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Análise da influência angular dos transdutores nas leituras

ultrassônicas
Analysis of the transducer’s angular influence in the ultrasonic measurements
Paulo Augusto da Rocha (1); Rodrigo Javier Salinas Vargas (2); Lourenço Panosso
Perlin (3)
(1) Estudante Eng. Civil – Universidade Federal de Santa Catarina
(2) Estudante Eng. Civil – Universidade Federal de Santa Catarina
(3) Professor - Departamento Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Catarina
Universidade Federal de Santa Catarina - Departamento de Engenharia Civil; Campus
Universitário; Trindade – Florianópolis; CEP: 88040-970; Telefone: 55 - 48 - 37217767

Resumo
Com a deterioração das estruturas de concreto, inspeções periódicas são
necessárias para verificar sua segurança. Estas inspeções podem incluir ensaios
não destrutivos, onde o ensaio ultrassônico possui destaque. Usualmente este
ensaio é executado com os eixos dos transdutores alinhados, ou seja, ambos
são simetricamente posicionados com suas faces opostas. Entretanto, leituras
sem este alinhamento podem ser utilizadas, principalmente em processos
tomográficos. Uma vez desalinhadas, um ângulo é criado entre o caminho do
pulso ultrassônico e os eixos dos transdutores. Tal ângulo, pode influenciar na
medição que está sendo executada. Neste artigo avaliamos experimentalmente
a influência que este ângulo produz nos parâmetros do pulso ultrassônico, cujos
resultados demonstraram que esta influência existe sob certas condições.
Palavra-Chave: concreto, transdutores, ensaios não destrutivos, ângulo, pulso ultrassônico.

Abstract
With the deterioration of concrete structures, periodic inspections are necessary
to verify its safety. This inspections might include non-destructive experiments,
where the ultrasonic experiment is set apart. Usually this experiment is conducted
with the aligned transducers axes, meaning that one transducer is symmetrically
positioned relative to the other. Meanwhile, measurements without the mentioned
alignment can be used as well, mainly in the tomographic processes. Once
misaligned, an angle is created between the path of the ultrasonic pulse and the
axes of the transducers. This article experimentally evaluate the influence of this
angle in the ultrasonic pulse parameters, which results demonstrated that this
influence exists over certain conditions.
Keywords: concrete, non-destructive experiments, transducers, angle, ultrasonic pulse

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1 Introdução
Devido à idade, as edificações vão sofrendo com os agentes patológicos que
atuam na mesma. Como resultado diferentes danos estruturais podem ocorrer.
Os Ensaios Não Destrutivos (END) surgiram com a necessidade da inspeção ou
avaliação destas patologias, sem destruir ou danificar o elemento estrutural.
Dentre os métodos não destrutivos utilizados, destaca-se o ensaio ultrassônico.
Tal ensaio consiste em medir o tempo de propagação das ondas ultrassônicas
dentro de um elemento de concreto permitindo a obtenção da sua velocidade de
propagação.
Usualmente este ensaio é executado com os eixos dos transdutores alinhados,
ou seja, um simetricamente posicionado na face oposta do outro. Entretanto,
leituras sem este alinhamento podem ser utilizadas, principalmente em
processos tomográficos. Uma vez desalinhadas, um ângulo é criado entre o
caminho do pulso ultrassônico e os eixos dos transdutores.
A proposta desta pesquisa é avaliar experimentalmente a possível existência de
uma influência nas leituras ultrassônicas quando os eixos dos transdutores estão
desalinhados.

2 Ensaio do Ultrassom em Concreto

O ensaio de ultrassom está baseado no uso de ondas acústicas de alta


frequência, não perceptíveis ao ouvido humano, que percorrem através do
material ensaiado sem lhe causar dano. Além disso, o elemento pode ser
analisado inúmeras vezes no mesmo local, o que é útil para o monitoramento
das mudanças estruturais internas do concreto durante sua vida útil
(MALHOTRA; NAIK; POPOVICS, 2004).
Com esta técnica é possível determinar a homogeneidade do concreto, isto é,
detectar descontinuidades, fissuras e outros defeitos superficiais e internos.
Além disso, podem-se determinar espessuras de peças, identificar camadas de
diferentes características, calcular o módulo de elasticidade dinâmico do
concreto e estimar sua resistência.
A técnica se baseia na medição do tempo de percurso de uma onda ultrassônica
que atravessa o material analisado num determinado comprimento e o resultado
final é expresso geralmente em termos de velocidade de propagação do pulso
ultrassônico. Esta onda mecânica que trafega através do material é influenciada
pelas características e propriedades internas do concreto, que determinam sua
rigidez elástica e resistência mecânica. Quando uma região de baixa
compactação, vazios ou material danificado está presente no concreto testado,
ocorre uma variação da velocidade dos pulsos e da amplitude das ondas o que
permite que sejam detectadas as imperfeições (IAEA, 2002).

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O primeiro passo é escolher os transdutores adequados para o caso em questão.
Então os transdutores são pressionados em uma superfície lisa e limpa de
concreto, com o uso de um acoplante, como representado na Figura 1. O
acoplante serve para retirar o ar da interface transdutor-concreto, melhorando a
transmissão de energia.
Finalmente são realizadas a leitura do tempo necessário para o pulso
ultrassônico percorrer a distância conhecida entre os transdutores e obtém-se a
velocidade média de propagação do mesmo.

Figura 1 – Ensaio de ultrassom em concreto

Três posições de leituras são possíveis para a realização do ensaio: direta,


semidireta e indireta. Segundo Perlin (2015), as leituras diretas, podem ser
subdivididas em ortogonais e oblíquas. Nas leituras diretas ortogonais, os
transdutores são posicionados em faces opostas e seus eixos normais são
coincidentes. Já para as leituras diretas oblíquas os transdutores são postos em
faces opostas, contudo os eixos não são coincidentes, ou seja, a captação não
é efetuada no mesmo eixo da emissão. A Figura 2 representa o problema.

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Figura 2 - Classificação das leituras conforme a posição dos
transdutores

2.1 Princípio fundamental do ensaio


O ensaio de ultrassom inicia quando ondas de tensão são geradas e transmitidas
por um transdutor piezoelétrico, o qual é mantido em contato com o corpo de
prova. Quando os pulsos gerados são transmitidos e viajam através do concreto,
eles são recebidos e convertidos em energia elétrica por um segundo transdutor
piezoelétrico. Vale mencionar que para a transmissão dos pulsos no concreto é
necessário um material acoplante localizado entre as faces dos transdutores e a
superfície ensaiada, a fim de permitir um contato contínuo entre as superfícies.
Posterior à recepção dos pulsos, um circuito eletrônico permite medir o tempo
de trânsito (T) e, sabendo a distância entre os pontos de emissão e recepção, é
possível então determinar a velocidade média no trecho de propagação que irá
depender das propriedades elásticas e da massa do meio (IAEA, 2002). A
velocidade dos pulsos (V) está dada pela Equação 1.

Equação 1

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Quando o pulso é transmitido através do concreto, três tipos de ondas são
geradas: ondas de compressão (longitudinais ou ondas P), ondas de
cisalhamento (transversais ou ondas S) e ondas de superfície (ondas Rayleigh),
sendo que apenas as duas primeiras trafegam no interior dos sólidos.
As ondas de compressão também são conhecidas como ondas longitudinais ou
ondas P, representadas na Figura 3. Durante sua propagação no material são
produzidas regiões de compressão e de dilatação. Estas ondas são
caracterizadas pelo movimento das partículas do material na mesma direção de
propagação da onda, fazendo com que as ondas apresentem as maiores
velocidades de propagação em um determinado meio. Para um material elástico
linear, homogêneo e isotrópico, a velocidade das ondas de compressão (Vp) é
relacionada com seu módulo de elasticidade (E), coeficiente de Poisson (ѵ), e
densidade (ρ) (KRAUTKRAMER; KRAUTKRAMER, 1990), como é mostrado na
Equação 2:

Equação 2

Figura 3 - Onda de compressão ou onda P (MEHTA; MONTEIRO, 2008)

As ondas de cisalhamento são conhecidas também como ondas transversais ou


ondas S, representadas na Figura 4. Estas ondas se caracterizam pela vibração
perpendicular que as partículas fazem em relação à direção de propagação. A
velocidade da onda S (Vs) é mais lenta que a onda P e é dada pela Equação
2.3, que relaciona a densidade (ρ) com o módulo de elasticidade ao cisalhamento
(G) (KRAUTKRAMER; KRAUTKRAMER, 1990), como mostrado na Equação 3:

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Equação 3

Figura 4 - Onda cisalhante ou onda S (MEHTA; MONTEIRO, 2008)

2.2 Equipamento
O aparelho de ultrassom consiste em um gerador de pulsos, um par de
transdutores (emissor e receptor), um amplificador, um circuito medidor de
tempo, uma unidade de exibição de tempo e cabos de conexão, como
representado na Figura 5.
Em termos gerais o equipamento produz pulsos elétricos por meio de um gerador
de pulsos e eles são transformados em ondas mecânicas através de um
transdutor emissor. Este transdutor possibilita a transformação dos pulsos
elétricos em ondas numa faixa de 25 kHz a 1 MHz, dependendo da aplicação.
Posteriormente um transdutor receptor recebe os pulsos mecânicos e os
transforma em pulsos elétricos os quais são amplificados e um dispositivo de
temporização eletrônico permite medir o intervalo de tempo de viagem que a
onda leva para atravessar o elemento de concreto. O equipamento deve ser
ligado a um osciloscópio ou outro dispositivo de visualização para registrar a
natureza do pulso recebido.

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Figura 5 - Esquema de funcionamento do ultrassom (Adaptado: ASTM C597-09)

2.3 Fatores de Interferência


Embora seja relativamente fácil a realização um teste de velocidade de
ultrassom, os pulsos ultrassônicos podem ser afetados por alguns fatores que
dificultam a interpretação dos resultados. A seguir serão descritos alguns destes
fatores.

2.3.1 Condições de superfície e acoplamento do transdutor com a superfície


A regularidade da superfície e o acoplamento perfeito dos transdutores com a
superfície são fatores de extrema importância na qualidade dos resultados
obtidos com esta técnica.
Em caso de superfícies que não estejam suficientemente lisas, devem ser
tratadas através de processos mecânicos com aplicação de resinas ou uma
camada de pasta de cimento, a fim de regularizá-las. Além disso, o uso de
acoplante é fundamental para retirar o ar da interface transdutor-concreto,
melhorando a transmissão de energia. Como material acoplante podem ser
utilizadas graxas siliconadas de origem mineral (ABNT NBR 8802: 2019).

2.3.2 Agregado Graúdo


O tipo de agregado graúdo utilizado, principalmente quanto às propriedades
geológicas e as dimensões do material, proporciona uma variação bem
acentuada quando se compara os tempos de propagação do pulso ultrassônico

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entre diferentes concretos. Mesmo quando a resistência característica do
concreto é a mesma e sob condições idênticas de ensaio, pode haver uma
variação da velocidade simplesmente pela mudança do agregado graúdo.
(IRRIGARAY, 2012 e KAPLAN apud HAMASSAKI, 1986).

2.3.3 Cimento
Alterações no módulo de finura do cimento geralmente induzem a um consumo
maior de água. O tipo de adição usado na confecção do cimento também pode
afetar as leituras de tempo do pulso ultrassônico. Quanto maior a relação
água/cimento, menor a velocidade do pulso.
Além disso, a velocidade de hidratação depende do tipo de cimento empregado,
o que influencia nos resultados. A resistência do concreto cresce com o grau de
hidratação do cimento e, portanto, a velocidade de propagação da onda também
aumenta.

2.3.4 Idade do concreto


Uma relação entre a velocidade de ultrassom e a idade do concreto foi
apresentada por Jones (1962). O autor mostrou que a velocidade dos pulsos
aumenta rapidamente nas idades iniciais do concreto, porém logo a taxa de
crescimento diminui. Esta tendência é semelhante à curva de resistência versus
a idade para um tipo particular de concreto, contudo a velocidade dos pulsos
atinge um valor limite antes da resistência também atingi-lo.

2.3.5 Presença de armadura


A propagação do pulso ultrassônico terá maior velocidade em materiais que
apresentarem maiores módulos de elasticidade. No caso específico da presença
de barras de aço no concreto, dependendo das dimensões do diâmetro das
barras metálicas, pode haver, ou não, a influência.

2.3.6 Comprimento do percurso


Teoricamente o comprimento do caminho percorrido pela onda e a frequência da
onda não devem afetar o tempo de propagação, portanto, eles não devem
influenciar a velocidade dos pulsos. No entanto, na prática, em percursos curtos,
onde os transdutores ficam muito próximos entre si, podem ocorrer influências
devido à heterogeneidade do concreto.
A norma BS1881: Part 203 (1986) recomenda percursos mínimos de 100 mm
para concreto com agregado graúdo de dimensão máxima de 20 mm, e 150 mm
para concreto com agregado graúdo de dimensão máxima de 40 mm.

2.3.7 Transdutores
A taxa de repetição do pulso deve ser baixa o suficiente para evitar a
interferência entre pulsos consecutivos, e o desempenho deve ser mantido ao
longo de um intervalo razoável de condições operacionais. Transdutores com
frequência natural entre 20 e 100 kHz são os mais indicados para uso no

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concreto (BUNGEY, MILLARD e GRANTHAM, 1996).
Transdutores de maior frequência (acima de 100 kHz) são usados para amostras
de pequenos tamanhos, com caminhos relativamente curtos. Já os de baixa
frequência (abaixo de 25 kHz) são utilizados para grandes amostras ou em
concretos com agregados de maior tamanho (NAIK, MALHOTRA e POPOVICS,
2004).

2.3.8 Operador
O aparelho de ultrassom depende da sensibilidade humana para o ensaio ser
corretamente executado, principalmente no que diz respeito à pressão aplicada
no transdutor. A condução do ensaio, bem como a análise dos dados, deve ser
realizado por pessoal experiente e qualificado na aplicação desta técnica.

3 Justificativa
Usualmente no ensaio ultrassônico os transdutores são dispostos com os eixos
alinhados, ou seja, uma leitura direta ortogonal. Entretanto, para aplicação da
tomografia ultrassónica, leituras diretas obliquas são necessárias.
Desta forma, um novo fator pode influenciar nas leituras ultrassônicas: o ângulo
de saída e entrada do pulso será diferente de 90 graus. Tal influencia pode
modificar tanto a velocidade quanto a energia transmitida do pulso.
Esta pesquisa, desenvolveu um programa experimental para eliminar variáveis
oriundas dos operadores, ou seja, foi criado e utilizado um dispositivo para
manter a pressão constante nos transdutores. Com isso, foi possível isolar o
ângulo de leitura como variável do trabalho, através da concretagem de corpos
de prova com diferentes inclinações entre as faces.

4 Programa Experimental
4.1 Corpos de Prova
Para cumprir o objetivo da pesquisa, foi necessária a confecção de corpos de
provas triangulares, com diferentes ângulos entre as faces. Foram concretados
quatro corpos de prova com dimensões apresentadas na Tabela 1.

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Tabela 1 - Dimensões dos corpos de prova
Dimensão CP1 CP2 CP3 CP4
Hipotenusa (H) [cm] 81,058 95,39 122,04 200,64
Menor Cateto (P) [cm] 55,29 51,4 46,9 40
Maior Cateto (G) [cm] 59,2 79,65 112,34 195,22
Ângulo H-P 47º 57º 67º 78º
Ângulo H-G 43º 33º 23º 12º

A geometria e a concretagem dos corpos de prova estão exibidos nas Figuras 6


e 7, respectivamente.

Figura 6 – Formatos e ângulos dos corpos de prova

(CP1) (CP2) (CP3 e CP4)


Figura 7 – Concretagem dos corpos de prova

Utilizando tais formatos, os corpos de prova foram concretados com cimento


CPIV-ARI, que foi adensado com vibrador de agulha. O concreto utilizado possui
o traço apresentado na Tabela 2. Aos 28 dias quatro corpos de prova cilíndricos
foram ensaios à compressão, obtendo uma resistência média de 45,2 MPa.

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Tabela 2 - Traço do concreto utilizado
Material Massa (kg)
Cimento CPV-ARI 1
Areia Artificial 1,684
Areia Natural 0,722
Brita 0 2,787
Água 0,55
Aditivo Plastificante 0,005

4.2 Execução das Leituras


Utilizando transdutores de 54 kHz e o gel industrial CARBOGEL ULT, foram
executadas leituras ultrassônicas diretas ortogonais em quatro os corpos de
prova triangulares, com o aparelho Pundit Lab (Proceq). O plano de execução
das leituras foi a 15 cm da base dos corpos de prova. Sempre executando a
calibragem do aparelho no início dos ensaios.
Os pontos de leituras foram devidamente identificados com a mesma
nomenclatura das faces exibidas na Figura 6. Foi utilizado um espaçamento de
5 cm entre os pontos de leitura nas faces H. Já para as faces G e P, o
espaçamento foi adotado de forma a proporcionar leituras ortogonais. Ao total,
foram efetuadas 356 leituras ultrassônicas. A representação gráfica das leituras
efetuadas, encontra-se na Figura 8.

Figura 8 – Leituras executadas

Conforme exibido na Figura 8, foram efetuadas leituras entre as faces G-H e P-


H, onde o emissor foi posicionado respectivamente nas faces G e P.

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Posteriormente as leituras foram efetuadas entre as faces H-G e H-P, onde o
emissor foi posicionado na face H em ambos os casos. Conforme recomendado
pela norma BS1881: Part 203 (1986), foram excluídas as leituras cuja as
distâncias entre os transdutores eram inferiores a 10 cm.

4.3 Resultados e Análises


Na Figura 9, estão expostos os tempos de propagação para cada leitura em
função das suas respectivas distâncias.

Figura 9 – Tempo de propagação em função da distancia

Nota-se uma relação constante na relação distância/tempo. Como as leituras


efetuadas possuem distintos ângulos de propagação em relação ao eixo do
transdutor para cada corpo de prova, demonstra-se que a velocidade do pulso
ultrassônico, para este ensaio, não foi influenciada pelo ângulo de propagação a
partir dos transdutores.
As distâncias entre os transdutores, para cada leitura, foram divididas pelos
respectivos tempos de propagação do pulso ultrassônico, obtendo a sua
velocidade de propagação. Deste modo, é possível visualizar melhor o resultado
do ensaio, pois a variável distância é excluída da análise. Foram calculadas as
médias das velocidades das leituras entre as mesmas faces, construindo o
gráfico exibido na Figura 10, onde correlaciona-se a velocidade média com o
ângulo de propagação em relação aos transdutores.

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Figura 10 – Valores de velocidade em função do ângulo – Reta azul emissor
em G e P – Reta laranja emissor em H

Com isso é possível observar que existe uma influência muito baixa dos ângulos
de leitura nas velocidades médias calculadas. O desvio padrão obtido foi de 231
e 135 m/s respectivamente quando o emissor estava em G/P (reta azul) e
quando emissor estava em H (reta laranja), ficando dentro da variabilidade do
ensaio.
Com relação à amplitude, cujo o emissor sempre era estimulado com 125 V, o
transdutor receptor registrou as voltagens recebidas na Figura 11.

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Figura 11 – Amplitude das leituras em relação a suas distancias

Ao contrário do tempo de propagação (Figura 9), a amplitude apresentou uma


dispersão acentuada nos seus resultados. Assim como efetuado no tempo de
propagação, a análise deve prosseguir excluindo a variável distância. Para
executar esse processo com relação à voltagem, deve se utilizar a equação de
queda de amplitude da onda devido à atenuação (Equação 4).
𝑉 ℓ
Equação 4 =𝑒
𝑉
𝑉 : voltagem final (receptor);
𝑉 : voltagem inicial (emissor);
𝛼: coeficiente de atenuação;
ℓ: distância percorrida.

Considerando todo corpo de prova, um único coeficiente de atenuação pode ser


estipulado. Com isso é possível calcular a atenuação que melhor satisfaz todas
as leituras referentes a cada ângulo utilizado no emissor e no receptor. Após

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esse processo obtém-se a Figura 12.

Figura 12 – Atenuação pelo ângulo de leitura

Analisando a Figura 12, percebe-se que a curva azul, que representa o ângulo
do receptor em relação ao ângulo de propagação da onda, aumenta conforme
tal ângulo também se eleva. Note-se também que a curva azul se encontra acima
da curva laranja, evidenciando uma maior sensibilidade do transdutor receptor
em relação ao ângulo de propagação do que o transdutor emissor.
Por tanto, ao contrário da velocidade, a atenuação da onda é sensível a
modificação do ângulo dos transdutores em relação à direção de propagação do
pulso ultrassônico, especialmente no caso do transdutor receptor. Para o
transdutor emissor, a variação não foi tão expressiva conforme demostra o
gráfico da Figura 12.

5 Conclusão

Neste artigo o ensaio ultrassônico foi utilizado para avaliar a influência angular
nas leituras ultrassônicas, com a confecção de quatro corpos de prova, com
diferentes dimensões e ângulos internos. Executando diversas leituras, com a
variação angular entre o eixo dos transdutores em relação à direção de
propagação do pulso, foi possível observar que o valor da velocidade teve uma
pequena variação em função do ângulo, ficando dentro da variabilidade do
ensaio. Deste modo, conclui-se, para o caso estudado, que a velocidade pouco
variou em relação ao ângulo. Por outro lado, a energia transmitida pela onda,
representada pelo coeficiente de atenuação, demonstrou-se sensível à mudança

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de ângulo, sendo mais expressiva para o transdutor receptor, o qual apresentou
uma grande atenuação para grandes ângulos. Tais resultados são muito
importantes para corretamente calibrar os algoritmos tomográficos, assim
provendo resultados mais precisos.

Em sua continuidade, essa pesquisa explorará a influência angular para


diferentes tipos de concreto, com resistências e traços variáveis, assim como a
influência angular em grandes distâncias, visando obter um conhecimento mais
apurado sobre tais influências.

6 Agradecimentos

Os autores gostariam gratular o Grupo de Pesquisa em Ensaios Não Destrutivos


– GPEND, da Universidade Federal de Santa Catarina, por toda a atenção, por
disponibilizar os equipamentos e o espaço físico necessários, assim permitindo
a execução da pesquisa.

7 Referências

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Rio de Janeiro, 2019.

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