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ossos de uma das mãos de sua esposa ou destrutiva. No primeiro caso, as ampli-
(SOUZA; BITTENCOURT, 2008). Por tudes se somam e no último, estas se can-
essa descoberta Röntgen foi laureado com celam, anulando-se.
o prêmio Nobel de Física do ano de 1901. Um padrão de obstáculos à passagem
À época da descoberta dos raios-X não das ondas que seja periódico no espaço é
se tinha certeza sobre a sua natureza, se denominado rede ou grade de difração e,
ondulatória ou corpuscular. Um experi- ao ser atravessada por um feixe de radia-
mento foi sugerido pelo físico Max Von ção gera um padrão característico de in-
Laue (1879-1960), no qual, se os raios X terferências construtivas e destrutivas,
fossem uma espécie de radiação, deveri- cuja forma depende do arranjo da rede de
am produzir um padrão ondulatório ca- difração. Este padrão pode ser impresso
racterístico ao atravessar uma grade de em uma chapa fotográfica e é útil para
difração (GUINEBRETIÈRE, 2007). extrair informações sobre como estão or-
Porém uma grade de difração nesse caso ganizadas as partículas na grade de difra-
precisaria ter dimensões de bilionésimos ção.
de metro, motivo pelo qual Laue sugeriu No caso da difratometria de raios X, a
que um cristal regular seria uma boa gra- grade de difração é um cristal de algum
de de difração. A experiência mostrou-se composto químico, e os componentes da
bem sucedida e este experimento confir- rede são átomos ou moléculas do com-
mou a característica ondulatória dos raios posto. Cada átomo ou molécula ocupa um
X e inaugurou dois ramos interligados, ponto da rede, e a menor unidade do cris-
porém distintos, de pesquisa: o estudo da tal que mantém sua simetria é denomina-
natureza e das propriedades dos raios-X e da célula unitária. A célula unitária con-
a investigação das estruturas internas dos tém toda a informação sobre a geometria
cristais, a cristalografia (NUSSENZ- do cristal uma vez que este pode ser cons-
VEIG, 1997). Esta descoberta lhe valeu o truído a partir de múltiplas cópias desta
prêmio Nobel de Física de 1914. célula unitária transladadas tridimensio-
Quando uma onda atravessa uma regi- nalmente (KITTEL, 1996). O espaçamen-
ão onde há obstáculos cujo tamanho se to entre dois pontos da rede característi-
aproxima do comprimento de onda da cos dos cristais é da ordem de 10-10m, que
radiação, sofre um espalhamento, deno- equivale ao comprimento de onda carac-
minado difração, isto é, ocorrem simulta- terístico das radiações eletromagnéticas
neamente a reflexão de parte dessa onda e na faixa espectral dos raios-X, por isso
a absorção parcial da energia transportada sendo capaz de produzir efeitos perceptí-
pela onda, que é subsequentemente emiti- veis de difração neste tipo de onda.
da em todas as direções como uma radia- Quando se conhece a estrutura cristali-
ção secundária. O resultado é a propaga- na do material, pode-se inferir a forma do
ção da onda original em várias direções padrão de difração gerado por ele. Porém
distintas da inicial. Se existe mais de um normalmente em cristalografia realiza-se
obstáculo à trajetória da radiação, as on- o trabalho inverso, deduzindo a estrutura
das espalhadas por ambos podem intera- cristalina através do padrão de difração
gir, sendo este fenômeno conhecido como (CULLITY, 1956). Há 7 diferentes tipos
interferência, e esta pode ser construtiva de redes cristalinas, ou sistemas cristali-
sin 311 11 √ × √
= 222 12 √ √ √
4 ℎ + +
onde se verifica que a partir dos valo- Fonte Zachariasen, Theory of X-Ray Diffrac-
res medidos dos ângulos de interferência tion, 1967.
construtiva deve-se encontrar uma lista de
valores adequados de números inteiros de Há também critérios para estruturas te-
modo que a razão no lado esquerdo seja tragonais e hexagonais, que são diferentes
igual a uma constante. daqueles para estruturas cúbicas, pois,
O quadro 2 mostra como diferenciar, enquanto naquelas havia somente um pa-
entre os retículos cristalinos cúbicos, as râmetro de rede a ser determinado, nestas
estruturas cúbica simples (CS), cúbica de existem dois, e , o tamanho da base e a
corpo centrado (CCC) e cúbica de face medida da altura da célula unitária
centrada (CFC). (CULLITY, 1956).
Considerando-se uma estrutura cúbica Existem métodos gráficos, que foram
simples (CS) e voltando a face 001 para o desenvolvidos nos primórdios da cristalo-
feixe do difratômetro, observa-se refle- grafia, capazes de identificar, a partir de
xão. No entanto, para uma estrutura cúbi- um difratograma, as estruturas tetragonal
ca de corpo centrado (CCC), existe um e hexagonal.
átomo localizado na metade da distância À medida que as estruturas tornam-se
entre os planos mostrados na figura 2 pa- menos simétricas, o número de parâme-
ra cada célula unitária, de modo que o tros a ser determinados aumenta e tam-
feixe difratado por estes átomos está bém aumenta a dificuldade na identifica-
completamente fora de fase com os feixes ção do retículo cristalino. Um meio rápi-
difratados pelos planos adjacentes, logo do de determinar se uma estrutura possui
os planos 001 não fornecem reflexão em alta ou baixa simetria consiste em verifi-
estruturas CCC. Argumentos semelhantes car o número de linhas (picos) presentes
podem ser utilizados para fazer a mesma no difratograma. Se este número for mui-
previsão em relação a estrutura cúbica de to elevado, a estrutura é pouco simétrica,
face centrada (CFC). enquanto que as estruturas mais simétri-
cas (cúbicas) apresentam número reduzi-
Quadro 2: Critérios de seleção para determi- do de picos (ZACHARIASEN, 1967).
nação das estruturas CS, CCC e CFC através O método mais utilizado para refina-
de difratometria de raios-X mento e tratamento dos difratogramas é o
Índices Ocorre reflexão? método de Rietveld, no entanto, seu tra-
2 2 2
hkl h + k + l CS CCC CFC tamento sistemático é demasiado extenso
100 1 √ × × para caber neste artigo (CULLITY, 1956;
110 2 √ √ × GUINEBRETIÈRE, 2007).
111 3 √ × √
200 4 √ √ √ 8 Caracterização por DRX
210 5 √ × ×
211 6 √ √ ×
A técnica de DRX tem sido vastamente
220 8 √ √ √
300 9 √ × × utilizada na caracterização aliada a outras
310 10 √ √ × metodologias tais como microscopia ele-
trônica de varredura, microscopia vibra-
Estação Científica (UNIFAP) http://periodicos.unifap.br/index.php/estacao
ISSN 2179-1902 Macapá, v.3 n. 1, p. 31-45, jan.-jun. 2013
Avanços em caracterização de amostras sólidas cristalinas através de Difratometria de Raios-X 39
cional na região do infravermelho (SI- tra de NaCl, onde se pode notar a presen-
GOLI et al., 2000), espectrometria de ça de picos correspondentes aos planos
massas e ressonância magnética nuclear com índices todos pares ou todos ímpa-
(PICCOLI et al., 2006). res, de forma que se pode afirmar que a
A identificação de fases presentes é estrutura do NaCl é cúbica de face cen-
baseada na comparação de um perfil des- trada.
conhecido com o conjunto de difração
padrão coletado e mantido pelo JCPDS
(Joint Committee on Powder Diffraction
Standarts). Dentre as vantagens da técni-
ca de DRX para a caracterização de fases
destacam-se a simplicidade e rapidez do
método, a confiabilidade dos resultados
obtidos (visto que cada padrão obtido é
peculiar a cada fase), a possibilidade de
realização de análise em amostras consti-
tuídas de várias fases cristalinas e a análi-
se quantitativa destas fases (PICCOLI et Figura 8: Difratograma de amostra de NaCl,
al., 2006; ALBERS et al., 2002). obtida com raios-X de fonte de Cu. Fonte:
Brundle, Evans, Wilson. Ecyclopedia of Ma-
Pode-se determinar a estrutura de dife-
terials Characterization, 1992
rentes materiais com o critério de seleção
apresentado na tabela 2. Por exemplo,
O Difratômetro de raios X também po-
pode-se verificar na figura 7 difratogra-
de ser utilizado para identificar fases cris-
mas indexados de uma amostra de tungs-
talinas. Por exemplo, para distinguir entre
tênio, onde se verifica que os picos cor-
dois compostos presentes em uma mesma
respondem aos planos cristalinos cuja
amostra, como ilita e quartzo presentes
soma dos quadrados dos índices é um
em argila para fabricação de cerâmica
inteiro par, logo a estrutura do tungstênio
(ALBERS et al., 2002), o que é mostrado
é cúbica de corpo centrado.
na figura 9.