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CINZAS DE CAVACO DE EUCALIPTO PROCESSADAS EM COMPÓSITOS


CIMENTÍCIOS

Conference Paper · November 2012

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Domingos Sávio de Resende Maria Teresa Paulino Aguilar


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20º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais
04 a 08 de Novembro de 2012, Joinville, SC, Brasil

CINZAS DE CAVACO DE EUCALIPTO PROCESSADAS EM COMPÓSITOS


CIMENTÍCIOS

Ashes of eucalyptus in cementitious composites

Domingos Sávio de Resende (1); Herbet Radispiel Filho (1); José Genário Keles (1);
Antonio Maria Claret de Gouveia (2); Augusto Cesar da Silva Bezerra (1); Maria
Teresa Paulino Aguilar (3)
Email: savio@araxa.cefetmg.br
(1) CEFET-MG, (2) UFOP, (3) UFMG

Resumo

A mesorregião de Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro no estado de Minas Gerais e o


interior do Estado de São Paulo possuem diversas indústrias que utilizam caldeiras a
base de cavaco de eucalipto. Essas caldeiras geram grandes quantidades de cinzas.
Considerando que as cinzas de termoelétricas geralmente possuem boa atividade
pozolânica, o presente trabalho estudou o comportamento mecânico de compósitos
cimentícios fabricados com substituição parcial do cimento portland por cinza de
cavaco de eucalipto in natura e processada em duas condições. O comportamento
mecânico dos compósitos foi avaliado a partir de ensaios de resistência à
compressão, resistência à tração na compressão diametral e resistência à tração na
flexão em corpos-de-prova. Os resultados indicam que as cinzas apresentam
potencial para serem utilizadas como adições minerais.

Palavra-Chave: cinzas de cavaco de eucalipto, pozolana e compósitos cimenticios

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INTRODUÇÃO

A mesorregião de Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro no estado de Minas Gerais e o


interior do Estado de São Paulo possuem diversas indústrias que utilizam caldeiras
alimentadas com cavaco de eucalipto. A queima do cavaco de eucalipto em
caldeiras gera cinzas como resíduo do processo de incineração. Essas cinzas, se
apresentarem granulometria adequada e estrutura não cristalina, podem ter
atividade pozolânica, sendo indicadas para a produção de concretos mais
resistentes e menos porosos. No caso de serem cristalinas podem atuar como fíler e
também melhorar as propriedades do concreto. Em ambos os casos são materiais
importantes para a produção de concretos duráveis.

As cinzas de cavaco de eucalipto (CCE), no Brasil e no mundo, ainda possuem


destinação incerta. Vieira et al. (2005) avaliaram a incorporação de CCE em
cerâmica argilosa e os resultados mostraram que a incorporação de 10% em peso
de cinzas de lenha de eucalipto melhorou as propriedades da cerâmica argilosa uma
vez que a plasticidade foi otimizada, a absorção de água diminuiu e a resistência
mecânica aumentou. Melo et al. (2011) analisaram a possibilidade de uso da CCE
em concreto como substituição em volume do agregado miúdo, mas não obtiveram
sucesso, uma vez que houve uma diminuição da resistência mecânica à
compressão em relação ao material de referência. Neste trabalho, são analisadas
diferentes incorporações de CCE a compostos cimentícios que foram avaliados
quanto a resistência à compressão, resistência à tração na compressão diametral e
a resistência à tração na flexão.

MATERIAIS E MÉTODOS

A coleta das amostras de cinzas foi realizada na planta industrial da DPA - Nestlé
S/A situada no município de Ibiá em Minas Gerais. As cinzas in natura foram secas
em estufas em temperatura compreendidas entre 60-65°C durante dois dias, quando
se obteve a constância de massa. As cinzas foram moídas em moinho de bolas e foi
realizada a requeima das cinzas em forno tipo Mufla por um período de 2 horas a
uma temperatura de 600ºC, seguida de resfriamento dentro do forno.

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As CCEs foram caracterizadas por Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) e por


Espectrômetria de raios-X dispersivo em energia (EDS). Para isto as amostras de
cinzas foram espalhadas sobre uma fita de carbono previamente colada em um
porta amostra e, então, foi feita a metalização. Foram realizadas análises
semiquantitativas em diferentes regiões da amostra com objetivo de estimar a
composição química média das amostras. A análise térmica diferencial (DTA) e
termogravimétrica (TGA) foi realizada nas cinzas o objetivo de avaliar o fluxo de
calor associado com as transições térmicas e a variação de peso no material em
função da temperatura em um ambiente controlado.

Para a avaliação da utilização das cinzas como adição em compósitos cimenticios


foram confeccionados corpos de prova com substituição parcial em massa para
representar um mesmo volume do cimento por CCE nos percentuais e quantidades
apresentadas nas Tabela 1. Para cada compósito foram moldados 12 corpos de
prova cilíndricos e três corpos de prova prismáticos

Tabela 1 - Valores em massa (kg) de materiais utilizados para confecção do compósito


cimenticios.

Ref. Cinza in natura Cinza moída Cinza requeimada


Materiais
0% 5% 10% 15% 5% 10% 15% 5% 10% 15%
Cimento 624,00 592,80 561,60 530,40 592,80 561,6 530,40 592,80 561,60 530,40
Cinza 0,00 11,60 23,20 34,80 20,38 40,75 61,13 24,60 49,20 73,80
Água 300,00 300,00 300,00 300,00 300,00 300,00 300,00 300,00 300,00 300,00
Areia natural 1872,00 1872,00 1872,00 1872,00 1872,00 1872,00 1872,00 1872,00 1872,00 1872,00

O comportamento mecânico dos compósitos, aos 28 dias, foi avaliado a partir dos
ensaios de resistência à compressão e de resistência à tração na compressão
diametral, nos corpos-de-prova cilíndricos, de 50 mm de diâmetro e 100 mm de
altura. Nos corpos-de-prova prismáticos de 40x40x160 mm foi realizado o ensaio de
resistência à tração na flexão.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados da espectrometria de raios-X dispersivo em energia (EDS) para


determinação da composição química semi-quantitativa detectaram a presença de
Mg, Al, Si, P, S, Cl, K, Ca, Ti, Mn e Fe, conforme apresentado na Tabela 3 e Figura
1. O ensaio de perda ao fogo indicou que as amostras de CCE in natura, CCE moída

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e CCE requeimada apresentam 47,5%; 51,5% e 15%, respectivamente. Apesar de


ser uma análise qualitativa, os dados indicam que as cinzas possuem baixo teor de
sílica e alto teor de cálcio. Isto indicaria que as cinzas não apresentariam atividade
pozolânica. Além disso, o alto teor de cálcio das amostras pode ter favorecido a
formação de formação de um silicato de cálcio hidratado que geralmente apresenta
menor número de defeitos devido a uma maior relação cálcio/sílica, o que poderia
afetar a resistência aos álcalis do composto fabricado com as cinzas (Lothenbach,
2011).
Tabela 3 - Resultados semiquantitativos obtidos via MEV para a amostra cinza in
natura.
Elemento Mg Al Si P S Cl K Ca Ti Mn Fe
CCE in natura 2,9 8,1 2,1 2,2 1,7 2,0 6,7 56,0 2,8 0,8 14,7
CCE moída 2,9 11,6 3,9 2,7 1,7 3,8 10,9 44,4 2,6 1,3 14,1
CCE calcinada 3,1 8,3 1,8 1,9 1,0 3,9 12,1 49,4 2,8 0,7 15,1

Figura 1 - Espectro semiquantitativo para a amostra de cinza in natura

Na figura 2 são apresentadas micrografias das amostras de cinza in natura nas


amplitudes de 20 e 100x. Não se observa a presença de fibras longas rugosas
escuras que indicariam a presença de carbono. Isto confirmaria o baixo teor de
matéria orgânica das cinzas.

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Figura 2 - Micrografia obtida por microscopia de varredura da cinza in natura (20x e 100x).

Na figura 3 é apresentada a micrografia da amostra da CCE moída nas amplitudes


de 200 e 1000x. Na imagem com amplitude de 200x é possível perceber que houve
uma cominuição das partículas.

Figura 3 - Micrografia obtida por microscopia de varredura das partículas da cinza moída
(200x e 100x)

Na figura 4 é apresentada a micrografia da amostra de cinza requeimada nas


amplitudes de 50 e 250x. Na imagem com amplitude de 250x é possível observar
que a estrutura se manteve parecida com a CCE in natura, sem indicativo da
presença de carbono.

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Figura 4 - Micrografia por microscopia de varredura das partículas da cinza requeimada (50x
e 250x).

Na figura 5 são apresentadas as curvas obtidas nos ensaios térmicos (DTA e TGA)
para a CCE in natura. Pode-se observar que existe uma leve perda de massa e um
pico endotérmico na temperatura próxima à 50ºC. Esta variação se deve,
provavelmente, à perda da água adsorvida na superfície da CCE in natura. Em torno
de 500ºC ocorreu uma perda de massa significativa e um pico exotérmico.
Considerando que a cinza calcinada apresentara composição similar à não
calcinada, esse pico estaria relacionado a alguma transformação de fase e não
devido a perda de matéria orgânica .

Figura 5 - DTA e TGA da CCE in natura

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Na figura 6 são apresentados os resultados do ensaio de resistência à compressão


dos corpos-de-prova dos compósitos cimenticios desenvolvidos com os diversos
percentuais de substituições parciais das cinzas de cavaco de eucalipto pelo
cimento. Os resultados mostram que o uso de 5% e 10% de cinzas, quer sejam in
natura, moídas ou requeimadas, não compromete o comportamento do composto
quanto a resistência à compressão. No entanto, os tratamentos mecânico e térmico
parecem não influenciar no desempenho das cinzas.

60
Resistência à compressão (MPa)

50

40

30

20

10

0
5% 10% 15% 5% 10% 15% 5% 10% 15%

Ref. CCE In natura CCE Moída CCE requeimada

Figura 6 - Resistência à compressão dos compósitos cimenticios

Na figura 7 são apresentados os resultados de resistência à tração na compressão


diametral e na flexão. Na resistência à tração na compressão diametral, os
compósitos com 5% de CCE in natura e 5% de CCE requeimada apresentaram
valores superiores que o compósito de referência. Os demais compósitos
apresentaram valores próximos ao compósito de referência com exceção do com
15% de CCE requeimada. Quanto a resistência à tração na flexão, os compósitos
com adição apresentaram valores inferiores, sendo os resultados do compósito com
5% de CCE moída significativamente inferiores. Considerando o baixo teor de sílica
das diferentes cinzas e esses resultados, poder-se-ia afirmar que o mecanismo de
atuação das cinzas seria por preenchimento de poros maiores. Como o efeito na
flexão não foi benéfico, é provável que os poros mais finos não tenham sido
preenchidos.

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Resistência à tração na flexão (MPa)


Resistência à tração na compressão 8 8
7 7
6 6
diametral (MPa)

5 5
4 4
3 3
2 2
1 1
0 0
5%

5%

5%

5%

5%

5%
10%

15%

10%

15%

10%

15%

10%

15%

10%

15%

10%

15%
Ref. CCE In natura CCE Moída CCE Ref. CCE In natura CCE Moída CCE
requeimada requeimada

Resistência à tração na compressão diametral Resistência à tração na flexão

Figura 7 - Resistência à tração dos compósitos cimenticios

CONCLUSÕES

A adição de cinzas de cavaco de eucalipto em substituição parcial ao cimento


portland, nas proporções 5, 10 e 15%, em volume, não comprometeu a resistência à
compressão dos compósitos cimenticios.

A adição de cinzas de cavaco de eucalipto, de modo geral, não prejudicou a


resistência à tração na compressão diametral.

A adição de cinzas de cavaco de eucalipto nas proporções estudadas conduziu a


menores valores de resistência à flexão.

Os resultados indicam que é viável a imobilização das cinzas de cavaco de eucalipto


em compósitos cimentícios, especialmente quando os esforços requeridos são de
compressão.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à REDEMAT e às agências FAPEMIG, CNPq e CAPES pelo


auxílio financeiro e pelas bolsas de iniciação científica.

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REFERÊNCIAS

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de compressão de Corpos-de-prova Cilíndricos. Rio de Janeiro, 1980.

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - NBR 6457/86:


amostra de solo – preparação para ensaios de compactação e ensaios de
caracterização. Rio de Janeiro, 1986.
ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - NBR 7214. Areia
Normal para Ensaio de Cimento.Rio de Janeiro, 1982.

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - NBR 7215. Cimento


Portland – Determinação da resistência à compressão. Rio de Janeiro, 1996.

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – NBR 10004


Resíduos Sólidos - Classificação. Rio de Janeiro, 2004a.

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - NBR 12653


Materiais Pozolânicos - Especificação. Rio de Janeiro, 1992.

JOHN, V. M.; CINCOTTO, M. A.; SILVA, M. G. Cinzas e aglomerantes alternativos.


In: FREIRE, W. J.; BERALDO, A. L. (Coord.). Tecnologias e materiais
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MELO, F. C. A. C.; SOUZA, P. A. B. F.; SÁ, M. V. V. A.; NÓBREGA, A. K. C.;


PEREIRA, K. L. de A.: Análise da resistência mecânica e da porosidade de
concreto produzido com adição de cinza residual de eucalipto. Anais do 53º
Congresso Brasileiro do concreto –IBRACON . Florianópolis, SC, 2011
M. C. Borlini, H. F. Sales, C. M. F. Vieira, R. A. Conte, D. G. Pinatti, S. N. Monteiro:
Cinza da lenha para aplicação em cerâmica vermelha Parte I: características
da cinza. Cerâmica, vol.51, n.319, pp. 192-196. São Paulo, 2005

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Abstract

The middle region of Triangulo Mineiro and Alto Paranaíba in the state of Minas
Gerais and São Paulo have many industries that use boilers based eucalyptus chip.
These boilers generate large amounts of ash. It is known that ash from power plants
generally have good pozzolanic activity. This work studied the mechanical behavior
of cementitious composites with substitution of 0, 5, 10 and 15% of portland cement
by ash eucalyptus chip. The mechanical behavior of composites was evaluated from
the tests of compressive strength, tensile strength in diametral compression, modulus
of elasticity in static and dynamic body-of-cylindrical specimens of 50mm diameter
and 100mm in height, and tensile strength in bodies bending the test piece prismatic
40x40x160mm. The results were satisfactory and mechanical behavior was detected
certain pozzolanic.

Keywords: eucalypt ash, pozzolanic and cementitious composites

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