Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Formal...
Ao Prof. Dr. Kurt Strecker, pela confiança, orientação na elaboração deste trabalho e
paciência com minhas indagações.
Aos professores do programa de Mestrado em Engenharia Mecânica (PPMEC), à
Universidade Federal de São João Del Rei, pelo apoio necessário e principalmente,
pela concessão da bolsa de estudos.
À Ana Cristina da Silveira, técnica de laboratório de cerâmica (LEC), pelo apoio nos
testes iniciais, elaboração, aplicação e queima do esmalte.
Ao escritor Italiano Silvano Pagliuca, por responder aos meus e-mails, tentando
entender e resolver minhas dúvidas.
À Sarah Gastão Evangelista, analista de laboratório na empresa Fundição Araguaia,
pela concessão das amostras iniciais.
Ao Pedro Augusto Magalhães Sousa, proprietário da Fundição Santana pela
disponibilização do espaço e dos equipamentos para a elaboração do ferro fundido.
À Naiara Cristina Vilela Teles, auxiliar de engenharia da qualidade na Fundição
Fundimg, pelo apoio nos ensaios de dimensional realizados nos protótipos.
À Professora Psicopedagoga, Marly Olívia Ribeiro e Silva, pela ajuda nas correções.
Na revisão ortográfica e gramatical.
Pessoal...
Ao meu marido José Édson, pela compreensão, paciência e pelos cuidados
dispensados à nossa filha Sophia, durante a minha "temporária" ausência. Agradeço
também as suas palavras de incentivo e a disponibilização de equipamentos
necessários à pesquisa.
À Antonieta Lara pelo carinho e pelos cuidados dispensados à minha filhinha, a quem
precisei privar de muitos momentos de brincadeira.
A minha mãe Vânia Maria pelas orações, apoio e por acreditar que tudo vai dar certo.
A todas as pessoas, enfim, que contribuíram, direta ou indiretamente, para a
realização desse trabalho.
À proteção divina que não me faltou, na estrada, nos laboratórios, na república, na
sala de aula, enfim em todos os momentos.
“A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu, mas pensar o que ninguém
ainda pensou sobre aquilo que todo mundo vê.”
(Arthur Schopenhauer)
Resumo
A esmaltação em ferro fundido é uma técnica antiga, porém pouco difundida no Brasil.
A falta de conhecimento e tecnologia necessária ao processo são fatores que
influenciam na implementação dessa técnica, importante principalmente nos objetos
de cocção. O objetivo desse trabalho foi explorar diferentes composições de esmalte,
bem como rotas de aplicação em substratos produzidos em Cláudio, que é polo de
fabricação de produtos de cocção em ferro fundido. Para isso foram elaboradas quatro
composições de esmaltes, sendo três delas sugeridas pelos autores Pagliuca e Faust,
e uma quarta composição elaborada pelo autor da pesquisa com base em estudos
realizados. Para isso foram fundidas trinta e duas miniaturas de panelas em ferro
fundido cinzento, com composição química ideal ao processo de esmaltação.
Parâmetros como preparação da superfície do substrato jateado por areia, granalha
ou sem jatear, tempo de patamar 5, 8 e 10 minutos, rampa 5, 10 e 15°/min e
temperatura de 680, 750 e 800°C de queima do esmalte foram testados. O processo
de elaboração do ferro fundido foi detalhado em todas as etapas. Duas composições
de esmaltes testados apresentaram bons resultados, sendo uma sugerida pelos
autores citados acima e a composição inédita elaborada pelo autor da pesquisa.
Dentre os parâmetros testados os melhores resultados foram obtidos com a
temperatura de queima a 800°C e limpeza da superfície com jato de areia, entretanto
deve direcionar a limpeza para o jato de granalha devido a disponibilidade de
equipamento e questões ambientais. Outros parâmetros testados, tais como patamar,
rampa e número de camadas variaram em função das composições dos esmaltes. Os
resultados mostraram que é possível fabricar um substrato de qualidade para
esmaltação na cidade de Cláudio, enquanto que a elaboração do esmalte partindo de
matérias primas cruas de origem brasileiras, bem como o processo de aplicação,
ainda carecem de estudos mais aprofundados. O presente trabalho apresenta um
direcionamento para futuras pesquisas.
Cast iron enamelling is an old technique, but not very widespread in Brazil. The lack
of knowledge and technology necessary to the process are factors that influence the
implementation of this technique, important mainly in the cooking objects. The
objective of this work was to explore different enamel compositions as well as
application routes on substrates produced in Claudius, which is the manufacturing
center for cast iron cooking products. For this, four enamel compositions were
elaborated, three of them being suggested by the authors Pagliuca and Faust, and a
fourth composition elaborated by the author of the research based on a study carried
out. For this purpose, thirty-two miniatures of gray cast iron cookers were cast, with an
ideal chemical composition in the enamelling process. Parameters as preparation of
substrate surface sandblasted, shot blast or sandblasted, 5, 8 and 10 minute landing
time, 5, 10 and 15 ° / min ramp and 680, 750 and 800 ° C burnt enamel temperatures
were tested. The process of cast iron elaboration was detailed in all stages. Two
compositions of enamels tested showed good results, one suggested by the authors
cited above and the unprecedented composition elaborated by the author of the
research. Among the parameters tested, the best results were obtained with the
burning temperature at 800 ° C and surface cleaning with sandblasting, however, it
should direct the cleaning to the shot blast due to the availability of equipment and
environmental issues. Other parameters tested, such as threshold, ramp and number
of layers varied according to the compositions of the enamels. The results showed that
it is possible to manufacture a quality substrate for enamelling in the city of Cláudio,
while the elaboration of the enamel starting from crude raw materials of Brazilian origin,
as well as the application process, still need further studies. This paper presents a
guide for future research.
domestica) ............................................................................................................... 19
revestimento vítreo. (Elaborado pelo autor, com base em pesquisa feita). ............... 20
máquina de moldar DISA Match Plate 130 Horizontal. b) Macho fabricado em Cold
Figura 4.3 – Transporte de calor em ferro fundido contendo grafita nodular (GJS),
Figura 4.5 – Metalografia de ferro fundido cinzento, aumento de 100x, ataque nital
químico profundo, para dissolver todo o metal. Ataque nital 10%. b) Reconstrução
tridimensional da grafita lamelar. Cortes produzidos por FIB e imagem obtida por
2008)........................................................................................................................ 42
Figura 4.13 - Configuração do teste de tração, (Y. SHEN et al. 2012). .................... 59
Figura 6.2 – Caixa Expansiva com a Placa Dupla Face, (Cortesia da FUNDIÇÃO
SANTANA). .............................................................................................................. 69
Figura 6.3 – Forno elétrico com dois cadinhos, (Cortesia da FUNDIÇÃO SANTANA).
................................................................................................................................. 72
Lista de tabelas
Tabela 4.1 – Valores recomendados para se trabalhar com areia à verde, (Adaptado
................................................................................................................................. 33
Lista de quadros
................................................................................................................................. 35
Quadro 4.3 - Influência dos principais elementos na liga de ferro fundido cinzento,
°C - Graus Celsius
C - Carbono
CE - Carbono equivalente
CF – Cálculo final
Cr - Cromo
Cu -Cobre
Fe - Ferro
g - Grama
K – Constante
Kg - Quilograma
KPa - Quilopascal
min - minuto
mm - milímetro
Mn - Manganês
MPa - Megapascal
PTFE – Politetrafluoretileno
S - Enxofre
Si - Silício
γ - Fase austenita
μm – Micrômetro
~ - aproximadamente
Sumário
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 17
2. OBJETIVOS ..................................................................................................... 21
3. JUSTIFICATIVA ............................................................................................... 22
5. METODOLOGIA ................................................................................................ 63
7. RESULTADOS .................................................................................................. 81
1. INTRODUÇÃO
Com base nos dados obtidos em 2014 pela ABIFA - Associação Brasileira de
Fundição, o Brasil é o 7º produtor de fundidos, superando países como: Coreia, Itália
e França. As condições naturais do Brasil, mostram um grande potencial para se
tornar um dos maiores produtores mundiais. Esse segmento industrial, emprega cerca
de 58.000 trabalhadores, faturou 5,5 bilhões de dólares em 2015, em cerca de 1.200
empresas. A maioria dessas empresas é de pequeno e médio porte, com predomínio
do capital nacional, gerando um número significativo de empregos diretos e indiretos
na sua cadeia produtiva.
Em Minas Gerais, a indústria de fundição concentra-se nas regiões Central e
Centro-Oeste e assim como acontece nas demais regiões, o setor automotivo é
responsável por 56% da produção total, seguido por peças de saneamento básico,
equipamentos agrícolas, mineração, ferroviários e utensílios domésticos, de acordo
com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais - FIEMG. As cidades de
Divinópolis, Itaúna e Cláudio, compõem o polo de fundições do Centro-Oeste mineiro,
mas Cláudio assume uma posição de destaque.
Segundo a ASIMEC - Associação das Indústrias Metalúrgicas de Cláudio, esta
cidade é considerada uma das maiores produtoras do Brasil, ou seja, o maior polo
industrial no setor de fundição artesanal da América Latina. Em 2011, o município
contava com aproximadamente 92 empresas associadas que atuavam no ramo de
fundições, entre metalúrgicas, prestadoras de serviços e as próprias fundições. Em
relação aos principais mercados de fundição de Cláudio/MG, o setor de utensílios
domésticos representava 15%, a maior proporção. Seguido de 14% para saneamento
básico, 10% para construção civil e os demais, subdivididos em outras áreas.
Além do setor automotivo, as empresas da cidade se destacam pela produção
de móveis em alumínio, adornos, objetos decorativos e utensílios de cocção em ferro
fundido, produzidos geralmente de maneira arcaica, com características semi-
artesanais. Nesse caso, utiliza-se o processo de moldagem manual em areia verde
e fusão da matéria prima em fornos do tipo cubilô, em que a carga metálica e o coque
são aquecidos no mesmo recipiente, com exceção de algumas empresas que já
utilizam a moldagem mecanizada e o forno elétrico.
Quanto aos produtos fabricados pelas diversas empresas nesta região, as
18
2. OBJETIVOS
3. JUSTIFICATIVA
4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
a)
b)
ao processo. Mitterpach (2016), conclui em seu trabalho, que "a utilização de areias
regeneradas, minimiza o uso de insumos, materiais e energia nos processos e
influencia, positivamente, o consumo de recursos naturais e a qualidade do
ecossistema".
Quanto maior o índice de mecanização do processo de mistura e o transporte
de areia dentro de uma fundição, menor é o risco de contaminação por finos ou outras
impurezas. Entende-se por finos, substâncias com granulometria inferior à mínima da
areia, capazes de penetrar entre os grãos de areia, impossibilitando a saída de gases
provocados pela combustão do metal líquido, quando em contato com as paredes do
molde. A combustão ocorre principalmente através dos constituintes bentonita e pó
cardif, uma vez que o ponto de fusão da sílica é superior a temperatura em que se
encontra o metal líquido dentro do molde. ( * )
Para manter a qualidade da areia de moldação e evitar contaminações, é
necessário fazer ensaios de granulometria, perda ao fogo, compactabilidade e outros,
diariamente. Torna-se necessário também, manter um padrão das quantidades de
aditivos e areia nova acrescentados a cada mistura, evitar o contato da areia com o
solo, controlar o tempo de mistura e a temperatura da areia que retorna do sistema.
Estas são práticas que favorecem a obtenção de uma areia de qualidade. ( * )
O aglomerante é o produto que permite ligar entre si os grãos de areia, de
maneira a constituir uma mistura própria para o uso em fundição. Nas areias à verde,
a bentonita e o pó cardif são os aglomerantes. ( * ) A tabela 4.1, mostra as principais
faixas de trabalho para a utilização de areia à verde.
30
Tabela 4.1 – Valores recomendados para se trabalhar com areia à verde, (Adaptado
do SENAI de Cláudio).
FAIXA ORIENTATIVA
PARA SE TRABALHAR COM FERRO FUNDIDO
4.2.3 Fusão
A fusão do ferro fundido pode ocorrer em dois tipos de fornos: o forno elétrico e
o forno cubilô. O forno cubilô trabalha com ferro gusa, retorno: canais, massalotes e
refugo; sucatas de aço e calcário para separar as impurezas e o ferro-silício, ferro-
manganês e coque como combustíveis. Funciona sob o princípio da contracorrente
(como o alto-forno), ou seja, a carga metálica e o coque descem e os gases sobem.
(*)
Os ferros fundidos cinzentos, com classes segundo norma DIN 1691 (GG10 e
GG15) e ferro fundido nodular (GGG40), podem ser fabricados em fornos cubilô,
portanto, o controle exato da composição química fica comprometido. Peças com
exigências microestruturais devem, portanto, ser fabricadas com metal elaborado em
fornos elétricos ou fornos cubilô em conjunto com forno elétrico. ( * )
A composição química final do ferro fundido é determinada pela escolha da
matéria prima, assim como as adições de elementos químicos no forno e tratamento
do metal como inoculação. A composição química assim como as taxas de
resfriamento exerce influência decisiva na microestrutura formada e
consequentemente nas propriedades mecânicas finais da peça. ( * )
Figura 4.3 – Transporte de calor em ferro fundido contendo grafita nodular (GJS),
vermicular (GJV) e lamelar (GJL), (SERBINO, 2005).
Figura 4.5 – Metalografia de ferro fundido cinzento, aumento de 100x, ataque nital
4%. (Cortesia SENAI de Cláudio)
35
4.3.1 Inoculação
Menor tendência ao
coquilhamento
Menor velocidade de
Menor super
crescimento das
resfriamento
células eutéticas
Aumento do grau
de nucleação
Maior número
Maior número de
de núcleos em
células eutéticas
crescimento
a) b) c)
d) e) f)
4.3.3 Microestrutura
Grafita: Carbono livre sob a forma de lamelas com tipos e tamanhos diferentes.
É um constituinte macio e frágil.
Quadro 4.3 - Influência dos principais elementos na liga de ferro fundido cinzento,
(Adaptado de FONSECA, 2002).
Elemento Influência na liga de ferro fundido Cinzento
Normas Classe
Brasileira ABNT EB-126 FC 100 FC 150 FC 200 FC 250
Politetrafluoroetileno (Teflon)
Esmalte vítreo
Principais
óxidos ou Matérias primas usuais Outras matérias primas
componentes
Quartzo SiO2
Caulin 2SiO2.Al2O3.2H2O
SiO2
Feldspato alcalino 6SiO2.Al2O3.M2O
M = Na,K
Ácido bórico cristalizado B2O3.3H2O Bórax Na2B4O7.nH2O - n = 5/10
B2O3
Colemanita 2CaO2.3Al2O3.5H2O Ulexita Na2B4O7.Ca2B6O11.16H2O
Li2O Espodumênio Li2O.Al2O3.4SiO2
Feldspato sódico
Na2O Carbonato de sódio Na2CO3
Nitrato de sódio NaNO3
Feldspato potássio
K2O
Nitrato potássio KNO3
Talco 3MgO.4SiO2.H2O Magnesita MgCO3
MgO
Dolomita CaMg.(CO3)2
Carbonato de cálcio CaCO3 Nitrato de cálcio Ca(NO3)2
CaO Colemanita
Dolomita
BaO Carbonato de bário BaCO3
ZnO Óxido de Zinco
PbO Minio Pb3O4
Caulin Alumina hidratada Al2O3.3H2O
Al2O3
Feldspato alcalino Alumina calcinada Al2O3
ZrO Zircão ZrSiO4
50
Para Sanches (1997), existem outras matérias primas que são utilizadas com
diferentes finalidades, sendo a mais importante destas o quartzo (SiO2), material muito
refratário, pouco solúvel na fase vítrea, e que normalmente é utilizado como regulador
ou modificador do coeficiente de dilatação do vidrado.
Segundo Eppler (1998), a sílica (SiO2) é a base dos esmaltes e é necessária em
concentração suficiente para manter a estrutura do vidro, mas tem como limitação a
taxa de fusão. A concentração de óxido de boro (B2O3) é limitada pelo aparecimento
de bolhas e por considerações relacionadas à durabilidade. A adição de óxido de boro
é frequentemente necessária para assegurar uma fusão adequada de esmaltes com
baixa temperatura de fusão. Óxidos de elementos alcalinoterrosos (CaO, MgO, SrO)
não devem ser usados em esmaltes a serem queimados a temperaturas menores que
1093°C. A concentração de álcalis (Na2O, K2O, Li2O) é limitada pelas exigências
relativas à expansão térmica.
53
A queima pode ocorrer em curtos prazos como dois a dez minutos e nesse caso,
são denominadas queimas rápidas. Pode também ocorrer em período de tempo maior
como uma a seis horas e são chamadas de queimas lentas. Estes processos
dependem da cinética das reações de fusão e dissolução, portanto, são fortemente
dependentes da temperatura. A fusão do esmalte libera grandes quantidades de
gases, que devem ser eliminados durante a queima. O espaço vazio entre as
partículas do esmalte seco, antes da queima, corresponde a mais de 40% do volume
total e é mais uma fonte de gás, muito embora os gases escapem rapidamente durante
os estágios iniciais da queima, uma vez que o esmalte esteja selado, a única maneira
de eliminar o gás é difundindo-o até a superfície do esmalte, onde uma bolha de gás
pode estourar e a superfície, alisada. Entretanto, este processo de difusão é
usualmente muito lento para os processos de fabricação correntes. Desta forma, há
uma necessidade de maximizar a temperatura na qual o selamento ocorre (EPPLER,
1998).
Durante o processo de queima, a partir da temperatura de aproximadamente
560°C, ocorre a formação da camada de óxido em ferro fundido. Dependendo da
quantidade de oxigênio, pode-se formar três óxidos diferentes: wustita (Fe1-xO),
magnetita (Fe3O4) ou hematita (Fe2O3). Para melhorar a aderência do esmalte no
ferro, é muito importante que uma camada dos óxidos seja formada. A hematita reduz
a adesão e a magnetita aumenta a aderência. O wustita é principalmente uma fase de
transição e depois, ao resfriar, decompõe-se à magnetita. A espessura da camada de
óxido de ferro é importante. No caso da camada muito espessa, adquire-se
principalmente uma mistura de magnetita; hematita e alguns wustita. À medida que a
taxa de expansão térmica destes óxidos é diferente, a camada apresenta rachaduras
durante o procedimento de resfriamento, o que diminui a aderência no ferro fundido
(WENDEL, 2005). A figura 4.11, mostra a formação dos óxidos em temperaturas
diferentes.
54
recentemente, mais uma vez a indústria voltou suas ações para a esmaltação através
do processo úmido, aplicado em produtos de ferro fundido, como forma de agregar
valor (ELLIOT, 1983).
A aplicação do esmalte cerâmico por via úmida, pode ser feito pelos processos
de imersão, spray, pincel ou cobertura contínua. A esmaltação consiste na aplicação
de uma camada de vidrado (esmalte) sobre a superfície metálica. O vidrado é
composto por uma série de matérias primas inorgânicas. Contêm sílica, como
componente fundamental formador do vidro; alguns elementos que atuam como
fundentes que são os metais alcalinos, alcalinos terrosos, zinco, chumbo e boro;
outros como opacificantes, no caso do zircônio, estanho e titânio e outros ainda como
corantes, no caso do ferro, cromo, cobalto, manganês, etc.
Gomes (2015), cita em seu trabalho, que a esmaltação pode ser realizada com
a aplicação de uma única camada e uma única queima (1C/1Q); com a aplicação de
duas camadas com duas queimas (2C/2Q) ou com a aplicação de duas camadas e
uma queima (2C/1Q). No primeiro caso, uma única camada de esmalte deve conter
as funções de fundente e cobertura e devem cobrir a superfície do metal; possuir boa
aderência; proteger o metal de ataques químicos e físicos e ter a aparência visual
desejada.
O processo de esmaltação em ferro fundido é complexo e requer o controle
minucioso de todas as etapas, considerando a composição química e tratamento de
superfície do substrato, tempo de queima, composição do esmalte de base e
cobertura. Uma forma eficaz de se tratar a superfície antes mesmo de receber a
camada de esmalte é através do jateamento de areia. Entretanto, é aconselhável
adaptar o processo ao uso do jato de granalha por questões ambientais, custo e
disponibilidade de equipamentos.
Wendel (2005), afirma que para iniciar o processo de esmaltação a superfície do
substrato deve estar limpa, livre de contaminações por menores que sejam. A melhor
forma de se fazer isso é através do jateamento de granalha, porém segundo o autor
cuidados durante o processo de jateamento devem ser tomados, como:
O fluxo de explosão das granalhas deve ser exatamente à direita, se perder o
objetivo em 10% a perda de eficiência é de 25%;
A escolha do tamanho das granalhas de aço também é importante, uma vez
56
4.8 Aderência
CoO + Fe = FeO + Co
Sendo:
CoO = Óxido de cobalto;
Fe = Ferro;
FeO = Óxido de ferro;
Co = Cobalto;
58
Sendo:
Ceq. = Carbono equivalente;
Ctotal = Carbono total;
Si = Silício;
P = Fósforo;
O mesmo autor propõe que para aprovação da placa esmaltada, não deve
exceder a 3% em fração média da superfície de metal nu, que é no total 1 cm2. Usando
esse critério, o esmalte do lado esquerdo da figura 4.14 é considerado uma falha
quanto a aderência do esmalte. E do lado direito, aprovado.
60
5. METODOLOGIA
Como não existe uma norma para esmaltação em ferro fundido, a composição
química a ser seguida para elaboração da liga metálica é a proposta por Pagliuca e
Faust. Esta composição pode ser conferida na tabela 4.6.
Com o objetivo de verificar o comportamento do esmalte quando em contato com
o ferro fundido, foram elaborados para teste, quatro composições diferentes de
esmalte, partindo de matérias primas cruas. As três primeiras composições são
sugeridas por Pagliuca e Faust (2011), a quarta, porém foi elaborada através de
estudos bibliográficos. As composições podem ser vistas na figura 5.1:
64
Composição 1 23,8 33,3 21,9 11,4 0,4 4,2 3,9 0,7 0,4
Composição 2 25,0 25,5 21,0 3,5 3,0 14,0 7,0 5,0 3,0 8,0
Composição 3 26,8 28,0 22,0 4,0 7,0 4,0 4,2 3,5 1,5 3,0
Composição 4 20,0 42,0 29,0 8,0 1,0
66
6. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
3,25 - 3,35 2,5 - 2,6 0,45 - 0,6 0,6 - 0,7 < 0,09
Rastreabilidade
12G09 / GG25 - AR 3,62 1,95 0,85 0,07 0,07
EMEB / 15B - AR 3,61 2,44 0,5 0,16 0,07
Amostra 01 / GG25 - FDM 3,34 2 0,45 0,05 0,12
Amostra 02 / GG25 - FDM 3,34 2,13 0,42 0,05 0,13
Coletor 685 - AR 3,62 2,14 0,69 0,11 0,061
Pressure Placa Válvula 4 3/4 3,57 2,61 0,39 0,14 0,06
Pressure Placa Válvula 2"20 3,63 2,61 0,48 0,14 0,05
13G09A 3,62 2,04 0,84 0,15 0,06
Figura 6.2 – Caixa Expansiva com a Placa Dupla Face, (Cortesia da FUNDIÇÃO
SANTANA).
Para se elaborar uma liga de ferro fundido, conforme composição química pré-
estabelecida, é necessário que se faça um cálculo de carga, a fim de se prever a
composição química do metal líquido. A carga metálica é composta de diversos tipos
de materiais, sendo assim a composição química do metal no estado líquido é o
resultado de todos os elementos químicos que compõem os materiais da carga
metálica, conforme tabela 6.2.
70
nesse caso, houve uma perda de 160 °C até o momento do vazamento, temperatura
considerada significativa, mas que pode ser explicada devido ao fato do FeP25% ter
sido colocado no fundo da panela.
CF = % aumento x peso
Rendimento
óptica da marca GNR modelo Solares CCD Plus, equipamento utilizado para efetuar
a análise química de ligas, garantindo sua composição especificadas pelas normas
da ABNT. As amostras foram retiradas do forno após 40 minutos de fusão, possuem
formato circular e foram vazadas em moldes metálicos, facilitando assim a
solidificação. O resultado da análise do metal ainda no forno, pode ser conferido logo
abaixo:
C Si Mn P S
Resultado da análise
Elemento (%) C Si Mn P S
Resultado da análise preliminar 3,423 2,226 0,492 0,084 0,1
Previsto em Cálculo 3,36 2,25 0,46 0,1 0,08
Composição Ideal Final 3,25 - 3,35 2,50 - 2,60 0,45 - 0,60 0,60 - 0,70 < 0,09
74
CF = 0,25 x 40 = 0,153
65
Sendo:
0,25 = Percentual de Silício que deseja aumentar;
40 = Quantidade de material em kg;
65 = Rendimento da liga metálica.
CF = 0,35 x 40 = 0,215
65
Sendo:
0,35 = Percentual de Silício que deseja aumentar;
40 = Quantidade de material em kg;
65 = Rendimento da liga metálica.
CF = 0,62 x 40 = 0,992
25
Sendo:
0,62 = Percentual de Fósforo que deseja aumentar;
40 = Quantidade de material em kg;
25 = Rendimento da liga metálica.
CF = 0,55 x 40 = 0,880
25
Sendo:
0,55 = Percentual de Fósforo que deseja aumentar;
40 = Quantidade de material em kg;
25 = Rendimento da liga metálica.
6.4 Desmoldagem
Foram utilizados trinta e dois protótipos fabricados para aplicação dos esmaltes,
sendo dez peças para aplicação do esmalte 04, dez peças para aplicação do esmalte
01, cinco peças para aplicação do esmalte 02 e cinco peças para aplicação do esmalte
03. O direcionamento dos testes para a composição 01 e 04, se dá em função dos
resultados obtidos previamente.
6.7 Secagem
spray. Nesse processo parte da água é evaporada antes da formação da camada pela
atomização, em que a água é sujeita a maior superfície específica. A temperatura
típica desta operação foi de aproximadamente 100ºC.
A velocidade do ciclo está relacionada à drenagem específica, à formulação do
esmalte e portanto, defeitos podem surgir durante a etapa. O procedimento de
esmaltação, requer a secagem imediata após a aplicação e a quantidade de água
removida, depende diretamente da formulação usada e indiretamente, do processo
de aplicação. Obviamente, soluções com grandes quantidades de água, envolvem
custos extras, relativos à evaporação, uma vez que parte da água evapora durante a
aplicação por spray e pode ser removida na exaustão de ar devidamente instalada,
conforme afirma DEITZEL, (1981).
Após a aplicação do esmalte por spray, as peças foram devidamente secas em
estufas de laboratório Servitech a 100 ± 5 °C durante um intervalo que varia entre 1 a
4 horas, sendo a primeira camada aplicada e a peça inserida na estufa por 1 hora. Em
seguida, foi aplicada a segunda camada permanecendo na estufa por mais 3 horas,
aproximadamente. Quando o revestimento está completamente seco, é possível tocar
no esmalte sem que o mesmo solte da superfície, mas algumas precauções devem
ser tomadas afim de não contaminar a superfície.
7. RESULTADOS
Como pode ser observado na tabela 6.1, o material das primeiras amostras
esmaltadas não contém todos os elementos químicos dentro da faixa especificada
pela revisão bibliográfica, como material de qualidade para esmaltação. Entretanto, o
experimento mostra que é possível realizar a esmaltação em ferro fundido, mesmo
que os elementos não estejam dentro da faixa especificada. Gomes (2015), também
apresenta em seu trabalho, a caracterização através da microscopia óptica de panelas
de ferro fundido esmaltadas, fabricadas na China e os resultados estão apresentados
abaixo:
Tabela 7.1 – Valores encontrados na panela esmaltada Chinesa, (Adaptado
GOMES, 2015).
Pagliuca e Faust (2011) também afirmam que "para obter um objeto de ferro
fundido esmaltado de qualidade, deve-se fabricar o substrato dentro dos limites
tolerados de composição". E completam que qualquer composição química fora do
especificado, irá resultar em um produto esmaltado que pode apresentar defeitos com
o passar do tempo. E a China, país com maior volume de comércio internacional,
também fabrica panelas de ferro fundido esmaltada com percentuais altos de carbono
(4,5%), baixo em silício (1,77%), alto em enxofre (0,12%) e baixo em fósforo (0,4%).
Corrobora-se enfim, que esse processo é possível, desde que sejam feitas
alterações no esmalte, porém não é garantia de um produto esmaltado de qualidade
e principalmente durabilidade.
C. E. = % C + 1/3 (% Si + % P)
C.E. = 3,264 + 1/3 (2,505 + 0,643)
C.E. = 4,313
Carbono.
O carbono combinado está presente como cementita (Fe₃C) ou dissolvido na
perlita ou austenita do ferro. Um aumento do carbono combinado resulta em um
aumento na dureza do ferro, ou seja, o carbono é que dá as propriedades e
características do ferro fundido. Porém, a quantidade em grande medida, é controlada
pelas matérias primas e a prática de fundição. O ferro fundido branco é baixo em
carbono não combinado, que muitos esmaltadores consideram um constituinte
indesejável para o ferro fundido que recebe a camada de esmalte.
Houve um tempo, em que somente o ferro fundido branco podia ser esmaltado,
mas hoje é comum esmaltar produtos fabricados em ferro fundido cinzento,
principalmente em países como a China, Itália, França e outros. Com o aumento do
teor de carbono no ferro fundido, a dureza, contração linear e fragilidade aumentam.
Mais de um por cento do carbono combinado tende a enfraquecer a peça fundida e
se exceder três por cento como carbono grafítico, torna-se macio. As quantidades
relativas de carbono combinado e não combinado, também dependem das taxas de
resfriamentos e podem ser modificados com tratamentos térmicos.
Silício.
O silício em ferro fundido tende a transformar o carbono combinado (Fe₃C) em
carbono grafítico, suavizando o ferro. Se o ferro é rico em carbono combinado e o
silício não reduz esse último constituinte abaixo de um por cento, ele tem um efeito de
fortalecimento na medida em que reduz a fragilidade. Também tende a contrariar o
efeito de endurecimento do enxofre. Se presente em excesso de três e meio por cento,
ele muda completamente o caráter do ferro, o ferro se torna prateado, quebradiço e
fraco. O silício melhora a fluidez do ferro e se não estiver presente em quantidade
suficiente, a fundição é difícil devido à tendência de formar inclusões de escória e
micro porosidades.
O silício é um produto economicamente inviável, mas é essencial para a
produção de uma boa fundição, uma vez que favorece o refino de grão. Seu efeito é
86
Manganês.
O manganês tende a contrariar o efeito do enxofre no ferro fundido, agindo como
um amaciador em quantidades até 0,50 por cento. Mais de 2,0 por cento, tende a
endurecê-lo. O manganês também atua para aumentar a solubilidade do carbono,
possibilitando porcentagens muito maiores. Em quantidades menores, endurece o
ferro, mas onde peças macias são desejadas, não deve exceder 0,50 por cento. Tem
uma tendência para reduzir as propriedades magnéticas do mesmo. Como o ferro
gusa é geralmente baixo em manganês, ligas de ferro manganês devem ser
adicionadas ao forno, mas esse fator aumenta o custo da produção.
Fósforo.
O fósforo tem pouco efeito sobre o ferro se adicionado em quantidades abaixo
de 0,70 por cento, mas, em quantidades maiores, enfraquece-o. O fósforo diminui a
contração linear e como o silício, ele contribui consideravelmente para aumentar a
fluidez do ferro fundido. No processo de esmaltação, é desejável que o ferro fundido
tenha a menor contração linear possível e dessa forma, evita defeitos relacionados à
incompatibilidade de contração do ferro e da camada de esmalte durante o
resfriamento. Na fabricação de peças de pequena espessura e com geometria
irregular, o fósforo é uma ótima ajuda, já que a fluidez que o mesmo proporciona ao
material torna possível preencher perfeitamente a cavidade do molde.
Enxofre.
O enxofre aumenta a dureza, fragilidade e contração linear ao reagir com o ferro.
Enfraquece consideravelmente o material e nunca deve exceder 0,10 por cento, a
menos que seus efeitos sejam contrariados por outros elementos como o manganês.
Sua contração é tão grande que deve ser dada uma consideração especial nos
padrões de elaboração. Se o teor de silício for inferior a 1,0 por cento, o enxofre não
deve exceder 0,06 por cento devido à fragilidade que ele apresenta.
87
Elementos diversos.
Existem vários outros elementos em alguns ferros fundidos e muitos dos quais,
têm pouco efeito sobre as propriedades. O níquel, suaviza e fortalece o ferro fundido
produzindo um grão fino. O alumínio, amacia e enfraquece o ferro cinzento mas sua
presença no ferro branco, tende a reforçá-lo em 0,2 a 1,0 por cento. Ligas de vanádio
age como desoxidante quando se junta ao ferro, fortalecendo-o, assim como o titânio.
E o cromo, age sobre o mesmo, endurecendo-o.
Embora seja verdade que a composição química do ferro fundido possa variar
de forma satisfatória em uma ampla gama, deve-se lembrar que o ferro fundido
destinado ao processo de esmaltação, deve possuir todos os elementos químicos
dentro do intervalo de composição visto na tabela 4.6. Uma vez que o coeficiente de
expansão do ferro é controlado pela composição do mesmo e, qualquer variação no
coeficiente de expansão resultará, inevitavelmente, em fissuras e lascadas do
esmalte.
É possível, no entanto, variar a composição do esmalte para adaptar às
diferentes composições e microestruturas obtidas no ferro fundido cinzento. É
necessário, porém, um grau de uniformidade na sua composição afim de se produzir
mercadorias de boa qualidade e sem perda, devido a defeitos ocorridos durante o
processo de fabricação.
100 μm 100 μm
100 μm 100 μm
a) Protótipo 1
b) Protótipo 2
91
c) Protótipo 3
d) Protótipo 4
e) Protótipo 5
92
aplicação do esmalte por spray, porém não foi observada grande influência no
resultado final, tornando esse procedimento optativo.
Durante a queima, ocorreu a interação química entre a camada de esmalte vítreo
e a superfície do substrato de ferro fundido cinzento. Consequentemente, é nessa
fase que ocorre uma grande concentração de defeitos. Estes podem ter como origem,
diversos fatores, tais como: temperatura de queima abaixo ou acima do ponto de
transição vítrea; tempo excessivo do patamar; aplicação da camada de esmalte
resultando em espessuras diferentes; composição do esmalte; decantação de algum
constituinte do esmalte; rugosidade da superfície do substrato; atmosfera do forno,
entre outros.
Entretanto, ainda não é possível explicar exatamente quando um ou outro
ocorrem e porque ocorrem os defeitos, para isso seria necessário um estudo
concentrado na área de defeitos aparentes. O que se percebe até o momento, é a
manifestação mais acentuada de defeitos em algumas composições de esmalte em
relação às outras e também a influência de alguns parâmetros. Veja nas imagens
abaixo o comportamento das quatro composições testadas:
a) Aplicação do esmalte 01
94
b) Aplicação do esmalte 02
c) Aplicação do esmalte 03
95
d) Aplicação do esmalte 04
5
6
7
8
9
10
11
12
Esmalte 02
13
14
15
16
17
18
Esmalte 03
19
20
21
22
23
24
25
26
Esmalte 04
27
28
29
30
31
32
8. CONCLUSÃO
CERVO, Amado Luiz. Metodologia científica. Amado Luiz Cervo, Pedro Alcino
Bervian, Roberto da Silva.-. 2007.
DAVIS, Joseph R. et al. (Ed.). ASM specialty handbook: cast irons. ASM international,
1996.
MITTERPACH, Jozef et al. Environmental analysis of waste foundry sand via life
cycle assessment. Environmental Science and Pollution Research, p. 1-10, 2016.