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Resumo Uma alternativa para reaproveitar o rejeito de minério de ferro é utilizá-lo como matéria prima
em outras cadeias produtivas, se baseando no modelo de economia circular. A construção civil
desponta como uma alternativa para aplicação de rejeitos de mineração. O objetivo deste trabalho é
determinar as propriedades físicas e químicas da lama de rejeito de minério de ferro da barragem de
Conceição/MG e da dragagem da lama de Brumadinho/MG, visando a utilização dos mesmos em
matrizes cimentícias. Foram determinadas a distribuição granulométrica, massa específica,
composição mineralógica, composição química, o comportamento térmico e morfologia. Os resultados
mostraram que o tamanho médio dos grãos de rejeito da dragagem foi maior que o do rejeito da
barragem. As partículas de ambos os locais mostraram larga distribuição de tamanho de grãos e alta
rugosidade. Em termos de composição química, o teor de ferro da amostra de Brumadinho foi superior
ao teor de ferro de Conceição II, e o teor de alumínio e silício foi maior na barragem de Conceição II.
Os resultados encontrados mostram que os resíduos possuem potencial de uso em matrizes
cimentícias, sendo que o rejeito de Conceição II requer menos processamento antes do seu uso devido
a sua maior homogeneidade.
Palavras-chave: Rejeito de minério de ferro, Caracterização, Construção civil
Abstract An alternative to reuse iron ore tailing is usable as a raw material in other production chains,
based on the circular economy model. Civil construction emerges as an alternative for the application
of mining tailings. The objective of this work is determine the physical properties and characteristics of
the iron ore fine tailings from the Conceição/MG dam and from the mud dredging of Brumadinho/MG,
using the same cement matrices. The granulometric distribution, specific mass, mineralogical
composition, chemical composition, thermal behavior and morphology were determined. The results
that reject the average size of the dredging grains were that of the tailings from the dam. As both items
supplied particles and large size distribution. In terms of composition, the iron content of the Brumadinho
sample was higher than the iron content of Conceição II and the aluminum and silicon content was
higher in the Conceição II dam. The results found show that the waste has potential for use in
cementitious matrices, and the largest waste from Conceição II requires less processing before its use
1. INTRODUÇÃO
A indústria brasileira de minério de ferro tem grande importância na economia mineral, sendo
responsável pela produção primária de vários materiais, permitindo o bem-estar e a melhoria da
qualidade de vida da sociedade [1-2]. No Brasil o setor mineral contribui para grande geração de
empregos e aumento de renda, participando de maneira efetiva no aumento do Produto Interno Bruto
(PIB) e aquecendo o mercado [3]. O Brasil se destaca por ser um dos maiores produtores de minério
de ferro do mundo, tendo alcançado a marca de mais de 400 milhões de toneladas anuais nos últimos
5 anos [4]; consequentemente, a geração de rejeitos é enorme, constituindo um grave problema
socioambiental.
A região do Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, possui uma área com aproximadamente 7.160
km2, de grande importância do ponto de vista econômico e ambiental, sendo suas reservas de minério
de ferro avaliadas em aproximadamente 29 bilhões de toneladas [5]. Esta região sofre com as
consequências da exploração mineral inadequada desde a colonização [6], com a execução de práticas
exercidas sem preocupações com os aspectos ambientais e sociais. Assim, o estado passou a ser
considerado como uma região com alto índice de impactos ambientais e sociais, contrapondo sua
posição de destaque no cenário brasileiro da produção mineral [3].
Em 2015, o rompimento da barragem no município de Mariana, Minas Gerais, foi um dos maiores
desastres ambientais da história mundial, devido ao vazamento de mais de 43 milhões m³ de rejeito de
mineração de ferro, que se espalhou pelo vale do Córrego do Fundão, galgou a Barragem de Santarém,
e alcançou o distrito de Bento Rodrigues. Desta maneira, culminou-se em impactos negativos ao
ecossistema marinho e a população no entorno de mais de 600 km do curso d’água do Rio Doce,
transformando-o em um “mar” de lama vermelha [7-9], trazendo consequências ambientais, sociais,
econômicas e humanas irreparáveis.
Em janeiro de 2019, no mesmo estado, outra barragem de rejeitos de minério de ferro se rompeu, a
mina Córrego do Feijão, localizada na cidade mineira de Brumadinho, causando grande comoção no
Brasil e em diversos países, pela quantidade de vidas perdidas e pelo imensurável dano ao meio
ambiente. A ruptura ocasionou a liberação de mais de 11 milhões m 3 de rejeito mineral – equivalente a
10 m de altura de onda de lama que se espalhou por cerca de 10 km, e atingiu o Rio Paraopeba,
importante afluente do rio São Francisco [10]. Assim, é possível salientar que lições não foram
aprendidas e muito pouco foi feito, no que diz respeito à segurança desses barramentos, após a
catástrofe de Mariana, ocorrida anteriormente em 2015 [11].
Os frequentes rompimentos de barragens de rejeitos com efeitos catastróficos, combinado com a
escassez de matérias primas, está impulsionando pesquisas para reutilização ou adição dos rejeitos
em processos industriais [12]. O rejeito de minério de ferro possui características que podem
representar como um material alternativo atraente para a indústria da construção civil [13-17]. Vários
autores afirmam que a utilização de rejeitos na produção de novos materiais de construção pode
resultar em ações como a redução na emissão de rejeitos e também na oferta de matérias-primas
alternativas para a área de construção civil [18].
Assim, para a verificação da possibilidade do aproveitamento destes rejeitos faz-se necessária a
caracterização tecnológica dos mesmos por meio de sua caracterização mineralógica, granulométrica,
química e ensaios específicos para buscar a possibilidade de aplicações na construção civil. Sendo
assim, esse trabalho focou na caracterização físico-química e morfológica de lamas de rejeitos de
minério de ferro provenientes das barragens de Conceição II e Brumadinho, indicando suas principais
semelhanças e diferenças e avaliando sua viabilidade de aplicação na construção civil.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
dispostos na mufla a 950°C por 16 horas. Após este tempo, os cadinhos foram retirados da mufla e
resfriados em um dessecador. Posteriormente, os cadinhos foram pesados novamente para verificar a
perda de massa decorrente da calcinação [19].
A análise termogravimétrica dos rejeitos foi realizada no equipamento SDT Q600 (TA Instruments), com
as seguintes condições experimentais: taxa de aquecimento constante de 10°C/min; temperatura entre
23 e 1000°C; gás de arraste nitrogênio com vazão de 100 mL/min; massa de amostra de
aproximadamente 10 mg; e cadinho aberto de alumina.
As análises para avaliação qualitativa da morfologia e composição química das partículas dos rejeitos
foram realizadas por meio de microscopia eletrônica de varredura (MEV) e espectroscopia por
dispersão de energia (EDS), no microscópio eletrônico de varredura TM-1000 (Hitachi).
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Figura 134 apresenta a distribuição de tamanhos de partículas dos rejeitos de Conceição II e
Brumadinho. Ambos os rejeitos apresentam d10 de aproximadamente 3 μm. No entanto, em d50 e d90,
o rejeito de Brumadinho apresentou partículas maiores do que o de Conceição, sendo o d50 de
aproximadamente 30 μm e 16 μm, e o d90 de 77 μm e 53 μm, respectivamente. Ambos os rejeitos
apresentam distribuição granulométrica próxima às dos cimentos tipicamente utilizados no Brasil [20-
21]. Ambos os rejeitos apresentam distribuição granulométrica abaixo de 100µm, isto é, muito abaixo
da granulometria correspondente a de um agregado miúdo. Assim, eles demonstram uma primeira
característica potencial para serem utilizados na produção de tijolos [22-23] ou telhas [24], pigmento
[25] ou ainda, como materiais cimentícios suplementares [26]. Para tais fins, mais características devem
ser avaliadas como composição química e mineralógica.
100
Conceição II
80
Massa passante (%)
Brumadinho
60
40
20
0
0,1 1 10 100
Tamanho das partículas (µm)
A composição química dos rejeitos em teor de óxidos é apresentada na Tabela 54. O rejeito de
Conceição II apresentou, majoritariamente, 50,96% de Fe2O3, 35,96% de SiO 2 e, 7,92% de Al2O3.
Esses valores são considerados altos comparados com a literatura mundial, mas são compatíveis com
Teor (%)
Conceição
Brumadinho
II
Fe₂O₃ 50,96 88,80
Al₂O₃ 7,92 1,60
SiO₂ 35,96 6,00
MgO 0,43 -
SO₃ 0,01 0,60
P2O5 0,18 0,10
MnO 0,51 0,43
TiO2 0,15 -
K₂O 0,18 -
CaO 0,09 -
CuO - 0,26
PPC 3,5 2,90
A análise termogravimétrica dos rejeitos (Figura 135) apresentou dois picos: o primeiro inicia-se em
200°C e se estende até 350°C, e pode ser relacionado a perda da hidroxila da goethita. O segundo na
faixa de 450 a 650°C se deve à desidroxilação da caulinita [32-34]. Como pode ser observado as perdas
de massa foram maiores para o rejeito de Conceição II, como visto também pelo resultado de PPC. A
perda de massa pela desidroxilação da caulinita no rejeito de Brumadinho foi pouco expressiva, o que
se justifica pelo baixo teor de Al2O3 nessa amostra.
Figura 135. Curvas de análise térmica do rejeito de Brumadinho (linha sólida) e de Conceição II
(linha tracejada).
.
(a) (b)
(c) (d)
Figura 136. Fotomicrografias MEV das amostras de rejeito: (a) Conceição II com x100 e (b) x300 (c)
Brumadinho com x40 e (d) x300.
4. CONCLUSÕES
Frente aos resultados de caracterização obtidos de ambos os rejeitos, pode-se concluir que os dois
rejeitos têm granulometria similar a dos cimentos brasileiros, entretanto o rejeito de Brumadinho
apresenta teor elevado de ferro, com uma composição predominantemente cristalina. Sendo mais
apropriada a possíveis aplicações na produção de telhas, tijolos ou blocos, dentre outras aplicações.
Devido à composição química contendo mais sílica e sendo mais fino que o de Brumadinho, o rejeito
de Conceição II tem maior potencial de aplicação como material cimentício suplementar na forma de
fíller. Além disso, ambos os rejeitos possuem partículas mais angulares e rugosas, característica que
pode limitar o teor de substituição durante uma possível aplicação em materiais cimentícios.
AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de agradecer ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPQ), pelo apoio financeiro, e ao Centro de Tecnologia Mineral (CETEM),
pelo suporte na caracterização do IOT.
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