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net/publication/362826727
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Rodrigo T Santos
Concremat
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Expansive reactions (AAR / RAA / ASR and DEF) and cracking of concrete View project
All content following this page was uploaded by Marcela B. S. Sollero on 20 August 2022.
1. INTRODUÇÃO
Para que a estrutura apresente bom desempenho frente a essas condições de serviço, no que
se refere aos aspectos da durabilidade e da estabilidade, o projetista deve ter conhecimento de
parâmetros tais como: fluxo de calor (permanente, quase permanente ou transitório), materiais
constituintes da estrutura (tipo de concreto, aço ou madeira, por exemplo), características da
operação (acúmulo de água, óleos, uso de agentes químicos, entre outros), equipamentos
existentes, materiais isolantes e agentes agressivos, como gases nocivos.
O presente artigo tem como objetivos apresentar agentes de degradação cujo efeito pode se dar
de forma concomitante às altas temperaturas em ambientes industriais, abordar ferramentas do
processo de diagnóstico do quadro patológico e apresentar ações usuais de reabilitação para
estruturas de concreto industriais sujeitas à degradação química e térmica, demonstradas em
um estudo de caso.
Estruturas de concreto industriais sujeitas a altas temperaturas podem ser agredidas por agentes
comuns em diversos meios – urbanos, marítimos ou industriais - e por agentes particulares dos
processos desenvolvidos. Entre os agentes comuns, pode-se citar [3, 4, 5]:
Figura 1: Deterioração do concreto por reações químicas, adaptada de Mehta e Monteiro [4]
Estruturas de concreto de cimento Portland expostas às altas temperaturas por longos períodos
estão sujeitas a efeitos deletérios como perda de resistência mecânica dos materiais
constituintes, aumento da porosidade, desagregação, fissuras e desplacamento do concreto. A
elevação da temperatura acelera as reações químicas envolvidas nos processos de degradação
do concreto e corrosão de armaduras, afetando a aderência aço-concreto e modificando as
propriedades mecânicas dos materiais, reduzindo a vida útil, aumentando os riscos de acidentes
e comprometendo a estabilidade das estruturas [2, 3, 4].
Oxfall [9] aponta, para usinas nucleares, a exposição prolongada a até 66 ºC em condições
normais e até 93 ºC em áreas próximas às tubulações de vapor, com exposições acidentais de
curta duração de até 176 ºC em áreas comuns e de até 343 ºC para pontos expostos a jatos de
vapor ou água quente pressurizada. Destaca-se que a exposição aos vapores e ao calor
proveniente de equipamentos e tubulações é usual em diversos ambientes industriais.
Cabe expor ainda que alguns materiais armazenados em grande quantidade ou utilizados em
instalações industriais possuem potencial combustível ou explosivo, como açúcar e farinha
(explosão fraca, KSt < 200 bar m/s), pó de madeira, pó de metilcelulose e aromas em pó ou
vitaminas (explosão forte, 200 < KSt < 300 bar m/s), pó de alumínio e pó de magnésio (explosão
muito forte, KSt > 300 bar m/s), podendo ser inflamados por eventos de maior ou menor porte, de
chamas à faíscas decorrentes de atrito ou eletricidade estática.
O primeiro passo pode ser detalhado pela análise documental, identificação e limpeza das áreas
de interesse, vistoria preliminar, estudo de termogramas – se existentes – e registro de
indicadores de temperatura in loco, como elementos poliméricos ou metálicos, íntegros ou
degradados. Tais ações visam permitir a compreensão do cenário apresentado, a avaliação de
riscos estruturais, a definição de metodologias de inspeção e a aplicabilidade de provas de carga,
monitoramentos, análise estrutural e ensaios.
A avaliação detalhada posterior pode abranger a realização de inspeção visual, ensaios não-
destrutivos e semidestrutivos, fundamentando a análise do quadro, a avaliação da extensão dos
reparos e a definição da estratégia a ser adotada frente ao dano: reparar, reforçar ou substituir
os elementos.
De acordo com a norma ACI 228.2R [16], a inspeção visual é um ensaio não destrutivo no qual
os danos presentes nas faces visíveis dos elementos estruturais são cadastrados e classificados
conforme extensão e gravidade.
Sollero e Santos [18] expõe métodos de execução, resultados típicos, critérios para análise e a
aplicabilidade de ensaios de determinação da velocidade de propagação de ondas ultrassônicas,
esclerometria, colorimetria e análise petrográfica na inspeção e análise de estruturas expostas
às altas temperaturas, abordando ainda análises estruturais, ensaios dinâmicos e estáticos.
Meng et al [2] realizaram a avaliação prática de um canal de corrida de tarugos de aço aquecidos.
O modelo matemático termomecânico foi construído no software de análise estrutural ANSYS e
os parâmetros adotados se basearam no conhecimento do ambiente (campos térmicos), nas
propriedades mecânicas residuais obtidas através de ensaios e na geometria do canal de corrida.
Para obter a temperatura crítica e os ciclos térmicos ao qual a estrutura era exposta, foram
utilizados termopares, os quais indicaram temperaturas de 75 a 110 °C em condições regulares
e picos de até 165°C.
Figura 3: Instalação de sensores para realização de prova de carga dinâmica (acervo próprio)
Esforços para se obter sensores adequados ao uso sob altas temperaturas, utilizando soluções
como ligas de aço-cromo-alumínio, vem sendo direcionados em pesquisas experimentais. Para
fixação, há adesivos epoxídicos especiais resistentes a temperaturas da ordem de 400 ºC, a
partir da qual se fazem necessários adesivos cerâmicos e soldas [22]. Assim, o uso e a instalação
de extensômetros devem ser limitados conforme a temperatura de trabalho especificada pelo
fabricante.
3.4 Reabilitação Estrutural
Correia e Rodrigues [23] expõe que os métodos de recuperação de estruturas incendiadas – por
extensão, também de estruturas expostas às altas temperaturas em condições de serviço –
variam de acordo com o nível de dano, que é heterogêneo ao longo da estrutura. Sua escolha
deve considerar, além dos aspectos já expostos, fatores como a resistência ao fogo, a resistência
aos esforços atuantes e a durabilidade requeridas, as condições de acesso, o tempo e os
equipamentos disponíveis e a possibilidade de limitações funcionais ao espaço resultante.
As normas ACI 564R [24] e EN1504 [25] orientam sobre métodos de recuperação de estruturas
de concreto deterioradas por mecanismos diversos, aplicando-se também às edificações
industriais. A continuidade ou a reincidência da exposição à alta temperatura durante e após a
intervenção, no entanto, trazem novos desafios, como ilustra o Quadro 2:
4. ESTUDO DE CASO
Foi realizada a avaliação da integridade estrutural de canais de corrida, bem como dos elementos
estruturais adjacentes de concreto de cimento Portland armado. Os canais, compostos por
concreto de cimento aluminoso armado, foram projetados para limitar a temperatura à 350 ºC
em sua face interna, junto à proteção refratária, e à 150 ºC em sua face externa. Canais de
corrida de aço e derivados [1, 2] são frequentemente construídos em concreto armado e podem
apresentar anomalias significativas decorrentes da exposição térmica e de outros mecanismos
de degradação, como indicado na Figura 4.
Após visita técnica e pesquisa documental, realizaram-se inspeção visual detalhada e ensaios.
Removida a camada mal aderida e fissurada, constatou-se resistência à compressão residual do
concreto compatível com os requisitos de projeto (fck ≥ 50 MPa), sendo que em elementos
expostos às altas temperaturas os valores obtidos foram 14% inferiores aos valores de controle.
As análises termogravimétricas (TG) e análises termodiferenciais (ATD), realizadas em amostras
do cobrimento de concreto, apontaram que o concreto de cimento Portland atingiu temperaturas
inferiores a 200 ºC e que o concreto de cimento aluminoso não sofreu alteração térmica relevante
nas camadas externas dos canais. Constatou-se ainda a carbonatação do concreto de cimento
Portland e sua elevada contaminação por cloretos, assim como como a ocorrência de reação
álcali-agregado e a presença de etringita não só na zona de transição entre a pastas e os
agregados, mas também em poros, como ilustra a Figura 5.
Objetivou-se obter a temperatura máxima a que os materiais de reparo serão expostos durante
a operação da estrutura, fornecendo dados para a especificação técnica de materiais de
recuperação e proteção. Dessa forma, foi realizada análise de sensibilidade em função de
temperaturas críticas em pontos de controle, como a interface entre a face inferior de uma laje
de concreto próxima a um canal e a face superior de uma camada de proteção com 3 cm de
espessura, como expõe o Quadro 3.
Os estudos desenvolvidos com base na inspeção visual, na análise documental, nos ensaios e
no modelo termonumérico suportaram a definição dos elementos a serem reforçados,
substituídos ou reparados, das técnicas de limpeza necessárias para remoção dos
contaminantes superficiais, da profundidade de concreto a ser demolida na recuperação e das
metodologias aplicáveis, considerando-se o efeito simultâneo de altas temperaturas, ataque por
cloretos e reações expansivas do concreto. A análise fundamentou ainda a seleção de materiais,
como ancoragens químicas à base de resina vinil éster híbrido e de durômeros de poliuretano
estrutural (poliisocianurato), resistentes a temperaturas de serviço de até 150 ºC, e de
revestimentos isolantes projetados.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A seleção das técnicas e materiais de intervenção deve seguir premissas específicas que
considerem a continuidade da exposição ao calor ou mesmo a reincidência de incêndios,
apresentando estabilidade e resistência térmica compatíveis com as solicitações previstas.
A adequada compreensão do quadro patológico apresentado pela estrutura, por sua vez, permite
a classificação de zonas com diferentes tipos e graus de danos, direcionando as ações de
reabilitação ou substituição, e o detalhamento das intervenções de recuperação e reforço
aplicáveis. Como resultado, tem-se a otimização da aplicação de recursos, o controle do impacto
das obras na operação industrial e a maior qualidade técnica dos serviços executados,
proporcionando a restauração ou extensão da vida útil residual das estruturas.
6. AGRADECIMENTOS
Os autores desejam agradecer à Concremat Engenharia e Tecnologia S.A. pelo apoio técnico e
incentivo à pesquisa.
7. REFERÊNCIAS