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EVOLUÇÃO DA RESISTÊNCIA MECÂNICA DE CONCRETOS COM

CIMENTO PORTLAND DE ALTO FORNO


MECHANICAL STRENGTH EVOLUTION OF CONCRETES WITH BLAST FURNACE
PORTLAND CEMENT

Maíra Saeger Ruschmann da Costa (1); Camila Aparecida Abelha Rocha (2); Itamar Messias de
Freitas (3); Rogério Gomes Côrtes (4).

(1) Estudante de Mestrado, Estruturas e Materiais, COPPE/UFRJ


(2) Profa. Dra, Dpto de Engenharia Civil, Setor de Materiais de Construção, UFF
(3) Prof. Dr, Dpto de Engenharia Civil, Setor de Materiais de Construção, UFF
(4) Eng. Sócio da RG Côrtes Engenharia LTDA
maira.costa@coc.ufrj.br; camilaabelha@id.uff.br; itamar_freitas@id.uff.br ; rgcortes@rgcortes.com.br.

Resumo
No Brasil, o cimento Portland (CP III) possui adição de escória de alto forno em teores variando entre 35 e
75%. Essa escória é um subproduto da fabricação do ferro-gusa e seu uso contribui para reduzir as
emissões de CO2 durante a fabricação do cimento, uma vez que uma quantidade menor de clínquer precisa
ser produzido para se obter a mesma quantidade de cimento. Sabe-se que esse tipo de escória possui
atividade hidráulica fraca e gera na hidratação os mesmos produtos da hidratação do clínquer. No entanto, a
hidratação da escória ocorre de forma lenta, o que faz com que o ganho de resistência seja tardio. Sendo
assim, o objetivo deste artigo é investigar, com base na evolução da resistência mecânica de concretos
utilizando cimento CP III RS 40 com teores de escórias variando entre 53 e 62,5%, se o ganho de
resistência após 28 dias está relacionado ao aumento do teor de escória. O artigo conta com dados de
resistência à compressão de mais de 1300 corpos de prova utilizados para controle tecnológico do concreto
em obra, rompidos em diferentes idades (7, 28, 56 e 90 dias). Além disso, comparou-se os valores de
resistência obtidos com as equações de evolução de resistência do Comitê Europeu do Concreto. Como os
percentuais de escória variaram pouco diante da margem permitida por norma, não foi possível identificar
uma tendência entre o crescimento da resistência e o aumento dos teores de escória. Os concretos
obtiveram um significativo ganho de resistência após 28 dias de cura. A equação do Comitê Europeu do
Concreto prevê com boa precisão a evolução da resistência dos concretos que utilizam o cimento CP III.
Palavra-Chave: Cimento de alto forno CP III; escória de alto forno; resistência à compressão.

Abstract
In Brazil, Portland cement type III (CP III) has blast furnace slag addition in contents ranging from 35 up to
75%. Blast furnace slag is a byproduct of pig iron manufacture and its use contributes to reducing CO2
emissions during cement manufacturing since less clinker needs to be produced to obtain the same amount
of cement. It is known that this type of slag has weak hydraulic activity and it generates on hydration the
same products of the clinker. However, the slag hydration occurs slowly, which causes a late resistance
gain. Therefore, the objective of this paper is to investigate, based on the evolution of mechanical strength of
concretes using CP III RS 40 cement with slag contents ranging from 53 to 62.5%, if the compressive
strength gain is related to the increase in slag content. The paper counts on compressive strength data of
more than 1300 specimens used for the technological control of concrete broken at different ages (7, 28, 56
and 90 days). In addition, the strength values obtained were compared with the evolution strength equations
of Comite Euro-International du Beton. Based on the results obtained, it was not possible to identify a trend
between the growth of resistance and the increase of slag contents. There was a significative strength
increase in concretes after 28 days of curing. The equation of the Comite Euro-International du Beton
predicts accurately the evolution of concrete strength using CP III cement.
Keywords: Blast furnace cement (CP III); blast furnace slag; compressive strength.

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1 Introdução
O cimento Portland é um material com propriedades adesivas e coesivas que faz com que
ele seja capaz de unir fragmentos minerais na forma de uma unidade compacta. No
mercado, são disponíveis diversos tipos de cimento Portland. As principais matérias
primas para a fabricação do clínquer são calcário, argila e/ou outros materiais que
contenham sílica, alumina e óxidos de ferro que são queimados em determinada
temperatura (NEVILLE, 2016). O clínquer é moído com o gesso e outras adições minerais
que proporcionam composição química e características físicas diferentes, resultando em
propriedades distintas quando hidratados.
O cimento Portland de alto-forno consiste em uma mistura de clínquer, sulfato de cálcio e
escória granulada de alto-forno, podendo conter material carbonático (0-10%). A escória
de alto forno é um resíduo da produção do ferro gusa que apresenta grande variação em
sua composição e em sua estrutura física, dependendo do processo de fabricação
utilizado e do método de resfriamento. Em se tratando da produção do cimento de alto-
forno, a escória deve ser resfriada rapidamente de modo que se solidifique como um
material amorfo evitando a cristalização (NEVILLE, 2016). Conforme JOHN e AGOPYAN
(2000), na condição cristalina, a escória não possui capacidade aglomerante, pois tem
pouca reação hidráulica. A escória se hidrata muito lentamente em presença de água
(CAMARINI, 1995). De acordo com MADRID et al. (2016), o processo de hidratação da
escória é mais lento porque a sua dissolução é mais difícil devido ao seu caráter vítreo e
também, pela necessidade de uma fonte de ativação sulfática ou alcalina. Ao ser
adicionada aos cimentos, promove mudanças nas suas propriedades, tais como a
minimização da reação álcali agregado, a permeabilidade, o calor de hidratação, a
retração por secagem e o aumento da resistência a sulfatos e da resistência à
compressão para idades avançadas (ROSSA e PORTELLA, 2012). Para SHETTY (2013),
o concreto com escória pode alcançar uma maior resistência à compressão para
determinados níveis de substituição do clínquer. A tabela 1 indica quais são os
componentes da escória de alto-forno no Brasil. De acordo com a NBR 16697:2018 o
percentual de escória permitido em massa para o cimento CP III varia de 35 a 75%.

Tabela 1 – Composição típica das escórias de alto-forno produzidas no Brasil (JOHN, 1995 – adaptado).
Componentes Escória Básica Escória Ácida
(CaO/SiO2 > 1) (CaO/SiO2 < 1)
CaO 40 – 50 24 – 39
SiO2 30 – 35 38 – 55
Al2O3 11 – 18 8 – 19
MgO 2,5 – 9 1,5 – 9
Fe2O3 0–2 0,4 – 2,5
FeO 0–2 0,2 – 1,5
S 0,5 – 1,5 0,03 – 0,2
C/S (média) 1,31 0,68

O ganho de resistência do concreto ocorre pela hidratação do cimento em contato com a


água da mistura. A hidratação do cimento caracteriza-se pela sequência de reações
químicas entre os compostos sólidos e a água, levando à reação de pega e ao
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enrijecimento da mistura cimento-água. Na presença de água, os silicatos e os aluminatos
componentes do cimento, formam produtos de hidratação que, com o transcorrer do
tempo, dão origem a uma massa firme e resistente (NEVILLE, 2016). A escória pode ser
hidratada seguindo dois mecanismos: a dissolução da fase vítrea até um nível de
saturação da água de amassamento, e em seguida a precipitação dos compostos
hidratados.
Mais detalhadamente, o grão da escória, ao entrar em contato com a água, começa a se
dissolver liberando Ca2+. Quando a concentração de íons de Ca2+ atinge um valor
elevado, ocorre o aumento do pH da solução e a membrana impermeável de hidróxido de
alumínio que existia ao redor do grão de escória se dissolve. Enquanto houver solução
intersticial, a hidratação do grão continua por dissolução-precipitação, passando
posteriormente para reação topoquímica de formação de produtos hidratados internos,
por difusão iônica através da camada que reveste os grãos anidros. A escória precisa ser
ativada para que tenha as propriedades aglomerantes. Essa ativação pode ocorrer por
processos químicos, mecânicos ou térmicos (SILVA, 1998). Pereira (2010) acrescenta
ainda que, do ponto de vista físico, quanto menor a granulometria da escória, maior será a
área de contato dos grânulos tornando mais eficiente o seu processo de hidratação. A
escória adicionada na mistura de concreto tem menos reatividade nos primeiros dias. Há
um menor ganho de resistência à compressão em idades iniciais em comparação com
misturas de concreto com cimento Portland comum. No entanto, em idades posteriores,
resistências mais elevadas são alcançadas quando comparadas àquelas do concreto
convencional (ONER, 2007; BERNDT, 2009). Esse comportamento no atraso do
melhoramento da resistência mecânica do concreto com escória, deve-se ao fato de que
o subproduto cimentício siderúrgico tem um processo de ativação mais lento que o
cimento convencional. Esse comportamento gera uma diminuição da velocidade de
precipitação do produto de reação mais estável, o que contribui para a resistência
mecânica (MADRID et al., 2016).
Em termos ambientais, quando o cimento é produzido com adições, como por exemplo
escória, possibilita uma redução significativa das emissões de CO 2, diversifica as
aplicações e características do cimento, além de ser uma solução ambientalmente correta
para subprodutos de outros processos produtivos, não só para as escórias siderúrgicas,
mas também para as cinzas termoelétricas (CETESB, 2010). Além disso, por ser um
subproduto industrial, a utilização da escória reduz o preço do cimento proporcionando
um ganho econômico (ALMEIDA, 2009).
Durante a concretagem de determinada estrutura, são moldados corpos de prova (CPs)
para ensaios de resistência à compressão aos 28 dias para checar se o concreto utilizado
está de acordo com o especificado em projeto. Para isso, a estrutura deve ser dividida em
fases de modo que cada fase utiliza lotes de concreto e uma amostra de concreto deve
ser retirada de cada um desses lotes. A sua divisão é feita de acordo com o volume de
concreto, atendendo aos valores limites máximos de acordo com a NBR 12655:2015. O
controle da resistência à compressão, feito aos 28 dias, tem como objetivo confirmar o
valor de resistência característica (fck) adotado no projeto, conforme recomenda a NBR
6118:2014. Determinada essa resistência à compressão aos 28 dias, é possível estimar a
evolução da resistência para as demais idades utilizando as equações 1 e 2 estabelecidas
pelo fib Model Code 2010 (CEB, 2012). Vale ressaltar que, para a NBR 6118:2014, essa

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equação só é aceita para estimar a resistência do concreto para idades inferiores a 28
dias.

(Equação 1)

(Equação 2)
Onde:
s = 0,38 para o cimento CP III
t: Idade na qual deseja-se obter a resistência à compressão
fcm(t): Resistência à compressão em idade t dias
β1(t): Coeficiente em função da idade t dias

No entanto, essa equação é originária de resultados experimentais com determinado tipo


de cimento. Com base nessa informação é importante ressaltar que quanto maior a
quantidade de resultados de resistência à compressão de determinado concreto, maior a
precisão para a investigação e cálculo do ganho de resistência em determinada idade.
Para o cimento Portland de alto forno, uma grande variação da quantidade de escória é
permitida pela NBR 16697:2018. Essa variação pode levar a resistências maiores em
idades mais avançadas quando os teores de escória no cimento são mais elevados
devido às propriedades químicas da escória como o seu processo de ativação mais lento.
Sendo assim, a motivação principal deste artigo foi investigar se, de fato, um aumento
significativo da resistência à compressão após 28 dias ocorreu para os concretos
confeccionados com cimento de alto forno em função do teor de escória. Além disso, o
atendimento ao fck e a previsão de resistência tardia pela equação do fib Model Code
2010 foram avaliados. O trabalho torna-se relevante para engenheiros projetistas pois
serão apresentados uma grande quantidade de resultados experimentais que mostram a
evolução da resistência à compressão de concretos com cimento Portland de alto forno.
Quanto maior o espaço amostral, maior a significância dos resultados obtidos e maior a
confiabilidade.

2 Materiais
Os materiais usados para execução do concreto foram o cimento ensacado CP III-40 RS
da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) com adição de uma escória básica, agregado
graúdo “brita comercial 1” (zona granulométrica que vai de 9,5 mm a 25 mm, conforme
NBR 7211:2005), agregado miúdo “areia natural”, água fornecida pela concessionária
“Águas de Niterói” e aditivo superplastificante Hagenplast 40M.
Os cimentos utilizados foram fabricados entre os meses de abril de 2016 a fevereiro de
2017, o que resultou em 7 percentuais diferentes de escória, de acordo com dados
fornecidos pela CSN relativos à época da produção de cada lote de cimento. Essa
variação ocorre porque a escória de alto forno é obtida na fabricação do ferro gusa, porém
quando a produção é reduzida, isso reflete em variação do teor de escória destinada à
fabricação do cimento Portland. Na tabela 2 estão representados os teores de escória
correspondentes a cada mês de fabricação do cimento utilizado.

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Tabela 2 – Teores de escória fornecidos pela CSN (Elaboração própria).
Mês/Ano Teor de escória
(%)
04/2016 61,0
05/2016 60,0
06/2016 60,0
07/2016 58,0
08/2016 61,0
09/2016 57,0
10/2016 52,0
11/2016 53,0
12/2016 60,0
01/2017 62,5
02/2017 62,5
07/2017 57,0

3 Metodologia
Os concretos foram dosados para a resistência característica (fck) aos 28 dias de
30 MPa. A NBR 6118:2014 considera o fck como sendo o valor no qual existe uma
probabilidade de 95% de se obter experimentalmente uma resistência superior a esse
valor. Esses concretos foram confeccionados no local da obra, na cidade de Niterói-RJ,
com controle tecnológico rigoroso: cimento e agregados quantificados em massa, água
quantificada em massa ou volume com dispositivo dosador e corrigida em função da
umidade dos agregados (SILVA e MATOS, 2016). Segundo a NBR 12655:2015, essas
características representam a condição “A” de preparo do concreto, para a qual deve-se
adotar um desvio-padrão de 4,0 MPa.
Na dosagem do concreto, o consumo de cimento foi de aproximadamente 370 kg/m³. Em
relação aos traços, a quantidade de agregado miúdo foi de 2,0 ou 2,3 em massa, assim
como a quantidade de agregado graúdo foi de 2,8 em 96% dos traços e no restante foi de
2,5. A quantidade de agregados foi alterada em função das características físicas dos
lotes utilizados. O fator água/cimento foi de 0,46  0,02 e o superplastificante, quando
utilizado, variou de 800 a 1000 ml para 1 m³ de concreto.
Os concretos foram produzidos em betoneira estacionária modelo alfa 1000 com tempo
mínimo de mistura de 60 segundos, sendo esse tempo aumentado em 15 segundos para
cada metro cúbico de capacidade nominal da betoneira ou conforme especificação do
fabricante. O concreto retido na betoneira não foi maior do que 2% do volume nominal.
Em relação à resistência, após traçar a curva de distribuição normal com os valores
ensaiados dos CPs, obtêm-se a resistência média do concreto à compressão (fcm). O
valor fcm é a média aritmética dos valores de resistência à compressão do concreto para
o conjunto dos CPs ensaiados, e é utilizado na determinação da resistência característica
fck (SANTOS, 2004). A equação 3 demonstra como é feito o cálculo da resistência
característica, onde a variável s representa o desvio-padrão. Para os concretos avaliados
nesse artigo o fcm de dosagem aos 28 dias foi de 36,5 MPa.

(Equação 3)

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Os concretos foram aplicados em diferentes estruturas de edifícios (fundação, cisterna,
jirau, lajes, pilares, vigas e caixa d’água) porém, todos foram produzidos para o mesmo
empreendimento. Após a confecção de cada concreto e realização do abatimento (slump
test) conforme procedimentos da NBR NM 67:1998, foi feita a moldagem de cada um dos
CPs em formato cilíndrico com diâmetro interno de 50 mm e altura de 100 mm, para
aferição da evolução da resistência à compressão. Após moldagem, os corpos de prova
foram encaminhados para cura úmida de acordo com as recomendações da NBR
5738:2016.
Os corpos de prova foram submetidos a ensaios de resistência à compressão de acordo
com a metodologia indicada pela NBR 5739:2018. Os CPs foram ensaiados nas idades
de 7, 28, 56 e 90 dias. Considerando todos os ensaios, foram obtidos dados de
resistência à compressão de 1332 corpos de prova.
Para melhor verificar a influência da variação do teor de escória em cada uma das idades,
na resistência à compressão dos concretos foi utilizado o diagrama de caixa. Esse
diagrama é uma ferramenta gráfica da estatística descritiva que permite visualizar a
variabilidade do conjunto de dados (GUIMARÃES, 2008). Foi feito um diagrama para cada
uma das idades e cada teor de escória em que os testes de resistência à compressão
foram realizados. Para cada teor de escória, existiam diversos valores de resistência.
Sendo assim, com essa ferramenta, o conjunto de dados ficou resumido em 5 números:
mínimo (menor valor), primeiro quartil, mediana, terceiro quartil e o máximo (maior valor).
Os valores máximos e mínimos são considerados valores atípicos (outliers). Os mínimos
podem representar corpos de prova que não foram moldados corretamente ou que
tiveram algum problema durante a execução do ensaio, como por exemplo falta de
centralização do corpo-de-prova com o eixo da máquina.
Com base nos diagramas de caixa para cada uma das 4 idades, foi feita a análise de
variância (ANOVA) com um fator. Essa análise é feita para casos nos quais deseja-se
comparar várias médias, cada uma oriunda de um grupo diferente. Essa análise de
variância considera duas hipóteses. Hipótese nula (H0): a média de todas as populações é
igual. Hipótese alternativa: nem todas as médias populacionais são iguais (VIEIRA, 2006).
Para o caso deste artigo, a hipótese nula indica que todos os teores de escória levam a
resultados de resistência média iguais. Desse modo, se não for rejeitada a hipótese nula,
pode-se considerar que não existe diferença entre as médias de resistência mesmo
quando há variação do percentual de escória. No entanto, ao rejeitar H0, pode-se afirmar
que existem evidências estatísticas de que pelo menos dois teores de escória levam a
diferentes valores de resistência.
Para avaliação da significância estatística foi utilizado o p-valor. Se o p-valor for menor
que α (nível de significância), então a hipótese nula H0 é rejeitada (ANJOS, 2005). Caso
contrário, a hipótese nula não é rejeitada. Para o p-valor foi adotado uma significância de
5%, ou seja, um intervalo de confiança de 95%. Para obtenção dos resultados do p-valor
foi utilizado o software Past3.
Adicionalmente, com o objetivo de avaliar o ganho da resistência com o tempo, foi feito
um gráfico idade versus resistência considerando os 7 diferentes teores de escória. Esses
resultados foram comparados com o previsto pela a equação fib Model Code 2010
considerando um fck de 30 MPa.

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4 Resultados
As Figuras 1, 2, 3 e 4 em sequência representam os resultados de resistência à
compressão para as idades de 7, 28, 56 e 90 dias, respectivamente. Cada caixa do
diagrama de caixas está dividida entre quartis de 25% e 75% dos dados e a linha
horizontal representa a mediana dos dados.

Figura 1 – Diagrama de caixas – Resistência à compressão dos concretos aos 7 dias (Elaboração própria).

Figura 2 - Diagrama de caixas – Resistência à compressão dos concretos aos 28 dias (Elaboração própria).

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Figura 3 - Diagrama de caixas – Resistência à compressão dos concretos aos 56 dias (Elaboração própria).

Figura 4 - Diagrama de caixas – Resistência à compressão dos concretos aos 90 dias (Elaboração própria).

Em relação aos dados de resistência aos 7 dias, observa-se que os teores de escória de
53% e 62,5% proporcionaram baixa variabilidade de resultados por terem suas caixas
mais achatadas. No entanto, os concretos obtiveram dados de resistência próximos
mesmo com variação da escória, exceto para o teor de 61% que obteve uma resistência
média aproximadamente 16% maior. Para o diagrama da resistência aos 28 dias, os
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concretos com teor de 58% de escória obtiveram resistências maiores em relação aos
demais. No rompimento aos 56 dias, os concretos com 53% e 58% de escória
apresentaram uma variabilidade mais alta nos resultados e os com 52%, 57% e 58%
obtiveram resistência mais altas. Em relação à média da resistência obtida aos 90 dias,
concretos com 58% e 61% de escória levaram a valores de resistência mais elevados.
Para a análise de variância (ANOVA), como a significância encontrada para todos os
conjuntos foi inferior a 5%, logo a hipótese nula foi rejeitada para todos os casos. Isso
significa que a variabilidade no teor de escória deve levar a diferentes valores de
resistência média para as diferentes idades. De acordo com os dados da tabela 3, é
possível identificar que isso ocorre, ou seja, diferentes percentuais de escória de fato
levam a diferentes valores de resistência média para uma mesma idade. No entanto, não
foi possível identificar uma tendência de aumento ou redução da resistência em função do
teor de escória.

Tabela 3 – Teor de escória versus resistência característica média dos concretos (Elaboração própria).
Teor Resistência Característica Média (MPa)
escória
(%) 7 dias 28 dias 56 dias 90 dias
52,0 26,6 33,7 41,0 42,9
53,0 26,5 33,1 38,2 41,0
57,0 26,7 34,3 39,5 41,1
58,0 26,2 36,7 39,8 44,8
60,0 25,3 33,9 37,3 40,4
61,0 27,8 35,6 35,1 46,9
62,5 25,3 31,1 36,3 -

Em relação aos valores de resistência média após 28 dias, o ganho foi de 12% aos 56
dias e de 24% aos 90 dias. Esse resultado é compatível com o que comentam MADRID et
al. (2016): concretos com escória de alto forno demandam um tempo maior de hidratação.
Sendo assim, existe um expressivo ganho de resistência para idades mais avançadas.
Estes resultados estão em consonância com a NBR 16697:2018 que recomenda um
ganho de resistência acima de 20% para o CP III 40 aos 91 dias. Ademais, esses
resultados estão acima dos relatados por BATTAGIN e BATTAGIN (2010) em estudo com
diversos tipos de cimento produzidos em todo o país e ensaio em aproximadamente 580
amostras, que indicaram um ganho de resistência para cimentos do tipo CP III 40 de 6%
aos 63 dias e 16% aos 91 dias. Esse ganho de resistência acima do relatado na literatura
pode ser atribuído ao alto teor de escória no cimento utilizado para a confecção dos
concretos desse trabalho.
A figura 5 apresenta os resultados experimentais obtidos e os valores calculados através
da equação do fib Model Code 2010 para o fck de 30 MPa. É possível observar que os
valores de resistência obtidos para as variadas idades foram compatíveis com o que
prevê a equação de cálculo. Os pontos abaixo da curva representam os resultados
experimentais que obtiveram resistência abaixo do previsto. Porém, a resistência
característica é um valor tal que existe uma probabilidade de 5% de se obter resistências
inferiores a essa resistência, pois seu cálculo é feito com base na distribuição normal de
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probabilidades (ARAÚJO, 2010). Para os dados deste artigo, aos 28 dias, 97% dos CPs
obtiveram resistência característica acima de 30 MPa, atendendo assim a variabilidade
mínima esperada para o tipo de controle tecnológico utilizado na produção dos concretos.
De acordo com a figura 5, é possível observar ainda que para as idades de 7 e 28 dias,
3% dos concretos estão abaixo da curva fib Model Code 2010. Para idades acima de 28
dias, os valores ficam em 7% e 3% (60 e 90 dias, respectivamente). Sendo assim, o
modelo se mostrou adequado para a previsão da resistência em idades acima de 28 dias.

Figura 5 – Comparativo evolução da resistência obtida versus esperada (Elaboração própria)

5 Conclusão
A partir dos resultados foi possível tomar as seguintes conclusões:
 Com a variação no teor de escória entre 52 a 62,5% no cimento Portland de alto
forno não foi possível observar nenhuma tendência de crescimento dos valores de
resistência ao longo do tempo com o aumento desses teores de escória. No
entanto a variação do teor de escória estudado foi pequena diante da margem
permitida pela NBR 16697:2018 de 35 a 75%;
 O ganho médio de resistência após os 28 dias nos concretos foi de 12% aos 56
dias e 24% aos 90 dias, um pouco acima do relatado na literatura e em
consonância com a NBR 16697:2018 que estabelece um ganho mínimo de 20%;
 A resistência dos concretos obtidas experimentalmente atendeu ao fck
estabelecido, sendo que aos 28 dias 97% dos valores de resistência à compressão
dos concretos ficaram acima do fck esperado;
 A equação do fib Model Code 2010 mostrou-se com boa previsão para o cálculo do
ganho de resistência em idades tardias em concretos com o cimento CP III.
 Por fim, a utilização de cimento Portland de alto forno em concretos estruturais dá
significativa segurança aos projetistas devido ao expressivo ganho de resistência
tardia, principalmente quando se utiliza cimentos com altos teores de escória como
os avaliados neste trabalho.
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6 Agradecimentos
Ao Fabio Alves de Mattos e Marcel Demarco de Souza Oliveira da Companhia Siderúrgica
Nacional (CSN) pelas informações adicionais sobre o cimento CP III 40 RS.

7 Referências
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Belo Horizonte-MG, 2009.

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Departamento de Estatística, Universidade Federal do Paraná. Curitiba-PR, 2005.

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