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ESTUDO PRELIMINAR DE CARACTERIZAÇÃO DAS ARGILAS DO ESTADO DO


AMAPÁ

R. J. V. Sacasa* , J.M. L Rosário*, A.C. R. Araújo*, F.S. Pimentel*


*
Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá - IEPA/
Laboratório de Tecnologia em Cerâmica – CERAMITEC. Rod. JK, Km 10 , s/n. Fazendinha CEP
68912-250 Macapá – AP. roberto.sacasa@iepa.ap.gov.br

RESUMO

Este trabalho é referente às atividades realizadas no laboratório CERAMITEC


e representa o ponto de partida das pesquisas do mesmo. Através da seleção de
seis amostras de argilas do Estado do Amapá, coletadas durante um levantamento
geológico parcial executado em anos anteriores, foi possível realizar
caracterizações, onde os dados de campo foram retomados para o conhecimento e
uso provável deste material na indústria cerâmica. Foram realizados os seguintes
ensaios: difração de raios-X; análise térmica diferencial; análise termogravimétrica;
análise dilatométrica; limite de liquidez e limite de plasticidade, visando a
identificação de suas propriedades e potencialidades.

Palavras-chave: argilas, potencialidades, ensaios de caracterização, Amapá.

1. INTRODUÇÃO

As características das argilas no Estado do Amapá para fins econômicos, não


são bem conhecidas. Geralmente, as áreas de extração das empresas do setor
oleiro-cerâmico local, estão localizadas no perímetro semi-urbano e urbano das
principais cidades que se dedicam principalmente às atividades de fabricação de
blocos de vedação (tijolos furados) e telhas em menor escala. O Laboratório de
Tecnologia em Cerâmica – CERAMITEC, do Instituto de Pesquisas Científicas e
Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA), tem como finalidade realizar ensaios
tecnológicos da matéria-prima e dos produtos acabados para contribuir com o
melhoramento na indústria de cerâmica vermelha.
Neste trabalho estão inseridas as informações do levantamento geológico
parcial executado em 2002, o qual incluiu vários pontos de amostragem ao longo do

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Estado do Amapá. As argilas coletadas foram submetidas a avaliações qualitativas


visando a utilização em cerâmica vermelha.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

MATERIAIS
Os pontos de amostragem relacionados a este artigo, foram coletados,
sobretudo ao longo de rodovias e estradas vicinais, ramais, e trilhas, registrando-se
alguns aspectos da geologia, toponímia, fisiografia e geo-referenciados com GPS
para a construção do mapa de pontos (Figura 1). Essas amostras foram
selecionadas baseadas nas características texturais macroscópicas que lhes atribuía
importância qualitativa(1).

Figura 1 – Localização dos pontos de amostragem das argilas(1).

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METODOLOGIA
Os métodos utilizados nesta pesquisa foram:
i) Difração de Raios–X em amostra total, realizada pelo método do pó
(amostra pulverizada), para o reconhecimento dos argilominerais através do
difratômetro Philips PW1050, com identificação automática no banco de dados do
PDF-ICDD, software APD-Philips, pertencente ao Departamento de Geoquímica e
Petrologia do Centro de Geociências (DGP/CG) da UFPA;
ii) Análises Térmicas (ATD, TG e AD) empregando o sistema RB-3000 da BP.
As amostras de argilas foram preparadas para execução seqüencial após secagem
a 70º C durante 2 horas e moídas até não apresentar resíduo em malha 200(2), dos
materiais preparados pesou-se cerca de um grama. O forno de cada unidade é
tubular com núcleo de alumina, sistema de aquecimento realizado por resistência
metálica em concreto refratário, isolação em fibra cerâmica, temperatura máxima
1.100ºC e razão de aquecimento de12,5ºC/min;
iii) Parâmetros de Atterberg (LL, LP e IP) foram obtidos através das normas
NBR 6459(3) e NBR 7180(4), no qual utilizou-se aparelho Casa Grande e vidro
esmerilado da Solotest.
As amostras foram codificadas do seguinte modo: o primeiro número é
referente a etapa de campo, as letras EG significam Estação Geológica e os
números posteriores estão relacionados com a identificação dos pontos de coleta.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A descrição generalizada das amostras de argilas usada como material para


análise deste trabalho, está resumida na tabela 1.
Tabela 1. Descrição das amostras de campo(1).
Matéria Estruturas Ambiente- Período Município/
Código Textura Cor
Orgânica Lateríticas Geológico Geológico Localidade
1-EG-16 Terrosa Vermelha Ausente Não Terraço T Pequiazal
1-EG-68 Blocos Cinza Média Não Várzea Q Laranjal do Jarí
1-EG-69 Terrosa Rosada Ausente Sim Terraço T/Q Laranjal do Jarí
2-EG-32 Blocos Cinza Baixa Sim Terraço Q Macacoari
3-EG-06 Terrosa Vermelha Baixa Sim Terraço T/Q Amapá
3-EG-10 Blocos Cinza Elevada Não Terraço Q Macacoari

De acordo com a caracterização mineralógica, por difração de raios-X


constata-se que o quartzo (SiO2) e a caulinita (Al2O3.2SiO2.2H2O) são os minerais

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predominantes nas amostras, pois as intensidades dos picos têm referencias com a
quantidade dos minerais presentes nos materiais, nota-se ainda a presença de mica
muscovita KAl2[((OH),F)2AlSi3O10] e traços de hematita (α-Fe2O3) como constituintes
principais. Algumas amostras também apresentaram esmectita, porém recomenda-
se análises mais detalhadas que incluam preparação de lâminas orientadas,
aquecidas e glicoladas, para constatação efetiva da presença deste argilomineral(1).
Na Figura 2 são apresentados os difratogramas das seis amostras analisadas,
enquanto a tabela 2 é relacionada aos resultados determinados em DRX.

Tabela 2: Análise mineralógica das amostras.


Amostras Minerais identificados por DRX
1-EG-16 Quartzo, Caulinita, Hematita
1-EG-68 Quartzo, Caulinita, Hematita
1-EG-69 Quartzo, Caulinita
2-EG-32 Quartzo, Caulinita, Muscovita
3-EG-06 Quartzo, Caulinita, Muscovita, Hematita
3-EG-10 Quartzo, Caulinita, Muscovita

Os ensaios de análises térmicas (ATD, TG e AD) foram executados


seqüencialmente com velocidade de aquecimento de 12,5ºC/min, temperatura final
de 1000ºC, com 72 minutos de duração média em cada corrida, neles as amostras
que apresentaram comportamentos térmicos semelhantes foram tratadas
separadamente, para melhorar a compreensão dos resultados, sendo divididos em
dois grupos, onde no primeiro estão contidas as amostras 1-EG-16, 1-EG-68 e 1-
EG-69 e no segundo 2-EG-32, 3-EG-06 e 3-EG-10.
Nas análises de ATD as curvas das amostras 1-EG-16, 1-EG-68 e 1-EG-69,
mostram um primeiro comportamento endotérmico de pequena intensidade nos
intervalos de temperatura 47º C, 38º C e 43º C relacionado com perda de água de
umidade(5). Posteriormente entre 88º C e 100º C observa-se uma reação exotérmica
associada à combustão de matéria orgânica(5). Em seguida tem-se novo
comportamento endotérmico na ordem de 126º C (1-EG-16), ausente na segunda
amostra (1-EG-68) e 122º C na terceira (1-EG-69), associado à perda de água
adsorvida(5). Ocorreu a formação de um pico endotérmico de grande intensidade nas
temperaturas de 603º C, 611º C e 595º C, o qual pelas as assinaturas das três
curvas de ATD, está associado ao processo de desidroxilação da caulinita com
formação de metacaulinita, principal mineral presente nas amostras (Figura 3 - a; b;

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c). Após esta fase os termogramas, revelam a formação do ultimo pico exotérmico,
relacionado provavelmente com a nucleação de mulita, ou a formação de espinélio
alumínio-silicio(5), as temperaturas do evento estão próximas a 956º C, 952º C e 958º
C, nas amostras 1-EG-16, 1-EG-68 e 1-EG-69, respectivamente.
As curvas de TG do primeiro grupo revelam que houve perda de massa na
ordem de 13,08 %, 13,48% e 14,53% para as amostras 1-EG-16, 1-EG-68 e 1-EG-
69, respectivamente. A maior perda se dá pela desidroxilação, onde a caulinita
perde suas hidroxilas. Os valores de perda de massa confirmam que os materiais
estudados são predominantemente compostos de caulinita, pois o valor
característico do argilomineral é de 13.96%(5) (Figura 3 - a; b; c).
O segundo grupo é representado pelas amostras 2-EG-32, 3-EG-06 e 3-EG-
10, que também foram separadas de acordo com seus comportamentos perante os
eventos térmicos realizados.
As análises de ATD mostram reação exotérmica nas temperaturas de 81ºC,
100ºC e 85ºC, para os respectivos materiais 2-EG-32, 3-EG-06 e 3-EG-10,
relacionada à combustão da matéria orgânica(5). A perda de água adsorvida foi
caracterizada por picos endotérmicos em 129ºC, 132ºC e 130ºC (2-EG-32, 3-EG-06
e 3-EG-10). Nas temperaturas de 579ºC, 581ºC e 584ºC ocorre a provável inversão
do quartzo(6),(7), devido as amostras apresentarem grande quantidade do mineral
identificado através da intensidade dos picos de DRX, a inversão pode ser
confirmada pelas curvas de AD que mostram dilatação acentuada para as mesmas
temperaturas (Figura 3 - d; e; f).
O grupo demonstrou nas análises termogravimétricas perda de massa total de
6,44%, 5,37% e 9,79% para as respectivas amostras do segundo bloco. Observa-se
ainda que nas mesmas temperaturas onde ocorreu inversão do quartzo houve
significativo ganho de massa (Figura 3 - d; e; f).

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(a) (b)

(c) (d)

(e) (f)

Figura 2 – Difratogramas de raios-X : a) 1-EG-16; b) 1-EG-68; c) 1-EG-69; d) 2-EG-


32; e) 3-EG-06; f) 3-EG-10.

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(b)
(a)

(c) (d)

(e) (f)

Figura 3 – Termogramas de ATD, TG e AD : a) 1-EG-16; b) 1-EG-68; c) 1-EG-69; d)


2-EG-32; e) 3-EG-06; f) 3-EG-10.

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Para os ensaios de Atterberg utilizaram-se códigos para facilitar a plotagem


dos gráficos descritos na tabela 3, a mesma é referente à relação obtida entre os
parâmetros de Atterberg e a coloração das amostras quando submetidas às
temperaturas de 110ºC e 950ºC.

Tabela 3: Relação entre Parâmetros de Atterberg e cor a 110ºC e 950ºC.


Cor
Amostras Código LL LP IP Extrusão
110 ºC 950ºC
Rosa-
1-EG-16 A4 59 39 20 Não aceitável Rosa
avermelhada
1-EG-68 A2 52 26 26 Aceitável Rosa Rosado-claro

1-EG-69 A3 72 38 34 Não aceitável Rosa Rosado

2-EG-32 A5 41 19 22 Ótimo Marrom Laranja-claro


Laranja-
3-EG-06 A7 33 21 12 Aceitável Laranja
escuro
Vermelho-
3-EG-10 A8 54 26 28 Aceitável Marrom
alaranjado

Segundo a classificação preliminar de argilas para uso cerâmico com base nas
cores(5) apresentadas após a secagem a 110 ºC, as amostras A5, A7 e A8 de
natureza cinza, marrom e laranja possivelmente poderiam ser consideradas argilas
propícias à cerâmica vermelha. As amostras A2, A3 e A4 pelo critério de coloração
rosada, provavelmente seriam utilizadas para fins de cerâmica branca ou refratária.
Todavia, elas precisariam ser queimadas nas temperaturas de 1250 ºC e 1450 ºC e
através da preparação de corpos de prova que possibilitariam maiores informações
dos resultados de ensaios tecnológicos cerâmicos completos.
A Figura 4 faz referência ao prognóstico de extrusão(8) através dos limites de
Atterberg. Observamos que a argila A5 apresenta extrusão ótima, as amostras A2,
A7 e A8 obtiveram extrusão aceitável e as demais estão localizadas fora da região
aceitável por apresentarem índices (IP e LP) elevados.

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Figura 4 – Prognóstico de extrusão através dos Limites de Atterberg(8).

4. CONCLUSÕES
De acordo com a caracterização mineralógica obtida por DRX, comprovaram
a presença dos minerais: caulinita, quartzo, muscovita e traços de hematita. As
análises térmicas (ATD, TG e AD) constataram a presença da caulinita e quartzo
como os principais minerais presentes nas amostras. Os parâmetros de Atterberg
(LL, LP e IP), verificaram as características de plasticidade com um prognóstico de
extrusão em média aceitável. Pode se concluir que as amostras 2-EG-32, 3-EG-06 e
3-EG-10 possivelmente poderiam ser usadas para cerâmica vermelha, enquanto que
as amostras 1-EG-16, 1-EG-68 e 1-EG-69, provavelmente seriam utilizadas para fins
de cerâmica branca ou refratária respectivamente.

5. AGRADECIMENTOS
Os nossos agradecimentos aos colegas MSc. Milena Carvalho e MSc. Flávio
Souto pelas contribuições e sugestões na interpretação dos resultados e edição do
texto final.

6. REFERÊNCIAS

1. SILVA, D. 2002. Relatório do Projeto Argila Amapá, (Resultados Parciais


Alcançados ), 37p. DGRH/CPZG/IEPA. Macapá - AP.

2. SISTEMA DE ANÁLISES TÉRMICAS. Modelo RB-3000-20 BP Engenharia.


Manual de Instruções.

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3. NBR 6459. Solo - Determinação do Limite de Liquidez. Método de ensaio. 02.453.


Out. 1984. ABNT.

4. NBR 7180. Solo - Determinação do Limite de Plasticidade. Método de ensaio.


02.453. Out. 1984. ABNT.

5. SANTOS, P.S. 1989. Ciência e Tecnologia de Argilas. Volume 1. 2a Ed. Editora


Edgard Blücher. São Paulo.

6. RAMACHANDRAN, V.S.; PAROLI, R.M.; BEAUDOIN, J.J.; DELGADO, A.H. ©


2002 William Andrew. Handbook of Thermal Analysis of Construction Materials.

7. SMYKATZ-KLOSS, W. ANÁLISE TÉRMICA DIFERENCIAL Aplicação e


Resultados na Mineralogia Tradução parcial do inglês por Thomas Scheller e
Walmeire Alves de Melo Costa – UFPa. (Apostila).

8. MARSIGLI, M, DONDI, M, “Plasticitá delle argille, Taliane per laterizi e previsione


del lone comportamento in foggiatura”, L’ Industria dei Laterizi, V. 46, pp. 214-222,
1977.

PRELIMINARY CHARACTERIZATION STUDY OF AMAPÁ STATE CLAYS

R. J. V. Sacasa* , J.M. L Rosário*, A.C. R. Araújo*, F.S. Pimentel*


*
Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá - IEPA/
Laboratório de Tecnologia em Cerâmica – CERAMITEC. Rod. JK, Km 10 , s/n. Fazendinha CEP
68912-250 Macapá – AP. roberto.sacasa@iepa.ap.gov.br

ABSTRACT
This work is regarding the activities accomplished at the laboratory CERAMITEC,
and represents the starting point of the researches with clay materials. Through the
selection of six clay samples of the Amapá State, collected during a partial geological
survey executed in previous years, was possible to accomplish characterizations,
where the field data were retaken for the knowledge and probable use of this material
in the ceramic industry. The following characterization tests were accomplished by: x-
ray diffraction; differential thermal analysis; thermo gravimetric analysis; dilatometer
analysis; liquidity limit and plasticity limit, seeking the identification of clay samples
properties and potentialities.

Key-words: clays, potentialities, characterization tests, Amapá.

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