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Resumo
O objetivo geral deste estudo foi comparar o comportamento térmico de uma casca
cerâmica não sinterizada (CC) e de uma casca cerâmica sinterizada (RCC) após
desmoldagem do metal solidificado, e avaliar através da microestrutura possíveis
transformações de fases nos materiais que constituem os moldes cerâmicos utilizados
nas indústrias de fundição de precisão antes e após sua
sinterização/vazamento/desmoldagem e com isso, trazer subsídios à reciclagem do
resíduo de casca cerâmica gerado neste processo. A metodologia aplicada envolveu
a caracterização térmica de ambas as amostras por termogravimetria e análise
diferencial, e através de um corte da seção transversal foram preparadas lâminas
petrográficas delgadas para a caracterização microestrutural por microscopia digital e
microscopia eletrônica de varredura. Os resultados verificaram que a casca não
sinterizada apresentou maior perda de massa quando comparada a casca sinterizada.
Entretanto, ambas apresentaram comportamento similares na técnica de análise
diferencial, porém na casca não sinterizada ocorreu uma contribuição de material mais
reativo em 1200ºC. Além disso, na microscopia digital foram encontradas diferenças
entre as cascas, pois durante a sinterização ocorrem mudanças de fases nos
materiais constituintes e na técnica de microscopia eletrônica de varredura foi possível
confirmar a forma com que as camadas de materiais cerâmicos estão distribuídas no
molde cerâmico.
Abstract
The general objective of this study was to compare the thermal behavior of a non-
sintered ceramic shell (CC) and a sintered ceramic shell (RCC) and to evaluate through
the microstructure possible phase transformations in the materials that constitute the
ceramic molds used in the precision casting industries before and after their
sintering/casting/demoulding and with that, to bring subsidies to the recycling of the
residue of ceramic peel generated in this process. The methodology involved the
thermal characterization of both samples by thermogravimetry and differential analysis,
and through a cross section cut thin petrographic slides were prepared for the
microstructural characterization by digital microscopy and scanning electron
microscopy. The results showed that the sintered bark showed a greater loss of mass
when compared to the sintered bark. However, both presented similar behavior in the
differential analysis technique, but in the non-sintered shell a contribution of more
reactive material occurred at 1200ºC. Moreover, in the digital microscopy were found
differences between the shells, because during the sintering phase changes occur in
the constituent materials and in the scanning electron microscopy technique it was
possible to confirm the way in which the layers of ceramic materials are distributed in
the ceramic mold.
1 INTRODUÇÃO
O processo de fundição de precisão utiliza modelos em cera para a confecção de
moldes cerâmicos que possibilita o vazamento de ligas metálicas no estado fundido
para a produção de peças metálicas com geometrias complexas.(1)
Neste processo, um modelo de cera é produzido formando uma árvore que é imersa
em uma suspensão cerâmica que é então recoberta por uma camada de material
cerâmico refratário e posta para secagem conforme Figura 1. No final do processo é
gerada a casca cerâmica sinterizada, denominada resíduo de casca cerâmica (RCC)
neste estudo.(2)
Além das matérias-primas cerâmicas refratárias, são utilizados aglomerantes, agentes
de molhamento, antiespumantes e aditivos. Para as lamas cerâmicas, o aglomerante
mais utilizado é a sílica coloidal, em torno de 30%.(3,2,4,5,6) Dos materiais cerâmicos
refratários destacam-se tanto na lama quanto na estucagem, os aluminosossilicatos
(mulita, chamotes fino e grosso), sílica eletrofundida e componentes de zircônio. (7,6,2,4)
2 MATERIAIS E MÉTODOS
O RCC e a CC utilizados neste estudo foram disponibilizados por uma indústria de
fundição de precisão localizada no estado do Rio Grande do Sul (RS), Brasil. O RCC,
ilustrado na Figura 3, é caracterizado por apresentar coloração clara, granulometria
que varia de 2 a 20 cm, em média, e sua dimensão é proporcional a peça metálica
produzida. Quando a peça é retirada do molde cerâmico, este, que é quebrado com
martelete se fragmenta em pedaços de tamanhos variados. A imagem ilustra as duas
faces do RCC correspondente ao lado externo e o lado interno que é aquele que tem
contato direto com o metal fundido que se justifica pela coloração mais escura.
2.1 MATERIAIS
O fluxograma que ilustra o processo de confecção da casca cerâmica utilizada como
molde para o vazamento do metal fundido é apresentado na Figura 4. Nele constam
todas as etapas de utilização das matérias-primas, mais detalhadas no Quadro 1, que
constituem a confecção do molde cerâmico contemplando a produção da peça
metálica até a etapa final que é a geração do RCC. Até a etapa de calcinação em
fornos, ou seja, antes do vazamento do aço fundido, a casca cerâmica é caracterizada
como não sinterizada (CC) para este estudo.
2.2 MÉTODOS
2.2.1 CARACTERIZAÇÃO TÉRMICA
As reações exotérmicas são atribuídas aos processos de oxidação, recristalização ou
colapso das estruturas defeituosas, e as reações endotérmicas envolvem mudanças
de fase, desidratação, decomposição e inversão de cristalinidade. As análises
térmicas correspondentes a TGA e DTA foram realizadas no equipamento de análise
térmica simultâneo, marca PerkinElmer, modelo STA 8000. Os ensaios foram
realizados partindo da temperatura ambiente até 1550ºC e a quantidade em massa
utilizada correspondeu aos limites do equipamento, de 10 a 50 mg de amostra, em
cadinho de platina, com taxa de aquecimento de 10ºC/min sob atmosfera de gás
nitrogênio (N2).
2.2.1 CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL
A análise morfológica teve como objetivo avaliar as características morfológicas de
como as matérias-primas estão inseridas no molde cerâmico e as possíveis camadas
(lamas) dos materiais utilizados para a identificação das matérias-primas. A análise
morfológica foi realizada em microscópio digital SmartZoom5 da ZEISS, ligado a um
computador por uma câmara digitalizadora com diferentes aumentos em lente objetiva
PlanApo D 5x/0.3 FWD 30 mm e mesa automática com movimentação de translação
nos eixos X, Y e Z, que permitiram localizar os grãos e suas respectivas imagens
especulares. O aumento dado está ilustrado nos resultados e os valores encontrados
referentes as camadas dos materiais nas lâminas petrográficas do RCC e CC foram
medidas em software Fiji ImageJ. A técnica de microscopia eletrônica de varredura
(MEV) foi utilizada em equipamento modelo EVO MA15, marca ZEISS em alto vácuo
e para análise química elementar semiquantitativa de forma pontual por EDS.
3 RESULTADOS
Os resultados de análise térmica TGA estão apresentados conforme Figura 5 e os
valores de percentual em massa correspondente a esta técnica estão apresentados
na Tabela 1Erro! Fonte de referência não encontrada..
4 DISCUSSÃO
Durante as etapas de secagem da casca cerâmica, a água presente é liberada e
alterações de expansão térmica e capacidade térmica da casca cerâmica podem ser
explicadas utilizando as transformações de fases da sílica sugeridas por Bragança e
Bergmann13. Segundo Reddy18, na pressão atmosférica, o quartzo-α transforma-se
em hexagonal quartzo-β a partir de 573°C. Após aquecimento adicional se transforma
em β-tridimita hexagonal a 870°C e depois em β-cristobalita a 1470°C, e a 1705°C se
funde. Como a casca cerâmica é calcinada de 900 a 1050ºC, a sílica amorfa deve
transformar-se primeiramente em quartzo-α, desta forma, boa parte do material pode
ainda estar presente nesta estrutura e parte dela na estrutura quartzo-β. Depois de
calcinada, a casca cerâmica recebe o metal fundido e quando o quartzo-α presente é
aquecido rapidamente, então deve ser convertido a quartzo-β16.
Estudos recentes demonstram que mudanças de fases foram encontradas apenas
nas matérias-primas sílica coloidal e eletrofundida, e esta última a mais de 1300°C,
enquanto que os outros componentes permaneceram cristalinos até 1550°C.(16)
Isto ocorre provavelmente porque o ligante de sílica coloidal tem um tamanho de
partícula menor (0,011 a 0,016 μm) do que os outros componentes (4,77 a 1069 μm).
Assim, segundo Xu17, a relação área superficial/volume mais elevada pode
proporcionar um componente de energia de ativação assim como um caminho de
transporte fácil para a reação.
Na amostra de CC a segunda lama correspondente a camada de sílica eletrofundida
foi verificada, enquanto que na amostra RCC esta camada já não aparece tão bem
definida em função da provável mudança de fase da sílica amorfa, de quartzo-α para
quartzo-β segundo os autores Reddy18 e Bragança e Bergmann13. Neste caso,
ocorrem transformações mais severas porque acontecem mais rapidamente
permitindo acentuadas variações de volume devido à diferença de densidade entre os
polimorfos, verificado na análise morfológica comparando a CC com o RCC.
Nas análises térmicas foram verificados
5 CONCLUSÃO
Ambas as cascas cerâmicas, seja na forma sinterizada (CC) e na forma não
sinterizada (RCC) são compostas por diferentes constituintes que são unidos num
mesmo produto e com tamanho de partículas diferentes, apresentam homogeneidade
em camadas distintas de materiais cerâmicos refratários. Desta forma, as imagens
obtidas através das lâminas delgadas petrográficas realizadas indicaram, após o
processo de sinterização, que ocorrem variações de volume principalmente entre as
camadas dos componentes de areia de zircônio, ou seja, entre o 1º e 2º chuveiro desta
matéria-prima, onde localiza-se a camada de sílica eletrofundida. A técnica de MEV
com EDS identificou as regiões de maior concentração das matérias-primas e indicou,
por apresentar camadas muito finas destes materiais, que uma futura separação de
parte destes materiais ficaria dificultada.
Na análise do comportamento térmico, o RCC apresentou 0,567% de perda de massa,
enquanto que a CC apresentou um total de 2,417%. Entretanto, na CC a maior perda
de massa está concentrada numa faixa de temperatura de 250 a 1550ºC, que pode
estar relacionado à perda de compostos utilizados na emulsão da zirconita tais como
polímeros, tensoativo e antiespumante, utilizados segundo informações da empresa
em aproximadamente 0,9%. No ensaio térmico de DTA ambas as cascas (CC e RCC)
apresentaram um pico largo endotérmico na temperatura próxima de 700ºC.
Entretanto, na CC na temperatura de 1200,54ºC apresentou um segundo pico
endotérmico que pode estar associado a uma contribuição de sílica ainda reativa, e
durante o ensaio pode ter se transformado em cristobalita, o que não foi verificado na
amostra de RCC.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao Laboratório de Caracterização e Valorização de Materiais
(LCVMAt), Itt Fossil e Itt Fuse ambos da UNISINOS, pelo espaço e equipamentos
utilizados.
REFERÊNCIAS
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