocos de ZnO. Segundo a
IEC 99-5, ela representa de 5 a 20% da corrente de fuga total para um pára-raios normal. A
outra componente predominante tem característica capacitiva e linear. A Fig.4.3 mostra o
circuito equivalente simplificado geralmente utilizado para justificar essa análise [24]. O
circuito é constituído por um resistor não-linear (Rp), representando os blocos de ZnO, e
um capacitor (Cp), representando as capacitâncias do pára-raios. No circuito apresentado, a
corrente total (It) é a soma de suas componentes resistiva (Ir) e capacitiva (Ic).

It

Ir Ic

Rp Cp

Fig.4.3 - Circuito equivalente simplificado do pára-raios de ZnO [24].

A característica típica da tensão em função da corrente para os pára-raios de ZnO é


apresentada na Fig.4.4. Pode-se observar que a temperatura é um fator que interfere no
valor da corrente de fuga [50].
45

Fig.4.4 - Influência da temperatura na característica tensão/corrente em pára-raios de


ZnO [50].

Com base na corrente de fuga, os principais parâmetros medidos para o diagnóstico


são a corrente total (valor médio e de pico), a componente resistiva da corrente total, a
componente capacitiva da corrente total, a distorção harmônica e a potência de perdas.

Em seguida são apresentados os métodos empregados por meio da medição da


corrente de fuga em pára-raios de alta tensão.

4.7.1 Medição da corrente total


O método que utiliza a medição da corrente total de fuga é normalmente realizado
instalando um miliamperímetro no contador de descarga ou por meio de instrumentos
portáteis. As leituras podem mostrar valor eficaz, de pico e médio (corrente de fuga
retificada) [16].

Como já mencionado, a componente resistiva da corrente total de fuga tem


amplitude geralmente inferior à componente capacitiva. Mostra-se na Fig.4.5 a variação
percentual da corrente total ∆it(%) em relação à variação da componente resistiva ∆ir(%).
A corrente de fuga total apresentada é composta por uma componente capacitiva de
750µA, cuja amplitude não é alterada ao longo da análise, e por uma componente resistiva
que varia entre 50µA e 250µA. Mesmo com um incremento na amplitude da componente
resistiva de 400%, há pouca influência no valor da corrente total de fuga. Pequenas
46

alterações da componente capacitiva podem ser tão ou mais significativas no tocante à


amplitude total da corrente de fuga.

Fig.4.5 - Relação entre a variação das correntes de fuga resistiva e total.

A análise da degradação dos blocos de ZnO está associada à componente resistiva


da corrente de fuga total. Problemas nos blocos de ZnO podem ser interpretados de
maneira incorreta, ou mesmo ignorados, quando analisados apenas pela corrente de fuga
total.

4.7.2 Medição direta da componente resistiva da corrente de fuga


Na utilização da corrente de fuga como forma de análise das condições do varistor
de pára-raios, a avaliação por meio da componente resistiva é a mais eficiente, desde que
se possa fazer uma comparação com um valor de referência adequado. Como mencionado
nos trabalhos de Alves et alli [15] e Schei [50], é um método que requer a medida
simultânea da corrente e da tensão no pára-raios. Essa medição serve para proporcionar a
comparação temporal entre os sinais, tornando possível determinar o valor da componente
resistiva. A Fig.4.6 mostra como esse procedimento é realizado. Quando a tensão atinge o
valor máximo ( ∂U = 0 ), a amplitude da componente capacitiva é nula. Nesse ponto o
∂t
valor da corrente de fuga total corresponde ao valor de pico da componente resistiva.
47

Fig.4.6 - Sinais da tensão e da corrente de fuga total em um pára-raios [38].

Na avaliação do pára-raios por esse método, uma atenção deve ser dada quanto a
influência da temperatura no valor da corrente de fuga resistiva [15, 24, 38].

4.7.3 Análise harmônica da corrente de fuga


A componente resistiva da corrente de fuga é não-linear devido à característica dos
blocos de ZnO do pára-raios, como já mencionado anteriormente. Isto faz com que a
corrente total de fuga apresente, quando o pára-raios é colocado sob operação, certo grau
de distorção harmônica. A análise da distorção harmônica proporciona diferentes métodos
para a avaliação das condições operacionais dos varistores de ZnO, que vão desde a
simples soma total dos harmônicos da corrente de fuga até a análise da componente
harmônica de terceira ordem da corrente resistiva de fuga com compensação dos
harmônicos impostos pela rede elétrica [15, 24, 38].

A presença de harmônicos na forma de onda da tensão da rede onde está instalado o


pára-raios pode levar a imprecisões na análise das condições dos blocos de ZnO [26, 52].
E, além da necessidade de identificação de componentes harmônicas, deve-se conhecer a
variação na amplitude da tensão da rede para a correção dos dados obtidos nas medições
realizadas [52].

4.7.4 Considerações sobre métodos de avaliação de pára-raios


Uma síntese dos métodos de monitoramento e avaliação de pára raios, abordando
suas complexidades, eficiência no diagnóstico e experiência de campo, foi apresentada
48

pelo Grupo de Trabalho GT10 do IEC em sua comissão técnica CT37 [50]. Veja a Tab.4.1
e a Tab.4.2.

A Tab.4.1 apresenta um avaliação geral dos métodos de diagnóstico aplicáveis aos


pára-raios de ZnO. Nos três primeiros métodos apresentados são empregados os números
de ocorrências registradas nos equipamentos ligados aos pára-raios. Esses registros são
confrontados com os dados fornecidos pelos fabricantes, ou mesmo com o histórico dos
pára-raios, servindo para a avaliação da vida útil do pára-raios. O quarto método, já
descrito na Seção 4.6, utiliza a medição da temperatura superficial para a avaliação dos
pára-raios.

Tab.4.1- Métodos de diagnóstico utilizados em pára-raios de ZnO [50].

Condição de Serviço Experiência de


Método de Diagnóstico
Campo
Desenergizado Energizado

Indicador de falta X Limitada

Desligador X Extensiva*

Contador de descargas X Extensiva

Medição de temperatura X Limitada


Usando uma fonte
Medição

X ver Tab.4.2
corrente
de fuga

externa
da

Usando a tensão de
X ver Tab.4.2
serviço
Em pára-raios de média tensão*

Os métodos que empregam a análise da corrente de fuga, e que também já foram


alvo de avaliação apresentada na referência [50], são apresentados na Tab.4.2. A técnica
que utiliza a componente harmônica de terceira ordem com compensação dos harmônicos
da tensão da rede é considerado o mais adequado. Estudos realizados e publicados em [52]
indicam que quando há um valor de tensão diferente do nominal (ou do valor suposto
durante o teste de medição), há uma influência no conteúdo harmônico da corrente de fuga
que, mesmo considerado o conteúdo harmônico da tensão, pode levar a uma avaliação
equivocada do pára-raios sob teste. Uma descrição mais detalhada da influência do valor
da tensão é apresentada na seção 7.2.1.2 desta tese, sendo uma de suas contribuições.
49

Tab.4.2- Métodos de monitoramento que utilizam a medição de corrente de fuga [50].


Eficiência no
Sensitividade
diagnóstico

Qualidade da informação
Deslocamento de fase na
Harmônicos na tensão

medição da tensão ou

Corrente superficial

Complexidade de
Método de monitoramento da corrente de

manuseio
corrente
fuga Experiência
de serviço

Fonte de tensão DC externa NA+ NA+ Alta Alta Alta Limitada

Usando a tensão de referência Média Alta Alta Média Alta Limitada


Medição da componente
resistiva da corrente

Usando a compensação
Média Alta Alta Média Alta Limitada
capacitiva

Usando a compensação sintética Média Alta Alta Média Baixa SA*


Usando o método de
cancelamento da corrente Alta Alta Alta Baixa Baixa Limitada
capacitiva
da corrente

Usando harmônica de 1a ordem Baixa Alta Alta Média Alta Limitada


harmônica
Análise

de fuga

Usando harmônica de 3a ordem Alta Baixa Baixa Média Baixa Extensiva

Usando harmônica de 3a ordem com


Baixa Baixa Baixa Alta Média Extensiva
compensação

Medição das perdas Baixa Alta Alta Média Alta SA*


+
NA – Não Aplicável *SA – Sem Avaliação

4.8 Critérios de avaliação adotados por empresas

A falta de uma normalização brasileira para o diagnóstico do grau de degradação


dos pára-raios, em operação ou em estoque, faz com que não haja uniformidade nos
critérios de avaliação desses equipamentos. Apresenta-se na sequência, a título de
exemplificação, alguns dos critérios adotados e publicados por empresas que atuam no
sistema elétrico brasileiro.
50

4.8.1 Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – CHESF

A CHESF realiza a avaliação dos pára-raios instalados em sua planta elétrica


usando a medição termográfica e da corrente de fuga [44, 45].

a) Medição Termográfica

A medição termográfica é realizada na CHESF desde os anos 80, tendo sido feita
de forma sistemática a partir de 1994. A periodicidade varia entre trimestral e semestral
dependendo do grau de importância da instalação. O critério de análise empregado na
CHESF determina que a maior temperatura lida ao longo do corpo do pára-raios não deve
exceder os 5ºC de diferença quando comparada com a temperatura ambiente. O
procedimento é aplicado a todos os pára-raios instalados no sistema da CHESF [44, 45].

Quando algum equipamento não apresenta parâmetros considerados normais, é


aplicada a técnica da medição da corrente de fuga. Quando a medição da corrente de fuga
não é possível, o equipamento é retirado de operação e levado para testes em laboratório
[44, 45].

b) Análise da Corrente de Fuga

O emprego da corrente de fuga no diagnóstico dos pára-raios não é realizado de


forma periódica para todos os pára-raios. É realizado apenas para aqueles sob os quais há
interesse de acompanhamento face à importância da instalação. O ensaio de corrente de
fuga também é aplicado nos casos em que o método da medição termográfica indica
possibilidade de defeito. Os critérios de avaliação são relativos às famílias dos pára-raios e
são aplicados àqueles cujas instalações possibilitam o uso do LCM II – Leakage Current
Monitor [5, 45].

A empresa utiliza dados históricos e valores de referência das famílias dos pára-
raios para avaliar as condições de operação dos mesmos. Segue ainda a recomendação da
ABB (Asea Brown Boveri) para caracterizar uma unidade defeituosa, considerando uma
distorção harmônica máxima permitida de 20% na corrente de fuga total [48].
51

4.8.2 Companhia Energética de Minas Gerais – CEMIG


A CEMIG utiliza no diagnóstico de pára-raios as técnicas de medição da corrente
de fuga, da medição termográfica e, em alguns casos, a técnica de radiointerferência [49].

a) Medição das Corrente de Fuga Resistiva

Um dos instrumentos utilizados para a medição da corrente de fuga pela CEMIG é


o LCM-II da TransiNor [5, 46], cujo esquema de aplicação é mostrado na Fig.4.7. Esse é o
equipamento considerado mais confiável para realizar a medição da harmônica de terceira
ordem com compensação das harmônicas da tensão (a forma de onda da tensão é obtida
por meio de um sensor de campo elétrico).

Medidor da Sensor de
corrente de campo elétrico
fuga

Fig.4.7 - LCM-II - Equipamento para monitoramento de corrente de fuga [5].

A empresa tem utilizado o critério para avaliação dos pára-raios por meio da 3ª
harmônica da corrente resistiva. Alguns fabricantes de pára-raios fornecem os valores
máximos dessas correntes, o que facilita o emprego dessa técnica. Quando valores medidos
superam os limites estabelecidos, o setor de engenharia determina o monitoramento com
periodicidade menor que a de rotina, ou mesmo se procede a retirada de operação do pára-
raios [49].

A CEMIG também utiliza o Excount-II da ABB [49] (vide Fig.4.8). Esse


equipamento oferece ao usuário a possibilidade de medir tanto a corrente de fuga total
52

quanto a componente resistiva da corrente de fuga dos pára-raios. O instrumento registra


também os eventos aos quais os pára-raios são submetidos.

Fig.4.8 - Excount-II - Equipamento para monitoramento de corrente de fuga [6].

b) Medição Termográfica

Para obter resultados confiáveis com a medição termográfica a empresa define


padrões para as inspeções [49]:

• trabalhar com distâncias definidas e ajustá-las no termovisor;

• informar as condições de trabalho (umidade relativa, temperatura do


ambiente, distância do objeto);

• fazer as medições em pelo menos 3 ângulos distintos nos pára-raios.

Os resultados da medição termográfica são obtidos diretamente das leituras


térmicas. A anormalidade é definida por comparação com a temperatura de pontos
adjacentes no mesmo equipamento, ou ainda pela medição termográfica de pára-raios
similares da mesma instalação. O procedimento da empresa na utilização dessa
metodologia leva em conta a família do pára-raios (fabricante, modelo, tensão de trabalho e
classe de absorção de energia). A CEMIG não define valores de variação de temperatura
(∆T) máximos admissíveis [49].

A Fig.4.9 mostra uma aplicação da medição termográfica em um pára-raios de SiC


(Charleroi – ALVS 138kV). Nela é possível constatar a presença de pontos quentes na
coluna do isolador (∆ T de 7,0°C na coluna de isolador) [49].
53

Fig.4.9 - Exemplo de utilização da medição termográfica em pára-raios da CEMIG [49].

4.8.3 Eletrosul Centrais Elétricas S.A. – ELETROSUL


Na ELETROSUL são utilizadas duas metodologias para diagnóstico de pára-raios
de ZnO: a medição térmica e a análise da corrente de fuga8.

A medição da corrente de fuga nos pára-raios de ZnO é feita com o auxílio do LCM
II. Já que os pára-raios de ZnO são recentes e que essa metodologia passou a ser aplicada
recentemente, os dados históricos são relativamente insuficientes para uma análise.
Segundo informações da empresa, alguns tipos de pára-raios conseguem operar
adequadamente com valores de corrente de fuga relativamente elevados (da ordem de 3
vezes, quando comparados com outros tipos de pára-raios com características nominais
semelhantes). Entre pára-raios de uma mesma família (fabricante e modelo) a diferença de
um para outro, de mesma idade, pode variar em até 3 vezes.

Com respeito à avaliação termográfica, a ELETROSUL ainda não tem valores de


referência estabelecidos para temperaturas de operação. Contudo, a empresa sabe que os
valores de referência são definidos por família ou tipos diferentes de pára-raios. Essas
referências diferenciadas são necessárias, pois dependem muito dos detalhes construtivos
dos pára-raios.

Os pára-raios usados pela ELETROSUL normalmente apresentam espaço de ar no


seu interior, e alguns deles possuem ainda uma proteção mecânica. A proteção é em geral

8
Informações repassadas pela área técnica da ELETROSUL.
54

um tubo de material tipo baquelita, situada entre a parte ativa e a porcelana, dificultando
significativamente a observação de pontos sobreaquecidos nos pára-raios.

As medições termográficas servem ao propósito de identificar mudanças de


comportamento dos equipamentos em operação, e fornecem para as equipes de
manutenção subsídios à tomada de decisão sobre a vida útil do dispositivo.

4.9 Considerações gerais

As técnicas mais utilizadas para monitoramento dos pára-raios são as medições


termográficas e de corrente de fuga. Até o presente momento, a medição termográfica
ainda se apresenta como a técnica mais empregada nas empresas que atuam no setor
elétrico brasileiro. Esse fato decorre de uma série de fatores, tais como a maior confiança
devido à experiência acumulada, o grande número de pára-raios de SiC (em que a medição
da corrente de fuga não é aplicável) e o elevado custo dos instrumentos para diagnóstico
por meio da corrente de fuga.

A substituição gradual dos antigos pára-raios de SiC pelos de ZnO, aliada ao fato
de que a medição termográfica é uma técnica que somente constata um problema já
existente, despertou interesse para o estudo sobre a relação entre a corrente de fuga dos
pára-raios e sua degradação.

Dentre as técnicas que utilizam diretamente a corrente de fuga para análise do nível
de degradação dos pára-raios, a considerada como a mais confiável utiliza a terceira
harmônica da componente resistiva associada à compensação dos harmônicos de tensão do
sistema. Essa técnica é aplicada nas empresas com o auxílio do instrumento LCM II [5]
levando em conta as características fornecidas pelo fabricante e o histórico coletado para
cada família de pára-raios.
5
5 MODELAGEM DE PÁRA-RAIOS DE ZnO

5.1 Introdução

A literatura contém uma série de modelos para a representação de pára-raios ou dos


varistores neles contidos. O objetivo principal desses modelos é a representação das suas
respostas aos diversos tipos de solicitações. De modo geral, os modelos têm evoluído no
sentido de representar mais fidedignamente os fenômenos e as respostas do varistor ou do
pára-raios de forma integral. A necessidade de tornar esses modelos mais simples na
aplicação e otimizar seu desempenho computacional tem incentivado à proposição de
novas maneiras de representação.

Neste capítulo são apresentados e comentados resumidamente alguns dos modelos


empregados mais frequentemente dos pára-raios de ZnO para uso em alta tensão e/ou de
seus varistores. Deste estudo, pode-se notar que ainda existe a necessidade de um modelo
elétrico específico para o varistor que possibilite representar os mecanismos que regem sua
atuação quando em operação contínua. Uma representação de forma simples e precisa é
também importante para o desenvolvimento de metodologias de avaliação da degradação
de pára-raios com base na metodologia da medição da corrente de fuga, ou mesmo para o
aprimoramento de algumas das técnicas já apresentadas no Capítulo 4.

5.1.1 Modelo convencional


O modelo mostrado na Fig.5.1 é uma representação simplificada do pára-raios
levando em consideração apenas a característica resistiva não-linear do varistor Rp em
função da tensão aplicada U. A corrente total it é a variável dependente.
56

Fig.5.1- Modelo elétrico convencional de pára-raios.

Esse modelo da Fig.5.1 ignora a característica dinâmica entre a tensão U e a


corrente total que flui pelo pára-raios it. Seu modelo matemático pode ser dado pela
Equação 5.1, em que k e α são os parâmetros do modelo. O parâmetro k é uma constante
relativa ao projeto do pára-raios e α é um parâmetro relativo ao grau de não-linearidade do
varistor. Quanto maior o valor de α maior será a não-linearidade. Ou seja, quanto maior o
valor de α mais restringida será a tensão nos terminais do pára-raios durante o surto. A
Fig.5.2 apresenta a variação que o parâmetro α provoca na curva da tensão em relação à
corrente de fuga.

it = k .U α . (5.1)

Fig.5.2- Curvas da característica elétrica de varistores para diferentes valores de α.

Utilizando curvas experimentais de campo elétrico em função da densidade de


corrente, uma das maneiras sugeridas na literatura para determinar o valor de α é por meio
da Equação 5.2 [38], em que J é a densidade de corrente que atravessa o varistor do pára-
raios e E é o campo elétrico sobre o varistor do pára-raios. O valor de α também pode ser
57

determinado utilizando dois pontos da curva da característica do pára-raios. Há uma


infinidade de k e α que satisfazem a Equação 5.1. Na prática, a forma mais comumente
adotada para se determinar o coeficiente de não-linearidade α é usar valores
correspondentes a correntes de fuga entre 1 e 10 mA.

∂ ln( J ) ln J 2 − ln J 1
α= ≅ . (5.2)
∂ ln( E ) ln E2 − ln E1

Os resultados apresentados na Fig.5.2 mostram que não é possível modelar


completamente o comportamento do varistor em função dos valores da tensão aplicada.
Por exemplo, se for considerado um α igual a 7 existe uma boa concordância com a curva
de referência na região de “saturação”, mas não para tensões inferiores a 1,1p.u.

Na intenção de melhorar o modelo matemático descrito pela Equação 5.1,


acrescenta-se um resistor linear em série com o resistor não-linear Rp. A Fig.5.3 mostra o
resultado para um α igual a 7 acrescentando-se um resistor linear R 9. Nota-se que o
modelo continua satisfatório para α igual a 7 para as tensões mais elevadas. Para os níveis
inferiores de tensão o modelo melhora significativamente em comparação ao resultado
obtido com a Equação 5.1.

Fig.5.3- Respostas para o equacionamento convencional acrescentando um resistor


linear.

9
Como a curva tem a tensão dada em (pu) o valor da resistência linear é determinada por: R = U/15 (Ω).
58

Para estabelecer uma maior fidelidade do modelo à característica do equipamento,


podem-se adicionar múltiplos resistores não-lineares, com parâmetros diferenciados,
implicando em uma configuração mais complexa [50]. Obviamente, o processo de
determinação dos parâmetros também cresce em complexidade.

5.1.2 Modelos com característica dinâmica


Em 1979, uma primeira tentativa de melhorar o desempenho do modelo dos pára-
raios foi apresentada por Tominaga et alli [54]. É inserido um indutor linear Ll em série
com o resistor não-linear Rp (Fig.5.4). O efeito do indutor é introduzir uma característica
dinâmica, deslocando o pico da corrente com relação ao da sobretensão. Conforme os
autores [54], os parâmetros do modelo são próprios e únicos para cada tipo de surto. O
indutor é estimado para uma situação específica com base no nível e na forma da corrente à
qual o pára-raios está sujeito. Apesar de ter seu mérito, o modelo apresenta dificuldade de
representar corretamente a magnitude da tensão quando há surtos de corrente com tempos
de crista diferentes.

Fig.5.4- Modelo elétrico proposto por Tominaga et alli [54].

Nessa mesma linha de tentativa de melhoramento do modelo, em 1996 foi proposto


por Kim et alli [55] a substituição do indutor linear do modelo de Tominaga et alli por um
não-linear L, conforme mostra a Fig.5.5. Conforme a referência [55], o modelo possui uma
boa representação para a situação em que o pára-raios está sob impulsos íngremes.
Entretanto, não é evidente a determinação dos parâmetros do modelo. Não se consegue a
obtenção dos parâmetros por catálogos de fabricantes e nem sempre é viável por meio de
ensaios. Assim, a determinação dos parâmetros e sua implementação em programas
numéricos são normalmente inviáveis. O modelo é mais complexo, pois envolve dois
elementos não-lineares em série.
59

Fig.5.5- Modelo elétrico proposto Kim et alli [55].

5.1.3 Modelos baseados nas características do ZnO


Os modelos apresentados a seguir representam os varistores com base nas
características intrínsecas à microestrutura. Levada em consideração somente a região de
operação, alguns desses modelos são descritos a seguir.

Em 1975, Levinson e Philipp [56] apresentaram um modelo baseado na


microestrutura dos varistores de ZnO. Esse modelo é apresentado na Fig.5.6.a.

A característica não-linear é dada pelos elementos em paralelo RCI e CCI que


representam, respectivamente, a capacitância e a resistência não-linear da camada
intergranular. A dependência desses elementos com a frequência e a amplitude da tensão
aplicada foi determinada experimentalmente. A resistência em série r é associada à
característica do grão de ZnO.

Em 1976, os mesmos autores apresentaram estudos adicionais [57] avaliando a


resposta em frequência. Esse estudo levou à inserção de um indutor L em série com a
resistência r (vide Fig.5.6.b).

Fig.5.6- Modelo elétrico proposto Levinson e Philipp [53, 54].


60

Em 1977, Matsuura e Yamaoki [58] apresentaram o modelo da Fig.5.7, em que são


representados o interior (Rg) e as fronteiras dos grãos de ZnO (Rb e Cb), bem como as
camadas intergranulares (Ri e Ci).

Fig.5.7- Modelo elétrico proposto Matsuura e Yamaoki. [58].

No mesmo ano de 1977, Emtage et alli [59] associaram a mudança assimétrica da


curva característica dos varistores à presença de barreiras de potencial separadas pelas
camadas intergranulares. A Fig.5.8 mostra o circuito apresentado para representação de
uma barreira intergranular. O circuito é composto por três estágios, sendo os externos
referentes à representação das fronteiras dos grãos adjacentes (barreiras de potencial ou
Schottky) e o central se refere à camada intergranular.

Fig.5.8- Modelo elétrico proposto por Emtage et alli. [59].

Em 1980, uma nova configuração de circuito para representar o varistor de ZnO foi
proposta por Burger e Knetch [60]. Foram aplicadas tensões na frequência industrial até
próximo da tensão de referência, constatando-se que a componente capacitiva tinha maior
amplitude que a resistiva. Também foi possível verificar a influência da frequência por
meio de ensaios nessa faixa de tensão. Quanto maior a frequência da tensão aplicada,
maior é a perda no varistor. O modelo é composto por três elementos em paralelo, como
apresentado na Fig.5.9.
61

R(V) C Z(f)

Fig.5.9- Modelo elétrico proposto por Burger e Knetch. [60].

No modelo da Fig.5.9, R(V) e Z(f) representam, respectiva e separadamente, a


dependência da resistência da camada intergranular com relação à tensão aplicada e à
frequência, enquanto que o capacitor C representa a capacitância da camada intergranular
com pouca dependência da tensão, frequência e temperatura. As conclusões do trabalho
realizado levaram a constatação de que, em baixa tensão, o elemento relacionado à
frequência define as perdas. O elemento não-linear R(V) passa a representar as perdas na
medida em que a tensão aumenta, tendo influência da frequência e da temperatura.

Ainda em 1980, a Mc Graw-Edison Company [61] propôs o modelo do circuito da


Fig.5.10.

Fig.5.10- Modelo elétrico proposto pela Mc Graw-Edison Company [61].

No modelo apresentado pela Mc Graw-Edison Company, Rg representa a


resistência interna do grão de ZnO. RL é uma resistência não-linear para dimensionar a
circulação de correntes CC. O elemento Cg é a capacitância da região granular, e tem
influência apenas em altas frequências. Os elementos Rb e Cb representam a camada
62

intergranular e sofrem influência da variação da temperatura, da frequência, do tamanho


médio dos grãos, e da espessura da junção entre os grãos.

Em 1987, com base em estudos realizados sobre as características microestruturais


dos varistores de ZnO, Einzinger [62] propôs o modelo mostrado na Fig.5.11.

Rg Rg

R0 C0

Cp Rp

R0 C0

Fig.5.11- Modelo elétrico proposto por Einzinger. [62].

O ramo esquerdo do circuito da Fig.5.11 representa a parte ativa do varistor, na


qual está presente a resistência Rg do grão de ZnO. Os elementos paralelos R0 e C0
representam as barreiras de potencial. No ramo direito são colocadas as resistências Rg, Rp
e Cp, elementos lineares responsáveis por contribuir na representação das características do
varistor sob tensões abaixo do valor de referência.

Também em 1987, Yu-Jin et alli [63] se basearam em resultados experimentais para


propor o modelo mostrado na Fig.5.12. No modelo, Rg representa a resistência interna dos
grãos de ZnO. O capacitor C está relacionado com a capacitância das camadas
intergranulares. O resistor não-linear Rp e o capacitor Cp têm relação com a polarização a
qual o varistor é submetido. A indutância L difine a resposta dinâmica do varistor, ou seja,
é responsável por dimensionar o atraso da corrente de condução com relação à tensão
aplicada. O valor do resistor R(V,T) é obtido com a aplicação de tensão contínua, sendo
função da amplitude da tensão de operação e da temperatura.
63

Fig.5.12- Modelo elétrico proposto por Yu-Jin et alli. [63].

Em 1989, Schmidt et alli [64] se basearam em observações experimentais para


propor o modelo apresentado na Fig.5.13. Nesse modelo, o elemento A(dU/dt,U,k1) se
refere à distribuição de carga na fronteira dos grãos de ZnO, sendo dependente da forma de
onda da tensão aplicada (dU/dt e U) e de uma constante de tempo k1 necessária para
alcançar o equilíbrio dos elétrons e lacunas da fronteira dos grãos de ZnO. Esse elemento é
dimensionado por meio dos resultados de medidas obtidas com uma ponte RLC. Os
parâmetros R(i), Rp e C são atribuídos às fronteiras dos grãos de ZnO, enquanto que os
elementos Rg e Lg são relacionados aos próprios grãos de ZnO [64].

Fig.5.13- Modelo elétrico proposto Schmidt et alli [64].

Na mesma linha de estudo experimental, Haddad et alli [65] apresentaram em 1990


o modelo mostrado na Fig.5.14. No desenvolvimento foi levada em consideração a
64

variação da corrente de fuga e a potência dissipada com base na alteração do nível da


tensão e da frequência, bem como com o tipo de surto ao qual o pára-raios é submetido.

Rg

Grão de
ZnO
Rgs(f)

R(V)

Intergranular
Camada
Rp(f,V) C(f,V)
Rs(f,V)

Fig.5.14- Modelo elétrico apresentado por Haddad et alli [65].

Em 1999, Haddad et alli apresentaram ainda o circuito mostrado na Fig.5.15 para a


representação de pára-raios de ZnO. O modelo contempla a resistência dos grãos de óxido
de zinco e a indutância própria dos blocos por Rg e Lb, respectivamente. A capacitância
paralela do pára-raios é representada por C. O resistor Rp representa a característica não-
linear dos blocos de ZnO. Lc1 é uma indutância de pequeno valor usada para simular a
característica dinâmica nas situações de descargas de grande amplitude. Rc é um resistor
linear e Lc2 uma indutância que procura contemplar o atraso nas frentes de baixa corrente
[66].

Fig.5.15- Modelo elétrico proposto Haddad et alli [66].


65

5.1.4 Modelo IEEE - GT 3.4.11


Dentro do enfoque sobre técnicas de modelagem de pára-raios, foi criado em 1971
um grupo de trabalho do IEEE (denominado IEEE Working Group 3.4.11) com o objetivo
de propor um modelo de referência. Esse grupo propôs o circuito apresentado na Fig.5.16.
Os elementos L0, L1, C, A0 e A1 representam as características do pára-raios, e R0 e R1
contribuem na implementação computacional evitando a instabilidade numérica. O resistor
R1 e o indutor L1 formam um filtro dimensionado para determinar o agrupamento dos
resistores não-lineares A0 e A1. Isto porque o pára-raios se comporta de modo diferente
dependendo do fenômeno que provoca a perturbação, ou melhor, da frequência associada à
perturbação. Essa diferença de resposta do pára-raios é dada, em parte, pelo maior ou
menor desvio de corrente pelo elemento A1 [67].

Fig.5.16- Modelo elétrico do pára-raios de ZnO – IEEE [70].

A determinação inicial dos valores dos parâmetros é dada pelas equações 5.3 a 5.7,
nas quais d é o comprimento da coluna do pára-raios em metros fornecido no catálogo do
fabricante, e n é o número de colunas paralelas de blocos de ZnO. Os resistores não-
lineares A0 e A1 são especificados pela Tab.5.1. Os valores propostos nessa tabela podem
sofrer modificações para cada solicitação do pára-raios visando uma melhor representação
[70].

d 
L1 = 15 ×   [µH ] . (5.3)
n

d 
R1 = 65 ×   [Ω] . (5.4)
n

d 
L0 = 0 ,2 ×   [µH ] . (5.5)
n
66

d 
R0 = 100 ×   [Ω]. (5.6)
n

n
C = 100 ×   [ pF ] . (5.7)
d 

Tab.5.1 - Característica tensão/corrente para A0 e A1 (modelo IEEE) [67].

I [kA] UA0 [pu] UA1 [pu]


0,01 1,40 -
0,1 1,54 1,23
1 1,68 1,36
2 1,74 1,43
4 1,80 1,48
6 1,82 1,50
8 1,87 1,53
10 1,90 1,55
12 1,93 1,56
14 1,97 1,58
16 2,00 1,59
18 2,05 1,60
20 2,10 1,61

No modelo do IEEE há uma maneira de melhorar a resposta do modelo por meio da


inserção de mais elementos não-lineares em paralelo. Isto, porém, aumenta o esforço
computacional. Um dos méritos do modelo é utilizar dados disponibilizados pelos
fabricantes para a determinação dos parâmetros [67].

5.1.5 Modelos baseados no modelo IEEE


Outros modelos foram apresentados posteriormente a partir dos estudos realizados
pelo grupo de trabalho 3.4.11 do IEEE, cada qual buscando melhorar o desempenho frente
às diversas formas de excitação. Em 1999, Pinceti et alli [68] apresentaram o modelo
mostrado na Fig.5.17. Nesse modelo, conforme os autores, a capacitância C presente no
modelo do IEEE foi eliminada devido a sua pequena influência na modelagem de surtos de
sobretensão. As resistências em paralelo com os indutores do modelo original IEEE foram
substituídas por uma única resistência R, tendo a mesma função de evitar a instabilidade
67

numérica. O valor dessa resistência deve ser suficiente e relativamente elevado para não
interferir na precisão do resultado [68].

Fig.5.17- Modelo elétrico proposto por Pinceti et alli [68].

A forma de determinação dos valores dos indutores L0 e L1 e dos resistores não-


lineares A0 e A1 são dados pelas equações 5.8 e 5.9 (em µH) e pela Tab.5.2,
respectivamente. Nesse modelo, os valores de L0 e L1 são determinados conforme a
resposta do equipamento aos ensaios de surtos de corrente. As características construtivas
do varistor (altura e diâmetro) não são levadas em consideração. Nestas equações, Un é a
tensão nominal do varistor, UR1/T2 a tensão residual para surto de 10kA com frente rápida
(1/T2 µs) e UR8/20 a tensão nominal para surto de 10kA, com forma de onda 8/20µs (tipo
Heidler 10kA 8/20µs) [69].

1 U R1 / T 2 − U R 8 / 20
L1 = Un . (5.8)
4 U R 8 / 20

1 U R 1 / T 2 − U R 8 / 20
L0 = Un . (5.9)
12 U R 8 / 20

Tab.5.2 - Característica tensão/corrente para A0 e A1 (modelo Pinceti et alli) [68].

IA0 [kA] UA0 [pu] IA1 [kA] UA1 [pu]


2,00E-06 0,810 2,00E-06 0,623
0,1 0,974 0,1 0,788
1 1,052 1 0,866
3 1,108 3 0,922
10 1,195 10 1,009
20 1,277 20 1,091
68

Em 2001, ainda utilizando como referência o modelo recomendado pelo grupo de


trabalho 3.4.11 do IEEE, Fernandez et alli [70] propuseram o modelo apresentado na
Fig.5.18. Conforme os autores, esse modelo apresenta bom desempenho para correntes de
descarga com tempos de frente de onda entre 1µs e 8µs, tendo apresentado erros inferiores
a 1,7% [70]. A modelagem também se assemelha ao do modelo recomendado pelo IEEE,
em que o capacitor C está presente para levar em consideração a capacitância entre os
terminais do pára-raios. Entre as resistências não-lineares A0 e A1 é utilizada apenas a
indutância L1. R tem a função de estabilizar numericamente o circuito em simulações
computacionais. A Fig.5.19 mostra as curvas características para as resitências não-lineares
A0 e A1 do modelo proposto por Fernadez et alli.

Fig.5.18- Modelo elétrico proposto por Fernandez et alli [70].

Fig.5.19- Curvas características de A0 e A1 para o modelo de Fernandez et alli [70].

No modelo apresentado por Fernandez et alli [70], o valor do capacitor C é


determinado pela Equação 5.10 em função de d (comprimento da coluna do pára-raios
dada em catálogo), sendo a mesma utilizada pelo IEEE (Equação 5.7) para uma única
coluna.

100
C= [ pF ] . (5.10)
d
69

A metodologia completa para a determinação dos parâmetros, incluindo a escolha


de L1, é encontrada em [70].

5.1.6 Modelos usados na análise da corrente de fuga


Na análise da corrente de fuga há duas formas de representação muito comuns e
amplamente usadas em publicações especializadas [15, 68, 69], ambas mostradas na
Fig.5.20. Esses modelos ainda serão abordados com maior profundidade nos capítulos
seguintes deste trabalho.

No modelo da Fig.5.20.a [71], o resistor não-linear Rp representa a característica de


não-linearidade associada aos espaçamentos intergranulares que regem o princípio de
funcionamento de varistores. Em paralelo com o resistor não-linear está associado um
capacitor Cp, cuja função é representar a capacitância equivalente formada entre os grãos
adjacentes de ZnO em conjunto com a capacitância externa do pára-raios. A diferença
básica do modelo da Fig.5.20b com o da Fig.5.20a reside na presença do resistor Rg
representando a resistência elétrica dos grãos de ZnO. Essa resistência tem um valor
relativamente pequeno, e por isso mesmo é ignorada em algumas análises [15, 69].

Fig.5.20- Representações de pára-raios para análise da corrente de fuga [15, 71, 72].

5.2 Considerações gerais

De uma maneira geral, cada modelo apresentado possui seu mérito. Conforme o
fenômeno e seu tipo que se pretende estudar, analisar ou representar se escolhe o mais
70

adequado. Também deve ser levada em conta a complexidade do procedimento e a


disponibilidade de dados para determinação dos parâmetros.

Para analisar a operação do pára-raios sob a ocorrência de descargas, o modelo


convencional (Fig.5.1 e Equação 5.1) pode apresentar resultados satisfatórios. Devido a
sua simplicidade, o modelo convencional é amplamente utilizado na literatura, alguns com
a configuração básica apresentada, outros associando um capacitor paralelo para modelar a
componente capacitiva. Modelos como os propostos por Haddad et alli e Shimidt et alli
possuem parâmetros de difícil obtenção, e que na maioria das vezes inviabilizam sua
aplicação prática. A publicação do modelo desenvolvido pelo IEEE fomentou que outros
pesquisadores propusessem alterações para melhorar a representação dos fenômenos em
simulações dos pára-raios frente à ocorrência de surtos.

Os dois modelos utilizados para o estudo da corrente de fuga de pára-raios separam


a corrente total em duas componentes, uma capacitiva e outra resistiva. A componente
capacitiva é considerada linear e praticamente constante ao logo da vida útil do pára-raios,
enquanto a resistiva possui característica não-linear e tende a crescer com a temperatura e a
degradação dos blocos de ZnO. O resistor não-linear, que corresponde à corrente resistiva
da corrente de fuga, carece de uma representação mais adequada por meio de um modelo
aprimorado que não utilize tabelas de pontos.

No capítulo a seguir é apresentado um novo modelo com o objetivo de contribuir na


representação do comportamento elétrico dos varistores que compõem os pára-raios.
6
6 MODELO PROPOSTO PARA O VARISTOR

6.1 Introdução

O desempenho dos modelos dos pára-raios está associado, dentre outros fatores, à
representação dos varistores que os mesmos empregam. Talvez a modelagem do varistor
em si seja uma das maiores dificuldades. Os modelos dos pára-raios devem representar de
forma adequada às solicitações de sobretensões e também a operação em regime.

Modelos como os propostos pelo IEEE [67], por Pinceti et alli [68] e por Fernandez
et alli [70], apresentados no Capítulo 5, usam tabelas que relacionam a tensão aplicada
com a corrente que flui pelos varistores. No modelo convencional, a equação representa
satisfatoriamente a região de limitação de tensão. Outros modelos usam equacionamentos
matemáticos compostos por duas ou mais funções que representam as faixas de menor e
maior não-linearidade da curva característica do varistor. Em 1999, Zhu e Raghuveer
apresentaram uma formulação utilizando duas equações polinomiais de quinto grau [25],
obtendo bom desempenho quando comparado com dados experimentais de Bargigia et alli
[73]. As duas equações que compõem o modelo matemático apresentam um grande
número de parâmetros, e a descontinuidade na transição entre as equações pode gerar
imprecisões ou problemas de convergência em programas numéricos.

Propõe-se um modelo original para a representação de varistores de pára-raios. O


modelo proposto foi desenvolvido a partir da função de Langevin utilizada para representar
as curvas B x H (densidade de campo magnético B em função da intensidade do campo
magnético H aplicado). Neste capítulo, apresentar-se-á também a metodologia aplicada ao
seu desenvolvimento, e a correlação entre os seus parâmetros e os fenômenos que
estabelecem a composição da componente resistiva da corrente de fuga. As curvas
características de varistores de ZnO novo e degradado do trabalho de Zhu e Raghuveer
72

[25], juntamente com as curvas referentes a um varistor em diferentes temperaturas


publicadas no trabalho de Jorge Luiz De Franco [74], foram utilizadas no desenvolvimento
e validação do modelo proposto.

6.2 Modelo proposto para varistores

A proposta da nova representação parte de estudos realizados sobre o


comportamento de materiais magnéticos, cuja relação entre a indução magnética e a
intensidade de campo segue uma tendência similar à verificada para a relação entre a
tensão e a corrente nos varistores.

Obtida na referência [25], a Fig.6.1 representa o comportamento do varistor quando


novo (curva a) e degradado (curva b) para uma tensão até cerca de 40% superior à nominal
de operação. As mudanças nas curvas de resposta dos varistores mostram alteração no
valor da componente resistiva da corrente de fuga para um mesmo valor de tensão,
indicando a existência de degradação nos blocos de ZnO. A Fig.6.2 mostra os sinais das
correntes resistivas simuladas com as curvas características do varistor quando novo
(ir_novo(t)) e degradado (ir_degr(t)) [25]. Para isso foi aplicada uma tensão u(t) com
amplitude equivalente a 1 p.u. Observa-se uma alteração significativa na amplitude da
componente resistiva para o varistor degradado em relação à do varistor quando novo
(107µA para 187µA de pico), assim como na sua forma.

Fig.6.1 - Curvas características de um varistor (a) antes e (b) depois da degradação


apresentadas por Zhu e Raghuveer [25].
73

250 u(t) [1 pu]


200 ir_novo(t) [uA]
150 ir_degr(t) [uA]
100
50
0
t
-50 0 5 10 15 20 25 30
[mA]35
-100
-150
-200
-250

Fig.6.2 - Simulação da componente resistiva da corrente de fuga para um varistor


usando suas curvas características obtidas antes e após a degradação.

A Fig.6.3 mostra que um varistor também apresenta mudança em seu


comportamento quando há variação da temperatura. As formas de onda apresentadas na
Fig.6.3 são o resultado de simulações feitas com base nas curvas características
experimentais da referência [74]. Observa-se uma elevação substancial da amplitude da
componente resistiva da corrente de fuga com o aumento da temperatura. A corrente
resistiva de pico passa de 129µA na temperatura ambiente (ir_amb(t)) para 460µA na
temperatura de 100ºC (ir_100C (t)). A temperatura ambiente foi de 20ºC.

600 u (t) [1pu]


ir_amb(t) [uA]
400
ir_60C(t) [uA]
200 ir_100C(t) [uA]

t [mA]
0
0 5 10 15 20 25 30 35
-200

-400

-600

Fig.6.3 - Simulação da componente resistiva da corrente de fuga nas temperaturas


ambiente, 60ºC e 100ºC em função do tempo para tensão aplicada de 1 p.u.

6.2.1 Modelagem usando a equação de Langevin


Esta seção tem o objetivo de avaliar a equação de Langevin como forma de
representação do comportamento do varistor de ZnO em operação, ou seja, de equacionar a
74

curva característica U x ir (tensão aplicada U em função da componente resistiva da


corrente de fuga ir). A função de Langevin é apresentada pela Equação 6.1. Ela também
pode ser representada na forma de série (Equação 6.2) ou ainda na forma exponencial
(Equação 6.3) [75].

 1
L( a ) = coth (a ) −   . (6.1)
 a

a a 3 2a 5
L( a ) = − + −K (6.2)
3 45 945

e a + e −a 1
L( a ) = − . (6.3)
e a − e −a a

A Fig.6.4 mostra o comportamento da função original de Langevin com relação à


variação do parâmetro a .

L(a)
140

120

100

80

60

40

20

0 a
0 2 4 6 8 10 12

Fig.6.4 - Comportamento da função de Langevin.

Em alguns modelos de materiais magnéticos se utiliza a função de Langevin


adaptada, dada pela Equação 6.4, não em função da variação de a que passa a ser uma
constante, mas do campo magnético H [73, 74]. Na Equação 6.4, B(i) é a indução
magnética, cujo valor de saturação é Bs, e H(i) representa a intensidade do campo aplicado.
75

  H ( i )   a 
B( i ) = Bs coth   −   . (6.4)
  a   H ( i ) 

Reescrevendo e adaptando esse modelo para relacionar tensão e componente


resistiva da corrente de fuga do varistor, tem-se a Equação 6.5. Nesta equação, Um é a
tensão de limitação, ou tensão máxima (equivalente da indução magnética de saturação),
ir(t) é a componente resistiva da corrente de fuga do varistor (equivalente ao campo
magnético), e a um parâmetro do modelo.

  i ( t )   a 
u( t ) = U m coth r  −   . (6.5)
  a   i r ( t ) 

A Fig.6.5 mostra o comportamento da Equação 6.5 para diferentes valores de a


quando aplicada uma corrente ir senoidal com amplitude máxima igual a 1500µA (Um é
igual a 1,4 p.u.). Nota-se que a elevação do valor do parâmetro a faz com que a corrente
de fuga ir seja maior para um mesmo nível de tensão. Sob o ponto de vista da curva de
atuação do varistor, quanto menor for o parâmetro a maior é o grau de não-linearidade,
aproximando seu comportamento do ideal. (Esse fato será utilizado na argumentação da
metodologia proposta de avaliação paramétrica do modelo de varistor desenvolvido).

Fig.6.5 - Comportamento da função de Langevin adaptada para configuração de


varistores.
76

O parâmetro a pode ser determinado pela equação (6.6), em que os valores I0, U0 e
R0 estão representados na Fig.6.6. A obtenção de uma estimativa de a é feita com base em
um ponto (U0, I0) da curva, tal que U0 = 0,67375Um [75].

Um
U0

R0

U0 /R0 I0 Ir

Fig.6.6 - Forma simplificada de obtenção do parâmetro a para o modelo do varistor.

U0
a = I0 − . (6.6)
R0

A maneira de encontrar o valor para o parâmetro a a partir da Equação 6.6 e da


Fig.6.6 não é eficiente para uma representação adequada. Implementou-se um programa
computacional objetivando a procura automática dos parâmetros Um e a que apresentassem
o menor erro entre a curva experimental e a calculada pelo modelo. As Fig.6.7 e Fig.6.8
mostram a interface do sistema implementado (um instrumento virtual – VI) para encontrar
um conjunto que possua o menor erro quadrático médio (MSE – Mean Square Error) no
encontro dos parâmetros referentes aos varistores novo e degradado, respectivamente. O
MSE é calculado por meio da Equação 6.7 na qual n representa o número de pontos da
curva, Uref(m) o valor da tensão de referência (obtido na curva de referência) e U(m) o
valor da tensão calculada ponto a ponto por meio do modelo proposto.

∑ [U ref ( m ) − U( m )]2
MSE = m =1
. (6.7)
n

Com o auxílio do programa desenvolvido foram determinados os conjuntos de


parâmetros a = 31,1687 e Um = 1,4274 para o varistores novo, e a = 46,1827 e Um = 1,3974
77

para o varistor degradado. Os valores apresentados para o MSE entre as curvas geradas
pelo modelo e as de referência, resultaram em 6,56x10-4 para o varistor novo e 22,2x10-4
para o varistor degradado.

Fig.6.7 - Interface do programa (VI) de busca dos parâmetros da equação de Langevin


com os resultados referentes ao varistor novo.

Fig.6.8 - Interface do programa (VI) de busca dos parâmetros da equação de Langevin


com os resultados referentes ao varistor degradado.

Apesar de representar uma tendência próxima ao comportamento do varistor para


as duas curvas características, o modelo baseado na função de Langevin não permite
representar com precisão toda a curva. Adicionalmente, observa-se que, ao contrário do
que acorre na prática, o valor do parâmetro de grampeamento da tensão Um para o varistor
novo é maior que para o varistor degradado.

Assim como foi realizado para a modelagem de materiais magnéticos, em que a


formulação atendia a curva BxH de materiais paramagnéticos, mas não representava
adequadamente essa relação para os materiais ferromagnéticos, utiliza-se na sequência do
78

estudo a idéia da modificação na equação de Langevin proposta por Weiss [78]. A nova
formulação se diferencia da anterior por introduzir um terceiro parâmetro, ajustando as
curvas e tendo uma maior capacidade de representação.

6.2.2 Modelagem por meio da equação de Langevin modificada


Estudos realizados sobre o comportamento de materiais magnéticos levaram o
físico francês Pierre Weiss a propor uma modificação na forma de utilizar o campo
magnético na função de Langevin [78]. Com a introdução de mais um parâmetro, a função
consegue representar com maior acuidade a curva de magnetização inicial dos materiais
ferromagnéticos. Aqui essa idéia é adaptada modificando a corrente resistiva do pára-raios
por meio de uma contribuição proporcional da tensão instantânea aplicada [79]. A corrente
resistiva modificada irm(t) é dada pela soma da corrente resistiva ir(t) com um valor
proporcional à tensão u(t) dimensionado pelo parâmetro β. Essa relação é regida pela
Equação 6.8 e inserida na equação de Langevin modificada 6.9.

irm ( t ) = ir ( t ) + β u( t ) . (6.8)

  i ( t )   a 
u( t ) = U m coth  rm  −  . (6.9)
  a   irm ( t ) 

O modelo proposto para representar o varistor é a Equação 6.9, em que u(t)


representa a tensão instantânea aplicada ao varistor, Um, a e β são parâmetros do modelo,
irm(t) é uma corrente resistiva que é função da tensão aplicada e da componente resistiva da
corrente de fuga do pára-raios ir(t) verificada na prática. Sob o ponto de vista da
modelagem, o parâmetro β tem o objetivo de proporcionar uma melhor adequação das
curvas em relação àquelas obtidas por meio da função original de Langevin. Será visto que
esse modelo tem maior capacidade de representação. Por outro lado, acrescentou-se mais
um parâmetro a ser determinado. Assim necessitou-se desenvolver uma metodologia para
determinação desses parâmetros.

A primeira técnica utilizada para determinar os valores dos parâmetros foi


denominada de “busca sequencial”, na qual se obtém uma pequena variação do valor de
um parâmetro por vez no sentido da adequação da representação da curva de referência.
Nessa técnica, a ordem em que os parâmetros serão alterados na busca de uma melhor
79

aproximação entre a curva calculada e a experimental é estabelecida previamente. Uma


segunda técnica de otimização desenvolvida emprega em sua concepção conceitos de
algoritmo genético, no qual os valores são encontrados basicamente com a seleção dos
melhores conjuntos de resultados de mutações sucessivas [80, 81]. Com o objetivo de
acelerar e automatizar o processo de busca dos parâmetros, bem como de não necessitar de
grande interferência do usuário, os dois algoritmos foram integrados. O algoritmo genético
tem o objetivo de fornecer um conjunto inicial dos parâmetros tendo uma curva próxima da
experimental, e o programa de busca sequencial aprimora o conjunto dos três parâmetros
(Um, a e β). A seguir serão apresentados os métodos de busca dos parâmetros.

6.2.3 Método de Otimização Sequencial


Como já mencionado, o método que busca os três parâmetros de forma sequencial
tem uma ordem de otimização previamente definida. Cada um dos três parâmetros do
modelo é melhorado com base nos outros dois, os quais têm seus valores fixos durante sua
alteração. Para cada iteração do processo, busca-se um melhor valor para o parâmetro Um
e, na sequência, para os parâmetros a e β, em que inicia uma nova iteração até a satisfação
do critério de parada. O critério de avaliação da curva gerada pelo modelo proposto foi o
erro quadrático médio.

6.2.3.1 Algoritmo do método sequencial


O algoritmo do programa do método sequencial é apresentado na Fig.6.9. Os dados
de entrada são os valores iniciais atribuídos pelo usuário para os parâmetros do modelo
(Um, a e β), o número máximo de iterações j, e as variações máximas iniciais aplicadas a
cada parâmetro em cada passo de cálculo (∆Um, ∆a e ∆β). A variação efetiva dos
parâmetros para cada passo de cálculo é variável, de modo que na medida em que a
solução se aproxima do valor buscado, a variação diminui. A cada iteração é calculado o
valor de l que determina a variação a ser aplicada ao parâmetro sob cálculo. O valor de l
para uma variável X qualquer é dado pela Equação 6.10, em que X assume os valores de
Um, a e β. Na equação, MSE0 é o erro inicial determinado pela comparação entre a tensão
obtida com os parâmetros iniciais do modelo e a de referência, e MSEi é o erro
determinado com os parâmetros da iteração anterior à que está sendo executada. Cada
parâmetro calculado usa como base os outros dois provenientes dos cálculos anteriores.
80

∆X
l= (6.10)
MSE0
MSEi
e

a; ; Um;
j; a; ; Um

Uc, ir (*.txt)
Equação curva de referência

MSE0

i=0
MSEi = MSE0
MSEi MSEi

∆U m ∆a ∆β
l= l= l=
MSE0 MSE0 MSE0
MSEi MSEi MSEi
e e e
Umi = Um ai = a i =
Um = Umi(l+1) a = ai(l+1) = i(l+1)

Equação Equação Equação

MSE1 MSE1 MSE1

não não
MSE1 > MSEi MSE1 > MSEi MSE1 > MSEi

sim sim sim


Um = |l-1|Umi a = |l-1|ai = |l-1| i

não
i>j i=i+1 MSEi Equação

sim

FIM

Fig.6.9 - Algoritmo do programa de busca dos valores da função de Langevin


modificada pelo método sequencial.
81

A Fig.6.10 mostra como é realizada a etapa denominada de “Equação” no algoritmo


principal. Nesta etapa são calculados os valores de tensão com o modelo proposto para
cada valor de corrente da curva de referência. Para isso, tomam-se os valores dos
parâmetros do modelo calculados de cada iteração i. Como já mencionado, a comparação
ponto a ponto entre os valores de tensão da curva de referência e os calculados pelo
modelo determinam o erro quadrático médio (vide Equação 6.7), que serve para avaliação
da representatividade do próprio modelo.

n
m=0

  i ( m ) + β u ( m)  a 
u (m + 1) = U m coth  r − 
  a  ir (m) + β u (m) 

m=m+1

não
m>n

sim

Fig.6.10 - Determinação da tensão u para os n pontos da curva característica do varistor


em função dos parâmetros do modelo (m é o indexador dos pontos da curva).

6.2.3.2 Resultados obtidos com o método sequencial


A Fig.6.11 mostra a interface do programa desenvolvido para a busca dos
parâmetros da equação de Langevin modificada com base em uma curva de referência
[25]. Nela são apresentados os resultados finais do conjunto de parâmetros encontrados
para a curva característica experimental de um varistor novo obtida da publicação de Zhu e
Raghuveer [25]. Para 100000 iterações, os resultados para o conjunto de parâmetros que
proporcionaram menor MSE são Um = 1,4876, a = 73,0091 e β = 111,2830. Nota-se que o
erro quadrático médio é de 8,22x10-5, cerca de oito vezes menor que o obtido com a
utilização da função de Langevin original (vide Fig.6.7) para o mesmo número de
iterações. Nota-se também visualmente que o modelo tem capacidade de representação
superior ao modelo que utiliza a função de Langevin original.
82

Fig.6.11 - Interface do programa (VI) para busca de parâmetros da equação de Langevin


modificada pelo método sequencial para o varistor novo.

A Tab.6.1 mostra que, quando os parâmetros iniciais são adequados, os resultados


podem ser obtidos com um número reduzido de iterações e, consequentemente, reduzindo
o tempo de simulação numérica. Obviamente, quanto mais próximo estiver o valor inicial
atribuído ao parâmetro, menor é o esforço computacional de cálculo. Para esse caso foram
utilizados como parâmetros iniciais Um = 1,5, a = 70 e β = 100.

Tab.6.1 - Verificação da tendência de melhoria na busca dos parâmetros de um varistor


novo aumentando o número de iterações.
No de Iterações Um a β Tempo (s) MSE
1000 1,487 72,36 109,64 0,5 8,17x10-5
5000 1,488 73,02 111,29 2,1 8,22x10-5
10000 1,488 73,12 111,52 3,4 8,22x10-5
50000 1,488 73,17 111,64 16,4 8,23x10-5
100000 1,488 73,01 111,28 32,8 8,22x10-5

Os resultados obtidos na busca do conjunto dos parâmetros para um varistor


degradado são apresentados na Fig.6.12. Novamente é observada uma boa representação
da curva experimental, com um MSE dezoito vezes menor que o obtido com a equação de
Langevin original (vide Fig.6.8). Para essa curva característica do varistor degradado todos
os parâmetros sofreram alteração com relação aos do varistor quando novo.
83

Fig.6.12 - Interface do VI para busca de parâmetros da equação de Langevin modificada


pelo método sequencial para o varistor degradado.

Observa-se que todos os parâmetros do varistor degradado tiveram acréscimo em


seus valores em relação aos do varistor novo. É importante constatar que o valor de Um
aumentou em 7%, significando que o varistor irá ceifar a tensão de surto em um valor cerca
de 7% maior do que quando novo. Os parâmetros a e β aumentam de valor de maneira
significativa de 3,7 e 4,5 vezes, respectivamente. A comparação entre os valores dos
parâmetros para a condição anterior e posterior à degradação sugeriu a possibilidade de que
a análise do nível de degradação de um varistor possa ser vinculada às alterações
paramétricas. Isto será visto mais apropriadamente adiante.

A Tab.6.2 mostra os resultados para simulações com números de iterações entre


1000 e 100.000 usando os mesmos parâmetros iniciais. Novamente é possível observar que
os parâmetros tendem rapidamente para valores satisfatórios quando os parâmetros iniciais
são próximos ao resultado final. Nesse caso, foram utilizados os parâmetros iniciais Um =
1,6, a = 250 e β = 500.

Tab.6.2 - Verificação da tendência de melhoria na busca dos parâmetros de um varistor


degradado aumentando o número de iterações.
No de Iterações Um a β Tempo (s) MSE
1000 1,604 262,20 484,78 0,5 12,28x10-5
5000 1,605 262,53 485,43 2,1 12,28x10-5
10000 1,605 263,04 486,24 3,4 12,28x10-5
50000 1,607 266,48 493,42 16,4 12,27x10-5
100000 1,608 267,71 495,84 32,8 12,27x10-5
84

Embora a busca pelos parâmetros tenha alcançado valores bastante satisfatórios, a


metodologia enfrenta dificuldade no que se refere aos dados iniciais com valores não tão
próximos aos do resultado final. Conforme os processos de fabricação, composição,
estágio de degradação devido à estocagem, dentre outros fatores, as curvas dos varistores
podem ser diferentes, mesmo para varistores novos, fazendo com que os parâmetros
iniciais nem sempre sejam evidentes de serem atribuídos. Note a diferença entre os
parâmetros iniciais usados anteriormente para o mesmo varistor quando novo e após a
degradação. Com essa dificuldade, um valor arbitrado pode ser boa referência de partida
para um dado varistor e não servir adequadamente para outro. Assim, o programa fica
sujeito à lentidão ou mesmo a não convergência. A Tab.6.3 apresenta os resultados de
testes de busca dos parâmetros para diferentes valores iniciais. Nas simulações realizadas
para o varistor novo [25] foi definido um número máximo de 400.000 iterações. Com
exceção dos dois últimos testes da Tab.6.3, foram atribuídos valores quaisquer para os
parâmetros do modelo. Para efeito de comparação, nas duas últimas linhas são utilizados
dados iniciais que determinam uma curva do modelo próxima do resultado final. Essa
aproximação inicial faz com que uma resposta satisfatória seja obtida com poucas iterações
e rapidamente. Quando os parâmetros iniciais são distantes da solução, o programa pode
não convergir, necessitando também diminuir a variação máxima inicial de cada parâmetro
(∆X), aumentando o tempo de simulação.

Tab.6.3 - Determinação dos parâmetros do modelo para um varistor novo pelo método
sequencial com diferentes valores iniciais.
Umi ai βi Tempo (s) Um a β MSE
1 10 10 134 * * * *
1 100 100 142 * * * *
1,2 10 10 135 * * * *
1,2 100 100 135 * * * *
1,4 10 10 132 * * * *
1,4 100 100 137 1,53 61,42 87,23 86,4x10-5
1,5 10 10 132 * * * *
1,5 100 100 132 1,48 63,61 85,04 8,66x10-5
1,5 70 100 2,1 1,49 73,02 111,29 8,22x10-5
1,56 145 310 0,9 1,485 70,63 104,86 8,04x10-5
* O programa não convergiu.
85

A utilização de uma etapa de aprimoramento dos valores iniciais dos parâmetros


pelo usuário resolve satisfatoriamente os problemas de lentidão e convergência, porém,
cria a dependência de um agente externo para cada avaliação a ser realizada. Por isso, foi
desenvolvido um programa cujo objetivo é o de obter uma curva aproximada da curva de
referência, eliminando a necessidade do prévio conhecimento de um conjunto de
parâmetros iniciais. O desenvolvimento utilizou conceitos de algoritmo genético. Com essa
técnica, os valores iniciais são substituídos por faixas de possíveis valores que os
parâmetros podem assumir.

6.2.4 Algoritmo Genético


A teoria de Algoritmos Genéticos [77, 79] tem por sua base o funcionamento da
própria genética. Fatores inerentes à biologia, como população, gene, reprodução, interação
gênica e mutações são utilizados como ferramentas nessa técnica de otimização, o que
justifica o nome dado a essa técnica. A partir de uma geração de conjuntos de parâmetros
aleatórios criada inicialmente, fases de reprodução, avaliação e mutação dão origem a uma
nova geração de conjuntos de parâmetros, teoricamente superiores ou mais próximos da
solução, quando comparados aos conjuntos de parâmetros da geração precedente. Novas
gerações são criadas a cada iteração até que se atinja uma condição de parada,
determinando o encerramento da busca por um conjunto de parâmetros melhor.

6.2.4.1 Algoritmo do programa utilizado


O objetivo do programa é a busca de um conjunto de parâmetros (Um, a e β) da
equação de Langevin modificada, de forma a se obter uma curva tão próxima quanto
possível da curva de referência. Os parâmetros da população inicial são números
completamente aleatórios, compreendidos em um dado intervalo limitado, e são chamados
de genes. Cada conjunto contendo um gene referente a cada um dos parâmetros forma um
indivíduo definido pelos três parâmetros. Os indivíduos são avaliados separadamente,
construindo-se uma curva com os seus genes aplicados no modelo proposto, e comparando
os valores da nova curva com a curva de referência por meio do MSE.

Na etapa de reprodução, certa quantidade de indivíduos é sorteada para dar origem


a novos conjuntos de genes, indivíduos esses denominados pais. A escolha dos pais ocorre
pelo método do torneio, onde um grupo com um dado número de elementos é selecionado
86

aleatoriamente, e um desses (geralmente o de menor MSE) é o escolhido para ser um dos


pais. São escolhidos pais suficientes para que se possa gerar o número de filhos, o qual
também é determinado antes da execução do algoritmo. Cada par de pais troca entre si
parâmetros, ou genes, formando um par de novos indivíduos, diferentes dos originais.
Esses conjuntos de parâmetros gerados a partir dos anteriores são chamados de filhos. Um
exemplo do processo que ocorre na etapa de reprodução é mostrado na Fig.6.13.

PAI

FILHO 1
Um (p) a (p) β (p)

Um (p) β (p)

a (p) a (m)

β (m) Um (m)
FILHO 2
β (m) a (m) Um (m)

MÃE

Fig.6.13 - Geração de conjuntos “filhos” de parâmetros na etapa de algoritmo genético.

Os novos indivíduos gerados na etapa de reprodução são avaliados da mesma


maneira que seus pais. Em seguida, as populações de pais e filhos são unidas, formando
um único grupo de indivíduos. Desse total, são escolhidos os indivíduos que possuem os
menores MSE para que formem a nova geração desta população. A quantidade de
elementos escolhidos a cada iteração é a mesma quantidade de indivíduos gerados no
início do programa.

Ao fim da seleção da nova geração, alguns indivíduos são selecionados para


sofrerem o processo de mutação. Esta etapa é bastante importante para evitar que o
algoritmo fique preso em um conjunto ótimo local da função quando a busca é por um
conjunto ótimo global. A mutação consiste na substituição dos genes de um indivíduo por
genes aleatórios (dentro da faixa determinada pelo usuário), de forma a não direcionar o
algoritmo para um único ponto.

Com o fim da mutação, a nova população está pronta para passar pela cadeia
evolutiva, como aconteceu com as anteriores. Seus elementos são avaliados, se
87

reproduzem, sofrem mutação, e novas gerações vão aparecendo sucessivamente. A busca


pelo conjunto ideal de parâmetros é interrompida quando uma das condições de parada é
atendida. Nesse caso, quando o número de gerações atinge um valor limite, ou quando o
MSE é menor do que um valor previamente definido. Quando a parada ocorre, o melhor
indivíduo da geração atual é apresentado como o melhor conjunto de parâmetros da busca.

O algoritmo do programa que usa os conceitos de algoritmo genético é mostrado na


Fig.6.14.

Fig.6.14 - Algoritmo do programa de busca de parâmetros do modelo proposto usando


conceito de Algoritmo Genético.

6.2.4.2 Resultados do algoritmo genético


A Fig.6.15 mostra o resultado de uma simulação usando o algoritmo genético, em
que o conjunto de parâmetros (Um =5,89031, a = 63530,6 e β =32973,5) leva a um MSE
igual a 7,085x10-5. Esse conjunto resolve matematicamente o problema de equacionamento
do modelo, obtendo uma boa concordância entre a curva modelada e a de referência.
Porém, verifica-se que a tensão máxima de 5,89031 p.u. não tem sentido físico.
88

Fig.6.15 - Interface do VI para busca de um conjunto de parâmetros do modelo proposto


para o varistor novo por meio de programa usando conceitos de algoritmo genético.

A Tab.6.4 mostra que em outras simulações realizadas os conjuntos de parâmetros


atendem matematicamente o modelo com baixos erros (MSE). No entanto, quando se dá
uma faixa maior de liberdade aos parâmetros, os resultados podem não ser fisicamente
coerentes, e também não proporcionar uma regularidade satisfatória.

Tab.6.4 - Resultados de busca de parâmetros utilizando algoritmo genético com


diferentes graus de liberdade para os parâmetros iniciais.
Faixa de Variação Resultados Finais
Um a β Um a β MSE
0-10 0-1000 0-1000 1,47036 63,0659 88,5466 10,59x10-5
0-10 0-1000 0-1000 1,50901 74,0749 98,3139 33,55x10-5
0-100 0-10000 0-10000 2,77246 7937,59 9534,69 19,59x10-5
0-100 0-10000 0-10000 2,84427 8280,99 9655,82 18,93x10-5
0-100 0-100000 0-100000 5,50506 93821,5 52546,1 1,63x10-5
0-100 0-100000 0-100000 5,86238 94200,8 49207,6 1,26x10-5

O método se mostrou capaz de gerar conjuntos de parâmetros que aplicados ao


modelo proposto geram curvas teóricas que representam com acuidade a curva
experimental de referência. No entanto, em alguns casos, o conjunto de parâmetros
determinado pelo método de busca que utiliza os conceitos de algoritmo genético leva a
situações fisicamente irreais.

Na sequência são apresentados os resultados do programa para a busca dos


parâmetros que agrupa as vantagens dos dois algoritmos apresentados anteriormente.
89

6.2.5 Algoritmo Híbrido – Genético e Sequencial


Optou-se por um programa de determinação de parâmetros com a configuração
denominada híbrida por conta dos resultados individuais dos dois métodos. No algoritmo
genético [77, 78, 79] é admitido como resultado final qualquer conjunto dos três
parâmetros que gere uma equação compatível com uma condição de erro admissível.
Durante o processo de busca, os três parâmetros são buscados e alterados simultaneamente,
gerando ao final um novo conjunto. No algoritmo sequencial, a lógica utilizada leva ao
estabelecimento de uma sequência na otimização, que nesse caso realiza primeiramente a
melhoria do parâmetro Um para depois agir sobre os demais parâmetros, a e β de maneira
sequencial. Com esse procedimento, Um se estabelece em um patamar coerente com os
verificados fisicamente nos varistores. Em geral, o valor máximo da tensão é algo entre 1 e
2 p.u.

A Fig.6.16 apresenta a interface do programa desenvolvido para a metodologia de


programação híbrida, com os resultados para a curva característica do varistor novo [25].

Fig.6.16 - Determinação dos parâmetros da curva característica de um varistor novo para


tensão aplicada sem distorção.
90

A Tab.6.5 mostra a estabilidade dos resultados em cinco simulações realizadas que


tiveram conjuntos diferentes como resultado da etapa do algoritmo genético. Nota-se que o
desvio padrão é baixo após a etapa que utiliza lógica sequencial. Nessas simulações foi
estabelecido o valor máximo igual a 2 para o parâmetro Um na etapa de algoritmo genético
e de 1000 para os parâmetros a e β.

Tab.6.5 - Verificação da estabilidade dos parâmetros para o varistor novo com resultados
obtidos em simulações com a mesma tensão aplicada sobre o varistor novo.
Algoritmo Genético Algoritmo Sequencial
Simulação
Umi ai βi Um a β MSE
Faixa de variação 0–2 0 - 1000 0 - 1000 - - - -

1 1,4611 59,1762 85,0907 1,4909 75,1381 116,7010 8,29x10-5


2 1,4623 61,8857 86,6172 1,4906 74,9579 116,2470 8,27x10-5
3 1,5063 90,9653 142,9960 1,4880 72,7096 110,3230 8,04x10-5
4 1,4872 78,9707 143,6470 1,4884 73,8339 113,5630 8,20x10-5
5 1,4530 48,9113 53,3396 1,4903 74,7083 115,6370 8,24x10-5

Valor médio 1,4740 67,9818 102,3381 1,4896 74,2696 114,4942


Desvio Padrão 0,0222 16,7883 39,7019 0,0014 1,0055 2,6227
Desvio percentual 1,50% 24,70% 38,79% 0,09% 1,35% 2,29%

A Fig.6.17 apresenta o resultado de uma busca do conjunto de parâmetros pela


metodologia de programação híbrida para a curva característica do varistor degradado [25].
Nesse caso, foram estabelecidos os valores limites de 2 para o parâmetro Um e 1000 para os
parâmetros a e β, na etapa do algoritmo genético. A Tab.6.6 mostra a estabilidade dos
resultados em cinco simulações realizadas.

Observa-se que os parâmetros finais são coerentes com os obtidos anteriormente


com algoritmo sequencial sem, no entanto, necessitar que os parâmetros iniciais sejam
arbitrados. Os dados iniciais determinados pelo algoritmo genético são mostrados na parte
superior dos VIs, enquanto a solução final dada pelo programa utilizando o método
sequencial é apresentada na parte inferior. No Anexo 2 são apresentadas outras simulações.
Em alguns casos a etapa do algoritmo genético tem resultados mais satisfatórios quando se
determina uma faixa mais ampla para os parâmetros a, β e Um. Por exemplo, apesar do
valor do parâmetro Um normalmente estar entre 1 e 2 p.u., ao se definir uma faixa de 0 e 10
p.u. os resultados finais apontam MSE menores. Credita-se essa melhoria no resultado final
91

à possibilidade de que o programa fuja de conjuntos de parâmetros que gerem um ótimo


local, o que não é possível quando se restringe muito a faixa dos parâmetros iniciais.

Fig.6.17 - Determinação dos parâmetros da curva característica de um varistor degradado


para tensão aplicada sem distorção harmônica.

Tab.6.6 - Verificação da estabilidade dos parâmetros para o varistor degradado com


resultados obtidos em simulações com a mesma tensão aplicada.
Algoritmo Genético Algoritmo Sequencial
Simulação
Umi ai βi Um a β MSE
Faixa de variação 0–2 0 - 1000 0 - 1000 - - - -
1 1,6551 347,6760 658,9820 1,5986 254,4230 469,6520 1,22x10-4
2 1,6295 305,9680 581,8620 1,5987 253,0460 465,8260 1,21x10-4
3 1,6346 307,4530 573,3150 1,5985 253,4980 466,7310 1,22x10-4
4 1,6154 279,6030 517,1560 1,5988 253,9510 468,3500 1,21x10-4
5 1,6395 314,9660 589,9500 1,5953 251,5530 464,5150 1,23x10-4
Valor médio 1,6348 311,1332 584,2530 1,5980 253,2942 467,0148
Desvio Padrão 0,0145 24,4154 50,6069 0,0015 1,1001 2,0298
Desvio percentual 0,89% 7,85% 8,66% 0,09% 0,43% 0,43%
92

6.3 Modelo inverso

O modelo proposto se mostrou adequado para a representação do varistor de ZnO.


Da maneira como o modelo foi concebido, tem-se a tensão como variável de saída,
necessitando que a componente resistiva da corrente de fuga seja conhecida. Na prática,
uma tensão é aplicada e a corrente que flui pelo varistor é a grandeza dependente. Assim é
necessário um modelo que forneça a corrente em função da tensão, ou seja, o modelo
inverso. A Fig.6.18 mostra a representação das grandezas de entrada e saída para os
modelos direto e inverso.

ir(t) MODELO u(t)


DIRETO

u(t) MODELO ir(t)


INVERSO

Fig.6.18 - Representação das grandezas de entrada e saída dos modelos direto e inverso.

6.3.1 Desenvolvimento do modelo inverso


As duas equações fundamentais do modelo são a 6.11 e a Equação auxiliar 6.12,
que formam a Equação 6.13. A Equação 6.13 é uma função transcendental,
impossibilitando isolar a variável ir(t) em função de u(t). Apresenta-se a seguir o
desenvolvimento do modelo inverso proposto.

  i ( t )   a 
u( t ) = U m coth rm − , (6.11)
  a   irm ( t ) 

irm ( t ) = ir ( t ) + β u( t ) , (6.12)

  i ( t ) + β u( t )   a 
u( t ) = U m coth r  −   . (6.13)
  a   ir ( t ) + β u( t ) 

A Equação 6.14 define uma impedância recursiva Zirm(t) para o varistor como sendo
função da tensão u(t) e da corrente resistiva modificada irm(t). Essa impedância é não-
93

linear. De 6.14, define-se também uma impedância diferencial recursiva Z’irm(t) dada pela
Equação 6.15, a qual fornece o valor instantâneo que rege a taxa de evolução da corrente
resistiva modificada com a tensão aplicada.

u( t )
Z irm (t) = . (6.14)
irm ( t )

∂u( t )
Z 'irm (t) = . (6.15)
∂irm ( t )

A impedância diferencial definida pela Equação 6.15 é a derivada da equação do


modelo proposto em função da corrente resistiva modificada irm(t), dada por 6.16.

∂u( t ) U m  a  
2
2  irm ( t )  
Z 'irm (t) = = 1 − coth  +  . (6.16)
∂irm ( t ) a   a   irm ( t )  
 

Derivando-se a corrente resistiva modificada, Equação 6.12, em relação à tensão


aplicada u(t), tem-se:

∂irm ( t ) ∂ir ( t )
= +β . (6.17)
∂u( t ) ∂u( t )

A Equação 6.17 é o inverso de Z’irm. Pode-se então escrever a Equação 6.18.

1 ∂ir ( t )
= +β . (6.18)
Z 'irm ( t ) ∂u( t )

Rearranjando a equação 6.18, obtém-se a Equação 6.19.

∂ir ( t ) 1
= −β . (6.19)
∂u( t ) Z'irm ( t )

A impedância diferencial em função da tensão aplicada no varistor e da sua


corrente é dada pela Equação 6.20, que é o inverso da Equação 6.19.
94

−1
∂u( t )  1 
Z r ' ( ir ) = = − β . (6.20)
∂ir ( t )  Z 'irm 

A Equação 6.20 é a impedância diferencial do varistor em função da tensão


aplicada e de sua corrente resistiva ir(t). Assim, o valor instantâneo de ir(t) é dado pela
Equação 6.21 ou pela Equação expandida 6.22.

1
ir ( t ) = u( t ) −1 . (6.21)
 1 
 −β
 Z'irm 

 
 
 1 
ir ( t ) = u( t )  − β . (6.22)
Um   irm ( t )   a  
2

 a 1 − coth  +   
   a   irm ( t )   

A Equação 6.22 é transcendental, ou seja, na variável irm(t) está presente o valor


instantâneo de ir(t). Assim, a solução de ir(t) é obtida por meio de um algoritmo numérico
iterativo. O desenvolvimento do algoritmo que representa o modelo inverso é apresentado
a seguir.

6.3.2 Algoritmo do modelo inverso


Para a execução do algoritmo do modelo inverso, parte-se da aproximação de
funções diferenciais por meio de cálculos realizados por diferenças finitas, em que a
derivada de uma função f em relação à variável x é dada de forma aproximada como
apresentado pela Relação 6.23.

∂f ∆f ∆f
= lim ≅ . (6.23)
∂x ∆x →0 ∆x ∆x

Define-se ∂u( t ) pela Equação aproximada 6.24:


95

∂u( t ) ≅ ∆u( t ) = u( t + ∆t ) − u( t ) . (6.24)

As equações 6.16 e 6.17 podem então ser escritas como mostrado nas equações
6.25 e 6.26.

Um   a  
2
2  irm ( t ) 
∆Z ( t ) = 1 − coth  +  , e (6.25)
a   a   irm ( t )  
 

∆irm ( t ) = ∆ir + β∆u( t ) . (6.26)

Ao final de cada passo a corrente resistiva é determinada pela Equação 6.27,


definida a partir da Equação 6.20.

 1 
ir ( t + ∆t ) = ∆u( t ) − β  + ir (t) (6.27)
 ∆ Z( t ) 

No algoritmo de cálculo utilizando o modelo inverso, apresentado na Fig.6.19 os


dados de entrada são os parâmetros a, β e Um pertencentes ao modelo da curva do varistor,
o passo de cálculo ∆t, o tempo final tf e o valor da corrente inicial ir (t=0). Quando o valor
de irm(t) é igual a zero, ocorre uma indefinição. Assim, utiliza-se a aproximação dada pela
Equação 6.28 para valores próximos a zero de irm(t). O valor de transição entre a aplicação
da função simplificada e a completa do modelo proposto é irm(t)=1µA.

Um
∆Z ( t ) = (6.28)
3a
96

u(t); t; a; ; Um; ir(t=0); tf

ir m ( t ) = ir ( t ) + βu( t )

sim Um
ir m ( t ) < 10 −6 ∆ Z( t ) =
3a

não

Um   a  
2
2  i rm ( t ) 
∆ Z( t ) = 1 − coth  +  
a   a   irm ( t )  
 

∆u( t ) = u( t + 1 ) − u( t )

 1 
ir ( t + ∆t ) = ∆u( t ) − β  + ir ( t )
 ∆ Z( t ) 

não
t=t+ t t =tf

sim

FIM

u(t) x ir(t)

Fig.6.19 - Algoritmo numérico do modelo inverso proposto.


97

6.4 Resultados de simulação com o modelo inverso proposto

Um programa numérico (VI) foi desenvolvido para calcular a corrente resistiva que
flui pelo varistor em função da tensão aplicada. Nos cálculos efetuados com o programa
foram utilizados os parâmetros do modelo direto determinados anteriormente. As Fig.6.20
e Fig.6.21 mostram os resultados obtidos para os varistores simulados, novo e degradado,
respectivamente. Nas figuras são apresentados os parâmetros do modelo proposto, a tensão
aplicada U, e a tensão Ug gerada por meio do cálculo com o modelo direto utilizando a
corrente resistiva calculada pelo modelo inverso. A concordância entre as tensões U e Ug
mostra que o os dois modelos, direto e inverso, representam o mesmo varistor.

Na parte inferior à esquerda da Fig.6.20 e da Fig.6.21 é mostrada a corrente que flui


através do varistor, calculada por meio do modelo inverso proposto quando é aplicada a
tensão U. No lado direito são mostradas as curvas características provenientes dos dados
experimentais apresentados na referência [25] e calculada com o modelo proposto.
Constata-se a concordância entre as curvas.

Fig.6.20 - Interface do programa inverso mostrando a tensão aplicada sobre o varistor


novo, a tensão Ug gerada com a corrente do modelo inverso Ir aplicada no modelo
direto, e a curva característica de tensão versus corrente do varistor.
98

Fig.6.21 - Interface do programa inverso mostrando a tensão aplicada sobre o varistor


degradado, a tensão Ug gerada com a corrente do modelo inverso Ir aplicada no
modelo direto, e a curva característica de tensão versus corrente do varistor.

6.5 Análise dos parâmetros do modelo proposto

O modelo proposto para representar as curvas características dos varistores na


região de baixas correntes possui o parâmetro Um que está evidentemente ligado à tensão
de limitação do varistor (tensão de ruptura). Essa constatação já foi abordada anteriormente
e serviu, inclusive, como referencial físico para avaliação do processo de busca dos três
parâmetros do modelo. Com o objetivo de evoluir na análise da representação física do
modelo, na sequência os parâmetros a e β são correlacionados com as grandezas elétricas
envolvidas no funcionamento do varistor.

Cabe ressaltar que as avaliações realizadas neste trabalho foram vinculadas à


representatividade do modelo às curvas características do varistor. Essa representatividade
foi abordada principalmente no que se refere às variações por conta da degradação e da
temperatura as quais o varistor está sujeito. Também neste trabalho, houve a
disponibilidade de um número reduzido de curvas experimentais.

A tarefa de relacionar os parâmetros do modelo proposto com os fenômenos que


regem os mecanismos de condução da componente resistiva da corrente de fuga terá seu
99

início com base nos resultados da avaliação térmica, e posteriormente, faz-se a avaliação
com os resultados apresentados para a evolução da degradação.

6.5.1 Avaliação dos parâmetros com base na temperatura de operação


Inicia-se a avaliação dos parâmetros β e a utilizando os estudos realizados com as
curvas características do varistor de ZnO quando submetido a diferentes temperaturas. Esta
linha de trabalho foi seguida pelo fato de que em outras pesquisas [27, 29], que serviram
como base para a avaliação do funcionamento da microestrutura do varistor, propiciou uma
melhor compreensão dos fenômenos que regem os mecanismos de condução da
componente resistiva da corrente de fuga do varistor.

Como mencionado na Seção 6.2.2, o parâmetro β foi introduzido no modelo para


ajustar a formulação às curvas dos varistores, representando-as com maior acuidade.
Associa-se o parâmetro β aos portadores livres responsáveis pela condução elétrica no
interior do grão de ZnO (elétrons livres no semicondutor do tipo N). Na medida em que
diminui a capacidade do material gerar novos portadores livres o valor de β diminui. A
elevação da temperatura tem o efeito de aumentar o número desses portadores e com isso a
condutividade do interior do grão elevando a corrente resistiva que atravessa o varistor
ir(t). A Fig.6.22 mostra o efeito da variação do parâmetro β, mantendo Um e a fixos.
Percebe-se uma pequena elevação da corrente resistiva com a redução dos valores
atribuídos ao parâmetro β, confirmando o efeito descrito.

Ir [ µ A]
200 β = 20
150 β = 30
100 β = 40
50
t [s]
0
-50 0 0.005 0.01 0.015 0.02 0.025 0.03 0.035

-100
-150
-200

Fig.6.22 - Resposta do modelo para a corrente resistiva com a variação do parâmetro β,


mantendo-se os parâmetros Um e a fixos (1,2 e 30, respectivamente).
100

Assim, sob o ponto de vista apenas dessa análise, deveria haver uma pequena
elevação na componente resistiva da corrente de fuga com a elevação da temperatura.
Porém, na operação de pára-raios de ZnO na região de baixas correntes, sabe-se que o
aumento da temperatura eleva significativamente a amplitude da componente resistiva da
corrente de fuga do varistor. Como mencionado anteriormente quando se apresentou o
material que compõe o varistor, a componente resistiva da corrente de fuga na região até a
ruptura sofre influência de dois fenômenos: condução elétrica nos grãos de ZnO e
deslocamento de carga elétrica pelo efeito termiônico nos seus contornos. Na região de
baixas correntes a maior parcela da componente resistiva da corrente de fuga se deve à
emissão termiônica. No modelo proposto, com a elevação do parâmetro a a corrente
resistiva também aumenta. A Fig.6.23 mostra resultados variando-se o parâmetro a
mantendo Um e β fixos. Assim, infere-se que o parâmetro a está relacionado com o efeito
termiônico, isto é, com a condução através do material intergranular.

Ir [ mA]
200 a = 20
150 a = 30
100 a = 40
50
t [s]
0
-50 0 0.005 0.01 0.015 0.02 0.025 0.03 0.035
-100
-150
-200

Fig.6.23 - Resposta do modelo para a corrente resistiva com a variação do parâmetro a,


mantendo-se os parâmetros β e Um fixos (30 e 1,2 respectivamente).

Para tensões relativamente baixas, pode-se aproximar o modelo proposto (Equação


6.13) pela Equação 6.28 [75]. Nessa condição, a impedância elétrica do varistor pode ser
expressa pela Equação 6.29, onde só depende do parâmetro a.

U m / 3a U m 1
Z= = . (6.29)
irm irm 3a

Pela conclusão da aproximação matemática do modelo e pela influência que o


parâmetro a tem no comportamento do modelo (vide Fig.6.5 e Fig.6.22), julga-se que o
101

parâmetro a representa uma condutividade elétrica ligada ao efeito termiônico, que se eleva
com o crescimento da temperatura. Julga-se que o parâmetro β dimensiona a condutividade
elétrica ligada aos grãos de ZnO, o qual reduz seu valor com o crescimento da temperatura.
Na região de baixa corrente, a componente resistiva da corrente de fuga do varistor varia
consideravelmente com a temperatura. No modelo, a variação do parâmetro a produz um
efeito no valor da componente resistiva da corrente de fuga muito maior que o parâmetro
β. O modelo parece representar corretamente os efeitos globais de operação de varistores
sob o ponto de vista dos fenômenos que regem a componente resistiva da corrente de fuga
de pára-raios de ZnO.

Os parâmetros para o modelo proposto que resultaram das buscas realizadas para
um varistor nas temperaturas ambiente (20ºC), de 60ºC e de 100ºC são apresentados na
Tab.6.7. As curvas características para essas temperaturas foram obtidas na referência [74].
Detalhes maiores das simulações de busca dos parâmetros são apresentados no anexo 2.

Tab.6.7 - Variação dos parâmetros do modelo proposto com relação à temperatura.

Temperatura Parâmetros do Modelo


operacional Um a β
Ambiente 1,2395 34,9154 48,3793
60ºC 1,2300 53,1545 46,7123
100ºC 1,2216 85,4672 0,3291

Nos resultados apresentados na Tab.6.7, pode-se constatar que o valor de Um sofre


um decréscimo muito pequeno (≅1,5%) com a elevação da temperatura. Essa característica
foi vista no estudo da microestrutura, em que a temperatura não é o fator principal que
altera o valor da tensão de ruptura de um varistor. O parâmetro a se eleva na medida em
que a temperatura se torna maior. Isto porque o parâmetro a representa a contribuição de
uma maior condução devido à emissão eletrônica nas barreiras. O parâmetro β , ao
contrário, decresce com a elevação da temperatura, representando a condutividade do
interior do grão de ZnO. Apesar das poucas curvas disponíveis, verifica-se que o valor do
parâmetro β tende a zero para temperaturas mais elevadas, o que sugere o esgotamento da
capacidade de gerar portadores livres no interior do grão. Por outro lado para temperaturas
102

mais baixas há uma estabilização do valor de β, sugerindo uma capacidade máxima do


material em gerar novos portadores livres com a elevação da temperatura.

6.5.2 Avaliação dos parâmetros com base na degradação


Com base no que foi apresentado sobre a correlação dos parâmetros, propõe-se uma
metodologia de avaliação de varistores. Assim, faz-se nesta sessão uma interpretação das
variações nos valores obtidos para Um, a e β quando se compara o varistor em bom estado
com o outro já degradado [25]. A Tab.6.8 apresenta os parâmetros determinados para cada
caso.

Tab.6.8 - Variação dos parâmetros do modelo proposto com relação à degradação.

Condição Parâmetros do Modelo


operacional Um a β
Novo 1,4903 74,7083 115,6370
Degradado 1,5953 251,5530 464,5150

Analisando os resultados apresentados na Tab.6.8, no que se refere ao parâmetro


Um, confirma-se sua elevação com a degradação do varistor. Essa variação para um valor
maior é condizente com o que ocorre na prática, visto que na medida em que o varistor
perde suas características nominais de projeto, tende a ceifar as sobretensões com menor
eficácia e, por outro lado, sob tensão operacional permite um maior escoamento de
corrente de fuga.

O parâmetro a, assim como na avaliação feita sob variação de temperatura, sofre


elevação com a degradação, o que pode ser determinado pela degradação dos contornos
dos grãos, e que implicam em uma maior condução pelo material intergranular. Foi visto
no item 6.2.1, na modelagem utilizando a função de Langevin original para varistores, que
a variação do parâmetro a modifica o comportamento da curva característica. Mantendo a
tensão máxima Um em 1,4 p.u., foi mostrado na Fig.6.5 que aumentando o valor do
parâmetro a a curva característica do varistor se afasta da curva característica ideal. No
caso desse varistor analisado, o parâmetro a aumenta o seu valor com a degradação.

A tendência do parâmetro β se inverte com relação à avaliação realizada para


temperatura. Na medida em que a estrutura do bloco varistor se degrada os grãos também
103

são afetados, diminuindo a condutividade desse componente do varistor. Ou seja, na


medida em que o varistor degrada, o valor de β passa a ter elevação, consequência da
redução dos portadores livres. Ressalta-se que a elevação da temperatura faz com que a
componente resistiva da corrente de fuga em pára-raios aumente. Analisando apenas o
parâmetro β, ele decresce no seu valor com a temperatura, mas, aumenta com a
degradação. O efeito da temperatura nas metodologias de avaliação de pára-raios é um dos
fatores que gera dificuldades. A metodologia proposta tende a diferenciar os dois efeitos.
Obviamente, é necessário analisar mais casos experimentais para consolidar a metodologia.

6.6 Considerações gerais

Análises das curvas características de varistores conduziram o encaminhamento da


modelagem na direção já empregada para materiais magnéticos, ou seja, por meio da
função de Langevin. Com os testes realizados na aplicação direta da função de Langevin
foi constatado que a tendência de representação é correta. Porém, verificou-se a
necessidade de ajuste na formulação. Considerando a alteração proposta por Weiss para os
materiais magnéticos, foi incorporado um novo parâmetro β que modifica a corrente
resistiva dos varistores por meio de uma contribuição proporcional à tensão instantânea
aplicada. Ao Final, resultou um modelo novo e original para varistores. Foi também
desenvolvido um programa que realiza a busca dos parâmetros do modelo proposto.

O modelo direto pode ser representado por uma única equação (Equação 6.13). Ele
é interessante de ser utilizado quando se analisa o pára-raios sob impulsos de corrente ou
para aplicação na avaliação de varistores. Mas, quando se analisa o pára-raios juntamente
com outros componentes de um circuito, a tensão é imposta, sendo a corrente a variável
dependente. Assim, desenvolveu-se o modelo inverso. Os dois modelos, direto e inverso,
foram desenvolvidos e testados com sucesso para as curvas disponíveis. O modelo
proposto pode ainda ser aplicado como uma ferramenta de avaliação da vida útil de pára-
raios por meio do monitoramento da variação dos três parâmetros.
7
7 METODOLOGIAS DE AVALIAÇÃO

7.1 Introdução

O objetivo principal deste trabalho foi a apresentação de um novo modelo para o


varistor de ZnO incluindo, na medida do possível, a proposição de metodologias para a
avaliação do nível de degradação dos pára-raios que utilizam esse tipo de varistor. Sob esse
aspecto de aplicação, o modelo desenvolvido e apresentado no Capítulo 6 é utilizado como
base para a proposição ou inserção em metodologias que permitam avaliar o estado
operacional dos varistores de ZnO.

Neste capítulo, inicialmente são descritas as formas convencionais de avaliar as


alterações nos varistores de ZnO por conta da degradação, juntamente com os cuidados que
devem ser tomados quando há distorções na tensão aplicada no pára-raios. Neste trabalho
são feitas simulações a respeito da presença de componentes harmônicas e também da
variação da amplitude da tensão da rede de energia elétrica. A influência dos harmônios da
tensão foi alvo de investigação em trabalhos publicados, como o de Zhu e Raghuveer [25],
e de Silveira et alli [49, 76]. Como mencionado no Capítulo 4, Seção 4.7.4, o conteúdo
harmônico presente na tensão do sistema é fator determinante na avaliação do estado
operacional dos pára-raios que utilizam varistores de ZnO [50]. No que diz respeito à
variação da amplitude da tensão do sistema, verifica-se uma importante alteração nos
resultados do conteúdo harmônico e da amplitude da corrente de fuga [49].

7.2 Metodologias tradicionais que empregam a tensão aplicada


ao varistor e sua corrente de fuga

Com a medição da tensão aplicada é possível separar a componente resistiva da


corrente de fuga total que flui através do varistor. De posse dessa componente, a avaliação
105

do estado operacional do varistor de ZnO pode ser realizada comparando sua amplitude, ou
conteúdo harmônico, aos valores obtidos em medições anteriores ou aos dados de
referência fornecidos pelos fabricantes de pára-raios. Os métodos atuais de avaliação dos
varistores por meio da corrente de fuga empregam essa componente resistiva [50] de forma
a obter informações que são consideradas mais confiáveis em termos de avaliação dos
blocos de ZnO.

Na prática, a forma de medição do sinal da tensão segue os métodos


tradicionalmente empregados como, por exemplo, a medida na saída de um transformador
de potencial (TP) próximo ao pára-raios. Quando essa técnica é inviável ou de difícil
execução, pode-se também realizar a detecção do campo elétrico. Para isso, utiliza-se uma
sonda de campo elétrico. Realizar a medida na saída do TP tem a vantagem de se obter um
sinal de tensão contendo valores mais precisos nas informações da amplitude e da THD.
Para a aquisição do sinal de corrente é utilizado um sensor em série com o cabo de
aterramento do pára-raios, ou, preferencialmente, utiliza-se um sensor que dispense a
abertura do circuito de aterramento. O Anexo 1 mostra uma forma que agrega vantagens na
avaliação por meio da corrente de fuga de pára-raios com relação aos sensores tradicionais.

7.3 Avaliação dos varistores pela corrente de fuga

As metodologias mais amplamente utilizadas pelas empresas do setor elétrico são


as que avaliam os varistores por meio da medição da corrente de fuga (excetuando-se a
avaliação termográfica). Por exemplo, a avaliação do conteúdo harmônico da corrente de
fuga. Apesar dessa avaliação ainda ser feita por algumas empresas com base na corrente de
fuga total, neste trabalho a avaliação é feita diretamente por meio da componente resistiva
da corrente de fuga e seu conteúdo harmônico. Como explicado no capítulo 4, essa forma
de análise é considerada mais eficiente, sobretudo se for acompanhada da compensação
dos harmônicos da rede [50].

Para a avaliação desta metodologia foi desenvolvido um programa computacional


que analisa o conteúdo harmônico da componente resistiva da corrente de fuga por meio da
simulação do varistor utilizando o modelo proposto. Nele foi introduzida a possibilidade de
incrementar componentes harmônicas na tensão de rede, com variação individual de
amplitude e de fase. A varredura de diversas situações possíveis permite avaliar como a
106

presença dessas componentes harmônicas pode afetar os resultados. Uma abordagem


semelhante foi realizada em [25], obtendo resultados semelhantes.

A Fig.7.1 mostra a interface do programa desenvolvido. As curvas da tensão no


tempo e das componentes resistivas das correntes de fuga de simulação dos varistores novo
e degradado (utilizados no Capítulo 6 [25]) são observadas no lado esquerdo. No lado
direito superior são colocadas as entradas dos parâmetros de simulação a serem
determinados pelo usuário. Os valores de tensão U e da “frequência” correspondem à
amplitude da tensão da rede e respectiva frequência. Os valores de An e Fn correspondem,
respectivamente, às amplitudes e às fases das componentes harmônicas de ordem n da
tensão de alimentação. No lado direito inferior são apresentados os resultados dos
conteúdos harmônicos das componentes resistivas das correntes de fuga simuladas (nesse
caso para o varistor novo e o degradado).

Fig.7.1 - Interface do programa (VI) para avaliação da influência da terceira harmônica


da tensão de rede.

Como a tensão de alimentação nem sempre é a ideal, e as análises necessitam


traduzir a situação operacional verdadeira dos varistores, foram realizadas simulações para
avaliar as distorções que as variações da amplitude da tensão de rede causam na corrente
de fuga. Na Fig.7.1 os resultados das taxas de distorção apresentadas correspondem à
107

aplicação da tensão de rede senoidal pura com amplitude de 1 p.u. Avaliam-se ainda as
mudanças impostas pela variação da temperatura na avaliação da componente resistiva da
corrente de fuga e do conteúdo harmônico. Sabe-se que há uma grande influência desse
fator sobre a curva característica dos varistores na faixa operacional em que as medições
são realizadas (região de baixas correntes).

7.3.1 Influência da presença de harmônicas na tensão da rede


A THD é usada por algumas empresas para diagnosticar as condições operacionais
dos pára-raios [48]. Como exposto no Capítulo 4, a componente capacitiva é na prática
considerada como linear, e o conteúdo harmônico é totalmente creditado à componente
resistiva. Com base no modelo proposto é feita a avaliação da influência do conteúdo
harmônico presente na rede de alimentação sobre a componente resistiva da corrente de
fuga.

A amplitude da componente fundamental da tensão de rede aplicada no primeiro


caso estudado foi fixada em 1 p.u., com frequência de 60 Hz. Para avaliar a influência dos
harmônicos de tensão da rede na resposta dos varistores foi imposta uma variação da
amplitude da componente harmônica de terceira ordem da tensão de rede (A3) entre zero e
5%, associada a uma variação da fase dessa harmônica (F3) entre 0 e 360º. As variações
máximas na forma de onda da tensão de alimentação, decorrentes dessas alterações de
conteúdo harmônico, são mostradas na Fig.7.2.

U [pu]
1
U senoidal pura
U com 5% de 3a H / 0o
U com 5% de 3a H / 180o

-1
0 2 4 6 8 10 12 14 16 t [ms]

Fig.7.2 - Sinal de tensão senoidal com amplitude de 1 p.u. aplicado ao varistor (curva
azul), e formas distorcidas pela presença de conteúdo harmônico. Curva verde: introdução
de 5% de 3ª harmônica com fase de zero. Curva vermelha: introdução de 5% de 3ª
harmônica com fase de 180º.
108

A Fig.7.3 mostra como a inserção da componente de terceira ordem na tensão de


rede (3aHr) modifica a THD da corrente de fuga no varistor novo, o que confirma a
necessidade de sua compensação para a avaliação do varistor por esse critério. Uma
primeira constatação que se faz é a elevação do conteúdo harmônico de forma mais
significativa quando a fase é igual a 180 graus. Isto porque, além da introdução do
conteúdo harmônico que se reflete na corrente, ocorre uma elevação do valor de pico da
tensão da rede. Com a tensão mais elevada o varistor é solicitado em uma faixa de menor
linearidade de sua curva característica, implicando em acréscimo na distorção harmônica.

Uma segunda constatação que pode ser feita com auxílio da Fig.7.3 é a de que
quando a fase da componente harmônica é zero ocorre a máxima redução do conteúdo
harmônico presente na corrente de fuga (passa de cerca de 15,5% para a condição senoidal-
pura para cerca de 8,5% com o acréscimo de 5% de terceira harmônica). Esse fato decorre
do efeito contrário que a fase zero impõe à tensão quando comparada à fase de 180 graus,
ou seja, nesse caso ocorre uma redução do valor máximo da tensão. Assim, por solicitar
que o varistor opere em uma faixa de maior linearidade há uma compensação do conteúdo
harmônico introduzido, e nesse caso, uma redução global da THD.

THD [%] 23

21

19

17

15

13

11

7
0

30

60

90

120

4 5
150

180

210

2 33aHr [%]
240

270

300

Fase 3aHr [graus]


330

0 1
360

Fig.7.3 - Variação da THD da corrente resistiva do varistor novo causada pela presença
de 3ª harmônica na tensão de rede.
109

Verifica-se uma grande variação dos valores apresentados com a presença do


conteúdo harmônico na tensão de alimentação. No varistor novo o percentual da THD se
eleva de 15,55% para aproximadamente 23% no caso de existir uma componente de
terceira ordem com amplitude de 5% com relação a fundamental da tensão com fase de 180
graus. Segundo Calazans et alli [48], a ABB sugere a faixa dos 20% de THD como limiar
de avaliação dos pára-raios no que tange a sua degradação. Apesar de ser apenas uma das
avaliações técnicas de um diagnóstico baseado nessa metodologia poderia se tornar
equivocado dependendo do conteúdo harmônico na tensão.

Assim como para o varistor novo, a THD do varistor degradado também sofre
elevação quando a fase da componente harmônica de terceira ordem é igual a 180 graus.
Há uma elevação de 34,08% para a condição de tensão senoidal pura para 42,85% com
presença de 5% de terceira harmônica, confirmando apenas a condição operacional
precária em que o equipamento se encontra. Entretanto, quando a fase da componente
harmônica de terceira ordem é zero, onde ocorre o achatamento do sinal de tensão por
conta da introdução da componente harmônica, a redução da THD é de aproximadamente 9
pontos percentuais. Para essa análise a redução observada ainda mantém o varistor dentro
do que se considera impróprio para a utilização. Porém, a presença desse tipo de distorção
pode, em alguns casos, implicar em erro de diagnóstico.

THD [%] 43

41

39

37

35

33

31

29

27

25

23
0

30

60

90

120

5
150

180

3 4 3aHr [%]
210

240

Fase 3aHr [graus]


270

2
300

330

0 1
360

Fig.7.4 - Variação da THD da corrente resistiva do varistor degradado causada pela


presença de 3ª harmônica na tensão de rede.
110

O resultado relativo à influência na componente de terceira ordem da corrente


resistiva (3aHr) do varistor novo para essa faixa de variação é apresentado na Fig.7.5.
Pode-se observar uma variação percentual ainda mais significativa sobre essa componente
do que a verificada sobre a THD. Nesta figura, a baixa amplitude da corrente se deve à
análise feita somente com a componente harmônica de terceira ordem. Para um varistor
novo [25], essa componente corresponde a 7,6µA para alimentação senoidal pura, cerca de
15,5% do valor da componente fundamental de 49µA (valores de pico).

I3aH [uA]
12

11

10

3
0

30

60

90

120

4 5
150

180

210

2 3
240

270

300

330

Fase 3aHr [graus] 0 1


360

3aHr [%]

Fig.7.5 - Variação da 3ª harmônica da corrente resistiva do varistor novo causada pela


presença de 3ª harmônica na tensão de rede.

A Fig.7.6 mostra o erro percentual com relação à componente resistiva de


referência verificada para tensão puramente senoidal em um varistor novo. Observa-se que,
a introdução de 5% de harmônica de terceira ordem com fase de 180º implica em um erro
relativo de aproximadamente 51%. Nesse caso, ocorre a elevação do valor da componente
harmônica de terceira ordem. Por outro lado, a introdução de 5% de harmônica de terceira
ordem com fase é nula na tensão de alimentação reduz a amplitude da componente
harmônica de terceira ordem da corrente resistiva do varistor novo. Essa redução é de
aproximadamente 49% com relação ao valor de referência. O erro relativo torna ainda mais
clara a necessidade da compensação dos harmônicos de rede, que podem prejudicar
significativamente o diagnóstico do varistor.
111

Erro [%]
60%

40%

20%

0%

-20%

-40%

-60%
0

30

60

120

4 5
90

150

180

210
2 3

240

270

300

330
1

360
Fase 3aHr [graus] 0 3aHr [%]

Fig.7.6 - Avaliação do erro causado na 3ª harmônica da corrente resistiva do varistor


novo pela presença de 3ª harmônica na tensão de rede.

A avaliação feita anteriormente para o varistor novo também foi realizada para o
varistor degradado. As Fig.7.7 e Fig.7.8 mostram os resultados obtidos.

I3aH [uA]
28

26

24

22

20

18

16

14

12
0

30

60

90

120

4 5
150

180

210

2 3
240

270

300

330

Fase 3aHr [graus] 0 1 3aHr [%]


360

Fig.7.7 - Variação da 3ª harmônica da corrente resistiva do varistor degradado causada


pela presença de 3ª harmônica na tensão de rede.
112

Erro [%]
40%

30%

20%

10%

0%

-10%

-20%

-30%

-40%
0

30

60

90

120

5
150

180

210 3 4

240

270
2

300

330
Fase 3aHr [graus] 0 1

360
3aHr [%]

Fig.7.8 - Avaliação do erro causado na 3ª harmônica da corrente resistiva do varistor


degradado pela presença de 3ª harmônica na tensão de rede.

De maneira geral, os resultados das simulações na presença de harmônicos de


terceira ordem da tensão de rede, mostram que a componente de terceira ordem da corrente
resistiva sofre grande variação. Essa variação é influenciada tanto pela amplitude do
harmônico da tensão de rede quanto pela fase do mesmo. Para um ponto específico, por
exemplo, de 3% de distorção de terceira harmônica da tensão de rede e fase de 180º,
obtém-se diferenças em relação à referência de 30,32% para o varistores novo e 19,04%
para o degradado. Aumentando o nível da distorção para 5% essas diferenças se elevam
para 50,97% e 32,67% para os varistores novo e degradado, respectivamente. Uma
observação importante é a maior diferença percentual nos resultados causada pelos
harmônicos da tensão de rede sobre o varistor em melhores condições. Isso se deve à
elevação do valor máximo da tensão de rede pela inserção do harmônico de terceira ordem
com fase se aproximando de 180º, como mostrado na Fig.7.2. Como o varistor degradado
opera em uma região “menos linear” da relação tensão/corrente para o nível de tensão
normal do sistema elétrico, situação decorrente de sua degradação, o erro relativo é menos
influenciado que o do varistor novo. Pode-se entender melhor esse fato considerando que
em um varistor degradado o conteúdo harmônico na corrente resistiva já é mais
significativo. Portanto, o acréscimo no conteúdo harmônico total, e principalmente na
113

componente resistiva de terceira ordem devido aos harmônicos da rede, é menos


significativo que o observado em um varistor novo.

Outras avaliações foram realizadas com componentes harmônicas de ordens mais


elevadas, como por exemplo a quinta, chegando-se às mesmas conclusões da influência
dos harmônicos de rede sobre a análise harmônica da corrente de fuga resistiva.

No caso dos varistores, o grau de maior ou de menor influência está intimamente


ligado à forma de onda resultante da tensão de rede, que se tiver seu valor máximo alterado
mudará a característica de resposta dos varistores. A presença de componentes harmônicas
na tensão de rede pode aumentar ou diminuir tanto a amplitude quanto o conteúdo
harmônico da corrente resistiva dos varistores, tornando necessária a sua compensação
quando a análise do estado dos varistores é feita por meio da corrente de fuga. Por conta da
avaliação do varistor de ZnO ser feita normalmente usando a componente harmônica de
terceira ordem da corrente resistiva, deve-se proceder à compensação da componente
harmônica de terceira ordem da tensão da rede. Após a qual, apenas a componente de
terceira ordem gerada pela não-linearidade do varistor é mantida. No método aplicado
atualmente, não se tem conhecimento de como é feita essa compensação do conteúdo
harmônico do instrumento de medida LCM II [5], aceito como a metodologia prática mais
segura na avaliação de varistores, pois o sistema é não linear e depende das características
de cada varistor. Também não se tem conhecimento se há uma metodologia no LCM II de
compensar também a fase do harmônico.

7.3.2 Influência da presença de harmônicas na tensão da rede sobre os


parâmetros do modelo proposto
Neste item, faz-se uma análise da influência dos harmônicos na forma de onda da
tensão na metodologia de avaliação de varistores proposta por meio da utilização da
variação dos parâmetros do modelo proposto. Utilizando as curvas dos varistores novo e
degradado provenientes de [25], aplicou-se via simulação formas de onda de tensão com
terceiro harmônico como entrada no modelo, resultando novas formas de onda de corrente
resistiva, de onde foram obtidos os parâmetros do modelo. Simulou-se as formas de onda
senoidal pura (0 H), com o terceiro harmônico em fase e com defasagem de 180º, e para
1% (1%3H) a 5% (5%3H) de aumento de amplitude do terceiro harmônico. Para cada caso
de conteúdo harmônico diferente, fizeram-se cinco buscas de conjuntos de parâmetros do
114

modelo com a metodologia desenvolvida e apresentada anteriormente. Para as cinco buscas


de cada caso, os valores encontrados não tiveram uma variação de valores significativa. As
Tab.7.1 e Tab.7.2 apresentam os resultados. Para esses casos simulados e apresentados nas
tabelas, os desvios padrões foram de 0,1%, 1,85% e 2,69% para os parâmetros Um, a e β,
respectivamente. Entretanto, utilizando os valores médios, há uma variação entre os
valores novo e degradado de 8,05% para o Um, 256,48% para o a e 317,93% para o β,
muito acima dos valores da variação percentual da influência do conteúdo harmônico.

Tab. 7.1- Verificação geral da estabilidade dos parâmetros de um varistor degradado.


VARISTOR NOVO
Parâmetro Um a β Parâmetro Um a β
1,5024 78,3969 121,186 1,5038 79,6142 123,927
1,503 78,7205 121,871 1,5038 79,6503 124,005
1% 5H
0H 1,5027 78,5519 121,514 1,5039 79,7102 124,133

1,5029 78,6409 121,702 1,5036 79,4711 123,621
1,5027 78,541 121,491 1,5035 79,4218 123,515
1,5037 79,5744 123,842 1,505 80,6001 126,114
1,5036 79,4838 123,648 1,5043 80,1267 125,094
1% 3H 2% 5H
1,5037 79,5608 123,813 1,5044 80,223 125,301
180º 0º
1,5034 79,3925 123,452 1,5044 80,24 125,338
1,5038 79,6125 123,923 1,5053 80,7891 126,522
1,5048 80,4743 125,843 1,5051 80,9492 126,963
1,5054 80,8934 126,746 1,5053 81,1368 127,371
2% 3H 3% 5H
1,5047 80,4364 125,761 1,5054 81,1698 127,442
180º 0º
1,5042 80,1089 125,055 1,5051 81,0036 127,081
1,5046 80,3403 125,554 1,5052 81,0505 127,183
1,5051 81,0055 127,085 1,5063 82,1899 129,774
1,5055 81,269 127,658 1,5058 81,7933 128,907
3% 3H 4% 5H
1,505 80,9275 126,916 1,5065 82,2796 129,97
180º 0º
1,5051 80,9638 126,995 1,5059 81,8768 129,089
1,5051 80,9735 127,016 1,5057 81,712 128,729
1,5066 82,3586 130,142 1,507 83,0888 131,871
1,506 81,9385 129,224 1,5071 83,2126 132,144
4% 3H 5% 5H
1,5059 81,9075 129,156 1,5073 83,3349 132,413
180º 0º
1,5057 81,7621 128,838 1,5071 83,2019 132,12
1,5061 82,0244 129,412 1,5073 83,5279 132,838
1,5071 83,2216 132,163
1,5075 83,501 132,779 Desvio Padrão de Um = 0,0014 (0,10%)
5% 3H
1,5071 83,2011 132,118 Valor médio de Um = 1,5051
180º
1,508 83,8457 133,538 Desvio Padrão de a = 1,4994 (1,85%)
1,5075 83,528 132,838 Valor médio de a = 81,0278
Desvio Padrão de β = 3,4159 (2,69%)
Valor médio de β = 127,1408
115

Tab. 7.2- Verificação geral da estabilidade dos parâmetros de um varistor degradado.


VARISTOR DEGRADADO
Parâmetro Um a β Parâmetro Um a β
1,6241 283,3630 520,4050 1,6272 288,8100 530,6630
1,6170 273,9050 503,4310 1% 5H 1,6247 285,2870 524,3080
0H 1,6256 285,3330 523,9270 0º 1,6253 286,0730 525,7270
1,6246 284,0290 521,5970 1,6266 287,9400 529,0970
1,6251 284,6890 522,7770 1,6249 285,5830 524,8430
1,6261 287,2600 527,8700 1,6249 286,1820 526,2270
1,6270 288,5570 530,2090 1,6266 288,4820 530,2910
1% 3H 2% 5H
1,6244 284,8040 523,4360 1,6261 287,7820 529,0080
180º 0º
1,6276 289,4130 531,7500 1,6262 288,0350 529,5350
1,6278 289,6800 532,2330 1,6258 287,3180 528,1660
1,6250 286,2710 526,2670 1,6275 290,5710 534,3630
1,6257 287,1900 527,9350 1,6258 288,2250 530,2990
2% 3H 3% 5H
1,6259 287,5020 528,5010 1,6265 289,2220 531,9820
180º 0º
1,6255 286,8880 527,3870 1,6260 288,3510 530,3600
1,6249 286,2100 526,3480 1,6272 290,0700 533,4140
1,6265 287,0670 531,5880 1,6262 289,5800 533,0230
1,6277 290,7290 534,6560 1,6292 294,0120 540,9700
3% 3H 4% 5H
1,6291 293,0000 538,7430 1,6287 293,1310 539,2620
180º 0º
1,6252 287,3640 528,6340 1,6280 292,2490 537,8660
1,6279 291,3530 535,9510 1,6274 291,3530 536,2750
1,6295 294,5500 541,9640 1,6270 292,0410 538,2410
1,6262 289,6410 533,2060 1,6272 292,4300 537,9360
4% 3H 5% 5H
1,6289 293,6580 540,4050 1,6263 290,7090 535,6440
180º 0º
1,6274 291,3920 536,3430 1,6272 292,1730 538,2910
1,6263 289,7090 533,2920 1,6260 290,3270 534,8960
1,6266 291,1340 536,3940
1,6268 291,6000 537,3060 Desvio Padrão de Um = 0,0018 (0,11%)
5% 3H
1,6270 291,9950 538,1050 Valor médio de Um = 1,6263
180º
1,6276 292,8190 539,4800 Desvio Padrão de a = 3,4293 (1,19%)
1,6256 289,7570 533,8900 Valor médio de a = 288,8509
Desvio Padrão de β = 6,6281 (1,25%)
Valor médio de β = 531,3585

As análises realizadas mostram que a metodologia de avaliação de varistores


proposta por meio da análise da variação paramétrica sofre pouca influência do conteúdo
harmônico na tensão, diferente das metodologias utilizadas pelas concessionárias de
energia elétrica.

7.3.3 Influência da amplitude da tensão de rede na avaliação dos


varistores
O programa apresentado anteriormente (vide Fig7.1) foi também utilizado para
avaliar o comportamento da corrente de fuga para os varistores novo e degradado com base
116

na variação da amplitude da tensão aplicada. As Fig.7.9 e Fig.7.10 apresentam o


comportamento da THD, componente fundamental, terceira e quinta harmônicas dos
varistores novo e degradado [25], para uma variação da amplitude da tensão aplicada entre
0,95 e 1,05 p.u. Os resultados mostram que a THD, assim como as componentes da
corrente resistiva sofrem alterações, que se elevam com o aumento da amplitude da tensão
de alimentação aplicada aos varistores. As mudanças ocorridas são explicadas com base
nas próprias curvas características dos varistores, uma vez que a resposta de um varistor é
tanto mais linear quanto menor for o nível de tensão. Assim, na medida em que o nível
máximo da tensão aplicada é elevado, a resposta da corrente contém componentes
harmônicas com maior amplitude. É importante observar que, em valor absoluto, a
componente fundamental é a que sofre maior incremento na tensão 1,05 p.u. quando
comparada à de 0,95 p.u. No caso do varistor novo o acréscimo é de aproximadamente
10µA para a componente fundamental, e de 3µA e 0,4µA para as de terceira e quinta
ordem, respectivamente. E, no caso do varistor degradado o aumento para a componente
fundamental é de aproximadamente 20µA, e de 8µA e 0,9µA para as de terceira e quinta
ordem, respectivamente.

THD [%] Fund [µA]


18 58
17 55
52
16
49
15
46
14 43
U [p.u.] U [p.u.]
13 40
0,94 0,96 0,98 1 1,02 1,04 1,06 0,94 0,96 0,98 1 1,02 1,04 1,06

3a H [µA] 5a H [µA]
9,5 0,9
9,0
0,8
8,5
8,0 0,7
7,5 0,6
7,0
0,5
6,5
U [p.u.] U [p.u.]
6,0 0,4
0,94 0,96 0,98 1 1,02 1,04 1,06 0,94 0,96 0,98 1 1,02 1,04 1,06

Fig.7.9 - Alterações na THD, na fundamental e nas terceira e quinta harmônicas da


componente resistiva da corrente de fuga do varistor novo com a variação da amplitude da
tensão de alimentação (senoidal pura).
117

THD [%] Fund [µA]


35,5 75

35,0 70
65
34,5
60
34,0
55
33,5 50
U [p.u.] U [p.u.]
33,0 45
0,94 0,96 0,98 1 1,02 1,04 1,06 0,94 0,96 0,98 1 1,02 1,04 1,06

3a H [µA] 5a H [µA]
25 2,0

23 1,8
21 1,6
19 1,4
17 1,2
U [p.u.] U [p.u.]
15 1,0
0,94 0,96 0,98 1 1,02 1,04 1,06 0,94 0,96 0,98 1 1,02 1,04 1,06

Fig.7.10 - Alterações na THD, na fundamental e nas terceira e quinta harmônicas da


componente resistiva da corrente de fuga do varistor degradado com a variação da
amplitude da tensão de alimentação (senoidal pura).

A Fig.7.11 apresenta a comparação das variações percentuais da THD, componente


fundamental, terceira e quinta harmônicas dos varistores novo e degradado [25] para a
variação da amplitude da tensão aplicada entre 0,95 e 1,05 p.u. A variação percentual é
determinada com referência aos valores obtidos em 1 p.u. Nota-se que a THD do varistor
novo é mais influenciada pelo valor da amplitude da tensão que a do degradado. Esse fato
decorre da alteração na curva característica do varistor provocada pela degradação. Apesar
da THD da componente resistiva da corrente de fuga do varistor degradado ser maior em
toda a faixa de tensão estudada, a variação percentual em relação à referência de 1 p.u. é
menos significativa quando comparada a do varistor novo. Por outro lado, apesar de menos
influenciado em termos de variação de THD em função da amplitude da tensão, um
varistor que esteja em avançado grau de degradação tem maior probabilidade de apresentar
falha na sua função de proteger o sistema elétrico devido à elevação da tensão, visto que já
opera em condição precária. Pode-se confirmar essa análise comparando o comportamento
das componentes harmônicas de terceira e quinta ordem com a componente fundamental
da corrente resistiva. Enquanto as componentes harmônicas sofrem variações próximas
para os dois varistores, a componente fundamental tem uma variação maior para o varistor
degradado. Assim, a distorção global (THD) tende a ser maior para o varistor novo. Note-
se que, apesar da análise anterior mostrar que a componente fundamental é a que tem
118

maior acréscimo, seguida pelas harmônicas de terceira e quinta ordem, em termos relativos
ocorre exatamente o contrário.

∆ THD ∆ Fund
15% 20%
10% 15%
10%
5%
5%
U [p.u.]
0% 0%
U [p.u.]
-5%0.94 0.96 0.98 1 1.02 1.04 1.06 -5%0.94 0.96 0.98 1 1.02 1.04 1.06
-10%
-10% Novo Novo
-15%
Degradado Degradado
-15% -20%

∆ 3aH ∆ 5aH
30% 50%
40%
20%
30%
10% 20%
U [p.u.] 10%
0% U [p.u.]
0%
-10%0.94 0.96 0.98 1 1.02 1.04 1.06 -10%
0.94 0.96 0.98 1 1.02 1.04 1.06
Novo -20% Novo
-20%
Degradado -30% Degradado
-30% -40%

Fig.7.11 - Variações percentuais da THD, da fundamental e das terceira e quinta


harmônicas da componente resistiva da corrente de fuga para os varistores novo e
degradado com a variação da amplitude da tensão de alimentação (senoidal pura).

A Tab.7.3 apresenta um resumo da avaliação das correntes resistivas dos varistores


novo e degradado com a variação da tensão de alimentação. São mostrados os resultados
da variação da THD e das componentes da corrente resistiva em valores absolutos e
percentuais, referentes à aplicação dos valores mínimo e máximo da tensão (0,95 e 1,05
p.u.). As variações são definidas pela diferença entre os limites máximo e mínimo.

Tab. 7.3- Variação das componentes harmônicas da corrente resistiva dos varistores novo
e degradado com a variação da tensão de alimentação.
Varistor NOVO Varistor DEGRADADO
0,95 1,05 Variação Variação (%) 0,95 1,05 Variação Variação(%)
Fundamental (µA) 44,22 54,44 10,22 23,12% 50,51 70,32 19,81 33,18%
3ª Harmônica (µA) 6,22 9,25 3,03 48,64% 16,76 24,48 7,72 46,05%
5ª Harmônica (µA) 0,46 0,88 0,42 90,33% 1,04 1,93 0,89 85,51%
THD (%) 14,11 17,07 2,96 20,98% 33,25 34,92 1,67 5,02%

Os valores apresentados na Tab.7.3 mostram, como já citado, que as componentes


fundamentais são as que sofrem maior alteração absoluta, porém, as componentes
harmônicas de ordem superior são as que têm maior variação relativa.
119

O estudo mostra a necessidade de atenção para o conhecimento do nível de tensão


da rede sob o qual está sendo realizada a medida da corrente de fuga. Apesar da
metodologia de avaliação sugerida pelo GT10 do IEC [50], que é usada como referência
para avaliação de pára-raios, mencionar somente o erro que pode ser causado pela presença
de harmônicos na tensão de rede, a variação na amplitude da tensão pode interferir na
avaliação do estado operacional do varistor de ZnO.

7.3.4 Influência da amplitude da tensão de rede na avaliação dos


varistores por meio dos parâmetros do modelo proposto
O modelo proposto é uma representação da curva característica que contempla a
tensão aplicada até o valor de ruptura. Esse valor é superior às possíveis variações na
tensão da rede de alimentação (permitidas no sistema de energia elétrica). Assim, mantidas
as condições de ensaio, não haverá mudanças na curva característica sem que haja algum
tipo de degradação. Conclui-se que avaliar a condição operacional do varistor por meio dos
parâmetros do modelo proposto também é vantajosa sob esse aspecto.

7.3.5 Influência da temperatura na avaliação dos varistores


O monitoramento dos pára-raios é feito em ambientes cujas temperaturas dependem
de fatores que não podem ser totalmente controlados, como por exemplo as condições
climáticas. Adicionalmente, nem sempre é possível proceder todas as medições em
horários de temperaturas mais homogêneas ou mais amenas, como no início da manhã,
tendo em vista a necessidade de uma mesma equipe de manutenção se deslocar para
realizar medições em locais diversos em um mesmo dia. Sabe-se então que a temperatura
irá influenciar nos valores e forma da componente resistiva da corrente de fuga dos
varistores que compõem os pára-raios.

Os dados experimentais empregados nesta avaliação foram obtidos no trabalho de


Jorge Luiz de Franco [74]. As curvas características para um mesmo varistor referentes às
diferentes temperaturas (20, 60 e 100ºC) são apresentadas na Fig.7.12. As linhas contínuas
mostram as curvas experimentais, e as tracejadas mostram as representações do modelo.
120

Fig.7.12 - Curvas características experimentais e modeladas para o varistor de ZnO nas


temperaturas: ambiente (20ºC), 60ºC e 100ºC.

A Fig.7.13 mostra as formas de onda da componente resistiva da corrente de fuga


do varistor, aplicando as curvas características modeladas da Fig.7.12 no programa de
avaliação do conteúdo harmônico com a tensão de alimentação igual a 1 p.u. Como
esperado, a amplitude da corrente se eleva com o aumento da temperatura. Isto reforça a
necessidade de que o diagnóstico feito por meio da medição da amplitude da componente
resistiva da corrente de fuga seja realizado necessariamente em temperaturas semelhantes.
Ou, de forma alternativa, que seja aplicado algum mecanismo de compensação na leitura
da corrente para ajustá-la a uma temperatura de referência.

600 u (t) [1pu]


ir_amb(t) [uA]
400
ir_60C(t) [uA]
200 ir_100C(t) [uA]

t [mA]
0
0 5 10 15 20 25 30 35
-200

-400

-600

Fig.7.13 - Componente resistiva da corrente de fuga para o varistor nas temperaturas de


20ºC, 60ºC e 100ºC.
121

O conteúdo harmônico total (THD), a amplitude da componente fundamental, e as


componentes harmônicas de terceira e quinta ordem das formas de onda são apresentados
na Tab.7.4. Constata-se uma redução do conteúdo harmônico na medida em que a
temperatura se eleva. Para o caso apresentado, a THD para 100ºC é de 9,69%, cerca de
70% inferior quando comparada com a THD de 16,61% verificada para a temperatura
ambiente (20º). Embora os valores absolutos se elevem, o decréscimo também é observado
nas componentes harmônicas de terceira (71%) e quinta ordem (65%) em termos relativos.
A avaliação do conteúdo harmônico reforça a necessidade do diagnóstico ser feito
mediante um referêncial único de temperatura. Essa informação deve ser levada em conta
para as metodologias que empregam o espectro harmônico da corrente de fuga como
referencial de avaliação das condições operacionais do varistor de ZnO.

Tab. 7.4- Variação do conteúdo harmônico com a mudança de temperatura do varistor.


Temperatura
THD Fundamental 3ª harmônica 5ª harmônica
operacional
20ºC 16,61% 48,35 µA 7,96 µA 16,46% 1,08 µA 2,23%
60ºC 13,08% 96,90 µA 12,55 µA 12,95% 1,73 µA 1,79%
100ºC 9,69% 218,28 µA 20,93 µA 9,59% 2,94 µA 1,35%

7.3.6 Influência da temperatura na variação dos parâmetros do modelo


Como o varistor em funcionamento normal opera na chamada região de baixas
correntes, fortemente influenciada pela temperatura, necessita-se fazer uma análise da
metodologia proposta de avaliação de varistores por meio da variação paramétrica do
modelo.

A avaliação da sensibilidade e representatividade do modelo proposto para com a


mudança de temperatura foi feita inicialmente no Capítulo 6, Seção 6.5.1. Foram utilizadas
as curvas características para as temperaturas ambiente (20ºC), de 60º e de 100ºC obtidas
na referência [74]. Os parâmetros (a, β e Um) que representam as curvas por meio do
modelo proposto para essas situações são reapresentados na Tab.7.5. Verifica-se que, com
a elevação da temperatura, os parâmetros do modelo sofrem alterações significativas.
Porém, Um tem uma variação máxima de 1,5% e β entre 20ºC e 60ºC de 3,5%. Assim, se a
temperatura do varistor ficar abaixo de 60ºC, espera-se que o parâmetro β não tenha
122

variação significativa com a temperatura. O parâmetro que varia seguramente com a


temperatura é o a. Pode-se também por meio de informações coletadas em medições em
condições térmicas controladas gerar um histórico de acompanhamento do equipamento
para diferentes temperaturas. Com uma quantidade maior de informações é possível
verificar a relação entre a mudança dos parâmetros e a da temperatura, proporcionando
diagnósticos mais apropriados.

Tab. 7.5- Variação dos parâmetros Um, a e β com a mudança de temperatura do varistor.

Temperatura Parâmetros do Modelo


operacional Um a β
Ambiente 1,2395 34,9154 48,3793

60ºC 1,2300 53,1545 46,7123


100ºC 1,2216 85,4672 0,3291

Na Tab.7.5, o decréscimo no valor do parâmetro Um mostra que, na medida em que


a temperatura aumenta, a corrente de fuga se eleva. Esse comportamento é compatível com
a predominância da condução termiônica para a região de pré-ruptura, assim como
explicitado no Capítulo 3. Os parâmetros a e β também sofrem alteração, porém, tendo
comportamentos distintos entre si. Enquanto o parâmetro a aumenta fazendo com que a
curva característica gerada pelo modelo se adapte às condições experimentais seguindo a
tendência da degradação, o parâmetro β praticamente se anula para temperaturas elevadas.
Presume-se que esse decrescimento acentuado de valor assumido pelo parâmetro β seja
pelo fato de que, se a condução termiônica já é preponderante à imposta pelo campo
elétrico na região de pré-ruptura, em situações onde a temperatura é elevada esse efeito é
ainda mais significativo. Como o parâmetro β está presente no modelo para um ajuste na
corrente devido ao nível de tensão aplicado, na medida em que a temperatura se eleva, sua
influência se torna menor. O interessante é que a variação paramétrica do modelo com a
temperatura é distinta da degradação, onde todos os parâmetros aumentam seus valores de
maneira mais significativa (vide Tab.6.8) Obviamente, para a consolidação desta conclusão
seria necessário estudar mais casos.
123

7.4 Considerações Gerais

Os resultados obtidos para a incorporação do modelo proposto aos métodos de


avaliação de varistores de ZnO que utilizam a corrente de fuga se mostram promissores.
Além disso, agrega-se precisão e simplicidade, pois a avaliação passa a não depender de
curvas padões para cada tipo de equipamento. Pela leitura da tensão e corrente do varistor
em operação se estabelece a curva característica usando o modelo, com parâmetros
próprios para aquele equipamento, e a partir desses dados o equipamento passa a ser
avaliado. Na metodologia proposta, o diagnóstico do varistor é feito diretamente por meio
da avaliação da variação dos parâmetros do modelo. Para os dados experimentais dos
varistores disponíveis, os resultados obtidos levam à conclusões semelhantes as dos
métodos tradicionais.

O conteúdo harmônico presente na tensão aplicada aos varistores influencia


significativamente a componente resistiva da corrente de fuga. Nos métodos tradicionais
que usam a componente resistiva, essa distorção deve ser anulada por meio de
compensação dos harmônicos de rede. Caso contrário, o diagnóstico pode não
corresponder a realidade. Os efeitos dos harmônicos de rede são constatados tanto na
amplitude quanto na forma de onda da componente resistiva. Assim, o valor da corrente e
seu espectro harmônico são significativamente alterados se comparados com a medida feita
com o varistor alimentado por um sistema com tensão senoidal pura. Nesse aspecto, a
metodologia proposta tem a vantagem de não sofrer influência considerável da presença de
componentes harmônicas na tensão de alimentação.

A temperatura é um fator que altera significativamente a componente resistiva da


corrente de fuga na região de baixas correntes, na qual se pocede o diagnóstico. A mudança
da temperatura implica em alteração da forma de onda da corrente resistiva, fazendo com
que a amplitude e o conteúdo harmônico sejam alterados. Assim, qualquer avaliação que
tenha como base a corrente resistiva deva prever um mecanismo de ajuste da temperatura
operacional com relação a uma referência pré-estabelecida. Com a metodologia proposta,
verificou-se que os resultados da variação paramétrica do modelo tem um comportamento
diferente de quando o varistor sofre degradação.

O outro fator estudado foi a influência da amplitude da tensão do sistema.


Constatou-se que ocorre alteração na forma de onda da corrente de fuga, dificultando as
124

avaliações. No que se refere à metodologia de avaliação da vida útil de varistores proposta,


as alterações na amplitude da tensão não provocaram variações significativas nos
parâmetros do modelo.

Por fim, é necessário um trabalho mais intensivo, sobretudo no que se refere à


coleta de dados, para uma validação e consolidação da metodologia proposta de avaliação
de pára-raios.
8
8 CONCLUSÕES GERAIS E PROPOSTAS DE
CONTINUIDADE

8.1 Conclusões

Apesar de uma aparente simplicidade, os pára-raios possuem sua importância no


sistema elétrico de energia. O desenvolvimento tecnológico levou à substituição dos
antigos pára-raios de SiC pelos de ZnO. A mudança tornou possível a avaliação da vida
útil desses equipamentos por meio da corrente de fuga, visto que a corrente de fuga passou
a ser de baixa amplitude, eliminando a necessidade da utilização de centelhadores em série
com os varistores.

Dentro das limitações de um trabalho dentro da Engenharia Elétrica, os fenômenos


que regem o funcionamento dos blocos varistores que compõem o pára-raios foram
apresentados sob os enfoques micro e macroestrutural. Em operação, o varistor é
dependente da tensão em todas as regiões de operação, com comportamento altamente não-
linear após a tensão de ruptura. A partir desse valor de tensão, o processo conhecido por
tunelamento permite o escoamento da corrente de forma a manter a tensão praticamente
estabilizada em um valor previamente determinado. A temperatura afeta significativamente
o comportamento do varistor na região de pré-ruptura, sendo que a condução nessa região
está associada à emissão termiônica do tipo Schottky. Quando o varistor é submetido a
uma tensão superior à tensão de ruptura, a influência da temperatura no processo de
condução elétrica é desprezível. Esse fato pode colaborar na utilização da metodologia de
avaliação de pára-raios proposta no que se refere à monitoração do parâmetro Um, que não
apresentou uma grande variação com a temperatura, mas sim com a degradação.

No monitoramento dos pára-raios de ZnO são aplicadas basicamente as técnicas da


medição termográfica e da corrente de fuga. A medição termográfica ainda se apresenta
126

como a técnica mais empregada nas empresas que atuam no setor elétrico brasileiro, por
motivos como a maior confiança devido à experiência acumulada, e também pelo grande
número de pára-raios de SiC ainda existentes (em que a medição da corrente de fuga não é
aplicável). Outro motivo que limita a avaliação por meio da corrente de fuga é o elevado
custo dos instrumentos para diagnóstico por meio dessa técnica. Dentre as técnicas atuais
que utilizam diretamente a corrente de fuga para análise do nível de degradação dos pára-
raios que utilizam varistores de ZnO, a que utiliza a terceira harmônica da componente
resistiva associada à compensação dos harmônicos de tensão do sistema é considerada
como a mais confiável.

Os modelos elétricos dos varistores e/ou dos pára-raios apresentados na literatura


possuem méritos e dificuldades. Análises feitas sobre as curvas típicas de varistores
conduziram à proposição de uma modelagem por meio da função de Langevin. Com os
testes realizados na aplicação direta da função de Langevin foi constatado que a tendência
de representação é correta, mas que havia a necessidade de ajuste na formulação. Assim,
foi incorporado um novo parâmetro β que modifica a corrente resistiva dos varistores por
meio de uma contribuição proporcional à tensão instantânea aplicada. Para a obtenção dos
conjuntos de parâmetros do modelo (Um, a, e β) que melhor representassem as curvas
disponíveis foram desenvolvidos programas que associam técnicas de busca com lógica
sequencial e conceitos de algoritmo genético. As curvas características provenientes dos
conjuntos encontrados para varistores representaram de forma adequada as suas curvas
experimentais.

Foram desenvolvidos os modelos direto e inverso, que podem ser utilizados tendo a
informação da componente resistiva da corrente de fuga ou da tensão aplicada. O modelo
direto é interessante de ser utilizado quando se analisa o pára-raios sob corrente imposta.
Quando a tensão é imposta, a corrente passa a ser a variável dependente e se utiliza o
modelo inverso. Os dois modelos, direto e inverso, foram testados com sucesso para as
curvas experimentais disponíveis.

O modelo proposto pode ainda ser aplicado como uma ferramenta de avaliação da
vida útil de pára-raios por meio do monitoramento da variação dos três parâmetros. Os
resultados obtidos para a incorporação do modelo proposto como método de avaliação de
varistores de ZnO pela corrente de fuga em função da tensão aplicada são promissores.
127

Além disso, agrega-se precisão e simplicidade, pois a avaliação passa a não depender de
curvas padrões para cada tipo de equipamento. Na metodologia proposta, o diagnóstico do
varistor é feito diretamente por meio da avaliação da variação dos parâmetros do modelo.
Os resultados obtidos nos testes realizados com o modelo levaram à conclusões
semelhantes as dos métodos tradicionais. Informações obtidas sobre o comportamento da
corrente resistiva e suas componentes harmônicas com base nas alterações da tensão de
alimentação e temperatura operacional podem auxiliar na avaliação e compreensão do
comportamento dos varistores.

A temperatura é um fator que altera significativamente a componente resistiva da


corrente de fuga na região de baixas correntes, na qual se procede o diagnóstico. A
mudança da temperatura implica em alteração da forma de onda da componente resistiva
da corrente de fuga, fazendo com que a amplitude e o conteúdo harmônico sejam alterados.
Assim, avaliações que tenham como base a corrente resistiva devem prever algum
mecanismo de ajuste dos valores obtidos em temperatura operacional com relação a uma
referência pré-estabelecida. Na metodologia proposta, verificou-se que a variação
paramétrica é distinta da variação quando o varistor está degradado.

Os efeitos dos harmônicos e da variação na amplitude da tensão de rede sobre a


componente resistiva da corrente de fuga dos varistores disponíveis foram avaliadas.
Foram constatadas alterações na amplitude e na forma da componente resistiva da corrente
de fuga. O valor da corrente e seu espectro harmônico são significativamente alterados se
comparados com a medida feita com o varistor sendo alimentação por um sistema com
tensão senoidal pura. Assim, técnicas de compensação são necessárias para que os métodos
tradicionais de avaliação possam identificar corretamente a condição operacional dos
blocos varistores. Nesse aspecto, a metodologia proposta tem a vantagem de não sofrer
influência significativa da presença de componentes harmônicas e das variações na
amplitude da tensão de alimentação.

8.2 Propostas de continuidade

A título de sugestão, seguem algumas propostas de trabalhos de continuidade. O


modelo e a metodologia propostos estão sendo apresentados como uma alternativa aos
métodos tradicionais de representar e avaliar os varistores e pára-raios de ZnO. Assim,
128

novos trabalhos teóricos e experimentais devem ser feitos para a consolidação dos
conceitos aqui apresentados.

1. Testar o modelo proposto para mais varistores mediante parceria técnica


com empresa no setor de energia elétrica;

2. Melhorar as técnicas e/ou as metodologias para obtenção dos parâmetros do


modelo;

3. Ampliar os estudos sobre os mecanismos de condução da corrente de fuga


dos varistores;

4. Avaliar se o varistor de óxido de zinco tem comportamento ferroelétrico. E,


sendo confirmado este comportamento, avaliar a influência da orientação
dos dipolos elétricos na corrente de resposta do varistor;

5. Desenvolvimento de uma metodologia que utilize somente a corrente de


fuga para a separação das componentes resistiva e capacitiva, ou seja que
dispense a medição da forma de onda da tensão;

6. Aplicar o modelo de varistor desenvolvido em modelos completos dos pára-


raios;

7. Desenvolver estudos mais específicos sobre os sensores de corrente para a


medição da corrente de fuga do pára-raios de ZnO.
9
9 APÊNDICE 1 – SENSOR DE CORRENTE –
BOBINA DE CHATTOCK/ROGOWSKI

9.1 Introdução

Durante a execução deste trabalho foram feitos ensaios pára-raios usando a técnica
de medição que aplica um dispositivo denominado de bobina de Rogowski. Esse sensor
está sendo estudado em um trabalho paralelo, no Grupo de Análise e Concepção de
Dispositivos Eletromagnéticos – GRUCAD da Universidade Federal de Santa Catarina –
UFSC, no trabalho de mestrado do engenheiro Maurício Rigoni. Como será descrito na
continuidade deste anexo o fato do sinal de tensão estabelecido nos terminais da bobina de
Rogowski corresponder à derivada da corrente enlaçada pela mesma traz consigo uma
vantagem na tarefa de avaliar o pára-raios de ZnO por meio do seu conteúdo harmônico.

Devido a sua característica altamente não-linear, a corrente de fuga do pára-raios


possui uma elevada taxa de distorção harmônica. Esse conteúdo harmônico é modificado
na medida em que os varistores que compõem o pára-raios se degradam. Assim, existem
técnicas que levam em consideração as alterações ocorridas nesse conteúdo harmônico
para diagnosticar possíveis danos aos varistores. Em suma, a elevação do conteúdo
harmônico, sobretudo das componentes de terceira e quinta ordens, pode mostrar que os
varistores sofreram degradação.

Na tensão induzida nos terminais da bobina de Rogowski ocorre uma amplificação


natural das componentes harmônicas proporcional à sua ordem. Esse fato decorre da sua
natureza diferencial da tensão induzida. Nas seções seguintes serão tratados alguns
aspectos desse sensor, tendo como fonte de desenvolvimento prático o trabalho de
mestrado do engenheiro Maurício Rigoni.
132

9.2 Histórico

Em 1887, o professor Chattock da universidade de Bristol utilizou um enrolamento


longo e flexível como um potenciômetro magnético para medir relutância de circuitos de
ferro a fim de investigar configurações mais eficientes para dínamos. Em 1912, Rogowski
e Steinhaus comprovaram sua aplicação como técnica de medição de potencial magnético
em inúmeros experimentos. Em 1975, a Central Electricity Generating Board, em
Harrogate, investigou a bobina de Rogowski como forma de medir correntes em que os
métodos convencionais eram impróprios para utilização na indústria em circuitos de
potência. A tecnologia posterior foi desenvolvida para proporcionar alta precisão,
confiança e robustez ao sistema de medição com a bobina de Rogowski [9, 81].

Com princípio de funcionamento relativamente simples, o sensor de corrente que


utiliza a bobina de Rogowski se caracteriza por ser um transdutor de corrente baseado na
“Lei Circuital de Ampère”. A tensão disponível em seus terminais possui informações
relativas à derivada da corrente do condutor enlaçado pela bobina. Por esse motivo, quando
o valor instantâneo da corrente é desejado se deve integrar o sinal de tensão medido nos
terminais da bobina [9, 81].

9.3 Princípio de funcionamento

Posicionando-se a bobina de Rogowski ao redor de um condutor percorrido por


uma corrente elétrica o campo magnético criado pela corrente induz nos seus terminais
uma tensão proporcional à variação temporal da corrente. Há dois fenômenos físicos
envolvidos que são descritos pela Lei de Ampère e pela Lei de Faraday. Os dois
fenômenos são interligados pelo campo magnético: a corrente gera um campo magnético e
esse possui linhas de fluxo magnético atravessando as espiras da bobina. O caminho
escolhido para a aplicação da Lei de Ampère não interfere no valor da circulação do campo
magnético, sendo esse sempre proporcional à corrente que atravessa a área enlaçada pela
bobina. O fato de utilizar núcleo de ar garante à bobina uma função de transferência linear
em um amplo espectro de frequência, limitado pelas capacitâncias parasitas próprias da
bobina.

A tensão induzida nos terminais da bobina de Rogowski pode ser determinada


como descrito por Bastos [84], e reproduzido a seguir. A Fig.9.1 ilustra a aplicação da Lei
133

de Ampère. Nela, uma bobina de Rogowski envolve um condutor através do qual passa
uma corrente variável no tempo i(t).

Fig.9.1 - Aplicação da Lei de Ampère [10, 81].

A Equação 9.1 mostra que para uma bobina de comprimento médio Cm, com um
total de espiras N, dividida em NL parcelas de comprimento igual à ( dl = C m / N L ), cada
parcela possui ne espiras.

N
ne = dl . (9.1)
Cm

Para se calcular a força eletromotriz induzida na parcela dl da bobina, avalia-se o


fluxo magnético que atravessa sua seção transversal, como mostrado na Fig.9.2.

Fig.9.2 - Parcela dl da bobina [10, 81].

O fluxo concatenado pelas ne espiras é determinado pela Equação 9.2, em que µ0


corresponde à permeabilidade magnética do ar, Sb à área transversal da bobina, e Hx à
componente de campo magnético efetivo para a geração de fluxo magnético.
134

φ = ne µ 0 H x S b . (9.2)
r
Pode-se escrever o campo Hx como sendo o produto escalar entre o campo H e o
r r
vetor unitário u na direção perpendicular à área das espiras. Sendo dl o vetor relativo à
r r
parcela dl da espira e na direção da mesma ( dl = dl .u ) se obtém, então, a relação dada
pela Equação 9.3:

r
r r r  dl 
Hx = H .u = H .  . (9.3)
 dl 

Associando as equações 9.2 e 9.3 chega-se à Equação 9.4. A componente Hy estará


em paralelo com as espiras, não contribuindo para a geração de tensão induzida por não
atravessar as espiras.

r
r dl
φ = ne µ 0 H x S b = ne µ 0 H S b . (9.4)
dl

Para o cálculo da força eletromotriz induzida na bobina devido ao fluxo total


concatenado φt todas as espiras devem ser levadas em consideração, o que conduz à
Equação 9.5.

n e µ0 S b r r
φt =
dl
∑ m dl m .
H
m =1 ,N L
(9.5)

O somatório na Equação 9.5 colocado sob forma infinitesimal é dado pela Equação
9.6, que com a Lei de Ampère resulta na Equação 9.7. Aplicando a Equação 9.1 em 9.7,
tem-se a Equação 9.8.

ne µ 0 S b r r
φt =
dl ∫ .dl .
Cm
H (9.6)

ne µ 0 S b
φt ( t ) = i( t ) . (9.7)
dl

N µ0 S b
φt ( t ) = i( t ) . (9.8)
L
135

Sabendo-se que a força eletromotriz induzida na bobina é dada pela Equação 9.9,
pode-se escrever a Equação 9.10, a qual determina, em módulo, o valor da tensão induzida
nos terminais da bobina de Rogowski.

dφ t ( t )
f .e.m. = e( t ) = − . (9.9)
dt

dφ t ( t ) N µ 0 S b di( t )
e( t ) = − =− . (9.10)
dt Cm dt

Finalmente, integrando-se a expressão da tensão induzida 9.10 no tempo, obtém-se


a Equação 9.11. Essa equação determina a corrente que circula pelo condutor enlaçado pela
bobina de Rogowski.

Cm
Nµ 0 S b ∫
i( t ) = e( t )dt . (9.11)

9.3.1 A bobina de Rogowski


Como apresentado anteriormente, a tensão induzida nos terminais da bobina é
dependente das características físicas da bobina e da variação temporal da corrente. O
intento de se utilizar a bobina de Rogowski foi para ser utilizada em medição de correntes
de amplitudes baixas e também de frequências distintas [9, 10, 12].

A indutância mútua ( M ) entre a bobina e o condutor é dada pela Equação 9.12 e


corresponde ao ganho de tensão para a bobina [84]. Assim, para correntes de baixa
amplitude, como no caso da corrente de fuga de pára-raios, procura-se aumentar tanto
quanto possível o número de espiras, a área da seção transversal da bobina e diminuir o
comprimento da mesma. No cálculo são desprezados os erros nos parâmetros geométricos
da bobina, e os causados por possíveis não homogeneidades na forma geométrica da
mangueira [10].

N µ Sb
M= . (9.12)
Cm

A confecção da bobina de Rogowski utilizou como núcleo uma mangueira de


material flexível não magnético, sendo enrolada com o auxílio de um torno mecânico com
136

avanço programável. Assim, construiu-se um enrolamento uniforme, praticamente sem


falhas ou sobreposição de espiras [10]. A Fig.9.3 apresenta uma das etapas da construção.
Pode-se observar à esquerda a mangueira usada como molde e à direita o enrolamento
sendo desenvolvido. Essa mangueira é revestida de um material, no caso uma malha de
algodão, para evitar que as espiras se desloquem com o manuseio da bobina [10].

Fig.9.3 - Detalhe do desenvolvimento da bobina protótipo, com núcleo de ar,


confeccionada em um torno com avanço programável [10].

O enrolamento da bobina sendo feito de forma helicoidal, mesmo com uma


inclinação pequena ao longo do suporte, cria uma espira equivalente no plano longitudinal
formado pela bobina. Qualquer fluxo magnético com componente normal a essa espira irá
induzir uma pequena tensão de erro. Para suprimir, ou ao menos minimizar esse efeito, o
retorno do fio da extremidade final do toróide é feito por dentro do suporte da bobina, em
sentido contrário ao enrolamento [85] como mostra a Fig.9.4.

Fig.9.4 - Enrolamento da bobina de Rogowski.

As características físicas da bobina construída são apresentadas na Tab.9.1.


137

Tab. 9.1- Características da bobina protótipo [11].

N [espiras] S [m2] Cm [m] M [H]


3626 4,91x10-4 0,95 2,35x10-6

9.3.2 Sistema de medição


Sendo a bobina confeccionada com núcleo de ar, para evitar efeitos indesejados de
não-linearidades, a indutância mútua da bobina é relativamente pequena. Como já
mencionado, a indutância é o ganho da bobina. Assim, por exemplo, para essa bobina,
quando uma corrente senoidal de 60Hz com valor de pico de 50mA se tem uma tensão de
pico de cerca de 45µV em seus terminais. Os ruídos presentes no ambiente de medição têm
amplitudes superiores à tensão induzida nos terminais da bobina. Esse fato exige que se
utilizem amplificadores de instrumentação com cuidados adicionais no circuito eletrônico
de pré-amplificação do sinal.

Os amplificadores de instrumentação de precisão permitem atenuar os efeitos dos


ruídos de modo comum (aqueles que estão presentes em ambos os terminais da bobina),
além de amplificar o sinal com ganhos de até dez mil vezes, tendo nominalmente uma não-
linearidade máxima em amplitude de 0,1% [86]. Porém, o ganho elevado restringe a faixa
linear do amplificador de instrumentação em termos de frequência. No caso do
amplificador utilizado neste trabalho, para um ganho de 1000 vezes, a faixa linear é até
1kHz [86]. Por outro lado, devido ao princípio de funcionamento da bobina de Rogowski,
a amplitude do sinal de saída da bobina aumenta proporcionalmente com o aumento da
frequência, não necessitando de valores de ganho elevados para o amplificador de
instrumentação se essa fosse utilizada em frequência superior à 1kHz.

Após o estágio de pré-amplificação, o sinal é adquirido por uma placa da National


Instruments onde são definidos outros ganhos, a taxa de amostragem e o número de pontos
adquiridos. A sequência do processamento do sinal é realizada por um programa
computacional, ajustando e adequando o sinal com os ganhos envolvidos. Esse sinal
resultante dos estágios anteriores é integrado. O sinal na saída do integrador corresponde à
corrente elétrica que atravessa o condutor enlaçado pela bobina. Podem-se obter os valores
de pico, eficaz e a frequência da corrente. Adicionalmente, são realizadas análises
harmônicas dos sinais obtidos antes e após a integração.
138

O sistema completo é apresentado em forma de diagrama de blocos na Fig.9.5,


contendo a bobina sensora, o circuito de tratamento analógico, sistema de aquisição de
dados e processamento digital.

Fig.9.5 - Diagrama de blocos do sistema de medição [10].

O programa computacional desenvolvido para o tratamento do sinal obtido com a


bobina tem uma interface amigável e permite rápido acesso às informações desejadas.
Também é possível monitorar e salvar informações em tempo real de qualquer sinal que se
esteja mensurando. A Fig.9.6 mostra a interface de usuário do programa desenvolvido [10].

Fig.9.6 - Interface do programa desenvolvido para tratamento do sinal da bobina de


Rogowski e apresentação dos resultados.
139

9.3.3 Determinação experimental da indutância mútua da bobina

A precisão da bobina está diretamente relacionada com a indutância mútua entre


essa e o condutor por ela envolvido. A falta de homogeneidade nas características físicas
da bobina influenciam no valor da indutância, tal como variações da seção transversal do
toróide. Foram feitos ensaios em um laboratório com isolamento de campos
eletromagnéticos externos para testar a precisão do protótipo. Nestes ensaios, correntes
senoidais impostas foram medidas com o sistema. Por meio dos valores dessas medições
foi possível obter uma relação da diferença entre a indutância mútua calculada, segundo a
Equação 9.12 e por meio dos resultados experimentais.

A corrente utilizada nessas medições tem a forma da Equação 9.13, em que Ip é o


valor de pico da corrente e f é a sua frequência.

i( t ) = I p .sen ( 2πft ) . (9.13)

A tensão induzida na bobina, dada na Equação 9.10, é proporcional a derivada da


corrente medida, Equação 9.14.

di( t )
= I p 2πf cos( 2πf t ) . (9.14)
dt

Aplicando a Equação 9.14 na 9.10 e isolando a indutância mútua M, tem-se a


Equação 9.15.

e( t )
M= . (9.15)
I p 2πf cos( 2πf t )

Pode-se escrever a Equação 9.15 em termos de valores eficazes como apresentado


em 9.16, em que eef é a tensão eficaz induzida nos terminais da bobina para uma corrente
eficaz ief atravessando seu circuito amperiano.

eef
M = . (9.16)
ief 2πf

A Fig.9.7 apresenta a curva da diferença relativa da indutância mútua determinada


pelos dois procedimentos. O valor obtido por meio dos parâmetros físicos é adotado como
140

referência. Nota-se que o valor relativo varia em função da amplitude da corrente eficaz
imposta. Neste ensaio, procurou-se analisar a bobina em si, livre de circuitos eletrônicos
colocados à jusante. Para poder medir a tensão induzida diretamente nos terminais da
bobina, o ensaio foi realizado em uma frequência de 1kHz. Em valores eficazes, a tensão
induzida para uma corrente de 2A é de 30mV. Por outro lado, para uma corrente de 1A, a
tensão induzida é de 15mV [10].

O nível do ruído nos ensaios estava na ordem de 5mV. Assim, quanto menor o
nível da tensão induzida, menor é a relação sinal/ruído. Esse fato explica a variação da
indutância mútua determinada experimentalmente com aquela calculada pelos parâmetros
físicos. Nota-se que com o aumento da intensidade de corrente, isto é, com o aumento da
relação sinal/ruído, a diferença da determinação da indutância mútua calculada e aquela
feita por meio de ensaio tende a ficar inferior a 1,5%. Considerando que há influências de
variações na geometria da bobina, erros de medida e influência do ambiente
eletromagnético nos ensaios, permanece uma incerteza quanto ao valor exato da indutância
mútua para essa bobina. No entanto pode-se notar pela tendência da curva que a resposta
da bobina segue para um valor de erro abaixo de 1% [10].

8%
7%
Diferença Relativa de M

6%
5%
4%
3%
2%
1%
0%
1 1,2 1,4 1,6 1,8 2
Corrente [A]

Fig.9.7 - Variação da indutância mútua medida em relação à calculada [10].

9.4 Alteração no material do núcleo

A amplitude extremamente baixa da corrente de fuga dos varistores dificulta


sobremaneira a utilização da bobina de Rogowski neste tipo de aplicação. Essas baixas
intensidades das correntes envolvidas dão origem a campos magnéticos que excitam a
bobina induzindo tensões de baixa relação sinal/ruído. Adicionalmente, a análise da
141

corrente de fuga em pára-raios é realizada em ambientes com elevadas amplitudes de


campo elétrico. Nestes ambientes, problemas de blindagem elétrica do sistema podem
implicar a indução de ruídos. Devido a esses problemas, formas inovadoras são testadas
com o objetivo de aumentar a concatenação do fluxo magnético criado pela corrente
elétrica do condutor enlaçado pela bobina de Rogowski, procurando-se manter a
característica linear da bobina sensora.

Uma forma de elevar o nível de indução no interior da bobina de Rogowski pode


ser obtida pela substituição do núcleo, originalmente de ar, por um outro com
permeabilidade magnética maior. A Equação 9.10 é então substituída pela Equação 9.17
em função da permeabilidade µ do material Equação 9.18.

N µ S b di( t )
e( t ) = − . (9.17)
Cm dt

µ = µ r . µ0 . (9.18)

9.4.1 Núcleo de silicone impregnado com pó de ferro


Uma primeira tentativa de substituição do núcleo de ar foi a realizada preenchendo
a mangueira suporte da bobina com silicone impregnado com pó de ferro. Esse teste foi
realizado para que se pudesse verificar a possibilidade de manter a flexibilidade associada
a uma maior permeabilidade magnética do núcleo. Com auxílio da equipe técnica do
laboratório de materiais da Engenharia Mecânica da UFSC foi confeccionada uma série de
núcleos tendo como base o silicone, e com diversas concentrações de ferro variando de 30
a 50%. Constatou-se, que para a maior concentração de ferro o núcleo já se tornava pouco
flexível sem, no entanto, obter melhoria na permeabilidade magnética. Esse resultado
negativo pode ser creditado ao elevado entreferro equivalente para as concentrações que
ainda mantinham a flexibilidade da bobina.

9.4.2 Núcleo de ferrite


Sem a possibilidade de utilizar o núcleo flexível, partiu-se para o teste de um
núcleo rígido tradicional. O material inicialmente utilizado foi a ferrite, com a qual se
construiu um protótipo do sensor de corrente. A bobina sensora construída é apresentada
na Fig.9.8 envolvendo o aterramento de um pára-raios.
142

O sinal fornecido pela bobina foi amplificado por meio de um circuito eletrônico
amplificador de sinais, e posteriormente capturado por uma placa de aquisição de sinais da
National Instruments®.

Fig.9.8 - Bobina com núcleo de ferrite.

A visualização do sinal adquirido e sua análise harmônica é feita usando a interface


de um programa compilado em ambiente LabVIEW® conforme mostra a Fig.9.9. À
esquerda é mostrado o sinal de tensão obtido nos terminais da bobina e amplificado pelo
circuito eletrônico, ou seja, ainda corresponde à derivada da corrente de fuga do pára-raios.
À direita é apresentado o sinal já integrado, e que corresponde efetivamente à corrente de
fuga.

Fig.9.9 - Interface do programa utilizado para aquisição de dados com os resultados


relativos à bobina com núcleo confeccionado com ferrite.
143

A Fig.9.10 apresenta em destaque a corrente de fuga do pára-raios, mostrando que o


sensor tem capacidade de monitoramento para o nível de corrente em questão.

Fig.9.10 - Detalhe da forma de onda da corrente de fuga medida com bobina com núcleo
confeccionado com ferrite.

9.4.3 Núcleo de material nanocristalino


Na mesma linha do sensor desenvolvido com ferrite se construiu um outro
utilizando uma liga de material nanocristalino. As ligas amorfas no estado nanocristalino
possuem excelentes propriedades magnéticas, superiores a das ligas convencionais, o que
torna sua utilização bastante interessante em sensores que necessitem alta permeabilidade.
O núcleo utilizado para a confecção da bobina sensora tem permeabilidade muito superior
à obtida com o material anterior, possibilitando uma concatenação de fluxo ainda melhor.
Nesse caso especificamente a permeabilidade relativa do material foi superior a cem mil
( µ r > 100000 ). O teste com o novo material foi realizado no laboratório do GRUCAD,
com o intuito de verificar se a bobina apresenta boa resposta para correntes do mesmo
nível observado em pára-raios sob avaliação. A Fig.9.11 mostra um sinal de corrente
medido pela bobina. O sinal foi obtido pelo enlace de dois condutores com correntes de
1mA de pico com frequência de 60Hz e 0,25mA de pico com frequência de 180 Hz, a fase
entre as correntes enlaçadas é de 180º. A Fig.9.12 mostra conteúdo harmônico do sinal da
corrente total medida pela bobina.
144

Fig.9.11 - Sinal de corrente medido com a bobina sensora utilizando núcleo de material
nanocristalino (i = 1mAp/60Hz + 0,25mAp/180Hz).

Fig.9.12 - Análise harmônica do sinal de corrente medido com a bobina sensora


utilizando núcleo de material nanocristalino (i = 1mAp/60Hz + 0,25mAp/180Hz).

Esse sensor se mostra capaz de detectar com precisão sinais compostos por corrente
de baixa intensidade. Na continuidade dos trabalhos, como no mestrado do engenheiro
Rigoni que envolvem medição de correntes de baixa intensidade, serão feitos teste mais
específicos para verificar sua aplicabilidade como sensor para corrente de fuga de pára-
raios de ZnO.

9.5 Análise harmônica utilizando a bobina de Rogowski

Apesar de ter um princípio simples, a bobina de Rogowski possui vantagens na


análise de correntes inerentes ao seu princípio de funcionamento, sobretudo onde o
conteúdo harmônico é significativo.
145

Uma bobina de Rogowski tem duas formas básicas de aumentar o valor da tensão
induzida em seus terminais, uma delas é pelo aumento da amplitude da própria corrente, e
a outra pelo aumento da frequência desta.

O primeiro fator explica o motivo pelo qual esse tipo de sensor é comumente
utilizado para mensurar correntes de amplitudes elevadas. O segundo tem sua justificativa
no próprio princípio de funcionamento, que é baseado na variação temporal da forma de
onda da corrente, ou seja, da sua derivada em relação ao tempo.

O sinal de tensão relativo à corrente medida por meio da bobina de Rogowski é


obtido após o estágio de integração, conforme a Equação 9.11. Entretanto, na etapa anterior
à integração, onde ainda se dispõe de um sinal relativo à derivada da corrente, todo o
espectro harmônico tem uma amplificação diretamente proporcional às suas frequências.

Essa amplificação inerente ao seu princípio de funcionamento pode ser


compreendida com o auxílio da Lei de Faraday descrevendo que a tensão induzida nos
terminais da bobina seja proporcional à taxa de variação temporal do fluxo magnético.

Quanto mais alta a ordem da componente harmônica, maior será a frequência desta
e, consequentemente, maior será a taxa de variação temporal do fluxo por ela criado. Esse
fato tem importância prática em uma das metodologias de análise proposta nesta tese,
sendo alvo de um pedido de patente [12], tendo em vista sua relevância e originalidade.

Os varistores por terem resposta não-linear produzem certo conteúdo harmônico na


componente resistiva da corrente de fuga do pára-raios. Com a degradação dos mesmos,
esse conteúdo tende a ser mais significativo na composição da corrente de fuga. Como um
dos objetivos deste trabalho é monitorar a corrente de fuga de pára-raios de ZnO, para
verificar o seu nível de degradação, e sabendo que a variação do conteúdo harmônico dessa
corrente ao longo da vida dos mesmos pode ser conclusiva na análise das condições
operativas dos blocos de ZnO, este determina um dos caminhos adotados na linha de
estudo desta tese.

Para exemplificar o exposto, apresenta-se na Fig.9.13 a análise harmônica do sinal


de saída da bobina de Rogowski obtido em um experimento. A bobina está enlaçando dois
condutores percorridos por correntes impostas simultaneamente. Uma das correntes tem a
146

amplitude de 50mA e frequência de 60Hz, e a outra possui uma amplitude de 20mA e


frequência de 180Hz. Note que a componente de 180Hz tem uma amplitude de 40% da
componente de 60Hz. Como a bobina é excitada pela totalidade das correntes enlaçadas, o
sinal medido em seus terminais corresponde à soma das duas componentes. Pode-se então
considerar que o sinal resultante é uma corrente de 50mA com frequência de 60Hz
contendo uma componente harmônica de terceira ordem com amplitude de 20mA.

Fig.9.13 - Sinal da bobina de Rogowski e espectro harmônico.

Observa-se na análise harmônica do sinal equivalente medido, realizada com


auxílio do programa DSN [87], que para 40% de componente harmônica de terceira ordem
no sinal da corrente se tem uma resposta, nos terminais da bobina de Rogowski, que
corresponde a 120% em relação à fundamental no sinal da tensão induzida. Isto comprova
uma maior sensibilidade para componentes harmônicas utilizando essa técnica. Essa
constatação também pode ser feita observando a Fig.9.6, onde as amplitudes das
componentes harmônicas da tensão medida nos terminais da bobina equivalem às
componentes harmônicas da corrente quando multiplicadas pelas respectivas ordens.

9.6 Considerações gerais

Por meio desse estudo foi possível constatar a possibilidade de aplicação do


princípio de funcionamento da bobina de Rogowski para medição de correntes elétricas
alternadas de amplitude na ordem de miliampères. O sistema desenvolvido apresentou uma
boa precisão, que ainda pode ser melhorada com o emprego de melhores técnicas de
147

confecção do enrolamento e construção da bobina, bem como com o aperfeiçoamento do


amplificador de instrumentação.

Um fator limitante desse sistema é a resposta em frequência não-linear do ganho de


tensão do amplificador de instrumentação utilizado. Isto pode ser contornado ao se
construir bobinas com maior número de espiras e/ou maior seção transversal, além de
testar novos tipos de núcleo. Essas medidas visam também aumentar a tensão induzida em
seus terminais e permitir a utilização do amplificador numa faixa de ganho linear.

Para a aplicação da medição e análise de corrente de fuga de pára-raios, a décima


primeira harmônica (660Hz) está dentro da faixa linear do amplificador de instrumentação
utilizado. Nessa aplicação, assegurando-se que o amplificador de instrumentação tenha
uma faixa linear abaixo de 1kHz, esse não se constitui em um problema grave.

Apesar disso, a necessidade de amplificação muito elevada levou a busca por


alternativas de mudança do núcleo, originalmente de ar, utilizado na bobina de Rogowski.
Os resultados obtidos para o núcleo de ferrite mostram um bom desempenho e,
considerando-se a faixa de frequência e amplitude da corrente de fuga dos varistores, não
se constatou problema com a linearidade da resposta nos terminais da bobina. No entanto,
perde-se a flexibilidade do sensor, pois se utiliza um núcleo rígido. Pode-se obter uma
significativa melhora com a utilização da liga nanocristalina no sensor de corrente. Esta
avaliação deverá ser realizada nos trabalhos de continuidade sugeridos neste trabalho.
10
10 APÊNDICE 2 – SIMULAÇÃO DOS
VARISTORES

10.1 Introdução

Sabe-se que distorções podem ocorrer nas análises que empregam os métodos
tradicionais de avaliação dos varistores por meio da corrente de fuga [25]. A análise dessas
distorções é apresentada no Capítulo 7, e mostra que a amplitude da corrente e o conteúdo
harmônico do sinal de corrente são modificadas quando a tensão possui componentes
harmônicas. Duas dessas componentes harmônicas foram motivos de avaliação neste
trabalho, a terceira e a quinta, e confirmaram suas influências sobre os resultados finais.
Por conta disso, as técnicas atualmente empregadas com base na componente resistiva da
corrente de fuga necessitam de compensação, para que se mostrem confiáveis. Testes
também foram feitos com o modelo para avaliar sua resposta com as distorções que
possam estar presentes na tensão de alimentação. As simulações realizadas, cujos
resultados são apresentados na sequência, tiveram dois objetivos básicos: testar a
sensibilidade do modelo quanto à presença de componentes harmônicas na tensão de
alimentação, e a estabilidade dos parâmetros para as simulações sob as mesmas condições
iniciais.

O primeiro teste se refere à sensibilidade ao conteúdo harmônico presente na tensão


de alimentação, e serve para confirmar a suposição de que a curva característica, sendo
uma relação direta entre a tensão aplicada e a corrente resultante, faz que qualquer
distorção presente na tensão seja refletida na corrente. Assim, como o modelo é gerado a
partir da relação entre as duas grandezas, essas distorções são canceladas. Cabe ressaltar
que essa forma de análise somente foi possível por conta dos modelos direto e inverso
desenvolvidos para a curva característica do varistor. Esses modelos permitem simular a
distorção na corrente resistiva com a inserção de componentes harmônicas na tensão de
149

alimentação, e a determinação dos parâmetros do modelo proposto fazendo a relação entre


as grandezas envolvidas, tensão e corrente.

O segundo teste se deve ao emprego do algoritmo híbrido para determinação dos


parâmetros do modelo. Para evitar a necessidade de arbitrar parâmetros iniciais, foram
utilizadas duas técnicas de busca, a do algoritmo genético e a sequencial. Na primeira etapa
do programa híbrido é determinada uma curva matematicamente próxima à curva de
referência com base no algoritmo genético, e na segunda etapa é determinada a adequação
dos parâmetros por uma sequência previamente estabelecida. Esse procedimento faz com
que o resultado final tenha maior correlação com as características físicas do varistor,
como apresentado no Capítulo 6 durante o desenvolvimento do modelo proposto.

Simulações numéricas foram realizadas com o objetivo de obter maior


compreensão acerca do comportamento dos varistores de óxido de zinco. Em cada situação
simulada foram realizadas 5 (cinco) repetições no procedimento, de modo a verificar a
reprodutibilidade dos resultados alcançados. Para cada situação operacional é apresentada a
interface do programa com uma resposta, sendo as demais apresentadas na forma de tabela.

10.2 Simulação do varistor quanto a sua condição física

As curvas características teóricas de um varistor novo e outro degradado com


tensão aplicada até 1,4 pu são apresentadas na Fig.10.1.

Fig.10.1 - Curvas características para um varistor novo e outro degradado, com tensão
aplicada de 1,4 pu senoidal (curvas da referência [25]).
150

10.2.1 Varistor Novo:


10.2.1.1 Tensão de alimentação senoidal pura.

Fig.10.2 - Tensão aplicada sem distorção e resposta em corrente para um varistor novo.

Fig.10.3 - Determinação dos parâmetros da curva característica de um varistor novo para


tensão aplicada sem distorção.

Tab.10.1 - Verificação da estabilidade dos parâmetros com resultados obtidos em outras


simulações com a mesma tensão aplicada.
Algoritmo Sequencial
Simulação
Um a β
1 1,5024 78,3969 121,1860
2 1,5030 78,7205 121,8710
3 1,5027 78,5519 121,5140
4 1,5029 78,6409 121,7020
5 1,5027 78,5410 121,4910
Valor médio 1,5027 78,5702 121,5528
Desvio Padrão 0,0002 0,1213 0,2566
Desvio percentual 0,02% 0,15% 0,21%
151

10.2.1.2 Tensão com 1% de 3a harmônica/fase 180o.

Fig.10.4 - Tensão aplicada com 1% de distorção harmônica de terceira ordem com fase
de 180 graus, e resposta em corrente para um varistor novo.

Fig.10.5 - Determinação dos parâmetros do modelo proposto para a curva característica


do varistor novo.

Tab.10.2 - Verificação da estabilidade dos parâmetros com resultados obtidos em outras


simulações com a mesma tensão aplicada.
Algoritmo Sequencial
Simulação
Um a β
1 1,5037 79,5744 123,8420
2 1,5036 79,4838 123,6480
3 1,5037 79,5608 123,8130
4 1,5034 79,3925 123,4520
5 1,5038 79,6125 123,9230
Valor médio 1,5036 79,5248 123,7356
Desvio Padrão 0,0002 0,0875 0,1874
Desvio percentual 0,01% 0,11% 0,15%
152

10.2.1.3 Tensão com 2% de 3a harmônica/fase 180o.

Fig.10.6 - Tensão aplicada com 2% de distorção harmônica de terceira ordem com fase
de 180 graus, e resposta em corrente para um varistor novo.

Fig.10.7 - Determinação dos parâmetros do modelo proposto para a curva característica


do varistor novo.

Tab.10.3 - Verificação da estabilidade dos parâmetros com resultados obtidos em outras


simulações com a mesma tensão aplicada.
Algoritmo Sequencial
Simulação
Um a β
1 1,5048 80,4743 125,8430
2 1,5054 80,8934 126,7460
3 1,5047 80,4364 125,7610
4 1,5042 80,1089 125,0550
5 1,5046 80,3403 125,5540
Valor médio 1,5047 80,4507 125,7918
Desvio Padrão 0,0004 0,2854 0,6151
Desvio percentual 0,03% 0,35% 0,49%
153

10.2.1.4 Tensão com 3% de 3a harmônica/fase 180o.

Fig.10.8 - Tensão aplicada com 3% de distorção harmônica de terceira ordem com fase
de 180 graus, e resposta em corrente para um varistor novo.

Fig.10.9 - Determinação dos parâmetros do modelo proposto para a curva característica


do varistor novo.

Tab.10.4 - Verificação da estabilidade dos parâmetros com resultados obtidos em outras


simulações com a mesma tensão aplicada.
Algoritmo Sequencial
Simulação
Um a β
1 1,5051 81,0055 127,0850
2 1,5055 81,2690 127,6580
3 1,5050 80,9275 126,9160
4 1,5051 80,9638 126,9950
5 1,5051 80,9735 127,0160
Valor médio 1,5052 81,0279 127,1340
Desvio Padrão 0,0002 0,1376 0,2991
Desvio percentual 0,01% 0,17% 0,24%
154

10.2.1.5 Tensão com 4% de 3a harmônica/fase 180o.

Fig.10.10 - Tensão aplicada com 4% de distorção harmônica de terceira ordem com fase
de 180 graus, e resposta em corrente para um varistor novo.

Fig.10.11 - Determinação dos parâmetros do modelo proposto para a curva característica


do varistor novo.

Tab.10.5 - Verificação da estabilidade dos parâmetros com resultados obtidos em outras


simulações com a mesma tensão aplicada.
Algoritmo Sequencial
Simulação
Um a β
1 1,5066 82,3586 130,1420
2 1,5060 81,9385 129,2240
3 1,5059 81,9075 129,1560
4 1,5057 81,7621 128,8380
5 1,5061 82,0244 129,4120
Valor médio 1,5061 81,9982 129,3544
Desvio Padrão 0,0003 0,2225 0,4865
Desvio percentual 0,02% 0,27% 0,38%
155

10.2.1.6 Tensão com 5% de 3a harmônica/fase 180o.

Fig.10.12 - Tensão aplicada com 5% de distorção harmônica de terceira ordem com fase
de 180 graus, e resposta em corrente para um varistor novo.

Fig.10.13 - Determinação dos parâmetros do modelo proposto para a curva característica


do varistor novo.

Tab.10.6 - Verificação da estabilidade dos parâmetros com resultados obtidos em outras


simulações com a mesma tensão aplicada.
Algoritmo Sequencial
Simulação
Um a β
1 1,5071 83,2216 132,1630
2 1,5075 83,5010 132,7790
3 1,5071 83,2011 132,1180
4 1,5080 83,8457 133,5380
5 1,5075 83,5280 132,8380
Valor médio 1,5074 83,4595 132,6872
Desvio Padrão 0,0004 0,2641 0,5818
Desvio percentual 0,02% 0,32% 0,44%
156

10.2.1.7 Tensão com 1% de 5a harmônica/fase zero.

Fig.10.14 - Tensão aplicada com 1% de distorção harmônica de quinta ordem com fase
zero, e resposta em corrente para um varistor novo.

Fig.10.15 - Determinação dos parâmetros do modelo proposto para a curva característica


do varistor novo.

Tab.10.7 - Verificação da estabilidade dos parâmetros com resultados obtidos em outras


simulações com a mesma tensão aplicada.
Algoritmo Sequencial
Simulação
Um a β
1 1,5038 79,6142 123,9270
2 1,5038 79,6503 124,0050
3 1,5039 79,7102 124,1330
4 1,5036 79,4711 123,6210
5 1,5035 79,4218 123,5150
Valor médio 1,5037 79,5735 123,8402
Desvio Padrão 0,0002 0,1222 0,2618
Desvio percentual 0,01% 0,15% 0,21%
157

10.2.1.8 Tensão com 2% de 5a harmônica/fase zero.

Fig.10.16 - Tensão aplicada com 2% de distorção harmônica de quinta ordem com fase
zero, e resposta em corrente para um varistor novo.

Fig.10.17 - Determinação dos parâmetros do modelo proposto para a curva característica


do varistor novo.

Tab.10.8 - Verificação da estabilidade dos parâmetros com resultados obtidos em outras


simulações com a mesma tensão aplicada.
Algoritmo Sequencial
Simulação
Um a β
1 1,5050 80,6001 126,1140
2 1,5043 80,1267 125,0940
3 1,5044 80,2230 125,3010
4 1,5044 80,2400 125,3380
5 1,5053 80,7891 126,5220
Valor médio 1,5047 80,3958 125,6738
Desvio Padrão 0,0004 0,2842 0,6126
Desvio percentual 0,03% 0,35% 0,49%
158

10.2.1.9 Tensão com 3% de 5a harmônica/fase zero.

Fig.10.18 - Tensão aplicada com 3% de distorção harmônica de quinta ordem com fase
zero, e resposta em corrente para um varistor novo.

Fig.10.19 - Determinação dos parâmetros do modelo proposto para a curva característica


do varistor novo.

Tab.10.9 - Verificação da estabilidade dos parâmetros com resultados obtidos em outras


simulações com a mesma tensão aplicada.
Algoritmo Sequencial
Simulação
Um a β
1 1,5051 80,9492 126,9630
2 1,5053 81,1368 127,3710
3 1,5054 81,1698 127,4420
4 1,5051 81,0036 127,0810
5 1,5052 81,0505 127,1830
Valor médio 1,5052 81,0620 127,2080
Desvio Padrão 0,0001 0,0915 0,1988
Desvio percentual 0,01% 0,11% 0,16%
159

10.2.1.10 Tensão com 4% de 5a harmônica/fase zero.

Fig.10.20 - Tensão aplicada com 4% de distorção harmônica de quinta ordem com fase
zero, e resposta em corrente para um varistor novo.

Fig.10.21 - Determinação dos parâmetros do modelo proposto para a curva característica


do varistor novo.

Tab.10.10 - Verificação da estabilidade dos parâmetros com resultados obtidos em outras


simulações com a mesma tensão aplicada.
Algoritmo Sequencial
Simulação
Um a β
1 1,5063 82,1899 129,7740
2 1,5058 81,7933 128,9070
3 1,5065 82,2796 129,9700
4 1,5059 81,8768 129,0890
5 1,5057 81,7120 128,7290
Valor médio 1,5060 81,9703 129,2938
Desvio Padrão 0,0003 0,2503 0,5474
Desvio percentual 0,02% 0,31% 0,42%
160

10.2.1.11 Tensão com 5% de 5a harmônica/fase zero.

Fig.10.22 - Tensão aplicada com 5% de distorção harmônica de quinta ordem com fase
zero, e resposta em corrente para um varistor novo.

Fig.10.23 - Determinação dos parâmetros do modelo proposto para a curva característica


do varistor novo.

Tab.10.11 - Verificação da estabilidade dos parâmetros com resultados obtidos em outras


simulações com a mesma tensão aplicada.
Algoritmo Sequencial
Simulação
Um a β
1 1,5070 83,0888 131,8710
2 1,5071 83,2126 132,1440
3 1,5073 83,3349 132,4130
4 1,5071 83,2019 132,1200
5 1,5073 83,5279 132,8380
Valor médio 1,5072 83,2732 132,2772
Desvio Padrão 0,0001 0,1669 0,3676
Desvio percentual 0,01% 0,20% 0,28%
161

10.2.2 Avaliação geral para o varistor novo


Tab.10.12 - Verificação geral da estabilidade dos parâmetros de um varistor novo.
VARISTOR NOVO
Parâmetro Um a β Parâmetro Um a β
1,5024 78,3969 121,186 1,5038 79,6142 123,927
1% 5H
1,503 78,7205 121,871 1,5038 79,6503 124,005
0H 1,5027 78,5519 121,514 0º 1,5039 79,7102 124,133
1,5029 78,6409 121,702 1,5036 79,4711 123,621
1,5027 78,541 121,491 1,5035 79,4218 123,515
Desvio Padrão 0,0002 0,1213 0,2566 Desvio Padrão 0,0002 0,1222 0,2618
1,5037 79,5744 123,842 1,505 80,6001 126,114
1% 3H 1,5036 79,4838 123,648 2% 5H 1,5043 80,1267 125,094
180º 1,5037 79,5608 123,813 0º 1,5044 80,223 125,301
1,5034 79,3925 123,452 1,5044 80,24 125,338
1,5038 79,6125 123,923 1,5053 80,7891 126,522
Desvio Padrão 0,0002 0,0875 0,1874 Desvio Padrão 0,0004 0,2842 0,6126
1,5048 80,4743 125,843 1,5051 80,9492 126,963
2% 3H 1,5054 80,8934 126,746 1,5053 81,1368 127,371
3% 5H
180º 1,5047 80,4364 125,761 1,5054 81,1698 127,442

1,5042 80,1089 125,055 1,5051 81,0036 127,081
1,5046 80,3403 125,554 1,5052 81,0505 127,183
Desvio Padrão 0,0004 0,2854 0,6151 Desvio Padrão 0,0001 0,0915 0,1988
1,5051 81,0055 127,085 1,5063 82,1899 129,774
1,5055 81,269 127,658 1,5058 81,7933 128,907
3% 3H 4% 5H
1,505 80,9275 126,916 1,5065 82,2796 129,97
180º 0º
1,5051 80,9638 126,995 1,5059 81,8768 129,089
1,5051 80,9735 127,016 1,5057 81,712 128,729
Desvio Padrão 0,0002 0,1376 0,2991 Desvio Padrão 0,0003 0,2503 0,5474
1,5066 82,3586 130,142 1,507 83,0888 131,871
1,506 81,9385 129,224 1,5071 83,2126 132,144
4% 3H 5% 5H
1,5059 81,9075 129,156 1,5073 83,3349 132,413
180º 0º
1,5057 81,7621 128,838 1,5071 83,2019 132,12
1,5061 82,0244 129,412 1,5073 83,5279 132,838
Desvio Padrão 0,0003 0,2225 0,4865 Desvio Padrão 0,0001 0,1669 0,3676
1,5071 83,2216 132,163
1,5075 83,501 132,779 Desvio padrão geral de Um = 0,0014 (0,10%)
5% 3H
1,5071 83,2011 132,118 Valor médio geral de Um = 1,5051
180º
1,508 83,8457 133,538 Desvio padrão geral de a = 1,4994 (1,85%)
1,5075 83,528 132,838 Valor médio geral de a = 81,0278
Desvio Padrão 0,0004 0,2641 0,5818 Desvio padrão geral de β = 3,4159 (2,69%)
Valor médio geral de β = 127,1408
162

As cinco simulações realizadas para cada situação mostram que os resultados têm
boa reprodutibilidade, ou seja, mesmo com diferentes valores iniciais para os parâmetros,
oriundos da etapa do algoritmo genético, quando a etapa de busca sequencial é concluída
os resultados tendem para um conjunto de parâmetros com valores similares.

Verifica-se também um pequeno desvio padrão geral para cada parâmetro do


modelo proposto nas simulações realizadas para o varistor novo, confirmando a pouca
influência que as distorções na tensão exercem sobre o mesmo.
163

10.2.3 Varistor Degradado


10.2.3.1 Tensão de alimentação senoidal pura.

Fig.10.24 - Tensão aplicada sem distorção harmônica, e resposta em corrente para um


varistor degradado.

Fig.10.25 - Determinação dos parâmetros da curva característica de um varistor


degradado para tensão aplicada sem distorção harmônica.

Tab.10.13 - Verificação da estabilidade dos parâmetros com resultados obtidos em outras


simulações com a mesma tensão aplicada.
Algoritmo Sequencial
Simulação
Um a β
1 1,6256 285,333 523,927
2 1,6246 284,029 521,597
3 1,6251 284,689 522,777
4 1,6239 283,01 519,773
5 1,6252 284,801 522,977
Valor médio 1,6249 284,3724 522,2102
Desvio Padrão 0,0007 0,8917 1,5947
Desvio percentual 0,04% 0,31% 0,31%
164

10.2.3.2 Tensão com 1% de 3a harmônica/fase 180o.

Fig.10.26 - Tensão aplicada com 1% de distorção harmônica de terceira ordem com fase
de 180 graus, e resposta em corrente para um varistor degradado.

Fig.10.27 - Determinação dos parâmetros do modelo proposto para a curva característica


do varistor degradado.

Tab.10.14 - Verificação da estabilidade dos parâmetros com resultados obtidos em outras


simulações com a mesma tensão aplicada.
Algoritmo Sequencial
Simulação
Um a β
1 1,6244 284,8040 523,4360
2 1,6276 289,4130 531,7500
3 1,6278 289,6800 532,2330
4 1,6265 287,8590 528,9490
5 1,6255 286,3440 526,2170
Valor médio 1,6264 287,6200 528,5170
Desvio Padrão 0,0014 2,0660 3,7267
Desvio percentual 0,09% 0,72% 0,71%
165

10.2.3.3 Tensão com 2% de 3a harmônica/fase 180o.

Fig.10.28 - Tensão aplicada com 2% de distorção harmônica de terceira ordem com fase
de 180 graus, e resposta em corrente para um varistor degradado.

Fig.10.29 - Determinação dos parâmetros do modelo proposto para a curva característica


do varistor degradado.

Tab.10.15 - Verificação da estabilidade dos parâmetros com resultados obtidos em outras


simulações com a mesma tensão aplicada.
Algoritmo Sequencial
Simulação
Um a β
1 1,6249 286,182 526,2270
2 1,6266 288,482 530,2910
3 1,6261 287,782 529,0080
4 1,6262 288,035 529,5350
5 1,6258 287,318 528,1660
Valor médio 1,6259 287,5598 528,6454
Desvio Padrão 0,0006 0,8778441 1,5580
Desvio percentual 0,04% 0,31% 0,29%
166

10.2.3.4 Tensão com 3% de 3a harmônica/fase 180o.

Fig.10.30 - Tensão aplicada com 3% de distorção harmônica de terceira ordem com fase
de 180 graus, e resposta em corrente para um varistor degradado.

Fig.10.31 - Determinação dos parâmetros do modelo proposto para a curva característica


do varistor degradado.

Tab.10.16 - Verificação da estabilidade dos parâmetros com resultados obtidos em outras


simulações com a mesma tensão aplicada.
Algoritmo Sequencial
Simulação
Um a β
1 1,6275 290,5710 534,3630
2 1,6258 288,2250 530,2990
3 1,6265 289,2220 531,9820
4 1,6260 288,3510 530,3600
5 1,6272 290,0700 533,4140
Valor médio 1,6266 289,2878 532,0836
Desvio Padrão 0,0007 1,0332 1,8119
Desvio percentual 0,05% 0,36% 0,34%
167

10.2.3.5 Tensão com 4% de 3a harmônica/fase 180o.

Fig.10.32 - Tensão aplicada com 4% de distorção harmônica de terceira ordem com fase
de 180 graus, e resposta em corrente para um varistor degradado.

Fig.10.33 - Determinação dos parâmetros do modelo proposto para a curva característica


do varistor degradado.

Tab.10.17 - Verificação da estabilidade dos parâmetros com resultados obtidos em outras


simulações com a mesma tensão aplicada.
Algoritmo Sequencial
Simulação
Um a β
1 1,6262 289,5800 533,0230
2 1,6292 294,0120 540,9700
3 1,6287 293,1310 539,2620
4 1,6280 292,2490 537,8660
5 1,6274 291,3530 536,2750
Valor médio 1,6279 292,0650 537,4792
Desvio Padrão 0,0012 1,7061 3,0340
Desvio percentual 0,07% 0,58% 0,56%
168

10.2.3.6 Tensão com 5% de 3a harmônica/fase 180o.

Fig.10.34 - Tensão aplicada com 5% de distorção harmônica de terceira ordem com fase
de 180 graus, e resposta em corrente para um varistor degradado.

Fig.10.35 - Determinação dos parâmetros do modelo proposto para a curva característica


do varistor degradado.

Tab.10.18 - Verificação da estabilidade dos parâmetros com resultados obtidos em outras


simulações com a mesma tensão aplicada.
Algoritmo Sequencial
Simulação
Um a β
1 1,6270 292,0410 538,2410
2 1,6272 292,4300 537,9360
3 1,6263 290,7090 535,6440
4 1,6272 292,1730 538,2910
5 1,6260 290,3270 534,8960
Valor médio 1,6267 291,5360 537,0016
Desvio Padrão 0,0006 0,9494 1,6084
Desvio percentual 0,03% 0,33% 0,30%
169

10.2.3.7 Tensão com 1% de 5a harmônica/fase zero.

Fig.10.36 - Tensão aplicada com 1% de distorção harmônica de quinta ordem com fase
zero, e resposta em corrente para um varistor degradado.

Fig.10.37 - Determinação dos parâmetros do modelo proposto para a curva característica


do varistor degradado.

Tab.10.19 - Verificação da estabilidade dos parâmetros com resultados obtidos em outras


simulações com a mesma tensão aplicada.
Algoritmo Sequencial
Simulação
Um a β
1 1,6272 288,8100 530,6630
2 1,6247 285,2870 524,3080
3 1,6253 286,0730 525,7270
4 1,6266 287,9400 529,0970
5 1,6249 285,5830 524,8430
Valor médio 1,6257 286,7386 526,9276
Desvio Padrão 0,0011 1,5508 2,7977
Desvio percentual 0,07% 0,54% 0,53%
170

10.2.3.8 Tensão com 2% de 5a harmônica/fase zero.

Fig.10.38 - Tensão aplicada com 2% de distorção harmônica de quinta ordem com fase
zero, e resposta em corrente para um varistor degradado.

Fig.10.39 - Determinação dos parâmetros do modelo proposto para a curva característica


do varistor degradado.

Tab.10.20 - Verificação da estabilidade dos parâmetros com resultados obtidos em outras


simulações com a mesma tensão aplicada.
Algoritmo Sequencial
Simulação
Um a β
1 1,6249 286,1820 526,2270
2 1,6266 288,4820 530,2910
3 1,6261 287,7820 529,0080
4 1,6262 288,0350 529,5350
5 1,6258 287,3180 528,1660
Valor médio 1,6259 287,5598 528,6454
Desvio Padrão 0,0006 0,8778 1,5580
Desvio percentual 0,04% 0,31% 0,29%
171

10.2.3.9 Tensão com 3% de 5a harmônica/fase zero.

Fig.10.40 - Tensão aplicada com 3% de distorção harmônica de quinta ordem com fase
zero, e resposta em corrente para um varistor degradado.

Fig.10.41 - Determinação dos parâmetros do modelo proposto para a curva característica


do varistor degradado.

Tab.10.21 - Verificação da estabilidade dos parâmetros com resultados obtidos em outras


simulações com a mesma tensão aplicada.
Algoritmo Sequencial
Simulação
Um a β
1 1,6275 290,5710 534,3630
2 1,6258 288,2250 530,2990
3 1,6265 289,2220 531,9820
4 1,6260 288,3510 530,3600
5 1,6272 290,0700 533,4140
Valor médio 1,6266 289,2878 532,0836
Desvio Padrão 0,0007 1,0332 1,8119
Desvio percentual 0,05% 0,36% 0,34%
172

10.2.3.10 Tensão com 4% de 5a harmônica/fase zero.

Fig.10.42 - Tensão aplicada com 4% de distorção harmônica de quinta ordem com fase
zero, e resposta em corrente para um varistor degradado.

Fig.10.43 - Determinação dos parâmetros do modelo proposto para a curva característica


do varistor degradado.

Tab.10.22 - Verificação da estabilidade dos parâmetros com resultados obtidos em outras


simulações com a mesma tensão aplicada.
Algoritmo Sequencial
Simulação
Um a β
1 1,6262 289,5800 533,0230
2 1,6292 294,0120 540,9700
3 1,6287 293,1310 539,2620
4 1,6280 292,2490 537,8660
5 1,6274 291,3530 536,2750
Valor médio 1,6279 292,0650 537,4792
Desvio Padrão 0,0012 1,7061 3,0340
Desvio percentual 0,07% 0,58% 0,56%
173

10.2.3.11 Tensão com 5% de 5a harmônica/fase zero.

Fig.10.44 - Tensão aplicada com 5% de distorção harmônica de quinta ordem com fase
zero, e resposta em corrente para um varistor degradado.

Fig.10.45 - Determinação dos parâmetros do modelo proposto para a curva característica


do varistor degradado.

Tab.10.23 - Verificação da estabilidade dos parâmetros com resultados obtidos em outras


simulações com a mesma tensão aplicada.
Algoritmo Sequencial
Simulação
Um a β
1 1,6270 292,0410 538,2410
2 1,6272 292,4300 537,9360
3 1,6263 290,7090 535,6440
4 1,6272 292,1730 538,2910
5 1,6260 290,3270 534,8960
Valor médio 1,6267 291,5360 537,0016
Desvio Padrão 0,0006 0,9494 1,6084
Desvio percentual 0,03% 0,33% 0,30%
174

10.2.4 Avaliação geral para o varistor degradado


Tab.10.24 - Verificação geral da estabilidade dos parâmetros de um varistor degradado.
VARISTOR DEGRADO
Parâmetro Um a β Parâmetro Um a β
1,6241 283,3630 520,4050 1,6272 288,8100 530,6630
1% 5H
1,6170 273,9050 503,4310 1,6247 285,2870 524,3080
0H 1,6256 285,3330 523,9270 0º 1,6253 286,0730 525,7270
1,6246 284,0290 521,5970 1,6266 287,9400 529,0970
1,6251 284,6890 522,7770 1,6249 285,5830 524,8430
Desvio Padrão 0,0004 0,2641 0,5818 Desvio Padrão 0,0011 1,5508 2,7977
1,6261 287,2600 527,8700 1,6249 286,1820 526,2270
1% 3H 1,6270 288,5570 530,2090 2% 5H 1,6266 288,4820 530,2910
180º 1,6244 284,8040 523,4360 0º 1,6261 287,7820 529,0080
1,6276 289,4130 531,7500 1,6262 288,0350 529,5350
1,6278 289,6800 532,2330 1,6258 287,3180 528,1660
Desvio Padrão 0,0014 1,9922 3,5938 Desvio Padrão 0,0006 0,8778 1,5580
1,6250 286,2710 526,2670 1,6275 290,5710 534,3630
2% 3H 1,6257 287,1900 527,9350 1,6258 288,2250 530,2990
3% 5H
180º 1,6259 287,5020 528,5010 1,6265 289,2220 531,9820

1,6255 286,8880 527,3870 1,6260 288,3510 530,3600
1,6249 286,2100 526,3480 1,6272 290,0700 533,4140
Desvio Padrão 0,0004 0,5657 0,9780 Desvio Padrão 0,0007 1,0332 1,8119
1,6265 287,0670 531,5880 1,6262 289,5800 533,0230
1,6277 290,7290 534,6560 1,6292 294,0120 540,9700
3% 3H 4% 5H
1,6291 293,0000 538,7430 1,6287 293,1310 539,2620
180º 0º
1,6252 287,3640 528,6340 1,6280 292,2490 537,8660
1,6279 291,3530 535,9510 1,6274 291,3530 536,2750
Desvio Padrão 0,0015 2,5916 3,9150 Desvio Padrão 0,0012 1,7061 3,0340
1,6295 294,5500 541,9640 1,6270 292,0410 538,2410
1,6262 289,6410 533,2060 1,6272 292,4300 537,9360
4% 3H 5% 5H
1,6289 293,6580 540,4050 1,6263 290,7090 535,6440
180º 0º
1,6274 291,3920 536,3430 1,6272 292,1730 538,2910
1,6263 289,7090 533,2920 1,6260 290,3270 534,8960
Desvio Padrão 0,0015 2,2480 4,0250 Desvio Padrão 0,0006 0,9494 1,6084
1,6266 291,1340 536,3940
1,6268 291,6000 537,3060 Desvio Padrão de Um = 0,0018 (0,11%)
5% 3H
1,6270 291,9950 538,1050 Valor médio de Um = 1,6263
180º
1,6276 292,8190 539,4800 Desvio Padrão de a = 3,4293 (1,19%)
1,6256 289,7570 533,8900 Valor médio de a = 288,8509
Desvio Padrão 0,0007 1,1357 2,0915 Desvio Padrão de β = 6,6281 (1,25%)
Valor médio de β = 531,3585
175

As simulações realizadas para o varistor degradado reforçam a reprodutibilidade de


resultados nas simulações para condições operacionais semelhantes, mesmo com
parâmetros iniciais diferentes na etapa inicial do algoritmo genético. As distorções na
tensão exerceram uma influência pouco significativa sobre os parâmetros do modelo. Essa
constatação corresponde ao que se espera para uma análise correta do varistor, ou seja, a
verificação da sua condição sem que haja influência significativa de fatores externos.
176

10.2.5 Avaliação do varistor para diferentes temperaturas


Esta avaliação se refere às variações na curvas características [74] decorrentes da
mudança na temperatura a qual o varistor está sujeito. Verifica-se para essas curvas
experimentais a reprodutibilidade dos valores dos parâmetros nas simulações realizadas.

10.2.5.1 Temperatura ambiente (20ºC)

Fig.10.46 - Determinação dos parâmetros do modelo proposto para a curva característica


do varistor [25] na temperatura de 20ºC.

Tab.10.25 - Verificação da estabilidade dos parâmetros do modelo proposto para a curva


característica do varistor [25] na temperatura de 20ºC com resultados obtidos
em outras simulações com a mesma tensão aplicada.
Algoritmo Genético Algoritmo Sequencial
Simulação
Umi ai βi Um a β
1 1,2046 23,7743 19,4225 1,2397 34,9348 48,4315
2 1,7563 539,811 975,072 1,2403 34,9811 48,5109
3 1,8002 567,858 997,331 1,2404 34,9948 48,499
4 1,7705 550,248 983,374 1,2396 34,9227 48,4031
5 1,30517 55,161 92,9897 1,2395 34,9154 48,3793
Valor médio 1,5674 347,3705 613,6378 1,2399 34,9498 48,4448
Desvio Padrão 0,2879 281,4730 509,5896 0,0004 0,0359 0,0581
Desvio percentual 18,37% 81,03% 83,04% 0,03% 0,10% 0,12%
177

10.2.5.2 Avaliação do varistor da referência [25] em temperatura de 60ºC

Fig.10.47 - Determinação dos parâmetros do modelo proposto para a curva característica


do varistor [25] na temperatura de 60ºC.

Tab.10.26 - Verificação da estabilidade dos parâmetros do modelo proposto para a curva


característica do varistor [25] na temperatura de 60ºC com resultados obtidos
em outras simulações com a mesma tensão aplicada.
Algoritmo Genético Algoritmo Sequencial
Simulação
Umi ai βi Um a β
1 1,3075 101,9960 166,7380 1,2300 53,0020 46,2558
2 1,2790 60,6226 60,9175 1,2308 53,1641 46,5883
3 1,2440 61,2034 69,8838 1,2308 53,1429 46,5254
4 1,3299 94,5784 140,1270 1,2304 53,1613 46,6605
5 1,2728 71,6915 98,7376 1,2300 53,1545 46,7123
Valor médio 1,2866 78,0184 107,2808 1,2304 53,1250 46,5485
Desvio Padrão 0,0331 19,1999 45,3738 0,0004 0,0692 0,1783
Desvio percentual 2,57% 24,61% 42,29% 0,03% 0,13% 0,38%
178

10.2.5.3 Avaliação do varistor da referência [25] em temperatura de 100ºC

Fig.10.48 - Determinação dos parâmetros do modelo proposto para a curva característica


do varistor [25] na temperatura de 100ºC.

Tab.10.27 - Verificação da estabilidade dos parâmetros do modelo proposto para a curva


característica do varistor [25] na temperatura de 100ºC com resultados obtidos
em outras simulações com a mesma tensão aplicada.
Algoritmo Genético Algoritmo Sequencial
Simulação
Umi ai βi Um a β
1 1,2777 120,1590 77,8859 1,2214 85,5106 0,4507
2 1,2641 107,0750 45,0250 1,2216 85,5206 0,4554
3 1,2953 134,3680 106,3060 1,2219 85,4971 0,2804
4 1,3081 141,5600 122,4410 1,2223 85,4719 0,1971
5 1,2318 90,9598 23,1328 1,2216 85,4672 0,3291
Valor médio 1,2754 118,8244 74,9581 1,2218 85,4935 0,3425
Desvio Padrão 0,0296 20,4620 41,3151 0,0004 0,0234 0,1114
Desvio percentual 2,32% 17,22% 55,12% 0,03% 0,03% 32,52%

O elevado desvio padrão observado para o parâmetro β se deve ao baixo valor


assumido em temperatura elevada. De qualquer forma a ordem de grandeza (baixo valor
para temperatura elevada) é preservada de forma consistente.
179

10.3 Considerações Gerais

A variação dos parâmetros do modelo proposto se mostrou pouco sensível à


presença de componentes harmônicas na tensão de alimentação. Esse fato traz uma
vantagem significativa em relação às análises realizadas diretamente pelas características
da corrente de fuga, visto que essa é altamente afetada pelos harmônicos de rede.

No que se refere à estabilidade dos parâmetros para as simulações sob as mesmas


condições operacionais, percebe-se uma boa concordância entre as várias simulações. Com
o aprimoramento dos sistemas de otimização de busca dos parâmetros, sobretudo nos que
envolvem os algoritmos genéticos, pode-se ter resultados ainda melhores com um maior
desenvolvimento neste sentido.

Assim como nas avaliações realizadas no Capítulo 7, o modelo se mostra menos


sensível à presença de componentes harmônicas na tensão de rede na medida em que se
eleva o nível de sua degradação. Cabe reforçar que a curva do varistor se torna menos
linear para a faixa de operação normal do sistema. Dessa forma, as variações na tensão de
alimentação exercem menor influência sobre os resultados do varistor na medida em que o
mesmo degrada. Isto porque ele já funciona de forma precária.

As simulações para as diferentes temperaturas mostram que os parâmetros têm


comportamentos bem definidos. O valor de Um tende a se manter praticamente constante.
Uma pequena elevação da corrente de fuga resistiva para a região que define Um é
detectada, que se pode atribuir à maior emissão termiônica. O parâmetro a tem elevação
significativa, comprovando sua vinculação à condução termiônica através dos contornos
dos grãos de ZnO. A tendência do parâmetro β é de forte redução para a temperatura mais
elevada (100ºC), que se julga estar correlacionada à redução da condutividade dos grãos de
ZnO. Nos níveis mais baixos de temperatura a variação de β é pouco expressiva.

As correlações do comportamento dos parâmetros do modelo aos fenômenos que


envolvem os mecanismos de condução da corrente de fuga do varistor estão apresentadas
de maneira mais detalhada no Capítulo 6.
11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] D' AJUZ, A.; RESENDE, F. M.; CARVALHO, F. M. S. et alli.


“Equipamentos Elétricos”, Rio de Janeiro, FURNAS, 1985.
[2] MAMEDE Fo, J. “Manual de Equipamentos Elétricos”. Editora Livros
Técnicos e Científicos, Vol.1, 3a edição, Rio de Janeiro, 2005.
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Transmissão que Utilizam Pára-raios de ZnO”. Citenel – III
Congresso de Inovação Tecnológica em Energia Elétrica,
Florianópolis/SC – Brasil, 5 e 6 de Dezembro de 2005.
[4] DE FRANCO J. L. et alli. “Lightning Arrester Application for the
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International Seminar on Lightning Discharges, Santos/SP,
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[5] TRANSINOR As. “LCM - Surge Arrester Monitor - Experience from
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http://www.transinor.st.no (ativo em 26/07/2006).
[6] ABB Power Technology Products AB – High Voltage Products -
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proporciona controle total”. http://www.abb.com/arrestersonline (ativo
em 26/07/2006).
[7] TRIDELTA; “Diagnostic Appliance for Current Analysis of Metal-
Oxide-Arresters”. http://www.tridelta.de/ - Surge Arresters - product
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Livros Grátis
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