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23º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais

04 a 08 de Novembro de 2018, Foz do Iguaçu, PR, Brasil

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DO CARBONATO DE CÁLCIO (CaCO 3 ) E


ÓXIDO DE CÁLCIO (CaO), PROVENIENTE DE FONTE DE MATÉRIA-PRIMA
SUSTENTÁVEL

A. C. Martins1*, C. C. A. Loures1, E. P. dos Santos2, F. Silvestre3, L. A. dos Santos2

*
Rua do Areal, 522, Pq. Mambucaba, 23953-030 – Angra dos Reis/RJ
(amartins2295@gmail.com)
1
Departamento de Engenharia Mecânica, CEFET/RJ Campus Angra dos Reis, Angra
dos Reis/RJ, Brasil
2
Departamento de Engenharia Metalúrgica, CEFET/RJ Campus Angra dos Reis,
Angra dos Reis/RJ, Brasil
3
Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro (FIPERJ),
Angra dos Reis/RJ, Brasil

Resumo: O carbonato de cálcio e o óxido de cálcio são substâncias importantes do


ponto de vista industrial, uma vez que são utilizadas por diversos setores. Dessa
forma, esse trabalho realizou a caracterização dessas substâncias, a partir de uma
fonte de matéria-prima alternativa e sustentável, o coral-sol (Tubastraea spp.), espécie
de coral invasora em águas brasileiras, a fim de avaliar futuramente aplicações para
o material. Para isso, as características físicas, químicas e térmicas foram avaliadas
utilizando análises por DRX, FRX e TG. Os resultados mostraram que o coral-sol
apresenta uma elevada concentração de carbonato de cálcio, estando sob a forma de
aragonita, e que a decomposição de carbonato de cálcio em óxido de cálcio ocorre na
faixa de temperatura entre 720°C e 880°C, confirmada pelo difratograma da amostra
após calcinação.

Palavras-chave: CaCO 3 , CaO, caraterização, material sustentável.

INTRODUÇÃO

O carbonato de cálcio e o óxido de cálcio são substâncias amplamente


utilizadas no setor industrial, de modo que rochas cálcio-carbonatadas, as quais são
compostas majoritariamente por carbonato de cálcio, como os calcários e dolomitas,

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são as mais comercializadas no mundo [1]. Dentre as inúmeras aplicações das


substâncias são destacáveis os papeis realizados na indústria siderúrgica, indústria
cimenteira, para a confecção de cimento portland, indústria do papel e celulose, no
setor agrícola e outras [1]. Entretanto sua exploração mineral ocasiona problemas,
principalmente ambientais, onde a mesma ocorre, como acentuação das áreas
desmatadas, degradação das paisagens naturais e outros [2].

Tendo em vista que as substâncias podem ser obtidas através de outras fontes
de matérias-primas alternativas, diferentes trabalhos tem sido realizados nesse
sentido como a utilização de cascas de ovos [3], conchas de mariculturas [4], corais
[5] e outros materiais. Dentro das possíveis fontes de matéria-prima sustentável para
essas substâncias está o coral-sol.

O Coral-Sol é um animal invertebrado do filo dos Cnidários e da ordem


Scleractinia [6], sendo um nome genérico para duas espécies o Tubastraea
tagusensis e o Tubastraea coccínea. Ele é exótico em águas nacionais e apresenta
vantagens competitivas com os corais nacionais, sendo uma ameaça a biodiversidade
marinha brasileira [7]. Dessa forma, são necessárias medidas que possam auxiliar na
remoção das espécies, auxiliando seu controle populacional. Uma dessas medidas
seria agregar valor ao animal, tornando-o economicamente atrativo [8].

Conforme a literatura [8], o exoesqueleto do coral-sol é composto por carbonato


de cálcio, estando na forma polimórfica de aragonita. A aragonita é a segunda forma
polimórfica mais encontrada do carbonato de cálcio, sabe-se que, preferencialmente,
animais como corais e moluscos produzem seus exoesqueletos e conchas com essa
forma do carbonato de cálcio, devido aos cristais aciculares da aragonita são
propensos a formar conjuntos entrelaçados, fazendo que o material policristalino
apresente um aumento de solidez ou maior resistência a quebra [9].

A tabela 1 apresenta algumas propriedades relacionadas ao carbonato de


cálcio em sua forma de aragonita.

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Tabela 1 – Propriedades físicas da aragonita

Sistema cristalino Dureza (Escala Mohs) Densidade (g/cm3)

Ortorrômbico 3,5 – 4,0 2,93 – 2,95

Fonte: Adaptado de [1].

Tendo em vista os assuntos abordados, o objetivo desse trabalho é realizar a


caracterização térmica, química e física do coral-sol, identificando suas características
afim de avaliar possíveis aplicações para o material.

MATERIAIS E MÉTODOS

As amostras de coral-sol foram doadas pela Estação Ecológica de Tamoios


(ESEC Tamoios), removidas de áreas pertencentes a estação, localizada na área da
Baía da Ilha Grande.

As amostras foram cominuídas em grau de porcelana e classificadas em uma


peneira com malha 100# (150μm). Foram separadas pequenas alíquotas de
aproximadamente 30 gramas para realização das análises físico-químicas. Uma outra
fração do material foi colocada no forno mufla a 900 °C por 2 horas, onde o produto
final foi novamente cominuído e separado em alíquotas de 30 gramas.

Para obter-se o comportamento da decomposição térmica do material, foi


realizada a análise termogravimétrica no analisador térmico, modelo Shimadzu TGA-
50, sob fluxo de nitrogênio e com taxa de aquecimento de 10°C/min, até a temperatura
final de 900°C. A identificação do material foi realizada através da análise por difração
de raios X, realizada em um difratômetro modelo XRD-6000-SHIMADZU, radiação Cu-
Kα (40 kV, 30 mA), com θ variando de 10-90°, com passo angular de 0,02° e tempo
de contagem 15 s/ponto, realizado sob temperatura e pressão ambientes. Por fim, a
composição química da amostra foi determinada por meio da análise por fluorescência
de raios X, utilizando o espectrômetro de micro fluorescência de raios X, modelo
Shimadzu µ-EDX1300. Por fim,

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RESULTADOS E DISCURSSÕES

O resultado da análise termogravimétrica do coral-sol pode ser visualizado na


figura 1. Observa-se que até aproximadamente 720°C o coral-sol não apresenta
nenhuma perda de massa significativa, cerca de 4%, possivelmente decorrente da
remoção de água e matéria orgânica do material. A partir desse ponto, tem-se uma
perda acentuada até cerca de 880°C, aproximadamente 44% em massa. Essa perda
de massa está associada com a decomposição térmica do carbonato de cálcio em
óxido de cálcio, onde o primeiro se decompõe em óxido de cálcio e gás carbônico
(CO 2 ). Após a temperatura de 880°C a perda de massa é despresível. Desta forma, é
possível observar que a temperatura de calcinação do material ocorre entre 720°C e
880°C. Comparando-se os resultados obtidos com os dados da literatura [1] é possível
verificar a que a faixa de temperatura de calcinação encontrada é próxima a faixa de
temperatura de calcinação do calcário, que ocorre entre 900°C a 1.000°C..

Figura 1 – Análise termogravimétrica do coral-sol.

A figura 2 apresenta os difratogramas obtidos pela análise de difração de raios


X das amostras de coral-sol não calcinado e calcinado. Verifica-se que a amostra do
material coral-sol não calcinado apresenta picos majoritariamente de carbonato de

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cálcio (CaCO 3 ), estando em sua forma de aragonita. Este resultado está de acordo
com o exposto na literatura [9], onde os animais como corais e moluscos produzem
seus exoesqueletos e conchas com essa forma polimórfica do carbonato de cálcio.

Figura 2. Comparação dos resultados das análises por difração de raios X das
amostras de coral-sol não calcinado (azul) e calcinado (vermelho).

Identificou-se ainda que, o difratograma da amostra calcinada, por sua vez,


apresentou picos correspondentes aos do óxido de cálcio (CaO), confirmando que a
temperatura e o tempo escolhidos são suficientes para decompor termicamente o
CaCO 3 das amostras em CaO. Foi possível também verificar alguns poucos picos de
hidróxido de cálcio (Ca(OH) 2 ), possivelmente devido a reação do óxido com a
umidade do ambiente, realizando sua hidratação.

Os resultados obtidos foram similiares aos encontrados em literatura [8],


identificando-se a presença majoritária de aragonita no material não calcinado e óxido
de cálcio na amostra calcinada a 900 °C pelo tempo de 2 horas.

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Por fim, a tabela 2 apresenta a composição química, em termos da quantidade


de elementos químicos presentes nas amostras de coral-sol obtidas através da
análise por fluorescência de raios X. Observa-se que as amostras apresentaram um
pouco menos de 97% de cálcio em sua composição, sendo verificado através da figura
2 na forma de carbonato de cálcio, o que demonstra grande concentração da
substância no material. Outro ponto relevante é a presença de estrôncio nas amostras,
2,5%. A presença de estrôncio, deve-se as características do elemento, dentre elas
estão o carbonato de estrôncio (SrCO 3 ), ou estroncianita, ser isoestrutural com a
aragonita, além do elemento poder ocupar vacâncias na estrutura, deste modo é
comum a presença de estrôncio na aragonita proveniente de corais [10].

Tabela 2 – Composição química em termos da quantidade média (%) de elementos


químicos presentes nas amostras de coral-sol através da análise por fluorescência de
raios X

Amostra Ca (%) Sr (%) Outros (%)

Coral-sol não calcinado 96,79 2,50 0,71

CONCLUSÕES

A caracterização do coral-sol como fonte sustentável de carbonato de cálcio e


óxido de cálcio foi realizada, possibilitou identificar propriedades térmicas, químicas e
físicas.

É possível concluir a partir da análise termogravimétrica que a faixa de


temperatura de decomposição térmica do carbonato de cálcio, no coral-sol, é entre
720°C a 880°C.

Através da difração de raios X, identificou-se que o material apresenta quase


que completamente picos relativos ao carbonato de cálcio, sob a forma de aragonita.
E que o tempo de 2 horas e a temperatura 900°C escolhidos foram suficientes para
converter o carbonato de cálcio em óxido de cálcio.

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A composição química obtida pela análise por fluorescência de raios X,


confirmou altas concentrações cálcio, aproximadamente 97%, estando na forma de
carbonato de cálcio, além de pequenas quantidades do elemento estrôncio, 2,5%, e
outros.

Através da propriedades encontradas por meio da realização deste trabalho,


verificou-se que o coral-sol pode ser uma fonte sustentável de matéria-prima para
suprir demandas de carbonato de cálcio, devido a altas concentrações da substância
no material, podendo ser utilizado para diferentes aplicações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] SAMPAIO, J. A.; ALMEIDA, S. L. M. Calcário e Dolomito. In: LUZ, A. B.; LINS, F.
A. F. Rochas & Minerais Industriais: Usos e Especificações. 2. ed. Rio de Janeiro:
Cetem-mct, 2008. Cap. 16. p. 363-388.
[2] FERNANDES, F. R. C.; ALAMINO, R. D. C. A.; ARAUJO, E. R. Recursos minerais
e comunidade: Impactos humanos, socioambientais e econômicos. Rio de Janeiro:
CETEM/MCTI, 2014.
[3] SOUZA, M. T.; MAIA, B. G. O.; TEIXEIRA, L. B.; OLIVEIRA, K. G.; TEIXEIRA, A.
H. B.; OLIVEIRA, A. P. N. Glass foams produced from glass bottles and eggshell
wastes. Process Safety and Environmental Protection, v. 111, p.60-64, 2017.
[4] CHIERIGHINI, D.; BRIDI, R.; ROCHA, A. A.; LAPA, K. R. Possibilidade do uso das
conchas de moluscos. In: 3 INTERNATIONAL WORKSHOP ADVANCES IN
CLEANER PRODUCTION, São Paulo, SP, 2011. Anais....São Paulo, 2011. Disponível
em:http://www.advancesincleanerproduction.net/third/files/sessoes/6A/6/Chierighini_
D%20-%20Paper%20-%206A6.pdf. Acesso em: 20 de maio de 2018.
[5] ROSCHAT, W; KACHA, M; YOOSUK, B; SUDYOADSUK, T; PROMARAK, V.
Biodiesel production based on heterogeneous process catalyzed by solid waste coral
fragment. Fuel, v. 98, p. 194-202, 2012.
[6] WORLD REGISTER OF MARINE SPECIES. Tubastraea Lesson, 1829. Disponível
em: http://www.marinespecies.org/aphia.php?p=taxdetails&id=267930. Acesso em:
25 de maio de 2018.
[7] LAGES, B. G.; FLEURY, B. G.; PINTO, A. C.; CREED, J. C. Chemical defenses
against generalist fish predators and fouling organisms in two invasive ahermatypic
corals in the genus Tubastraea. Marine Ecology, v. 31, p. 473-482, 2010.
[8] VIANNA, M. T. G.; MARQUES, M.; BERTOLINO, L. C. Sun coral powder as
adsorbent: Evaluation of phosphorus removal in synthetic and real wastewater.
Ecological Engineering, v. 97, p. 13-22, 2016.

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[9] BESSER, K. E.; RODRIGUES, L. C. Os polimorfos de carbonato de cálcio – uma


síntese fácil de aragonita. Química Nova, v. 31, n. 1, p. 178-180, 2008.
[10] RUIZ-HERNANDEZ, S. E.; GRAU-CRESPO, R.; RUIZ-SALVADOR, A. R.;
LEEUW, N. H. D. Thermochemistry of strontium incoporation in aragonite from
atomistc simulations. Geochimica et Cosmochimica Acta, v. 74, p. 1320-1328, 2010.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CEFET/RJ e CNPq, pelo apoio financeiro.

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PHYSICAL-CHEMICAL CHARACTERIZATION OF CALCIUM CARBONATE


(CaCO3) AND CALCIUM OXIDE (CaO) FROM SOURCE OF SUSTAINABLE RAW
MATERIAL

Abstract: Calcium carbonate and calcium oxide are important substances from the
industrial point of view, since they are used by several sectors. Thus, this work carried
out the characterization of these substances, from a source of alternative and
sustainable raw material, sun coral (Tubastraea spp.), an invasive coral species in
Brazilian waters, in order to evaluate future applications for the material. For this, the
physical, chemical and thermal characteristics were evaluated using XRD, XRF, TGA
and particle size distribution. The results obtained were a high concentration of calcium
carbonate in the samples, being in the form of aragonite, besides thermal
decomposition temperature, for decomposition of calcium carbonate in calcium oxide
in the range between 720 ° C and 880 ° C, confirmed by the diffractogram of the sample
after calcination.

Key-words: CaCO 3 , CaO, characterization, sustainable material.

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