Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
(1) Enga. Civil. Doutoranda PPGEC-UFSC. Av. Desembargador Vitor Lima, 594 apto
501 Florianópolis-SC CEP: 88040-400 E-mail: jucasali@ig.com.br
(2) Eng. Civil. Professor do Departamento de Engenharia Civil - UFSC, Florianópolis –
SC CEP 88040-900 E-mail: ecv1lrp@ecv.ufsc.br
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo avaliar a influência das variações da quantidade de cal
e da granulometria do agregado miúdo, dentro dos limites usualmente estabelecidos, nas
propriedades no estado fresco e endurecido das argamassas mistas para assentamento de
blocos de concreto de alvenaria estrutural. Foram avaliadas no estado fresco: retenção
de água, consistência (flow table), teor de ar incorporado e trabalhabilidade (Gtec
Teste). No estado endurecido foram avaliadas a resistência a compressão e o módulo de
elasticidade em argamassas e prismas de blocos de concreto. Com os resultados obtidos
pode-se concluir que a trabalhabilidade foi influenciada, tanto pela granulometria da
areia quanto pelo efeito da quantidade de cal. A quantidade de cal influenciou na
retenção de água das argamassas. No estado endurecido, o maior fator de eficiência
encontrado foi de 0,86 para argamassa Mi (areia média e quantidade de cal
intermediária). Cabe salientar que a argamassa Mi apresentou um dos menores valores
de resistência à compressão, demonstrando a importância e a necessidade de estudar o
desempenho das argamassas como junta de assentamento.
ABSTRACT
This work aims at evaluating the influence of variations in lime content and particle size
distribution of sand, within usual standardized limits, in both plastic and hardened state
of cement-lime based mortars for structural concrete block masonry. Properties studied
in plastic state were: water retention, consistency, entrained-air content and workability
(GTec Test). In hardened state, compressive strength and modulus of elasticity were
analyzed in both mortar specimens and masonry prisms of concrete block. Results had
shown that workability is influenced by both particle size distribution and lime content.
Lime content also influenced water retention of mortars. In hardened state, the higher
efficiency factor found was 0.86 for mortar Mi (average grading sand and average lime
content) in spite of this, mortar Mi presented a lower compressive strength. Such fact
confirms the importance and the need of further research on bedding mortars
performance of structural masonry.
- 414 -
Keywords: bedding mortar, structural masonry, concrete block, lime, particle size
distribution.
1. INTRODUÇÃO
Na opinião da maioria dos autores (SABBATINI, 1986; CINCOTTO, SILVA e
CARASEK, 1995; SOLÓRZANO, 1994; GALLEGOS, 1989; GREEN et al, 1999;
THOMSON e GODBEY, 2003a, 2003b), a granulometria da areia e a quantidade de cal
influenciam as propriedades das argamassas mistas para assentamento.
Com relação a granulometria da areia, segundo Gallegos (1989), há evidências de que
as areias grossas aumentam a resistência à compressão e produzem argamassas ásperas,
enquanto que as areias muito finas reduzem a resistência à aderência. Sabbatini (1986)
recomenda que a areia deve apresentar granulometria contínua e ser classificada como
média (módulo de finura entre 1,8 e 2,8).
De uma forma geral, o aumento da quantidade de cal, influencia positivamente na
trabalhabilidade, porém pode ocorrer uma diminuição da resistência à compressão pela
demanda excessiva de água (CINCOTTO, SILVA e CARASEK, 1995).
Com relação à normalização, não existe um consenso em relação ao traço que deveria
ser utilizado para argamassas de assentamento. A NBR 8798 - Execução e controle de
obras em alvenaria estrutural de blocos vazados de concreto (1985) especifica que o
agregado deve atender às especificações da NBR 7211 - Agregado para concreto
(1987). A granulometria dos agregados deve estar dentro dos limites de somente uma
das quatro zonas, porém a referida norma não especifica em qual dessas zonas
especificadas a granulometria para argamassas de assentamento deve estar. As normas
britânica e americana, BS – 1200 e ASTM C – 144, também apresentam limites
especificamente recomendados para a granulometria das areias destinadas a argamassas
de assentamento. Entretanto, estes limites são muito abrangentes levando a
possibilidade de uso de areias com finuras muito distintas (módulos de finura entre 1,70
e 2,95).
A determinação das proporções dos materiais constituintes das argamassas de
assentamento, segundo a NBR 8798 (1985), deve atender exigências para algumas
propriedades. Entretanto, essa norma não sugere composições para argamassa de
assentamento tais como as normas britânicas e americanas. Devido a isso, normalmente
têm-se adotado traços típicos recomendados por estas duas normas estrangeiras.
A norma americana ASTM C 270-86b (1987) preconiza que as argamassas para
assentamento para alvenaria estrutural devem atender as especificações da ASTM C 91,
que as classifica em M, S, N e O conforme o traço. A quantidade de cal no traço varia
de 0 a 2, em volume, e a quantidade de agregado miúdo, de 2,25 a 3 vezes o volume de
cimento e cal. Adicionalmente impõe faixas de resistência à compressão, retenção de
água e ar incorporado.
A norma britânica BS 5628: Parte 1 (1992) especifica as classes de cada tipo de
argamassa (i, ii, iii e iv), as proporções (em volume) dos materiais, quantidade de cal no
traço variando de 0 a 2 e a quantidade de agregado miúdo entre 3 a 9 para argamassas
de assentamento para alvenaria estrutural.
Como pode ser observado, existem faixas de utilização recomendadas por diversas
normas. Porém, estas faixas são bastante amplas para poderem contemplar o uso de
materiais distintos encontrados regionalmente e ainda existem dúvidas sobre o real
desempenho das argamassas quando são variadas as quantidades de cal e as
granulometrias dentro dos limites usualmente estabelecidos. Além disso, existem
poucos trabalhos que tratam da influencia dessas variações nas propriedades do estado
- 415 -
endurecido em prismas de blocos de concreto tais como fator de eficiência e módulo de
elasticidade.
Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a influência das
variações da quantidade de cal e da granulometria do agregado miúdo, dentro dos
limites usualmente estabelecidos, nas propriedades no estado fresco e endurecido das
argamassas mistas (cimento, cal e areia) para assentamento de blocos de concreto de
alvenaria estrutural, visando estabelecer composições mais adequadas à otimização de
suas propriedades, tanto no estado fresco quanto endurecido.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
- 416 -
Tabela 3 - Características dos agregados miúdos
Material Areia Fina Areia Média Areia Grossa
Módulo de finura 1,71 2,09 2,67
Massa específica (g/cm3) 2,63 2,63 2,63
Massa Unitária (g/ cm3) 1,333 1,335 1,335
10
20
%Acumulada Retida
30
40
50
60
70
80
90
100
Fundo 0,15 0,3 0,6 1,2 2,4 4,8 6,3 9,5
Abertura da peneiras (mm)
BS Superior BS Inferior Areia Média Areia Fina Areia Grossa
- 417 -
No dia anterior à produção das argamassas mistas, era feita a complementação da
maturação da cal através da mistura desta com areia úmida com teor de umidade de
10%.
Os materiais para as argamassas mistas eram colocados na betoneira da seguinte ordem:
primeiramente colocava-se a areia e a cal (já pré-misturadas), em seguida colocava-se o
cimento e por último adicionava-se a água até atingir a trabalhabilidade ideal para o
assentamento. O tempo de mistura era cerca de 7 minutos com repouso de
aproximadamente 1 minuto para raspagem do material retido nas paredes da betoneira.
A quantidade de material utilizada para a produção das argamassas está apresentada na
Tabela 5.
- 418 -
2.4 Confecção e Ensaio à Compressão dos Prismas
No ensaio de prisma, eram confeccionados, segundo a NBR 8215 (1983), quatro
prismas (com três unidades de altura) para cada tipo de argamassa. Estes prismas foram
destinados ao ensaio de resistência à compressão axial e módulo de elasticidade, cujo
objetivo era avaliar a influência no fator de eficiência, mecanismo de ruptura das
alvenarias e deformação das diferentes argamassas utilizadas. Os ensaios eram
realizados aos 28 dias de idade.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Observando-se a Tabela 6, pode-se notar que existe uma variação do valor do índice de
consistência (flow table) nas argamassas estudadas para a obtenção de uma argamassa
trabalhável pela opinião do assentador e medidos pelo GTec Teste. Um exemplo disso
são as argamassas Fi e Mg que, apesar de possuírem uma trabalhabilidade similar tanto
no Gtec Teste quanto pela avaliação subjetiva do assentador, apresentaram índices de
consistência (flow table) bastantes distintos.
Na Figura 2 pode ser observada a espessura do filete conforme a aplicação da energia
para a obtenção da junta de 1cm para as argamassas estudadas. Esta figura permite
analisar a plasticidade destas argamassas, que influencia diretamente na sua
trabalhabilidade (ver descrição CASALI et al., 2003; CASALI, 2003).
2 2
Fi Mm
Espessura do Filete (cm)
1,8 Mi 1,8 Mi
Gi Mg
1,6 1,6
1,4 1,4
1,2 1,2
1 1
0,8 0,8
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4
Energia (J) Energia (J)
(a) (b)
Figura 2 – Espessura do filete (cm) versus energia (J): (a) argamassas com granulometrias
diferentes e (b) argamassas com diferentes teores de cal.
- 419 -
Dentro das faixas de variação estudadas, a granulometria do agregado utilizado
influenciou a trabalhabilidade de uma forma coerente. Quanto maior a finura, menor a
energia utilizada para obter a espessura da junta de 1cm (Figura 2a) e maior o índice de
plasticidade em módulo (Tabela 6). Deve ser salientado que a variação da
trabalhabilidade entre as argamassas com areia média e grossa foi muito pequena. Com
relação à cal, para a argamassa com o maior teor, menor também a energia para obter a
espessura de 1cm (Figura 2b) e maior o índice de plasticidade em módulo (Tabela 6).
Porém, entre as argamassas com teor de cal intermediário e magro o comportamento
não manteve a mesma tendência.
Cabe salientar que, no momento da realização do programa experimental, a diferença na
trabalhabilidade das argamassas com as distintas granulometrias foi detectada
subjetivamente pelo assentador, porém o mesmo não aconteceu com relação ao teor de
cal.
Já os valores de retenção de água encontrados para as argamassas estudadas
apresentaram uma sensível diferença com a variação da quantidade de cal (Tabela 6).
Os teores de ar incorporado foram influenciados tanto pela granulometria do agregado,
quanto pelos teores de cal. Quanto menor o teor de cal e menor a finura da areia, maior
o teor de ar incorporado.
- 420 -
compressão. Entretanto, para o módulo de elasticidade de prismas com as argamassas
estudadas não foi possível visualizar nenhuma tendência com relação à granulometria
da areia, à quantidade de cal e nem a sua resistência. Isto pode ter sido conseqüência da
variação inerente do módulo de elasticidade entre os blocos utilizados nos prismas além
de pequenas variações na espessura das juntas de argamassa.
6,00
5,00
4,00
Tensão (MPa)
3,00
2,00
1,00
0,00
0,0000 0,0002 0,0004 0,0006 0,0008 0,0010 0,0012 0,0014
Deformação Específica
Mm Fi Mi Gi Mg
9,00
8,00
7,00
6,00
Tensão (MPa)
5,00
4,00
3,00
2,00
1,00
0,00
0,0000 0,0001 0,0002 0,0003 0,0004 0,0005 0,0006 0,0007 0,0008 0,0009 0,0010
Deformação Específica
Mm Fi Mi Gi Mg
4. CONCLUSÕES
Com os resultados obtidos nas propriedades do estado fresco pode se concluir que a
granulometria da areia influenciou a trabalhabilidade (medidas pelo GTec Teste) de
uma forma mais sistemática do que o teor de cal. Por outro lado, a retenção de água foi
influenciada pela quantidade de cal. Isto significa que o aumento no teor de cal das
argamassas pode não implementar a sua trabalhabilidade mas pode aumentar o tempo
em aberto destinado ao assentamento dos blocos.
Em relação às propriedades no estado endurecido, observou-se que a resistência à
compressão das argamassas foi influenciada principalmente pela relação água/cimento e
granulometria da areia. A quantidade de cal, nos teores estudados, não influenciou
significativamente os resultados de resistência à compressão. O módulo de elasticidade
- 421 -
encontrado nas argamassas apresentou o mesmo comportamento da resistência à
compressão e foram proporcionais. Porém, os módulos de elasticidade dos prismas não
foram influenciados pela granulometria, quantidade de cal e nem foram proporcionais a
sua resistência. Este fato mostra a importância de conhecer o real desempenho das
argamassas como junta de assentamento.
O maior fator de eficiência encontrado foi para argamassa Mi de 0,86. Cabe salientar
que a argamassa Mi apresentou trabalhabilidade adequada (GTec Teste) no estado
fresco e a resistência à compressão foi uma das menores encontradas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CALÇADA, L. M. L. Avaliação do comportamento de prismas grauteados e não
grauteados de blocos de concreto. 1998. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) -
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
CASALI, J., M.; CALÇADA, L. M. L; PRUDÊNCIO JR, L. R. Metodologia alternativa
para a avaliação da trabalhabilidade de argamassas de assentamento para a alvenaria
estrutural de blocos de concreto em obra e laboratório. Anais do VII International
Seminar on Structural Masonry for Developing Countries, 51-58. Belo Horizonte, 2002.
CASALI, J. Estudo comparativo de tipos de argamassa de assentamento para alvenaria
estrutural de blocos de concreto. Florianópolis, 2003. Dissertação apresentada ao Curso
de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Catarina.
CASALI, J. M.; WEIDMANN, D. F.; ANSELMO JR, A.; PRUDÊNCIO JR, L. R.
Efeito da incorporação de ar nas propriedades de uma argamassa industrializada para
assentamento de blocos de concreto para alvenaria estrutural. Anais do V Simpósio
Brasileiro de Tecnologia das Argamassas. p. 273-284, São Paulo, 2003.
CINCOTTO, M. A.; SILVA, M. A. C.; CARASEK, H. Argamassa de revestimento:
características, propriedades e métodos de ensaio. Boletim 68. Instituto de Pesquisa
Tecnológicas. São Paulo, 1995.
GALLEGOS, H. Albañileria Estrutural. Pontificia Universidade Católica do Peru. Lima,
1989. 483p.
GRENN, K.M.; CARTER, M. A.; HOFF, W.D.; WILSON, M.A. The effects of lime
and admixtures on the water-retaining properties of cement mortars. Cement and
Concrete Research 29, 1743-1747, 1999.
PRUDÊNCIO JR, L. R.; OLIVEIRA, A. L.; BEDIN, C. A. Alvenaria estrutural de
blocos de concreto. Editora Gráfica Paloti. Florianópolis, 2002, 207p.
SABBATINI, F. H. Argamassa de assentamento para paredes de alvenaria resistente.
Boletim Técnico da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1986.
SOLÓRZANO, M. G. P. Características e desempenho de juntas de argamassa na
alvenaria estrutural de blocos de concreto. 1994. Dissertação (Mestrado em Engenharia
Civil) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo.
THOMSON, M. L.; GODBEY, R. J. Proportioning cement-lime masonry mortar mix
designs using water retention testing for the purpose of improving mortar workability.
Ninth North American Masonry Conference, 1043-1051, Clemson, South Carolina,
USA, 2003a.
THOMSON, M. L.; GODBEY, R. J. Effect of adding hydrated lime to masonry cement
mortar on physical properties. Ninth North American Masonry Conference, 1012-1021,
Clemson, South Carolina, USA, 2003b.
- 422 -