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Resumo
O emprego de materiais cimentícios suplementares, como o metacaulim, melhora o desempenho de
concretos em ambientes marinhos, devido ao refinamento da sua rede porosa. Contudo, essa opção
provoca a redução de alcalinidade da matriz devido às reações pozolânicas. Ao longo do tempo, esse
refinamento dos poros provoca alterações na capacidade de transporte dessas matrizes, o que pode ser
expresso através do fator de idade. De forma complementar, as alterações de alcalinidade da matriz
também precisam ser monitoradas, uma vez que a alcalinidade da mistura é responsável pela proteção
química do aço embutido no concreto. Nesse contexto, o presente trabalho avalia o fator de idade e o pH de
concretos com substituição parcial de cimento Portland por metacaulim em idades tardias. Para tanto,
corpos de prova cilíndricos de concreto com diferentes relações água/ aglomerante e substituição de 10%
do cimento Portland por metacaulim, foram moldados. Os corpos de prova foram monitorados com medidas
de resistividade elétrica superficial pelo método de Wenner até a idade de 260 dias, obtendo-se o fator de
idade com o emprego dessa técnica. A alcalinidade da matriz foi determinada na idade de 780 dias, após
moldagem. Os resultados indicam uma redução mais acentuada da capacidade de transporte nos concretos
com metacaulim ao longo do tempo, refletindo no fator de idade, associada à uma redução de alcalinidade
dessas matrizes.
Palavra-Chave: Concreto, metacaulim, fator de idade, alcalinidade.
Abstract
Using supplementary cementitious materials, like metakaolin, improves the concrete performance in marine
environments, due to the refinement of its porous network. However, this option leads to an alkalinity
reduction due to pozolanic reactions. Along time this pores refinement leads to changes in the transport
capacity of these matrices, which cam be represented by the ageing factor. In a complementary way, the
alkalinity changes of the matrix also needs to be monitored, as it is responsible for the chemical protection of
reinforcements embedded in concrete. In this scenario, the present work evaluates the ageing factor and the
pH of concretes with partial cement replacement by metakaolin at late ages. For this purpose, cylindrical
concrete specimens with different water/binder ratios and 10% of cement replacement by metakaolin were
cast. The specimens were periodically monitored with surface electrical resistivity measurements until the
age of 260 days, obtaining the ageing factor throughout this technique. The matrices alkalinity was
determined at the age of 780 days after casting. Results show a stronger reduction in the mass transport
capacity over time for concretes with metakaolin, which reflects on the ageing factor, joined with an alkalinity
reduction of these matrices.
Keywords: Concrete, metakaolin, ageing factor, alkalinity.
(Equação 1)
2 Materiais e métodos
2.1 Materiais
Para produzir os concretos foram utilizados, cimento Portland de alta resistência inicial –
CP V ARI, em virtude da ausência de pozolana em sua composição. O Metacaulim (MK)
HP Ultra, da marca Metacaulim do Brasil em substituição ao CPV ARI, em massa, areia
média de natureza quartzosa e brita 1, com diâmetro máximo de 19 mm, além de
100,0%
Porcentagem retida (%)
80,0%
60,0%
40,0%
20,0%
0,0%
10 100 1000 10000 100000
Diâmetro médio da partícula (μm)
Brita 19 Limite inferior Limite superior
Areia média NBR 7211 Utilizável Inf. NBR 7211 Utilizável Sup.
NBR 7211 Ótima Inf. NBR 7211 ótima Sup.
2.1.2 Dosagem
Para a confecção dos corpos de prova (CPs) foram definidas duas relações, em massa,
1:5:0,55 e 1:3,6:0,45 (cimento: agregados: água) com teores de 0%, 10% de metacaulim,
em substituição à massa do cimento. A tabela 1 indica o consumo de material para
confecção de 1 m³ de concreto para ambas as dosagens.
3 Métodos
3.1 Caracterização físico-mecânica
Para analisar o comportamento físico-mecânico, três amostras cilíndricas (100 x 200 mm)
para cada mistura de concreto foram submetidos a resistência à compressão axial aos 28
e 91 dias, seguindo as recomendações da NBR 5738 (2015), e aos 91 dias foi realizado
o ensaio de absorção total por imersão de água e índice de vazios (porosidade aberta)
pela NBR 9778 (2005) com o intuito de avaliar a porosidade aberta das misturas.
3.2. Monitoramento da resistividade elétrica superficial (RES)
A RES foi acompanhada por 260 dias, após uma cura de 28 dias. Para este estudo, foi
selecionado o método de Wenner, ou método das quatro pontas. Todas as amostras
foram ensaiadas na condição saturada superfície seca, como recomendado por CHEN,
CHANG AND YEIH (2014). Espaçamento de 3 cm entre os eletrodos, como recomendado
pela RILEM 154 – EMC (RILEM, 2001). Um fator de forma quanto à geometria da amostra
foi atribuído, 0,384, UNE 83988 ( 2014)
Foram utilizados três CPs por mistura com seis medidas em cada amostra, totalizando 18
medidas de RES/ mistura, figura 3. Para o ensaio, foi usado o equipamento da MIKII da
CNS Farnell.
−
pH = 14 + log
(γ OHporo ) (Equação 2)
− 𝑂𝐻 − ∗𝑉𝐻2𝑂
OHporo = 𝑤 𝑐𝑜 𝑛 𝑐𝑟𝑒𝑡𝑜 (Equação 3)
∗𝜌
𝑑 𝑐𝑜 𝑛 𝑐𝑟𝑒𝑡𝑜
4 Resultados e discussões
4.1 Análise do desempenho do concreto
Segundo TAYLOR (1997) O desempenho mecânico do concreto é resultado dos produtos
de hidratação, especialmente ao silicato de cálcio hidratado (CSH), e a porosidade da
mistura endurecida. Além disso comumentemente é publicado que o uso de adições
minerais altera a estrutura dos poros e a porosidade da mistura, e que a utilização do
ANAIS DO 64º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2023 – 64CBC2023 5
metacaulim nas proporções de substituição até 10% tem apresentado misturas com
menores porosidade e consequentemente valores de resistências à compressão maiores
do que os concretos referência, FIGUEIREDO ET AL., (2014); FERREIRA, COSTA E
MALHEIRO (2016); SANTOS, ALBUQUERQUE E RIBEIRO (2020). Entretanto, esses
achados não foram continuados neste estudo.
A figura 4 mostra que todas as misturas apresentam maior percentual de porosidade
aberta e consequentemente esse resultado é fundamentado pela resistência à
compressão, apresentado na figura 5. No entanto, é visto que na relação a/agl de 0,45
essa diferença na redução desses valores são menores do que aqueles na relação de
0,55.
Contudo, considerando a desaceleração na hidratação quando inserido adições minerais
na mistura, chamado de efeito pozolânico, a idade de 91 dias, pode ter sido insuficiente
para a manifestação plena do efeito pozolânico, visto a granulometria de maior dimensão,
apresentado na figura 1 e o discreto halo amorfo identificado na figura 2.
16,00
13,24
Indice de vazios (%)
13,15
12,00 11,01 10,63
8,00
4,00
0,00
REF 055 MK 055 REF 045 MK 045
60
Resistencia à compressão (MPa)
48,96
50
45,47
42,18 41,59
39,34
40 36,32
30
25,12
23,44
20
10
0
REF 055 MK 055 REF 045 MK 045
28 dias 90 dias
14
12 R² = 0,9559
10
ρ (kΩ.cm)
6 R² = 0,7854
R² = 0,8584 R² = 0,9091
4
0
28 dias 90 dias 154 dias 220 dias 260 dias
Tempo (dias)
Figura 6 – Evolução da resistividade elétrica superficial dos concretos em função do tempo.
Nesse estudo percebe-se que o concreto de maior RES ao longo do tempo foi a
mistura MK 0,45, desde as primeiras idades e persistindo com o envelhecimento
demonstrando uma estabilização a partir de 220 dias. Enquanto a mistura de MK 0,55
não apresentou esse comportamento. Quanto aos concretos referência, o de relação
0,4 y = 0,5625x-0,148
R² = 0,939
y = 0,8491x-0,291
0,3 R² = 0,7416
1/ρ (KΩ.cm)
y = 0,4591x-0,298
R² = 0,9718
0,2
y = 0,2595x-0,212
R² = 0,9696
0,1
0
0 50 100 150 200 250 300
Tempo (dias)
0,291 0,298
Fator de idade 0,300
0,212
0,200
0,145
0,100
0,000
REF 055 MK 055 REF 0,45 MK 0,45
Figura 8 – Fator de idade para as misturas estudadas
pHporo
0,60 9
6
0,30
3
0,00 0
REF 055 MK 055 REF 045 MK 045 REF 055 MK 055 REF 045 MK 045
6 Referências
ANDRADE, C.; CASTELLOTE, M.; D’ANDREA, R. Measurement of ageing effect on
chloride diffusion coefficients in cementitious matrices. Journal of Nuclear Materials,
v. 412, n. 1, p. 209–216, 2011.
CHEN, C.; CHANG, J.; YEIH, W. The effects of specimen parameters on the resistivity
of concrete. Construction and Building Materials, v. 71, p. 35–43, 2014.
LI, L.; NAM, J.; HARTT, W. H. Ex situ leaching measurement of concrete alkalinity.
Cement and Concrete Research, v. 35, n. 2, p. 277–283, 2005.