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4º CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DE

MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEIS


9-11 de novembro de 2022
Salvador, Bahia, Brasil

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE LAMAS DE REJEITOS DE MINÉRIO


DE FERRO PROVENIENTES DAS BARRAGENS DE CONCEIÇÃO II E
BRUMADINHO

CAROLINA G. BEZERRA1, CAMILA A. A. ROCHA2, BRUNA LUIZA F. DE BRITO3, SILVIA


CRISTINA A. FRANÇA4, ROMILDO D. TOLEDO FILHO5

1: Departamento de Engenharia Civil, COPPE – Universidade Federal do Rio de Janeiro;


Rio de Janeiro, RJ, Brasil
carol.goulart@coc.ufrj.br
2: Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal Fluminense
Niteroi, RJ, Brasil
camilaabelha@id.uff.br
3: PEC/COPPE – Universidade Federal do Rio de Janeiro;
Rio de Janeiro, RJ, Brasil
brunaluizafer@coc.ufrj.br
4: CETEM – Centro de Tecnologia Mineral
Rio de Janeiro, RJ, Brasil
sfranca@cetem.gov.br
5: PEC/COPPE – Universidade Federal do Rio de Janeiro;
Rio de Janeiro, RJ, Brasil
rdtoledofilho@gmail.com

Resumo Uma alternativa para reaproveitar o rejeito de minério de ferro é utilizá-lo como matéria prima
em outras cadeias produtivas, se baseando no modelo de economia circular. A construção civil
desponta como uma alternativa para aplicação de rejeitos de mineração. O objetivo deste trabalho é
determinar as propriedades físicas e químicas da lama de rejeito de minério de ferro da barragem de
Conceição/MG e da dragagem da lama de Brumadinho/MG, visando a utilização dos mesmos em
matrizes cimentícias. Foram determinadas a distribuição granulométrica, massa específica,
composição mineralógica, composição química, o comportamento térmico e morfologia. Os resultados
mostraram que o tamanho médio dos grãos de rejeito da dragagem foi maior que o do rejeito da
barragem. As partículas de ambos os locais mostraram larga distribuição de tamanho de grãos e alta
rugosidade. Em termos de composição química, o teor de ferro da amostra de Brumadinho foi superior
ao teor de ferro de Conceição II, e o teor de alumínio e silício foi maior na barragem de Conceição II.
Os resultados encontrados mostram que os resíduos possuem potencial de uso em matrizes
cimentícias, sendo que o rejeito de Conceição II requer menos processamento antes do seu uso devido
a sua maior homogeneidade.
Palavras-chave: Rejeito de minério de ferro, Caracterização, Construção civil

Abstract An alternative to reuse iron ore tailing is usable as a raw material in other production chains,
based on the circular economy model. Civil construction emerges as an alternative for the application
of mining tailings. The objective of this work is determine the physical properties and characteristics of
the iron ore fine tailings from the Conceição/MG dam and from the mud dredging of Brumadinho/MG,
using the same cement matrices. The granulometric distribution, specific mass, mineralogical
composition, chemical composition, thermal behavior and morphology were determined. The results
that reject the average size of the dredging grains were that of the tailings from the dam. As both items
supplied particles and large size distribution. In terms of composition, the iron content of the Brumadinho
sample was higher than the iron content of Conceição II and the aluminum and silicon content was
higher in the Conceição II dam. The results found show that the waste has potential for use in
cementitious matrices, and the largest waste from Conceição II requires less processing before its use

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due to its homogeneity.


Keywords: Iron ore tailing. Characterization, Civil construction.

1. INTRODUÇÃO
A indústria brasileira de minério de ferro tem grande importância na economia mineral, sendo
responsável pela produção primária de vários materiais, permitindo o bem-estar e a melhoria da
qualidade de vida da sociedade [1-2]. No Brasil o setor mineral contribui para grande geração de
empregos e aumento de renda, participando de maneira efetiva no aumento do Produto Interno Bruto
(PIB) e aquecendo o mercado [3]. O Brasil se destaca por ser um dos maiores produtores de minério
de ferro do mundo, tendo alcançado a marca de mais de 400 milhões de toneladas anuais nos últimos
5 anos [4]; consequentemente, a geração de rejeitos é enorme, constituindo um grave problema
socioambiental.
A região do Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, possui uma área com aproximadamente 7.160
km2, de grande importância do ponto de vista econômico e ambiental, sendo suas reservas de minério
de ferro avaliadas em aproximadamente 29 bilhões de toneladas [5]. Esta região sofre com as
consequências da exploração mineral inadequada desde a colonização [6], com a execução de práticas
exercidas sem preocupações com os aspectos ambientais e sociais. Assim, o estado passou a ser
considerado como uma região com alto índice de impactos ambientais e sociais, contrapondo sua
posição de destaque no cenário brasileiro da produção mineral [3].
Em 2015, o rompimento da barragem no município de Mariana, Minas Gerais, foi um dos maiores
desastres ambientais da história mundial, devido ao vazamento de mais de 43 milhões m³ de rejeito de
mineração de ferro, que se espalhou pelo vale do Córrego do Fundão, galgou a Barragem de Santarém,
e alcançou o distrito de Bento Rodrigues. Desta maneira, culminou-se em impactos negativos ao
ecossistema marinho e a população no entorno de mais de 600 km do curso d’água do Rio Doce,
transformando-o em um “mar” de lama vermelha [7-9], trazendo consequências ambientais, sociais,
econômicas e humanas irreparáveis.
Em janeiro de 2019, no mesmo estado, outra barragem de rejeitos de minério de ferro se rompeu, a
mina Córrego do Feijão, localizada na cidade mineira de Brumadinho, causando grande comoção no
Brasil e em diversos países, pela quantidade de vidas perdidas e pelo imensurável dano ao meio
ambiente. A ruptura ocasionou a liberação de mais de 11 milhões m 3 de rejeito mineral – equivalente a
10 m de altura de onda de lama que se espalhou por cerca de 10 km, e atingiu o Rio Paraopeba,
importante afluente do rio São Francisco [10]. Assim, é possível salientar que lições não foram
aprendidas e muito pouco foi feito, no que diz respeito à segurança desses barramentos, após a
catástrofe de Mariana, ocorrida anteriormente em 2015 [11].
Os frequentes rompimentos de barragens de rejeitos com efeitos catastróficos, combinado com a
escassez de matérias primas, está impulsionando pesquisas para reutilização ou adição dos rejeitos
em processos industriais [12]. O rejeito de minério de ferro possui características que podem
representar como um material alternativo atraente para a indústria da construção civil [13-17]. Vários
autores afirmam que a utilização de rejeitos na produção de novos materiais de construção pode
resultar em ações como a redução na emissão de rejeitos e também na oferta de matérias-primas
alternativas para a área de construção civil [18].
Assim, para a verificação da possibilidade do aproveitamento destes rejeitos faz-se necessária a
caracterização tecnológica dos mesmos por meio de sua caracterização mineralógica, granulométrica,
química e ensaios específicos para buscar a possibilidade de aplicações na construção civil. Sendo
assim, esse trabalho focou na caracterização físico-química e morfológica de lamas de rejeitos de

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minério de ferro provenientes das barragens de Conceição II e Brumadinho, indicando suas principais
semelhanças e diferenças e avaliando sua viabilidade de aplicação na construção civil.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Procedência dos rejeitos


As amostras dos rejeitos de minério de ferro avaliadas neste estudo foram fornecidas pela empresa
Vale. Uma amostra é a lama de rejeito, proveniente da etapa de deslamagem, da usina de
beneficiamento - barragem de rejeito Conceição II. A segunda amostra é o rejeito procedente da
atividade de dragagem, resultante da ruptura da mina de Córrego do Feijão, localizada em
Brumadinho/MG.
Ambas as amostras são procedentes do Quadrilátero Ferrífero, região central do Estado de Minas
Gerais.

2.2 Caracterização físico-química e morfológica


Para realização dos ensaios, as amostras foram previamente homogeneizadas e quarteadas.
A distribuição granulométrica das partículas foi determinada em um granulômetro a laser Mastersizer
2000 (Malvern). Na análise foi utilizada água destilada como meio dispersor. O tempo e velocidade de
dispersão das partículas foram de aproximadamente 10 min e 2150 rpm, respectivamente. A
quantidade de material sólido em solução foi adicionada de forma que a obscuração atingisse valores
entre 10 e 20%.
Para determinação das massas específicas das amostras, iniciou-se a secagem prévia em estufa, em
seguida foi utilizado um picnômetro a gás AccuPyc 1340 (Micromeritics). O ensaio baseia-se na
obtenção do volume ocupado por uma massa conhecida de amostra, por meio da variação de pressão
do gás numa câmara de volume conhecido.
A composição química foi determinada por fluorescência de raios-X (FRX), utilizando-se um
espectrômetro por fluorescência de raios X - (WDS-1), modelo AxiosMax (Panalytical). As amostras
foram preparadas por fusão à 1100°C na Máquina EAGON 2, na diluição 1:10 - (0,5g de amostra seca
à 105°C por 12 horas e 5g de fundente), utilizando como fundente a mistura de boratos (Li 2B4O7 66,67%
- LiBO2 32,83% - LiI 0,50%). Os resultados estão expressos em (%), calculados como óxidos e retirados
os elementos <0,1%. Os teores apresentados são médias de leituras realizadas em triplicata e foram
determinados por análise semiquantitativa (standardless). O equipamento de FRX analisou as
amostras numa curva de calibração global com um limite de detecção para valores maiores que 0,1%.
Portanto, não foram reportados os valores menores que 0,1%.
As fases cristalinas dos materiais foram obtidas por difratometria de raios-X (DRX) utilizando um
difratômetro modelo D8 Focus (Bruker), com radiação Cu–Kα (λ = 1,5406 Å) operando a 40 kV e 40
mA. As varreduras foram realizadas no intervalo de 8-70° (2Θ), com passo angular de 0,05° e
incremento do passo de 15s.
A determinação de perda por calcinação (PPC) das amostras foi feita em forno mufla na temperatura
de 1000°C por 16 horas e após resfriamento foram pesadas para verificar a perda por calcinação.
Inicialmente, pesou-se aproximadamente 1 g de cada amostra em cadinhos de porcelana, estes foram

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dispostos na mufla a 950°C por 16 horas. Após este tempo, os cadinhos foram retirados da mufla e
resfriados em um dessecador. Posteriormente, os cadinhos foram pesados novamente para verificar a
perda de massa decorrente da calcinação [19].
A análise termogravimétrica dos rejeitos foi realizada no equipamento SDT Q600 (TA Instruments), com
as seguintes condições experimentais: taxa de aquecimento constante de 10°C/min; temperatura entre
23 e 1000°C; gás de arraste nitrogênio com vazão de 100 mL/min; massa de amostra de
aproximadamente 10 mg; e cadinho aberto de alumina.
As análises para avaliação qualitativa da morfologia e composição química das partículas dos rejeitos
foram realizadas por meio de microscopia eletrônica de varredura (MEV) e espectroscopia por
dispersão de energia (EDS), no microscópio eletrônico de varredura TM-1000 (Hitachi).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Figura 134 apresenta a distribuição de tamanhos de partículas dos rejeitos de Conceição II e
Brumadinho. Ambos os rejeitos apresentam d10 de aproximadamente 3 μm. No entanto, em d50 e d90,
o rejeito de Brumadinho apresentou partículas maiores do que o de Conceição, sendo o d50 de
aproximadamente 30 μm e 16 μm, e o d90 de 77 μm e 53 μm, respectivamente. Ambos os rejeitos
apresentam distribuição granulométrica próxima às dos cimentos tipicamente utilizados no Brasil [20-
21]. Ambos os rejeitos apresentam distribuição granulométrica abaixo de 100µm, isto é, muito abaixo
da granulometria correspondente a de um agregado miúdo. Assim, eles demonstram uma primeira
característica potencial para serem utilizados na produção de tijolos [22-23] ou telhas [24], pigmento
[25] ou ainda, como materiais cimentícios suplementares [26]. Para tais fins, mais características devem
ser avaliadas como composição química e mineralógica.

100

Conceição II
80
Massa passante (%)

Brumadinho

60

40

20

0
0,1 1 10 100
Tamanho das partículas (µm)

Figura 134. Distribuição granulométrica dos rejeitos de minério de ferro de Conceição II e


Brumadinho.

A composição química dos rejeitos em teor de óxidos é apresentada na Tabela 54. O rejeito de
Conceição II apresentou, majoritariamente, 50,96% de Fe2O3, 35,96% de SiO 2 e, 7,92% de Al2O3.
Esses valores são considerados altos comparados com a literatura mundial, mas são compatíveis com

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rejeitos estudados no Brasil [15]. O rejeito de Brumadinho apresentou predominantemente Fe 2O3


(88,80%), com valores menores de SiO2 (6%) e Al2O3 (1,6%). A quantidade de ferro detectada na
amostra de Brumadinho foi bastante alta. Segundo autores, devido a alta energia causada pelo
rompimento de mais de 11 millhões de m³, outros materiais estão depositados juntamente com a lama
[27-28], podendo explicar a alta concentração de ferro nesta amostra. Ademais, a amostra da dragagem
pode ser variável, conforme o ponto de coleta do rejeito, podendo distinguir em áreas próximas ao
rompimento da barragem (com amostras mais parecidas), ou mais a jusante e próximo ao rio
Paraopeba (com amostras mais heterogêneas) [29].
Ambos os rejeitos possuem teor de ferro bem maior que os demais rejeitos apresentados na literatura
mundial [30-31], sendo que o rejeito de Conceição II tem um teor de sílica significativo. Com isso, este
rejeito tem maior potencial de aplicação como material cimentício suplementar, quer como fíller ou como
pozolana. Entretanto, o altíssimo teor de ferro que o rejeito de Brumadinho contém pode alterar
indesejadamente as reações de hidratação do cimento. Assim, este teria maior potencial para
aplicações com menor ou nenhum teor de cimento.
A massa específica do rejeito de minério de ferro de Brumadinho foi 4,74 g/cm 3, superior a massa
específica obtida na lama de Conceição II, que foi de 3,67 g/cm 3. O maior valor de massa específica
do rejeito de Brumadinho em relação ao de Conceição II é justificado pelo maior teor de ferro.
Tabela 54. Composição química (em teor de óxidos) e perda por calcinação (PPC) dos rejeitos de
minério de ferro de Conceição II e Brumadinho.

Teor (%)
Conceição
Brumadinho
II
Fe₂O₃ 50,96 88,80
Al₂O₃ 7,92 1,60
SiO₂ 35,96 6,00
MgO 0,43 -
SO₃ 0,01 0,60
P2O5 0,18 0,10
MnO 0,51 0,43
TiO2 0,15 -
K₂O 0,18 -
CaO 0,09 -
CuO - 0,26
PPC 3,5 2,90

A análise termogravimétrica dos rejeitos (Figura 135) apresentou dois picos: o primeiro inicia-se em
200°C e se estende até 350°C, e pode ser relacionado a perda da hidroxila da goethita. O segundo na
faixa de 450 a 650°C se deve à desidroxilação da caulinita [32-34]. Como pode ser observado as perdas
de massa foram maiores para o rejeito de Conceição II, como visto também pelo resultado de PPC. A
perda de massa pela desidroxilação da caulinita no rejeito de Brumadinho foi pouco expressiva, o que
se justifica pelo baixo teor de Al2O3 nessa amostra.

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Figura 135. Curvas de análise térmica do rejeito de Brumadinho (linha sólida) e de Conceição II
(linha tracejada).

Os resultados de difração de raios-X da amostra de rejeito de Conceição II mostraram a presença


majoritariamente de quartzo, hematita, caulinita e goethita. Já na amostra de Brumadinho foi possível
observar a presença de quartzo, hematita e goethita; o pico da caulinita não foi observado. Isto é
coerente com os resultados da termogravimetria e composição química, em que a perda de massa da
caulinita foi baixa, assim como a presença de Al 2O3 (1,6%). Estes resultados estão de acordo com os
resultados de análise química (FRX) e de acordo com a literatura [35-36], e descrevem um material
estável e cristalino, capaz de servir como material de construção na construção civil. Segundo [35],
devido ao rejeito possuir hematita, sílica e alumina em maiores proporções, e conter quantidades
reduzidas de manganês e potássio, acredita-se que estas quantidades inexpressivas (Mn e K) não
afetem a durabilidade das argamassas. Como ambos os rejeitos demonstraram composição
predominantemente cristalina, isto aponta para uma reatividade potencialmente baixa. Assim, apesar
de apresentar finura compatível com a dos cimentos brasileiros e o teor de sílica em torno de 35%, o
rejeito de Conceição II só poderia ser utilizado como material pozolânico se fosse ativado termo,
química e mecanicamente [37-31].
As análises por microscopia eletrônica de varredura (MEV) (Figura 136) mostram que a amostra de
Conceição II é composta por material fino, com larga distribuição de tamanho de partículas, com forma
angular e aspecto bastante irregular e rugoso

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.
(a) (b)

(c) (d)
Figura 136. Fotomicrografias MEV das amostras de rejeito: (a) Conceição II com x100 e (b) x300 (c)
Brumadinho com x40 e (d) x300.

Quando se analisam as fotomicrografias da amostra proveniente da dragagem de Brumadinho verifica-


se que as partículas são maiores, porém também possuem uma ampla variação de tamanho, aspecto
irregular e partículas rugosas. É importante salientar que o material de dragagem mobilizou outros
materiais, como solo, sedimentos, plantas, concretos, metais, e outras partículas carreadas pela lama
de rejeito do Córrego do Feijão [29].
Com estas partículas mais angulares, rugosas e com alguma aglomeração, é provável que ambos os
rejeitos demandem mais água e diminuam a trabalhabilidade quando em possíveis utilizações em
materiais cimentícios [38], sendo este um fator importante na tomada de decisão quanto ao teor de
substituição optado durante uma possível aplicação em materiais cimentícios. Para outras aplicações
na construção civil, as modificações na reologia também devem ser consideradas quando os rejeitos
foram aplicados.

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4. CONCLUSÕES
Frente aos resultados de caracterização obtidos de ambos os rejeitos, pode-se concluir que os dois
rejeitos têm granulometria similar a dos cimentos brasileiros, entretanto o rejeito de Brumadinho
apresenta teor elevado de ferro, com uma composição predominantemente cristalina. Sendo mais
apropriada a possíveis aplicações na produção de telhas, tijolos ou blocos, dentre outras aplicações.
Devido à composição química contendo mais sílica e sendo mais fino que o de Brumadinho, o rejeito
de Conceição II tem maior potencial de aplicação como material cimentício suplementar na forma de
fíller. Além disso, ambos os rejeitos possuem partículas mais angulares e rugosas, característica que
pode limitar o teor de substituição durante uma possível aplicação em materiais cimentícios.

AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de agradecer ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPQ), pelo apoio financeiro, e ao Centro de Tecnologia Mineral (CETEM),
pelo suporte na caracterização do IOT.

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4º CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DE
MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEIS
9-11 de novembro de 2022
Salvador, Bahia, Brasil

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