As nov
o microscópio de tunelamento,
que rendeu o prêmio
Nobel de Física
ima
aos seus inventores.
Hoje, essa tecnologia,
com vasta aplicação
na indústria, diversificou-se
na forma de uma grande
família de equipamentos
capazes de esquadrinhar
as propriedades
do mundo liliputiano
dos átomos e das moléculas.
Observando átomos
e moléculas
Os microscópios à base de lentes têm basicamente
dois inconvenientes. Um deles é determinado por
uma propriedade física da luz. Denominada difração,
ela impede que objetos com dimensões menores do
que alguns milésimos de milímetro sejam visualiza-
dos através de microscópios ópticos. Esse valor (mais
especificamente, 3 x 10-7 metros) tem uma razão de
ser: corresponde a aproximadamente metade do com-
primento de onda da luz usada para iluminar o obje-
vas
to estudado. Quando o corpo iluminado tem essas
dimensões, os raios de luz que o atingem sofrem
difração, isto é, espalham-se impedindo a obtenção
agens
de imagens nítidas.
da matéria
Porém, nos anos 40, foram desenvolvidos méto-
dos de visualização baseados em microscópios que
não utilizam luz. Em vez dela, esses equipamentos
passaram a usar feixes de partículas cujo comprimen-
to de onda é menor do que o da luz visível. Isso per-
mitiu que o poder de resolução dos microscópios ele-
trônicos, como são mais conhecidos, aumentasse
substancialmente no jargão técnico, esses equipa-
mentos são denominados SEM (sigla, em inglês, para
microscópio eletrônico de escaneamento) ou TEM
(microscópio eletrônico de transmissão).
Nos microscópios eletrônicos, um feixe de elé-
trons varre a amostra, permitindo a visualização de
objetos nanoscópicos, isto é, cujo tamanho está na
casa dos bilionésimos de metro em termos mais
técnicos, diz-se que a resolução de um microscópio
eletrônico é da ordem de 50 angströms (50Å), sendo
que 1Å equivale a um décimo de bilionésimo de
metro (10-10m). Sem dúvida, a troca da luz visível por
feixes de partículas ressalte-se que ambas são on-
das eletromagnéticas proporcionou uma revolução
na visualização de superfícies. 4
obter imagens tridimensionais de altíssima resolu- sonda. Para um microscópio de tunelamento, a sonda
ção. Além disso, podem medir propriedades físicas é uma agulha metálica muito fina, que varre me-
da superfície da amostra entre elas condutividade, canicamente a superfície da amostra. Nesse caso, a
distribuição de cargas elétricas, atrito microscópi- interação usada é a variação da corrente que surge
co, elasticidade, dureza, rigidez, microfluorescência quando ela está próxima à superfície. Essa mudança
de corrente é devida às rugosidades presentes na ve percorrer a amostra. Os dados usados para com-
amostra. Com base na posição da sonda, bem como na por esse mapa dependem dos diferentes modos de
variação da corrente elétrica, é possível transformar operação do AFM, mas são provenientes da detec-
esses dados em um mapa topográfico da superfície. A ção das variações do movimento vertical da pon-
desvantagem desse modo de operação é que só podem teira, à medida que ela percorre os contornos da su-
ser estudadas superfícies condutoras. perfície.
No microscópio de força atômica, a sonda é tam- Vale ressaltar que o AFM nasceu do casamento do
bém uma ponteira fina, porém feita de material iso- STM com um profilômetro Stylus, aparelho que vem
lante ou condutor. Quando a ponta se aproxima da sendo usado desde os anos 60 na medição micros-
superfície, ela sente as forças entre os átomos que a cópica das rugosidades superficiais de um material.
formam e aqueles que constituem a amostra daí o É interessante compreender o mecanismo de fun-
nome microscópio de força atômica. cionamento do AFM, pois sua característica mais fas-
Para conseguir construir uma imagem topográ- cinante é a beleza proveniente de sua simplicida-
fica da superfície, o AFM também usa um sistema de (ver Equipamento revela acidentes geográficos
mecânico que comanda o modo como a ponta de- da matéria). 4
Figura 2. Esquema de um microscópio de força atômica
Equipamento revela
‘acidentes geográficos’
da matéria
Um microscópio de força atômica, ou AFM, tem uma ponta de prova
(ou sonda) montada na extremidade de um braço de apoio (cantilever)
de baixa constante de elasticidade, que geralmente é menor que uma
dezena de newtons por metro (newton é uma das unidades para a
grandeza força em física).
A ponteira desloca-se sobre a superfície a ser estudada, podendo
ou não tocar nela, o que determina os dois grandes modos de opera-
ção do aparelho: contato e não-contato. A força de interação entre a
amostra e a ponteira provoca uma deflexão do braço de apoio. Essa
força é dada pela lei de Hooke (F = k.Dz), nome dado em homenagem
ao físico inglês Robert Hooke (1635-1703). Na fórmula, k é a constan-
te elástica do braço, que depende de sua geometria e do material com Figura 3.
que está feito; Dz é a deflexão provocada pela interação. Imagens
Para medir as deflexões, o AFM usa uma luz laser (focalizada na da superfície A
parte superior da extremidade livre do braço) que, após refletida, é co- de um vidro
obtidas
letada por um detector de quatro quadrantes, que mede as variações por um
de posição e de intensidade da luz produzidas pelas deflexões do bra- microscópio
ço. Isso é mostrado esquematicamente na figura 2. de força
Para fazer varreduras tão pequenas, usam-se cerâmicas piezelé- atômica.
tricas, material com a propriedade de se contrair ou se esticar quan- Em (A),
tridimensional;
do nele se aplica uma voltagem. Atingem-se, assim, movimentos com em (B),
incrementos de tamanho menor que um décimo de bilionésimo de no plano
metro (ou um ângstrom).
À medida que a ponteira percorre a amostra, os diferentes tipos de
‘acidentes geográficos’ encontrados sobre a superfície farão com que B
a interação mude. As variações da interação são o fator que provocará
diferentes deflexões. Essas diferenças, captadas no detector, são ar-
mazenadas e processadas por um computador. Com um programa (ou
software) para essa finalidade, o computador as transforma em ima-
gens topográficas bi e tridimensionais, como as mostradas na figura 3.
Essa é uma das maneiras de se obter uma imagem em escala atômica
de uma superfície, bem como medir forças da ordem de bilionésimos
de newtons (ou nanonewtons).