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Maíra Saeger Ruschmann da Costa (1); Camila Aparecida Abelha Rocha (2); Itamar Messias de
Freitas (3); Rogério Gomes Côrtes (4).
Resumo
No Brasil, o cimento Portland (CP III) possui adição de escória de alto forno em teores variando entre 35 e
75%. Essa escória é um subproduto da fabricação do ferro-gusa e seu uso contribui para reduzir as
emissões de CO2 durante a fabricação do cimento, uma vez que uma quantidade menor de clínquer precisa
ser produzido para se obter a mesma quantidade de cimento. Sabe-se que esse tipo de escória possui
atividade hidráulica fraca e gera na hidratação os mesmos produtos da hidratação do clínquer. No entanto, a
hidratação da escória ocorre de forma lenta, o que faz com que o ganho de resistência seja tardio. Sendo
assim, o objetivo deste artigo é investigar, com base na evolução da resistência mecânica de concretos
utilizando cimento CP III RS 40 com teores de escórias variando entre 53 e 62,5%, se o ganho de
resistência após 28 dias está relacionado ao aumento do teor de escória. O artigo conta com dados de
resistência à compressão de mais de 1300 corpos de prova utilizados para controle tecnológico do concreto
em obra, rompidos em diferentes idades (7, 28, 56 e 90 dias). Além disso, comparou-se os valores de
resistência obtidos com as equações de evolução de resistência do Comitê Europeu do Concreto. Como os
percentuais de escória variaram pouco diante da margem permitida por norma, não foi possível identificar
uma tendência entre o crescimento da resistência e o aumento dos teores de escória. Os concretos
obtiveram um significativo ganho de resistência após 28 dias de cura. A equação do Comitê Europeu do
Concreto prevê com boa precisão a evolução da resistência dos concretos que utilizam o cimento CP III.
Palavra-Chave: Cimento de alto forno CP III; escória de alto forno; resistência à compressão.
Abstract
In Brazil, Portland cement type III (CP III) has blast furnace slag addition in contents ranging from 35 up to
75%. Blast furnace slag is a byproduct of pig iron manufacture and its use contributes to reducing CO2
emissions during cement manufacturing since less clinker needs to be produced to obtain the same amount
of cement. It is known that this type of slag has weak hydraulic activity and it generates on hydration the
same products of the clinker. However, the slag hydration occurs slowly, which causes a late resistance
gain. Therefore, the objective of this paper is to investigate, based on the evolution of mechanical strength of
concretes using CP III RS 40 cement with slag contents ranging from 53 to 62.5%, if the compressive
strength gain is related to the increase in slag content. The paper counts on compressive strength data of
more than 1300 specimens used for the technological control of concrete broken at different ages (7, 28, 56
and 90 days). In addition, the strength values obtained were compared with the evolution strength equations
of Comite Euro-International du Beton. Based on the results obtained, it was not possible to identify a trend
between the growth of resistance and the increase of slag contents. There was a significative strength
increase in concretes after 28 days of curing. The equation of the Comite Euro-International du Beton
predicts accurately the evolution of concrete strength using CP III cement.
Keywords: Blast furnace cement (CP III); blast furnace slag; compressive strength.
Tabela 1 – Composição típica das escórias de alto-forno produzidas no Brasil (JOHN, 1995 – adaptado).
Componentes Escória Básica Escória Ácida
(CaO/SiO2 > 1) (CaO/SiO2 < 1)
CaO 40 – 50 24 – 39
SiO2 30 – 35 38 – 55
Al2O3 11 – 18 8 – 19
MgO 2,5 – 9 1,5 – 9
Fe2O3 0–2 0,4 – 2,5
FeO 0–2 0,2 – 1,5
S 0,5 – 1,5 0,03 – 0,2
C/S (média) 1,31 0,68
(Equação 1)
(Equação 2)
Onde:
s = 0,38 para o cimento CP III
t: Idade na qual deseja-se obter a resistência à compressão
fcm(t): Resistência à compressão em idade t dias
β1(t): Coeficiente em função da idade t dias
2 Materiais
Os materiais usados para execução do concreto foram o cimento ensacado CP III-40 RS
da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) com adição de uma escória básica, agregado
graúdo “brita comercial 1” (zona granulométrica que vai de 9,5 mm a 25 mm, conforme
NBR 7211:2005), agregado miúdo “areia natural”, água fornecida pela concessionária
“Águas de Niterói” e aditivo superplastificante Hagenplast 40M.
Os cimentos utilizados foram fabricados entre os meses de abril de 2016 a fevereiro de
2017, o que resultou em 7 percentuais diferentes de escória, de acordo com dados
fornecidos pela CSN relativos à época da produção de cada lote de cimento. Essa
variação ocorre porque a escória de alto forno é obtida na fabricação do ferro gusa, porém
quando a produção é reduzida, isso reflete em variação do teor de escória destinada à
fabricação do cimento Portland. Na tabela 2 estão representados os teores de escória
correspondentes a cada mês de fabricação do cimento utilizado.
3 Metodologia
Os concretos foram dosados para a resistência característica (fck) aos 28 dias de
30 MPa. A NBR 6118:2014 considera o fck como sendo o valor no qual existe uma
probabilidade de 95% de se obter experimentalmente uma resistência superior a esse
valor. Esses concretos foram confeccionados no local da obra, na cidade de Niterói-RJ,
com controle tecnológico rigoroso: cimento e agregados quantificados em massa, água
quantificada em massa ou volume com dispositivo dosador e corrigida em função da
umidade dos agregados (SILVA e MATOS, 2016). Segundo a NBR 12655:2015, essas
características representam a condição “A” de preparo do concreto, para a qual deve-se
adotar um desvio-padrão de 4,0 MPa.
Na dosagem do concreto, o consumo de cimento foi de aproximadamente 370 kg/m³. Em
relação aos traços, a quantidade de agregado miúdo foi de 2,0 ou 2,3 em massa, assim
como a quantidade de agregado graúdo foi de 2,8 em 96% dos traços e no restante foi de
2,5. A quantidade de agregados foi alterada em função das características físicas dos
lotes utilizados. O fator água/cimento foi de 0,46 0,02 e o superplastificante, quando
utilizado, variou de 800 a 1000 ml para 1 m³ de concreto.
Os concretos foram produzidos em betoneira estacionária modelo alfa 1000 com tempo
mínimo de mistura de 60 segundos, sendo esse tempo aumentado em 15 segundos para
cada metro cúbico de capacidade nominal da betoneira ou conforme especificação do
fabricante. O concreto retido na betoneira não foi maior do que 2% do volume nominal.
Em relação à resistência, após traçar a curva de distribuição normal com os valores
ensaiados dos CPs, obtêm-se a resistência média do concreto à compressão (fcm). O
valor fcm é a média aritmética dos valores de resistência à compressão do concreto para
o conjunto dos CPs ensaiados, e é utilizado na determinação da resistência característica
fck (SANTOS, 2004). A equação 3 demonstra como é feito o cálculo da resistência
característica, onde a variável s representa o desvio-padrão. Para os concretos avaliados
nesse artigo o fcm de dosagem aos 28 dias foi de 36,5 MPa.
(Equação 3)
Figura 1 – Diagrama de caixas – Resistência à compressão dos concretos aos 7 dias (Elaboração própria).
Figura 2 - Diagrama de caixas – Resistência à compressão dos concretos aos 28 dias (Elaboração própria).
Figura 4 - Diagrama de caixas – Resistência à compressão dos concretos aos 90 dias (Elaboração própria).
Em relação aos dados de resistência aos 7 dias, observa-se que os teores de escória de
53% e 62,5% proporcionaram baixa variabilidade de resultados por terem suas caixas
mais achatadas. No entanto, os concretos obtiveram dados de resistência próximos
mesmo com variação da escória, exceto para o teor de 61% que obteve uma resistência
média aproximadamente 16% maior. Para o diagrama da resistência aos 28 dias, os
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concretos com teor de 58% de escória obtiveram resistências maiores em relação aos
demais. No rompimento aos 56 dias, os concretos com 53% e 58% de escória
apresentaram uma variabilidade mais alta nos resultados e os com 52%, 57% e 58%
obtiveram resistência mais altas. Em relação à média da resistência obtida aos 90 dias,
concretos com 58% e 61% de escória levaram a valores de resistência mais elevados.
Para a análise de variância (ANOVA), como a significância encontrada para todos os
conjuntos foi inferior a 5%, logo a hipótese nula foi rejeitada para todos os casos. Isso
significa que a variabilidade no teor de escória deve levar a diferentes valores de
resistência média para as diferentes idades. De acordo com os dados da tabela 3, é
possível identificar que isso ocorre, ou seja, diferentes percentuais de escória de fato
levam a diferentes valores de resistência média para uma mesma idade. No entanto, não
foi possível identificar uma tendência de aumento ou redução da resistência em função do
teor de escória.
Tabela 3 – Teor de escória versus resistência característica média dos concretos (Elaboração própria).
Teor Resistência Característica Média (MPa)
escória
(%) 7 dias 28 dias 56 dias 90 dias
52,0 26,6 33,7 41,0 42,9
53,0 26,5 33,1 38,2 41,0
57,0 26,7 34,3 39,5 41,1
58,0 26,2 36,7 39,8 44,8
60,0 25,3 33,9 37,3 40,4
61,0 27,8 35,6 35,1 46,9
62,5 25,3 31,1 36,3 -
Em relação aos valores de resistência média após 28 dias, o ganho foi de 12% aos 56
dias e de 24% aos 90 dias. Esse resultado é compatível com o que comentam MADRID et
al. (2016): concretos com escória de alto forno demandam um tempo maior de hidratação.
Sendo assim, existe um expressivo ganho de resistência para idades mais avançadas.
Estes resultados estão em consonância com a NBR 16697:2018 que recomenda um
ganho de resistência acima de 20% para o CP III 40 aos 91 dias. Ademais, esses
resultados estão acima dos relatados por BATTAGIN e BATTAGIN (2010) em estudo com
diversos tipos de cimento produzidos em todo o país e ensaio em aproximadamente 580
amostras, que indicaram um ganho de resistência para cimentos do tipo CP III 40 de 6%
aos 63 dias e 16% aos 91 dias. Esse ganho de resistência acima do relatado na literatura
pode ser atribuído ao alto teor de escória no cimento utilizado para a confecção dos
concretos desse trabalho.
A figura 5 apresenta os resultados experimentais obtidos e os valores calculados através
da equação do fib Model Code 2010 para o fck de 30 MPa. É possível observar que os
valores de resistência obtidos para as variadas idades foram compatíveis com o que
prevê a equação de cálculo. Os pontos abaixo da curva representam os resultados
experimentais que obtiveram resistência abaixo do previsto. Porém, a resistência
característica é um valor tal que existe uma probabilidade de 5% de se obter resistências
inferiores a essa resistência, pois seu cálculo é feito com base na distribuição normal de
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probabilidades (ARAÚJO, 2010). Para os dados deste artigo, aos 28 dias, 97% dos CPs
obtiveram resistência característica acima de 30 MPa, atendendo assim a variabilidade
mínima esperada para o tipo de controle tecnológico utilizado na produção dos concretos.
De acordo com a figura 5, é possível observar ainda que para as idades de 7 e 28 dias,
3% dos concretos estão abaixo da curva fib Model Code 2010. Para idades acima de 28
dias, os valores ficam em 7% e 3% (60 e 90 dias, respectivamente). Sendo assim, o
modelo se mostrou adequado para a previsão da resistência em idades acima de 28 dias.
5 Conclusão
A partir dos resultados foi possível tomar as seguintes conclusões:
Com a variação no teor de escória entre 52 a 62,5% no cimento Portland de alto
forno não foi possível observar nenhuma tendência de crescimento dos valores de
resistência ao longo do tempo com o aumento desses teores de escória. No
entanto a variação do teor de escória estudado foi pequena diante da margem
permitida pela NBR 16697:2018 de 35 a 75%;
O ganho médio de resistência após os 28 dias nos concretos foi de 12% aos 56
dias e 24% aos 90 dias, um pouco acima do relatado na literatura e em
consonância com a NBR 16697:2018 que estabelece um ganho mínimo de 20%;
A resistência dos concretos obtidas experimentalmente atendeu ao fck
estabelecido, sendo que aos 28 dias 97% dos valores de resistência à compressão
dos concretos ficaram acima do fck esperado;
A equação do fib Model Code 2010 mostrou-se com boa previsão para o cálculo do
ganho de resistência em idades tardias em concretos com o cimento CP III.
Por fim, a utilização de cimento Portland de alto forno em concretos estruturais dá
significativa segurança aos projetistas devido ao expressivo ganho de resistência
tardia, principalmente quando se utiliza cimentos com altos teores de escória como
os avaliados neste trabalho.
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6 Agradecimentos
Ao Fabio Alves de Mattos e Marcel Demarco de Souza Oliveira da Companhia Siderúrgica
Nacional (CSN) pelas informações adicionais sobre o cimento CP III 40 RS.
7 Referências
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