Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ABSTRACT: The recent disasters by Mariana and Brumadinho have triggered a series of drastic consequences
for mining companies, for example, the decommissioning and the prohibition of upstream dam construction.
This encouraged companies to search for new solutions for tailing disposal. Some options appeared, two of
which are the most promising: filtered tailing and co-disposal. This paper shows a brief review of co-disposal,
the calibration of the parameters of this material, and the filtered waste in the modified Cam-Clay model and
numerical simulations of consecutive rises in dry stacking piles. The results reveal that the modified Cam-Clay
model was able to simulate original tests with precise accuracy. About the numerical simulations of the
stacking of the stockpiles, the analyzes showed that the filtered tailings present higher pore pressure and
displacement values than the co-disposal due to the friction angle and the consolidation parameters of the
model. The main consequence is that the co-disposal propels the mine to stacking faster than the filtered tailing.
1 Introdução
De acordo com o Ministério de Minas e Energia (2019), as atividades de produção mineral são
responsáveis por 20,5% das exportações e 4% do PIB do Brasil, o que evidencia sua importância para a
economia brasileira. No entanto, estas atividades geram um volume significativo de resíduos decorrentes dos
processos de lavra e beneficiamento. A crescente demanda mundial por bens minerais, aliada ao
desenvolvimento econômico e tecnológico, tem condicionado o aproveitamento de minérios de baixo teor ou
mesmo aqueles de difícil beneficiamento, o que resultou no crescimento expressivo da produção de rejeitos,
aumentando ainda mais a demanda por métodos de disposição (Soares, 2010).
Atualmente, a disposição de resíduos é realizada separadamente, sendo o rejeito disposto em barragens
e o estéril em pilhas. Contudo, em um período de apenas três anos, ocorreu o rompimento das barragens a
montante em Mariana e Brumadinho, que juntas resultaram em mais de 270 mortes e severos danos ambientais.
Dentre diversos casos de acidentes em barragens de mineradoras no Brasil, estes contribuíram para endossar
5387
ISBN: 978-65-89463-30-6
os riscos associados à falha das barragens à montante, o que motivou a Agência Nacional de Mineração (2019)
a estabelecer o descomissionamento de 61 destas barragens, dita como um método em que as reais condições
de segurança são de difícil avaliação, principalmente quanto à estabilidade por liquefação.
Assim, com a necessidade de mudar o método de disposição dos rejeitos, o setor de mineração tem
procurado por tecnologias viáveis que possam substituir a construção das barragens de rejeito, sendo as pilhas
de rejeito filtrado e de co-disposição as soluções mais promissoras. Contudo, deve-se considerar que não há
remediações universais e que a disposição de rejeitos e toda sua instalação deve ser projetada baseada em
critérios específicos do local (Ulrich, 2019).
Tendo em vista o exposto, o objetivo deste trabalho é avaliar a estabilidade de pilhas de rejeito filtrado
e co-disposição por uma análise de uma simulação numérica de tensão-deformação-adensamento. Para tanto,
avaliou-se o desenvolvimento da poropressão e dos deslocamentos durante os alteamentos diários, utilizando
o modelo constitutivo Cam-clay modificado, com parâmetros estimados a partir de ensaios reais.
2 Revisão bibliográfica
A co-disposição é a mistura entre dois ou mais materiais com finalidade de usufruir das melhores
propriedades geotécnicas de cada um deles. KCB (2017) define o método como conjunto de disposição de
rejeitos e estéreis com algum grau de mistura. A Tabela 1 mostra as vantagens e desvantagens da co-disposição.
Quando maior o grau de mistura, maior serão os pontos positivos, entretanto, isso acarreta um gasto energético
maior, consequentemente, maior custo operacional da mina.
Com o avanço da tecnologia do rejeito filtrado e da co-disposição, foi possível uma maior produtividade
e redução dos custos de implementação na mina que utiliza a co-disposição. Um exemplo é a mina de
Penãsquito no México, onde se conseguiu aplicar a essa técnica com uma produção de 150.000 toneladas/dia.
Co-disposição Autores
Redução do potencial de drenagem ácida
Redução do potencial de liquefação Wickland
Sem necessidade de barragens de rejeito (2006)
Menor volume total requerido para dispor
Vantagens Redução da poeira nos depósitos
Aumento da resistência e estabilidade ao longo prazo
Brawner
Redução da erosão do rejeito
(1978)
Retardar a lixiviação e a quebra de partículas da rocha
Redução da área de disposição
Custo alto de operação da mina
Dificuldade inicial de encontrar o método de construção Brawner
Desvantagens
Dificuldade de determinação dos parâmetros hidráulicos e de (1978)
resistência
Existem diversas formas de classificar a co-disposição. A mais recente é em função do grau de mistura
e o método de disposição. A Tabela 2 mostra as divisões, da mais heterogênea até a mistura homogênea entre
estéril e rejeito. Wickland e Longo (2017) citam trinta e nove obras que utilizaram co-disposição, sendo treze,
a co-disposição por bombeamento. Cada classe tem suas limitações que são principalmente de ordem
financeira.
5388
ISBN: 978-65-89463-30-6
Wickland et al. (2006) citam as cinco variáveis principais para o projeto de co-disposição: tamanho das
partículas e umidade inicial dos materiais e a mais importante, a razão da mistura. A explicação dessa
importância é que a dosagem é a variável mais fácil de alterar quando se quer otimizar as propriedades de
resistência e hidráulicas.
Wickland (2006) apresenta três métodos: método empírico, método similar ao concreto e pela teoria de
do empacotamento de partículas para misturas binárias. Entre os três, se destaca o último, pois possui
fundamentação em um trabalho científico de Furnas (1928). Neste trabalho em questão se procura um estado
com mínima porosidade e máxima densidade seca, denominado de just-filled, possível quando todos os vazios
do estéril estão preenchidos por rejeito. Segundo Wickland (2006), a teoria facilita o processo de dosagem por
reduzir os testes empíricos e prover a confiança no processo de estimar a mistura. A Figura 1 mostra os todos
os possíveis estados de uma mistura.
2 Umidade gravimétrica
0,8 (a)
Água Massa específica seca
Propriedade
Ar 1,5
0,6 Grau de saturação
1
0,4
Rejeito
0,5 (b)
0,2 Estéril
0 0
0,01 1 100 0,01 0,1 1 10 100 1000
Razão da mistura Razão da mistura
Propriedades
Teor de umidade do estéril 2,10%
Teor de umidade do rejeito 20%
Massa específica dos sólidos do
2,73 g/cm³
estéril
5389
ISBN: 978-65-89463-30-6
Neste trabalho, utilizou-se os ensaios triaxiais de Castillo (2019) para calibração dos parâmetros do
modelo constitutivo Cam-Clay Modificado (MCC). A escolha do modelo foi devido a: resistência, compressão
ou expansão durante o cisalhamento e ter uma formulação na teoria dos estados críticos (Hammah, 2005).
O MCC tem uma dependência linear entre tensão e rigidez, sendo considerado realístico para argila
normalmente adensada (Zardari, 2011). As principais limitações do modelo são: considera o solo isotrópico,
não reproduz os comportamentos das areias e apresenta somente deformações elásticas na recompressão. (Hau,
2003). Deve-se ter em vista que vários autores utilizaram este modelo para representar o rejeito: Williams
et al. (1991), McDonald e Lana (2010) e Zardari (2011). Ademais, a simulação e as condições de contorno
foram baseadas no trabalho de Farias e Cordão-Neto (2010).
Por fim, realizou-se uma série de 529 análises de tensão-deformação-poropressão com o objetivo de
simular um empilhamento a seco em uma pilha, durante toda a construção. Cada análise é um alteamento diário
com altura variável, pois é função do volume de material gerado pela mina diariamente. Foi considerado uma
produção diária de 25.000 m³/dia de cada. Ao final, a estrutura tem 630 m de base e 100 m de altura, com
inclinação de 3H:1V. Com o intuito de diminuir o tempo de processamento, considerou-se uma seção de análise
no meio da pilha, que possui 100 m de altura. A pilha e a seção de análise estão representadas na Figura 3a. As
condições de contorno consideradas foram de restrição lateral horizontal, restrição nas duas direções e de
drenagem na base e drenagem no topo de cada alteamento, mudando de acordo com altura de cada etapa.
A Figura 3b apresenta a altura de todos os alteamentos nos 529 dias de construção. Como pode-se
observar, 92% dos alteamentos são menores que 0,3 m por dia, atingindo uma altura até 5,5 m. A Tabela 4
apresenta as propriedades do rejeito filtrado e co-disposição utilizadas nessas simulações numéricas. Apesar
dos materiais estudados nesse artigo se caracterizarem por terem um comportamento não-saturado,
desconsiderou-se a sucção nas análises. Os dados desta pesquisa foram retirados dos trabalhos de Castillo
(2019), Gorakhki et al. (2019) e Bareither et al. (2018).
(a)
alteamento (m)
(b)
Altura do
0
0 100 200 300 400 500
Dias
Figura 3. Estrutura análisada no artigo (a) e altura dos alteamentos por dia (b).
4 Resultados e discussões
5390
ISBN: 978-65-89463-30-6
400 600
desviadora
Tensão
400
Poropressão
(kPa)
200 Modelo
(kPa)
400 800
desvitória (kPa)
Poropressão
300 600
Tensao
(kPa)
200 400
Modelo Modelo
100 Ensaio real 200
Ensaio real
0 0
0,00 0,05 0,10 0,15 0,00 0,05 0,10 0,15
Deformação Axial Deformação axial
λ κ v 𝑒0
Rejeito filtrado 0,1 0,022 0,3 0,57
Co-disposição 0,01 0,008 0,3 0,37
As pilhas de disposição são empilhadas em função dos rejeitos/estéreis produzidos pela mina até atingir
uma altura determinada de projeto. Esses alteamentos geram um excesso de poropressão por um determinado
tempo, que podem acarretar problemas de estabilidade, consequentemente, diminuir o fator de segurança da
pilha. Sendo assim, a etapa de simulações numérica teve como objetivo avaliar o excesso de poropressão e os
5391
ISBN: 978-65-89463-30-6
deslocamentos gerados entre o rejeito filtrado e a co-disposição, para assim ponderar os benefícios da técnica
com suas respectivas desvantagens.
Os deslocamentos e o excesso de poropressão no 529º alteamento/dia são apresentados na Figura 6. Os
deslocamentos do rejeito filtrado apresentam um pico localizado próximo de 40 m enquanto na co-disposição
os deslocamentos estão distribuídos. Além disto, valores duas vezes maiores de excesso de poropressão no
rejeito filtrado do que co-disposição são observados. Se tivesse uma análise de estabilidade de taludes neste
problema, seria possível mostrar que a mina teria que parar o alteamento ou colocar uma camada drenante para
acelerar a dissipação de poropressão.
0
Co-disposição 0 200 400 600
Deslocamento
(a)
Excesso de
vertical (m)
Figura 7. Excesso de poropressão máximo (a) e deslocamentos máximos (b) durante a construção.
5 Conclusão
A mistura entre rejeito filtrado e co-disposição é uma ideia que traz diversos pontos positivos para obra,
principalmente na parte da segurança. Um dos pontos mais essenciais é a dosagem, pois é essa variável que
maximiza as melhores propriedades dos materiais. Sobre os resultados da calibração do modelo Cam-clay
5392
ISBN: 978-65-89463-30-6
modificado, eles obtiveram uma boa acurácia de simular a tensão desviadora e o desenvolvimento da
poropressão dos ensaios de rejeito filtrado e a co-disposição. Devido ao modelo não simular o amolecimento
do material, foi adotada uma abordagem conservadora, tanto para a poropressão como a tensão desviadora.
As simulações numéricas mostraram que a co-disposição apresentou valores de excesso de poropressão
e deslocamentos menores que o rejeito filtrado no final dos 529 dias. A melhora ficou mais evidente quando
os alteamentos apresentam alturas menores, chegando a uma relação de vinte vezes menos excesso de
poropressão que o rejeito filtrado, assim sendo um material que iria aumentar a produtividade de uma mina,
pois seria possível ter alteamentos mais rápidos e maiores.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Agência Nacional de Mineração (2019). ANM publica nova norma para barragens de mineração. Disponível
em: < http://www.anm.gov.br/noticias/anm-publica-nova-norma-para-barragens-de-mineracao >. Acesso
em: 20 set. 2019.
Bareither, C.A., Gorakhki, M.H., Scalia, J., and Jacobs, M. (2018). Compression behavior of filtered tailings
and waste rock mixtures: GeoWaste, Proc. Tailings and Mine Waste 2018, UBC Studios, University of
British Columbia, Vancouver, BC, 163-173
Brawner, C. O. (1978, May). Concepts and experience for subsurface disposal of tailings. In Tailings Disposal
Today, Proceedings of the 2nd International Tailings Symposium, Denver, Colo (pp. 153-173).
Castillo, R. N. B. (2019). Undrained Shear Behavior and Critical State Analysis of Mixed Mine Waste Rock
and Tailings. Tese de doutorado, Colorado State University.
KCB (Klohn Crippen Berger), & MEND (Mine Environment Neutral Drainage) Project. (2017). Study of
Tailings Management Technologies MEND Report 2.50.1. (Outubro), 1–164.
Farias, M. M. D., & Cordão Neto, M. P. (2010). Advanced numerical simulation of collapsible earth
dams. Canadian geotechnical journal, 47(12), 1351-1364.
Gorakhki, M. H., Bareither, C. A., Scalia, J., & Jacobs, M. (2019, March). Hydraulic Conductivity and Soil
Water Retention of Waste Rock and Tailings Mixtures. In Geo-Congress 2019: Geoenvironmental
Engineering and Sustainability (pp. 41-50). Reston, VA: American Society of Civil Engineers.
Hammah, R. (2005). Description of Cam-Clay and Modified-Cam-Clay Critical State Strength Models.
Harr, M.E., 1984, Reliability-based design in civil engineering, Henry M. Shaw Lecture, Dept. of Civil
Engineering, North Carolina State University, Raleigh, N.C.
Hau, K.W. (2003). Application of a three-surface kinematic hardening model to the repeated loading of thinly
surfaced pavements (Tese de Doutorado). Department of Civil Engineering, University of Nottingham, UK.
Furnas, C. C. (1928). The Relations Between Specific Volume Voids and Size Composition in Systems of
Broken Solids of Mixed Sizes, Serial 2894. Report of Investigations, US Bureau of Mines, 2-10.
McDonald, L., & Lane, J. (2010). Consolidation of in-pit tailings. (Figure 1), 49–62.
https://doi.org/10.36487/acg_rep/1008_05_mcdonald.
Ministério De Minas e Energia (2019). MME estabelece eixos estruturantes para o setor mineral. 2019.
Disponível em: <http://www.mme.gov.br/web/guest/pagina-inicial/outras-noticas/-
/asset_publisher/32hLrOzMKwWb/content/mme-estabelece-eixos-estruturantes-para-o-setor-mineral>.
Acesso em: 20 set. 2019.
Özer, A. T., & Bromwell, L. G. (2012). Stability assessment of an earth dam on silt/clay tailings foundation:
A case study. Engineering Geology, 151, 89–99. https://doi.org/10.1016/j.enggeo.2012.09.011.
5393
ISBN: 978-65-89463-30-6
Shokouhi, A., & Williams, D. J. (2017). Volume change behaviour of mixtures of coarse coal reject and
tailings. Mining Technology, 126(3), 163-176.
Soares, L. in: Barragens de Rejeitos, CETEM – Centro de Tecnologia Mineral, Ministério da Ciência e
Tecnologia, Coordenação de Processos Minerais. Comunicação Técnica elaborada para o Livro Tratamento
de Minérios, Editores: Adão B. da Luz, João Alves Sampaio e Silvia Cristina A. França. Rio de Janeiro,
Agosto/2010, 5ª Ed. – Cap. 19 – pág. 831–896.
Ulrich, B. (2019). 'Practical thoughts regarding filtered tailings', in AJC Paterson, AB Fourie & D Reid (eds),
Proceedings of the 22nd International Conference on Paste, Thickened and Filtered Tailings, Australian
Centre for Geomechanics, Perth, pp. 71 79, https://doi.org/10.36487/ACG_rep/1910_01_Ulrich.
Wickland, B. E. (2006). Volume change and permeability of mixtures of waste rock and fine tailings (Tese de
doutorado, University of British Columbia).
Wickland, B. E.; Longo, S. Mine waste case examples of stacked tailings and co-disposal. In: Tailings and
Mine Waste, 2017, Alberta. Tailings and Mine Waste 2017.
Wickland, B. E., Wilson, G. W., Wijewickreme, D., & Klein, B. (2006). Design and evaluation of mixtures of
mine waste rock and tailings. Canadian Geotechnical Journal, 43(9), 928–945. https://doi.org/10.1139/T06-
058.
Williams, D. J., Morris, P. H., & Carter, J. P. (1991, January). Two-dimensional finite element analysis of a
trial embankment on coal mine tailings. In Computer methods and advances in geomechanics. Proc. 7th
international conference, Cairns, 1991. Vol. 2 (pp. 1405-1410). Balkema, for IACMAG.
Zardari, M. A. (2011). Stability of tailings dams: focus on numerical modelling (Tese de doutorado, Luleå
tekniska universitet).
5394