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Novo Hamburgo
2018
DOUGLAS CRISTIAN ROQUE
Novo Hamburgo
2018
2
DOUGLAS CRISTIAN ROQUE
Aprovado por:
_________________________
Professor Me. Eduardo Polesello
Professor Orientador
_________________________
Professor Me. Hugo Springer Jr.
Banca examinadora
_________________________
Professor Me. Vinicius De Kayser Ortolan
Banca examinadora
4
ABSTRACT
In Brazil, the market for ready mix mortars has grown significantly in recent
years, given that they are dosed in central humid and delivered to construction sites
already ready for use in various purposes. Depending on the dosage compositions,
they may remain usable for 24, 36 or 72 hours, which provides a considerable increase
in material rationality and labor productivity. The material is composed primarily of
cement, lime, sand and air-entraining additives and hydration stabilizers, which in
varying proportions serve to ensure pulp properties for long periods of time. However,
there is still a great deal of uncertainty about standardization, formulation, control and
receipt in the material at construction sites, due to the absence of a specific
standardization for ready mix mortar, which generates a series of uncertainties and
skepticism on the part of the market regarding the behavior and performance during the
stabilization period of the mixture, as well as concerns about the risk of future
pathological manifestations. Therefore, the present work aims to analyze the properties
of ready mix mortar coating, along its stabilization period and use of 36 hours. Assays
were performed to quantitatively and qualitatively evaluate the characteristics and
performance of the mortar in its fresh and hardened state. The properties analyzed in
the fresh state were consistency index, mass density and the incorporated air content,
and in the hardened state, mechanical strength, adhesion resistance, capillary
absorption and bulk density. For comparison purposes, commercial mortars from three
different suppliers will be analyzed, and the tests will be performed at 0h (initial age),
12h, 24h and 36h stabilization times. In general, the mortars presented variations in
their properties throughout the stabilization period, losing incorporated air, reducing the
mechanical resistances and having its increasing capillarity coefficient in the course of
its use in different times.
Key words: Ready mix mortar. Fresh state. Hardened State. Property of mortar.
5
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 08
1.1 OBJETIVOS 09
1.1.1 Objetivos gerais 09
1.1.2 Objetivos específicos 09
3 METODOLOGIA 32
3.1 PLANEJAMENTO EXPERIMENTAL 32
3.2 ENSAIOS REALIZADOS 35
6
3.2.1 Índice de consistência 35
3.2.2 Densidade de massa e teor de ar incorporado 36
3.2.3 Resistência à tração na flexão e à compressão axial 38
3.2.4 Resistência de aderência à tração 41
3.2.5 Absorção por capilaridade 43
3.2.6 Densidade de massa aparente 44
4 RESULTADOS 45
4.1 ÍNDICE DE CONSISTÊNCIA 45
4.2 DENSIDADE DE MASSA E TEOR DE AR INCORPORADO 46
4.3 RESISTÊNCIA À TRAÇÃO NA FLEXÃO E À COMPRESSÃO AXIAL 48
4.4 ABSORÇÃO DE ÁGUA POR CAPILARIDADE 50
4.5 DENSIDADE DE MASSA APARENTE NO ESTADO ENDURECIDO 52
4.6 RESISTÊNCIA DE ADERÊNCIA À TRAÇÃO 54
5 CONCLUSÃO 57
6 REFERÊNCIAS 59
7
1 INTRODUÇÃO
1.1 OBJETIVOS
9
2 ARGAMASSAS PARA REVESTIMENTOS
10
Reboco: É a camada final do revestimento, utilizada para cobrimento do
emboço, a qual propicia uma superfície que permita receber o revestimento
decorativo de acabamento.
13
Cabe ressaltar que grande parte das publicações referentes as argamassas
estabilizadas tratam justamente a respeito das vantagens de sua utilização nos
processos produtivos, e são poucos os trabalhos que se aprofundam em aspectos
técnicos relacionados a avaliação qualitativa do material e de estudos de dosagem. Os
fornecedores, por sua vez, prometem um desempenho satisfatório de seu produto,
porém, sem divulgarem maiores informações técnicas sobre o material, como
composição e dosagem (MACIOSKI, 2014).
Estudos conduzidos por Calçada e Pereira (2012), Fernandes (2011) e Neto et
al. (2010), em argamassas estabilizadas, comprovaram que há variações nas
propriedades quando a argamassa fica armazenada durante seu período de
estabilização. Tais variações têm início logo nas propriedades do estado fresco, como
consistência, umidade, densidade de massa e no teor de ar incorporado, e
consequentemente também foram verificadas variações nas propriedades das
argamassas no estado endurecido.
Neto et al. (2010) analisaram a influência da aplicação da película de água
sobre a argamassa estabilizada armazenada de um dia para o outro, conforme
procedimento padrão para o material, indicado pelos fornecedores. Segundo os
autores, notou-se que a adição da película de água auxiliou na manutenção e melhoria
da trabalhabilidade da argamassa nas idades avançadas do período de estabilização.
Entretanto, apesar das reações de hidratação não ocorrerem mediante o
emprego da lamina de água sobre o material em repouso, Neto et al. (2010), também
constataram que a argamassa perde parte significativa da água da mistura ao longo do
tempo de armazenagem de um dia para o outro, através do ensaio de retenção de
água conforme NBR 13277 (ABNT, 2005).
Em relação às vantagens e desvantagens das argamassas estabilizadas,
segundo informações de Matos (2013), podemos citar:
1
Tempo de setup é o período em que a produção é interrompida para que atividades intermediárias
sejam realizadas em prol da atividade de principal de produção.
14
Minimização das perdas: a argamassa pode ser utilizada em mais de um dia
mediante a estabilização ao final do expediente, evitando que a sobra seja
descartada estando ainda no tempo predeterminado;
Redução da responsabilidade da dosagem em obra e do controle de insumos,
obtendo-se a precisão do custo da argamassa;
Melhoria da logística e organização no canteiro de obra: os recipientes
contendo a argamassa podem ser descarregados próximos aos locais de
utilização.
15
recipiente apropriado, deve-se alisar, nivelando-se bem a superfície, e em seguida
aplicar uma película de 15 mm à 20 mm de água sobre a argamassa, para que quando
a mesma for utilizada no dia seguinte as propriedades do material ainda estejam
apropriadas, mediante a remoção da película.
2.3.1 Composição
2.3.1.1 Aglomerantes
2
Associação Brasileira de Cimento Portland
16
o ambiente ou devido a combinações químicas que geram tensões superficiais na
argamassa, respectivamente.
Nas argamassas mistas, de cal e cimento, o uso da cal na composição viabiliza
um melhor acabamento superficial, tornando a argamassa mais plástica para a
aplicação e contribuindo para uma melhor capacidade de absorver deformações
(FIORITO, 2013). A utilização da cal em argamassas traz algumas vantagens, pois
possui, devido à sua finura, importantes propriedades plastificantes e de retenção de
água. As propriedades plastificantes conferem à argamassa a capacidade de
preenchimento mais fácil e completo de toda a superfície do substrato, propiciando
maior extensão de aderência no momento da aplicação, e a retenção de água evita a
brusca retração por secagem da argamassa, tendo-se em vista que a mesma cede
água para o substrato de forma gradativa, evitando fissuras e dessa forma contribuindo
para a durabilidade do revestimento (CARASEK, 1996).
De acordo com a NBR 7211 (ABNT, 2009), agregados miúdos são substâncias
constituídas por grãos minerais estáveis e inertes em relação à água e aos
aglomerantes, cujos grãos passam pela peneira com abertura de malha de 4,75 mm e
ficam retidos na peneira com abertura de malha de 150 μm, em ensaio realizado de
acordo com a NBR NM 248 (ABNT, 2003), com peneiras definidas pela NBR NM ISO
3310-1 (ABNT, 2010).
Segundo Dubaj (2000), o agregado miúdo mais utilizado na composição de
argamassas é a areia de rio, e sua caracterização influencia diretamente no
desempenho do material. O autor cita que as principais funções da areia nas
argamassas consistem na redução do consumo de aglomerante, pois permite o
preenchimento completo dos vazios; aumento da resistência mecânica a esforços de
compressão e diminuição da retração da argamassa, porém, salienta que para o
cumprimento adequado de suas funções é imprescindível que os agregados possuam
uma composição granulométrica contínua.
Para Baía e Sabbatini (2008), vários são os aspectos a serem considerados na
areia para a formulação da argamassa, sendo eles: composição granulométrica,
17
dimensões, forma e rugosidade superficial dos grãos, massa unitária, umidade,
inchamento e ausência de matéria orgânica.
Conforme Carneiro e Cincotto (1999) o agregado miúdo não participa das
reações químicas do endurecimento da argamassa, porém, interfere em suas
propriedades no estado fresco pela composição granulométrica; o formato dos grãos
influencia na trabalhabilidade e na retenção de água; também interfere nas
propriedades no estado endurecido, influenciando nas resistências mecânicas, na
capacidade de deformação e na permeabilidade. Guimarães (1997) apresenta a
influência dos parâmetros granulométricos da areia nas propriedades da argamassa no
seu estado fresco e endurecido, conforme apresentado na Tabela 1.
Características da areia
2.3.1.3 Água
18
cimento, pois grande parte desta água da mistura é perdida em forma de evaporação e
por sucção do substrato, garantindo-se dessa forma eficiente processo nas reações
químicas de hidratação.
Misturada aos agregados, à cal (quando existente) e ao cimento Portland, a
água é responsável por dar trabalhabilidade à mistura, influenciando na consistência
da argamassa no estado fresco e também influenciando nas propriedades do estado
endurecido, tais como a resistência mecânica (ligada à relação a/c), durabilidade
(influência da retração, a qual está ligada ao aparecimento de fissuras) e
permeabilidade (ligada à estrutura dos poros e, também, à relação a/c) (TURRA,
2016).
A NBR 15900-1 (ABNT, 2009), estabelece os requisitos para a água de
amassamento de concreto, e segundo Kock (2017), os mesmos parâmetros podem ser
empregados para a produção de argamassas.
2.3.1.4 Aditivos
2.3.1.4.2 Incorporador de ar
2.4 PROPRIEDADES
21
trabalhabilidade, capacidade de retenção de água, aderência inicial e retração na
secagem.
24
Tal propriedade caracterizará o comportamento futuro do conjunto
substrato/revestimento quanto ao desempenho decorrente da aderência.
Segundo Baía e Sabbatini (2008), são fatores preponderantes para a aderência
inicial da argamassa: suas propriedades no estado fresco, as características e limpeza
da base de aplicação (porosidade, rugosidade, isenção de poeiras, partículas soltas e
gorduras) e o contato efetivo entre a superfície de argamassa e a base.
26
qualitativa que cresce de 1 a 4, na variação do nível de exigência das propriedades de
maior relevância para o revestimento.
Condições de exposição
Interno Externo
Propriedades
Parede Parede
Teto
Base Base Base Base
pintura cerâmica pintura cerâmica
Capacidade de aderência 2 2 3 3 4
Durabilidade 2 2 1 4 3
2.4.2.1 Aderência
27
propriedades da argamassa no estado fresco e dos procedimentos de execução do
revestimento (BAÍA; SABBATINI, 2008).
A avaliação da resistência de aderência à tração do revestimento pode ser
medida através do ensaio de arrancamento, conforme especificações previstas na
norma NBR 13528 (ABNT, 2010), a qual estabelece a metodologia para o ensaio que
permite a determinação tanto em laboratório quanto em obra.
De acordo com Gonçalves (2004), fatores como processo de execução do
revestimento, materiais utilizados e condições climáticas respondem por uma
variabilidade de até 33% nos resultados do ensaio de aderência. Conforme Springer Jr
(2008), mesmo o método sendo criticado por não descrever efetivamente o
desempenho de um revestimento argamassado tem sido a forma mais utilizada para
avaliar a qualidade do mesmo.
O limite de resistência de aderência à tração (Ra) para o revestimento de
argamassa varia de acordo com o local de aplicação, conforme apresentada na Tabela
3, segundo especificações da NBR 13749 (ABNT, 2013), a qual trata das
especificações para revestimentos de paredes e tetos de argamassas inorgânicas.
Teto - ≥ 0,20
28
2.4.2.2 Capacidade de absorver deformações
29
2.4.2.3 Resistência mecânica
2.4.2.4 Permeabilidade
30
indesejada para o revestimento, sendo potencializada pela existência fissuras que se
caracterizam como um caminho mais fácil para a percolação da água direto até a base
comprometendo dessa forma a estanqueidade da vedação.
Uma das principais funções do revestimento é contribuir com a estanqueidade à
água, evitando dessa forma a penetração da umidade, que é uma das maiores causas
de deterioração das edificações, estando diretamente relacionado as características da
base, a composição e dosagem da argamassa, a execução do revestimento, e a
espessura da camada de revestimento (BAÍA; SABBATINI, 2008).
A permeabilidade de uma argamassa depende basicamente da quantidade e do
tipo de aglomerante utilizado, da granulometria do agregado e das características do
substrato. O cimento Portland, quando usado em proporções adequadas, pode reduzir
à permeabilidade de um revestimento argamassado, porém se usado em teores muito
altos pode provocar a fissuração por retração hidráulica comprometendo assim a
permeabilidade da argamassa (SANTOS, 2008).
Conforme a NBR 15259 (ABNT, 2005), a permeabilidade pode ser indicada pelo
coeficiente de capilaridade, obtido através do ensaio de absorção por capilaridade. O
fenômeno da capilaridade está diretamente ligado à estrutura de poros do material,
que pode ser modificada por fatores como o tipo de cimento utilizado, a presença de
aditivos ou adições, as características do agregado e a quantidade de água da mistura,
mas principalmente pela forma de produção da argamassa e a execução do
revestimento, que dependendo da energia de aplicação pode apresentar uma maior
compacidade (SANTOS, 2008).
Conforme apontam Recena (2011) e Baía e Sabbatini (2008), pode-se medir a
absorção capilar como meio de comparar indiretamente a durabilidade entre diferentes
tipos de argamassas. Para os autores, entende-se por durabilidade a capacidade de as
argamassas manterem suas propriedades do estado endurecido diante das ações do
meio externo ao longo do tempo, mantendo o desempenho do revestimento acima dos
níveis mínimos especificados para o período de uso e vida útil predeterminado.
31
3 METODOLOGIA
32
Figura 6 – Fluxograma do planejamento experimental
33
Dessa forma, o intuito do procedimento de coleta supracitado, diretamente nos
canteiros de obras, foi a obtenção da maior fidelidade possível com o que é
efetivamente empregado na construção civil evitando-se, dessa forma, alguma
distorção nos resultados obtidos caso a dosagem da argamassa fosse realizada
exclusivamente para os ensaios.
A logística para a coleta e o processo de separação/armazenagem dos
materiais para os ensaios realizados no tempo de 0h, que foi o tempo inicial da
pesquisa, acabou tornando este, o evento espúrio do experimento, levando-se em
consideração a variação no tempo transcorrido entre coleta/ensaio, entre as diferentes
amostras para o respectivo tempo, podendo ter implicado em alguma variação de
resultados obtidos, entretanto, acredita-se que a possibilidade de tal variação seja
desprezível, porém, cabe mencioná-la. A Figura 7 apresenta o fluxo para realização
dos ensaios em laboratório.
34
Figura 8 – Fracionamento e armazenamento das amostras
36
Figura 10 – Procedimentos do ensaio de determinação da densidade de massa e teor de ar
incorporado. (a) Calibração do recipiente, (b) preenchimento com o material a ser ensaiado,
(c) tomada de peso do recipiente calibrado com o material analisado. – NBR 13278 (ABNT,
2005)
a b c
(Equação 1)
Sendo:
37
(Equação 2)
Sendo:
3
Valor informado pelas empresas fornecedoras de material. Argamassa 1: 2.250kg/m³; Argamassa 2:
2.255kg/m³; Argamassa 3: 2.251,5 kg/m³.
38
de ruptura, que ocorreu após o prazo de cura de 28 dias a contar do momento de
ensaio, conforme Figura 12.
(Equação 3)
Sendo:
39
reaproveitadas e rompidas individualmente, de acordo com a prescrição da normativa,
conforme Figura 13.
(Equação 4)
Sendo:
40
3.2.4 Resistência de aderência à tração
Figura 14 – (a) Protótipo de alvenaria previamente chapiscado, (b) recebendo a camada única
de revestimento e (c) posterior acabamento.
a b c
41
Figura 15 – Execução do ensaio de resistência de aderência à tração.
a b
42
3.2.5 Absorção por capilaridade
Figura 17 – Corpos de prova em contato com a água para ensaio de absorção por
capilaridade.
Sendo:
(Equação 7)
Sendo:
44
4 RESULTADOS
47
Gráfico 2 – Densidade de massa no estado fresco x Teor de ar incorporado
Conforme mencionado o gráfico mostra essa relação direta que existe entre o
crescimento da densidade de massa e o decréscimo do teor de ar incorporado no
decorrer do tempo de ensaio para ambas as argamassas analisadas.
Nesse sentido, Trevisol et al (2015) e Vaz (2017) mencionam que a menor
perda do teor de ar incorporado em função do tempo facilita na trabalhabilidade final
da argamassa, pois a manutenção das bolhas de ar proporcionadas pelo aditivo
incorporador de ar faz com que a tensão superficial da argamassa seja diminuída,
conferindo assim uma maior plasticidade e uma melhor retenção de água, o que é
benéfico durante o período de estabilização, para facilitar o manuseio do material.
Nos presentes ensaios não foi percebida nenhuma mudança significativa na
trabalhabilidade das argamassas quando manuseadas no estado fresco, salvo o
evento já mencionado no momento de tomada do índice de consistência da
Argamassa 1 para o tempo de 36 horas. Dito isso, no estado fresco não foram notadas
outras mudanças de propriedades, ou desempenho do material ao longo do seu
período de estabilização.
48
Gráfico 3 – Comparativo entre as resistências à tração na flexão e compressão
49
mesmo foi apresentado por Araujo (2005), que salienta que o excesso de aditivo
incorporador de ar é prejudicial à resistência das argamassas.
Conforme apresentado anteriormente no item 4.2, o teor de ar incorporado foi
decrescente ao decorrer do tempo de estabilização das Argamassas, o que deveria
implicar em resistências crescentes, já que, menor teor de ar incorporado representa
uma matriz mais densa e consequentemente resultaria em melhor resistência
mecânica, entretanto, acredita-se que o procedimento de moldagem dos corpos de
prova tenha influenciado nos resultados, pois com um índice de consistência
decrescente ao longo do período de estabilização a tendência do material sofrer uma
acomodação maior no molde é prejudicada em função de seu menor espalhamento.
No estudo apresentado por Bauer et al (2015), o qual buscou apresentar
requisitos das argamassas estabilizadas, os autores obtiveram resistências médias na
ordem de 2,54 MPa para resistência à tração na flexão e 7,73 MPa para compressão,
analisando 17 lotes de argamassas estabilizadas. No referido estudo, os autores
apresentam como um nível de desempenho adequado, resistências a compressão na
faixa de 5,50 a 9,00 MPa e resistências a tração na faixa de 2,0 a 3,5 MPa, o que
acaba classificando, com base nesta análise, como inadequado o desempenho médio
apresentado pelas Argamassas 1 e 2.
0h 0.31 0.48 2.60 14.60 0.16 0.31 2.34 11.40 0.17 0.26 1.36 19.10
12h 0.33 0.52 2.95 19.30 0.20 0.35 2.38 10.19 0.18 0.27 1.50 16.18
24h 0.35 0.58 3.96 12.10 0.27 0.45 2.98 13.10 0.22 0.32 1.60 4.70
36h 0.84* 1.64* 12.85* 17.00 0.32 0.52 3.20 5.40 0.25 0.37 1.94 14.70
Fonte: Elaborado pelo autor
50
Os resultados apresentados mostram que as Argamassas 1 e 2 tiveram uma
absorção média maior que a Argamassa 3, com coeficientes médios de capilaridade de
3,17 g/dm2.min1/2 (desconsiderando 36h) e 2,73 g/dm2.min1/2 respectivamente, frente a
1,60 g/dm2.min1/2 para Argamassa 3. Da mesma forma, como nos resultados de
resistência, os valores de absorção e coeficiente de capilaridade para a Argamassa 1
no tempo de 36 horas se comportaram de forma muito distinta do restante da amostra,
tornando também um evento espúrio no ensaio de absorção.
Quando comparadas individualmente, todas as amostras apresentaram
coeficiente de capilaridade crescente com o aumento do tempo de estabilização das
argamassas, como pode ser visualizado no Gráfico 4.
52
Gráfico 5 – Densidade de massa aparente no estado endurecido
53
cimento acabasse reagindo, mesmo durante o tempo de manutenção da
trabalhabilidade da argamassa nas primeiras 24 horas, prejudicando a formação da
resistência final.
Na presente pesquisa, os resultados de densidade de massa aparente no
estado enrudecido se mostraram inconclusivos, não sendo possível correlacionar de
maneira direta com as demais propriedades verificadas. Dessa forma, se faz
necessário a execução de mais experimentos para se verificar a possibilidade da
ocorrência de comportamentos semelhantes, tendo-se em vista, que os resultados
supracitados podem ter sido influenciados pela forma de moldagem.
54
influência das características do molde e da superfície de contato nas propriedades da
argamassa estabilizada, empregando uma metodologia para padronizar a energia de
aplicação do revestimento sobre as superfícies analisadas, e obtiveram os melhores
resultados para a argamassa de 0h. Já para Dachery (2015), que analisou a influência
da aplicação das argamassas estabilizadas por 72h em diferentes substratos e para
diferentes tempos ao longo do período de estabilização, os resultados mostraram-se
de forma distinta, a autora obteve as maiores resistências para as argamassas de 48h
aplicadas sobre o substrato de concreto (0,52 MPa) e em 72h para a argamassa
aplicada sobre substrato de cerâmico (0,47 MPa), adotando, também, uma
metodologia para padronizar a energia de aplicação da argamassa analisada.
Na presente pesquisa, foram obtidos resultados acima de 0,40 MPa com as
argamassas no tempo inicial. No entanto, uma variação representativa de - 34,09% foi
registrada, para a resistência média de aderência, na Argamassa 1 entre o tempo
inicial e 12h (que foi o menor valor de resistência da série), e de -16,33% e - 49,12%
entre o tempo inicial e o tempo final para as Argamassas 2 e 3, respectivamente.
Evidenciou-se maior homogeneidade nos resultados da Argamassa 2, porém, uma
maior distorção para a Argamassa 3, o que, de modo geral, não representou o que
vinha sendo percebido no comportamento das argamassas no estado fresco. Tendo-se
em vista o desempenho geral das argamassas, a resistência média de aderência ao
longo do tempo total de ensaio foi de 0,32 MPa, 0,38 MPa e 0,33 MPa, para as
Argamassas 1, 2 e 3 respectivamente, estando acima dos limites mínimos impostos
pela NBR 13749 (ABNT, 2013), a qual estabelece Resistência de Aderência (Ra) >
0,20 MPa e Ra > 0,30 MPa para revestimentos de paredes internas e externas, nesta
ordem.
Kock (2017) e Bauer et al. (2015) analisaram a resistência potencial de
aderência em argamassas estabilizadas, chegando em valores na faixa de 0,22 MPa
no estudo de Kock (2017), e de 0,51 MPa a 0,62 MPa no estudo de Bauer et al. (2015),
os quais estabelecem como requisito para as argamassas estabilizadas valores de
resistência potencial > 0,30 MPa, porém, em ambos trabalhos mencionados os autores
sinalizam para as diferenças de ensaio preconizadas pela NBR 15258 (ABNT, 2005),
que estabelece a metodologia para o ensaio de resistência de aderência potencial.
Dessa forma, como já mencionado no item 2.4.2.1 citando Gonçalves (2004),
diversos fatores podem influenciar nos resultados de aderência à tração. Acredita-se
que os resultados obtidos foram inconclusivos quanto ao real desempenho das
55
argamassas analisadas por apresentarem tamanhas variações, para trabalhos futuros,
recomenda-se uma padronização da energia de aplicação e a execução do
revestimento ser realizada sobre uma placa padrão, seguindo os procedimentos
descritos pela NBR 15258 (ABNT, 2005), para se analisar a resistência de aderência
potencial, por apresentar maiores recursos bibliográficos no intuito de se compararem
resultados.
Outro importante aspecto prescrito pela NBR 13528 (ABNT, 2010) está
relacionado à forma de ruptura dos corpos de prova. Na Tabela 6 apresenta-se um
resumo dos tipos de ruptura registrados no ensaio das argamassas estudas.
Tabela 6 – Resumo geral do tipo de ruptura de acordo com a NBR 13528 (ABNT, 2010)
56
5 CONCLUSÃO
Classificação
Propriedade
Argamassa 1 Argamassa 2 Argamassa 3
Resistência à compressão P3 P4 P5
Coeficiente de capilaridade C3 C3 C2
57
quando as variações se mostrarem acima dos limites aceitáveis pela NBR 13281
(ABNT, 2005). Nestas situações, podem implicar na inadequação do material para
determinados usos, dependendo de quando for utilizada em seu tempo de
estabilização, por exemplo, quando uma mudança de propriedade ultrapassar algum
limite imposto pela normativa, conferindo duas classes ao mesmo material quando
utilizada em diferentes tempos de seu período de estabilização. A presente pesquisa
não registrou esse comportamento, porém observa-se que é possível acontecer.
Algo a ser mencionado, negativamente, foi a incapacidade da Argamassa 1
manter sua consistência de forma a conferir o mínimo de trabalhabilidade ao material
nas horas finais do seu tempo de estabilização, chegando ao limite mínimo de
trabalhabilidade do material em 24 horas de estado fresco. O que ocorreu pode ter
como causa um problema de dosagem, como aditivo em proporção inadequada. Um
problema grave, tendo-se em vista a ideia do material se manter utilizável por até 36
horas, e que para poder utilizá-la, conforme mostrado na presente pesquisa, há a
necessidade de acréscimo de água em sua composição para corrigir sua consistência,
sendo esta uma prática inadequada pelo impacto, principalmente, sobre as
propriedades mecânicas da argamassa.
Em suma, cada argamassa, especificamente, dispõe de suas próprias
características, sendo muito influenciadas por sua composição, forma de dosagem e
teores de aditivos. Cada fornecedor entrega um determinado produto, cada um com
suas especificidades, demandando dos usuários uma análise quanto às necessidades
particulares requeridas em cada obra.
Por último, mas não menos importante, se mostra de suma importância a
concepção de uma normativa específica para as argamassas estabilizadas,
especificando limites de perda de consistência, limites máximos de teor de ar
incorporado e coeficientes de permeabilidade, em função da possibilidade de uso
excessivo de aditivo incorporador de ar no momento de dosagem, o que pode
influenciar no desempenho do material.
58
6 REFERÊNCIAS
___.NBR 11768: Aditivos químicos para concreto de cimento Portland — Requisitos. Rio
de Janeiro, agosto 2011.
59
___.NBR 13280: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos -—
Determinação da densidade de massa aparente no estado endurecido. Rio de Janeiro,
outubro 2005.
BAUER, Elton; RAMOS, Daiane V. M.; SANTOS, Carla C. N.; PAES, Isaura L.; SOUSA,
José. G. G. de; ALVES, Nielsen J. D.; GONCALVES, Sérgio R.; LARA, Patrícia. L. O.
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