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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.

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Avaliação da Poropressão e Deslocamentos em Pilhas de Rejeito


Filtrado e Co-disposição devido a Alteamentos Sucessivos

Weber Anselmo dos Ramos Souza


Aluno de doutorado, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, weberanselmodosramossouza@gmail.com

André Pacheco de Assis


Professor Titular, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, aassis@unb.br

RESUMO: Os recentes acidentes de Mariana e Brumadinho desencadearam uma série de consequências


severas para as empresas mineradoras, como, por exemplo, o descomissionamento e a proibição de construções
de barragens a montante. Isso impulsionou a busca por novas soluções para disposição de rejeitos. Várias
alternativas apareceram, sendo duas as mais promissoras: rejeito filtrado e co-disposição. Neste artigo é
apresentado uma breve revisão sobre co-disposição, a calibração dos parâmetros deste material e do rejeito
filtrado no modelo Cam-Clay modificado e simulações numérica de alteamentos consecutivos em pilhas de
disposição. Os resultados evidenciam que o modelo Cam-Clay modificado conseguiu simular os ensaios reais
com certa acurácia. Em relação as simulações numéricas do alteamento das pilhas, as análises mostraram que
o rejeito filtrado apresenta valores de poropressão e deslocamento maiores do que a co-disposição devido ao
ângulo de atrito e aos parâmetros de adensamento do modelo. A principal consequência é que a co-disposição
proporciona a mina alteamentos mais rápidos do que o rejeito filtrado.

PALAVRAS-CHAVE: Calibração, Cam-Clay modificado, alteamento, excesso de poropressão,


deslocamentos.

ABSTRACT: The recent disasters by Mariana and Brumadinho have triggered a series of drastic consequences
for mining companies, for example, the decommissioning and the prohibition of upstream dam construction.
This encouraged companies to search for new solutions for tailing disposal. Some options appeared, two of
which are the most promising: filtered tailing and co-disposal. This paper shows a brief review of co-disposal,
the calibration of the parameters of this material, and the filtered waste in the modified Cam-Clay model and
numerical simulations of consecutive rises in dry stacking piles. The results reveal that the modified Cam-Clay
model was able to simulate original tests with precise accuracy. About the numerical simulations of the
stacking of the stockpiles, the analyzes showed that the filtered tailings present higher pore pressure and
displacement values than the co-disposal due to the friction angle and the consolidation parameters of the
model. The main consequence is that the co-disposal propels the mine to stacking faster than the filtered tailing.

KEYWORDS: Calibration, modified Cam-Clay, stacking, excess of pore pressure, displacements.

1 Introdução

De acordo com o Ministério de Minas e Energia (2019), as atividades de produção mineral são
responsáveis por 20,5% das exportações e 4% do PIB do Brasil, o que evidencia sua importância para a
economia brasileira. No entanto, estas atividades geram um volume significativo de resíduos decorrentes dos
processos de lavra e beneficiamento. A crescente demanda mundial por bens minerais, aliada ao
desenvolvimento econômico e tecnológico, tem condicionado o aproveitamento de minérios de baixo teor ou
mesmo aqueles de difícil beneficiamento, o que resultou no crescimento expressivo da produção de rejeitos,
aumentando ainda mais a demanda por métodos de disposição (Soares, 2010).
Atualmente, a disposição de resíduos é realizada separadamente, sendo o rejeito disposto em barragens
e o estéril em pilhas. Contudo, em um período de apenas três anos, ocorreu o rompimento das barragens a
montante em Mariana e Brumadinho, que juntas resultaram em mais de 270 mortes e severos danos ambientais.
Dentre diversos casos de acidentes em barragens de mineradoras no Brasil, estes contribuíram para endossar

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os riscos associados à falha das barragens à montante, o que motivou a Agência Nacional de Mineração (2019)
a estabelecer o descomissionamento de 61 destas barragens, dita como um método em que as reais condições
de segurança são de difícil avaliação, principalmente quanto à estabilidade por liquefação.
Assim, com a necessidade de mudar o método de disposição dos rejeitos, o setor de mineração tem
procurado por tecnologias viáveis que possam substituir a construção das barragens de rejeito, sendo as pilhas
de rejeito filtrado e de co-disposição as soluções mais promissoras. Contudo, deve-se considerar que não há
remediações universais e que a disposição de rejeitos e toda sua instalação deve ser projetada baseada em
critérios específicos do local (Ulrich, 2019).
Tendo em vista o exposto, o objetivo deste trabalho é avaliar a estabilidade de pilhas de rejeito filtrado
e co-disposição por uma análise de uma simulação numérica de tensão-deformação-adensamento. Para tanto,
avaliou-se o desenvolvimento da poropressão e dos deslocamentos durante os alteamentos diários, utilizando
o modelo constitutivo Cam-clay modificado, com parâmetros estimados a partir de ensaios reais.

2 Revisão bibliográfica

A co-disposição é a mistura entre dois ou mais materiais com finalidade de usufruir das melhores
propriedades geotécnicas de cada um deles. KCB (2017) define o método como conjunto de disposição de
rejeitos e estéreis com algum grau de mistura. A Tabela 1 mostra as vantagens e desvantagens da co-disposição.
Quando maior o grau de mistura, maior serão os pontos positivos, entretanto, isso acarreta um gasto energético
maior, consequentemente, maior custo operacional da mina.
Com o avanço da tecnologia do rejeito filtrado e da co-disposição, foi possível uma maior produtividade
e redução dos custos de implementação na mina que utiliza a co-disposição. Um exemplo é a mina de
Penãsquito no México, onde se conseguiu aplicar a essa técnica com uma produção de 150.000 toneladas/dia.

Tabela 1. Vantagens e desvantagens da co-disposição.

Co-disposição Autores
Redução do potencial de drenagem ácida
Redução do potencial de liquefação Wickland
Sem necessidade de barragens de rejeito (2006)
Menor volume total requerido para dispor
Vantagens Redução da poeira nos depósitos
Aumento da resistência e estabilidade ao longo prazo
Brawner
Redução da erosão do rejeito
(1978)
Retardar a lixiviação e a quebra de partículas da rocha
Redução da área de disposição
Custo alto de operação da mina
Dificuldade inicial de encontrar o método de construção Brawner
Desvantagens
Dificuldade de determinação dos parâmetros hidráulicos e de (1978)
resistência

2.1 Tipos de co-disposição

Existem diversas formas de classificar a co-disposição. A mais recente é em função do grau de mistura
e o método de disposição. A Tabela 2 mostra as divisões, da mais heterogênea até a mistura homogênea entre
estéril e rejeito. Wickland e Longo (2017) citam trinta e nove obras que utilizaram co-disposição, sendo treze,
a co-disposição por bombeamento. Cada classe tem suas limitações que são principalmente de ordem
financeira.

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Tabela 2. Classes de co-disposição de acordo com Wickland et al. (2006)


Tipos de co-disposição
Mistura homogênea entre estéril e rejeito
Co-disposição por bombeamento
Co-disposição em camadas
Rejeito em células de estéril
Estéril adicionado em área de rejeito
Rejeito adicionado em pilha de estéril
Estéril e rejeito adicionados no mesmo local
2.2 Dosagem

Wickland et al. (2006) citam as cinco variáveis principais para o projeto de co-disposição: tamanho das
partículas e umidade inicial dos materiais e a mais importante, a razão da mistura. A explicação dessa
importância é que a dosagem é a variável mais fácil de alterar quando se quer otimizar as propriedades de
resistência e hidráulicas.
Wickland (2006) apresenta três métodos: método empírico, método similar ao concreto e pela teoria de
do empacotamento de partículas para misturas binárias. Entre os três, se destaca o último, pois possui
fundamentação em um trabalho científico de Furnas (1928). Neste trabalho em questão se procura um estado
com mínima porosidade e máxima densidade seca, denominado de just-filled, possível quando todos os vazios
do estéril estão preenchidos por rejeito. Segundo Wickland (2006), a teoria facilita o processo de dosagem por
reduzir os testes empíricos e prover a confiança no processo de estimar a mistura. A Figura 1 mostra os todos
os possíveis estados de uma mistura.

As Figuras 2a e 2b mostram um exemplo, utilizando as propriedades dos materiais (Tabela 3) de Castillo


(2019) e a metodologia de cálculo de Wickland et al. (2006). É possível observar na Figura 2a que o ponto
com a razão da mistura 0,95 (sendo razão da mistura a divisão entre a massa de estéril sobre a massa de rejeito)
o ar começa aparecer, sendo este o ponto just-filled. Este estado também pode ser visto na figura 2b, onde se
tem um pico na massa específica seca, exatamente na razão da mistura de 0,95.
Figura 1. Possíveis matrizes da co-disposição de acordo com a dosagem.
1
Unidade Volumétrica

2 Umidade gravimétrica
0,8 (a)
Água Massa específica seca
Propriedade

Ar 1,5
0,6 Grau de saturação
1
0,4
Rejeito
0,5 (b)
0,2 Estéril
0 0
0,01 1 100 0,01 0,1 1 10 100 1000
Razão da mistura Razão da mistura

Figura 2. Volume dos materiais (a) e propriedades (b) da co-disposição.


Tabela 3. Propriedades do rejeito e do estéril de Castillo (2019) para a dosagem.

Propriedades
Teor de umidade do estéril 2,10%
Teor de umidade do rejeito 20%
Massa específica dos sólidos do
2,73 g/cm³
estéril

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Massa específica dos sólidos do


rejeito 2,76 g/cm³
Índice de vazios do estéril 1,53
3 Metodologia

Neste trabalho, utilizou-se os ensaios triaxiais de Castillo (2019) para calibração dos parâmetros do
modelo constitutivo Cam-Clay Modificado (MCC). A escolha do modelo foi devido a: resistência, compressão
ou expansão durante o cisalhamento e ter uma formulação na teoria dos estados críticos (Hammah, 2005).
O MCC tem uma dependência linear entre tensão e rigidez, sendo considerado realístico para argila
normalmente adensada (Zardari, 2011). As principais limitações do modelo são: considera o solo isotrópico,
não reproduz os comportamentos das areias e apresenta somente deformações elásticas na recompressão. (Hau,
2003). Deve-se ter em vista que vários autores utilizaram este modelo para representar o rejeito: Williams
et al. (1991), McDonald e Lana (2010) e Zardari (2011). Ademais, a simulação e as condições de contorno
foram baseadas no trabalho de Farias e Cordão-Neto (2010).
Por fim, realizou-se uma série de 529 análises de tensão-deformação-poropressão com o objetivo de
simular um empilhamento a seco em uma pilha, durante toda a construção. Cada análise é um alteamento diário
com altura variável, pois é função do volume de material gerado pela mina diariamente. Foi considerado uma
produção diária de 25.000 m³/dia de cada. Ao final, a estrutura tem 630 m de base e 100 m de altura, com
inclinação de 3H:1V. Com o intuito de diminuir o tempo de processamento, considerou-se uma seção de análise
no meio da pilha, que possui 100 m de altura. A pilha e a seção de análise estão representadas na Figura 3a. As
condições de contorno consideradas foram de restrição lateral horizontal, restrição nas duas direções e de
drenagem na base e drenagem no topo de cada alteamento, mudando de acordo com altura de cada etapa.
A Figura 3b apresenta a altura de todos os alteamentos nos 529 dias de construção. Como pode-se
observar, 92% dos alteamentos são menores que 0,3 m por dia, atingindo uma altura até 5,5 m. A Tabela 4
apresenta as propriedades do rejeito filtrado e co-disposição utilizadas nessas simulações numéricas. Apesar
dos materiais estudados nesse artigo se caracterizarem por terem um comportamento não-saturado,
desconsiderou-se a sucção nas análises. Os dados desta pesquisa foram retirados dos trabalhos de Castillo
(2019), Gorakhki et al. (2019) e Bareither et al. (2018).

(a)
alteamento (m)

(b)
Altura do

0
0 100 200 300 400 500
Dias

Figura 3. Estrutura análisada no artigo (a) e altura dos alteamentos por dia (b).

Tabela 4. Propriedades do rejeito filtrado e co-disposição.

Materiais φ (°) γ (kN/m³) 𝑒0 k (m/s)


Rejeito filtrado 33 17,3 0,57 10−7
Co-disposição 40 20 0,37 10−7

4 Resultados e discussões

4.1 Calibração do modelo

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A calibração do modelo teve o objetivo de determinar os parâmetros do modelo Cam-Clay modificado


(MCC) por meio de uma comparação visual das curvas de tensão desviadora e de excesso de poropressão
geradas com os ensaios reais. Utilizou-se o subprograma Soil Model do Software PLAXIS para geração das
curvas do modelo. Com a intenção de simular os materiais na condição de altas tensões, utilizou-se os ensaios
triaxiais com tensão confinante de 500 kPa de Castillo (2019), tensão esta que pode não representar as reais
condições de tensões em pilhas de grande altura (200 a 300 m).
Variou-se os parâmetros do modelo (𝜆 𝑒 𝑘) entre os limites dessas variáveis, que foram definidos sendo
a média ∓ três vezes o desvio padrão. Devido a ausência de uma quantidade significativa de ensaios
odométricos, utilizou-se o coeficiente de variação de 37% para o índice de compressão primária (Cc), como
relatado por Harr (1984). Em relação ao índice de descarga/recarga, o seu valor foi estimado sendo 5% do Cc.
As Figuras 4 e 5 mostram as curvas de poropressão e tensão desviadora para o rejeito filtrado e co-
disposição, respectivamente. Os parâmetros escolhidos do MCC estão na Tabela 5. Nota-se que as curvas do
modelo na poropressão não conseguem simular a sua diminuição devido ao aumento da deformação axial.
Apesar disto, o modelo consegue suprir as necessidades do problema com uma abordagem conservadora pois
apresenta uma característica de amolecimento do material.

400 600
desviadora
Tensão

400
Poropressão

(kPa)

200 Modelo
(kPa)

Ensaio real 200 Modelo


0
Ensaio real
0
0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,00 0,05 0,10 0,15 0,20
Deformação axial Deformação axial

Figura 4. Curva do ensaio real e do modelo MCC para o rejeito filtrado.

400 800
desvitória (kPa)
Poropressão

300 600
Tensao
(kPa)

200 400
Modelo Modelo
100 Ensaio real 200
Ensaio real
0 0
0,00 0,05 0,10 0,15 0,00 0,05 0,10 0,15
Deformação Axial Deformação axial

Figura 5. Curva do ensaio real e do modelo MCC para a co-disposição.

Tabela 5. Parâmetros do MCC encontrados da calibração do modelo para os materiais estudados.

λ κ v 𝑒0
Rejeito filtrado 0,1 0,022 0,3 0,57
Co-disposição 0,01 0,008 0,3 0,37

4.2 Simulações numérica das pilhas

As pilhas de disposição são empilhadas em função dos rejeitos/estéreis produzidos pela mina até atingir
uma altura determinada de projeto. Esses alteamentos geram um excesso de poropressão por um determinado
tempo, que podem acarretar problemas de estabilidade, consequentemente, diminuir o fator de segurança da
pilha. Sendo assim, a etapa de simulações numérica teve como objetivo avaliar o excesso de poropressão e os

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deslocamentos gerados entre o rejeito filtrado e a co-disposição, para assim ponderar os benefícios da técnica
com suas respectivas desvantagens.
Os deslocamentos e o excesso de poropressão no 529º alteamento/dia são apresentados na Figura 6. Os
deslocamentos do rejeito filtrado apresentam um pico localizado próximo de 40 m enquanto na co-disposição
os deslocamentos estão distribuídos. Além disto, valores duas vezes maiores de excesso de poropressão no
rejeito filtrado do que co-disposição são observados. Se tivesse uma análise de estabilidade de taludes neste
problema, seria possível mostrar que a mina teria que parar o alteamento ou colocar uma camada drenante para
acelerar a dissipação de poropressão.

Deslocamento (m) Excesso de poropressão (kPa)


-4 -3 -2 -1 0 0 500 1000 1500
0 0

Altura da pilha (m)


(a) (b)
20 20
40 40
60 60
Co-disposição Co-disposição
80 80
Rejeito filtrado 100 100 Rejeito filtrado

Figura 6. Deslocamentos (a) e excesso de poropressão (b) ao longo da altura da pilha.

A Figura 7 mostra os gráficos de excesso de poropressão máximo e deslocamento vertical máximo


gerados durante o tempo, para o rejeito filtrado e co-disposição. Nota-se que apesar da permeabilidade ser
praticamente parecida, o desenvolvimento do excesso de poropressão é diferente. Em média, o excesso de
poropressão máximo na co-disposição é vinte vezes menor do que no rejeito filtrado, sendo que esta diferença
cai à medida que são realizados alteamentos maiores por dia.
A co-disposição apresentou valores de excesso de poropressão menores que 10 kPa para os 380
alteamentos de 0,1 m, enquanto o rejeito filtrado atingiu valores em torno de 160 kPa. Sobre os deslocamentos,
a diferença no final da construção é de 3,3 m. O comportamento da mistura pode ser explicado pelas
propriedades do estéril, visto que tem um ângulo de atrito alto e parâmetros de adensamento pelo menos duas
vezes maiores que do rejeito filtrado, por exemplo. Shokouhi e Williams (2017) apresentaram um estudo de
co-disposição para o estéril com baixa permeabilidade e alta compressibilidade.
Assim, tendo em vista o exposto, a geração reduzida de poropressão na mistura proporcionaria
alteamentos mais rápidos, podendo até não ter paradas durante os alteamentos. Contudo, vale salientar que este
artigo não avaliou a influência desse excesso de poropressão na estabilidade de taludes, que iria analisar
quantos dias seriam necessários para ter valores de coeficiente de segurança ditos seguros.
1500 Dias
poropressão (kPa)

0
Co-disposição 0 200 400 600
Deslocamento

(a)
Excesso de

vertical (m)

1000 Rejeito filtrado -1


(b)
500 -2
Co-disposição
-3 Rejeito filtrado
0
0 200 Dias 400 600 -4

Figura 7. Excesso de poropressão máximo (a) e deslocamentos máximos (b) durante a construção.

5 Conclusão

A mistura entre rejeito filtrado e co-disposição é uma ideia que traz diversos pontos positivos para obra,
principalmente na parte da segurança. Um dos pontos mais essenciais é a dosagem, pois é essa variável que
maximiza as melhores propriedades dos materiais. Sobre os resultados da calibração do modelo Cam-clay

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modificado, eles obtiveram uma boa acurácia de simular a tensão desviadora e o desenvolvimento da
poropressão dos ensaios de rejeito filtrado e a co-disposição. Devido ao modelo não simular o amolecimento
do material, foi adotada uma abordagem conservadora, tanto para a poropressão como a tensão desviadora.
As simulações numéricas mostraram que a co-disposição apresentou valores de excesso de poropressão
e deslocamentos menores que o rejeito filtrado no final dos 529 dias. A melhora ficou mais evidente quando
os alteamentos apresentam alturas menores, chegando a uma relação de vinte vezes menos excesso de
poropressão que o rejeito filtrado, assim sendo um material que iria aumentar a produtividade de uma mina,
pois seria possível ter alteamentos mais rápidos e maiores.

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao aporte financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico


(CNPq) pelo o financiamento desta pesquisa.

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