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Ministério da Educação

Universidade Tecnológica Federal do Paraná


Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação

RELATÓRIO FINAL DE ATIVIDADES


DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

Projeto, construção e análise de desempenho


de um transformador isolador de baixa tensão

vinculado ao projeto

Transformador isolador

Francisco Ferreira Filho


Iniciação científica voluntária
Engenharia Elétrica
Data de Ingresso no Programa: 08/2023
Prof(a). Dr(a). Carlos Matheus Rodrigues de Oliveira

Área do Conhecimento: 3.04.00.00-7 — Engenharia Elétrica

CAMPUS APUCARANA, 2023


FRANCISCO FERREIRA FILHO #
CARLOS MATHEUS RODRIGUES DE OLIVEIRA #

PROJETO, CONSTRUÇÃO E ANÁLISE DE DESEMPENHO


DE UM TRANSFORMADOR ISOLADOR DE BAIXA TENSÃO

Relatório de Pesquisa do Programa de Inici-


ação Científica da Universidade Tecnológica
Federal do Paraná.

APUCARANA, 2023
SUMÁRIO

RESUMO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

MATERIAL E MÉTODOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
Transformadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
Ensaio a vazio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
Ensaio curto-circuito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Rendimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
Regulação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

PROJETO PARA TRANSFORMADORES DE PEQUENA POTÊNCIA MONOFÁ-


SICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
Seção dos condutores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
Área de seção do fluxo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Cálculo do número de espiras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
Cálculo do número de espiras máximo na janela do núcleo . . . . . . . . . . 15
Estimando perdas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

CONSTRUÇÃO DE UM TRANSFORMADOR ISOLADOR COM RECICLAGEM


DE SUCATA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
Cálculo das espiras extras no secundário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Enrolamento das bobinas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

ENSAIOS E RESULTADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Ensaio a vazio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Ensaio curto-circuito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

CONCLUSÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

AGRADECIMENTOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3

RESUMO

O presente artigo introduz os conceitos fundamentais na transferência de energia


elétrica por um transformador monofásico e um roteiro para realização de projeto, bem
como, a construção de um transformador monofásico isolador para alimentar uma fonte
chaveada. O material de construção para o transformador por fornecido pelo orientador
desta pesquisa, composto por um transformador retirado de sucata de um nobreak
danificado e fios de cobre esmaltado AWG. Com a construção do transformador foi
possível validar o roteiro, através de medições e comparações. No final com base na
experiencia obtida na construção feita de forma manual do trafo, foi elaborada dicas
práticas com o propósito de promover a qualidade do transformador.
Palavras-chave:

INTRODUÇÃO

Transformadores são amplamente utilizados no cotidiano da sociedade moderna


principalmente em redes de distribuição de energia elétrica. Do qual no geral, é ne-
cessário uma redução de tensão da rede para seu destino final. Esses dispositivos
em sua essência são destinados a transferir energia elétrica de uma fonte de corrente
alternada para algum equipamento ou dispositivo por meio de terminais denominados
primário e secundário [1]. As características construtivas de um transformador define a
magnitude dos terminais de saída do(s) secundário(s). Porém existe transformadores
destinados especificamente para isolar circuitos eletricamente e fisicamente um do
outro, denominados transformadores isolador. Seu design é feito de forma que tensão
do primário seja igual ou muito próxima a do secundário. Uma de suas aplicações é
atenuar ou até mesmo eliminar picos de tensão providos de linhas da rede elétrica
que alimentam circuitos sensíveis a variações de tensão, como também uma proteção
extra a surtos elétricos [2]. Tendo em vista esse cenário, esse artigo tem como objetivo
introduzir o princípio de funcionamento de um transformador monofásico e em seguida
criar um passo a passo de projeto e construção de um transformador de pequena
potência monofásico por meio de uma revisão bibliográfica [3][4][5]. Seguindo esse
roteiro, foi projetado e construído um transformador isolador por meio de sucata de um
nobreak para fim de isolar uma fonte chaveada. Comparando os cálculos propostos no
projeto com os ensaios e medições de entrada e saída do transformador construído,
verificar o desempenho do roteiro.
4

MATERIAL E MÉTODOS

Transformadores. De acordo com “IEEE Standard Terminology for Power and Dis-
tribution Transformers” [1] um transformador pode ser definido como um dispositivo
elétrico estático composto por dois ou mais enrolamentos acoplados, podendo ou não
ter um núcleo magnético. Sua função é estabelecer o acoplamento mútuo entre circuitos
elétricos. São amplamente utilizados em sistemas de energia elétrica para transferir
energia por indução eletromagnética entre circuitos na mesma frequência, geralmente
com valores alterados de voltagem e corrente.
Na Figura 1 temos um transformador teórico composto pelos circuitos 1 e 2 que
estão acoplados por indução magnética por meio de um núcleo de ar, ou seja, não
há conexão condutiva física entre eles. O circuito 1, conectado a fonte alternada 𝑉1 é
chamado de primário e o circuito 2 conectado a carga de secundário. A convenção de
pontos foi utilizada na Figura 1 para representar a polaridade instantânea positiva da
tensão alternada induzida em ambas bobinas, de acordo com a lei de Lenz que segundo
Chapman [5] essa lei diz que conforme a intensidade do fluxo estiver aumentando, a
tensão que está sendo induzida na bobina tenderá a produzir um fluxo mútuo 𝜙𝑚 que se
opõe a esse incremento. Então, quando 𝑉1 é instantaneamente positivo, uma corrente
𝐼1 circula pelo enrolamento primário induzindo uma tensão 𝐸 1 , de uma polaridade tal
que se opõe a 𝑉1 .

Figura 1. Transformador de núcleo de ar, indutivamente acoplado

Fonte: Autoria própria por meio do software LTspice


5

As seguintes definições aplicam-se ao transformador conforme o da Figura 1, e


serão usadas no decorrer deste artigo.
• 𝑉1 , Tensão em volts, da entrada conectada a bobina primária de 𝑁1 espiras
• 𝑉2 , Tensão em volts, de saída da bobina secundária de 𝑁2 espiras
• 𝑟 1 , Resistência do circuito primário, em ohms
• 𝑟 2 , Resistência do circuito secundário, em ohms
• 𝐼1 , Valor em RMS da corrente drenada da fonte 𝑉1 , em Ampéres.
• 𝐼2 , Valor em RMS da corrente entregue a carga por meio do circuito 2, em
Ampéres
• 𝐸 1 , Tensão induzida na bobina primária, em volts
• 𝐸 2 , Tensão induzida na bobina secundária, em volts
• 𝜙, fluxo magnético, medida do campo magnético total que atravessa uma deter-
minada área, sua unidade é Volt por segundo, ou ainda, Weber.
• 𝑀, Indutância mútua que descreve o acoplamento magnético, em Henries.
• 𝐵, densidade de fluxo magnético produzido, em Weber por metro quadrado,
conhecido como Tesla (T)
• 𝑖 𝜙 , corrente de excitação em Ampéres
• 𝐻, intensidade do campo magnético, dada em Ampère-espira por metro
• 𝜇, permeabilidade magnética do material, dada em Henry por metro
• 𝜇0 permeabilidade do vácuo: 𝜇0 = 4𝜋 × 10−7 𝐻/𝑚
• 𝑙 𝑚 , caminho médio percorrido pelo fluxo em um núcleo magnético
As dispersões de fluxo 𝜙1 e 𝜙2 corresponde a fração do fluxo que escapa do
núcleo do transformador, esse fenômeno pode ser intensificado a medida com que o
núcleo entra na zona de saturação pois a permeabilidade 𝜇 do núcleo decresce muito
implicando no aumento da sua relutância [6]. Outro fator que ocasiona o aumento das
dispersões de fluxo é a distância física entre os enrolamentos primário e secundário,
na Figura 2 temos um núcleo envolvido e na Figura 3 um núcleo envolvente. Como no
núcleo envolvido o enrolamento primário está a uma distância física maior se comparado
ao núcleo envolvente, ele é o mais utilizado [3].
6

Figura 2. Núcleo envolvido

Fonte: Adaptado de Chapman [5].

Figura 3. Núcleo envolvente

Fonte: Adaptado de Chapman [5].

Segundo Umans [4, p. 3] a permeabilidade magnética pode ser entendida como


uma razão entre a densidade de fluxo 𝐵 e a intensidade de campo magnético 𝐻, dito
isso, temos permeabilidade relativa que é amplamente utilizada para comparar em
termos 𝜇0 a permeabilidade de qualquer outro material por meio da Equação 1 [5]. Na
Tabela 1 podemos observar a diferença da permeabilidade relativa de alguns materiais.
𝜇
𝜇𝑟 = (1)
𝜇0

Tabela 1. Informações sobre permeabilidade de alguns materiais


Material 𝜇(𝐻𝑚 −1 ) 𝜇𝑟
Vácuo 4𝜋 × 10−7 (𝜇0 ) 1
Ar 1,25663753 ×10−6 1,00000037
Cobre 1,256665 ×10−6 1.000022
Alumínio 1,256665 ×10−6 1.000022
Aço carbono 1.26 ×10−4 100
Ferro (99,8%) 6.3 ×10−3 5000
Permalloy 1.25 ×10−1 100000
Fonte: Slodička, Van Bockstal et al. [7]
7

Em um núcleo semelhante ao ilustrado na Figura 4, é possível calcular valor da


densidade de fluxo 𝐵 e o fluxo total 𝜙 por meio das Equações 2 e 3 [5]:
𝜇𝑁𝑖
𝐵 = 𝜇𝐻 = (2)
𝑙𝑚

𝜙= 𝐵 · 𝑑𝐴 (3)
𝐴
Nas condições com que o vetor de densidade de fluxo é perpendicular a área de
seção 𝐴 e a densidade de fluxo é constante através da área, a Equação 3 se reduz
para a Equação 4 [5].
𝜇𝑁𝑖 𝐴
𝜙 = 𝐵𝐴 = (4)
𝑙𝑚
Nota-se que o fluxo magnético 𝜙 é diretamente proporcional a permeabilidade
magnética do material, motivo do qual os núcleos são construídos com materiais de
alta permeabilidade.
Ainda na Figura 4, temos a composição de várias chapas no formato de E e I,
esse tipo de construção é utilizado para reduzir as correntes parasitas induzidas pelos
campos elétricos. Essas correntes parasitas circulam no material do núcleo em oposição
às mudanças de densidade de fluxo do material. Essas chapas são isoladas entre si
por uma camada de óxido, esmalte ou verniz de isolação, isso reduz consideravelmente
a magnitude das correntes parasitas pois as camadas de isolação interrompem os
caminhos da corrente, quanto menos espessas as camadas, menores as perdas [4].

Figura 4. Formato de um núcleo composto por chapas do tipo E e I.

Fonte: Autoria própria.


8

Ensaio a vazio. No ensaio ensaio a vazio ou ainda circuito aberto, escolhe-se um


dos enrolamentos para deixar em circuito aberto, geralmente o enrolamento de menor
tensão nominal por motivos de segurança, o outro enrolamento é conectado à sua
tensão nominal plena de linha. Ao montar o circuito como ilustra a Figura 5 a corrente
do primário aferida pelo amperímetro A é composta apenas pelo módulo da corrente
complexa de excitação 𝐼ˆ𝜑 cujo valor é bem pequeno, portanto a queda de tensão na
impedância em série do primário pode ser desprezada, levando ao seguinte circuito da
Figura 6 [4].

Figura 5. Ensaio a vazio

Fonte: Adaptado de Kothari e Nagrath [8].

Figura 6. Circuito equivalente ao ensaio a vazio

Fonte: Autoria própria.


9

Nesse circuito como a corrente a vazio 𝐼ˆ𝑣𝑎𝑧𝑖𝑜 é equivalente a corrente de excitação


𝐼ˆ𝜑 , então é possível calcular a resistência do núcleo 𝑅𝑐 e a reatância de magnetização
𝜒𝑚 por meio de,
(𝑉𝑣𝑎𝑧𝑖𝑜 ) 2
𝑅𝑐 = onde é o resultado do Wattímetro 𝑊



 𝑃0 , 𝑃0






 𝑉0
𝐼𝑐 =



 𝑅𝑐
(5)



 √︁



 𝐼𝑚 = (𝐼0 ) 2 − (𝐼𝑐 ) 2






 𝑉𝑣𝑎𝑧𝑖𝑜


 𝑋𝑚 = 𝐼𝑚

Ensaio curto-circuito. Nesse ensaio o secundário é curto-circuitado e a tensão no


primário é incrementada gradativamente até se obter a corrente nominal do primário,
como mostra a Figura 7. Assim como no ensaio a vazio, por questões de boas práticas
de segurança, o lado de baixa tensão BT é circuito circuitado, pois o lado de alta tensão
AT possui uma corrente nominal de menor magnitude. A corrente de magnetização
é muito inferior a corrente de carga em consequência da grande redução da tensão
aplicada no primário. Assim, o ramo de excitação pode ser desprezado e temos o
circuito equivalente da Figura 8.

Figura 7. Ensaio de curto-circuito

Fonte: Adaptado de Kothari e Nagrath [8].


10

Figura 8. Circuito equivalente ao ensaio de curto-circuito

Fonte: Autoria própria.

O Wattímetro da Figura 7 retorna o valor da potência dissipada pelas impedâncias


𝑍 dos enrolamentos, sendo estes: 𝑅1 e 𝜒1 respectivamente resistência e reatância do
primário, 𝑅2′ e 𝜒2′ a resistência e reatância referida ao primário.

𝑅𝑒𝑞 = 𝑅1 + 𝑅2′











𝜒𝑒𝑞 = 𝜒1 + 𝜒2′










(6)


𝑅𝑒𝑞 = (𝐼 𝑃𝑐𝑜𝑏𝑟 𝑒 ) 2
 𝑛𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙





𝑍 𝑒𝑞 = 𝑍1 + 𝑍2′ = 𝑉𝐼𝑐𝑢𝑟𝑡𝑜

 𝑐𝑢𝑟𝑡𝑜









 √︃
2 − 𝑅2
 𝑋𝑒𝑞 = 𝑍 𝑒𝑞

 𝑒𝑞

Rendimento. Os transformadores são projetados para obter o maior rendimento pos-
sível, O rendimento 𝜂 de um transformador pode ser calculado por meio da seguinte
equação,
𝑃𝑠𝑎í𝑑𝑎 𝑃𝑠𝑎í𝑑𝑎
𝜂= = (7)
𝑃𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎 𝑃𝑠𝑎í𝑑𝑎 + 𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠
11

Perdas devido a correntes parasitas e histerese no núcleo representado por 𝑃𝑐


e perdas ôhmicas nos enrolamentos de cobre 𝑃𝑐 𝑢, compõem as perdas totais do
transformador. As perdas no cobre podem ser determinadas pela corrente e resistência
no enrolamento. Já as perdas no núcleo podem ser determinadas pelo ensaio a vazio
ou pelos parâmetros do circuito equivalente da Figura 6 [4][5]. A potência de saída do
transformador pode ser dada por,

𝑃𝑠𝑎í𝑑𝑎 = 𝑉𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 𝐼𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 𝑐𝑜𝑠(𝜃) = 𝑉𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 𝐼𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 𝐹𝑃𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 , (8)

Do qual 𝐹𝑃 representa o fator de potência da carga e 𝜃 o ângulo.


Por fim a equação final para o rendimento é dada por,
𝑉𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 𝐼𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 𝐹𝑃𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎
𝜂= 2
(9)
𝐼𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 𝑅𝑒𝑛𝑟𝑜𝑙𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑠 + 𝑃𝑐

Regulação. A tensão de saída de um transformador geralmente é maior a vazio do que


quando conectado a uma carga devido as perdas. A regulação de um transformador é
a diferença de tensão a vazio com a tensão de plena carga. Para obter essa variação
em percentual basta aplicar a equação,
𝑉𝑣𝑎𝑧𝑖𝑜 − 𝑉𝑝𝑙𝑒𝑛𝑎 𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎
Regulação(%) = × 100 (10)
𝑉𝑣𝑎𝑧𝑖𝑜
De acordo com Martignoni [3] uma regulação aceitável gira em torno de 5% a
10%.
12

PROJETO PARA TRANSFORMADORES DE PEQUENA POTÊNCIA MONOFÁSICO

A primeira etapa de um projeto de transformador é definir a corrente 𝐼 𝑠 e a tensão


𝑉𝑠 que o transformador deverá fornecer na saída de seu secundário. Com esses valores
definidos calcula-se,

Potência secundário: 𝑊𝑠 = 𝐼 𝑠𝑉𝑠 [𝑉 𝐴]






(11)


Potência primário: 𝑊 𝑝 = 1,1𝑊𝑠 [𝑉 𝐴]

 Corrente primário: 𝐼 𝑝 = 𝑊

𝑉 𝑝 [ 𝐴]
 𝑝

O termo 1,1 aparece no cálculo da potência 𝑊 𝑝 do primário para considerar as
perdas do transformador [3]. Detalhe que se o transformador possuir mais de um
secundário é necessário calcular a potência separadamente para cada um.

Seção dos condutores. Quando se trata em seção de condutores a variável limitante


é a densidade de corrente 𝐽 dada em 𝐴/𝑚𝑚 2 , uma alta densidade de corrente impacta
em um superaquecimento do transformador podendo ocasionar em danos. De acordo
com as referências de Martignoni [3, p 79] e a associação brasileira de normas técnicas
NBR 5356, para transformadores a seco deve se respeitar a seguinte Tabela 2:

Tabela 2. Limite de densidade de corrente para condutores em transformadores a seco

Potência VA 𝐽 em 𝐴/𝑚𝑚 2
500 3
500 até 1000 2,5
1000 até 3000 2

Fonte: Martignoni [3]

Um exemplo, supondo que a corrente no primário 𝐼 𝑝 seja de 1𝐴 e que a do


secundário seja 𝐼 𝑠 seja de 2𝐴, e a potência do transformador seja inferior a 500𝑉 𝐴. A
seção mínima do condutor dos enrolamentos serão,
𝐼 1 2
𝐽= ⇔ 𝑆 𝑝 ≥ = 0,33𝑚𝑚 2 𝑆 𝑠 ≥ = 0.66𝑚𝑚 2
𝑆 3 3
Consultando uma tabela de fios AWG como a Tabela fio AWG NOVACON, o
primário teria que ser no mínimo um fio AWG número 22, e o secundário um AWG
número 18.
13

Área de seção do fluxo. O próximo passo é calcular a área de seção geométrica do


núcleo, que nada mais é do que a área central das chapas que atravessam o centro do
carretel do transformador como ilustra a Figura 9.

Figura 9. Área de seção do núcleo composto por carretel e chapas de ferro-silício

Fonte: Autoria própria.

A área do núcleo representada na Figura 9 deve ser mais próximo possível da


área no interior do carretel. Porém na realidade a área de seção percorrida pelo fluxo
magnético 𝜙 é um pouco menor, pois entre uma chapa e outra há materiais de isolação
que ocupam uma pequena fração da área de seção geométrica. Então para fins práticos
a seção magnética real 𝑆 𝑚 pode ser calculada como sendo 90% da seção geométrica
𝑆 𝑔 [3].
𝑆 𝑚 = 𝑆 𝑔 × 0,9 (12)

Segundo Marsland [9, p. 81] para lâminas padronizadas como no caso da Figura 9,
a área de seção magnética necessária para determinada potência é dada pela seguinte
equação,
√︄
𝑊𝑠
𝑆 𝑚 = 7,5 , onde 𝑓 é a frequência da rede (13)
𝑓
14

Com a seção magnética calcula-se a seção geométrica pela Eq. 12, é vantajoso
que a forma do núcleo seja próxima de um quadrado para praticidade de cálculos. Com
a espessura de cada chapa fornecida pelo fabricante, para saber quantas chapas serão
necessárias para compor o núcleo basta calcular por,
𝑆 𝑚 × 1,1
Número de chapas = (14)
Espessura de cada chapa
Como as chapas são composta por chapas do tipo E e I, é necessário acrescentar
duas chapas do tipo E para as bordas externas do núcleo. Nestas não irá haver fluxo
magnético, pois serão somente apoio para fixação das chapas restantes por meio de
parafusos. Ou seja, teremos duas chapas do tipo E a mais do que as do tipo I.

Cálculo do número de espiras. De acordo com Umans [4, p 23] o valor eficaz da
tensão induzida em uma bobina é,

𝑉𝑒 𝑓 = 2𝜋 𝑓 𝑁 𝑆 𝑚 𝐵𝑚𝑎𝑥 (15)

Podemos isolar o número de espiras N, converter a área 𝑆 𝑚 de 𝑚 2 para 𝑐𝑚 2 , então


podemos calcular o número de espiras do secundário e primário a partir de suas tensões
nominais:
𝑉𝑛𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙 × 104
𝑁= √ (16)
2𝜋 𝑓 𝑆 𝑚 𝐵𝑚𝑎𝑥
Caso o número da densidade máxima de fluxo 𝐵𝑚𝑎𝑥 não esteja disponível, costuma-
se utilizar 1 Tesla para lâminas de silício comum. Caso o número de espiras seja menor
do que o calculado na Eq.16 o núcleo irá saturar antes de entregar a tensão nominal,
elevando muito a corrente de excitação.
15

Cálculo do número de espiras máximo na janela do núcleo. Da-se o nome de janela


do núcleo o espaço efetivo em que os enrolamentos de cobre irão ocupar, por exemplo
na Figura 14.

Figura 10. Área de janela de lâminas do tipo E e I padrão

Fonte: Autoria própria.

Com a área da Janela, e a espessura da área central do carretel, é possível


estimar o espaço disponível para as bobinas de cobre. Recomenda-se a utilização de
um paquímetro já que cada milímetro pode ser o fator decisivo entre incluir ou não uma
camada a mais de enrolamento. Também é necessário deixar um espaço para papel
isolante como o papel Kraft 0,1mm. No mínimo é preciso isolar com papel o secundário
do primário, mas, algumas referências como Marsland [9] recomendam isolar camada
por camada. Essa isolação extra é por segurança, pois reforça a isolação entre as
espiras caso alguma venha por ventura romper a isolação do fio de cobre. Além da
vantagem de segurança, isolar camada por camada facilita para enrolar manualmente
as espiras, pois evita que um fio de uma camada invada outra camada.
Caso não haja espaço para colocar papel em todas camadas, pode-se colar uma
fita crepe de uso geral nas quinas do enrolamento, isso ajuda a evitar a invasão de fios
entre as camadas.
Os fabricantes de fio esmaltado AWG fornecem o diâmetro externo. Com esse
valor e o valor calculado de espaço disponível é possível estimar a quantidade máxima
de espiras.
16

Estimando perdas. Existem formas de estimar as perdas do transformador para


calcular o número de espiras no secundário a fim de compensar essas perdas. As
perdas do núcleo podem ser calculadas pelo ensaio a vazio ou ainda de maneira teórica
junto aos dados do fabricante das lâminas. Abaixo segue algumas definições para
variáveis das equações posteriores, que retornaram as perdas estimadas por cada quilo
de lâminas de ferro.
• 𝜌 é a resistividade do material das lâminas em micro-ohms-centímetro;
• 𝐵𝑚𝑎𝑥 é o valor máximo da indução das lâminas;
• 𝑓 é a frequência da variação do fluxo;
• 𝛼 𝑝 é um coeficiente para cálculo de perdas por correntes parasitas, valores na
Tabela 3;
• 𝜂 𝑠𝑡 , coeficiente empírico de Steinmetz para cálculo de perdas por histerese,
valores na Tabela 3;
• 𝛽𝑠𝑡 expoente da fórmula de Steinmetz;
• 𝑊 𝑝 Perdas por correntes parasitas;
• 𝑊ℎ Perdas por histerese;
• 𝑊𝐹𝑒 Perdas totais no ferro.
Para cálculo das perdas por histerese podemos aplicar a fórmula de Steinmetz.
De acordo com Batistela et al. [10, p 22], para lâminas de silício a variação do expoente
de Steinmetz está entre 1,4 a 1,8 para aços ao silício de grão não orientado. Na prática
aplique na Eq17 1,4 para 𝐵𝑚𝑎𝑥 inferior ou igual a 1 Tesla e 1,8 para 𝐵𝑚𝑎𝑥 superior a 1
Tesla .[3].
𝑓
𝑊ℎ = 𝜂 𝑠𝑡 (𝐵𝑚𝑎𝑥 ) 𝛽𝑠𝑡 (17)
50
Para cálculo das perdas por correntes parasitas, podemos aplicar a Eq18.
 2
𝑓
𝑊 𝑝 = 𝛼 𝑝 𝜌. .𝐵𝑚𝑎𝑥 (18)
50
Por fim, as perdas totais por cada quilo de lâminas podem ser estimadas por:

𝑊𝐹𝑒 = 𝑊ℎ + 𝑊 𝑝 (19)

Tabela 3. Coeficientes 𝛼 𝑝 e 𝜂 𝑠𝑡 para cálculo de perdas em um núcleo composto de


lâminas de aço-silício

Qualidade das lâminas 𝛼𝑝 𝜂 𝑠𝑡


lâminas com pouco silício 2,6 2,3
lâminas com muito silício 1,1 1,4

Fonte: Martignoni [3]


17

Agora para perdas nas bobinas de cobre 𝑊𝑐𝑢 . Assim como nas perdas do núcleo
temos duas opções onde a primeira é terminar o de enrolar o primário e em seguida
ligar um ohmímetro entre seus terminais e ver o resultado em ohms da resistência
total. A partir desse valor basta multiplicar pelo quadrado da corrente nominal de 𝐼 𝑝 e
teremos o valor estimado. Porém devido a bobina do secundário ter um diâmetro de
enrolamento um pouco maior, sua resistência será ligeiramente superior ao do primário
então podemos acrescentar 10% na resistência da bobina secundária.
Uma maneira mais precisa de calcular as perdas pelo cobre é pela Eq 20:

𝑊𝑐𝑢 = 𝛿𝑐𝑢 .𝑃𝐶𝑢 (20)

Onde 𝛿𝑐𝑢 é perda específica no cobre e 𝑃𝑐𝑢 o peso total do cobre. O cálculo do
peso total conforme apresentado por Martignoni [3, p 84] é dado por,

(21)
 
𝑃𝑐𝑢 = 𝑆 𝑐𝑢( 𝑝) .𝑁 𝑝 + 𝑆 𝑐𝑢(𝑠) .𝑁 𝑠 . 𝐿 𝑚(𝑐𝑢) .𝛾𝑐𝑢 [𝑔]

Do qual, 𝐿 𝑚(𝑐𝑢) é calculado com o auxílio da Figura 11,

𝐿 𝑚(𝑐𝑢) = 2𝑎 + 2𝑏 + 0,5.𝑎.𝜋 [𝑐𝑚] (22)

Onde 𝑆 𝑐𝑢( 𝑝) e 𝑆 𝑐𝑢(𝑠) são respectivamente as seções dos condutores primário e


secundário em 𝑐𝑚 2 . O termo 𝛾𝑐𝑢 é o peso específico do cobre em 𝑔/𝑐𝑚 3 fornecido pelo
fabricante. Por fim na Eq.23 temos o para cálculo da perda específica 𝛿𝑐𝑢 ,
𝜌𝑐𝑢
2
𝛿𝑐𝑢 = 𝐽𝑚𝑒𝑑 . × 103 [𝑊 𝑎𝑡𝑡𝑠/𝐾𝑔] (23)
𝛾𝑐𝑢

𝐴/𝑚𝑚 2
  
𝐽 = 𝐼/𝑆 𝑐𝑢 𝐽𝑚𝑒𝑑 = 𝐽 𝑝 + 𝐽𝑠 /2

Onde 𝐽𝑚𝑒𝑑 é a densidade média da corrente calculada com a média da densidade


do primário 𝐽 𝑝 com o secundário 𝐽𝑠 . A variável 𝜌𝑐𝑢 é a resistividade dada em Ω.𝑚𝑚 2 /𝑚,
seu valor varia de acordo com com o fabricante.
Figura 11. Vista superior do caminho médio para as espiras de cobre para primário e
secundário concêntrico

Fonte: Autoria própria.


18

CONSTRUÇÃO DE UM TRANSFORMADOR ISOLADOR COM RECICLAGEM DE


SUCATA

A proposta do projeto é construir um transformador isolador, ou seja uma relação


de espiras 1 : 1. Esse tipo de transformador tem a função de isolar circuitos um do
outro com propósito de proteger os circuitos ou ainda evitar interferências elétricas . A
tensão nominal de trabalho para esse transformador foi definida como 220 𝑉 e corrente
nominal maior ou igual a 0,2 𝐴. Os materiais para sua construção foram adquiridos de
um transformador de nobreak danificado.
O primeiro passo foi a desmontagem do transformador, removendo as lâminas de
aço-silício e os enrolamentos de cobre. Após isso foi possível fazer as medições do
núcleo e carretel com um paquímetro conforme apresentado na Figura 12 e 13:

Figura 12. Medidas em 𝑚𝑚 do núcleo, composto por 63 lâminas de aço-silício do tipo E


e 61 do tipo I

Fonte: Autoria própria.


19

Figura 13. Medidas em 𝑚𝑚 do carretel

Fonte: Autoria própria.

Com essas medidas, foi calculado a área de seção geométrica do fluxo 𝑆 𝑔 ,área
de seção magnética 𝑆 𝑚 conforme apresentado na Eq.12:
• 𝑆 𝑔 =31,7 × 0,5 × 61 = 967 𝑚𝑚 2
• 𝑆 𝑚 =𝑆 𝑔 × 0,9 = 870,165 𝑚𝑚 2
Em seguida foi calculado o número de espiras necessárias para uma tensão
nominal de 220 𝑉, nesse cálculo foi utilizado um valor de densidade máxima de fluxo
médio para lâminas de aço-silício, ou seja, 𝐵𝑚𝑎𝑥 no valor de um 1 Tesla.
𝑉𝑛𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙 × 104 220𝑉 × 104
𝑁= √ =√ = 948 𝑒𝑠𝑝𝑖𝑟𝑎𝑠
2𝜋 𝑓 𝑆 𝑚 𝐵𝑚𝑎𝑥 2𝜋60𝐻𝑧 × 8,70165𝑐𝑚 2 × 1𝑇
Também foi estimado a potência máxima dissipada pelo transformador pela Eq.13,
 2  2
𝑆𝑚 8,70165
𝑊= 𝑓 = 60 ≃ 80 𝑊 𝑎𝑡𝑡𝑠
7,5 7,5
Com esse resultado podemos estimar em quanto será aproximadamente a máxima
corrente fornecida pela saída do secundário,

𝐼 𝑠 (𝑚𝑎𝑥) = 80/220 ≃ 0,36 𝐴

No laboratório constava alguns rolos de fios de cobre esmaltado AWG da marca


JFPasqua conforme Tabela fio JFPasqua. Dentre os fios disponíveis, escolheu-se o
inicinalmente o fio AWG de número 26 por sua corrente de condução máxima (0,37 𝐴)
20

ser próxima da corrente 𝐼 𝑠 (𝑚𝑎𝑥) calculada anteriormente. Para verificação se esse fio
poderia ser realmente utilizado para enrolar as bobinas, foi preciso responder algumas
questões:
1. O diâmetro externo do fio AWG 26 é compatível com o espaço disponível para
o enrolamento todas espiras?
2. O limite de densidade de corrente 𝐽 está coerente com a Tabela 2?
Para verificar o item 1 foi utilizado um paquímetro para medir o espaço disponível
para o enrolamento no núcleo conforme ilustra a Figura 14. As medidas aferidas foram
42 𝑚𝑚 × 11,25 𝑚𝑚 , e seção do condutor 0,046𝑚𝑚. Devido a bobinagem ser realizada de
forma manual foi deixada uma margem de 5% para erro de alinhamento dos fios, do qual
faz com que o espaço total disponível para os fios não sejam totalmente preenchidos.
Enfim o cálculo total do número de espiras totais 𝑁𝑡 foi dado por,
 
11,25 42
𝑁𝑡 = 𝑁 𝑝 + 𝑁 𝑠 = × 0,95 = 2073 𝑒𝑠𝑝𝑖𝑟𝑎𝑠
0,46 0,46
Como o total de espiras máximas foi ligeiramente superior as espiras mínimas
calculadas anteriormente 𝑁𝑡 = 2 × 948 = 1896, o item 1 foi verificado. Esse espaço extra
é necessário pois além das 948 espiras do secundário serão necessárias algumas a
mais para compensar as perdas do núcleo e do cobre. Como também o espaço para
isolação entre o primário e secundário por algum papel isolante.
A seção do condutor fornecida pelo fabricante foi de 0,13𝑚𝑚 2 . Com esse valor e o
da corrente máxima do condutor foi verificado o item 2 por,
0,37
𝐽= = 2,8461𝐴/𝑚𝑚 2
0,13
Como 2,8461 𝐴/𝑚𝑚 2 está dentro das exigências da Tabela 2 o item 2 também está
dentro das normas.
21

Cálculo das espiras extras no secundário. Superestimando uma corrente de exci-


tação de 0,05 𝐴 nas condições em que o primário opera em sua corrente nominal, a
corrente do secundário chegara uma fração menor de corrente de aproximadamente
0,37 − 0,05 = 0,32 𝐴. Dito isso, foi escolhido uma corrente de projeto de 0,3 𝐴 no secun-
dário, esse valor é mais que o suficiente do que o requisitado de 0,2 𝐴. Não foi utilizado
0,32 𝐴 para ter uma folga extra ao valor de condução máxima do fio AWG 26 (0,37 𝐴),
promovendo uma maior integridade do enrolamento primário do qual a corrente será
maior.
Pelos dados do fabricante em Tabela fio JFPasqua temos que o peso específico
do cobre utilizado é 8,77 𝑔/𝑐𝑚 3 e a resistividade é 0,0178 Ω 𝑚𝑚 2 /𝑚. Então podemos
estimar as perdas pelo fio de cobre para 1896 espiras ela Eq.20.

Figura 14. Caminho médio do núcleo do projeto

Fonte: Autoria própria.

𝑃𝑐𝑢 = 1,3 × 10−3 𝑐𝑚 2 × 1896 × 8,77𝑔/𝑐𝑚 3 × 20,7𝑐𝑚 ≃ 447,5𝑔


2
0,0178Ω 𝑚𝑚 2 /𝑚

0,35𝐴 𝜌𝑐𝑢
𝛿𝑐𝑢 = . × 103 = 2,69232 𝐴/𝑚𝑚 2 × = 14,71𝑊/𝑘𝑔
0,13𝑚𝑚 2 𝛾𝑐𝑢 8,77 × 10−3 𝑔/𝑚𝑚 3
𝑃𝑐𝑢 447,5
𝑊𝑐𝑢 = 𝛿𝑐𝑢 . = 14,71 × = 6,58 𝑊
1000 1000
Ou seja, em condições da corrente nominal do secundário a resistência de todas
as espiras equivale a,
6,58
𝑅𝑒𝑠𝑝𝑖𝑟𝑎𝑠 = = 53,74 Ω
0,352
Podemos estimar então nas condições de plena carga qual a corrente que chega
nas saídas dos terminais do secundário,

𝑉𝑠 = 220 − 54,74(0,30 + 0,35)/2 = 202 𝑉


22

Conforme já previsto antes, teremos que compensar essas perdas enrolando


algumas expiras extras, só que expiras extras também irão gerar um leve aumento na
resistência total. Então de forma geral, iremos calcular por meio da Eq.24 o número de
expiras extras necessárias para compensar a perda de 18 volts e mais uma pequena
quantia de 5% desse valor para compensar também a resistência extra gerada, como
também as perdas do transformador por histerese e corrente parasita.
𝑉𝑝 220 𝑁𝑝 948
= = ′ = ⇒ 𝑁 𝑒𝑥𝑡𝑟𝑎𝑠 = 76 𝑒𝑠𝑝𝑖𝑟𝑎𝑠 (24)
𝑉𝑠 220 + 18 𝑁 𝑠 948 + 𝑁 𝑒𝑥𝑡𝑟𝑎𝑠

𝑁 𝑠 = 948 + 76 × 1,05 = 82 𝑒𝑠𝑝𝑖𝑟𝑎𝑠

Enrolamento das bobinas. As bobinas foram enroladas de forma manual com o auxilio
de uma carretilha com contador, optou-se por não isolar todas camadas com papel kraft
devido ao fato deste ter uma espessura de aproximadamente 0,5𝑚𝑚. Porém entre cada
camada foi colocado fita crepe nas quinas das camadas para evitar a sobreposição de
fios entre uma camada e outra, conforme ilustra a Figura 15

Figura 15. Fita crepe no auxílio para o enro-


Figura 16. Carretilha utilizada
lamento manual das bobinas

Fonte: Autoria própria.


Fonte: Autoria própria.

Recomenda-se deixar um espaço de fio de cobre de pelo menos 10 𝑐𝑚 para os


terminais da bobina. Para fios finos como o AWG de número 26, é necessário um
cuidado extra para que os terminais não se rompam devido ao atrito com o carretel.
23

ENSAIOS E RESULTADOS

Após o enrolamentos das bobinas, foi reaproveitado alguns jumpers com pontas
danificadas para soldar nos terminais dos transformador, melhorando a proteção contra
rompimento dos terminais. Também colocou-se parafusos com arruelas no espaço
destinado a eles no núcleo para apertar as lâminas e minimizar as frestas entre elas. O
resultado final é ilustrado nas Figuras 17 e 18.

Figura 17. Vista do lado primário Figura 18. Vista do lado secundário

Fonte: Autoria própria. Fonte: Autoria própria.

Ensaio a vazio. O ensaio a vazio foi feito utilizando apenas multímetros e um variac
disponibilizados pelo laboratório. Para melhor precisão de previsão de perdas no núcleo
devido a correntes parasitas e histerese era necessário mais um instrumento de medição:
wattímetro. Elevou-se gradativamente a tensão no variac até que a tensão no primário
tivesse seu valor nominal. Os valores anotados seguem conforme a Figura 19.

Figura 19. Ensaio a vazio

Fonte: Autoria própria.


24

Tabela 4. Resultados obtidos ensaio a vazio

Variável Magnitude
𝑉𝑝 220,4 𝑉
𝑉𝑠 236,7 𝑉
𝐼𝑝 25 𝑚 𝐴
𝐼𝑠 25 𝑚 𝐴

Fonte: Autoria própria

Anteriormente foi superestimado uma corrente de magnetização no valor de 50 𝑚 𝐴,


o valor obtido foi metade. Com um ohmímetro conectado nos terminais do secundário
mediu-se uma resistência no valor de 21,3Ω e nos terminais do secundário 27.8Ω como
ilustra a Figura 20

Figura 20. Resistência em ohms do enrolamento primário e secundário

Fonte: Autoria própria.

𝑊𝑐 = 0,0252 × (21,3 + 27,8) ≃ 0,03 𝑊

Podemos também comparar em termos de queda de tensão 𝑉𝑐 ,

𝑉𝑐 = 0,025 × (21,3 + 27,8) = 1,2275 𝑉

Como as perdas pelo núcleo 𝑊𝑐 e corrente de magnetização deram um valor muito


pequeno, podemos concluir que o núcleo não está saturado.
25

Ensaio curto-circuito. Utilizando os mesmos instrumentos do ensaio a vazio, foi


realizado o ensaio de curto-circuito, montando o circuito conforme a Figura 7 com
a ausência do wattímetro. . Elevou-se gradativamente a tensão no variac até que a
corrente no primário tivesse seu valor nominal de 0,37 𝐴. Os valores anotados seguem
conforme a Figura 19.

Figura 21. Ensaio curto-circuito

Fonte: Autoria própria.

No ensaio de curto-circuito a tensão do primário é muito pequena, então podemos


desconsiderar a corrente de magnetização e então a corrente a vazio medida é a mesma
corrente que percorre no secundário. Assim a perda por cobre experimental é dada por,

𝑊𝑐𝑢(𝑒) = 17,18 × 0,371 = 6,37 𝑊

Refazendo o cálculo da Eq. 20 para 𝑁 𝑠 = 1030 espiras, para verificar a precisão


dos cálculos teóricos das perdas por cobre 𝑊𝑐𝑢(𝑡) .

𝑃𝑐𝑢 = 1,3 × 10−3 𝑐𝑚 2 × 1978 × 8,77𝑔/𝑐𝑚 3 × 20,7𝑐𝑚 ≃ 466,81𝑔


2
0,0178Ω 𝑚𝑚 2 /𝑚

0,35𝐴 𝜌𝑐𝑢
𝛿𝑐𝑢 = . × 103 = 2,69232 𝐴/𝑚𝑚 2 × = 14,71𝑊/𝑘𝑔
0,13𝑚𝑚 2 𝛾𝑐𝑢 8,77 × 10−3 𝑔/𝑚𝑚 3
𝑃𝑐𝑢 466,81
𝑊𝑐𝑢(𝑡) = 𝛿𝑐𝑢 . = 14,71 × = 6,87 𝑊
1000 1000
𝑊𝑐𝑢(𝑒) − 𝑊𝑐𝑢(𝑡) 6,37 − 6,87
𝐷𝑒𝑠𝑣𝑖𝑜(%) = × 100% = 7.85%
𝑊𝑐𝑢(𝑒) 6,37
A Eq.20 funcionou bem para esse projeto, pois por ela pode estimar de maneira
próxima as perdas no cobre.
26

Por fim foi conectado o secundário no transformador a uma carga resistiva no valor
de 725 Ω conforme ilustra a Figura 22. E em seguida foi colocado o primário em sua
tensão nominal, ou seja, o circuito agora está próximo das condições de plena carga
para qual foi projetado. Os resultados estão apresentados na Figura 23 e Tabela 5.

Figura 22. Carga conectada ao secundário

Fonte: Autoria própria.

Figura 23. Condições do circuito para operar próximo das condições de plena carga

Fonte: Autoria própria.


27

Tabela 5. Resultados obtido nas condições próximas da plena carga

Variável Magnitude
𝑉𝑝 220,3 𝑉
𝑉𝑙 220,6 𝑉
𝐼𝑝 333 𝑚 𝐴
𝐼𝑙 304 𝑚 𝐴
𝑊𝑝 73,36 𝑊
𝑊𝑙 66,9712 𝑊

Fonte: Autoria própria

CONCLUSÕES

O resultado obtido nas condições próximas da plena carga do transformador


foi muito próximo ao valor projetado e com a regulação de tensão dentro do valor
aceitável, equivalente a 7,3%. Como o transformador foi projetado para entregar 220 𝑉
nas condições próximas a da carga plena, caso a carga seja menor será entregue uma
tensão levemente superior a de 220 𝑉 devido as expiras extras, porém isso não se tornou
um problema devido ao fato da fonte chaveada para qual o transformador foi projetado
para isolar possuir uma faixa de tensão de alimentação variável entre 0,95 𝑉 a 295 𝑉.
Caso o circuito para isolar fosse sensível a faixa de variação de tensão alimentação,
o que poderia ter sido feito era realizar mais de um secundário, um para cada faixa
de variação da corrente de carga plena, por exemplo nesse projeto: um secundário
para 0,1 𝐴 outro para 0,2 𝐴, e assim por diante. Para as lâminas de aço-silício utilizadas
foi pressuposto que 𝐵𝑚𝑎𝑥 tinha um valor de 1 Tesla, porém para saber exatamente
esse valor é necessário criar condições para saturar o núcleo e levantar a curva de
magnetização com 𝐵𝑚𝑎𝑥 em função da intensidade da campo máxima 𝐻𝑚𝑎𝑥 e verificar
até que valor de 𝐵𝑚𝑎𝑥 a curva de ajuste tem comportamento linear.

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer ao Prof. Dr. Carlos Matheus Rodrigues de Oliveira pelas


orientações e oportunidade de realizar essa pesquisa. E a universidade UTFPR pelo
fornecimento de recursos e laboratório.
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REFERÊNCIAS

[1] IEEE Standard Terminology for Power and Distribution Transformers. IEEE Std
C57.12.80-2002 (Revision of IEEE Std C57.12.80-1978), p. 1–72, 2002. DOI:
<10.1109/IEEESTD.2002.94146>.
[2] SEARCH, Industrial quick. Isolation Transformers. 19 de fevereiro de 2024.
Disponível em: <https://www.iqsdirectory.com/articles/electric-transformer/isolati
on-transformers.html>.
[3] MARTIGNONI, Alfonso. Transformadores. [S. l.]: Globo, 1971.
[4] UMANS, Stephen D. Máquinas Elétricas de Fitzgerald e Kingsley-7. [S. l.]: AMGH
Editora, 2014.
[5] CHAPMAN, Stephen J. Fundamentos de máquinas elétricas. [S. l.]: AMGH
editora, 2013.
[6] BIM, Edson. Máquinas elétricas e acionamento. [S. l.]: Elsevier editora Ltda.,
2012.
[7] SLODIČKA, Marián, VAN BOCKSTAL, Karel et al. A time discrete scheme for an
electromagnetic contact problem with moving conductor. Applied Mathematics
and Computation, Elsevier, v. 404, p. 125997, 2021.
[8] KOTHARI, DP e NAGRATH, IJ. Electric machines. [S. l.]: Tata McGraw Hill
Education Pvt. Ltd., New Delhi, 2010. v. 10.
[9] MARSLAND, Stephen. Machine learning: an algorithmic perspective. [S. l.]: CRC
press, 2015.
[10] BATISTELA, Nelson Jhoe et al. Caracterização e modelagem eletromagnética de
lâminas de aço silício. Florianópolis, SC, 2001.

Carlos Matheus Rodrigues de Oliveira Francisco Ferreira Filho

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