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AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DO TEMPO DE UTILIZAÇÃO E DA ADIÇÃO DE

ÁGUA NA ARGAMASSA INDUSTRIALIZADA

EIJI FUKUI (1); WALESKA BARBOSA (2)

(1) VOTORANTIM CIMENTOS – Votomassa – eiji.fukui@vcimentos.com.br; (2) PIPE/UFPR –


Universidade Federal do Paraná – waleskabarbosa81@gmail.com.

RESUMO

O uso de argamassas industrializadas transmite à construtora segurança na


procedência e na qualidade do produto, quando utilizada conforme as especificações
dos fabricantes. Contudo, nos canteiros de obras muitas vezes não são respeitados o
tempo de utilização do produto, tampouco a indicação adequada de água. O objetivo
deste trabalho é avaliar o desempenho da argamassa industrializada com distintos
tempos de aplicação e maior adição de água, simulando o cenário dos canteiros de
obra, até que a argamassa atinja a trabalhabilidade para a aplicação. A argamassa foi
misturada mecanicamente e aplicada conforme a indicação do fabricante,
posteriormente misturadas manualmente (enxada) e aplicada após 1, 2 e 3 horas da
mistura inicial e com adição de 0,4%, 0,6% e 1,26% de água, respectivamente. Os
resultados indicaram que o teor água e o tempo de utilização influenciaram no
comportamento da argamassa no estado fresco. No estado endurecido, contudo, o
teor de água apresentou-se mais relevante. A amostra com 3 horas precisou de maior
quantidade de água para ser aplicada, mas isso não afetou o desempenho do produto
no estado endurecido.

Palavras-chave: desempenho, argamassa industrializada seca, tempo de utilização.


PERFORMANCE EVALUATION OF INDUSTRIALIZED MORTAR: USE TIME AND
ADDITION OF WATER

ABSTRACT

The use of industrial mortars transmits to the client confidence or safety and quality of
the product, when they used according to manufacturers' specifications. However, at
the construction site they did not respect the time to use the product and the
adequate indication of water. The objective of this study was to evaluate the
performance of industrialized mortar with different application times and water
addition, simulating the scenario at construction sites until the mortar reaches the
workability to apply. The mortar was mixed by mechanical machine and applied as
indicated by the manufacturer, after one hour the mortar was mixed manually with a
hoe and applied, this procedure have done for two and three hours of initial mixing
and with addition of 0.4%, 0.6% and 1.26% of water, respectively. The results indicated
that the water addition and use time influence the behavior in fresh state, however in
the hardened state the water content had become more relevant. The sample with 3
hours presented the lowest performance, but it still can be applied.

Keywords: performance, industrialized mortar and uptime.


1. INTRODUÇÃO

A utilização de argamassas industrializadas reporta à construtora segurança, em


relação tanto à procedência quanto à qualidade do produto, bem como no
desempenho do produto. Para que isso ocorra, é necessário que a argamassa seja
utilizada conforme as especificações dos fabricantes.

Contudo, existem obstáculos a serem superados dentro dos canteiros de obra. Entre
eles, pode-se citar o tempo máximo de utilização da argamassa no estado fresco, assim
como a elevada adição de água, não respeitando o teor de água indicado pelo
fabricante, fatores que interferem no desempenho do produto.

Outro aspecto importante é a energia de mistura empregada para a homogeneização


da argamassa, tendo em vista que as argamassas industrializadas secas possuem
aditivos que podem ser otimizados a partir de maior energia aplicada.

Nos primeiros instantes, a argamassa está suscetível à perda de água por evaporação,
devido às condições do ambiente (1,2). O efeito da evaporação pode até ser desprezível
para poucos minutos após a mistura e em condições de laboratório (3). Entretanto,
quando reportamos aos canteiros de obras, as condições de armazenagem, vento,
umidade relativa e temperatura são difíceis de serem controladas, agindo geralmente
de forma prejudicial, intensificando a evaporação da água da argamassa após a
mistura e promovendo perda de trabalhabilidade.

Desta forma, nas argamassas industrializadas secas são empregados aditivos não
apenas com a finalidade de melhorar a qualidade do produto, mas também propiciar
que o mesmo possa ser utilizado por período prolongado. Os aditivos éteres de
celulose e incorporador de ar são os mais empregados nos revestimentos de
argamassas industrializadas.
A principal ação dos éteres de celulose, no estado a fresco, é aumentar
consideravelmente a retenção de água para que a água de amassamento não seja
absorvida rapidamente pelo substrato, garantindo assim as propriedades mecânicas
(4)
no estado endurecido . Todavia, esse aditivo também atua na diminuição da
segregação devido à alteração da consistência, reduzindo a separação entre as fases
matriz (partículas inferiores a 100 µm) e estrutura granular (agregados).

Os aditivos incorporadores de ar contribuem na plasticidade, aumentam o rendimento


(5,6)
e possibilitam redução na quantidade de água de amassamento . A energia de
mistura para esse aditivo é relevante e pode alterar significantemente as propriedades
no estado fresco e endurecido.

As bolhas de ar incorporadas na argamassa, principalmente as maiores, tendem a subir


(5)
para a superfície , isto em função do tempo e sem nenhuma energia de mistura
empregada pode gerar a redução na plasticidade da argamassa.

Ainda neste sentido, o aditivo retentor de água dificulta a expulsão do ar incorporado


devido à sua capacidade de propiciar maior viscosidade à matriz(4). Dessa forma, ele
emprega duas funções importantes nas argamassas que estão aguardando para serem
utilizadas, seja diminuindo a segregação, seja dificultando a expulsão do ar. Contudo, é
inevitável que a argamassa reduza sua plasticidade com o passar de horas exposta a
condições agressivas, gerando uma reestruturação do sistema devido à perda de água
e ar.

Assim, a mistura empregada após longos períodos de tempos decorridos da mistura


inicial deve ser tal que permita a reincorporação de ar e possibilite a menor adição de
água possível, garantindo que esta adição, quando necessária, esteja dentro da
margem adicional indicada pelo fabricante.
1.1. Objetivo

O objetivo do presente trabalho é avaliar o desempenho da argamassa industrializada


seca com distintos tempos de utilização para aplicação e maior adição de água.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

A argamassa de revestimento utilizada possui densidade de massa específica de 2,77


g/cm3. O teor de água utilizado inicialmente para o produto foi de 16,8%, sendo a faixa
indicada pelo fabricante entre 16,3 a 17,3%.

A argamassa é composta por cimento Portland, filler calcário, areia fina, areia média, e
os aditivos retentor de água e incorporador de ar. A distribuição granulométrica da
argamassa encontra-se na Figura 1.

Figura 1 – Distribuição Granulométrica

Distribuição Granulométrica da Argamassa Multiplo Uso


10

7
Freqüencia (%)

0
0,1 1 10 100 1000 10000
Diâmetro (µm)

A argamassa foi misturada mecanicamente em um misturador UEZ 73730, Toni


Technik, com capacidade de 200 kg. Foram misturados 150 kg (três sacos de 50 kg) por
1 minuto e 30 segundos. A sequência de material adicionado na mistura foi: 1°)
metade do material particulado; 2°) metade da água; 3°) o restante do material; 4°) e,
por último, a água remanescente.

O material foi dividido em 4 caixas plásticas contendo 35 kg em cada uma. Logo após a
mistura inicial, denominado de tempo 0 (zero) hora, foi separado 7,5 kg para análise
em laboratório e o restante foi aplicado in loco.

As análises no estado fresco em laboratório consistiram em: densidade de massa no


(8)
estado fresco e teor de ar incorporado ; moldagem para os ensaios de resistência à
tração na flexão e na compressão(9), contemplando três repetições apenas para 28 dias
de idade; e a execução do ensaio squeeze-flow(10), sendo a taxa de deslocamento de
0,1mm/s e com 3 repetições para cada amostra.

Os ensaios realizados no estado endurecido foram: resistência de aderência a


tração(11); resistência à tração na flexão e na compressão(9); e módulo de elasticidade
dinâmico(12).

Após aplicação in loco da argamassa tempo 0 horas e os ensaios no estado à fresco,


foram realizados as aplicações e ensaios descritos acima para os tempos de 1, 2 e 3
horas em relação ao tempo inicial. Enquanto as amostras esperavam para serem
ensaiadas, em seus respectivos tempos, permaneceram em laboratório com
temperatura de 23°C ± 2 e umidade relativa de 60 % ± 5. As argamassas só foram
retiradas do laboratório para a aplicação in loco.

As remisturas para esses três últimos intervalos de tempo (1, 2 e 3 horas) foram
realizadas com auxílio de uma enxada e dentro do laboratório. À medida que a
consistência não atingia a trabalhabilidade inicial, o aplicador foi adicionando a água
conforme julgava necessário.
Neste ponto, o empirismo prevaleceu. Ainda assim, a ideia é avaliar o quanto o
aplicador jugou ser necessário acrescentar de água a fim de que a argamassa obtivesse
a consistência inicial.

O squeeze-flow e a densidade de massa no estado fresco foram realizados com as


argamassas antes da remistura (sem a adição de água) e logo após a remistura (com a
adição de água).

O equipamento utilizado no ensaio squeeze-flow foi uma máquina universal, Instron


3369, e a célula de carga de 5 kN, sendo o deslocamento máximo da placa de
compressão de 9 mm.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

O teor de água inicial da mistura (tempo 0h) para a primeira aplicação in loco e os
ensaios a fresco (squeeze-flow e densidade de massa) foi de 16,8%. Após uma hora
foram realizados novamente os ensaios à fresco e remistura com a adição de mais
0,4% de água, resultando em um teor de água de 17,2% para o tempo 1h, repetindo os
ensaios a fresco e a aplicação in loco.

Após duas horas, foi realizado o mesmo procedimento para o tempo de 1 hora, porém
foi necessário acrescentar 0,6%, ou seja 17,4% de água na mistura para o tempo 2h. Às
três horas decorridas, como esperado, gerou perda de trabalhabilidade superior aos
tempos anteriores, sendo necessário maior esforço para remistura-lá e maior
quantidade de água 1,2%, resultando no teor de 18% de água. É relevante ressaltar
que toda a perda de água resultante da evaporação não foi computada neste estudo.

As densidades de massa no estado a fresco encontram-se na Figura 2, tanto para as


amostras anteriores a adição de água, como para as amostras após a adição, nos 4
intervalos de tempo analisados. Na mesma figura pode-se observar também o
resultado de ar incorporado.

Figura 2 – Densidade de massa à fresco e teor de água incorporado

densidade de massa sem adição de água teor de ar sem adição de água


densidade de massa com adição de água teor de ar com adição de água
Densidade de Massa à fresco

2 22

Teor de Ar Incorporado (%)


1,9 20

18
(g/cm3)

1,8

1,7 16

1,6 14

1,5 12
0 1 2 3
Tempo (horas)

Considerando o cenário sem a adição de água, a densidade de massa a fresco


aumentou em função do tempo e o ar incorporado diminuiu. Contudo, a argamassa
apresentou maior estabilidade para o tempo 1h (1 hora), sendo que o aumento na
densidade e o decréscimo no teor de ar foram praticamente desprezíveis, 0,01 g/cm3 e
0,6%, respectivamente. Isso significa que a incorporação de ar inicial favorecida pelo
aditivo incorporador de ar permaneceu praticamente estável. Ainda assim, essa
estabilidade pode ter sido aumentada devido aos dois aditivos utilizados, cujo retentor
de água também colabora ao dificultar a saída do ar, devido à viscosidade fornecida
para o sistema(4). Para o tempo 2h e 3h (2 e 3 horas), o aumento tanto da densidade
quanto do ar são maiores.

O acréscimo de água para a tempos 1h, 2h e 3h foi necessário para possibilitar a


aplicação in loco. Somente com a remistura, as argamassas não atingiram a
trabalhabilidade necessária, conforme o aplicador. Na amostra com tempo 1h, a água
adicionada resultou dentro da faixa de trabalho indicada pelo fabricante para o
produto, 16,3 a 17,3%, em relação a massa total de sólidos. Para esta amostra, a água
adicionada foi de 17,2% que, juntamente com a remistura, acarretou na redução da
densidade e, por conseguinte, o aumento do ar incorporado. O mesmo ocorreu para a
amostra com tempo 2h, cujo teor de água resultante ficou também muito próximo da
faixa de trabalho, 17,4%.

Na amostra com tempo de utilização de 3 horas, foi necessário acrescentar mais 1,2%
de água, resultando em 18%, para que o aplicador considerasse que a trabalhabilidade
do produto estivesse semelhante à inicial.

A densidade para a amostra com o tempo 3h e com a adição de água resultou muito
próxima da densidade da amostra inicial, porem ocorrendo um decréscimo no ar
incorporado, que pode ser atribuído à água adicional. Apesar de autores (5,6) afirmarem
que existe influência do teor de água na incorporação de ar, este ainda é um assunto
pouco explorado na literatura. Contudo, no trabalho de Romano(6) foi verificado que
1% a mais de água também acarretou no efeito de redução do ar incorporado.

A Figura 3 apresenta os resultados do squeeze-flow para as amostras sem a adição de


água e com a adição de água, o que possibilitou a visualização do efeito conjunto da
remistura e do acréscimo de água na plasticidade das amostras.

O efeito do tempo de espera pode ser observado na Figura 3 - A, cujo deslocamento


máximo e o ponto de enrijecimento, mudança drástica de angulação da curva,
diminuem em função do tempo.

O deslocamento máximo para a amostra inicial, tempo 0h, foi de 7,7 mm, o tempo de
espera influenciou no deslocamento máximo para as demais amostras, o que indica
que ocorreu perda de trabalhabilidade. O decréscimo no deslocamento máximo foi de
aproximadamente de 9% para a amostra com 1 hora, 18% para o tempo de utilização
de 2 horas, e 48% para a amostra com tempo de 3 horas.
Em relação ao deslocamento referente ao enrijecimento, que indica resistência ao
fluxo da amostra e resulta em aumento na carga necessária para manter a taxa de
deformação, pode-se observar que o ponto de enrijecimento para os tempos 1h, 2h, e
3h reduziu em relação ao tempo 0h na proporção aproximada de 13%, 32% e 61%,
respectivamente (Figura 3 –A).

Figura 3 – Curvas das amostras para os distintos tempos de utilização no squeeze-flow:


A) antes do acréscimo de água, sendo o teor de água inicial de 16,8%; B) após a
remistura com a adição de água – CA.

6000
5500 16,8 %
t_0h_0,1mm/s A
5000
t_1h_0,1mm/s
4500
4000 t_2h_0,1mm/s
Carga (N)

3500
t_3h_0,1mm/s
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
6000 Deslocamento (mm)
t_0h_0,1mm/s 0h_16,8 % B
5500
5000 t_1h_0,1mm/s_CA
4500
4000 t_2h_0,1mm/s_CA
Carga (N)

3500 t_3h_0,1mm/s_CA 3h_18,6 %


3000
2500
2000
1500
1000 1h_17,2 % 2h_17,4 %
500
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Deslocamento (mm)

Na Figura 3 – B estão apresentados os resultados para as amostras com o acréscimo de


água após a remistura. Percebe-se que, a despeito do empirismo na obtenção da
trabalhabilidade, remistura na enxada e água adicional de acordo com o sentimento
do aplicador, os perfis de curvas foram muito semelhantes. Aqui, avaliar a influência da
adição de água e do ar incorporado fica mais complexa devido à proximidade entre as
curvas. Ainda assim, é possível obter algumas conclusões.

A amostra com 18% de água e 16,9% de teor de ar incorporado, tempo 3h, apresentou
maior resistência ao fluxo. Isso pode ser atribuído à menor deficiência em lubrificação
entres as partículas, resultante da menor incorporação de ar. Por outro lado, a
amostra com tempo de 2 hora, a qual apresentou incorporação de ar de 19,6% e teor
de agua final de 17,4% apresentou maior facilidade de fluxo.

Na figura 4 está apresentado a relação entre ar incorporado e o ponto de


enrijecimento para as amostras com e sem adição de água. Observa-se que a redução
de até 4,6% no teor do ar incorporado, para as amostras sem a adição de água,
influencia significativamente na resistência ao fluxo, que por sua vez diminui o
deslocamento da amostra antecipando o ponto de enrijecimento.

Figura 4 - Ar incorporado versus deslocamento no ponto de enrijecimento (curva do


squeeze-flow).
22
y = 3,3824x - 2,6529
Teor de Ar Incorporado (%)

20 R² = 0,2979

sem adição de água


18

16 com adição de água

14 Linear (sem adição


y = 1,1789x + 11,575
de água)
R² = 0,9889
12 Linear (com adição
de água)
10
2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 5,5 6 6,5 7
Deslocamento no ponto de enrijecimento (mm)

Contudo, não se pode atribuir o aumento da resistência ao fluxo em função do tempo


somente ao ar incorporado. Está claro que existe a coalescência e expulsão das bolhas
de ar em função do tempo, mas existe também o efeito oculto do aumento de água
evaporada em função do tempo.

Ainda na Figura 4, observa-se que, para as amostras com adição de água, os efeitos
dos teores de ar no ponto de enrijecimento apresentaram-se muito próximo,
demonstrando mais uma vez que os perfis reológicos foram semelhantes.

Em termos de aplicabilidade e trabalhabilidade no estado fresco, todas as argamassas


com adição de água apresentaram facilidade de aplicação, boa adesão inicial (sem
deslocamento ou movimentação ao ser lançada na parede) e tempos de “puxamento”
(relativo ao tempo para a execução do nivelamento e acabamento) semelhantes.

O efeito das adições de água no desempenho das amostras no estado endurecido


pode ser observado nos resultados seguintes: para a análise quanto à resistência de
compressão, Figura 5, observa-se um decréscimo na resistência com o aumento do
teor água.

Figura 5 – Resultados de resistência à compressão para os tempos de utilização, 0h, 1h,


2h, e 3h, com teor final de água de 16,8%, 17,2%, 17,4% e 18%, respectivamente.
Valores máximos, médios e mínimos.
máximo mínimo média
6,5
Resistência à compressão (MPa)

6
5,5
5
4,5
4
3,5
3
0 1 2 3
Tempo (horas)

A maior diferença no resultado de resistência à compressão foi para o tempo 0h,


apresentando valores mais elevados. Para os tempos de 2h e 3h o resultado foi
praticamente igual, considerando que o primeiro apresentou 17,4% de teor de água e
19,8% de ar incorporado, e o segundo com 18% de água e 16,4% de ar, a porosidade
resultante no estado endurecido pode ter resultado em valores semelhante. Contudo,
no presente trabalho, não foi avaliada a porosidade total ou índice de vazios das
argamassas.

Na sacaria da argamassa analisada é classificada de acordo com a NBR 13281/2005


como “P4”, ou seja, a argamassa deve apresentar a resistência à compressão entre 4 e
6,5 MPa. É relevante ressaltar que todos os resultados de resistência à compressão
estão dentro da faixa de especificação da argamassa.

O teor de água somado ao teor de ar no estado fresco pode apresentar relação direta
com a porosidade total da argamassa endurecida, que por sua vez determina a relação
com o módulo elástico e com a permeabilidade(7). Para o presente trabalho, o teor de
água apresentou maior relação com o módulo elástico do que o teor de ar incorporado
(Figura 6). Quando comparada a soma de ambos os teores com o módulo, a relação foi
praticamente zero para as argamassas com adição de água.

A Figura 7 apresenta os resultados de resistência de aderência à tração para as quatro


amostras com tempo de utilização distintos, tempo 0h, 1h, 2h e 3h. Foram ensaiadas
24 amostras por aplicação. Conforme prescrito na NBR 13749, da série de 12
resultados podem-se excluir até 4 valores. Desta forma, para a aceitação de um
revestimento de argamassa deve-se ter no mínimo 66,66% de resultados válidos. Com
a finalidade de aumentar a confiabilidade dos resultados, da série de 24 corpos-de-
prova foram excluídos de 0 a 4 valores, desde que inferiores à resistência de 0,20 Mpa.
Assim, cada amostra apresentou no mínimo 83,32% de resultados válidos. O
coeficiente de variação foi calculado e encontra-se juntamente com os valores de
máximo, mínimo e a média para cada aplicação.
Figura 6 – Módulo de Elasticidade Dinâmica versus Teor de água e Teor de ar
incorporado.
8
y = 0,1472x + 4,2885
Módulo Elástico Dinâmico (GPa)

7,5 R² = 0,1125 Módulo Elastico


versus Teor de
água
7
Módulo Elastico
6,5 versus Teor de
ar
6 Linear (Módulo
y = -1,0553x + 25,369 Elastico versus
5,5 R² = 0,6644 Teor de água)
Linear (Módulo
5 Elastico versus
16 17 18 19 20 21 Teor de ar)
Teores (%)

Figura 7 – Resistências de aderência à tração para os tempos de utilização, 0h, 1h, 2h,
e 3h, com teor final de água de 16,8%, 17,2%, 17,4% e 18%, respectivamente. Valores
máximos, médios e mínimos.

0,9
cv 26,58%
Resistência de aderencia a tração (MPa)

0,8
cv 30,91%
0,7

0,6

0,5

0,4

0,3

0,2
cv 27,10% cv 32,76%
0,1

0
0 1 2 3
Tempos (horas)

Alves(5) afirma que o aumento no teor de ar incorporado promove redução na


resistência de aderência à tração dos revestimentos, em seu trabalho a variação de ar
encontrada foi de 21% a 30%. Entretanto, essa tendência não pôde ser observada nas
amostras analisadas, talvez devido ao fato da variação ser inferior ao do autor, entre
14,4 a 19%.

É relevante citar que a argamassa com 3 horas foi a única na qual foi necessário
acrescentar mais água do que o indicado pelo fabricante. Apesar da argamassa
presentar menor incorporação de ar à medida que o tempo de espera aumentou, a
água adicionada em conjunto com a energia de remistura possibilitou atingir a
consistência inicial.

Conforme a análise de variância (ANOVA) para fator duplo sem repetição, tanto o
tempo de espera como a adição ou não de água influenciam significativamente no teor
de ar incorporado. O valor de “F” (39,35) para a variável tempo (1, 2 e 3 horas) é
superior ao F crítico (19,00), indicando que o tempo de espera influência no teor de ar
obtido. Assim como a não adição de água e a adição influenciam no teor de ar
resultante, sendo “F” (44,90) maior que F crítico (18,51).

Assim, para o cenário avaliado e a partir dos resultados apresentado, o tempo de


utilização e a adição de água influenciam no comportamento reológico, alterando a
trabalhabilidade, densidade e o teor de ar incorporado.

Por outro lado, os tempos de espera e a adição de água não influenciaram no


desempenho do produto no estado endurecido. Em relação ao desempenho das
argamassas, os valores da resistência de aderência à tração apresentaram-se
satisfatórios, acima do exigido por norma e com o coeficiente de variação (cv)
aceitável. O mesmo foi verificado para os resultados de resistência à compressão.

4. CONCLUSÕES

O comportamento reológico da argamassa analisada é influenciado pelo tempo de


espera para a utilização e possui relação direta com a perda de ar incorporado. Em
relação à aplicação in loco, a remistura e a adição de água são relevantes para que a
argamassa apresente um comportamento reológico adequado.

Ainda no estado a fresco, os intervalos de tempo de 2 horas e 3 horas são os mais


afetados pela perda de trabalhabilidade, e pode ser atribuído em maior parte à
expulsão do ar incorporado. Por outro lado, o maior teor de água pode inibir a
incorporação de ar, conforme verificado para o tempo de utilização de 3 horas.

O uso de um aplicador experiente, apesar do empirismo na obtenção da


trabalhabilidade, pode resultar em comportamentos reológicos muito semelhantes
nos distintos tempos de espera para a utilização. Entretanto, será que os aplicadores
de argamassa nos canteiros de obra possuem experiência e sensibilidade semelhantes
para obter o mesmo resultado? Para melhor avaliação desse estudo seria interessante
expandi-lo utilizando diferentes aplicadores, assim como considerar também as perdas
de trabalhabilidade por evaporação.

Quanto aos resultados no estado endurecido, todas as argamassas analisadas


apresentaram desempenho satisfatório, sendo que o teor de água apresentou maior
influência sobre os resultados.

Frente aos resultados apresentados, acredita-se que, ao garantir adequada reologia


para as amostras, garante-se também adequada plasticidade para aplicação,
facilitando a molhagem do substrato pela argamassa, com maior área de contato na
interface, e consequentemente adequadas resistências de aderência.

5. AGRADECIMENTOS

Agradecemos à equipe do laboratório e P&D de argamassa da Votorantim Cimentos,


em especial Silvia Regina Soares da Silva Vieira, Juvenil Borges, Elói Camargo e Gabriela
Martinez.
6. REFERÊNCIAS

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assentamento e revestimento de paredes e tetos – caracterização reológica pelo
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assentamento e revestimento de paredes e tetos – Determinação da resistência de
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assentamento e revestimento de paredes e tetos – determinação do módulo de
elasticidade dinâmico através da propagação de onda ultra-sônica. Rio de Janeiro,
2008.
13. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13749: Revestimento de
paredes e tetos de argamassas inorgânicas – Especificação. Rio de janeiro, 2013

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