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ESTUDO DA INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE POZOLANAS NO COMPORTAMENTO

MECÂNICO DA ARGAMASSA.

Larissa Faria Ribeiro, Erika Peterson Gonçalves

Universidade do Vale do Paraíba, Avenida Shishima Hifumi, 2911, Urbanova - 12244-000 - São José
dos Campos-SP, Brasil
larissafariar@hotmail.com, erika@univap.br

Resumo – Pozolanas são materiais que na presença de água reagem com o hidróxido de cálcio e
desenvolvem propriedades cimentícias. O caulim é uma pozolana natural, pois trata-se de um
argilomineral rico em silício e alumínio, é um dos seis minerais mais abundantes na crosta terrestre.
Visando essa grande abundancia o presente trabalho objetiva a incorporação desse resíduo como filler
na argamassa, em duas granulometrias diferentes. Com a adição é esperado um ganho na resistência
mecânica do material, para isso foi realizado testes de compressão axial em uma máquina de ensaios
universal. Os resíduos foram peneirados para a comprovação das especificações do fabricante, além
de secos para a redução de umidade. Os resultados obtidos mostram que independente da
granulometria do caulim ocorre um ganho na resistência, isso se deve ao fato de a pozolana ser um
agente inibidor da formação da reação álcali-sílica, além disso é observado o fato de a granulometria
ser inversamente proporcional ao ganho da resistência, já que os melhores resultados foram obtidos
na adição do caulim que possui partículas mais finas.

Palavras-chave: Pozolanas, caulim, filler, argamassa, reação álcali-sílica.


Área do Conhecimento: Engenharias – Engenharia Civil.

Introdução
As argamassas são misturas homogêneas de aglomerantes inorgânicos, agregados miúdos e água,
contendo ou não adições minerais e aditivos modificadores de desempenho, e com propriedades de
aderência e endurecimento (NBR 13281,2005); a argamassa tem um grande uso na construção civil,
desde assentamento de alvenaria (paredes), até acabamento superficial de alvenaria e concreto
(emboço e reboco) (ROCHA, 2005).
O uso da argamassa é milenar, há cerca de 6000 anos, na Babilônia, foram encontrados resquícios
de técnicas de fabricação de uma massa plástica composta por cal, gesso, areia, pedras, fragmentos
de tijolos e água que contribuíram para erguer edifícios que duraram séculos. Posteriormente os
romanos aperfeiçoaram essa técnica juntando à essa mistura um material pozolânico proveniente das
cinzas vulcânicas, esta adição era realizada antes do cozimento da cal, produzindo, então, uma
argamassa que tivesse maior durabilidade (ALMEIDA, 2010).
Esses materiais pozolânicos, as denominadas pozolanas, são materiais silicosos, ou
silicoaluminosos, que sozinhos possuem pouca ou nenhuma atividade aglomerante, mas quando
finamente divididos e na presença da água, reagem com o hidróxido de cálcio, à temperatura ambiente,
para formar compostos com propriedades aglomerantes (ASTM- C 125-03).
As pozolanas podem ser classificadas em naturais ou artificiais, sendo denominada naturais aquelas
que são de origens vulcânicas ou sedimentares, e artificiais aquelas que são reconhecidas como
materiais provenientes de tratamento térmico de produtos ou subprodutos industriais com atividade
pozolânica (NBR 5736, 1991)
O Caulim é um material proveniente de uma rocha constituída de material argiloso com baixo teor
de ferro (LUZ; CHAVES, 2000), sendo assim considerado uma pozolana natural e um argilomineral rico
em silício e alumínio; é uma pozolana de fácil acesso, haja vista que é um dos seis minerais mais
abundantes da crosta terrestre. Devido à boa reação com as propriedades dos cimentos, formando
compostos aglomerantes, o caulim, não só ele, mas os materiais pozolanicos em si, contribuem para a
melhora das propriedades da argamassa, como, por exemplo, no aumento da resistência mecânica
devido à inibição da reação álcali agregada e diminuição de poros (SANTOS, 2006). Considerando
isso, o presente trabalho visa o estudo do comportamento mecânico da argamassa em resultado da
adição de dois tipos diferentes de caulim em sua composição.

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IX Encontro de Iniciação à Docência - Universidade do Vale do Paraíba.
Metodologia
Neste estudo foram utilizados dois tipos diferentes de caulins, sendo eles denominados: Caulim
#325 e Caulim Coloidal. Ambos são caracterizados, de acordo com a NBR 5736, como materiais
pozolânicos de origens naturais; são diferidos através de sua granulometria, sendo o caulim #325
aquele retido na peneira com mesh 325 de abertura 44µm, e o caulim coloidal é aquele que possui
seus grãos dentro do intervalo de 1nm a 1µm, condição que seu próprio nome determina, já que
coloides ou coloidal são sistemas em que um ou mais componentes apresentam dimensões dentro de
1nm e 1µm (LINZ; ADAMIAN, 2000).
Ambos os materiais foram peneirados para que a condição que diferencia cada um (a granulometria)
fosse obedecida, além disso, as pozolanas e os demais materiais para a preparação da argamassa
(areia e cimento) foram secos a uma temperatura de 100 °C, eliminando assim a umidade absorvida
por eles, para que a mesma não alterasse o fator água/cimento pré-estabelecido.
O estudo foi realizado com um traço de (1:3:0,5) no qual foi adicionado, como filler, os caulins
coloidal e #325 na proporção de 2% em relação à massa total da argamassa. A composição das
amostras foi realizada conforme a tabela 1, em que os valores são expressos em porcentagem e
massa.

Tabela 1 – Composição dos traços utilizados nas amostras moldadas para o estudo

Tamanho de
Cimento Areia Água Resíduo
Amostra partícula do
(% m) (%m) (%m) (%m)
resíduo

Padrão 1,00 3,00 0,50 0,00 ---


Caulim Coloidal 1,00 3,00 0,50 0,02 44 μm
Caulim #325 1,00 3,00 0,50 0,02 1nm á 1μm

Fonte: O autor.

As moldagens dos corpos de prova para a elaboração dos ensaios mecânicos foram realizadas de
acordo com a NBR 7215 de 1996, que pré-estabelece que os moldes devem ser cilíndricos e a
superfície interna deve ser lisa e sem qualquer defeito; para o preenchimento dos moldes, conforme
dita a norma, foi necessária a divisão de enchimento em 4 partes. Com soquete normal, foram
aplicados, em cada quarto, 30 golpes uniformes, homogeneamente distribuídos.
Desmoldados após 24 horas, os corpos de prova secaram em uma solução supersaturada de
hidróxido de cálcio, já que a cal acelera a hidratação do cimento, principalmente no período de indução.
Quando é comparada a cura em meios saturados em relação à cura exposta em ambientes externos,
é possível observar um aumento significativo da resistência nos corpos de provas que foram curados
em meios saturados (SILVA, 2009).
Após os tempos de 7, 14 e 28 dias, sendo estes estabelecidos pela norma NBR 13279 de 2005, foi
realizado o ensaio de compressão axial, visto que a argamassa é ótima resistente à compressão, por
uma máquina de ensaio universal INSTRON modelo 5900-5594 à temperatura de 20 °C com velocidade
de ensaio de 1mm/min.

Resultados
A resistência da argamassa é a capacidade de resistir à tensão sem ruptura (CRISTINA et al, 2014),
entende-se por ensaio de compressão axial aquele que corresponde ao ensaio de compressão direta,
visto que a argamassa é boa quando utilizada nos esforços compressíveis.
Os resultados obtidos no ensaio demonstraram um grande aumento na resistência mecânica,
quando comparado à amostra com traço padrão; ao adicionar as pozolanas, esse aumento é observado
tanto no caulim coloidal quanto no caulim #325, possuindo maior ênfase naquele que possuí partículas
com menor granulometria, como mostra a figura 1.

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Figura 1 – Gráfico comparativo dos valores médios de compressão axial.

Fonte: O autor

Discussão
As pozolanas são normalmente utilizadas como substituição parcial do cimento ou como adição,
podendo variar os teores, em relação a massa ou volume do cimento (SILVEIRA, 1996 apud SANTOS,
2006), essa adição é denominada de filler. De acordo com Mehta (1987) apud Neto (2006),
independente do uso da pozolana, seja como filler ou como substituição do cimento, os benefícios
adquiridos são os mesmos. Um dos benefícios citados é o aumento da resistência mecânica,
demonstrado pelo gráfico na figura 1; nota-se que, independentemente do tipo do caulim, ocorre um
aumento na resistência mecânica do material quando comparado à argamassa de traço padrão,
resultando um ganho maior naquele que possui filler com uma menor granulometria.
Guedert (1989) apud Santos (2006) ressalta que a adição de pozolanas na composição do cimento
confere à argamassa uma maior durabilidade, contribuindo para a inibição da reação álcali-sílica.
Essa reação álcali-sílica surge quando a solução alcalina da pasta de cimento (ou de alguma fonte
externa) reage com alguns minerais do grupo de quartzo e certos tipos de vidro (SANTOS, 2006),
causando efeitos altamente prejudiciais à argamassa; essa reação é de caráter expansivo, o que leva
o material a desenvolver tensões internas causando fissuras, e mesmo que essas fissuras dificilmente
sejam a causa de colapsos, elas favorecem outros processos de deterioração, como, por exemplo, a
carbonatação, o descolamento de revestimento de cerâmica e a corrosão de armaduras de ferro, no
caso do concreto armado (RIBEIRO et al., 2012).
Os ganhos na resistência mecânica da argamassa, citados anteriormente, podem ser possivelmente
associados ao fato das pozolanas inibirem a formação de géis de silicatos gerados por uma reação
álcali-sílica. Ao mesmo tempo que é observado um ganho na resistência, nota-se que ao diminuir a
granulometria do filler, o aumento da resistência é ainda maior; considerando que a proporção de
adição da pozolana em ambos os casos foram os mesmos e as respostas obtidas foram diferentes, é
possível, então, comprovar que a redução do tamanho das partículas aumenta a inibição da reação
álcali-sílica, sendo variáveis indiretamente proporcionais.

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Além disso, referente ao tamanho das partículas, deve-se considerar também o fato de que a adição
de um material com menor granulometria contribui para aumento da densidade da argamassa pelo
preenchimento dos poros por partículas mais finas, favorecendo as reações de hidratação.

Conclusão
Os estudos realizados contribuíram para a comprovação de que as pozolanas contribuem para o
aumento na resistência da argamassa, conforme Mehta (1987) apud Neto (2006) ressalta em suas
pesquisas. O ganho na resistência é obtido em ambos os caulins estudados (coloidal e #325), porém,
naquele com uma menor granulometria, o ganho é maior; isso se deve ao fato de que, de acordo com
Kihara (1993) apud Santos (2006), quanto mais fino o agregador for, maior a superfície de reação,
portanto mais reativo.
A reação álcali-sílica é algo indesejado na formulação de argamassas, pois a mesma pode causar
desde fissuração até a deterioração da argamassa. Conforme foi observado, independentemente do
tipo de caulim adicionado ocorreu um aumento na resistência, embora a formação de géis de silicato
não tenha sido estudada, é possível confirmar que se ocorreu a formação do mesmo, foi em menor
intensidade do que no traço padrão.
Assim, é possível concluir que a adição de pozolanas na argamassa apresenta ganhos no
desenvolvimento de tecnologias da construção civil, podendo contribuir para o desenvolvimento de
materiais que auxiliam a diminuição de patologias em edificações, além de possuírem uma melhor
resistência mecânica, possibilitando a aplicação em diversas áreas da construção civil.

Referências
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