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MARCOS ROGÉRIO CÂNDIDO

APLICAÇÃO DA TRANSFORMADA WAVELET


NA ANÁLISE DA QUALIDADE DE ENERGIA
EM FORNOS ELÉTRICOS A ARCO

São Paulo
2008
MARCOS ROGÉRIO CÂNDIDO

APLICAÇÃO DA TRANSFORMADA WAVELET


NA ANÁLISE DA QUALIDADE DE ENERGIA
EM FORNOS ELÉTRICOS A ARCO

Tese apresentada à Escola Politécnica da


Universidade de São Paulo para obtenção
do título de Doutor em Engenharia.

Área de concentração:
Sistemas de Potência

Orientador: Prof. Dr. Luiz Cera Zanetta Jr.

São Paulo
2008
Este exemplar foi revisado e alterado em relação à versão original, sob responsabilidade única do
autor e com a anuência de seu orientador.

São Paulo, 06 de dezembro de 2008.

Assinatura do autor ____________________________

Assinatura do orientador _______________________

FICHA CATALOGRÁFICA

Cândido, Marcos Rogério

Aplicação da transformada wavelet na análise da qualidade de energia em fornos elétrico a


arco / M.R. Cândido. -- ed.rev. -- São Paulo, 2008.
151 p.

Tese (Doutorado) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de


Engenharia de Energia e Automação Elétricas.

1.Forno elétrico 2.Energia (Qualidade) 3.Análise de ondaletas-wavelets (Análise de séries


temporais) I.Universidade de São Paulo. Escola Politécnica. Departamento de Engenharia de Energia
e Automação Elétricas II.t.
DEDICATÓRIA

Aos meus pais Francisco e Geralda,


por tudo o que fizeram e fazem por mim.
AGRADECIMENTOS

Aos professores Dr. Luiz Cera Zanetta Jr. e Dr. Carlos Eduardo de Morais Pereira,
pela dedicação, orientação e paciência ao longo do desenvolvimento dessa tese.
Ao amigo Jefferson Monteiro de Paula, pela dedicação no processo de elaboração e
simulação do algoritmo.
Aos diretores e gerentes da Votorantim Metais e Votorantim Química pelo incentivo
constante para a conclusão deste trabalho, cabe destacar os srs. Luis Carlos
Mendes de Brito - Gerente de Operações da Votorantim Química - e José Milton
Júnior - Gerente da Laminação à Quente da Siderúrgica Barra Mansa.
As demais pessoas que contribuíram, acreditando e incentivando nos momentos
mais difíceis.
“Nunca deixe que lhe digam
que não vale a pena acreditar no
sonho que se tem”
(Trecho da música “Mais uma vez”
de Renato Russo e Flávio Venturini)
RESUMO

Neste trabalho, desenvolveu-se um novo método para a detecção e classificação


dos distúrbios que afetam a qualidade de energia elétrica em sistemas elétricos
industriais na presença de fornos elétricos a arco. Durante o processo de fusão dos
fornos elétricos a arco, ocorrem diversos eventos que afetam o sistema elétrico ao
qual estão inseridos, tendo como características: forma de onda do sinal de corrente
altamente desequilibradas e com grande distorção devido aos harmônicos, efeitos
de cintilação; bem como afundamento e elevação nos sinais de tensão. O método
ora proposto foi aplicado a sinais reais, permitindo a detecção e classificação dos
distúrbios múltiplos na forma de onda do sinal de tensão, proveniente da operação
dos fornos elétricos a arco. Para tal, foi usada como base do algoritmo, uma técnica
baseada na Transformada Wavelet, aplicada aos sinais não-estacionários de uma
instalação industrial com três fornos elétricos a arco.

Palavras-chave: Wavelet. Distúrbios múltiplos. Qualidade de energia. Fornos


elétricos a arco.
ABSTRACT

A new method for the detection and classification of the disturbances that affect the
electric power quality in industrial electric systems with electric arc furnaces was
developed in this work. During the fusion process of the electric arc furnaces, may
occur several events that affect the electric system to which it is inserted may occur,
having as characteristic: waveform of the signal of current highly unbalanced and
with great distortion due to the harmonic, scintillation effects; as well as sag and swell
in the voltage signals.The method proposed was applied to real signals, allowing the
detection and classification of the multiple disturbances in the waveform of the
voltage signal originating from the operation of the electric arc furnace. For this
purpose, a technique based on Wavelet Transform will be used and applied to the
not-stationary signals of an industrial installation with three electric arc furnaces.

Keywords: Wavelet. Multiple disturbances. Power quality. Electric arc furnace.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 2.1 - Sistema elétrico industrial com 3 fornos a arco...................................... 24


Figura 2.2 - Potência de entrada do forno durante uma corrida ................................ 25
Figura 2.3 - Forma de onda da tensão de um forno elétrico a arco........................... 26
Figura 2.4 - Corrente e tensão teórica durante o processo de estabelecimento do
arco elétrico em um sistema de 60 Hz ................................................... 27
Figura 2.5 - Sistema de controle de eletrodos........................................................... 29
Figura 2.6 - Curvas de corrente e tensão de um forno a arco com transformador
para dois tap’s distintos e dois fatores de potência ............................... 30
Figura 2.7 - Visualização dos eletrodos e formação do arco elétrico ........................ 31
Figura 2.8 - Tipos de arco elétrico............................................................................. 32
Figura 2.9 - Característica do comprimento do arco em função da corrente e da
tensão.................................................................................................... 33
Figura 2.10 - Circuito simplificado para mostrar o comportamento qualitativo do
sistema ................................................................................................ 34
Figura 2.11 - Característica FP = f(a) ........................................................................ 36
Figura 2.12 - Tensões, correntes e potências ativa e reativa instantâneas com
arco puramente resistivo ...................................................................... 37
Figura 2.13 - Ciclogramas obtidos das medições de campo para alguns ciclos ....... 38
Figura 2.14 - Comportamento do arco elétrico com três segmentos de reta............. 39
Figura 2.15 - Característica não linear do arco conforme Ozgun e Abur (1999) ....... 39
Figura 2.16 - Tensão de arco .................................................................................... 41
Figura 2.17 - Corrente de arco .................................................................................. 41
Figura 2.18 - Curva de carga para o FEA1 com circuito equilibrado
com o reator L3 .................................................................................... 44
Figura 2.19 - Curva de carga para o FEA1 com circuito equilibrado sem o reator .... 46
Figura 2.20 - Curva de carga do forno em função da indutância do reator, de fase
fusão e corrente mínima de 38 kA ....................................................... 47
Figura 2.21 - Forma de onda da tensão em função do tempo no FEA1.................... 48
Figura 2.22 - Forma de onda da tensão em função do tempo no FEA1.................... 49
Figura 2.23 - Forma de onda da tensão em função do tempo no FEA1.................... 49
Figura 2.24 - Forma de onda da tensão em função do tempo no FEA1.................... 50
Figura 2.25 - Corrente de arco .................................................................................. 50
Figura 2.26 - Conteúdo harmônico fase a ................................................................. 51
Figura 2.27 - Comportamento da tensão, corrente e potências instantâneas
do arco elétrico..................................................................................... 56
Figura 2.28 - Potências ativa, reativa e aparente das componentes harmônicas ..... 58
Figura 2.29 - Medições de tensão, corrente e variação de potências instantâneas .. 59
Figura 2.30 - Potências ativa, reativa e aparente das componentes
harmônicas de tensão e corrente......................................................... 61

Figura 3.1 - Exemplos de plano tempo-frequência (Fourier X Wavelet).................... 67


Figura 3.2 - Exemplo de Wavelet Haar. .................................................................... 69
Figura 3.3 - Exemplos de Wavelets Daubechies....................................................... 70
Figura 3.4 - Forma de onda com distúrbio do tipo afundamento e elevação............. 71
Figura 3.5 - Algoritmo completo de identificação e classificação de distúrbios
múltiplos ................................................................................................. 72
Figura 3.6 - Identificação da fase do sinal de referência através da aplicação do
método dos mínimos quadrados ............................................................75
Figura 3.7 - Determinação da amplitude do sinal de referência através do cálculo
do valor eficaz do sinal real................................................................... 75
Figura 3.8 - Aspecto dos sinais real e de referência ................................................. 76
Figura 3.9 - Coeficientes Wavelet de primeira ordem ............................................... 77
Figura 3.10 - Energia dos coeficientes Wavelet de primeira ordem .......................... 77
Figura 3.11 - Indicação do instante de início da montagem de vetores .................... 78
Figura 3.12.a - Coeficientes de detalhamento 1, 2, 3 e 4.......................................... 79
Figura 3.12.b - Coeficientes de detalhamento 5, 6, 7 e 8.......................................... 80
Figura 3.12.c - Coeficientes de detalhamento 9, 10, 11 e 12 .................................... 80
Figura 3.13 - Energia dos 12 níveis de detalhamento dos sinais real e de
referência ............................................................................................. 81
Figura 3.14 - Diferença percentual de energia entre os diversos níveis de
detalhamento (real x referência) .......................................................... 82
Figura 3.15 - Afundamento teórico e identificação do instante de ocorrência ........... 83
Figura 3.16 - Espectro da diferença de energia para o início e término do
afundamento teórico............................................................................ 83
Figura 3.17 - Elevação teórica e identificação do instante de ocorrência.................. 84
Figura 3.18 - Espectro de diferença energia para uma elevação teórica .................. 85
Figura 3.19 - “Notching” teórico e identificação do instante de ocorrência ............... 86
Figura 3.20 - Espectro da diferença de energia para um “notching” teórico.............. 86
Figura 3.21 - “Spike” teórico e identificação do instante de ocorrência ..................... 87
Figura 3.22 - Espectro de energia para um “spike” teórico ....................................... 88
Figura 3.23 - Sinal com a presença de afundamento e elevação teóricos ................ 89
Figura 3.24 - Identificação do instante de ocorrência de cada distúrbio.................... 89
Figura 3.25 - Espectro da diferença de energia para o afundamento e elevação
teóricos ................................................................................................ 90
Figura 3.26 - Sinal ideal com distúrbios múltiplos e localização dos instantes de
ocorrência dos distúrbios ..................................................................... 91
Figura 3.27 - Classificação de diversas falhas através da diferença percentual de
energia para os diversos níveis de detalhamento Wavelet .................. 91
Figura 3.28 - Distribuição da diferença percentual de energia para o distúrbio
teórico .................................................................................................. 92
Figura 3.29 - Registro do sinal de tensão obtido do forno a arco e o sinal de
referência ideal..................................................................................... 94
Figura 3.30 - Forma de onda em análise e a identificação do instante
de ocorrência dos distúrbios múltiplos ................................................. 95
Figura 3.31 - Forma de onda em análise e a identificação do instante
de ocorrência dos distúrbios múltiplos ................................................. 95
Figura 3.32 - Forma de onda em análise e a identificação do instante
de ocorrência dos distúrbios múltiplos ................................................. 96
Figura 3.33 - Distribuição de energia ao longo dos níveis de detalhamento Wavelet
para os distúrbios ................................................................................. 97
Figura 3.34 - Distribuição de energia ao longo dos níveis de detalhamento Wavelet
para os distúrbios ................................................................................. 98
Figura 3.35 - Distribuição de energia ao longo dos níveis de detalhamento Wavelet
para os distúrbios ................................................................................. 99
Figura 3.36 - Distribuição da diferença percentual de energia total nos diversos
níveis de resolução Wavelet .............................................................. 100
Figura 3.37 - Forma de onda em análise com elevação e afundamento, com
incremento positivo e negativo na amplitude, e diversos distúrbios .. 101
Figura 3.38 - Distribuição de energia ao longo dos níveis de detalhamento Wavelet
para os distúrbios ............................................................................... 102

Figura A.1 - Constituição esquemática de um forno elétrico a arco ........................ 115


Figura A.2 - Sistema de fixação de eletrodos de um forno elétrico a arco .............. 117
Figura A.3 - Vista de um forno elétrico a arco industrial.......................................... 117
Figura A.4 - Fluxograma do processo siderúrgico de uma usina integrada............. 120
Figura A.5 - Fluxo indicativo de usina integrada a coque (esquerda) e
de uma usina semi-integrada (direita).................................................. 121
Figura A.6 - Produção x consumo na aciaria elétrica da Siderúrgica Barra
Mansa .................................................................................................. 123
Figura A.7 - Produção x consumo anual na aciaria elétrica da Siderúrgica Barra
Mansa .................................................................................................. 124
Figura A.8 - Produção x consumo na laminação a quente de aço longo na
Siderúrgica Barra Mansa ..................................................................... 125
Figura A.9 - Produção x consumo anual na laminação a quente de aço longo na
Siderúrgica Barra Mansa ..................................................................... 126
Figura A.10 - Consumo médio anual das principais áreas na produção, refino e
laminação de aço na Siderúrgica Barra Mansa ................................. 126

Figura B.1 - Diagrama unifilar para a operação do forno em regime permanente


a 60 Hz................................................................................................ 129
Figura B.2 - Circuito equivalente em pu para os três transformadores de
131 / 23 kV .......................................................................................... 131
Figura B.3 - Circuito equivalente na condição de máxima corrente ........................ 133

Figura D.1 - Relação da variação da tensão e freqüência aplicada a lâmpadas


incandescentes .................................................................................... 148
Figura D.2 - Forma de onda típica quando ocorre flutuação de tensão (F=50 Hz) . 149
Figura D.3 - Variação da Tensão em função da freqüência para lâmpadas
incandescentes situadas na faixa de 40 a 100 W para tensões
desde 125 até 225 V............................................................................ 150
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.....................................................................................16
1.1 OBJETIVO GERAL.................................................................................... 16
1.2 MOTIVAÇÃO ............................................................................................. 17
1.3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...................................................................... 18
1.4 ESTRUTURA DA TESE ............................................................................ 20

2 ANÁLISE DO FORNO ELÉTRICO A ARCO COMO UMA CARGA


ESPECIAL...........................................................................................22
2.1 CARACTERÍSTICAS OPERATIVAS......................................................... 22
2.2 ARCO ELÉTRICO ..................................................................................... 27
2.2.1 Generalidades ........................................................................................ 27
2.2.2 Arco elétrico com comportamento resistivo linear.................................. 34
2.2.3 Comportamento não linear do arco elétrico ........................................... 37
2.3 OTIMIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES OPERATIVAS..................................... 42
2.4 OSCILOGRAMAS DE TENSÕES E CORRENTES .................................. 47
2.5 ANÁLISE DA POTÊNCIA EM CONDIÇÕES DE TENSÕES E
CORRENTES DISTORCIDAS .................................................................. 51
2.6 QUALIDADE DE ENERGIA EM SISTEMAS ELÉTRICOS ....................... 61
2.6.1 Afundamentos (“sag’s”) e elevações de tensão (“swell’s”) .................... 62
2.6.2 Distorção de tensão devido a harmônicos ............................................. 62

3 ALGORITMO PARA DETERMINAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DE


DISTÚRBIOS MÚLTIPLOS EM SISTEMAS ELÉTRICOS ..................66
3.1 TRANSFORMADA WAVELET .................................................................. 66
3.1.1 Introdução às Famílias Wavelet ............................................................. 67
3.1.1.1 Wavelet Haar ....................................................................................... 69
3.1.1.2 Wavelets Daubechies.......................................................................... 69
3.2 ANÁLISE DE DISTÚRBIOS MÚLTIPLOS................................................. 70
3.3 DESENVOLVIMENTO DO ALGORITMO DE IDENTIFICAÇÃO DE
DISTÚRBIOS MÚLTIPLOS....................................................................... 71
3.3.1 Equações utilizadas no desenvolvimento do algoritmo de detecção de
distúrbios múltiplos................................................................................. 73
3.3.2 Identificação de distúrbios múltiplos - Descrição do algoritmo .............. 74
3.3.3 Classificação dos distúrbios múltiplos.................................................... 79
3.4 ANÁLISE DE DISTÚRBIOS MÚLTIPLOS EM SINAIS IDEALIZADOS..... 82
3.5 CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO DE DISTÚRBIOS MÚLTIPLOS ........ 92
3.6 ANÁLISE DE DISTÚRBIOS MÚLTIPLOS EM UM SISTEMA REAL ........ 94
3.7 VERIFICAÇÃO DO DESEMPENHO DO ALGORITMO EM SINAIS DE
LONGA DURAÇÃO ................................................................................. 100

4 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS ...104

REFERÊNCIAS ....................................................................................107

APÊNDICE A - FORNOS A ARCO.......................................................114

APÊNDICE B - ANÁLISE DO FORNO ELÉTRICO A ARCO EM


REGIME PERMANENTE ............................................129

APÊNDICE C - DADOS DO SISTEMA ELÉTRICO ..............................135

APÊNDICE D - EFEITO “FLICKER” EM FORNOS A ARCO................147


Introdução 16

Capítulo 1
Introdução

Esta tese trata de um novo algoritmo capaz de detectar e classificar os distúrbios


múltiplos que afetam a qualidade de energia em sistemas elétricos industriais com
fornos elétricos a arco.

1.1 OBJETIVO GERAL

O objetivo desse trabalho é desenvolver um algoritmo baseado na


Transformada Wavelet, para detecção e classificação de distúrbios múltiplos
provocados pela operação de fornos elétricos a arco, a fim de reduzir custos e
melhorar a qualidade da energia elétrica consumida nos sistemas aos quais estão
inseridos. Os objetivos específicos deste trabalho são:
- Apresentar os princípios de funcionamento dos fornos elétricos a arco, do ponto de
vista das cargas elétricas especiais;
- Estudar o comportamento do arco elétrico, bem como a análise de potências pelos
métodos tradicionais e o conceito de potências instantâneas;
- Estudar os parâmetros que caracterizam a qualidade de energia em sistemas
elétricos, principais distúrbios e sua classificação, com foco nas cargas elétricas
especiais;
- Propor um algoritmo baseado na Transformada Wavelet para determinação e
classificação de distúrbios múltiplos, tomando como base o modelo de um forno
elétrico a arco industrial.
Introdução 17

1.2 MOTIVAÇÃO

Uma das cargas mais complexas que um sistema elétrico pode alimentar é o
Forno Elétrico a Arco (FEA). Devido à própria natureza do arco elétrico, o forno a
arco apresenta-se ao sistema de potência como uma carga que incorpora aspectos
severos e desfavoráveis em termos de comportamento elétrico, porém é um dos
principais equipamentos responsáveis pela fabricação do aço líquido a ser
processado no lingotamento contínuo da aciaria de uma usina siderúrgica.
Nos sistemas de potência, a operação das cargas elétricas especiais, tais
como os fornos elétricos a arco, acarreta em geral uma série de influências
indesejáveis, perturbando outros consumidores, além do próprio consumidor gerador
dos distúrbios.
De um modo geral, os sinais de tensão presentes em sistemas elétricos com
fornos a arco apresentam como característica ruídos múltiplos de curta duração, cuja
identificação do instante de sua ocorrência, através de ferramentas computacionais
normalmente disponíveis, tem-se mostrado pouco eficiente.
Os distúrbios gerados durante o processo de fabricação do aço são de
interesse das concessionárias de energia elétrica responsáveis pelo fornecimento e
distribuição aos demais consumidores, motivando dessa forma o aprofundamento
dos estudos com foco no desenvolvimento de novas ferramentas para a análise de
tais fenômenos que afetam diretamente a Qualidade de Energia (QE), constituindo-
se, portanto em assunto atual e de grande importância.
A qualidade da energia, em geral, é afetada por distúrbios do tipo:
afundamento (“sag”), elevação (“swell”), cintilação (“flicker”), etc. Esses distúrbios
acontecem em um espaço de tempo muito curto (milesegundos), dificultando sua
detecção, classificação e correção através de técnicas tradicionais. A Transformada
Wavelet (TW) apresenta como característica uma pequena onda com energia
concentrada no tempo, servindo de ferramenta para a realização de análise de
fenômenos transitórios, não estacionários ou variantes em um curto intervalo de
tempo, característicos dos fornos elétricos a arco.
O método ora proposto neste trabalho foi avaliado em sinais de tensão
teóricos e em sinais reais medidos em um forno elétrico a arco instalado em um
sistema industrial, tais sinais apresentam distúrbios múltiplos, dificultando a análise
Introdução 18

pelos métodos tradicionais.


A motivação para o desenvolvimento desse método é a necessidade de
detecção e da classificação dos distúrbios múltiplos que ocorrem em um intervalo de
tempo muito pequeno, característicos da operação de fornos elétricos a arco.
Para o desenvolvimento e validação do novo método, coletaram-se os sinais
de tensão de um forno a arco, no instante de operação de maior rendimento, ou
seja, onde ocorre o menor consumo de energia. Os sinais apresentam como
característica, distúrbios múltiplos que dificultam a análise da QE pelos
procedimentos atuais, como por exemplo, a análise de Fourier, haja visto a limitação
desse método para identificação de eventos de curta duração no tempo.

1.3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Os equipamentos eletrônicos modernos podem ser afetados pelos distúrbios


no seu sistema de alimentação, pois possuem controles baseados em
microprocessadores e dispositivos eletrônicos sensíveis. Como exemplo, uma
variação para 80 a 85% na tensão de alimentação dos Controladores Lógicos
Programáveis (CLP), que são usados para controlar diversos tipos de dispositivos,
como por exemplo inversores de freqüência, podem ocasionar falhas e desligamento
nos equipamentos que estão controlando (DOUGLAS, 1993).
O desenvolvimento de algoritmos de detecção e classificação de distúrbios
na área de qualidade de energia que utilizam a Transformada Wavelet (TW) tem
crescido e se aperfeiçoado (HEYDT e GALLI, 1997). As técnicas apresentadas
mostram diversos problemas de “Qualidade de Energia” (QE), principalmente
através da utilização de funções características denominada de Wavelet-mãe.
Dentre as diversas Wavelet-mãe, a que mais se aproxima da característica dos
sinais elétricos presentes nos sistemas elétricos de potência é a daubechie 4 (db4),
que será utilizada no tratamento dos sinais do sistema em análise.
Os aspectos relacionados à QE foram abordados por Carpinelli et al. (1999)
e Delmont Filho (2003). Os conceitos apresentados, em relação à qualidade de
energia, foram simulados e utilizados na análise da forma de onda de tensão
coletada em um determinado sistema elétrico industrial.
Introdução 19

No trabalho apresentado por Gaouda et al. (2000), a TW foi utilizada como


ferramenta para análise de sinais, capaz de detectar e localizar variações de curta
duração de tempo em sistemas de distribuição de energia. A detecção e localização
dos diferentes eventos de QE foram feitas através da técnica de Análise de
Multiresolução (AMR). Baseado no método desenvolvido foi possível medir a
magnitude e duração do sinal durante a ocorrência dos diversos eventos de variação
curta.
Farias (1997) e Penna (2000) apresentaram um método que analisa a forma
de onda da tensão fazendo a detecção, localização e classificação de possíveis
distúrbios em um determinado barramento de um sistema elétrico. A técnica da TW
foi utilizada como base para os estudos, tendo a db4 como sendo a Wavelet-mãe
utilizada para análise.
Robertson, Camps e Mayer (1996) também utilizaram a TW como base para
uma nova técnica aplicada a resultados obtidos através de estudos de transitórios
eletromagnéticos. A proposta foi de utilizar a TW para detectar e analisar um sinal
característico de uma fase de tensão de uma linha de transmissão trifásica com
situações de falta e chaveamento de capacitores.
Abdel-Galil et al. (2004) e Duque et al. (2004) propuseram uma nova
definição para a classificação dos distúrbios que afetam a qualidade de energia,
baseada no aprendizado indutivo, através de árvores de decisão. Também, neste
trabalho, a Transformada Wavelet foi utilizada para detectar as características únicas
e peculiares de cada distúrbio. As árvores de decisão são obtidas baseando-se nos
resultados produzidos pela análise Wavelet.
O algoritmo desenvolvido mostrou ter um grande potencial de
desenvolvimento futuro em sistemas de monitoramento automático de distúrbios. No
entanto, a análise se manteve a níveis teóricos, não sendo exposta a sinais reais de
um sistema elétrico.
No trabalho apresentado por Duque et al. (2004), é mostrada uma técnica de
processamento de sinal digital em tempo real. Os resultados foram obtidos através
de sinalizações indicando que o método proposto é eficaz em detectar com precisão
uma grande variedade de distúrbios em um sinal de tensão, indicando ainda uma
maneira de avaliar a Distorção Harmônica Total (DHT) presente em tais sinais.
Em Hsun-Tsu e Wu Chi-Jui (2002), Montanari et al. (1994) e Tang et al.,
(1994) foi desenvolvida a análise de carga comparando fornos elétricos AC e DC.
Introdução 20

Também foi apresentada a teoria para a elaboração das curvas de carregamento,


visando obter o comportamento operacional de um forno através da obtenção do
modelo de arco do sistema sob análise, correlacionando-o com sua corrente de
operação ótima.
Em outro trabalho, He e Starzyk, (2006), propuseram a classificação dos
fenômenos relacionados à QE, a partir de um sistema de auto-aprendizado. A
inovação está na utilização da Wavelet-mãe mais simples, levando a resultados com
o mesmo nível de precisão das técnicas que utilizam Wavelet-mãe complexas. A
combinação das idéias do sistema desenvolvido e a TW podem ser utilizadas em
outros problemas como, por exemplo, análise de dados financeiros, reconhecimento
automático de alvos, etc.
A partir da revisão apresentada, este trabalho propõe um novo método
baseado na TW, aplicado na análise de distúrbios múltiplos, na forma de onda de
tensão, provocados pela operação de fornos elétricos a arco instalados em um
sistema industrial.
Os sinais utilizados para a validação do algoritmo desenvolvido foram
coletados no instante de maior rendimento operacional de um forno elétrico
industrial, ou seja, no ponto de menor consumo de energia.

1.4 ESTRUTURA DA TESE

A Tese está estruturada em quatro capítulos, conforme descrito a seguir:


O primeiro capítulo apresenta os objetivos, motivação e revisão bibliográfica
sobre a aplicação da TW na análise de qualidade de energia em fornos elétricos a
arco.
O segundo capítulo apresenta o princípio de funcionamento dos fornos
elétricos a arco, com os detalhes relativos às perturbações que os mesmos causam
em redes elétricas. É feita a análise do arco elétrico, através de simulações no
software ATP, visando analisar o comportamento do arco durante as fases de
operação do forno.
É apresentado o cálculo das curvas de carregamento, bem como os sinais
reais de tensão coletados em campo durante uma das fases de operação do forno a
Introdução 21

arco, e que será analisado pela nova técnica desenvolvida. O comportamento do


arco elétrico e a análise das potências tradicionais e em condições de tensões e
correntes distorcidas, também são mostrados neste capítulo.
Ainda no segundo capítulo os diversos parâmetros que caracterizam a
qualidade de energia elétrica tais como afundamentos de tensão (“sag”) e elevação
de tensão (“swell”), fator de potência, desequilíbrio, cintilação (“flicker”) e harmônicos
são abordados. Foi feita uma análise de potências trifásicas em sistemas com ondas
não senoidais, com base em uma formulação tradicional, levando em conta o
conteúdo harmônico, e também utilizando conceitos de potência instantânea.
O capítulo 3 apresenta os conceitos fundamentais relacionados à TW, base
teórica para o algoritmo desenvolvido. Neste capítulo descreve-se a metodologia
utilizada para localizar e classificar distúrbios múltiplos. A validação dos resultados
do método desenvolvido foi feita, aplicando-o a sinais teóricos e aos sinais de tensão
coletados em um forno a arco industrial.
O quarto capítulo apresenta as conclusões obtidas mostrando as vantagens
do método desenvolvido, bem como as propostas para trabalhos futuros.
Ao final são apresentadas as referências bibliográficas utilizadas como base
para o desenvolvimento deste trabalho.
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 22

Capítulo 2
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga
Especial

Este capítulo apresenta as características básicas e o comportamento dos fornos


elétricos a arco como cargas elétricas especiais, introduzindo alterações na forma de
onda da corrente e da tensão. Embora o conjunto formado pelo sistema trifásico e
carga apresente desequilíbrio e distorção, é apresentada uma análise das potências
ativas e reativas consumidas, baseada na formulação tradicional do regime
permanente senoidal, buscando equacionar as condições operativas otimizadas.
Como complementações são apresentados alguns aspectos relacionados com a
teoria de potência instantânea e também com a qualidade de energia em sistemas
elétricos, na presença desses fornos. Procura-se traçar um panorama geral dos
vários aspectos envolvidos com essas cargas especiais.

2.1 CARACTERÍSTICAS OPERATIVAS

O funcionamento dos fornos a arco é eletricamente simples, uma fonte de


energia elétrica alimentando eletrodos de grafite, localizados em uma câmara
fechada, provocando curtos-circuitos que concentram a energia suficiente para fundir
uma carga metálica. As características operativas básicas de um forno são baixas
tensões e altas correntes, que circulam pelos arcos voltaicos e transferem a energia
elétrica para a carga metálica (DUGAN, 1997).
Os primeiros fornos a arco instalados no Brasil datam da década de 40 e um
considerável crescimento no número de instalações foi notado nos anos 70. Nos
últimos anos, os investimentos nessa área se concentraram na modernização dos
equipamentos existentes, visando maior produtividade e qualidade tanto dos
produtos finais como das condições ambientais. Isto se nota na implementação de
técnicas como painéis refrigerados, sistemas de exaustão de fumos, técnicas de
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 23

vazamento sem escória, conversão de fornos de fusão para fornos panela (refino
secundário), automação do processo sendo que o destaque consiste no aumento de
potência específica (vide Apêndice A).
A Figura 2.1 mostra uma instalação industrial com três fornos a arco, onde
FEA1 e FEA2 são fornos de fusão de sucata, enquanto o Forno Panela faz o refino
que é parte do processo de fabricação do aço. A prática de utilização dos fornos
panela, liberando o forno a arco para a operação como apenas elemento fusor, tem
sido utilizada em grande escala pelas inúmeras vantagens que proporciona como:
aumento de produtividade, redução dos custos operacionais, e melhoria da
qualidade do aço. Inicialmente, há o carregamento dos fornos FEA1 e FEA2 com
sucata e materiais ferrosos. A sucata é transportada desde o local de
armazenamento (pátio) até o forno através de dispositivos específicos para esta
finalidade.
O ciclo típico de operação de um forno a arco conhecido como corrida
apresenta as seguintes etapas:

1° Carregamento: etapa realizada com a estrutura superior (tampa) do forno fora de


sua posição (abóbada aberta) para que o carregamento de sucata, denominado de
primeiro cesto, seja colocado no forno.
Início de Fusão: após o fechamento da abóbada, o disjuntor do forno (FEA1 ou
FEA2) é ligado, energizando o transformador e o sistema hidráulico dos braços
mecânicos, inicia-se a descida até que a extremidade dos eletrodos faça contato
com a carga, começando os arcos voltaicos.
Fusão: etapa de característica similar à anterior quanto à movimentação dos
eletrodos. Porém a máxima potência pode ser atingida, pois os arcos já penetram na
sucata abrindo três perfurações. Assim sendo, forma-se um anteparo entre os arcos
e as paredes do forno pela própria sucata e todas as irradiações são dissipadas na
própria carga a ser fundida.
2° Carregamento: repete-se a seqüência, anterior, de carregamento, início de fusão
e fusão. Normalmente, são feitos dois ou três carregamentos por ciclo de operação
do forno.
Fim de fusão/Refino: As operações metalúrgicas necessárias são feitas nesta etapa
no forno panela, preparando a carga nas características desejadas para o
vazamento.
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 24

Para análise do melhor ponto de operação e os efeitos sobre a qualidade de energia


foram utilizados os sinais de campo coletados e analisados através do Analisador de
Sinal Elétrico (ASE).

CONCESSIONÁRIO
LOCAL

LINHA-01 LINHA-02

S1 S2

LE1 LE2

D1 D2

S3 S4
138kV

S6 S5 S45 Q3 Q4 Q5 Q6

7,5MVA 15/18,75MVA 15MVA Q03 25/30MVA 25/30MVA 25/30MVA


130/25kV 130/25kV 130/25kV 131/23kV 131/23kV 131/23kV
T-024 T-023 T-040 T-44 T-45 T-46
Z=7,2% Z=9,11% Z=8,81% Z=7,93% Z=8,70% Z=7,93%
S8 S7 S46

D4 D3 D18 Q04 Q05 Q06

S11 S12 S09 S10 S47 S48


25kV BARRA 2 23kV CASA DE COMANDO 2
Q7 Q8
25kV BARRA 1 Q07 Q08 Q09 Q011
Q010

L3 L1 L2

S08 S010
CARGAS 9,6 MVAr 16,8 MVAr

9x1x300mm
2
9x1x300mm
2
9x1x300mm 2
L= 380m L= 200m L= 250m

Q12 Q13 Q14

CB9 CB10 CB11

ASE 30/36MVA 13,2MVA 30/36MVA


23/0,84-0,263kV 23/0,193kV 23/0,84-0,263kV
T-047 T-072 T-048
Z=4,8% Z=6,06% Z=4,88%

FEA1 FP FEA2

Figura 2.1 - Sistema elétrico industrial com 3 fornos a arco.


Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 25

A Figura 2.2 mostra a potência ativa média, em função do tempo, de um


forno a arco durante um ciclo de aquecimento normal, ou seja, sem a injeção de
oxigênio, caracterizada por um consumo elevado de energia elétrica, com demanda
extremamente variável, principalmente durante o processo de fusão.
O carregamento do forno é feito em vários estágios, sendo que perto do final
de cada estágio, a potência fornecida é reduzida para prevenir sobreaquecimento do
refratário.

Figura 2.2 - Potência de entrada do forno durante uma corrida.


1. Cesto 1 (período de fusão)
2. Cesto 2 (período de fusão)
3. Cesto 3 (período de fusão)
4. Refino
5. Ciclo de Calor

Em fornos modernos de alta potência, o tempo necessário para a fusão e


superaquecimento é normalmente de 70 até 80 minutos.
O acabamento do aço (refino) ocorre depois da fusão e nesta etapa o
consumo de energia se reduz, compensando apenas as fugas de calor. A duração
do período de refino depende do grau do aço que será produzido. Isto pode ser feito
em um curto espaço de tempo, em torno de meia hora para determinados tipos de
aço e até mesmo 2 horas para aços especiais.
O tempo de utilização da potência máxima gira em torno de 2.500 horas por
ano. Recentemente, as siderúrgicas introduziram processos onde a potência
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 26

instalada é melhor utilizada. Um exemplo é o processo ASEA-SFK, onde o aço é


transportado para o forno panela depois da fusão e o refinamento ocorre neste
forno. Desta forma, o forno elétrico a arco estará disponível mais rapidamente para
uma nova carga. Com este processo, o tempo de utilização da potência instalada
pode aumentar para mais ou menos 3.500 horas/ano.
A Figura 2.3 mostra um exemplo das formas de ondas de tensão nas fases
a, b e c, registradas no secundário do FEA1. Nota-se as formas de onda de tensão
quando o forno está ligado, porém sem carga e o início da fase de fusão do aço.

Tensão 01_Forno 01
Va Vb Vc

V
800
Forno ligado Fase da fusão do aço
600

400

200

0 t

-200

-400

-600

-800

Figura 2.3 - Forma de onda da tensão de um forno elétrico a arco.


Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 27

2.2 ARCO ELÉTRICO

2.2.1 Generalidades

O arco elétrico se manifesta durante descargas elétricas em meios gasosos,


normalmente associado a correntes elevadas. Durante a fase de extinção, em um
forno a arco, a tensão aplicada ao meio ionizado corresponde à tensão do
secundário, fase-neutro, do transformador de alimentação. Esta tensão tem uma
influência decisiva no instante de reignição do arco. A Figura 2.4 mostra as formas
de ondas típicas de corrente e tensão, sob condições ideais.
Durante o período de condução do arco elétrico, a corrente é transportada
em um meio denominado por plasma, submetido a altas temperaturas, da ordem de
10000 a 15000°C. A tensão necessária para estabelecer e manter o arco elétrico
estável, entre os eletrodos, é da ordem de 10 V/cm. Para uma tensão de arco de
300 V, pode-se esperar que o comprimento do arco fique em torno de 30 cm.

pu
PU
1.8

TENSÃO NO ELETRODO

1.2
IGNIÇÃO DO ARCO

CORRENTE DE ARCO CORRENTE DE ARCO


0.6
EXTINÇÃO DO ARCO EXTINÇÃO DO ARCO

0.0

EXTINÇÃO DO ARCO EXTINÇÃO DO ARCO


-0,6
CORRENTE DE ARCO

IGNIÇÃO DO ARCO
-1.2

^ t
-1.8
0 5 10 15 20 25 30 35 m seg

Figura 2.4 - Corrente e tensão teórica durante o processo de estabelecimento do arco elétrico em um
sistema de 60 Hz.
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 28

Os sistemas de controle dos fornos a arco modernos possuem reguladores


de eletrodos cuja função principal é manter uma determinada relação entre os
valores de corrente e de tensão do arco, ajustada pelo operador, para se obter a
máxima potência de operação e o melhor rendimento. Quando a abóbada está
coberta com escória derretida, somente pequenos ajustes da posição dos eletrodos
são necessários para manter a potência constante. Entretanto, durante a fusão, os
reguladores constantemente ajustam a posição dos eletrodos em resposta a
flutuações na corrente e na tensão. Quando os reguladores enviam os sinais de
comando para a elevação dos eletrodos, visando a interrupção da corrente, o arco é
naturalmente extinto. Um valor alto de corrente aparece quando o eletrodo entra em
contato novamente com a carga para reacender o arco.
A interrupção do arco pode ser causada pela repentina fundição de um tipo
especifico de sucata, ao redor do eletrodo, isto pode também resultar na diminuição
da corrente do regulador para um valor abaixo do limite de estabilidade do arco para
o circuito elétrico formado.
A Figura 2.5 mostra o sistema de regulação para um forno a arco industrial.
Devido à instabilidade da corrente de arco, principalmente no início da fusão,
é difícil quantificar os harmônicos presentes no sinal de corrente. A Tabela 2.1
mostra algumas faixas de valores médios de harmônicos de corrente, típicos de
fornos elétricos a arco.
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 29

AUTOMAÇÃO DO PROCESSO
SISTEMA DE CONTROLE DOS ELETRODOS

Figura 2.5 - Sistema de controle de eletrodos.

Tabela 2.1 - Harmônicos de corrente em fornos a arco em % do componente fundamental


Ordem dos Harmônicos Faixa dos Valores Médios % Máxima %
2 4-9 30
3 6 - 10 20
4 2-6 15
5 2 - 10 12
6 2-3 10
7 3-6 8
9 2-5 7
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 30

PU

2.4
PU TENSÃO NO ELETRODO

1.8 1.8

TENSÃO NO ELETRODO

1.2 IGNIÇÃO DO ARCO


1.2 IGNIÇÃO DO ARCO
IGNIÇÃO DO ARCO

CORRENTE DE ARCO CORRENTE DE ARCO


0.6 0.6
EXTINÇÃO DO ARCO EXTINÇÃO DO ARCO

0.0 0.0

EXTINÇÃO DO ARCO EXTINÇÃO DO ARCO


EXTINÇÃO DO ARCO EXTINÇÃO DO ARCO
-0,6 -0,6
CORRENTE DE ARCO
CORRENTE DE ARCO
IGNIÇÃO DO ARCO IGNIÇÃO DO ARCO
-1.2 -1.2

t
-1.8 -1.8
0 5 10 15 20 25 m seg
t
-2.4
0 5 10 15 20 25 m seg

a) b)

PU
1.8

TENSÃO NO ELETRODO

1.2 IGNIÇÃO DO ARCO


IGNIÇÃO DO ARCO

CORRENTE DE ARCO
0.6

0.0
c)
-0,6

IGNIÇÃO DO ARCO
CORRENTE DE ARCO
-1.2

t
-1.8
0 5 10 15 20 25 m seg

Figura 2.6 - Curvas de corrente e tensão de um forno a arco com transformador para dois “tap’s”
distintos e dois fatores de potência.
a - transformador com tensão secundária correspondente a 1,60 pu de pico com a corrente de
arco nula durante aproximadamente 2,00 ms.
b - transformador com tensão secundária correspondente a 2,20 pu de pico com a corrente de
arco nula durante aproximadamente 0,75 ms.
c - transformador com tensão secundária correspondente a 1,60 pu de pico com fator de potência
a corrente de arco com reignição instantânea.

Na Figura 2.6-a, o fator de potência (FP) considerado é 0,66 e a tensão


disponível, quando a corrente passa por zero, não é suficiente para permitir a
ignição instantânea do arco. A ignição não ocorre até que a tensão tenha se elevado
acima de um patamar mínimo, conseqüentemente existindo um intervalo de tempo
com corrente nula.
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 31

Na Figura 2.6-b, por outro lado, o fator de potência é da ordem de 0,81 e


neste caso a tensão é suficiente para que o arco se estabeleça após a corrente
permanecer em zero ainda durante um pequeno intervalo de tempo.
Na Figura 2.6-c, o fator de potência considerado é 0,37 e neste caso a
tensão é suficiente para que o arco se estabeleça instantaneamente, após a
passagem da corrente pelo zero. Notar que neste caso a tensão secundária de
circuito aberto é de 1,6 pu de pico, ou seja, o mesmo tap da Figura 2.6-a. Durante o
processo de refino do aço, as formas de onda de tensão de arco tornam-se mais
estáveis, enquanto a temperatura do banho líquido se eleva.
Desse modo, nota-se que o forno deve ser operado com baixo fator de
potência para assegurar operação estável, principalmente no início do período de
fusão, no qual o arco é normalmente instável. As Figuras 2.7 e 2.8 ilustram a
formação do arco elétrico com vários comprimentos, assim como a nomenclatura
usual utilizada.

ELETRODO

ARCO
D

O
SUCATA

ELETRODO

-
CATODO
PLASMA DO ARCO
ANODO

+
SUCATA

Figura 2.7 - Visualização dos eletrodos e formação do arco elétrico.


Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 32

Pode-se notar na Figura 2.7, a distância (D) entre os eletrodos e o ângulo (θ)
da direção do arco em relação ao nível médio superior da sucata.

a b c

Figura 2.8 - Tipos de arco elétrico: a - arco longo, b - arco curto, c - arco médio.

A transferência de calor está concentrada sobre a região próxima dos


eletrodos, se o arco for curto, entretanto, se o arco for longo, grande parte do calor
atinge as paredes do forno e a abóbada.
Para evitar desgaste desnecessário do refratário, o forno deve ser operado
preferencialmente com comprimento de arco curto. O comprimento do arco depende
quase que inteiramente da tensão. A seguinte relação empírica pode estimar o
comprimento do arco:

La = Va − 50 (1)

Na expressão e figura anteriores tem-se:

La - Comprimento do arco em mm;

Va - Tensão do arco em V.
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 33

Se for desejado um arco curto, a tensão através dele deve,


conseqüentemente, ser mantida baixa.
A potência reativa (Q) necessária à operação do forno elétrico obedece à
equação:
Q = 3. X th .Ia2 (2)

Onde X th é a reatância por fase vista dos terminais do eletrodo (equivalente de

Thevenin). É interessante observar que deve existir um valor mínimo para X th

visando obter uma corrente máxima de curto-circuito adequada para a operação do


forno elétrico a arco. Quando o projeto do transformador do forno juntamente com o
equivalente da rede não atingir o valor de X th mínimo, é normalmente incluído no

lado primário do transformador um reator (vide L3 ou L2 na Figura 2.1).


A Figura 2.9 mostra a curva característica do comprimento do arco ( La ), ou

até mesmo da tensão de arco (1), em função da corrente, parametrizada por tensão
de tap do transformador.

L arco

POSIÇÃO B1 B2 B3 CORRENTE CONSTANTE IA4 PARA VÁRIOS COMPRIMENTOS A 1, A 2 , A 3


MÁXIMA DOS COMPRIMENTOS CONSTANTES B1, B2, B3 PARA VÁRIAS CORRENTES
ELETRODOS
VÁRIOS COMPRIMENTOS L1 , L 2, L3 E VÁRIAS CORRENTES IA1, IA2 E IA3
PARA TENSÃO CONSTANTE V1

NOTA: V1 <V 2 <V 3

A3

L1 V3

A2
L2
V2
L3
A1
V1

ELETRODOS I arco
EM CURTO
CIRCUITO O IA1 IA2 IA3

Figura 2.9 - Característica do comprimento do arco em função da corrente e da tensão.


Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 34

O posicionamento dos eletrodos, para cima ou para baixo, ajusta o


comprimento do arco, tentando estabilizá-lo quando a corrente fica reduzida, com
arcos longos, ou mesmo quando a corrente se eleva a valores próximos da corrente
de curto-circuito, com tensão de arco quase nula.
Obviamente, os diferentes comprimentos de arco têm influência no fator de
potência da instalação.

2.2.2 Arco elétrico com comportamento resistivo linear

A Figura 2.10 mostra o circuito equivalente do sistema elétrico industrial da


Figura 2.1, para o ramal do alimentador do FEA1, permitindo a análise operativa do
forno supondo sistema trifásico equilibrado e regime permanente senoidal
(VARADAN; MAKRAM; GIRGIS, 1996) e (MONTANARI et al., 1994). Nesta
avaliação, o arco elétrico é admitido com uma característica estática, considerando o
comportamento de uma resistência pura.

Rth X th Ia

VU Ra

Figura 2.10 - Circuito simplificado para mostrar o comportamento qualitativo do sistema.

Onde se tem:
V - Tensão da fonte (entre fase e neutro)
Xth - Reatância equivalente (de Thèvenin)
Rth - Resistência equivalente (de Thèvenin)
Ra - Resistência equivalente do arco
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 35

Na Figura 2.10, para uma dada condição operativa, a corrente é dada por:

V
Ia = (3)
X th2 + (Rth + Ra )2

Ocorrerá um curto-circuito pleno com a corrente:

V
Icc = (4)
X th2 + Rth2

Definindo-se ainda a relação:

Icc
a= (5)
Ia

Com base na Figura 2.10, se Ra = 0, tem-se Ia = Icc. O arco se torna mais


estável à medida que o valor de a tender a 1, ou seja, quando a corrente de arco
ficar elevada, porém, é recomendável mantê-la acima do valor unitário. O fator de
potência do forno elétrico, dado pela expressão (6) e a estabilidade do arco variam
em sentido inverso.
2
⎛1 ⎞
FP = 1 - ⎜ ⎟ (6)
⎝a⎠

A Figura 2.11 mostra o comportamento do fator de potência ( FP ) em fornos


elétricos a arco de pequeno, médio e grande porte.
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 36

FP FAIXA DE TRABALHO PARA


FORNO PEQUENO E MÉDIO

1,0
0,95
0,9
0,85
0,8
0,75
0,7
0,6
0,5 FAIXA DE TRABALHO
0,4 PARA FORNO GRANDE

0,3
0,2
0,1 a
1 2 3 4

Figura 2.11 - Característica FP = f(a).

Considerando que o fator de potência de operação dos fornos elétricos a


arco é normalmente inferior aos limites estabelecidos pelos concessionários, para se
evitar multas (devido ao baixo fator de potência), devem-se instalar sistemas de
compensação de potência reativa tais como banco de capacitores, filtros de
harmônicos, compensadores estáticos, etc.
Assumindo o arco elétrico com comportamento linear, puramente
resistivo, os oscilogramas das tensões e correntes são senoidais, podendo o sistema
trifásico ser tratado com as expressões de potências tradicionais, a partir de valores
eficazes, ou de potências instantâneas, indistintamente.
A Figura 2.12 exemplifica para uma resistência de arco linear, o
comportamento de tensões, correntes e potência instantânea média, ativa e reativa,
obtida através de simulação, usando os dados da referência Ozgun e Abur (1999).
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 37

V Tensões do arco
500

0
Va
Vb
Vc
-500
0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01 0.012 0.014 0.016
t(ms)
KA Correntes do arco
10

0
Ia
-5 Ib
Ic
-10
0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01 0.012 0.014 0.016
t(ms)
Potências instantâneas do arco
10

0
P3f(MW
P3φ (MW))
Q3f(MVAr)
Q3φ (MVAr)
-5
0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01 0.012 0.014 0.016
t(ms)

Figura 2.12 - Tensões, correntes e potências ativa e reativa instantâneas com arco puramente
resistivo.

2.2.3 Comportamento não linear do arco elétrico

Na realidade, o arco elétrico não apresenta o comportamento de uma


resistência linear, descrevendo ao longo do tempo uma curva de tensão em função
da corrente denominada por ciclograma. Em condições de um meio gasoso
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 38

controlado, este comportamento pode ser repetitivo, o que não é o caso do plasma
que se estabelece em um forno elétrico a arco, sujeito as diversas modificações de
pressão, temperatura e de componentes do meio físico, de forma aleatória,
resultando em ciclogramas com aspectos bem variáveis e difíceis de serem
modelados.
A Figura 2.13 apresenta o comportamento de alguns ciclogramas obtidos
como resultado de medições efetuadas no FEA1.

600

400

200
Tensão (V)

0
-50 -40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40 50
-200

-400

-600

-800
Corrente (kA)

Figura 2.13 - Ciclogramas obtidos das medições de campo para alguns ciclos.

A Figura 2.14 apresenta, para um ciclo, um ciclograma reduzido a três


segmentos aproximados de reta para o FEA1.
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 39

Figura 2.14 - Comportamento do arco elétrico com três segmentos de reta.

A Figura 2.15 apresenta o comportamento médio do arco elétrico com três


segmentos de reta, descrevendo os semi-ciclos positivos e negativos de correntes e
tensões, simuladas no software ATP.

V
250.0

187.5

125.0

62.5

0.0

-62.5

-125.0

-187.5

-250.0
-20 -15 -10 -5 0 5 10 15 *10 3 20
I (A)

Figura 2.15 - Característica não linear do arco conforme Ozgun e Abur (1999).
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 40

As distorções de tensões e correntes são causadas pelo comportamento


aleatório do arco elétrico, sendo difícil o estabelecimento de um modelo que
reproduza esta variabilidade dos ciclogramas do ponto de vista físico.
Montanari, et. al. (1993), Ozgun e Abur (1999), Plata e Tacca (2005) fazem
um estudo do modelamento do arco elétrico, um tanto simplificado, tentando
estabelecer modelos não lineares do mesmo, a partir de medições de tensões e
correntes em um forno. A possibilidade de se obter um modelo do arco permitiria o
uso de simulações do comportamento elétrico do forno em programas de transitórios
eletromagnéticos.
O modelo de arco desta natureza pode eventualmente servir para
determinadas avaliações, de potências elétricas e avaliações de considerações
operativas, apresentando, contudo, um comportamento limitado por ser repetitivo.
Um outro modelo, apresentado por Plata e Tacca (2005), introduz modificações nos
segmentos de retas a partir de gerações de números aleatórios, porém, sem
apresentar um claro embasamento físico para este comportamento. Um aspecto que
ainda torna este modelo um pouco rudimentar é a ausência de uma representação
na forma de uma histerese, durante o crescimento e redução da tensão, presente no
comportamento descrito pelo ciclograma.
As Figuras 2.16 e 2.17 a seguir apresentam o comportamento da tensão e
da corrente de arco para o modelo simplificado da Figura 2.14, composto por
segmentos, ajustado para as condições experimentais apresentadas por Ozgun e
Abur (1999), desenvolvido para o programa ATP.
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 41

V
300

200

100

-100

-200

-300
0.08 0.09 0.10 0.11 0.12 0.13 0.14 [s ] 0.15
t

Figura 2.16 - Tensão de Arco.

I (A)
20
*10 3
15

10

-5

-10

-15

-20
0.08 0.09 0.10 0.11 0.12 0.13 0.14 [s ] 0.15
t

Figura 2.17 - Corrente de Arco.

Podem-se observar as distorções introduzidas pelo comportamento não


linear do arco elétrico, que implicam em análises mais detalhadas das potências
consumidas pela carga.
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 42

O desenvolvimento de modelos matemáticos mais sofisticados para o arco


elétrico com a finalidade de utilização em programas de transitórios
eletromagnéticos, poderia contribuir para futuras explorações da carga elétrica do
forno. No presente trabalho, foi desenvolvido um modelo, baseado na proposição da
referência Ozgun e Abur (1999), implementado no programa ATP. Com este modelo,
podem ser obtidos resultados comparativos sobre o efeito de representações
lineares ou não do arco elétrico a serem ainda melhor avaliadas no consumo de
energia elétrica. Cabe ainda comentar que, do ponto de vista da análise de
distorções, objeto do Capítulo 3, preferencialmente serão utilizados os resultados de
medições, contendo os múltiplos distúrbios existentes e aleatoriedade de eventos.

2.3 OTIMIZAÇÃO DAS CONDIÇÕES OPERATIVAS

Como existe uma falta de experiência operativa dos fornos elétricos a arco
no Brasil, pois algumas empresas ainda apresentam procedimentos operacionais
artesanais e conhecimento superficial do processo, a otimização das condições
operativas de um forno elétrico normalmente é obtida em análises e observações
experimentais de várias corridas sucessivas, as quais são ajustadas às diversas
variáveis, evidenciando a necessidade de um conhecimento mais aprofundado do
controle de algumas variáveis específicas, tais como:

- Consumo de energia elétrica em kWh/t;


- Consumo de eletrodos em kg/t;
- Tempo de fusão em minutos.

Para controle e ajuste do consumo de energia elétrica, com a finalidade de


se otimizar a produção, é necessário o controle das perdas.
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 43

A potência ativa, disponibilizada para o circuito elétrico do forno, é dada pela


seguinte expressão:

P= Pa + Pj (7)

P - Potência ativa
Pa = Potência de arco
Pj = Potência de perdas

A potência relativa às perdas (Pj) é pequena ao ser comparada com a


potência de arco (Pa) e, portanto, pode ser desprezada. Para se otimizar Pa deve-se
concentrá-la ao máximo no período de fusão e na manutenção da temperatura do
banho de aço líquido.
Isto pode ser conseguido com uma regulagem do forno em termos da
máxima potência em todas as fases do processo da corrida, levando em conta as
condições metalúrgicas, com um programa de otimização da potência, ao longo de
todo processo de fabricação do aço.
O controle da temperatura dos painéis refrigerados e da abóbada, assim
como do comprimento do arco, é importante, pois tais componentes devem aquecer
a carga e não os painéis. Quanto maior for o arco, maior será o calor irradiado e
menor a potência aplicada (para um mesmo tap), com um rendimento maior.
O consumo de eletrodos é conseqüência da faixa de operação do forno. A
regulagem do forno passa pela programação de potência, limitada pela densidade
de corrente dos eletrodos. O próprio fabricante do eletrodo fornece a faixa de
corrente mais econômica para sua operação, assim como os limites, superior e
inferior, da corrente operativa. Com a corrente fluindo pelo eletrodo, abaixo do valor
mínimo garantido, aparece o fenômeno de oxidação, demonstrada pelo afinamento
do eletrodo e conseqüente quebra de pontas. Com alta densidade de corrente,
próxima ao limite especificado pelo fabricante, o consumo de eletrodos é acelerado
com a elevação de temperatura, podendo inclusive danificar as placas de contato da
garra do braço condutor.
A determinação do ponto de operação otimizado é de fundamental
importância para se obter o melhor rendimento do processo, com a preservação das
condições do forno e do conjunto de eletrodos. Com base nos cálculos apresentados
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 44

no Apêndice B, tomando como base o FEA1, o valor da corrente nominal de


operação e a de curto-circuito é 36,2 kA e 51,7 kA respectivamente (DASTUR e CO.
PRIVATE LTD., KUKA, 1963) e (SCHWABE, 1954).
Para o forno em análise, nas condições definidas anteriormente, elabora-se
a curva de carregamento do mesmo, com base na Tabela 2.2 e apresentada na
Figura 2.18, para a reatância indutiva do reator L3 (vide Tabela C.2) como sendo
XL3 = 1,1 Ω. Nesta análise, admite-se um comportamento linear para o arco elétrico
(resistivo) e um sistema trifásico simétrico equilibrado.

Tabela 2.2 - Curva de carregamento do forno a arco


Ia S Q P Pj Pa Ra Va Va Ia FP
pu MVA MVAr MW MW MW pu pu V kA pu
0,005 0,52 0,01 0,52 0,00 0,52 193,30 0,9998 577,87 0,5 1,000
0,052 5,17 0,52 5,15 0,01 5,14 19,20 0,9933 574,11 5,2 0,995
0,103 10,34 2,07 10,14 0,04 10,10 9,44 0,9764 564,35 10,3 0,980
0,155 15,52 4,65 14,80 0,08 14,72 6,11 0,9488 548,42 15,5 0,954
0,207 20,69 8,27 18,96 0,14 18,82 4,40 0,9097 525,80 20,7 0,917
0,259 25,86 12,93 22,40 0,22 22,18 3,32 0,8575 495,64 25,8 0,866
0,310 31,03 18,62 24,83 0,32 24,51 2,55 0,7898 456,50 31,0 0,800
0,362 36,20 25,34 25,86 0,43 25,43 1,94 0,7023 405,91 36,2 0,714
0,414 41,38 33,10 24,83 0,57 24,27 1,42 0,5865 338,98 41,3 0,600
0,465 46,55 41,89 20,30 0,72 19,59 0,90 0,4208 243,20 46,5 0,436
0,491 49,14 46,67 15,36 0,80 14,56 0,60 0,2964 171,33 49,1 0,313
0,497 49,65 47,66 13,93 0,82 13,11 0,53 0,2641 152,62 49,6 0,280
0,502 50,17 48,66 12,22 0,83 11,39 0,45 0,2271 131,25 50,1 0,244
0,507 50,69 49,67 10,12 0,85 9,27 0,36 0,1829 105,74 50,6 0,200
0,512 51,20 50,68 7,28 0,87 6,41 0,24 0,1251 72,33 51,1 0,142
0,517 51,72 51,71 0,88 0,88 0,00 0,00 0,0000 0,00 51,7 0,017

700,00
Va FP%
120,00

600,00 100,00 Va [V]


500,00 S [MVA]
80,00
Q [MVAr]
400,00
P [MW]
60,00
PJ [MW]
300,00
Pa [MW]
40,00
200,00 FP%

20,00 Iop
100,00

0,00 0,00
36,2
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 IA kA

Figura 2.18 - Curva de carga para o FEA1 com circuito equilibrado com o reator L3
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 45

Na Figura 2.18, pode ser visto ainda que, se a potência for diminuída apenas
através da redução da corrente com a tensão secundária do transformador
inalterada, a tensão do arco aumentará, implicando na redução da eficiência da
etapa do processo de fusão, que depende da quantidade de calor transferida do
arco para a sucata. No entanto, a eficiência global do forno diminui e o desgaste do
refratário aumenta devido ao calor por radiação.
O decréscimo de potência do ponto máximo da curva, apenas pela redução
da tensão do transformador, leva o ponto operativo à direita do valor máximo da
curva, reduzindo eficiência e arcos mais curtos.
Em resumo, pode-se dizer que do ponto de vista elétrico, deve-se manter o
ponto de operação à esquerda do ponto máximo da potência de arco, mas não muito
à esquerda. Procura-se ainda selecionar um ponto no qual o fator de potência esteja
próximo de 0,8 a 0,7 para fornos de médio e grande porte.
Destaca-se que o desgaste do refratário, nas paredes e no teto do forno,
representa um considerável desperdício e, portanto, uma redução relativa deste
desgaste otimiza o custo total de operação por tonelada de aço produzido,
justificando a operação ligeiramente à esquerda do ponto onde ocorre a potência
máxima.
Analogamente ao procedimento anterior, porém curto-circuitando o reator L3
(ou seja, com XL3 = 0 Ω), obtém-se uma corrente de operação de 40,5 kA.
Observa-se que com XL3 = 0, haverá um aumento na corrente de operação da
ordem de 11%. O aumento na corrente de operação reduz o tempo necessário para
cada fase do processo siderúrgico, consequentemente, haverá redução no consumo
total e custo da energia elétrica.
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 46

700,00 Va FP%
120,00

600,00
100,00
Va [V]
500,00
80,00 S [MVA]
Q [MVAr]
400,00
P [MW]
60,00
PJ [MW]
300,00
Pa [MW]
40,00 FP%
200,00
Iop

100,00 20,00

0,00 0,00 IA kA
40,5
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0

Figura 2.19 - Curva de carga para o FEA1 com circuito equilibrado sem o reator.

Tomando como base a Figura 2.19, e os resultados anteriores, pode-se


verificar que a análise da alteração da posição do reator L3, em função das fases do
processo siderúrgico, pode ser bastante útil, tanto do ponto de vista dos diversos
custos associados, quanto na redução dos efeitos da operação dos fornos na
qualidade de energia nos sistemas aos quais estão inseridos.
A Figura 2.20, a seguir, mostra a análise teórica do comportamento da
potência ativa entregue ao FEA1, em regime permanente na freqüência industrial, ao
alterar as características do reator L3 (Siderúrgica Barra Mansa EAF Power Study -
Optimization - AMI GE, 2007). Embora os tap’s do reator estejam disponíveis para
1,1; 1,4; 1,7 e 2,0 Ω fez-se uma varredura desde 0 até 3,2 Ω, a fim de observar o
possível ganho de potência ao se efetuar um aumento no reator L3.
O desenvolvimento de dispositivos que possam identificar de forma precisa,
através da análise das formas de onda de tensão, as diversas fases do processo
siderúrgico, poderá ser utilizado para a tomada de decisão no instante de
chaveamento remoto de L3.
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 47

Figura 2.20 - Curva de carga do forno em função da indutância do reator, de fase fusão e corrente
mínima de 38 kA.

2.4 OSCILOGRAMAS DE TENSÕES E CORRENTES

Com a finalidade de se caracterizar o comportamento desta carga, tanto do


ponto de vista das distorções, quanto da potência consumida, foram feitas medições
no secundário do transformador T-047 (nos terminais dos eletrodos do FEA1),
utilizando-se um medidor com capacidade para coletar 64 amostras por ciclo a
60 Hz.
A Amostragem de Sinais está vinculada à necessidade de se determinar, em
um sistema elétrico real, os valores eficazes e os harmônicos da tensão e da
corrente, da potência média (ativa), do fator de potência, etc., pois, uma vez que na
prática, as formas de onda de tensão e de corrente são distorcidas e não existem
funções matemáticas específicas que consigam representá-las diretamente. Assim
sendo, o procedimento da amostragem consiste em admitir que, por um intervalo de
tempo finito, o valor característico da função em análise fique constante, o que
permite a um dispositivo eletrônico ter o tempo necessário para reter este valor e
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 48

utilizá-lo para aplicações específicas pelo lado da medição e utilizá-lo para se efetuar
procedimentos matemáticos visando atender os objetivos da determinação dos
valores de interesse das grandezas em análise.
O sistema de medição utilizado, de acordo com a teoria da amostragem em
um período de tempo de 16,66 mseg (60 Hz) efetua a coleta de 64 amostras, ou
seja, fixa o valor do sinal em análise durante 260 μseg. Assim sendo, os diversos
registros (formas de onda) em função do tempo (valores instantâneos) referentes
aos sinais de tensão e de corrente, que foram coletados perfazendo 45 (quarenta e
cinco) ciclos seqüenciais estão mostrados nas Figuras 2.21 a 2.24.

Va Vb Vc
V
800

600

400

200

t
-200

-400

-600

-800

Figura 2.21 - Forma de onda da tensão em função do tempo no FEA1.


Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 49

Va Vb Vc
V
800

600

400

200

t
-200

-400

-600

-800

Figura 2.22 - Forma de onda da tensão em função do tempo no FEA1.


Va Vb Vc
V
800

600

400

200

t
-200

-400

-600

-800

Figura 2.23 - Forma de onda da tensão em função do tempo no FEA1.


Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 50

Va Vb Vc

V
800

600

400

200

0 t

-200

-400

-600

-800

Figura 2.24 - Forma de onda da tensão em função do tempo no FEA1.

Ia Ib Ic
kA
120

100

80

60

40

20

0 t

-20

-40

-60

-80

-100

Figura 2.25 - Corrente de arco.

Tomando como base as medições de campo, observa-se que existem várias


distorções no sinal de tensão e corrente. Utilizando a Série de Fourier (HSU, 1973),
é possível calcular os harmônicos de tensão e de corrente. A Figura 2.26 apresenta
para um exemplo de campo, o conteúdo harmônico em um determinado ciclo de
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 51

tensão.

400

300
Va (V)

200

100

0
0 5 10 15 20 25 30
harmônica

40

30
Ia (kA)

20

10

0
0 5 10 15 20 25 30
harmônica

Figura 2.26 - Conteúdo harmônico fase a.

2.5 ANÁLISE DA POTÊNCIA EM CONDIÇÕES DE TENSÕES E


CORRENTES DISTORCIDAS.

O comportamento não linear do arco elétrico causa alterações nas formas de


onda da tensão e da corrente, com implicações no cálculo da potência ativa e
reativa. A análise, a seguir, procura traçar um paralelo do cálculo tradicional,
supondo condições de um sistema trifásico simétrico equilibrado e de um sistema
elétrico trifásico alimentando uma carga não linear, apresentando formas de onda
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 52

distorcidas e não repetitivas.


As tensões e correntes distorcidas podem ser decompostas em suas
componentes harmônicas, sendo dadas por:


v (t ) = V0 + 2 ∑ Vh cos(hωt + ϕ h )
h≠0 (8)


i (t ) = I0 + 2 ∑ Ih cos(hωt + φ h )
h≠0 (9)

Onde:

v(t): tensão instantânea.


i(t): corrente instantânea.
ω: freqüência angular da componente fundamental.
V0 , I 0 : componentes DC.

Vh e Ih: magnitudes das h-ésima harmônicas.

φh e Φh: ângulos de fase.

Os valores eficazes da tensão e corrente são, respectivamente:

∞ ∞
V= ∑ Vh2 I= ∑ Ih2
h =0 h =0 (10)

Onde Vh e Ih são as magnitudes das componentes harmônicas de tensão e corrente.


As potências ativas e reativas, para cada harmônica, são dadas por:

Ph = VhIh cosθ h Qh = VhIh senθh (11)

Onde θh é a diferença de ângulo entre tensão e corrente.

Para um sistema trifásico de quatro fios, os valores eficazes equivalentes de


Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 53

tensão e corrente para sinais senoidais são dados por:

Va2 + Vb2 + Vc2 Ia2 + Ib2 + Ic2


V = I=
3 3 (12)

Va ,Vb ,Vc , Ia , Ib , Ic são os valores eficazes de tensão e corrente para as fases.

A potência aparente equivalente é:

S = 3VI (13)

Para o caso de sinais distorcidos, a tensão e a corrente eficazes para a


freqüência fundamental são, respectivamente:

Va21 + Vb21 + Vc21 Ia21 + Ib21 + Ic21


V1 = I1 =
3 3 (14)

A potência aparente equivalente para a freqüência fundamental é dada por:

S1 = 3V1I1 (15)

Para as freqüências diferentes da fundamental as tensões e correntes


eficazes são:
2 2 2 2 2 2
Vah + Vbh + Vch Iah + Ibh + Ich
Vh = ∑ 3
Ih = ∑ 3
h ≠1 h ≠1 (16)

Desse modo, a potência aparente equivalente, considerando as freqüências


diferentes da fundamental, é calculada com:

Sh = 3VhIh (17)
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 54

A potência aparente total também pode ser calculada usando-se todas as


componentes harmônicas:

As tensões e correntes eficazes são:

∞ V 2 +V 2 +V 2 ∞ I2 + I2 + I2
V = ∑ ah bh
3
ch I= ∑ ah bh
3
ch
h =0 h =0 (18)

As potências ativas e reativas harmônicas totais são calculadas com as


expressões:


P= ∑ VhaIha cos(φha ) + VhbIhb cos(φhb ) + VhcIhc cos(φhc )
h =0 (19)


Q= ∑ VhaIha sin(φha ) + VhbIhb sin(φhb ) + VhcIhc sin(φhc )
h =0 (20)

A potência aparente é calculada a partir de:

S = P 2 + Q2 (21)

Define-se a potência de distorção como:

D = St 2 − S 2
(22)

A potência de distorção não tem um significado físico claramente definido


mas é uma componente da potência aparente St que complementa seu valor total

juntamente com a parcela S.


Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 55

A relação entre as potências é:

St 2 = P 2 + Q 2 + D 2 (23)

Um conceito que também pode ser utilizado é o da potência instantânea, em


que a potência ativa num determinado instante de tempo é calculada em função dos
valores instantâneos de tensão de fase e corrente de linha.
A potência ativa trifásica instantânea em termos das variáveis nas
coordenadas a, b e c é dada conforme referência Akagi et al., (1994), por:

p3φ = v a ia + v b i b + v c ic
(24)

A potência reativa trifásica instantânea é também definida pela referência


Akagi et al., (1994), como:

1
q3φ = ⎡⎣(v a − v b ) ic + (v b − v c ) ia + (v c − v a ) i b ⎤⎦
3 (25)

A Figura 2.27 foi obtida supondo-se a alimentação do forno constituída por


um sistema trifásico simétrico e equilibrado, e o mesmo modelo de arco para as três
fases do forno. A figura é o resultado da simulação feita com o programa de
transitórios eletromagnéticos ATP, a partir dos dados da referência Ozgun e Abur
(1999).
Nesta figura pode-se observar o comportamento de tensões, correntes e das
potências instantâneas calculadas.
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 56

Tensões do arco
400

200

0
Va
-200 Vb
Vc
-400
0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01 0.012 0.014 0.016
t(ms)
x 103 Correntes do arco
20

10

0
Ia
-10 Ib
Ic
-20
0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01 0.012 0.014 0.016
t(ms)
Potências instantâneas do arco
10

5
pP3φ(MW)
3φ (MW)
PP (MW)
0
qQ3φ(MVAr)
3φ (MVAr)

Q
Q (MVAr)
-5
0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01 0.012 0.014 0.016
t(ms)

Figura 2.27 - Comportamento da tensão, corrente e potências instantâneas do arco elétrico.


Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 57

Com a aplicação das fórmulas de (10) a (23), levando-se novamente em


consideração um sistema trifásico simétrico e equilibrado, são obtidos os seguintes
resultados:

a) Valores eficazes de tensões e correntes contemplando todas as harmônicas.

Va = 217,72 V Vb = 220,2 V Vc = 220,17 V


Ia = 13,39 kA Ib = 13,502 kA Ic = 13,673 kA

b) Potência aparente equivalente.

S = 8,621 MVA

c) Soma das potências das componentes harmônicas de tensões e correntes (S).

S = 8,300 + j0,638
S = 8,343 MVA

d) Potência de distorção.

D = 2,174 MVA

e) Os valores médios de potências instantâneas ativa e reativa, calculadas para um


ciclo são:

p3φ = 8,300 MW
q3φ = 0,934 MVar
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 58

A Figura 2.28 mostra o comportamento das potências ativa, reativa e


aparente para diversas componentes harmônicas.

Potência aparente harmônica


10

S (MVA) 5

0
0 5 10 15 20 25 30
harmônica
Potência ativa harmônica
10

5
P (MW)
0

-5
0 5 10 15 20 25 30
harmônica
Potência reativa harmônica
1

0.5
Q (MVAr)
0

-0.5
0 5 10 15 20 25 30
harmônica

Figura 2.28 - Potências ativa, reativa e aparente das componentes harmônicas.


Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 59

A Figura 2.29 mostra o comportamento da tensão, corrente e potências instantâneas


ao longo do tempo, levando-se em consideração as medições feitas no FEA1.

Tensões do arco
1000

500

0
Va
-500 Vb
Vc
-1000
0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01 0.012 0.014 0.016
t(ms)
Correntes do arco
100

50

0
Ia
-50 Ib
Ic
-100
0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01 0.012 0.014 0.016
t(ms)
Potências instantâneas do arco
60

40
Potências

20 pP3f(MW
3φ (MW)
)
PP(MW)
0 qQ3f(MVAr)
3φ (MVAr)
QQ(MVAr)
-20
0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.01 0.012 0.014 0.016
t(ms)

Figura 2.29 - Medições de tensão, corrente e variação de potências instantâneas.


Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 60

Aplicando-se as fórmulas de (10) a (23) aos sinais coletados em campo, são


obtidos os seguintes resultados:

a) Valores eficazes de tensões e correntes contemplando todas as harmônicas.

Va = 381,28 V Vb = 241,75 V Vc = 388,25 V


Ia = 40,101 kA Ib = 42,043 kA Ic = 28,013 kA

b) Potência aparente equivalente.

S = 36,566 MVA

c) Soma das potências das componentes harmônicas de tensões e correntes (S).

S = 30,812 + j13,272 (MVA)


S = 33,501 MVA

d) Potência de distorção.

D = 14,653 MVA

e) Os valores médios de potências instantâneas, calculadas para um ciclo, de


potência ativa e reativa para os dados do FEA1 são:

p3φ = 29,309 MW
q3φ = 13,846 MVAr
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 61

Potência aparente harmônica


40

30
S (MVA)

20

10

0
0 5 10 15 20 25 30
harmônica
Potência ativa harmônica
40

20
P (MW)

-20
0 5 10 15 20 25 30
harmônica
Potência reativa harmônica
15

10
Q (MVAr)

-5
0 5 10 15 20 25 30
harmônica

Figura 2.30 - Potências ativa, reativa e aparente das componentes harmônicas de tensão e corrente.

2.6 QUALIDADE DE ENERGIA EM SISTEMAS ELÉTRICOS

Durante o processo de fusão dos fornos a arco, existem variações


consideráveis nos valores de corrente as quais provocam alterações substanciais
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 62

nas formas de onda de tensão normalmente caracterizadas como afundamentos


(“sag’s”) e elevações de tensão (“swell’s”).
A seguir, são descritos os principais eventos que afetam a qualidade de
energia em um sistema elétrico industrial com a presença de fornos elétricos a arco.
O efeito “flicker” será apresentado no Apêndice D.

2.6.1 Afundamentos (“sag’s”) e elevações de tensão (“swell’s”)

Os distúrbios relativos aos afundamentos de tensão (“sag”) e elevação de


tensão (“swell”) podem ser classificados para os sinais de tensão, conforme
Tabela 2.3 a seguir. Já a Tabela 2.4 apresenta os critérios de variação de tensão em
regime permanente senoidal de acordo com a Resolução nº 024 da ANEEL,
homologada em janeiro de 2000.

Tabela 2.3 - Classificação típica dos distúrbios afundamento e elevação


Perturbação Faixa Classificação
afundamento ou elevação 0,5 ciclo a 29,99 ciclos Instantânea
afundamento ou elevação 30 ciclos a 2,99 segundos Momentânea
afundamento ou elevação 3 segundos a 60 segundos Temporária

Tabela 2.4 - Faixas de variação de tensão de leitura


Classificação da Tensão Faixa de variação de Tensão de Leitura (TL) em relação à Tensão
de Atendimento Contratada (TC)
Adequada 0,95 TC ≤ TL ≤ 1,05 TC
Precária 0,93 TC ≤ TL ≤ 1,05 TC
Crítica TL < 0,93 TC ou TL > 1,05 TC

2.6.2 Distorção de tensão devido a harmônicos

A análise de um sistema elétrico industrial, face à presença de harmônicos


de corrente e tensão, é feita através de medições e/ou simulações nas quais são
calculados o Fator de Distorção de Tensão devido aos harmônicos (FDu) e o Fator
de Distorção Individual da Tensão (FDun). Estas grandezas servem como indicativos
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 63

para quantificar a presença de harmônicos em um sistema elétrico, em maior ou


menor intensidade e o grau de perturbação que causam na rede elétrica.
A flutuação de tensão de um barramento também está associada às
distorções devido aos harmônicos de corrente, que apresenta, conforme
Procedimento de Rede do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS, 2003),
genericamente os seguintes limites individuais para o FDU:

FDU: (ordem par) ≤ 0,5%


FDU: (ordem ímpar) ≤ 1,0%

O valor de distorção de tensão devido aos harmônicos é dado por:

Un
FDUn = .100 (26)
U1


∑ Un2
n =2
FDU = .100 (27)
U12

onde:

FDUn - Fator de distorção individual de tensão em %;


FDU - Fator de distorção total de tensão em %;
U1 - Componente fundamental;
Un - Harmônico de tensão;
n - ordem do harmônico.

Conforme IEEE Stand. 519-1992 (1993) os índices FDU e FDUn devem


atender:
- tensões de operação inferiores a 69 kV: FDUn < 3% e FDU < 5%
- tensões de operação superiores a 69,001 até 161 kV: FDUn < 1,5% e FDU < 2,5%
- tensões de operação superiores a 161,001 kV: FDUn < 1% e FDU < 1,5%
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 64

Observa-se que as normas internacionais ainda não chegaram a um


consenso em relação aos índices FDU e FDUn e no Brasil os procedimentos de
Rede do ONS (2003) que tomaram como base as recomendações constantes em:
(GCOI, 1984) e (CGPS, 1993) também indicam valores diferentes daqueles
encontrado em IEEE Stand. 519-1992 (1993).
A Tabela 2.5 a seguir, resume os principais distúrbios que afetam a
qualidade de energia em um sistema elétrico.

Tabela 2.5 - Problemas de qualidade de energia


Distúrbios Características Causas típicas
Interrupções Momentânea - menor que 2 seg; Queima de fusíveis;
Temporária - entre 2 seg a 3 min; Operação da proteção
Sustentada (“outage”) - duração acima (abertura de disjuntores);
de 3 min. Falhas em equipamentos (pára-raios, isoladores,
etc...);
Manutenção preventiva / corretiva;
Acidentes nos ramais de transmissão e
distribuição;
Vendaval, quebra de isoladores, etc...
Transitórios Impulsivos unidirecionais; Descargas atmosféricas;
Oscilatórios com alterações nas Chaveamentos de grandes blocos de cargas;
magnitudes das formas de onda na Chaveamento de capacitores;
freqüência fundamental. Abertura de linhas. etc...
Subtensão Redução da magnitude da tensão Faltas remotas no sistema;
(“Afundamento ou RMS; Partida de grandes motores;
Dip”) Instantâneo: 0.5 ciclo a 30 ciclos; Perda de geração;
Momentâneo: 0.5 seg. a 3 seg; Entrada de grandes blocos de carga;
Temporário: 3 seg. a 1 min. Contato com árvores e animais;
Fornos a arco – operação.
Sobre tensão Acréscimo da magnitude da tensão Faltas desequilibradas;
(“Elevação”) RMS: Rejeições de cargas;
- Instantâneo: 0.5 ciclo a 30 ciclos; Fornos a arco – operação.
- Momentâneo: 0.5 seg a 3 seg;
- Temporário: 3 seg a 1 min.
Variações de Variações na magnitude por mais de Contingências operacionais e condições
tensão de longa 1 min especiais de variação da carga.
duração
Distorções devido Distorções da forma de onda; Operação de cargas especiais ou não lineares,
a Harmônicos Ressonâncias; tais como;
Sobre tensões sustentadas em regime - Fornos a arco;
permanente. - Inversores de freqüência;
- Retificadores;
- Ferroressonância.
Flutuação de Variações na intensidade luminosa Operação de cargas especiais;
tensão com incômodo visual envolvendo - Fornos a arco;
(“Flicker”) variações repetitivas entre 8 a 14 Hz - Cargas intermitentes.
Transitório de Ruídos de baixa freqüência na faixa Origens diversas em redes de consumidores que
curta duração de 0 a 200 Hz se propagam pelo sistema;
(“Notching” Pontes conversoras;
“Spike”) Aterramentos impróprios.
Análise do Forno Elétrico a Arco como uma Carga Especial 65

Em função dos fornos elétricos a arco apresentarem diversos métodos de


controle, haverá diferentes problemas de flutuação de carga, desequilíbrios
trifásicos, harmônicos e problemas relacionados à qualidade da energia elétrica
(MONTANARI et al., 1993) e (OZGUN; ABUR, 1999). Os métodos operacionais
tradicionais de monitoramento das diversas fases de fabricação do aço (fusão e
refino), não conseguem revelar com precisão as condições e tempo de duração de
cada uma, bem como identificar os diferentes problemas relacionados, por exemplo,
à qualidade de energia, para cada fase distinta do processo.
Com base em medições realizadas, seria importante desenvolver um
método que pudesse identificar com precisão tais fases do processo siderúrgico,
bem como os diversos eventos associados à qualidade de energia, possibilitando
dessa forma, a alteração do tap do transformador do forno ou controlando a inserção
do reator, identificado como L3 na Figura 2.1.
Assim sendo o capítulo 3 descreve uma nova técnica para a identificação e a
classificação dos eventos que afetam a qualidade de energia durante a operação
dos fornos elétricos a arco, tomando como base e analisando os fenômenos
associados aos sinais coletados na fase de fusão do aço, e apresentados neste
capítulo.
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 66

Capítulo 3
Algoritmo para Determinação e Classificação de
Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos

Este capítulo apresenta o algoritmo desenvolvido para determinação e classificação


de distúrbios múltiplos presentes nos sinais de tensão para se avaliar de modo
eficiente a qualidade de energia nas redes de distribuição dos sistemas com fornos
elétricos a arco.

3.1 TRANSFORMADA WAVELET

O estudo dos distúrbios elétricos tem merecido grande atenção devido ao


crescente interesse pela racionalização e otimização do consumo de energia elétrica,
além dos inconvenientes introduzidos na rede.
Muitas vezes, a simples inspeção de forma de onda de um sinal não é o
bastante para proporcionar o pronto reconhecimento da existência de um distúrbio.
Nos sistemas elétricos, estes distúrbios podem ser ocasionados por curtos-circuitos,
chaveamento de banco de capacitores e operações com cargas não-lineares, dentre
outros. No presente trabalho, abordam-se os distúrbios causados pela operação de
fornos elétricos a arco.
Wavelets são funções capazes de decompor e descrever sinais nos
domínios da freqüência e do tempo, de forma a permitir a análise destes sinais em
diferentes escalas de freqüência e de tempo. A decomposição de uma função com o
uso de Wavelets é conhecida como Transformada Wavelet e assim, como na análise
de Fourier, tem suas transformadas contínua e discreta.
A principal vantagem da Transformada Wavelet é a sua capacidade de
realizar uma análise local, ou seja, analisar um sinal em um ponto ou região
específica. É capaz também de revelar algumas características presentes nos sinais,
tais como pontos de descontinuidades e picos suaves entre outros. O método
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 67

consegue comprimir e eliminar o ruído de um sinal sem degradação acentuada. Em


sinais elétricos, a análise Wavelet é capaz de localizar, com precisão, os instantes
de tempo de ocorrência de eventos transitórios.
O contraste entre as técnicas através da aplicação de Fourier e Wavelet é
que, enquanto as Transformadas de Fourier realizam a análise de um sinal por
janelas simples, que têm tamanho fixo, as Transformadas Wavelet utilizam janelas
de tamanhos variados, que se adequam de acordo com a freqüência do sinal,
possibilitando assim, analisar sinais não-estacionários. A idéia básica da utilização
das janelas está apresentada na Figura 3.1.

^
¨
FREQUENCIA ESCALA

AMPLITUDE TEMPO

a) Domínio da freqüência (Fourier) b) Análise Wavelet

Figura 3.1 - Exemplos de plano tempo-frequência (Fourier X Wavelet).

Portanto, a técnica de Wavelet se baseia na utilização de longos intervalos


de tempo, onde as informações de baixa freqüência são disponíveis e em curtos
intervalos de tempo, onde as informações de alta freqüência estão mais evidentes.

3.1.1 Introdução às Famílias Wavelet

Assim como a Transformada de Fourier utiliza as funções seno e cosseno, a


análise Wavelet também utiliza funções-base. Nesta última é possível escolher qual
dessas funções será utilizada. Vários pesquisadores construíram as suas próprias
funções, também chamadas de Wavelet de análise ou Wavelet-mãe (BOGGESS e
NARCOWICH, 2001).
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 68

Para que uma função possa ser definida como uma Wavelet-mãe, a mesma
deve ter as seguintes características:

a) A área total sob a curva da função é 0, ou seja:


∫−∞ψ ( t ) dt = 0 (1)

b) A energia da função é finita, ou seja:


∫−∞ ψ ( t )
2
dt < ∞ (2)

As propriedades identificadas nas duas equações anteriores sugerem que


ψ(t) tende a oscilar acima e abaixo do eixo t, e tem sua energia localizada em
determinada região, já que ela é finita.
Essa característica de energia concentrada em uma região finita é que
diferencia a análise usando Wavelet da análise com base na teoria de Fourier, já que
esta última usa as funções seno e cosseno que são periódicas. O problema maior da
aplicação da Série de Fourier, como a Transformada Discreta de Fourier (TDF), é
que as funções com distúrbios, obtidas em fornos a arco, não são periódicas e além
disso, a aplicação da Transformada de Fourier é difícil de ser utilizada em função
dos elevados tempos de análise envolvidos.
Na análise de Fourier, podem ser extraídas apenas informações sobre o
domínio da freqüência, enquanto na análise Wavelet podem ser extraídas
informações adicionais da função no domínio do tempo. As Wavelets equilibram a
incerteza entre o domínio do tempo e o domínio da freqüência (BOGGESS e
NARCOWICH, 2001).
Para ser utilizada na análise de sinais, uma função Wavelet também deve
permitir a existência da Transformada inversa.
A seguir, serão apresentadas algumas famílias de Wavelet-mãe, definidas
no domínio do tempo.
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 69

3.1.1.1 Wavelet Haar

A Transformada de Haar foi introduzida em 1910, por Alfred Haar, e é o mais


antigo dos métodos de Transformada Wavelet, no qual os pulsos quadrados são
usados para aproximar a função original.
Transformadas Wavelet utilizando funções de Haar como funções base são
as mais simples de implementar e são computacionalmente as menos exigentes. Tal
Wavelet apresenta o inconveniente de ser descontinua, como mostra a Figura 3.2.

Figura 3.2 - Exemplo de Wavelet Haar.

3.1.1.2 Wavelet Daubechies

Em 1988 Ingrid Daubechies construiu um conjunto de funções base Wavelet


ortonormais, que são, talvez, as matematicamente mais elegantes e se tornaram um
marco nas aplicações de Wavelets. Neste conjunto a Wavelet Daub1 é a própria
Wavelet Haar. Pode-se observar, na Figura 3.3, que quanto maior a ordem da
Wavelet mais oscilatória é sua forma de onda.
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 70

Figura 3.3 - Exemplos de Wavelets Daubechies:


(a) Daub2, (b) Daub4, (c) Daub6

3.2 ANÁLISE DE DISTÚRBIOS MÚLTIPLOS

A forma tradicional para identificação dos distúrbios temporários está


baseada na comparação ponto a ponto de ciclos adjacentes. A dificuldade dessa
técnica está relacionada com a impossibilidade de detecção de múltiplos distúrbios
que ocorrem em determinados tipos de cargas como, por exemplo, nas formas de
onda da tensão e corrente de fornos elétricos a arco.
O método para a localização de distúrbios em sinais, como por exemplo,
afundamentos e elevações ilustrados na Figura 3.4, foi apresentado por Gaouda et
al. (1999). Em Gaouda et al. (1999, 2000); Delmont (2003) e He e Starzyk (2006), é
feita uma complementação dessa técnica para a caracterização do distúrbio através
da análise do módulo da diferença de energia entre o distúrbio e o sinal considerado
ideal. Em Heydt e Galli (1997), a análise é feita através da diferença de energia do
sinal, facilitando a identificação de distúrbios que geram queda ou aumento em seu
nível de energia.
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 71

Figura 3.4 - Forma de onda com distúrbio do tipo afundamento e elevação.

Nos sistemas elétricos industriais onde existem várias falhas ou


perturbações superpostas, como no caso da operação de fornos elétricos a arco,
suas perfeitas identificações e classificações não podem ser obtidas utilizando-se as
técnicas apresentadas em Abdel-Galil et al. (2004); Duque et al. (2005); Gaouda et
al. (1998, 1999 e 2000); He e Starzyk (2006); Poisson et al. (2000) e Santoso et al.
(1996), pois tais procedimentos não contemplam o perfil de ocorrência de várias
perturbações simultâneas, presente nos sinais em análise.
Assim sendo, estas técnicas não são eficazes para a detecção de distúrbios
múltiplos, motivando o desenvolvimento de uma nova técnica para a correta
caracterização desses fenômenos.

3.3 DESENVOLVIMENTO DO ALGORITMO DE IDENTIFICAÇÃO DE DISTÚRBIOS


MÚLTIPLOS

Para resolver o problema de identificação e classificação de distúrbios


múltiplos, foi desenvolvida por Cândido e Zanetta (2008), uma nova técnica através
de um algoritmo para análise automática de tais eventos. No desenvolvimento do
algoritmo foi utilizado o software Matlab e seu toolbox Wavelet, para a análise e
simulação dos sinais real e de referência. Dentre as diversas funções disponíveis
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 72

pode-se destacar a wavedec, utilizada para decomposição, e a waverc, com o


propósito de reconstituir os sinais (MISITI; OPPENHEIM; POGGI, 1996-1997).
O fluxograma apresentado, na Figura 3.5 a seguir, mostra o algoritmo
completo da técnica desenvolvida para a identificação e classificação de distúrbios
múltiplos.
.
Sinal a ser analisado

Obter forma de onda ideal de


referência a partir do sinal (CF) =CF + 1
aquisitado

Calcular os coeficientes Wavelet Classificar os tipos de Falha de


de 1ª Ordem do sinal real e de acordo com os valores de ∆E%
referência relativo a cada tipo de distúrbio

Calcular a energia dos


coeficientes Wavelet de 1ª Ordem
através do teorema de Parseval
Calcular a diferença percentual de
energia de cada nível de
decomposição Wavelet entre o
sinal de referência e o sinal real;
Verificar o número de falhas (NF)
existentes e sua posição no
E sin al − E referencia
tempo, a partir dos Picos no valor ΔE % = x100
de Energia dos coeficientes E sin al
Wavelet de 1ª Ordem do sinal real

Contador de Falha Obter os Coeficientes Wavelet


(CF) = 0 dos sinais de referência e real
para todos os níveis de
detalhamento

SIM Montar um vetor compreendendo


meio ciclo antes e meio ciclo após
(CF) <= NF ? a posição de falha
NÃO

FIM

Figura 3.5 - Algoritmo completo de identificação e classificação de distúrbios múltiplos.


Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 73

3.3.1 Equações utilizadas no desenvolvimento do algoritmo de detecção de


distúrbios múltiplos

As expressões (3) e (4) representam a formulação da Transformada Wavelet


Contínua, onde o sinal a ser decomposto é denominado por x(t) (BOGGESS;
NARCOWICH, 2001).

1
∫ x ( t ) .ψ a,b (t ).dt
*
TWC (a, b ) = (3)
a −∞

−1 ⎛t −b⎞ (4)
ψ a,b (t ) =| a | 2 .ψ ⎜ ⎟
⎝ a ⎠

A função base ou Wavelet-mãe é dada por ψ(t), em que os valores a e b


pertencem ao conjunto de números reais, com a ≠ 0, que se comportam como
parâmetros de dilatação e translação respectivamente.
A Wavelet-mãe discreta é apresentada na equação (5), enquanto que a
Transformada Wavelet Discreta (TWD) é dada pela equação (6). O sinal a ser
analisado é decomposto em diversos níveis de resolução ou sub-bandas, utilizando
a técnica de bancos de filtros digitais (KIM, AGGARWAL, 2000).

m
− t − nb 0 a0m
ψ (t ) = a 0 ψ(
2
m,n
) (5)
a0m


1
⎛ x − nb0 a0m ⎞
TWD(m, n ) = a0m 2
∑ f ( n )ψ ⎜
⎜ a0m
⎟⎟ (6)
x ⎝ ⎠

Neste caso os parâmetros a e b tornam-se funções dos números inteiros m e


n, isto é, a = a0m e b = nb0 a0m.
Por outro lado, como parte do desenvolvimento do algoritmo, será
necessário o cálculo da energia contida nos sinais envolvidos na análise para cada
um dos níveis de decomposição conforme equação (7) (Hsu, 1973).
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 74


x ( t ) dt
2
E =∫ (7)
−∞

3.3.2 Identificação de distúrbios múltiplos - Descrição do algoritmo

O primeiro passo para a identificação dos distúrbios múltiplos é a aquisição


de um sinal com tais características. Os sinais reais utilizados neste trabalho foram
coletados no secundário do FEA1, conforme menção anterior, com uma taxa de
amostragem de 64 pontos por ciclo a 60 Hz. Isso significa que os sinais foram
atualizados praticamente a cada 260 µseg. As amostras foram coletadas a partir do
sistema de medição (ANGRISANI et al., 1998).
O segundo passo consiste na geração de um sinal de referência, a partir do
sinal real coletado. Com a finalidade de estabelecer um padrão de comparação com
o sinal real, a teoria para a classificação dos distúrbios múltiplos está baseada na
diferença de energia dos coeficientes da forma de onda dos sinais reais e de
referência, sendo, portanto, necessário gerar a forma de onda do sinal de referência.
A obtenção do sinal de referência depende da determinação de sua fase e
amplitude. A fase do sinal de referência pode ser obtida com diferentes métodos, por
exemplo, pela obtenção da componente fundamental da Transformada de Fourier ou
pela aplicação do método dos Mínimos Quadrados.
Uma possibilidade que simplifica de maneira bem significativa o cálculo e o
esforço computacional é simplesmente fazer uma análise do quadrado do sinal real,
como pode ser observado na Figura 3.6. Nesta figura, para a sincronização, basta
considerar os pontos de mínimo e relacioná-los com os instantes de cruzamento
com o zero do sinal. A utilização desse método revelou-se suficientemente precisa
para os propósitos do algoritmo desenvolvido, muito embora o mesmo possa ser
complementado com a utilização dos métodos citados anteriormente.

Zeros - Identificação dos pontos de mínimo


Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 75

Figura 3.6 - Identificação da fase do sinal de referência através da aplicação do método dos mínimos
quadrados.

A amplitude do sinal de referência foi obtida através do cálculo do valor


eficaz do sinal real, cuja análise é feita a partir do instante de detecção do primeiro
zero, conforme Figura 3.7.

Início da Análise para o cálculo RMS (Zero)

Figura 3.7 - Determinação da amplitude do sinal de referência através do cálculo do valor eficaz do
sinal real.
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 76

A Figura 3.8 exemplifica o sinal real de tensão no secundário do


transformador T-047 e o sinal de referência gerado a partir do procedimento descrito
anteriormente.

Sinal de referência
Sinal real

Figura 3.8 - Aspecto dos sinais real e de referência.

Estabelecido o sinal de referência, o procedimento se desenvolve com o


cálculo dos coeficientes Wavelet de primeira ordem, referentes aos dois sinais, com
o intuito de identificar os pontos onde há distorções na forma de onda. Tais
coeficientes podem ser visualizados na Figura 3.9, que ilustra os resultados obtidos
nesta etapa.
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 77

Figura 3.9 - Coeficientes Wavelet de primeira ordem.

Após a identificação dos pontos de distorção, calculam-se as energias dos


coeficientes Wavelet de primeira ordem dos sinais de referência e real, por meio da
equação (6), na forma do somatório dos quadrados de cada coeficiente do sinal
Wavelet decomposto. A energia de cada componente é ilustrada na Figura 3.10.

Figura 3.10 - Energia dos coeficientes Wavelet de primeira ordem.


Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 78

Para que a análise seja estendida a todos os distúrbios, verifica-se o número


de distúrbios existentes através do seu instante de ocorrência. Cada distúrbio é
sinalizado a partir dos valores de pico nos coeficientes de energia de primeira ordem
do sinal real, com cada pico, nos coeficientes Wavelet de primeira ordem,
correspondendo a uma mudança de comportamento no sinal real.
A próxima etapa do algoritmo desenvolvido consiste na montagem de um
vetor com 1/2 ciclo de amostras antes e após a passagem pelo primeiro zero,
conforme pode ser visualizado na Figura 3.11.

Início da análise para verificação de falhas (meio


ciclo antes da passagem pelo primeiro zero)

½ ciclo

Figura 3.11 - Indicação do instante de início da montagem de vetores.

Para cada vetor (real e de referência), obtiveram-se 12 níveis de


decomposição, visando identificar a distribuição de energia ao longo desses níveis,
possibilitando, dessa forma, a elaboração dos critérios para classificação dos
distúrbios múltiplos.
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 79

3.3.3 Classificação dos distúrbios múltiplos

Para a correta classificação dos diversos distúrbios é necessário estudar o


comportamento dos níveis de detalhamento Wavelet, para cada coeficiente de
primeira ordem identificado anteriormente, conforme mostrado nas Figuras 3.12.a,
3.12.b e 3.12.c, para o sinal de referência e sinal real. Tomando como base o
comportamento dos níveis de detalhamento, para os sinais envolvidos na análise,
podem-se estabelecer critérios para a classificação dos distúrbios múltiplos por meio
da energia dos diversos níveis de detalhamento.

Figura 3.12.a - Coeficientes de detalhamento 1, 2, 3 e 4.


Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 80

Figura 3.12.b - Coeficientes de detalhamento 5, 6, 7 e 8.

Figura 3.12.c - Coeficientes de detalhamento 9, 10, 11 e 12.


Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 81

Foi feito o cálculo da energia, para cada um dos níveis de detalhamento


Wavelet, tanto para o sinal real quanto para o sinal de referência (ideal), visando à
obtenção de parâmetros de comparação para a fase de classificação de cada um
dos diversos distúrbios.
Cada tipo de distúrbio possui uma determinada característica específica de
energia ao longo dos 12 níveis de detalhamento. A Figura 3.13 mostra o
comportamento de todos os níveis para os sinais: real e de referência.
Energia (J)

Níveis de detalhamento
Energia (J)

Níveis de detalhamento

Figura 3.13 - Energia dos 12 níveis de detalhamento dos sinais real e de referência.

Para a obtenção dos critérios de classificação dos distúrbios múltiplos,


observou-se a necessidade de avaliação da diferença percentual de energia, para o
sinal real e de referência (GAOUDA et al., 2000b).
Nesta etapa, realizou-se o cálculo da diferença percentual de energia entre o
sinal real e o sinal de referência segundo a equação (8). O resultado pode ser visto
na Figura 3.14.

Esinal − Ereferência
ΔE % = x100 (8)
Esinal
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 82

Onde:
Esinal - energia do sinal real de cada nível de detalhamento Wavelet;
Ereferência - energia do sinal de referência de cada nível de detalhamento Wavelet.
Diferença percentual de energia

Níveis de detalhamento

Figura 3.14 - Diferença percentual de energia entre os diversos níveis de detalhamento (real x
referência).

3.4 ANÁLISE DE DISTÚRBIOS MÚLTIPLOS EM SINAIS IDEALIZADOS

A validação da técnica desenvolvida foi feita em duas etapas. Na primeira,


utilizou-se um sinal teórico contendo vários distúrbios distintos, tais como:
afundamento, elevação, “spike”, etc. O objetivo dessa fase foi caracterizar e
padronizar as curvas de diferença de energia relativa a cada tipo de distúrbio
presente no sinal teórico.
Como primeiro exemplo, pode-se observar a ocorrência de um afundamento
teórico, ilustrado na Figura 3.15, tomando como base os critérios de classificação
adotados pela ANEEL. Ainda na Figura 3.15, pode-se observar a identificação do
instante exato de início e término do distúrbio, por meio dos coeficientes.
A Figura 3.16 apresenta o espectro da diferença de energia característica do
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 83

início e fim do distúrbio. Pode-se destacar neste espectro, o percentual negativo do


nível de detalhamento 6, presente no distúrbio analisado.

Coeficientes Wavelet de primeira ordem

Figura 3.15 - Afundamento teórico e identificação do instante de ocorrência: início (t = 28,65 ms) e
término (t = 64,07 ms).

Início

Término

Níveis de detalhamento

Figura 3.16 - Espectro da diferença de energia para o início e término do afundamento teórico.
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 84

No segundo exemplo, será feita uma análise, tomando como base um


distúrbio do tipo elevação teórica, mantendo-se os mesmos critérios adotados pela
ANEEL, conforme ilustrado na Figura 3.17.
A Figura 3.17 mostra também a identificação do instante de início e término
deste distúrbio. Na Figura 3.18, é mostrado o espectro de diferença de energia
característico deste distúrbio. Neste espectro, observa-se o percentual positivo do
nível 6.

Coeficientes Wavelet de primeira ordem

Figura 3.17 - Elevação teórica e identificação do instante de ocorrência: início (t = 28,65 ms) e
término (t = 64,07 ms).
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 85

Término

Início

Níveis de detalhamento

Figura 3.18 - Espectro de diferença de energia para uma elevação teórica.

O terceiro exemplo de aplicação da nova técnica desenvolvida, está


apresentado na Figura 3.19 contendo o evento de um “notching” teórico, bem como
o instante de identificação da ocorrência do distúrbio e, na Figura 3.20, o espectro
da diferença de energia característico deste evento.
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 86

Coeficientes Wavelet de primeira ordem

Figura 3.19 - “Notching” teórico e identificação do instante de ocorrência (t = 49,49 ms).

Níveis de detalhamento

Figura 3.20 - Espectro da diferença de energia para um “notching” teórico.


Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 87

A Figura 3.21 apresenta o próximo exemplo de aplicação, podendo-se


observar a ocorrência de um “spike” teórico. Pode-se também observar, na
Figura 3.21, o instante de ocorrência deste distúrbio. Na Figura 3.22, é mostrado o
espectro da diferença de energia característico deste evento.

Coeficientes Wavelet de primeira ordem

Figura 3.21 - “Spike” teórico e identificação do instante de ocorrência (t = 49,49 ms).


Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 88

Níveis de detalhamento

Figura 3.22 - Espectro de energia para um “spike” teórico.

No quinto exemplo de aplicação, associam-se dois tipos de distúrbios,


conforme a Figura 3.23, o primeiro sendo um afundamento e posteriormente uma
elevação em um sinal teórico. Observa-se, na Figura 3.24, os instantes de
identificação das ocorrências (início e término) de cada um dos distúrbios. Na
Figura 3.25, é mostrado o espectro da diferença de energia característico para estes
eventos.
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 89

Figura 3.23 - Sinal com a presença de afundamento e elevação teóricos.

Coeficientes Wavelet de primeira ordem

Figura 3.24 - Identificação do instante de ocorrência de cada distúrbio.


Afundamento: início (t = 28,65 ms) e término (t = 64,07 ms) Elevação: início (t = 103,91 ms)
término (t = 130,73ms).
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 90

Figura 3.25 - Espectro da diferença de energia para o afundamento e elevação teóricos.

A segunda etapa do processo de validação da técnica desenvolvida será


feita utilizando sinais teóricos, contendo vários distúrbios múltiplos mostrados na
Figura 3.26. Nesta mesma Figura, pode-se observar a identificação do instante de
ocorrência de todos os distúrbios. Na Figura 3.27, é mostrado o espectro da
diferença de energia característico para estes eventos. Tomando como base as
curvas de diferenças de energia, anteriormente identificadas para cada tipo de
distúrbio, podem-se então classificar os diversos distúrbios presentes nesse sinal.
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 91

Coeficientes Wavelet de primeira ordem

Figura 3.26 - Sinal ideal com distúrbios múltiplos e localização dos instantes de ocorrência:
1) t = 9,63ms, 2) t = 17,7ms, 3) Entre t = 37,24ms e t = 54,17ms,
4) t = 66,41ms, 5) t = 74,74ms, 6) Entre t = 103,39mS e t = 120,31ms.

Figura 3.27 - Classificação de diversas falhas através da diferença percentual de energia para os
diversos níveis de detalhamento Wavelet: (a) e (b) “spike”; (c) e (d) elevação; (e) e (f) “notching”; (g) e
(h) afundamento.
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 92

Pode-se observar que tomando como base o desenvolvimento e validação


da nova técnica para sinais teóricos, observa-se que o algoritmo desenvolvido
conseguiu classificar de forma automática todos os distúrbios múltiplos contidos no
sinal em análise mostrados na Figura 3.27.
Na Figura 3.28, pode-se observar o gráfico da diferença percentual de
energia para todos os níveis de resolução analisados ocorridos na forma de onda do
sinal teórico.

Níveis de detalhamento

Figura 3.28 - Distribuição da diferença percentual de energia para todos os distúrbios teóricos.

3.5 CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO DE DISTÚRBIOS MÚLTIPLOS

Tomando como base os sinais coletados em campo e a aplicação da técnica


desenvolvida neste trabalho, pode-se construir a Tabela 3.1, que caracteriza a
relação de existência entre os diversos distúrbios e seus respectivos níveis de
detalhamento Wavelet. Cada tipo de distúrbio possui uma determinada característica
que pode ser identificada pela análise de cada perfil específico.
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 93

Tabela 3.1 - Níveis de detalhamento Wavelet para classificação de distúrbios múltiplos


Tipos de Distúrbio
Tipos de Nível de Detalhamento Wavelet
Distúrbio 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Afundamento X X X
Elevação X X X
“Spike” X X X
“Notching” X X X
Sinal Ideal X

Para a classificação dos diversos distúrbios, foram feitas diversas


simulações computacionais, a fim de caracterizar a variação percentual dos níveis
de energia para cada nível de detalhamento e sua correlação com as diversas
falhas. A referência ideal do sinal em análise também é obtida automaticamente pelo
algoritmo desenvolvido. Os diversos distúrbios que afetam a qualidade de energia
foram simulados separadamente no software Matlab, tomando como base os
procedimentos do setor elétrico (ANEEL). A classificação mostrada, na Tabela 3.2,
ilustra o resultado de tais simulações.

Tabela 3.2 - Critérios para classificação de distúrbios


Tipo de Distúrbio Critério – Análise ∆E%
∆E% do nível de detalhamento 6 < - 0,25
AFUNDAMENTO e
∆E% do nível de detalhamento 5 < - 0,1

∆E% do nível de detalhamento 6 > 0,25


ELEVAÇÃO e
∆E% do nível de detalhamento 5 > que 0,1

∆E% do nível de detalhamento 6 entre 0 e 0,25


“SPIKE” ou
∆E% do nível de detalhamento 5 > 0,1

∆E% do nível de detalhamento 6 entre 0 e -0,25


“NOTCHING” ou
∆E% do nível de detalhamento 5 < -0,1
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 94

3.6 ANÁLISE DE DISTÚRBIOS MÚLTIPLOS EM UM SISTEMA REAL

A análise dos distúrbios múltiplos presentes em um sistema elétrico


industrial, contendo fornos elétricos a arco, foi feita aplicando-se o algoritmo
desenvolvido. Na Figura 3.29, é mostrada parte da forma de onda de tensão obtida
através de medição no secundário do T-047 do FEA1 e do sinal de referência ideal
utilizado.

Figura 3.29 - Registro do sinal de tensão obtido do forno a arco e o sinal de referência ideal.

Para aplicar a técnica desenvolvida no sinal coletado em campo, utilizou-se


parte do registro de tensão de uma das fases do forno elétrico a arco mostrado na
Figura 3.4. Na Figura 3.30, analisou-se o sinal no intervalo de 8 a 24 ms.
Na Figura 3.31, o período de análise foi de 32 a 48 ms. O intervalo de
análise da Figura 3.32 foi de 48 a 64 ms. Pode-se notar que, para toda mudança no
comportamento do sinal real, existe uma identificação automática através dos
coeficientes Wavelet de primeira ordem.
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 95

Coeficientes Wavelet de primeira ordem

Figura 3.30 - Forma de onda em análise e a identificação do instante de ocorrência dos distúrbios
múltiplos (período: 8 a 24 ms). 1) t = 9,1 ms (fim), 2) t = 11,7 ms, 3) t = 12,5 ms, 4) t = 13,55 ms,
5) t = 15,11 ms, 6) t = 15,89 ms, 7) t = 16,93 ms (início),
8) t = 18,49 ms (início),9) t = 22,51 ms.

Coeficientes Wavelet de primeira ordem

Figura 3.31 - Forma de onda em análise e a identificação do instante de ocorrência dos distúrbios
múltiplos (período: 32 a 48 ms). 1) t = 33,19 ms (fim), 2) t = 38,67 ms (início), 3) t = 39,52 ms,
4) t = 40,34ms, 5) t = 41,00 ms (início), 6) t = 42,83 ms,
7) t = 44,18 ms (início), 8) t = 46,48 ms.
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 96

Coeficientes Wavelet de primeira ordem

Figura 3.32 - Forma de onda em análise e a identificação do instante de ocorrência dos distúrbios
múltiplos (período: 48 a 64 ms). 1) t = 48,29 ms (fim), 2) t = 49,03 ms, 3) t = 49,98 ms,
4) t= 51,89ms (início), 5) t= 54,55 ms , 6) t = 55,85 ms,
7) t = 57,76 ms, 8) t = 60,69 ms (inicio).

Aplicando-se os critérios desenvolvidos para cada tipo específico de


distúrbio e com o resultado da diferença de energia entre os diversos níveis de
resolução, foi possível a classificação dos distúrbios múltiplos como pode ser visto
nas Figuras 3.33 (período: 8 a 24 ms), 3.34 (período: 32 a 48 ms) e 3.35 (período de
48 a 64ms).
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 97

Figura 3.33 - Distribuição de energia ao longo dos níveis de detalhamento Wavelet para os distúrbios
(período de 8 a 24 ms): (a), (e) e (g) - elevação; (b) e (f) “spike”; (c) e (d) “notching”; (h) afundamento;
(i) elevação.
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 98

Figura 3.34 - Distribuição de energia ao longo dos níveis de detalhamento Wavelet para os distúrbios
(período de 32 a 48 ms): (a), (e) - elevação; (b) e (g) afundamento; (c), (d) e (h) “notching”; (h) “spike”.
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 99

Figura 3.35 - Distribuição de energia ao longo dos níveis de detalhamento Wavelet para os distúrbios
(período de 48 a 64 ms): (a),(d) e (h) - afundamento; (b),(e) e (g) “notching”; (c)e (g) “spike”.

Na Figura 3.36, o exemplo do perfil da diferença percentual de energia dos


12 níveis de resolução, para todas as falhas ocorridas na forma de onda do sinal real
no primeiro período de análise (8 a 24ms).
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 100

Níveis de detalhamento

Figura 3.36 - Distribuição da diferença percentual de energia total nos diversos níveis de resolução
Wavelet.

Os resultados anteriores, obtidos diante de diferentes condições de tensões


coletadas em campo, com a correta identificação de distúrbios múltiplos,
demonstram a eficiência do algoritmo apresentado neste trabalho, levando em
consideração todas as condições e critérios simulados nos casos anteriores (sinais
teóricos e sinal coletado do FEA1). Pode-se ainda verificar que os critérios
desenvolvidos durante a análise e estruturação da nova técnica mostrou-se eficaz,
caracterizando-se como uma opção para definição dos diversos distúrbios, gerados
pela operação de fornos elétricos a arco podem provocar nos sistemas elétricos, nos
quais estão instalados.

3.7 VERIFICAÇÃO DO DESEMPENHO DO ALGORITMO EM SINAIS DE LONGA


DURAÇÃO

Com o objetivo de se verificar o desempenho do algoritmo desenvolvido, na


identificação e classificação de fenômenos ocorridos em registros de longa duração
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 101

em fornos a arco, como por exemplo afundamento e elevações nas condições


operativas previamente discutidas, alteraram-se os valores das amplitudes dos
sinais coletados em campo em 25% de seu valor original, tanto para baixo quanto
para cima, levando em consideração um dos ciclos de tensão, de uma das fases da
operação do FEA1.
Pode-se observar, na Figura 3.37, que tanto visualmente como através dos
resultados obtidos pela técnica desenvolvida neste trabalho, o período de 33,58 a
86,76ms corresponde ao início e fim de uma elevação. Da mesma forma, verifica-se
a ocorrência de um afundamento no período compreendido entre 118,91 e
166,92ms. A Classificação do inicio e fim dos distúrbios está mostrado na
Figura 3.38.
Além dos distúrbios de longa duração detectados e classificados, nota-se
ainda na Figura 3.37, a identificação do instante de ocorrência de diversos distúrbios
ao longo do período analisado.

Coeficientes Wavelet de primeira ordem


elevação

afundamento

Figura 3.37 - Forma de onda em análise com elevação e afundamento, com incremento positivo e
negativo na amplitude, e diversos distúrbios. 1) t = 33,58ms (início - elevação), 2) t = 86,76ms
(término - elevação),
3) t = 118,91 ms (início - afundamento), 4) t = 166,92 ms (término - afundamento).
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 102

Figura 3.38 - Distribuição de energia ao longo dos níveis de detalhamento Wavelet para os distúrbios:
(a) e (b) - elevação; (c) e (d) afundamento.

A Tabela 3.3 mostra a evolução dos diversos distúrbios detectados e


classificados nos sinais coletados no secundário do transformador T-047 do FEA1,
durante cinco ciclos a 60 Hz e apresentados nas Tabelas C.3 até C.7 do
Apêndice C, na fase de fusão do forno a arco.

Tabela 3.3 - Estatísticas dos Distúrbios Múltiplos em 5 ciclos em um


Sistema Real
Tipo de Distúrbio Número de Distúrbios para cada um dos ciclos
1° 2° 3° 4° 5°
“Spike” 3 2 1 2 1
Afundamento 1 - - 1 -
“Notching” 3 1 1 1 2
Elevação 1 - - - -
Alta Freqüência - - - - -
Baixa Freqüência - - - - -
Total de distúrbios
8 3 2 4 3
por ciclo
Algoritmo para Determinação e Classificação de Distúrbios Múltiplos em Sistemas Elétricos 103

A análise dos resultados dos distúrbios múltiplos, aplicada as outras fases


do processo de produção do aço (fusão e refino), poderá ser utilizada futuramente
na elaboração de um algoritmo de controle automático mais complexo, que permita
identificar e controlar o processo metalúrgico como um todo. Para tanto, pode-se
desenvolver um sistema de controle, utilizando como base dispositivos do tipo
Programmable Logic Device (PLD) para a programação de toda lógica desenvolvida.

O desenvolvimento de um sistema de hardware mínimo contendo um PLD


apresenta uma série de vantagens:
1) Baixo custo;
2) Flexibilidade de programação;
3) Aumento da confiabilidade do processo.

Esse sistema poderá ser adicionado ao sistema de controle existente


apresentado na Figura 2.5. Através da identificação da exata duração de cada fase
do processo de fabricação do aço, será possível ao operador do forno tomar a
decisão sobre o melhor ponto de operação com conseqüente redução no tempo total
de cada corrida e do custo com a energia elétrica necessárias para esse processo.
Conclusões e Sugestões para Futuros Trabalhos 104

Capítulo 4
Conclusões e Sugestões para Futuros Trabalhos

Face à crescente preocupação com efeitos relacionados à qualidade de


energia em sistemas elétricos industriais, devem-se analisar os diversos aspectos
que possam interferir no funcionamento e operação destas instalações. Torna-se,
portanto, cada vez mais importante conhecer em detalhes os fenômenos elétricos
envolvidos e seus efeitos, bem como identificar sua temporalidade, nos principais
distúrbios que afetam o sistema como um todo.
Além disso, quanto ao consumo de energia de algumas cargas que
apresentam sinais de tensões e correntes distorcidos, é importante determiná-lo sob
a ótica de valores instantâneos, segundo a abordagem da teoria de potência
instantânea.
O sistema elétrico industrial analisado neste trabalho apresenta, além do
intensivo uso da energia elétrica, sinais extremamente distorcidos, com distúrbios
múltiplos associados, exigindo uma abordagem complementar em relação àquela
tradicionalmente utilizada, baseada puramente em valores eficazes associados à
cargas lineares.
Dessa forma, este trabalho apresenta as bases para análises mais
consistentes da qualidade de energia e do correspondente consumo energético
dessa carga, elaborando um conjunto de ferramentas a serem implementadas em
dispositivos eletrônicos que possam monitorar de forma mais efetiva o desempenho
do sistema elétrico. Além disso, o trabalho contribui com o desenvolvimento de um
novo algoritmo para localização e classificação de distúrbios múltiplos, que possam
realmente ocorrer em um forno elétrico a arco.
Verificou-se que, com a utilização das diversas técnicas existentes até o
momento, não é possível identificar, nos sinais coletados em campo, o instante e a
característica dos diferentes distúrbios, quando o intervalo de tempo de ocorrência
entre eles é muito reduzido.
Com a finalidade de solucionar esse problema, foi utilizada a Transformada
Wavelet, com a análise e escolha da função base ou Wavelet-mãe mais adequada,
Conclusões e Sugestões para Futuros Trabalhos 105

na elaboração de uma ferramenta com boas possibilidades de utilização no estudo


do comportamento operativo de fornos elétricos à arco.
No caso particular desses sistemas, com fornos elétricos, a Transformada
Wavelet revelou-se uma poderosa ferramenta na melhoria da precisão de detecção
de distúrbios múltiplos com diagnósticos associados a eventos com duração da
ordem de milesegundos.
Utilizou-se como ferramenta básica a Transformada Wavelet Discreta
(TWD). A obtenção dos coeficientes Wavelets e os cálculos necessários para a
Transformada Wavelet Discreta (TWD) é de fácil implementação computacional não
exigindo integrais ou derivadas, mas sim adições.
A função base mais adequada foi obtida com simulações e testes
exaustivos, utilizando-se o “toolbox” do software Matlab. A validação da melhor
Wavelet-mãe ocorreu com a análise de sinais teóricos com distúrbios conhecidos.
Nessa fase foi analisado o instante da ocorrência de distúrbios tomados de forma
isolada. Em uma fase posterior foi efetuada a classificação dos distúrbios múltiplos,
levando-se em conta o comportamento dos níveis de energia e seu detalhamento,
nos diversos fenômenos associados à qualidade de energia.
Como investigação adicional, a técnica desenvolvida foi aplicada a sinais
coletados em experimentos de campo. Os resultados dessa análise evidenciam que
algumas limitações em algoritmos existentes foram superadas, pois os diversos
fenômenos associados à qualidade de energia, presentes nos sinais em apreço,
foram adequadamente localizados e classificados de modo automático e
consistente. Ainda como verificação da eficácia do método, na identificação e
classificação os distúrbios de longa duração, foi simulado o comportamento do
algoritmo na detecção de afundamento e elevação, nos sinais de tensão coletados
em campo, com algumas condições adversas acrescentadas artificialmente.
Verificou-se, nessa análise, que o algoritmo comportou-se de modo adequado e
eficiente, atendendo aos objetivos esperados, cabendo ainda algumas
considerações futuras no aprimoramento de casos específicos, não perfeitamente
descritos na literatura atual.
Com as ferramentas desenvolvidas, podem-se visualizar algumas aplicações
que serão de grande utilidade nas diversas fases de operação de fornos elétricos a
arco, permitindo tomadas de decisão mais consistentes sobre a otimização de
Conclusões e Sugestões para Futuros Trabalhos 106

pontos operativos e redução no consumo de energia elétrica.


Conclusões e Sugestões para Futuros Trabalhos 107

É possível também visualizar a possibilidade de desenvolvimento de


sistemas de controle, em tempo real (“on-line”), com as fases operativas
perfeitamente identificadas, que proporcionem uma economia de energia elétrica
mais consistente, além de menores impactos na qualidade de energia.
Acredita-se que a aplicação do método, na análise de sinais coletados na
barra de alimentação dos três fornos a arco em 23 kV, mediante o uso de dispositivo
lógico programável, cuja concepção de software e hardware, já estabelecida, se
encontra estabelecida, poderá ampliar significativamente o conhecimento desse
sistema elétrico analisado.
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Fornos a Arco 114

Apêndice A
Fornos a Arco

A.1 FORNOS ELÉTRICOS A ARCO NO BRASIL

Nos últimos 20 anos, o uso do forno elétrico a arco (FEA) para a produção
do aço cresceu consideravelmente. Houve muitas razões para este crescimento,
sendo que todas estão diretamente relacionadas ao custo do produto primário e aos
avanços na tecnologia. Tomando por base um custo médio da energia elétrica como
sendo entre 68 a 72 U$/Mwh o custo específico por tonelada da capacidade anual
instalada varia geralmente na escala de U$140 a 200 por tonelada para uma
operação baseada em FEA. Para um autoforno similar, baseado na operação, o
custo específico será de aproximadamente U$1000 por tonelada. Como
conseqüência, as operações baseadas no FEA moveram-se gradualmente para as
áreas onde a produção era anteriormente realizada pelo processo da redução do
minério. A primeira destas áreas era a de produtos longos - barras reforçadas e
barras comerciais. E, posteriormente, pelos avanços na área “estrutural pesada” e
chapas; mais recentemente na área de produtos lisos com os avanços da “laje
moldada fina” (INTERNATIONAL IRON AND STEEL INSTITUTE, 1998).
Atualmente, aproximadamente 40% do aço produzido na América do Norte
são feitos utilizando-se os FEA’s. Com os produtores de FEA’s atentos aos avanços
das fábricas integradas, diversas modificações vêm sendo feitas: tal como níveis
residuais no aço (essencialmente os elementos contidos no aço que não são
removidos durante o derretimento ou refino) e em gases dissolvidos no aço
(nitrogênio, hidrogênio, oxigênio).
Os primeiros fornos a arco instalados no Brasil datam da década de 40 e
considerável crescimento no número de instalações foi notado nos anos 70. Nos
últimos 10 anos, os investimentos nesta área se concentram na modernização dos
equipamentos existentes, visando maior produtividade e qualidade, tanto dos
produtos finais como das condições ambientais. A Tabela A.1 mostra os principais
fornos elétricos a arco instalados no Brasil.
Fornos a Arco 115

Tabela A.1 - Principais fornos instalados no Brasil


DADOS DO FORNO DADOS DO TRANSFORMADOR
Potência Tensão Tensão
USUÁRIO Ano Fabricante Capac. Fabricante
Nominal Primária Secundária
BARRA 1980 DEMAG 50,0 ABB 30,0 23,0 195/630
MANSA 1980 DEMAG 50,0 ABB 30,0 23,0 195/630
COFAVI 1984 DEMAG 70,0 TUSA 40/48 33,0 446/520
1980 DEMAG 100,0 DEMAG 75/84 33,0 521/900
COSIGUA
1982 DEMAG 100,0 DEMAG 75/84 33,0 521/900
GUAIRA 1982 LECTROMELT 70,0 TUSA 75/84 33,0 434/750
HIME 1980 ABB 50,0 TUSA 75,9 34,5 520/750
USIBA 1973 STEIN 120 ABB 76,0 30,0 614/833

A.1.1 Constituição esquemática de um forno a arco

A Figura A.1 mostra as partes principais do sistema de transmissão de


energia desde o transformador até os eletrodos de um forno elétrico a arco.

A B

Figura A.1 - Constituição esquemática de um forno elétrico a arco.


Fornos a Arco 116

O ponto de conexão do triângulo é locado no topo da torre, próximos aos


barramentos, o que significa fazer o comprimento dos condutores menor, enquanto
que ao mesmo tempo os cabos flexíveis podem ser facilmente dispostos, permitindo
aos braços dos eletrodos moverem-se livremente.
A torre que suporta cada barra consiste em um mastro para cada fase
intercalada com barras de alumínio ou cobre apoiadas através de isolamentos
apropriados à estrutura. A corrente é conduzida até o topo da torre através de cabos
de cobre conectados aos terminais do secundário do transformador. Estes cabos
absorvem o movimento do forno durante a descida dos eletrodos.
O sistema da Figura A.1 possui, como mostrado, quatro cabos fixados uns
contra os outros (seção C-C), para cada fase.
Uma vez que as correntes de cada fase compensam umas as outras, a
reatância será menor. Uma outra vantagem é que os cabos não estão sujeitos às
forças devido à corrente e, conseqüentemente, não oscilam muito durante a
operação.
Os cabos do topo da torre de barras até os braços do eletrodo são mantidos
juntos na fase média (interna) e separados nas fases externas, como mostrado na
seção B-B da Figura A.1, para que ocorra um melhor equilíbrio entre as correntes
das diversas fases. Estes cabos são normalmente de cobre resfriados à água.
Nos braços do eletrodo a corrente é conduzida através de barras
refrigeradas á água, como pode ser visto na seção A-A da Figura A.1, onde nas
fases externas existem quatro tubos enquanto que na fase do meio apenas um. Este
barramento é chamado de “barramento hídrico de corrente” (BHC). A Figura A.2,
mostra os detalhes do sistema de fixação dos eletrodos em um forno elétrico
industrial.
Fornos a Arco 117

Figura A.2 - Sistema de fixação de eletrodos de um forno elétrico a arco.

Finalmente, nos fixadores do eletrodo a corrente é transferida ao eletrodo de


grafite via duas garras de cobre fundido. O eletrodo é pressionado contra essas
garras de cobre por uma garra de aço que não conduz corrente, para evitar
superaquecimentos.
A Figura A.3, mostra a vista de um forno a arco industrial.

Figura A.3 - Vista de um forno elétrico a arco industrial.


Fornos a Arco 118

A.2 DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA SIDERÚRGICA NO BRASIL

Na década de 70, ocorreu uma forte inflexão no ritmo de crescimento da


demanda mundial de aço, que, entre 1946 e 1973, dava sustentação a um
crescimento médio de produção da ordem de 7% ao ano (HITOTSUBASHI
UNIVERSITY, 2006).
A existência de um grau elevado de capacidade produtiva permanentemente
ociosa caracterizava a indústria siderúrgica mundial desde a segunda metade da
década de 70 até início de 2001.
O volume de aço bruto produzido em 2001 (847,7 Mton/ano) foi apenas
17,6% superior àquele registrado em 1973 (698,1 Mton) perfazendo uma taxa média
anual de crescimento de apenas 0,6% no período.
Embora venha experimentando forte concorrência de materiais alternativos,
como plásticos e alumínio, o aço ainda é a principal fonte de material básico da
indústria, especialmente aquela ligada a bens de consumo duráveis e a bens de
capital.
Desde a década de 90, a siderurgia brasileira vem se mantendo entre a
oitava e a nona posições relativas no mundo, com produção equivalente a cerca de
metade do total da América Latina e a 3% do volume mundial (INSTITUTO DE
PESQUISAS TÉCNICAS, 1990).
Ocorreu uma retração de 4% na produção de aço, em 2005, num quadro de
ajustes dos estoques, que se encontravam elevados nos consumidores e
distribuidores. No entanto, deve-se ressaltar que esta redução na produção foi
devido a forte retração no mercado brasileiro, tendo as importações crescido em
torno de 4%.

A.2.1 Evolução tecnológica

Os principais insumos empregados na fabricação do aço são: o minério de


ferro, o carvão, a sucata e a energia elétrica. A importância relativa desses insumos
varia de acordo com a rota tecnológica adotada em cada usina. Nas usinas
Fornos a Arco 119

integradas clássicas prevalecem o carvão mineral e o minério de ferro. Nas semi-


integradas, o destaque cabe à sucata (PINHO e LOPES, 2000).
As usinas integradas promovem a transformação do minério de ferro em
produtos siderúrgicos semi-acabados ou acabados (laminados). Tradicionalmente,
isso requer coquerias, altos-fornos, aciaria e laminadores. O processo produtivo
integrado compreende três fases distintas:
A primeira é denominada redução e seu objetivo principal é transformar o
minério de ferro - encontrado na natureza geralmente sob a forma de óxido de ferro -
em ferro-gusa. Os equipamentos obrigatórios nesta etapa são a coqueria, que
transforma o carvão mineral em coque, e o alto-forno, cujo produto final é o ferro-
gusa;
A segunda fase, o refino, processa a produção do aço propriamente dito em
aciarias e realiza sua solidificação. O refino do aço é realizado em conversores a
oxigênio por meio de transformações químicas endotérmicas que utilizam como
fonte de energia o próprio calor proveniente do gusa líquido. Os objetivos precípuos
desta etapa de refino são: o ajuste da quantidade de carbono ou outros elementos
de liga à proporção necessária para a obtenção das propriedades desejadas e a
redução para quantidades aceitáveis de elementos residuais, como enxofre,
nitrogênio e oxigênio.
O processo mais difundido de solidificação é o lingotamento contínuo,
desenvolvido na década de 50, que desde então vem substituindo o lingotamento
convencional. O lingotamento contínuo propicia um grande aumento na economia de
energia e sensível aumento de rendimento do material entre as etapas de refino e
laminação, pois elimina um ou mais estágios de reaquecimento de materiais semi-
acabados.
A laminação, que transforma produtos semi-acabados (placas, blocos e
tarugos) em produtos acabados, constitui a terceira fase do processo produtivo
integrado. Além do minério de ferro e do carvão, a rota tecnológica integrada requer
o uso de fundentes: como o calcário nos alto-fornos e de oxigênio líquido nos
conversores. A Figura A.4 mostra o processo siderúrgico de uma usina integrada.
Fornos a Arco 120

Figura A.4 - Fluxograma do processo siderúrgico de uma usina integrada.

O processo produtivo das usinas semi-integradas compreende apenas


as duas últimas etapas, quais seja o refino e a laminação e utiliza a sucata ferrosa
como insumo básico. Nestas usinas, a depuração química da carga metálica é
realizada em fornos elétricos a arco, tendo a eletricidade como fonte de energia
preponderante. Considerando-se que a matéria-prima empregada, a sucata ferrosa,
já conta com o carbono em sua constituição, nem mesmo do ponto de vista da
composição química é necessária a utilização do carvão mineral.
Após a fabricação de aço, este é laminado à semelhança do que ocorre nas
usinas integradas. As usinas que operam segundo este processo são também
denominadas mini-mills (mini-usinas), designação que ressalta o caráter mais
compacto da produção semi-integrada e a escala mínima bastante inferior a das
usinas integradas. A capacidade de operar eficientemente em menor escala é
decorrência direta da possibilidade de se dispensar os altos-fornos, equipamentos
extremamente propensos a retornos crescentes de escala. A indivisibilidade
representada pela operação dos altos-fornos a coque impõe às usinas integradas
um tamanho mínimo de pelo menos 3 Mton/ano, ao passo que as mini-usinas
operam competitivamente com escalas de 250 Mton/ano no segmento de aços não-
planos e de 1 Mton/ano na produção de planos. A Figura A.5 mostra a diferença do
processo de fabricação de uma Usina integrada a Coque e o fluxo indicativo de uma
Usina semi-integrada.
Fornos a Arco 121

Figura A.5 - Fluxo indicativo de usina integrada a coque (esquerda) e de uma usina semi-integrada
(direita).

A Tabela A.2 mostra as melhores tecnologias em termos de consumo


energético (FRUEHAN et al., 2000). Nota-se que a utilização de 100% de sucata é a
melhor opção de economia energética, pois é um processo de reciclagem, que
diminui o impacto ambiental, mas é importante observar o ciclo de vida do aço na
economia e logo não é possível utilizar-se apenas desta tecnologia.

Tabela A.2 - Mínima energia para produção de aço em diversos processos


Processo Produto Laminação Energia (MJ/ton)
Alto-forno - Conversor Chapa laminada a Direto 7.878
a Oxigênio quente Reaquecimento 8.703
Alto-forno - Conversor Direto 7.895
Chapa laminada a frio
a Oxigênio Reaquecimento 8.720
Forno Elétrico a Arco Chapa laminada a Direto 1.341
(Sucata) quente Reaquecimento 2.166
Forno Elétrico a Arco Direto 1.358
Chapa laminada a frio
(Sucata) Reaquecimento 2.183
Forno Elétrico a Arco Direto 6.081
Chapa laminada a frio
(50% DRI) Reaquecimento 6.906
Forno Elétrico a Arco Direto 1.345
Barra
(Sucata) Reaquecimento 2.170
Forno Elétrico a Arco Direto 6.068
Barra
(50% DRI) Reaquecimento 6.893
Fornos a Arco 122

A.3 SISTEMA DE COGERAÇÃO DA COMPANHIA SIDERÚRGICA NACIONAL

A Usina Presidente Vargas, em Volta Redonda, estado do Rio de Janeiro,


conta com capacidade para produzir 5,8 milhões de toneladas anuais de aço bruto,
demanda de aproximadamente 380 MW e um consumo de energia mensal médio
em torno de 250.000 MWh. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) é a terceira
maior produtora de aço do Brasil (COMPANHIA SIDERÚRGICA NACIONAL, 2006).
A CSN era a empresa privada brasileira que mais gastava com despesas de
energia. A Central Termoelétrica de Cogeração de Energia da CSN (CTE),
inaugurada em dezembro de 1999, resultado de um investimento de US$300
milhões financiados pelo BNDES, com capacidade firme de 230 MW, economiza
US$ 33 milhões por ano, sem contar o suprimento de eletricidade e outros
energéticos com alta confiabilidade.
A CTE gera até 238 MW, o que corresponde a cerca de 60% das
necessidades de energia elétrica da Usina Presidente Vargas, e produz vapor de
processo e ar soprado utilizados nas linhas de laminação e coqueria e nos alto-
fornos.
Além disso, possibilita a ampliação da oferta de energia elétrica no país e
fortalece o Sistema Elétrico Interligado, auxiliando o suprimento de energia,
sobretudo na região sudeste do Brasil.
A CTE é uma planta de ciclo “Rankhine”, abastecida com o gás de coque do
alto-forno, gás de aciaria e gás de coqueria, que são rejeitos altamente energéticos
da produção siderúrgica. Anteriormente à CTE, os gases eram queimados por três
queimadores industriais (“flares”), contribuindo, portanto para a emissão de gases
que criam o efeito estufa. Com a instalação da CTE, os gases resultantes da usina
são queimados em suas caldeiras e transformados em vapor para produzir energia e
ainda servem às linhas de laminação, alto-forno, coqueria e aquecimento. Para
estabilização das chamas nas caldeiras, a queima é complementada com uma
parcela de gás natural.
Fornos a Arco 123

A.4 EVOLUÇÃO DO CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA NA SIDERÚRGICA


BARRA MANSA

Situada na cidade de Barra Mansa (RJ), a Siderúrgica Barra Mansa (SBM) é


a terceira maior produtora de aços longos do país. Atualmente, a SBM tem
capacidade instalada de produção de aço em torno de 530 mil toneladas por ano. A
empresa planeja duplicar sua capacidade instalada nos próximos anos.
O aço, produzido na SBM, é obtido a partir da fusão de dois tipos de carga
sólida - sucata e ferro-gusa. Cerca de 70% da matéria-prima vêm da sucata de aço -
produtos descartados por obsolescência e sobras de processos industriais - e os
30% restantes são formados por ferro-gusa.
A evolução da produção de aço em uma aciaria elétrica pelos dois
processos descritos pode ser visto na Figura A.5. Em junho de 2003, deu-se início a
partida (“start-up”) do lingotamento contínuo em substituição ao lingotamento
convencional, começando a operação em ritmo no final daquele ano. No mês de
junho, nota-se uma piora na eficiência energética devido a este início de operação.
Como pode ser vista, nas Figuras A.6 e A.7, houve uma melhora significativa na
eficiência energética com a entrada do lingotamento contínuo.

Produção x consumo de energia - Aciaria Elétrica


650

600

550 2003
kWh/ton

2004
2005
500
2006

450

400
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

Figura A.6 - Produção x consumo na aciaria elétrica da Siderúrgica Barra Mansa.


Fornos a Arco 124

Produção x consumo de energia anual - Aciaria Elétrica

500

400
kWh/ton

300

200

100

0
2003 2004 2005 2006

Figura A.7 - Produção x consumo anual na aciaria elétrica da Siderúrgica Barra Mansa.

Em dezembro de 2004 e janeiro de 2005, percebeu-se na SBM um maior


consumo de energia elétrica por tonelada de aço produzido por ser um mês de baixo
volume de vendas. Com isto, foi possível observar que o processo é mais eficiente
quanto melhor utilizada a sua capacidade produtiva. Em 2006, devido a otimização
do tempo de ciclo de produção, obtida principalmente com medidas operacionais e a
absorção completa da produção pelo mercado, observa-se uma melhora
considerável da relação kWh/ton. Durante o ano de 2006, foi batido recorde de
produção em maio e, em seguida, em julho, e a eficiência energética tem melhorado
gradativamente como mostra a Figura A.7.
Em outubro de 2001, foi realizado o “start-up” da modernização do laminador
a quente de aço longo. Devido à complexidade envolvida, o laminador ainda não
alcançou a produtividade máxima do projeto, mas estão sendo realizadas melhorias
contínuas no processo, que também acarretam em melhorias na eficiência
energética, como pode ser visto nas Figuras A.8 e A.9. Os projetos mais importantes
foram:
- Em junho de 2003, foi trocada a gaiola desbastadora, melhorando a disponibilidade
do equipamento;
- No final de 2003, foi implementado e melhorado o processo de produção por
separação do vergalhão de aço (“slitting”) em dois veios na bitola de 12,5 mm;
Fornos a Arco 125

- Em março de 2005, foram concluídas as modificações para laminação de tarugos


de 880 Kg em substituição aos tarugos de 700 Kg;
- Em abril de 2006, foi feita uma modificação no sistema de tratamento térmico,
conseguindo maior vazão de água, e assim foi possível aumentar a produtividade
dos vergalhões de aço nas bitolas de 20 e 25 mm, sendo a primeira vez que foi
alcançada a produtividade máxima de projeto de 80 toneladas por hora;
- Em junho de 2006 foi implementado o processo de produção por “slitting” em dois
veios na bitola de 16 mm.

Produção x consumo de energia - Laminador

220

200

180 2003
kWh/ton

2004
160
2005
2006
140

120

100
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

Figura A.8 - Produção x consumo na laminação a quente de aço longo na Siderúrgica Barra Mansa.
Fornos a Arco 126

Produção x consumo de energia anual - Laminador

160
140
120
kWh/ton

100
80
60
40
20
0
2003 2004 2005 2006

Figura A.9 - Produção x consumo anual na laminação a quente de aço longo na Siderúrgica Barra
Mansa.

Como pode ser visto na Figura A.10, os equipamentos que mais consomem
na produção, refino e laminação de aço são os fornos elétricos a arco (FEA),
responsáveis por cerca de 60% do consumo total. Vale ressaltar que FEA’s são os
equipamentos de produção de aço que possuem a melhor relação entre o consumo
e a produção conforme mostrado no item A.2.1.

Consumo médio anual

20.000,00
18.000,00
16.000,00
14.000,00
FEA
12.000,00
MWh

Forno Panela
10.000,00
Lingotamento
8.000,00
Laminador
6.000,00
4.000,00
2.000,00
0,00
2003 2004 2005 2006

Figura A.10 - Consumo médio anual das principais áreas na produção, refino e laminação de aço na
Siderúrgica Barra Mansa.
Fornos a Arco 127

Analisando os FEA’s da Siderúrgica Barra Mansa com relação às medidas


de conservação de energia atuais, foi constatado que algumas destas medidas já
estão implementadas, mas ainda existem outras que poderiam contribuir para a
melhora na eficiência energética.

Medidas já implantadas:

- Cortinas de ar.

Durante o sopro de oxigênio, há grande infiltração de ar frio pela porta de


trabalho. Esta infiltração implica maiores perdas de energia via gases aspirados e
maior consumo de eletrodos por oxidação da superfície lateral.
Utilizando uma cortina de ar na porta de trabalho a infiltração foi diminuída.
Isto resultou em uma diminuição de aproximadamente 3,3% no consumo de energia
elétrica.

- Controle computadorizado do processo.

Alto grau de utilização e baixos custos de matéria-prima e energia são os


principais objetivos de uma operação econômica de fornos elétricos a arco. O
controle computadorizado mostrou-se como uma importante ferramenta para
contenção dos custos de matéria-prima, energia e eletrodos e para redução do
tempo “tap-to-tap”.
Um sistema de controle de processo de fusão e refino em forno elétrico a
arco pressupõe um modelo metalúrgico e um térmico acoplado. Os fornos, em
estudo, já possuem este sistema que auxilia na melhor utilização da sua capacidade
de forno.
A automação em fornos elétricos a arco visa basicamente ao perfeito
controle da fusão através do cálculo e a distribuição correta da energia a ser
fornecida à carga, fazendo com que a fusão completa se processe em menor tempo
possível.
Fornos a Arco 128

Cada cesto de sucata carregado no forno tem seu próprio programa de


fusão em função do tipo e composição da carga, o que possibilita prever com
precisão o montante de energia requerida, evitando falta ou excesso que resulte em
perdas.
O cálculo da posição do comutador do forno, correntes e posição do
disjuntor é baseado nas variações de tensão da rede e pelo controlador de
demanda. Os sistemas instalados permitem os seguintes estágios de controle:
- Controle do estágio de fusão;
- Controle do estágio de vazamento;
- Aquisição de dados e geração de relatório.
Na fase de fusão, o sistema controla os instantes de mudanças de nível de
tensão, indica os instantes de carregamento posteriores e instrui o operador sobre
os ajustes de corrente. Antes do vazamento, o controle indica as necessidades de
fornecimento de energia. Pode-se utilizar um dispositivo a base de PLD
(“Programmable Logic Device”), visando auxiliar na escolha de tensão de
alimentação do transformador do forno, maximizando o tempo total de fusão da
carga.
Alguns eventos e parâmetros do processo de fusão são automaticamente
registrados, por exemplo: consumo de energia e oxigênio, tempo de vazamento,
análises de laboratórios, etc. Outros eventos, por exemplo, carregamentos, são
introduzidos através do teclado de operação. Os dados coletados são processados e
mostrados em figuras: do processo, relatórios de corrida e relatórios periódicos. A
otimização da operação dos FEA’s proporciona a redução no tempo total das
corridas e no consumo de energia elétrica necessária para o processo de fusão do
aço.
Análise da Potência em Sistemas Trifásicos com Tensões e Correntes Distorcidas 129

Apêndice B
Análise do Forno Elétrico a Arco em Regime
Permanente

Neste capítulo será mostrado os cálculos utilizados para obtenção dos


valores da tabela 2.2 e no desenvolvimento dos procedimentos para traçar a curva
de carga para o FEA1.

B.1 CARACTERIZAÇÃO DOS PARÂMETROS DA REDE ELÉTRICA

Para se obterem as curvas de carregamento de um forno elétrico a arco a


60 Hz, deve-se determinar o circuito equivalente de Thevenin visto dos eletrodos do
forno. Como base para este estudo será utilizado o sistema indicado na Figura 2.1,
compreendendo os transformadores T-44, T-45 e T-46, bem como o ramal completo
do FEA1 (HSUN-TSU; WU CHI-JUI, 2002). Os dados característicos do sistema
elétrico em análise estão listados no Apêndice C.
Com base nas impedâncias equivalentes do sistema de suprimento de
energia (concessionário), dos três transformadores em paralelo e do cabo em 23 kV
que alimenta o forno e do transformador do FEA1, obtém-se o diagrama unifilar para
o sistema em análise, conforme Figura B.1.

Figura B.1 - Diagrama unifilar para a operação do forno em regime permanente a 60 Hz.
Análise da Potência em Sistemas Trifásicos com Tensões e Correntes Distorcidas 130

Na Figura B.1 tem-se:


V - Tensão na barra fictícia (BF) interna ao sistema elétrico;
B1 - Barra de entrega de energia do concessionário para a indústria;
B2 - Barra de 23 kV no lado secundário dos transformadores T-44, T-45 e T-46 após
os cabos da ordem de 30 m;
B3 - Barra correspondente ao lado primário do transformador T-047;
B4 - Barra correspondente ao lado secundário do transformador T-047;
B5 - Barra correspondente a ponta do eletrodo que entra em contato com a sucata.

O procedimento apresentado, nos itens a seguir, ilustra a determinação da


curva de carregamento do FEA1 e do ponto de operação ótimo para esse forno.

B.1.1 Cálculo da impedância do concessionário.

A potência de curto circuito do concessionário local, em 138 kV, é de 3192


MVA com ângulo de 80,2º. Na base de 100 MVA tem-se:

100
RSS = ⋅ cos (80,2) = 0,00533 pu (1)
3192

100
Xss = ⋅ sen (80,2) = 0,03087 pu (2)
3192

B.2.2 Equivalente entre as barras em 138 e 23 kV.

Entre essas duas barras existem três transformadores que estão conectados
através de cabos em 23 kV com comprimento da ordem de 30 metros. Esses cabos
apresentam as seguintes características:

Rcabo= 0,0010 pu
Xcabo = 0,0020 pu
Análise da Potência em Sistemas Trifásicos com Tensões e Correntes Distorcidas 131

Os transformadores possuem os dados característicos indicados na


Tabela B.1

Tabela B.1 - Características dos transformadores em análise


Grandeza Transformadores para o circuito da Figura 2.1
T-44 T-45 T-46
Potência em MVA 25/30 25/30 25/30
Tensões em kV 131/23 131/23 131/23
Impedância a 75ºC em % 7,93 8,70 7,94
Relação X/R 21,59 21,59 21,59

Utilizando os dados anteriores, os transformadores T-44, T-45 e T-46 com os


respectivos cabos em 23 kV, operando em paralelo, é apresentado com o seu
circuito equivalente em pu, na base de 100 MVA indicado na Figura B.2, cujo
equivalente foi inserido entre as barras B1 e B2 na Figura B.1.

Figura B.2 - Circuito equivalente em pu para os três transformadores de 131 / 23 kV.


Análise da Potência em Sistemas Trifásicos com Tensões e Correntes Distorcidas 132

B.1.3 Cabo entre a barra de 23 kV e o forno FEA1.

Os dados deste cabo instalado entre as barras B2 e B3 na Figura B.1, em pu


estão apresentados a seguir:

RC23 = 0,00190 pu
XC23 = 0,00335 pu

B.1.4 Reator L3.

O chaveamento do reator L3 é importante, pois influencia diretamente a


curva de carregamento e o intervalo de tempo correspondente ao ciclo de
carregamento do forno. Os dados característicos em pu deste reator, utilizados para
condição atual (1,1 Ω) e indicados na Figura B.1 entres as barras B2 e B3, são:

RL3 = 0,00204 pu
XL3 = 0,20793 pu

B.1.5 Transformador do forno elétrico a arco (FEA1).

O transformador do forno apresenta diversos tap’s conforme Tabela C.1 que


são alterados ao longo do processo de fusão. Os valores de resistência (RT047) e
de reatância indutiva (XT047) do transformador T-047 utilizando-se uma relação X/R
de 22,87, correspondente ao FEA1 no tap de 0,578 kV em pu, são:

RT047 = 0,01775 pu
XT047 = 0,4059 pu
Análise da Potência em Sistemas Trifásicos com Tensões e Correntes Distorcidas 133

Para o cabo refrigerado, há os valores de resistência (RCR) e reatância


indutiva (XCR) dados a seguir:

RCR = 0,00001 pu
XCR = 1,17402 pu

O circuito equivalente de Thevenin do FEA1 para a análise do ponto de


operação ótimo, na condição de curto circuito trifásico, ou seja, estando os três
eletrodos em contato com a sucata, é mostrado na Figura B.3 (HSUN-TSU e WU
CHI-JUI, 2002).

BF B5
Icc
Z th

VU

Figura B.3 - Circuito equivalente na condição de máxima corrente.

Para o sistema em análise, tem-se:

Zth = 0,03308+j1,93316 pu (3)

Logo,

1
Icc ( pu ) = = 0, 51721 pu (4)
Zth

Ou ainda,
Análise da Potência em Sistemas Trifásicos com Tensões e Correntes Distorcidas 134

SB 100
Ibase = = = 99,89 kA (5)
3 ⋅ UB 3 ⋅ 578
1000 1000

Ibase= 0,51721 . 99,89 = 51,66 kA (6)

A corrente nominal do transformador do FEA1, no tap de 578 V é de:

30
InT = = 29,96 kA (7)
3 ⋅ 0, 578
Dados do Sistema Elétrico 135

Apêndice C
Dados do Sistema Elétrico

O sistema em análise está ilustrado na Figura 2.1. O sistema é caracterizado


pela conexão com o concessionário local através de duas linhas de transmissão e a
distribuição de energia elétrica feitas na SE em 138 kV e separadas em dois setores
sendo um de 23 e outro de 25 kV. As características completas do transformador
T-047 e do reator L3 estão apresentadas a seguir na Tabela C.1 e as do reator L3
na Tabela C.2

Tabela C.1 - Dados característicos do transformador do FEA1


Tap Us V Z% 65ºC
1 840,00 4,740
2 760,00 6,997
3 694,00 8,859
4 640,00 10,382
5 578,00 12,190
6 528,00 14,164
7 486,00 15,872
8 450,00 17,336
9 484,97 8,271
10 438,79 11,533
11 400,68 14,225
12 369,50 16,427
13 333,71 20,979
14 304,84 24,650
15 280,59 27,733
16 259,81 30,376

Na Tabela C.1 destacam-se:


- A capacidade do transformador do FEA1, em 55ºC depende das condições que o
mesmo se encontra antes da sobrecarga. O transformador é de 30 MVA para
operação contínua, porém pode atingir 36 MVA sem aumentar a temperatura desde
que tenha o ciclo de carga a seguir:
Dados do Sistema Elétrico 136

80 min = 36 MVA
40 min = 19 MVA
30 min = 0 MVA
- As impedâncias relacionadas (Z% 65ºC) estão na base de 30 MVA, no “tap”
correspondente, considerando sempre a tensão do lado primário em 23 kV.
- Os “tap’s” de 1 a 8 estão presentes no transformador com conexão delta e os
“tap’s” de 9 a 16 na conexão estrela.

Tabela C.2 - Dados característicos do reator L3


Grandeza Valor
Indutância nominal 5,305 mH (mais ou menos 2%)
Impedância nominal 2 Ohms
Corrente nominal contínua 904 A
Corrente de curto circuito durante 1 segundo 5,35 kA
Corrente térmica 13,6 kA
“Tap’s” disponíveis 4
“Tap” 1 (55%) posição atual 1,1 Ohms
“Tap” 2 (70%) 1,4 Ohms
“Tap” 3 (85%) 1,7 Ohms
“Tap” 4 (100%) 2,0 Ohms

Para o sistema em análise da Figura 2.1, os resultados das medições de


tensão e corrente em função do tempo considerando-se 64 amostras por ciclo estão
ilustrados nas Tabelas C.3 a C.7 envolvendo, portanto 5 ciclos na freqüência de
60 Hz.
Dados do Sistema Elétrico 137

Tabela C.3 - Resultados de medição dos sinais de tensão e corrente obtidos no FEA1 para o primeiro ciclo

uA(t) uB(t) uC(t)


Npontos V V V
1 32,03 -369,82 387,30
2 209,66 -297,02 413,50
3 358,18 -366,91 387,30
4 419,33 -238,78 372,74
5 489,22 -320,32 337,79
6 465,92 -334,88 294,11
7 483,39 -288,29 285,38
8 535,81 -279,55 264,99
9 553,28 -323,23 238,78
10 579,49 -262,08 192,19
11 570,75 -253,34 136,86
12 576,58 -168,90 101,92
13 582,40 -165,98 26,21
14 544,54 -224,22 -61,15
15 518,34 -232,96 -171,81
16 512,51 -230,05 -267,90
17 439,71 -230,05 -364,00
18 439,71 -247,52 -425,15
19 378,56 -180,54 -471,74
20 381,47 -186,37 -483,39
21 422,24 -61,15 -489,22
22 343,62 -46,59 -500,86
23 334,88 -17,47 -506,69
24 343,62 20,38 -506,69
25 311,58 43,68 -500,86
26 247,52 206,75 -460,10
27 270,82 349,44 -390,21
28 294,11 267,90 -439,71
29 241,70 372,74 -372,74
30 244,61 407,68 -369,82
31 174,72 451,36 -349,44
32 104,83 451,36 -340,70
33 58,24 524,16 -329,06
34 -34,94 404,77 -349,44
35 -227,14 372,74 -364,00
Dados do Sistema Elétrico 138

Tabela C.3 - Resultados de medição dos sinais de tensão e corrente obtidos no FEA1 para o primeiro ciclo
(continuação)
uA(t) uB(t) uC(t)
Npontos V V V
36 -331,97 372,74 -343,62
37 -390,21 390,21 -305,76
38 -451,36 407,68 -270,82
39 -454,27 486,30 -250,43
40 -535,81 259,17 -267,90
41 -532,90 285,38 -209,66
42 -509,60 331,97 -177,63
43 -512,51 323,23 -133,95
44 -515,42 218,40 -90,27
45 -483,39 160,16 -43,68
46 -512,51 163,07 37,86
47 -503,78 163,07 122,30
48 -506,69 177,63 230,05
49 -483,39 200,93 372,74
50 -375,65 203,84 439,71
51 -366,91 168,90 468,83
52 -369,82 125,22 483,39
53 -358,18 90,27 489,22
54 -346,53 37,86 489,22
55 -317,41 -26,21 474,66
56 -334,88 -69,89 468,83
57 -337,79 -87,36 480,48
58 -297,02 -122,30 457,18
59 -314,50 -323,23 401,86
60 -305,76 -352,35 407,68
61 -212,58 -340,70 381,47
62 -206,75 -384,38 346,53
63 -218,40 -480,48 302,85
64 -203,84 -506,69 279,55
Dados do Sistema Elétrico 139

abela C.4 - Resultados de medição dos sinais de tensão e corrente obtidos no FEA1 para o segundo ciclo
uA(t) uB(t) uC(t)
Npontos V V V
1 23,30 -282,46 442,62
2 302,85 -262,08 457,18
3 404,77 -241,70 442,62
4 445,54 -262,08 396,03
5 396,03 -308,67 346,53
6 416,42 -305,76 314,50
7 471,74 -346,53 297,02
8 503,78 -218,40 264,99
9 515,42 -244,61 218,40
10 527,07 -232,96 163,07
11 532,90 -221,31 81,54
12 518,34 -227,14 -14,56
13 512,51 -206,75 -116,48
14 518,34 -232,96 -267,90
15 439,71 -209,66 -346,53
16 430,98 -209,66 -410,59
17 311,58 -209,66 -474,66
18 378,56 -174,72 -509,60
19 349,44 -122,30 -515,42
20 346,53 -107,74 -535,81
21 320,32 -87,36 -544,54
22 334,88 -37,86 -541,63
23 297,02 -32,03 -562,02
24 264,99 -14,56 -556,19
25 238,78 32,03 -544,54
26 250,43 40,77 -535,81
27 215,49 78,62 -509,60
28 221,31 311,58 -413,50
29 227,14 291,20 -430,98
30 128,13 317,41 -407,68
31 81,54 390,21 -387,30
32 43,68 410,59 -364,00
33 0,00 401,86 -384,38
34 -270,82 329,06 -413,50
35 -358,18 259,17 -398,94
Dados do Sistema Elétrico 140

Tabela C.4 - Resultados de medição dos sinais de tensão e corrente obtidos no FEA1 para o segundo ciclo
(continuação)
uA(t) uB(t) uC(t)
Npontos V V V
36 -404,77 291,20 -352,35
37 -436,80 227,14 -340,70
38 -495,04 294,11 -288,29
39 -497,95 262,08 -250,43
40 -541,63 247,52 -232,96
41 -524,16 241,70 -189,28
42 -524,16 262,08 -145,60
43 -524,16 235,87 -110,66
44 -445,54 247,52 -49,50
45 -532,90 212,58 14,56
46 -529,98 241,70 148,51
47 -471,74 198,02 215,49
48 -355,26 221,31 314,50
49 -463,01 122,30 369,82
50 -436,80 119,39 422,24
51 -398,94 116,48 460,10
52 -361,09 96,10 477,57
53 -340,70 84,45 477,57
54 -331,97 -11,65 474,66
55 -308,67 -46,59 454,27
56 -299,94 -75,71 442,62
57 -264,99 -96,10 439,71
58 -259,17 -145,60 413,50
59 -264,99 -334,88 413,50
60 -212,58 -299,94 404,77
61 -224,22 -323,23 393,12
62 -168,90 -355,26 366,91
63 -142,69 -390,21 355,26
64 -78,62 -343,62 349,44
Dados do Sistema Elétrico 141

Tabela C.5 - Resultados de medição dos sinais de tensão e corrente obtidos no FEA1 para o terceiro ciclo
uA(t) uB(t) uC(t)
Npontos V V V
1 61,15 -331,97 381,47
2 259,17 -256,26 396,03
3 361,09 -299,94 355,26
4 329,06 -314,50 311,58
5 352,35 -320,32 282,46
6 396,03 -308,67 253,34
7 436,80 -323,23 227,14
8 471,74 -285,38 192,19
9 425,15 -273,73 160,16
10 460,10 -267,90 110,66
11 460,10 -250,43 52,42
12 454,27 -250,43 -14,56
13 483,39 -230,05 -87,36
14 489,22 -238,78 -209,66
15 512,51 -174,72 -288,29
16 433,89 -165,98 -378,56
17 451,36 -142,69 -430,98
18 445,54 -131,04 -457,18
19 430,98 -113,57 -483,39
20 416,42 -87,36 -489,22
21 407,68 -46,59 -495,04
22 369,82 -20,38 -489,22
23 361,09 2,91 -492,13
24 288,29 14,56 -486,30
25 215,49 29,12 -486,30
26 203,84 87,36 -460,10
27 250,43 320,32 -387,30
28 273,73 334,88 -384,38
29 244,61 439,71 -358,18
30 203,84 398,94 -343,62
31 171,81 477,57 -329,06
32 69,89 492,13 -314,50
33 17,47 480,48 -331,97
34 -142,69 264,99 -387,30
35 -384,38 276,64 -337,79
Dados do Sistema Elétrico 142

Tabela C.5 - Resultados de medição dos sinais de tensão e corrente obtidos no FEA1 para o terceiro ciclo
(continuação)
Npontos uA(t) uB(t) uC(t)
V V V
36 -364,00 299,94 -299,94
37 -410,59 302,85 -291,20
38 -465,92 331,97 -238,78
39 -460,10 326,14 -206,75
40 -492,13 331,97 -165,98
41 -477,57 352,35 -131,04
42 -497,95 404,77 -90,27
43 -541,63 259,17 -55,33
44 -553,28 235,87 -2,91
45 -547,46 224,22 69,89
46 -524,16 180,54 174,72
47 -500,86 186,37 302,85
48 -471,74 174,72 375,65
49 -474,66 148,51 430,98
50 -419,33 139,78 474,66
51 -387,30 119,39 497,95
52 -361,09 99,01 509,60
53 -329,06 116,48 553,28
54 -253,34 61,15 564,93
55 -253,34 -17,47 541,63
56 -232,96 -46,59 532,90
57 -203,84 -180,54 468,83
58 -224,22 -331,97 428,06
59 -244,61 -430,98 384,38
60 -221,31 -358,18 401,86
61 -189,28 -387,30 378,56
62 -90,27 -387,30 358,18
63 -125,22 -396,03 346,53
64 5,82 -384,38 337,79
Dados do Sistema Elétrico 143

Tabela C.6 - Resultados de medição dos sinais de tensão e corrente obtidos no FEA1 para o quarto ciclo
uA(t) uB(t) uC(t)
Npontos V V V
1 75,71 -334,88 343,62
2 361,09 -256,26 352,35
3 457,18 -267,90 334,88
4 509,60 -250,43 308,67
5 570,75 -270,82 276,64
6 608,61 -259,17 253,34
7 628,99 -247,52 232,96
8 646,46 -256,26 215,49
9 663,94 -215,49 174,72
10 646,46 -174,72 157,25
11 643,55 -180,54 113,57
12 637,73 -154,34 69,89
13 626,08 -122,30 26,21
14 628,99 -122,30 -40,77
15 599,87 -128,13 -125,22
16 567,84 -139,78 -224,22
17 535,81 -116,48 -334,88
18 460,10 -139,78 -407,68
19 465,92 -110,66 -448,45
20 390,21 -90,27 -480,48
21 378,56 0,00 -474,66
22 372,74 40,77 -506,69
23 247,52 75,71 -503,78
24 253,34 241,70 -463,01
25 244,61 320,32 -454,27
26 200,93 238,78 -471,74
27 128,13 273,73 -439,71
28 116,48 317,41 -407,68
29 113,57 337,79 -390,21
30 34,94 349,44 -361,09
31 -14,56 337,79 -387,30
32 -238,78 317,41 -393,12
33 -323,23 323,23 -384,38
34 -396,03 285,38 -396,03
35 -503,78 241,70 -366,91
Dados do Sistema Elétrico 144

Tabela C.6 - Resultados de medição dos sinais de tensão e corrente obtidos no FEA1 para o quarto ciclo
(continuação)
uA(t) uB(t) uC(t)
Npontos V V V
36 -451,36 253,34 -352,35
37 -521,25 291,20 -334,88
38 -553,28 264,99 -297,02
39 -500,86 311,58 -253,34
40 -518,34 267,90 -238,78
41 -553,28 221,31 -203,84
42 -538,72 262,08 -145,60
43 -562,02 218,40 -104,83
44 -564,93 230,05 -29,12
45 -532,90 200,93 32,03
46 -544,54 244,61 125,22
47 -541,63 148,51 247,52
48 -503,78 154,34 329,06
49 -503,78 154,34 396,03
50 -500,86 107,74 451,36
51 -396,03 99,01 500,86
52 -349,44 61,15 509,60
53 -387,30 43,68 527,07
54 -326,14 32,03 527,07
55 -285,38 0,00 518,34
56 -294,11 -43,68 503,78
57 -302,85 -224,22 436,80
58 -267,90 -349,44 407,68
59 -264,99 -442,62 372,74
60 -276,64 -486,30 361,09
61 -232,96 -413,50 366,91
62 -192,19 -442,62 349,44
63 -139,78 -425,15 349,44
64 -14,56 -393,12 375,65
Dados do Sistema Elétrico 145

Tabela C.7 - Resultados de medição dos sinais de tensão e corrente obtidos no FEA1 para o quinto ciclo
uA(t) uB(t) uC(t)
Npontos V V V
1 14,56 -366,91 352,35
2 215,49 -334,88 349,44
3 305,76 -366,91 334,88
4 378,56 -326,14 314,50
5 430,98 -378,56 282,46
6 460,10 -355,26 267,90
7 506,69 -352,35 218,40
8 457,18 -366,91 186,37
9 483,39 -366,91 157,25
10 521,25 -334,88 142,69
11 550,37 -186,37 116,48
12 550,37 -192,19 61,15
13 567,84 -206,75 -14,56
14 538,72 -256,26 -90,27
15 562,02 -157,25 -206,75
16 524,16 -264,99 -331,97
17 497,95 -317,41 -506,69
18 238,78 -259,17 -521,25
19 297,02 -212,58 -521,25
20 372,74 -250,43 -495,04
21 378,56 -66,98 -497,95
22 331,97 -84,45 -515,42
23 317,41 -17,47 -497,95
24 189,28 81,54 -465,92
25 273,73 270,82 -422,24
26 297,02 381,47 -384,38
27 329,06 465,92 -358,18
28 259,17 372,74 -384,38
29 244,61 401,86 -346,53
30 230,05 419,33 -334,88
31 157,25 465,92 -305,76
32 84,45 503,78 -299,94
33 -49,50 445,54 -343,62
34 -259,17 349,44 -366,91
35 -384,38 346,53 -343,62
Dados do Sistema Elétrico 146

Tabela C.7 - Resultados de medição dos sinais de tensão e corrente obtidos no FEA1 para o quinto ciclo
(continuação)
uA(t) uB(t) uC(t)
Npontos V V V
36 -430,98 390,21 -308,67
37 -457,18 451,36 -250,43
38 -448,45 407,68 -235,87
39 -477,57 375,65 -221,31
40 -538,72 320,32 -215,49
41 -591,14 241,70 -171,81
42 -495,04 273,73 -113,57
43 -492,13 302,85 -46,59
44 -509,60 192,19 -14,56
45 -544,54 215,49 58,24
46 -567,84 250,43 154,34
47 -527,07 294,11 337,79
48 -334,88 264,99 401,86
49 -416,42 230,05 433,89
50 -448,45 177,63 454,27
51 -398,94 160,16 483,39
52 -358,18 110,66 497,95
53 -334,88 34,94 512,51
54 -276,64 5,82 524,16
55 -259,17 -14,56 541,63
56 -224,22 -110,66 500,86
57 -227,14 -250,43 445,54
58 -235,87 -329,06 410,59
59 -250,43 -413,50 366,91
60 -273,73 -454,27 355,26
61 -221,31 -396,03 372,74
62 -180,54 -413,50 329,06
63 -177,63 -451,36 311,58
64 -101,92 -457,18 305,76
Efeito Flicker em Fornos a Arco 147

Apêndice D
Efeito “Flicker” em Fornos a Arco

D.1 INTRODUÇÃO

Cintilação de luz é a impressão visual resultante das variações do fluxo


luminoso nas lâmpadas elétricas causadas pelas flutuações de tensão de
alimentação. A cintilação vem do termo “flicker” em inglês.
O efeito de cintilação (“flicker”) é conseqüência da variação de tensão de
suprimento sobre o sistema de iluminação constituída, principalmente, de lâmpadas
do tipo incandescentes. Mais precisamente, a cintilação de luz é caracterizada como
sendo a “impressão subjetiva de flutuação da luminância”. O “flicker” normalmente é
originado pelas variações bruscas de Cargas Elétricas Especiais (CEE) tais como
fornos a arco, máquinas de soldas, conversores de laminadores, partidas de
motores, chaveamento de estágio de bancos de capacitores, etc. Estas flutuações
de tensão, quando ocorrem no Ponto de Acoplamento Comum (PAC) com a
indústria causam perturbações aos consumidores que estão mais próximos
eletricamente dos locais com CEE.
Se estas flutuações ocorrem em determinadas freqüências e amplitudes, as
lâmpadas ficam piscando (“flicker”) e ocorrem interferências em alguns
equipamentos eletrônicos sensíveis como, por exemplo, Controladores Lógicos
Programáveis (CLP), inversores de freqüência, microcomputadores industriais, etc.
As lâmpadas incandescentes são particularmente sensíveis, mesmo às
pequenas variações de tensão repetidas devido à baixa constante térmica dos
filamentos (10 a 200 mseg).

Cabe destacar que resumidamente:


Lâmpadas incandescentes são sensíveis na faixa de 4 a 10 Hz
Lâmpadas fluorescentes são sensíveis na faixa em torno de 20 Hz
Perturbações dos fornos a arco ocorrem na faixa de 2 a 10 Hz
Efeito Flicker em Fornos a Arco 148

O problema relacionado ao “flicker” é bastante antigo, visto que, nas


décadas de 20 e 30, já havia levantamentos a respeito do assunto (General Electric
Company, 1925). A Figura E.1 a seguir, ilustra os resultados das pesquisas feitas
pela General Electric Company em 1925.

Figura D.1 - Relação da variação da tensão e freqüência aplicada a lâmpadas incandescentes.

Por outro lado, a imposição de restrições operativas sobre as Cargas


Elétricas Especiais (CEE) pode inviabilizar economicamente a atividade industrial.
Daí a necessidade de se instalar sistemas de controle denominados compensadores
estáticos, que respondem em meio ciclo ou menos de freqüência da rede (10 ou
8,33 mseg para 50 ou 60 Hz, respectivamente) para evitar que tais perturbações
ocorram. A Figura E.2 ilustra uma modulação típica na onda de tensão de 50 Hz que
causa o efeito “flicker”.
Efeito Flicker em Fornos a Arco 149

Figura D.2 - Forma de onda típica quando ocorre flutuação de tensão (F=50 Hz).

Uma característica na operação de fornos elétricos a arco, particularmente


durante a fusão, é a ocorrência de curto-circuitos entre os eletrodos e a carga
(sucata). Também acontece que o arco, estando extinto, não apresenta corrente na
fase correspondente. Devido a não linearidade do arco, as variações de corrente são
raramente simétricas e normalmente duas fases ficam muitas vezes em
curto-circuito enquanto que a terceira fase está sem corrente. Entre estes extremos,
ocorre todo grau possível de desequilíbrio.
Com base na Figura E.3, observa-se que as freqüências próprias do arco
elétrico na faixa de 7 a 10 Hz não devem provocar, por exemplo, quedas nas
tensões superiores a 0,5% para as lâmpadas alimentadas em 225 V, e de 0,8% para
aquelas ligadas em 125 V.
Efeito Flicker em Fornos a Arco 150

Figura D.3 - Variação da Tensão em função da freqüência para lâmpadas incandescentes situadas na
faixa de 40 a 100 W para tensões desde 125 até 225 V.

D.2 LIMITES ESTABELECIDOS PARA AS PERTURBAÇÕES PROVOCADAS


POR FORNOS A ARCO

O efeito “flicker” provocado por fornos à arco pode ser verificado pelo
método de cálculo de Ufg (“gauge-point”). Inicialmente calcula-se a queda de tensão
dada pela expressão a seguir:

= (1)
Efeito Flicker em Fornos a Arco 151

Após determinar este valor, calcula-se o Ufg dado por:

Ufg = ks. ΔUc (2)

onde:
SCCF - potência de curto circuito nos terminais dos eletrodos do forno, ou pode ser
estimada alternativamente como sendo duas vezes a potência nominal do
transformador do forno);
Scc - potência de curto circuito trifásica (normalmente deve-se utilizar o valor
mínimo);
ΔUc - queda de tensão para o forno em curto;
kS - fator de severidade, é uma característica do forno ligada ao regime de operação.
Normalmente situa-se entre 0,09 a 0,15 (um valor usual para ks é 0,12).
Como limite típico de Ufg, tem-se:
Ufg ≤ 0,25% para tensões nominais iguais ou inferiores a 138 kV;
Ufg ≤ 0,20% para tensões nominais superiores a 138 kV.
A norma IEC 61000-4-15 (2003) indica os critérios e forma para a medição
do efeito do “flicker” em sistemas elétricos.

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