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REABILITAÇÃO DE ESTRUTURAS INDUSTRIAIS DE CONCRETO EXPOSTAS A


ALTAS TEMPERATURAS

Conference Paper · July 2022

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3 authors:

Marcela B. S. Sollero Vinicius Ippolito


University of Campinas University of Campinas
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Rodrigo T Santos
Concremat
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Estruturas de concreto em situação de incêndio View project

Expansive reactions (AAR / RAA / ASR and DEF) and cracking of concrete View project

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6º CILASCI – Congresso Ibero-Latino-Americano sobre Segurança contra Incêndio
Belo Horizonte, Brasil, 22 a 24 de Junho, 2022

REABILITAÇÃO DE ESTRUTURAS INDUSTRIAIS DE CONCRETO


EXPOSTAS A ALTAS TEMPERATURAS

Marcela B.S.Sollero Vinicius Ippolito Rodrigo T. Santos


Tecg. Const. Civil Mestrando Engenheiro Civil
Concremat UNICAMP – Concremat
Engenharia e Campinas, Brasil Engenharia e
Tecnologia Tecnologia
São Paulo, Brasil São Paulo, Brasil

Palavras-chave: reabilitação de estruturas, altas temperaturas, industrial, análise térmica, ciclo


térmico.

1. INTRODUÇÃO

Ambientes industriais são caracterizados por constituírem um meio de alta agressividade às


estruturas de concreto armado e protendido, sendo esperada a ação de agentes químicos. Em
áreas que apresentam temperaturas elevadas, como prédios de caldeiras, metalúrgicas,
siderúrgicas e usinas térmicas, o cenário se agrava em virtude da aceleração de mecanismos
químicos de degradação e da ocorrência de danos diretamente derivados de mecanismo
térmicos.

Os esforços de pesquisas envolvendo ações térmicas em estruturas se concentram usualmente


em situações de incêndio, eventos de curta duração e alta intensidade. Em plantas industriais,
as estruturas de concreto podem ser afetadas ainda por ciclos de temperatura intermitentes e de
longa duração, com paradas ocasionais para manutenção e ciclos operacionais [1, 2].

Para que a estrutura apresente bom desempenho frente a essas condições de serviço, no que
se refere aos aspectos da durabilidade e da estabilidade, o projetista deve ter conhecimento de
parâmetros tais como: fluxo de calor (permanente, quase permanente ou transitório), materiais
constituintes da estrutura (tipo de concreto, aço ou madeira, por exemplo), características da
operação (acúmulo de água, óleos, uso de agentes químicos, entre outros), equipamentos
existentes, materiais isolantes e agentes agressivos, como gases nocivos.

O presente artigo tem como objetivos apresentar agentes de degradação cujo efeito pode se dar
de forma concomitante às altas temperaturas em ambientes industriais, abordar ferramentas do
processo de diagnóstico do quadro patológico e apresentar ações usuais de reabilitação para
estruturas de concreto industriais sujeitas à degradação química e térmica, demonstradas em
um estudo de caso.

2. DEGRADAÇÃO DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO: AMBIENTES INDUSTRIAIS COM


EXPOSIÇÃO ÀS ALTAS TEMPERATURAS

2.1 Degradação por Mecanismos Químicos e Térmicos

Estruturas de concreto industriais sujeitas a altas temperaturas podem ser agredidas por agentes
comuns em diversos meios – urbanos, marítimos ou industriais - e por agentes particulares dos
processos desenvolvidos. Entre os agentes comuns, pode-se citar [3, 4, 5]:

(a) Cloretos provenientes da contaminação dos materiais, do ambiente marítimo, da água


do mar aplicada em circuitos de resfriamento (usinas térmicas), da água de torres de
resfriamento ou de processos como a decapagem química com ácido clorídrico e o uso
de aciarias elétricas que geram pós como resíduos (siderúrgicas);

(b) Sulfatos derivados do ambiente marinho, da água do mar aplicada em circuitos de


resfriamento (usinas térmicas), da atmosfera e de processo como sinterização,
transformação de gusa em aço e tratamento de escória (siderúrgicas);

(c) Dióxido de carbono e monóxido de carbono provenientes da atmosfera, cuja


concentração pode ser diferenciada em função de processos como a sinterização,
queima de COG (coke oven gas), produção e queima de coque e preparação de cal
(siderúrgicas) e queima de licor em caldeiras de recuperação (produção de celulose).

Entre os agentes e produtos agressivos incomuns em outros meios, próprios de processos


industriais e cuja associação ocasiona danos severos às estruturas de concreto [3, 4, 5],
encontram-se:

(a) Dióxido de enxofre (𝐒𝐎𝟐 ), da granulação de escória, que acelera a carbonatação do


concreto, propicia sua desagregação e corrói o aço carbono;
(b) Sulfato de sódio (Na2SO4), utilizado na recuperação de químicos (produção de
celulose), que desagrega o concreto;
(c) Hidróxido de sódio (NaOH), da recuperação de químicos (produção de celulose) e do
uso como agente alcalinizante em águas de caldeiras e outros processos, que pode
acelerar ou induzir a reação álcali-agregado em concretos com agregados
potencialmente reativos;
(d) Óxido de nitrogênio (𝐍𝐎𝐱 ), emitido por sinterizações, coquerias, alto fornos e aciarias,
que acentua a corrosão do aço carbono;
(e) Ácido sulfídrico (𝐇𝟐 𝐒), de coquerias e do tratamento de escórias, que forma ácido
sulfúrico, desagrega e pode provocar expansão do concreto, além de corrosão do aço;
(f) Vapores de resfriamento de placas e granulação de escória, que proporcionam
lixiviação do concreto e corrosão, das armaduras;
(g) Água pura ou desmineralizada, que lixivia e desagrega o concreto.

Apesar da variedade, combinação e concentração de agentes agressivos apresentarem


características particulares em áreas industriais, a forma de atuação dos mecanismos de
degradação químicos é a mesma encontrada em outros ambientes, como apresenta a Figura 1.

Figura 1: Deterioração do concreto por reações químicas, adaptada de Mehta e Monteiro [4]

Estruturas de concreto de cimento Portland expostas às altas temperaturas por longos períodos
estão sujeitas a efeitos deletérios como perda de resistência mecânica dos materiais
constituintes, aumento da porosidade, desagregação, fissuras e desplacamento do concreto. A
elevação da temperatura acelera as reações químicas envolvidas nos processos de degradação
do concreto e corrosão de armaduras, afetando a aderência aço-concreto e modificando as
propriedades mecânicas dos materiais, reduzindo a vida útil, aumentando os riscos de acidentes
e comprometendo a estabilidade das estruturas [2, 3, 4].

Além disso, os ciclos de temperaturas agravam o cenário, provocando fraturas e perda de


aderência entre os materiais em função dos efeitos do choque térmico [2, 3, 6, 7].
A norma ACI 349 endossa que numerosos ciclos térmicos ou temperaturas acima de 150ºC
podem causar a redução das propriedades mecânicas e a fissuração do concreto, havendo
eventos documentados de perda de aderência aço/concreto aos 300 ºC [8].

Oxfall [9] aponta, para usinas nucleares, a exposição prolongada a até 66 ºC em condições
normais e até 93 ºC em áreas próximas às tubulações de vapor, com exposições acidentais de
curta duração de até 176 ºC em áreas comuns e de até 343 ºC para pontos expostos a jatos de
vapor ou água quente pressurizada. Destaca-se que a exposição aos vapores e ao calor
proveniente de equipamentos e tubulações é usual em diversos ambientes industriais.

Em ambientes industriais envolvendo ações de alta agressividade ambiental e temperaturas


elevadas é comum ainda se deparar com cenários que convergem para a presença de
manifestações patológicas em função dessa associação [1, 2].

Cabe expor ainda que alguns materiais armazenados em grande quantidade ou utilizados em
instalações industriais possuem potencial combustível ou explosivo, como açúcar e farinha
(explosão fraca, KSt < 200 bar m/s), pó de madeira, pó de metilcelulose e aromas em pó ou
vitaminas (explosão forte, 200 < KSt < 300 bar m/s), pó de alumínio e pó de magnésio (explosão
muito forte, KSt > 300 bar m/s), podendo ser inflamados por eventos de maior ou menor porte, de
chamas à faíscas decorrentes de atrito ou eletricidade estática.

Não menos preocupante, há o risco de combustão espontânea em função do baixo ponto de


ignição, favorecendo a ocorrência de sinistros, de produtos como cavacos de madeira dispostos
para secagem na indústria de papel e celulose, pós de zircônio em plantas de processamento
de sucata e carvão, em siderúrgicas [10, 11, 12, 13].

3. AVALIAÇÃO DE INTEGRIDADE E REABILITAÇÃO ESTRUTURAL

Em ambientes industriais é comum encontrarmos estruturas de concreto com anomalias em


grandes extensões, em elevado grau de evolução e com características heterogêneas em função
do microclima de cada região da planta.

Considerando-se a exposição às altas temperaturas, a avaliação da estrutura pode ser dividida


em quatro passos: coleta de dados referentes à exposição e suas consequências, exame dos
danos, classificação dos danos, identificação e seleção dos métodos de intervenção mais
adequados [14].

O primeiro passo pode ser detalhado pela análise documental, identificação e limpeza das áreas
de interesse, vistoria preliminar, estudo de termogramas – se existentes – e registro de
indicadores de temperatura in loco, como elementos poliméricos ou metálicos, íntegros ou
degradados. Tais ações visam permitir a compreensão do cenário apresentado, a avaliação de
riscos estruturais, a definição de metodologias de inspeção e a aplicabilidade de provas de carga,
monitoramentos, análise estrutural e ensaios.
A avaliação detalhada posterior pode abranger a realização de inspeção visual, ensaios não-
destrutivos e semidestrutivos, fundamentando a análise do quadro, a avaliação da extensão dos
reparos e a definição da estratégia a ser adotada frente ao dano: reparar, reforçar ou substituir
os elementos.

O processo de reparo em si envolve avaliar as opções de intervenção – substituição, reparo,


reforço ou mesmo nenhuma ação -, selecionar materiais de reparo compatíveis com as
solicitações e condições de serviço, detalhar as ações em projeto ou especificações técnicas e
efetivamente executá-las [15].

3.1 Inspeção Visual

De acordo com a norma ACI 228.2R [16], a inspeção visual é um ensaio não destrutivo no qual
os danos presentes nas faces visíveis dos elementos estruturais são cadastrados e classificados
conforme extensão e gravidade.

Há diferentes formas de se registrar e classificar o quadro patológico observado. Recomenda-se


o uso de critérios que consigam avaliar o microclima de exposição da estrutura, dada sua maior
influência na durabilidade dos elementos, adaptando-se referências acerca do efeito das altas
temperaturas. Como exemplo, o Report ME 62 [17] e o Bulletin fib 46 [14] apresentam critérios
de classificação para estruturas que foram expostas a altas temperaturas conforme o tipo de
dano e sua gravidade, conforme o Quadro 1.

Quadro 1: Classificação de danos para estruturas expostas a altas temperaturas, adaptado de


Report ME 62 [17] e Bulletin fib 46 [14]
Descrição dos danos Descrição dos danos
Nível Nível
Report ME 62 Bulletin fib 46
0 Inexistência de danos. 1 Dano estético e superficial. Manchas de
fuligem removíveis com lavagem, descoloração
e odores.
1 Acúmulo de fuligem, mudanças na 2 Dano técnico e superficial. Revestimentos e
coloração e presença de tratamentos superficiais são afetados.
microfissuras não orientadas. Pequenos lascamentos no concreto, tratáveis
com argamassa.
2 Lascamento superficial, fissuras 3 Dano estrutural e superficial. Deformação de
em forma de mapa e orientadas. superfícies metálicas. Lascamentos tratáveis
com argamassa e fissuras no concreto.
3 Perda da camada de cobrimento, 4 Fissuras e lascamento de maior relevância.
exposição de armaduras e leve Grandes deformações que afetam a
desagregação do concreto. capacidade portante da estrutura.
4 Deformação plástica das 5 Falhas localizadas, grandes deformações,
armaduras, perda de grande lascamentos generalizados, armaduras
volume de concreto ou perda de expostas, danos consideráveis em zonas de
sua coesão. compressão. Orienta-se interdição da estrutura.
Complementarmente, é recomendado o mapeamento das anomalias resultantes, como
manchas, fissuras, lascamentos, desagregações, deformações e rupturas.

3.2 Ensaios semidestrutivos e não destrutivos (END)

Os ensaios recomendados para a avaliação da estrutura variam conforme o cenário de exposição


às ações térmicas e ambientais, devendo fornecer dados para identificar as diferentes regiões
de danos, as propriedades mecânicas residuais dos elementos e sua profundidade afetada,
considerando-se que os efeitos das altas temperaturas são graduais e heterogêneos.

Sollero e Santos [18] expõe métodos de execução, resultados típicos, critérios para análise e a
aplicabilidade de ensaios de determinação da velocidade de propagação de ondas ultrassônicas,
esclerometria, colorimetria e análise petrográfica na inspeção e análise de estruturas expostas
às altas temperaturas, abordando ainda análises estruturais, ensaios dinâmicos e estáticos.

Para a caracterização das propriedades residuais do material, o FIB Bulletin 38 e o Report ME


62 indicam ensaios semidestrutivos e não destrutivos, como esclerometria, determinação da
velocidade de propagação de ondas ultrassônicas, tomografia ultrassônica, testes mecânicos,
microscopia eletrônica de varredura, ensaios térmicos e difratometria de raio-x [17, 19].

É particularmente recomendada a realização de ensaios térmicos, tais como a análise


termodiferencial (ATD) e termogravimétrica (TG) e a perda ao fogo, procedimentos analíticos que
permitem compreender o comportamento térmico de uma amostra de concreto e observar danos
e alterações microestruturais em razão da elevação da temperatura [17, 20].

3.3 Avaliação Estrutural

A avaliação ou análise estrutural objetiva indicar a necessidade de reforçar ou elementos


estruturais. Para tal, devem ser elaborados modelos matemáticos que considerem os reais
esforços solicitantes e a real capacidade resistente da estrutura, incorporando os dados obtidos
através de inspeção, ensaios, provas de carga e monitoramentos [18].

Meng et al [2] realizaram a avaliação prática de um canal de corrida de tarugos de aço aquecidos.
O modelo matemático termomecânico foi construído no software de análise estrutural ANSYS e
os parâmetros adotados se basearam no conhecimento do ambiente (campos térmicos), nas
propriedades mecânicas residuais obtidas através de ensaios e na geometria do canal de corrida.
Para obter a temperatura crítica e os ciclos térmicos ao qual a estrutura era exposta, foram
utilizados termopares, os quais indicaram temperaturas de 75 a 110 °C em condições regulares
e picos de até 165°C.

Zhang et al [21] estudaram o comportamento termomecânico de estruturas de concreto a partir


de um modelo matemático bidimensional desenvolvido no software ABAQUS, como ilustra a
Figura 2. O modelo matemático recebeu os parâmetros pertinentes as propriedades térmicas do
concreto, recebeu como condição de contorno a temperatura prescrita dos ciclos de
temperaturas operacionais ao qual estrutura é exposta e a malha utilizada, de 10 a 20 mm, foi
selecionada de forma a balancear o tempo de integração e obter estabilidade numérica de modo
otimizado. Os efeitos de não linearidade não foram considerados.

Figura 2: Campos e ciclos térmicos obtidos por Zhang et al [21]

A calibração do modelo mecânico com base no comportamento real da estrutura permite a


obtenção de respostas adequadas e pode ser realizada a partir do conhecimento de suas
frequências naturais e seus modos de vibração. Tais dados podem ser obtidos a partir de ensaios
de prova de carga dinâmica, como ilustra a Figura 3 [18].

Figura 3: Instalação de sensores para realização de prova de carga dinâmica (acervo próprio)

As provas de carga e os monitoramentos dependem da instrumentação com transdutores de


deslocamento variável linear (LVDT), termopares e extensômetros (strain gages), uma vez que
deslocamento, temperatura e tensões atuantes são fatores primordiais para a elucidação da
performance da estrutura. O boletim técnico NIST 1768 [22] provê recomendações para a
instrumentação de estruturas, alertando para os cuidados necessários em ambientes de altas
temperaturas, as quais podem comprometer os componentes e adesivos, fornecendo resultados
não confiáveis. Em particular, são citados relatos da falha de extensômetros a partir de 300 ºC.

Esforços para se obter sensores adequados ao uso sob altas temperaturas, utilizando soluções
como ligas de aço-cromo-alumínio, vem sendo direcionados em pesquisas experimentais. Para
fixação, há adesivos epoxídicos especiais resistentes a temperaturas da ordem de 400 ºC, a
partir da qual se fazem necessários adesivos cerâmicos e soldas [22]. Assim, o uso e a instalação
de extensômetros devem ser limitados conforme a temperatura de trabalho especificada pelo
fabricante.
3.4 Reabilitação Estrutural

As ações de reabilitação em estruturas industriais de concreto submetidas às altas temperaturas


desenvolvem-se em função de fatores técnicos, operacionais e econômicos, como o tipo e a
extensão dos danos, o impacto das obras no uso da estrutura remanescente e os custos da
ação, diretos (materiais e mão de obra) e indiretos (paralizações e isolamentos).

Correia e Rodrigues [23] expõe que os métodos de recuperação de estruturas incendiadas – por
extensão, também de estruturas expostas às altas temperaturas em condições de serviço –
variam de acordo com o nível de dano, que é heterogêneo ao longo da estrutura. Sua escolha
deve considerar, além dos aspectos já expostos, fatores como a resistência ao fogo, a resistência
aos esforços atuantes e a durabilidade requeridas, as condições de acesso, o tempo e os
equipamentos disponíveis e a possibilidade de limitações funcionais ao espaço resultante.

As normas ACI 564R [24] e EN1504 [25] orientam sobre métodos de recuperação de estruturas
de concreto deterioradas por mecanismos diversos, aplicando-se também às edificações
industriais. A continuidade ou a reincidência da exposição à alta temperatura durante e após a
intervenção, no entanto, trazem novos desafios, como ilustra o Quadro 2:

Quadro 2: Pontos de atenção nas intervenções em estruturas de concreto expostas às altas


temperaturas durante ou após os tratamentos
Intervenção Pontos de atenção sob exposição às altas temperaturas
Choque térmico *
Autocombustão de agentes de limpeza não diluídos *
Limpeza do concreto Remoção de contaminantes
Reavaliação da existência de fissuras após remoção de fuligem
Identificação dos pontos com som cavo e/ ou delaminação
Demolição parcial Identificação da profundidade afetada
Injeção, colagem ou Temperatura de transição vítrea (Tg) das resinas epoxídicas
chumbamento com convencionais, que torna seu uso inadequado em temperaturas a
resina epoxídica partir de 40 a 80 ºC, variando conforme formulação e marca
Falhas de aderência devido à temperatura excessiva do substrato *
Tratamento de Redução da resistência ao escoamento
armaduras Comprometimento da aderência aço/concreto
Aceleração térmica da reação de corrosão
Falhas de aderência devido à temperatura excessiva do substrato *
Aplicação de Falhas na aderência das camadas em função de gradientes térmicos
concreto ou Retração e fissuração devido à intensa perda de água durante a cura
argamassa Formação de etringita tardia
Degradação das propriedades micro e macroestruturais do material
Falhas de aderência devido à temperatura excessiva do substrato *
Aplicação de Cura inadequada devido à evaporação acelerada
sistema de proteção Resistência aos picos de temperatura, a ciclos térmicos, à exposição
superficial prolongada, ao calor seco e ao calor úmido
Mecanismos de degradação simultâneos
* No reparo de estruturas sem interrupção da operação
A concepção estrutural da edificação e a tipologia dos elementos também podem trazer
particularidades, como expõe Correia e Rodrigues [23]: lajes com deformações excessivas
devem ser demolidas, enquanto as lajes que não apresentam grandes deformações, elevada
redução das propriedades mecânicas – com atenção especial ao aço – ou de seção podem ser
recuperadas por projeção de concreto ou argamassa, com ou sem o uso de telas eletrosoldadas,
após limpeza e demolição parcial. Ações semelhantes se aplicam às vigas, com ou sem adição
de armaduras. No caso de pilares, além da limpeza, demolição parcial e aplicação de concreto
ou argamassa, com uso de formas ou por projeção, pode ser necessária a adição de armaduras
transversais e longitudinais e a substituição de barras com deslocamento lateral superior à
metade de seu diâmetro.

Revestimentos à base de materiais como argamassas especiais, gesso ou vermiculita podem


ser posteriormente projetados para proteger e isolar os elementos estruturais frentes às altas
temperaturas [26]. Alternativamente, pode ser empregadas placas refratárias ou anteparos –
como encamisamento com alvenaria.

4. ESTUDO DE CASO

Foi realizada a avaliação da integridade estrutural de canais de corrida, bem como dos elementos
estruturais adjacentes de concreto de cimento Portland armado. Os canais, compostos por
concreto de cimento aluminoso armado, foram projetados para limitar a temperatura à 350 ºC
em sua face interna, junto à proteção refratária, e à 150 ºC em sua face externa. Canais de
corrida de aço e derivados [1, 2] são frequentemente construídos em concreto armado e podem
apresentar anomalias significativas decorrentes da exposição térmica e de outros mecanismos
de degradação, como indicado na Figura 4.

Figura 4: Laterais e face inferior de Canal de Corrida. A) Detalhe do concreto fissurado,


B) Detalhe de fissura em região de óculo (furo decorrente de extração), C) Corrosão de
armaduras e desplacamento do concreto (acervo próprio)

Após visita técnica e pesquisa documental, realizaram-se inspeção visual detalhada e ensaios.
Removida a camada mal aderida e fissurada, constatou-se resistência à compressão residual do
concreto compatível com os requisitos de projeto (fck ≥ 50 MPa), sendo que em elementos
expostos às altas temperaturas os valores obtidos foram 14% inferiores aos valores de controle.
As análises termogravimétricas (TG) e análises termodiferenciais (ATD), realizadas em amostras
do cobrimento de concreto, apontaram que o concreto de cimento Portland atingiu temperaturas
inferiores a 200 ºC e que o concreto de cimento aluminoso não sofreu alteração térmica relevante
nas camadas externas dos canais. Constatou-se ainda a carbonatação do concreto de cimento
Portland e sua elevada contaminação por cloretos, assim como como a ocorrência de reação
álcali-agregado e a presença de etringita não só na zona de transição entre a pastas e os
agregados, mas também em poros, como ilustra a Figura 5.

Figura 5: Microscopia eletrônica de varredura (MEV) - A) e B) gel expansivo característico de


RAA (ampliação 8.000 x); C) produtos da RAA e cristais de carbonato ampliados (ampliação
20.000 x); D) Cristais de etringita na zona de transição (ampliação 6.000 x) (acervo próprio)

O estudo da distribuição de temperaturas na seção transversal foi obtido a partir da construção


de um modelo termonumérico bidimensional no software ABAQUS. Para tal, reconstituiu-se a
seção transversal de uma laje de concreto de cimento Portland com e = 30 cm, adjacente ao
canal de corrida e exposta quase permanentemente a temperaturas elevadas. As condições de
contorno utilizadas incluíram a temperatura prescrita de 150°C, fornecido pelo responsável pelo
ativo e verificado através de investigações com câmera térmica. O domínio de cálculo foi
discretizado com uma malha quadrática de 10 mm, próxima à malha adotada por Zhang et al
[16]. Os elementos escolhidos foram da família DC2D4, recomendável para análises de
transferência de calor para modelos bidimensionais.

Objetivou-se obter a temperatura máxima a que os materiais de reparo serão expostos durante
a operação da estrutura, fornecendo dados para a especificação técnica de materiais de
recuperação e proteção. Dessa forma, foi realizada análise de sensibilidade em função de
temperaturas críticas em pontos de controle, como a interface entre a face inferior de uma laje
de concreto próxima a um canal e a face superior de uma camada de proteção com 3 cm de
espessura, como expõe o Quadro 3.

Quadro 3: Distribuição de temperatura no modelo termonumérico


Camada de Temperatura na interface
Distribuição de temperaturas
proteção laje/ camada de proteção
Argamassa com
80 °C
fibra de lã de rocha
Argamassa com
101 °C
fibra mineral
Argamassa de
119 °C
gesso

Concreto celular 129 °C


Observa-se o melhor desempenho da argamassa com fibra de lã de rocha em comparação à
argamassa com fibra mineral, à argamassa de gesso e ao concreto celular.

É de grande importância o desenvolvimento de estudos adicionais acerca do comportamento de


materiais isolantes, que devem possuir capacidade de resistir a longos períodos de exposição
frente a altas temperaturas, mantendo aderência adequada ao substrato e suportando a ação
dos demais mecanismos de degradação atuantes. Alerta-se que argamassas térmicas
desenvolvidas para suportarem situação de incêndio não são indicadas para exposição
prolongada, sendo recomendada sua substituição após a ocorrência de um sinistro.

Os estudos desenvolvidos com base na inspeção visual, na análise documental, nos ensaios e
no modelo termonumérico suportaram a definição dos elementos a serem reforçados,
substituídos ou reparados, das técnicas de limpeza necessárias para remoção dos
contaminantes superficiais, da profundidade de concreto a ser demolida na recuperação e das
metodologias aplicáveis, considerando-se o efeito simultâneo de altas temperaturas, ataque por
cloretos e reações expansivas do concreto. A análise fundamentou ainda a seleção de materiais,
como ancoragens químicas à base de resina vinil éster híbrido e de durômeros de poliuretano
estrutural (poliisocianurato), resistentes a temperaturas de serviço de até 150 ºC, e de
revestimentos isolantes projetados.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ambientes industriais são altamente agressivos às estruturas de concreto armado e protendido.


Alguns processos tornam o ambiente particularmente vulnerável à ocorrência de incêndios, dada
a presença de materiais altamente inflamáveis ou sujeitos à autocombustão. A ação combinada
de altas temperaturas decorrentes de sinistros ou condições de serviço – em exposição
prolongada ou cíclica – e de outros mecanismos de degradação tende a oferecer desafios à
elaboração das estratégias de intervenção para reabilitação das estruturas afetadas.

O presente artigo apresentou particularidades de mecanismos de degradação atuantes em


ambientes industriais, ferramentas para análise do quadro patológico, o processo de reabilitação
e um estudo de caso em que tais conceitos foram aplicados.

Em complemento à inspeção visual e à análise documental, a realização de ensaios não


destrutivos e semidestrutivos, assim como ensaios químicos, mecânicos e térmicos, fornece
dados essenciais para a representação do cenário real ao qual a estrutura é ou foi submetida.

O desenvolvimento de modelos térmicos e mecânicos permite aprofundar os conhecimentos


sobre a estrutura, fundamentando análises numéricas analíticas e decisões técnicas
empregando dados como a distribuição de temperaturas existente nas seções transversais dos
elementos estruturais durante o sinistro ou a própria operação. É importante considerar, no
entanto, que a construção de modelos abrange incertezas como efeitos de não linearidade,
alteração de relações constitutivas decorrentes da fissuração da seção, não homogeneidade do
concreto, além de variações das respostas obtidas em instrumentação por sensores de tensão
expostos ao calor [2, 21, 22].

A seleção das técnicas e materiais de intervenção deve seguir premissas específicas que
considerem a continuidade da exposição ao calor ou mesmo a reincidência de incêndios,
apresentando estabilidade e resistência térmica compatíveis com as solicitações previstas.

A adequada compreensão do quadro patológico apresentado pela estrutura, por sua vez, permite
a classificação de zonas com diferentes tipos e graus de danos, direcionando as ações de
reabilitação ou substituição, e o detalhamento das intervenções de recuperação e reforço
aplicáveis. Como resultado, tem-se a otimização da aplicação de recursos, o controle do impacto
das obras na operação industrial e a maior qualidade técnica dos serviços executados,
proporcionando a restauração ou extensão da vida útil residual das estruturas.

6. AGRADECIMENTOS

Os autores desejam agradecer à Concremat Engenharia e Tecnologia S.A. pelo apoio técnico e
incentivo à pesquisa.

7. REFERÊNCIAS

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Unidades de Produção de uma Usina Siderúrgica”, XXXIV Jornadas Sudamericanas de
Ingeniería Estructural [Anais], 2010, San Juan, Argentina, 2010, 20 p.
[2] Meng, T. et al – “Deterioration Mechanism of Concrete Under Longer-Term Elevated
Temperature in Mettalurgic Environment: A Case Study of The Baosteel Company”, Case
Studies in Constuction Materials, Volume 14, 2021, 12 p.
[3] Lima, E.O. – Durabilidade do Concreto Armado em Indústrias Siderúrgicas: Contribuição à
Identificação e Mapeamento dos Agentes Agressivos, Dissertação de Mestrado, Vitória,
2000, 131 p.
[4] Mehta, P. K.; Monteiro, P. J. M. – Concreto: Microestrutura, Propriedades e Materiais. São
Paulo, 2008, 674 p.
[5] Marcelino, T.O.A.C. – Modelagem e Simulação da etapa de Caustificação do Processo Kraft
de Extração de Celulose, Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Campina
Grande, 2019, 65 p.
[6] Fernandes, B. et al – “Microestrutura do Concreto Submetido a Altas Temperaturas:
Alterações Físico-Químicas e Técnicas de Análise”, Revista Ibracon Estrut. Mater., V. 10,
N. 4, 2017, p. 838 – 863.
[7] Naus, D.J. – “The Effect of Elevated Temperature on Concrete Materials and Structures –
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[8] ACI Committee 349 – ACI 349-13, Code Requirements for Nuclear Safety-Related Concrete
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[9] Oxfall, M. – Climatic Conditions Inside Nuclear Reactor Containments, Evaluation of
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[10] Oliveira, E. M. – Avaliação da Influência do Tempo de Estocagem em Pilhas na Qualidade
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