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Camadas Inferiores e Superiores da Jazida de Candiota, RS –

Caraterização Geológica, Petrológica, Química e Ensaios de Reatividade e


Beneficiamento Visando a Geração de Energia Elétrica
Kalkreuth W.¹, Lunkes K. M.¹, Oliveira J.¹, Hidalgo G.², Ghiggi M. L.², Osório E.²,
Souza K.³, Sampaio C.³

¹Laboratório de Análise de Carvão e Rochas Geradoras de Petróleo – Inst. de Geociências, UFRGS,


²Laboratório de Siderurgia – Centro de Tecnologia, UFRGS,
³Laboratório de Processamento Mineral – Centro de Tecnologia, UFRGS

RESUMO
Na jazida de Candiota, RS, Brasil, as camadas Candiota Superior e Inferior são utilizadas para a geração
de energia elétrica. O presente estudo caracteriza as outras camadas do depósito, que incluem as camadas
superiores (S1-S9), a camada BL e as camadas inferiores (I1-I5), ainda não caracterizadas para o uso
termelétrico. Para o andamento do estudo, foram utilizadas amostras de carvão de oito furos de sondagem
realizados pela CRM em 2008. Foram identificadas 95 camadas de carvão nos oito furos com espessuras
variando entre 0,08-1,52 m.
Análise Estratigráfica. Quatro principais ambientes deposicionais foram identificados: leque aluvial,
sistema fluvial, laguna barreira e marinho raso com o desenvolvimento das camadas de carvão ocorrendo no
trato de sistemas transgressivo, trato de sistemas de nível alto e trato de sistemas de nível baixo.
Análises Petrográficas e Químicas. As análises petrológicas revelaram que o maceral com maior
abundância é a vitrinita, seguido pela inertinita e liptinita. O valor médio da reflectância da vitrinita (Rrandom%)
indicou um valor de 0,41Rr(%), correspondendo a um rank sub-betuminoso. O teor médio das cinzas ficou em
50% em peso. A matéria volátil apresentou resultados que variam entre 31,7-63,4% (d.a.f). A análise elementar
revelou resultados de carbono (% em peso) variando entre 12,3-47,3%, hidrogênio variando entre 1,9-4,8%,
nitrogênio variando entre 0,25-1,05% e enxofre variando entre 0,32-9,8%. O poder calorífico recalculado em
uma base seca e livre de cinzas varia entre 2654-6854 cal/g. Baseado na análise de difratometria de raios x, os
minerais mais abundantes no carvão são quartzo, caolinita, ilita e k-feldspato.
Análise de Reatividade. A análise termogravimétrica aplicada a 14 amostras mostrou que existem
diferenças de combustibilidade entre algumas camadas do furo 364, sendo as maiores diferenças encontradas
entre as camadas S8 e BL. Já a camada I2 apresentou praticamente a mesma combustibilidade nos furos
364,369,371 e 372.
Ensaios de beneficiamento. A partir dos ensaios de afunda-flutua e análises imediata e elementares,
foram elaboradas as curvas de lavabilidade para todas as camadas superiores e inferiores (> 20 cm espessura).
Essas curvas foram plotadas nas faixas granulométricas -25,4 +2,0 mm e -2,0 +0,1 mm, tanto para o teor de
cinzas como para o teor de enxofre total. Tais curvas forneceram informações determinantes para um possível
beneficiamento gravimétrico para ambas as faixa granulométricas. No entanto, o desempenho de tal
beneficiamento dependerá principalmente do valor de NGM e do corte densimétrico de cada camada, que são os
principais parâmetros analisados. Além disso, tal estudo mostra altas recuperações mássicas teóricas dessas
camadas nas faixas granulométricas determinadas e com baixos valores de enxofre total em qualquer corte
densimétrico. No entanto, para isso, as frações mais densas não seriam consideradas.
Conclusão. Os resultados de análises químicas, petrológicas e ensaios de reatividade e beneficiamento
mostram que as camadas não mineradas de Jazida de candiota apresentam potencial para o uso energético.

Palavras chave: combustão, Candiota, camadas inferiores, Banco Louco, camadas superiores.

1. INTRODUÇÃO

No Brasil, as principais jazidas carboníferas estão situadas na Bacia do Paraná,


englobando os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. As reservas medidas
no Bacia do Paraná representam aproximadamente 32 bilhões de toneladas, sendo que 89%
destas localizam-se no estado do Rio Grande do Sul.

1
A jazida de carvão de Candiota (figura1) localiza-se na Depressão Periférica, uma
faixa aflorante de rochas sedimentares da Bacia do Paraná no estado do Rio Grande do Sul,
com ocorrências de carvão na Formação Rio Bonito, sendo-lhe atribuída a idade de Permiano
Inferior. A jazida de Candiota é o maior depósito de carvão do país com reserva medida em
1.7 bilhões de toneladas (Informativo Anual da Indústria Carbonífera, 2000). Junto a mina de
Candiota localiza-se a usina termoelétrica Presidente Médici com capacidade de 446MW. Já
foi aprovada a construção da fase C da Usina que terá capacidade de 350MW. Para
disponibilização de uma maior oferta de carvão para estes e outros projetos termoelétricos é
necessário um conhecimento de todas as camadas de carvão que constituem a jazida.
Atualmente são exploradas duas camadas de carvão, com aproximadamente 2 m de
espessura, intercalados por uma camada de argilito de 61 cm, os quais são denominados de
―Camada Candiota Superior‖ e ―Camada Candiota Inferior‖. Estas camadas são mineradas
pela CRM, firma estatal detentora dos diretos de lavra da jazida. As outras camadas do
depósito, S1-S9, Banco Louco (BL) e I1-I5, não exploradas, ainda não foram completamente
caracterizadas para o uso termoelétrico. Estudos preliminares destas camadas acerca das
propriedades químicas e petrológicas foram realizados por Holz & Kalkreuth (2004) e
Kalkreuth et al. (2006).
O principal objetivo deste estudo é a realização de um estudo integrado abrangendo os
aspectos geológicos, determinação das propriedades químicas e petrográficas das camadas,
ensaios de reatividade (combustão) e ensaios de beneficiamento das camadas superiores e
inferiores da jazida de Candiota, visando avaliar o seu potencial para a geração de energia
elétrica. O estudo contempla as seguintes etapas:

Figura 1. Posicionamento dos furos de sondagem utilizados neste estudo.


Fonte: Silva & Kalkreuth (2005), modificado.

2
2. AMOSTRAGEM E METODOLOGIA

2.1 Amostragem
Para o andamento do estudo, foram utilizadas amostras de carvão de oito furos de
sondagem de diâmetro de 3‖ realizados pela CRM em 2008 distantes aproximadamente 1km
um do outro (figura 1). Foram identificadas 95 camadas de carvão nestes oito furos com
espessuras variando entre 0,08-1,52m entre profundidades de 4 a 69 m. Após a coleta dos
testemunhos, as camadas de carvão foram separadas e preparadas para posteriores análises
químicas, petrológicas, testes de combustão e ensaios de beneficiamento.

2.2 Análise estratigráfica


Após a análise sedimentológica e faciológica dos testemunhos de 8 sondagem,
estabeleceu-se uma tabela de fácies. Em seguida, estas foram agrupadas em associações de
fácies, as quais foram agrupadas em ambientes de sedimentação (Tabela 1). Os conceitos da
estratigrafia de seqüências segundo Wilgus et al.,(1988) foram utilizados neste trabalho. As
superfícies cronoestratigráficas são visíveis na seção dip da área de estudo (Fig. 2).

2.3 Análises petrológicas e químicas de carvão


O rank das camadas de carvão foi estabelecido pelas medidas aleatórias da reflectância
da vitrinita seguindo procedimentos padrões (ISO 7404/5, 1994). A composição petrográfica
das camadas foi determinada pela análise dos macerais usando a norma ISO 7404/3, 1984. A
identificação dos macerais foi realizada conforme ICCP (1963,1998,2001).
As análises químicas incluíram análise imediata para determinação dos teores de
umidade, cinzas e matéria volátil seguindo as normas ASTM D 3173, D 3174 e D 3175. A
análise elementar para determinação de carbono, hidrogênio, nitrogênio e enxofre seguiu o
procedimento analítico descrito na norma ASTM D 5373. O poder calorífico expresso em
cal/g seguiu a norma ASTM D 2015.

2.4 Metodologia dos Testes de combustão por TGA


Os testes de reatividade foram realizados em subamostras dos testemunhos de
sondagem das camadas S3, S4, S5, S6, S7, S8, BL, I1, I2, I3, I4 do furo 364 e da camada I2
dos furos 369, 371 e 372 para obter o perfil vertical e horizontal da área em estudo.
As subamostras de carvão recebidas foram cominuídas conforme a norma ASTM
D2013-03 até -0,25mm. Para a análise termogravimétrica, fez-se o quarteamento e a
homogeneização da amostras até a obtenção de uma massa de 10g. Essa massa de amostra foi
moída em gral de ágata até uma granulometria de -75µm e homogeneizada.
Os testes de combustão não-isotérmicos foram executados numa termobalança
Netzsch STA409C, em amostras de 30mg, espalhadas num cadinho prato de diâmetro de
17mm. As condições dos testes foram: intervalo de temperatura de 30 até 1000°C, vazão de ar
de 50ml/min, taxa de aquecimento de 25°C/min, com patamar de 5 minutos em 110°C para
medida da perda de umidade. Os testes foram realizados em duas vias para uma repetibilidade
de +5°C e em mais vias para amostras que não apresentaram tal condição.
A partir do perfil de combustão (curva DTG x T) das amostras, foram determinadas a
reatividade em ar em cada ponto, conforme a equação da taxa, e as temperaturas
características (Figura 2) que são descritas a seguir (Alonso, 2001):

1  dm 
R  
m 0  dt 

3
 Equação da taxa, onde R é a reatividade ao ar em min-1, e m0 é a massa inicial em mg,
ambas em base seca e isentas de cinzas;
 Ti = temperatura inicial de queima, correspondente a 20%de Rmáx [°C];
 Tp = temperatura de pico, correspondente à Rmáx [°C];
 Tf = temperatura de final de queima [°C], extrapolada a partir da inclinação do perfil de
combustão;
 Rmáx = Taxa máxima de reação, em base seca e isenta de cinzas [min-1].

Figura 2. Reatividade ao ar em função da temperatura

2.5 Preparação e caracterização das amostras para ensaios de beneficiamento


Inicialmente, as amostras de carvão foram britadas para a obtenção de um top size de
25,4 mm. Após a britagem, elas foram quarteadas visando sua adequada homogeneização e
consequentemente, caracterização e comparação

2.5.1 Análise densimétrica

Para a análise densimétrica das amostras, foram realizados os ensaios de afunda-


flutua. Para isto foram definidas duas faixas granulométricas: uma para amostras passantes
em 25,4 mm e retidas em 2,0 mm (-25,4 +2,0 mm), considerando-se a faixa de partículas
grosseiras (denominada de faixa A), e outra para amostras passantes em 2,0 mm e retidas em
0,1 mm (-2,0 +0,1 mm), considerando-se a faixa de partículas finas (denominada de faixa B).
As amostras abaixo de 0,1 mm foram desconsideras por serem partículas muito finas. Para a
realização dos ensaios foram utilizadas misturas de líquidos orgânicos tais como: Benzeno
(C6H6 - 0.9 g/cm³), Tetracloroetileno (C2Cl4 - 1.6 g/cm³) e Bromofórmio (CHBr3 - 2.9 g/cm³),
nos intervalos densimétricos de 1,5; 1,6; 1,7; 1,8; 1,9; 2,0; 2,2 e 2,4 g/cm³.

2.5.2 Análise imediata e elementar


Para cada fração densimétrica, tanto na faixa granulométrica -25,4 +2,0 mm como na -
2,0 +0,1 mm, foram realizados ensaios de análise imediata em base seca (NBR 8289, 8290,
8293, 8299) e análise elementar utilizando-se o equipamento da marca Vario Macro,
conforme a norma ASTM D5373/93.
2.5.3 Curvas de lavabilidade
As curvas de lavabilidade de Henry-Reinhardt tais como: curva dos flutuados, curva
dos afundados, curva densimétrica e curva NGM foram elaboradas para as amostras
resultantes dos ensaios de afunda-flutua (Sampaio e Tavares, 2005). Tais curvas foram

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plotadas tanto em função do teor de cinzas como em função do teor de enxofre total para as
duas faixas granulométricas determinadas (A e B). A partir dessas curvas, foi gerada uma
curva média, para uma melhor visualização e interpretação dos parâmetros de recuperação
teórica em cada faixa densimétrica, além do teor e densidade de corte e separabilidade do
carvão.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Análise estratigráfica

Neste estudo foram reconhecidas e interpretadas nove fácies sedimentares através da


descrição detalhada de testemunhos de oito furos de sondagens. Após a caracterização de cada
fácies e interpretação dos seus processos geradores, foi possível a agrupá-las em associações
com relações genéticas. Dessa forma foram possíveis o reconhecimento e entendimento
espacial acerca dos sistemas deposicionais envolvidos e dos subsistemas e também da
acumulação das turfeiras percurssoras das camadas da jazida de Candiota.
A Tabela 1 apresenta as fácies pertencentes a cada associação, bem como as
associações estabelecidas, os sistemas deposicionais e sub-sistemas reconhecidos. Também
relaciona os ambientes e as subseqüentes camadas de carvão formadas.

Tabela I: Fácies que compõem as associações de fácies, os sub-sistemas e sistemas deposicionais nos
furos de sondagem estudados na região de Candiota, modificado de Oliveira and Kalkreuth (2010)
Associação de Sistema Geometria das
Fácies Sub-sistema
fácies Deposicional camadas
Conglomerado suportado pela matriz
A Leques Aluviais Aluvial -
(Gm), Diamictito (D)
Arenito com estratificação cruzada
B Canal -
acanalada ou planar (St)
Delgadas e
Fluvial descontínuas.
Diamictito (D), Siltito Linsen(Ml),
C Planície de Inundação Incluem as
Siltitos, siltitos carbonosos e carvão (CC)
camadas
inferiores
Espessas e
contínuas.
Siltitos, siltitos carbonosos e carvão (CC), Incluem as
D Laguna
Siltito Linsen(Ml) Barreira – camadas
Laguna superiores, BL,
CCS e CCI
Arenito com estratificação cruzada
E Barreira Litorânea -
acanalada ou planar (St)
Arenito com estratificação cruzada de
baixo ângulo (swash cross stratification) F Foreshore -
(Ss)

Arenito com acamadamento flaser (Sf) G Superior Marinho Raso -


dominado por
ondas
Arenito com acamadamento wavy (Sw) H Shoreface Médio -

Siltito Linsen(Ml), Siltito linsen com


I Inferior -
climbing ripples (Ms)

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O arcabouço cronoestratigráfico proposto para a àrea de estudo na região de Candiota
foi estabelecido através da correlação entre as associações de fácies e dos sistemas
deposicionais em uma seção no sentido dip (Fig. 3), utilizou-se os conceitos da Estratigrafia
de Seqüências (Wilgus et al.,1988) como ferramenta de análise estratigráfica.
Foram reconhecidas as principais superfícies estratigráficas limítrofes: Limite de
Seqüência (LS), Superfície Transgressiva (ST) e a Superfície de Inundação Máxima (SIM).
Os Tratos de Sistemas foram a partir daí definidos e identificados: Trato de Sistemas de Nível
Baixo (TSNB), Trato de Sistemas de Transgressivo (TST), Trato de Sistemas de Nível Alto
(TSNA). Foram identificados 6 parassequências no intervalo estudado (Fig. 3).

Figura 3: Seção de correlação estratigráfica Dip NW-SE. Arcabouço estratigráfico das Sequências
deposicionais 2 e 3 da região de Candiota, nos furos de sondagem utilizados neste estudo. As camadas inferiores
1 a 5 ocorrem na PS1; as camadas CCI, CCS, BL ocorrem na PS2; as camadas superiores S3-S9 ocorrem na PS3
– PS5. A= tamanho de grão argila, St= tamanho de grão siltito, Af= tamanho de grão areia fina, Am= tamanho
de grão areia média, Ag= tamanho de grão areia grossa, Cg= tamanho de grão conglomerado. Conglomerado
suportado pela matriz (Gm), Diamictito (D) Arenito com estratificação cruzada acanalada ou planar (St) Siltito
Linsen(Ml), Siltitos, siltitos carbonosos e carvão (CC) Arenito com estratificação cruzada de baixo ângulo
(swash cross stratification)(Ss) Arenito com acamadamento flaser (Sf) Arenito com acamadamento wavy (Sw)
Siltito linsen com climbing ripples (Ms). Modificado de Oliveira and Kalkreuth (2010)

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3.2 Análises petrográficas e químicas
Os resultados na análise petrológica (Figura 4 A e B) mostraram que, em geral, as
camadas apresentaram altos conteúdos de vitrinita, seguido de inertinita e liptinita, enquanto
as camadas S8, S9 e Banco Louco mostraram mais altos conteúdos de inertinita (Figura 4A),
principalmente na forma de fusinita e semifusinita. As medidas de reflectância da vitrinita
indicaram para as camadas superiores e inferiores valores médios entre 0,38 % e 0,47 %
Rrandom.
A análise química revelou que todas as amostras tiveram resultados do teor de cinzas
típicos dos carvões da Bacia do Paraná, idade Permiana, variando entre 38,7 até 55,2 % em
peso (Tabela II). Os valores de umidade variam entre 3,7 % e 11,1 %. Matéria volátil variou
entre 13,5 % e 29,5%. Na análise elementar, o teor de enxofre mostrou valores relativamente
baixos comparados a outros carvões nacionais, com teores médios de 1,89 % e uma variação
entre 0,41 % e 8,08 % (Tabela II). O poder calorífico obteve resultados variando entre 841 e
3727 cal/g, com valor médio de 2538 cal/g. Os resultados da difração de raios x mostram
abundância de quartzo, caolinita, ilita e feldspato alcalino nas camadas superiores, banco
louco e nas camadas inferiores.

Figura 4. Diagramas ternários mostrando A) a composição petrográfica dos grupos de


macerais nas camadas superiores e Banco Louco; B) a composição petrográfica dos grupos de
macerais nas camadas inferiores. Os valores representados mostram valores médios das
camadas. S2-S9= camadas superiores; BL=camada Banco Louco; I1-I5= camadas inferiores.

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Tabela II: Características químicas e petrológicas e espessuras para as camadas superiores, BL e inferiores encontradas nos oito furos
da Jazida de Candiota
Poder Calorífico
Espessura (m) Cinzas (w%) Matéria Volátil (%) Enxofre (%) Inertinita (%vol) Reflectância (%)
Camada (cal/g)
Mín. Máx. Média Mín. Máx. Média Mín. Máx. Média Mín. Máx. Média Mín. Máx. Média Mín. Máx. Média Mín. Máx. Média
S2* 1,38 1,50 1,44 39,4 39,4 39,4 21,0 21,0 21,0 4,71 4,71 4,71 3227 3227 3227 24,0 24,0 24,0 0,38 0,38 0,38
S3 0,09 1,05 0,50 29,0 51,0 38,7 16,7 29,5 22,6 0,68 3,00 1,55 2451 2994 2797 15,4 24,2 20,3 0,39 0,41 0,40
S4 0,25 1,04 0,57 39,3 62,3 48,8 14,7 21,1 18,8 0,65 6,48 1,97 1402 3062 2223 16,0 31,6 24,2 0,37 0,43 0,40
S5 0,22 1,48 0,78 40,1 58,4 51,9 16,6 20,5 18,9 0,55 3,39 2,01 1615 2764 2307 15,8 31,2 22,3 0,40 0,44 0,41
S6 0,08 1,51 0,84 36,7 52,7 46,3 19,3 20,9 20,1 0,68 3,05 2,10 2314 2987 2619 13,8 22,2 17,3 0,40 0,44 0,41
S7 0,08 0,45 0,25 43,1 59,0 51,3 16,3 21,5 18,5 0,41 2,12 1,14 1287 2365 1910 14,0 47,4 23,9 0,36 0,43 0,40
S8 0,08 0,75 0,41 33,7 67,0 48,7 15,6 19,4 17,3 0,77 4,33 1,71 2062 2220 2130 11,2 48,4 30,9 0,36 0,41 0,39
S9 0,09 0,60 0,30 41,6 74,2 55,2 13,5 20,6 17,6 0,43 1,75 0,92 841 2467 1844 15,8 55,8 37,4 0,38 0,44 0,41
BL 0,21 0,85 0,67 41,7 49,3 46,0 18,4 21,9 19,9 0,47 3,66 1,26 2451 3456 3051 36,4 54,2 44,6 0,40 0,45 0,42
I1 0,10 1,26 0,70 50,0 57,6 54,2 18,7 22,4 20,4 0,49 8,08 2,58 2043 2669 2370 14,0 25,2 20,5 0,33 0,44 0,40
I2 0,90 1,59 1,19 36,5 71,2 52,7 15,1 21,6 19,9 0,53 7,63 2,17 1098 2913 2390 15,4 23,2 20,5 0,36 0,45 0,40
I3 0,14 1,59 0,56 33,9 51,0 45,1 20,1 25,1 23,4 0,71 1,68 1,08 2672 3727 3158 10,3 22,6 16,4 0,39 0,46 0,41
I4 0,67 1,75 1,13 43,0 52,8 47,2 21,0 25,8 22,8 0,87 2,59 1,58 2304 3312 2951 16,2 24,4 20,6 0,39 0,44 0,41
I5 0,33 0,71 0,50 44,0 58,1 51,0 18,1 24,1 21,1 1,07 2,35 1,71 1821 3277 2549 16,0 22,0 19,0 0,37 0,47 0,42
* Evidenciou-se a ocorrência da camada S2 somente no furo F371

8
3.3 Ensaios de Reatividade
A Figura 5 apresenta os resultados dos testes de combustão não-isotérmicos realizados
nas amostras das camadas do furo 364 do carvão da mina de Candiota. Os perfis de
combustão das amostras mostram:
- Ti, temperaturas de início de combustão entre 321 e 338 °C, tanto para as camadas S (S3 a
S8) como para as camadas I (I1 a I4); a camada BL apresenta uma temperatura inicial maior
do que a das outras camadas (380°C);
- Tp, temperaturas de pico ou de reatividade máxima entre 385 e 450°C para as camadas S e
entre 433 e 453°C para as camadas I; a temperatura de pico da camada BL é superior a das
outras camadas (480°C);
- Tf, temperatura final de combustão entre 557 e 588°C para as camadas S e entre 575 e
604°C para as camadas I; a camada BL tem a menor temperatura final (535°C);
- Rmáx, reatividades máxima entre 0,17 e 0,23 min-1; a camada BL que possui a maior
reatividade (0,28 min-1).
Cabe citar que a reatividade máxima neste tipo de teste está relacionada à amplitude do
intervalo de combustão (Tf-Ti). Quanto menor este intervalo, maior é a reatividade máxima
(Osório, 2008). Na figura 5, pode-se observar o menor intervalo de combustão da camada BL
e uma leve tendência de aumento na temperatura de pico da camada superior para a inferior.

Figura 5. Temperaturas características de combustão e reatividade máxima das


camadas do Furo 364 - as retas são linhas de tendência.

Nos testes de combustão do carvão, as temperaturas características crescem com o aumento


do rank, sendo que os aumentos são maiores até refletâncias da ordem de 0,8% segundo o
trabalho de Alonso, (2001). A Figura 6 mostra as temperaturas características em função da
refletância aleatória média das vitrinitas (Rrandom). Observa-se que para a variação de
refletância de 0,36% para 0,46% Rrandom nas camadas do carvão Candiota, há uma
tendência muito pequena de aumento nas temperaturas inicial e de pico com o aumento de
rank, porém há uma tendência de decréscimo na temperatura final.

Figura 6. Temperaturas características das amostras do furo 364 em


Função da variação de rank – as retas são linhas de tendência.

Para as mesmas condições de combustão e carvões de rank similar, como é o caso das
camadas do carvão Candiota, as variações nas temperaturas características e no intervalo de
combustão dependem mais das diferenças encontradas na distribuição maceral dos carvões.
Segundo Milligan (1997), essas heterogeneidades produzem diferentes propriedades físicas e
químicas que refletem no comportamento de combustão. Vitrinitas são mais reativas que
inertinitas devido à menor aromaticidade, enquanto que liptinitas têm temperaturas mais
baixas de ignição devido ao maior rendimento em matéria volátil. Também dentro dos grupos
macerais existem diferenças de reatividade. Porém, a combustão do carvão como um todo
depende das interações que ocorrem entre os macerais, sendo a presença da liptinita
importante para essas interações porque estas ocorrem via liberação de voláteis.
Como a temperatura de pico é usada para avaliar a combustibilidade do carvão,
embora não se possa comparar ao processo industrial porque a taxa de aquecimento é baixa
(Alonso, 2001), existem diferenças de combustibilidade entre algumas camadas. Em ordem
decrescente de combustibilidade: S8> S7=S6>S4=I3>S3=I1=I2=I4>BL. A camada S5 não
apresentou boa repetibilidade e não foi utilizada nesta análise.
A figura 7 mostra as curvas de reatividade em função da temperatura para algumas
camadas com combustibilidade similar (figura 7ª, c, d), e camadas com combustibilidades
distintas (figura 7b), todas comparadas à camada I2 do Furo 364. A amostra da camada BL
(Rr=0,45%) tem um dos teores mais baixos de vitrinita (24,2%) e os teores mais altos de
liptinita (19,8%) e de inertinita (56%). O teste de combustão indica que essa amostra tem
temperaturas inicial e de pico mais altas e, em conseqüência, uma menor combustibilidade.
Isto pode ser devido ao maior rank (Rrandom=0,45%), porém a amostra apresenta uma
temperatura final mais baixa que as demais amostras. O teor alto de inertinita associado aos
teores mais altos de liptinita e mais baixos de vitrinita resultam num menor intervalo de
combustão e em reatividade máxima mais alta (Figura 7b). Isto poderia justificar a tendência
de queda na temperatura final com o aumento de rank. Por outro lado, a camada S8
(Rrandom=0,41%) é a que possui maior combustibilidade e embora tenha um teor de
inertinita (51Vol%) bem próximo da amostra BL, seu comportamento é bem distinto. Seu
perfil de combustão apresenta uma inflexão em torno de 460-470°C (Figura 7b), indicando a
presença de inertinitas de graus diferentes de oxidação. Outras amostras também apresentam
esta inflexão (S5,S6,S7), mas em menor proporção.

10
Os testemunhos de sondagem escolhidos para o estudo de reatividade da jazida na
direção horizontal foram os da camada I2 (Furos 364, 369, 371 e 372) devido a homogênea
continuidade lateral. Os resultados dos testes de combustão não isotérmicos, apresentados na
figura 7 d e figura 8, mostram que as amostras têm um comportamento similar. A temperatura
de pico é a mesma para as amostras dos furos 364, 369 e 372. A amostra do furo 371
apresenta uma temperatura de pico um pouco menor (10°C), embora tenha refletância maior
(0,45%Rrandom), comparada com as demais amostras (0,39-0,40%). A reatividade maior da
amostra I2 do furo 364 está relacionada com o menor intervalo de combustão. Essas pequenas
mudanças de comportamento se devem a pequenas variações na composição e/ou distribuição
maceral.

Figura 7. Curvas de reatividade em função da temperatura; (a) amostras S3,I1,I2,I4- furo 364
com mesma Tp; (b) amostras S4 e I3 e (c) diferenças na combustão das amostras S8 e BL,
comparadas a I2- furo 364; (d) amostras da camada I2 dos furos 364, 369, 371 e 372.

Figura 8. Temperaturas características de combustão e reatividade máxima


da camada I2 dos Furos 364, 369, 371 e 372 - as retas são linhas de tendência.

11
3.4 Ensaios de beneficiamento
3.4.1 Análises imediata e elementar das amostras brutas

A Tabela III mostra os resultados obtidos das análises imediata e elementar das
camadas superiores (S2-S9), BL e inferiores (I1-I5). Tais resultados são as médias obtidas de
cada camada.

Tabela III. Média dos teores das camadas superiores, BL e inferiores (amostras brutas).
CAMADAS SUPERIORES, BL e INFERIORES - MÉDIA DOS TEORES
CAMADA S2 S3 S4 S5 S6 S8 S9 BL I1 I2 I3 I4 I5
Cinzas (%) 47,2 57,1 56,2 59,3 51,6 61,1 60,5 49,1 59,3 56,3 49,2 53,4 47,9
Imediata
Análise

Mat. Volátil (%) 28,2 23,5 24,9 23,8 27,3 19,8 19,9 25,2 22,8 23,8 25,6 25,7 28,4
Umidade (%) 10,2 8,6 8,6 8,5 10,2 6,7 6,7 8,5 7,5 7,5 7,7 8,3 7,9
Carb. Fixo (%) 24,6 19,3 18,9 16,9 21,1 19,1 19,6 25,7 17,8 19,8 25,2 20,8 23,7
S (%) 4,7 1,9 3,1 2,2 2,4 1,2 1,1 1,3 0,8 2,2 1,1 1,6 2,3
Elementar
Análise

N (%) 0,7 0,6 0,6 0,7 0,7 0,5 0,5 0,5 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6
C (%) 31,6 28,4 26,3 27,6 29,7 26,4 23,8 33,9 27,5 26,4 31,5 33,0 35,9
H (%) 4,2 3,7 3,2 3,3 3,4 2,8 2,3 3,2 2,9 3,0 3,9 3,9 4,2

De acordo com a Tabela III, as camadas S2, S6, BL, I3, I4 e I5 são as que apresentam
as menores médias de teor de cinzas (entre 47 e 53%). Ainda essas mesmas camadas são as
que apresentam as maiores médias do teor de matéria volátil e carbono total. Já com relação à
média do teor de enxofre total, as camadas S2, S4, S5, S6, I2 e I5 são as apresentam valores
acima de 2,0%.
Conforme os dados técnicos da CRM, a usina termelétrica Presidente Médici pode
operar com até 53% de cinzas e 2,0% de enxofre total. Assim, tendo em vista tais resultados,
as camadas S2, S6, BL, I3, I4 e I5 atenderiam as exigências de teor de cinzas máximo exigido
pela termelétrica, apesar do alto teor de enxofre total das camadas S2, S6 e I5. Essas camadas
demonstram aparentemente, uma melhor qualidade em relação às demais camadas estudadas
(S3, S4, S5, S8, S9, I1 e I2).

3.4.2 Curvas de Lavabilidade


A partir dos ensaios de afunda-flutua, foram elaboradas as curvas de lavabilidade
paras as camadas superiores, BL e inferiores. Essas curvas foram plotadas nas faixas
granulométricas -25,4 +2,0 mm (faixa A) e -2,0 +0,1 mm (faixa B), tanto para o teor de cinzas
como para o teor de enxofre total. Para todas as camadas que apresentaram mais de uma
amostra representativa, foram elaboradas suas respectivas curvas médias de lavabilidade.
Essas curvas representam as características de lavabilidade da camada como um todo.
3.4.2.1 Teor de cinzas nas faixas granulométricas -25,4 +2,0 mm (Faixa A) e -2,0 +0,1
mm (Faixa B)
As Figuras 9 e 10 mostram as curvas médias de lavabilidade em função do teor de
cinzas nas faixas granulométricas -25,4 +2,0 mm (Faixa A) e -2,0 +0,1 mm (Faixa B)
respectivamente, elaboradas das camadas S2, S3, S4, S5, S6, S8, S9, BL, I1, I2, I3, I4 e I5.
De acordo com as Figuras 9 e 10, as curvas médias dos flutuados e afundados
apresentam um comportamento muito semelhante entre todas as camadas, onde a distribuição
do teor de cinzas tende a aumentar à medida que a densidade também aumenta. Entretanto,

12
somente nas frações mais densas, na grande maioria das curvas médias dos afundados, a
concentração de cinzas diminui em virtude da redução de massa que se queima (grande
presença de enxofre) durante a realização das análises de determinação do teor de cinzas
(Leonard, 1979). Fazendo uma comparação entre as curvas médias de lavabilidade de ambas
as faixas granulométricas, observa-se que na faixa B há uma redução da distribuição do teor
de cinzas ao longo de todo o intervalo densimétrico em relação a faixa A. Isto já era esperado,
visto que o carvão se encontra mais liberado na menor faixa granulométrica.

Figura 9. Curvas médias de lavabilidade das camadas superiores, BL e inferiores,


em função do teor de cinzas (Faixa A).

13
Figura 10. Curvas de lavabilidade das camadas superiores, BL e inferiores, em função do teor
de cinzas (Faixa B).
Com relação às curvas médias densimétricas, na faixa A (Figura 9) observa-se que
todas as camadas apresentam baixa liberação de matéria carbonosa, e para a grande maioria,
essa baixa liberação encontra-se entre as densidades 1,6 e 1,9 g/cm³. Já para a faixa B (Figura
10), a grande maioria das camadas apresenta uma distribuição mais homogênea do material ao
longo de todo o intervalo densimétrico. Quanto às curvas médias NGM, na faixa A (Figura 9)
observa-se que para a grande maioria das camadas, haveria um melhor separabilidade dos
carvões em torno da densidade 2,0 g/cm³, cujos valores de NGM são mais baixos. Somente
para as camadas S8 e S9 seria extremamente difícil beneficiar tais carvões ao longo de todo o
intervalo densimétrico, visto que mostram valores muito altos de NGM (>25%). Já na faixa B
(Figura 10), o comportamento de tais curvas é mais variado para a maioria das camadas.
Nessa faixa granulométrica, a densidade de corte, para uma melhor separabilidade desses
carvões, varia entre 1,7 e 2,1 g/cm³.
3.4.2.2 Teor de enxofre total nas faixas granulométricas -25,4 +2,0 mm (Faixa A) e -2,0
+0,1 mm (Faixa B)
As Figuras 11 e 12 mostram as curvas médias de lavabilidade em função do teor de
enxofre total de todas as camadas superiores, BL e inferiores. Porém foram elaboradas
somente as curvas dos flutuados para esse teor. Tais curvas foram inseridas juntamente com
as suas respectivas curvas densimétricas, para facilitar nas interpretações.

14
Figura 11. Curvas médias de lavabilidade das camadas superiores, BL e inferiores,
em função do teor de enxofre total (Faixa A).

De acordo com as Figuras 11 e 12, observa-se que a maioria das camadas apresenta
uma pequena redução do teor de enxofre total à medida que a densidade aumenta. Somente
nas frações mais densas, tal teor aumenta consideravelmente, chegando a aproximadamente
4,9 e 5,4% nas camadas S6 e S2 respectivamente, da faixa A e, aproximadamente 3,4 e 6,2%
nas camadas S6 e S2 respectivamente, da faixa B. Isto indica grande concentração de pirita
nessas frações.

15
Figura 12. Curvas médias de lavabilidade das camadas superiores, BL e inferiores,
em função do teor de enxofre total (Faixa B).

Com relação ao teor médio de enxofre total distribuído ao longo de todo o intervalo
densimétrico, tanto na faixa A quanto na faixa B (Figuras 11 e 12 respectivamente), as
camadas S9, BL e I1 são as que possuem o menor valor médio (entre 0,7 e 0,8%
aproximadamente). Já o maior valor médio é apresentado somente pela camada I5 (em torno
de 2,0%) na faixa A. Já na faixa B tal valor é apresentado pela camada S2, com
aproximadamente 2,3% de enxofre total, seguido depois pela camada S3 com 1,9%. Em vista
disso, ainda esses valores de enxofre total são considerados baixos para os padrões brasileiros.
Isto significa que estão dentro do limite máximo de teor de enxofre total aceito para os
carvões utilizados nas termelétricas brasileiras.
Fazendo uma comparação dos valores médios de teor enxofre total obtidos das
camadas da faixa A (figura 11) com os valores obtidos de suas respectivas amostras brutas,
mostrados na Tabela III, há uma redução de aproximadamente 3,4% desse teor para a camada
S2. Em seguida vêm as camadas S5, S6 e I2 com uma redução de 1,2% e depois segue a
camada S4 com 0,7% e as camadas S3 e BL com 0,6%. As camadas S9, I4 e I5 apresentam
uma redução de 0,3% e as camadas S8 e I3, uma redução de apenas 0,2 e 0,1%
respectivamente. Já a camada I1 mantém-se com o mesmo valor. Quanto à faixa B (Figura
12), fazendo a mesma comparação também com a Tabela III, há uma redução de
aproximadamente 2,4% do enxofre total para a camada S2. Em seguida vêm as camadas S4 e
I2 com uma redução de 1,7 e 1,2%, respectivamente. Depois, seguem as camadas S6 e I5 com
0,8%, a camada S5 com 0,7% e a camada BL com 0,5%. As camadas S9 e I4 apresentam uma
redução de apenas 0,3 e 0,2%, respectivamente. Já as demais camadas (S3, S8, I1 e I3)
mantêm os mesmos valores.

16
Assim, caso houvesse um possível beneficiamento gravimétrico de todas as camadas
analisadas em ambas as faixas granulométricas A (-25,4 +2,0 mm) e B (-2,0 +0,1 mm), obter-
se-ia produtos com valores baixos de enxofre total em qualquer corte densimétrico, conforme
mostram suas respectivas curvas médias de lavabilidade (Figuras 11 e 12), mas para isso, as
frações mais densas não seriam consideradas.

4. CONCLUSÕES
4.1 Ambiente deposional das camadas.
A sucessão faciológica compreeende na base conglomerados matriz-suportados e
arenitos típicos de sistemas de leques aluviais e sistemas fluviais, respectivamente. Neste
contexto são formadas as camadas de carvão inferiores, que são tipicamente finas e
descontínuas. Em direção ao topo, ocorre o ambiente barreira-laguna, em que as principais
camadas de carvão (espessas e contínuas – CCS e CCI) ocorrem no subambiente lagunar, no
final do TST da seqüência 2. As camadas superiores desenvolvem-se no subambiente lagunar
também, mas ocorrem no TSNA da seqüência 2 e no TSNB da seqüência 3, e são tipicamente
finas e descontinuas. Em seguida ocorrem sedimentos marinhos no topo da seção analisada,
sobrepostos à sucessão portadora de carvão. Observa-se então, um grande controle
estratigráfico na geometria e disposição das camadas de carvão.

4.2 Caraterísticas Petrográficas e Químicas


A matéria orgânica nas camadas superiores e inferiores mostram em geral domínio de
macerais do grupo de vitrinita, seguido por inertinita e menores valores de liptinita. Algumas
camadas, em especial a S8, S9 e principalmente a Banco Louco apresentam altos conteúdos
de inertinita em sua composição maceral. A matéria mineral varia de 13,6 – 66 % em volume
e é composta por argilominerais, seguido de quartzo e pirita. A reflectância da vitrinita
revelou resultados médios de 0,40 % Rrandom, classificando as amostras como carvões de
rank subetuminoso tipo C. De acordo com a classificação internacional da Comissão
Econômica para a Europa das Nações Unidas e conforme a média dos teores de cinzas, as
amostras são classificadas como carvões de categoria muito inferior. Todos os parâmetros das
análises químicas e petrológicas realizadas nos carvões das camadas superiores e inferiores
estão em níveis aceitáveis para a geração de energia elétrica.

4.3 Ensaios de Reatividade


Os testes de combustão por análise termogravimétrica indicaram que existem
diferenças de combustibilidade entre algumas camadas do furo 364. As maiores diferenças
encontram-se na camada BL, de mais baixa combustibilidade, e na S8, de mais alta
combustibilidade. As diferenças parecem estar mais relacionadas com a composição maceral
do que com a diferença de rank. No perfil horizontal da camada I2, as amostras dos furos 364,
369, 372 apresentaram mesma combustibilidade, enquanto que a do furo 371 foi levemente
superior. Pode-se afirmar, neste caso onde a refletância é maior na amostra mais reativa, que a
diferença na temperatura de pico se deve a pequenas variações na composição maceral.

4.4 Ensaios de Beneficiamento


Os principais resultados mostram que as camadas de carvão em seu estado bruto, tais
como: S2, S6, BL, I3, I4 e I5 atendem aos requisitos máximos dos teores de cinzas (53%) e de
enxofre total (2,0%) exigidos pela usina termelétrica Presidente Médici, apesar do alto teor de
enxofre total das camadas S2, S6 e I5. Essas camadas demonstram aparentemente, uma
melhor qualidade em relação às demais camadas analisadas (S3, S4, S5, S8, S9, I1 e I2). Para
as camadas com teores de cinzas e enxofre total acima do exigido pela termelétrica, o seu uso

17
poderia ser viabilizado por beneficiamento granulométrico conforme mostram as suas curvas
de lavabilidade em ambas as faixas granulométricas determinadas (-25,4 +2,0 mm e -2,0 +0,1
mm). No entanto, o desempenho de tal beneficiamento dependerá principalmente do valor de
NGM e do corte densimétrico de cada camada. Além disso, tais curvas mostram, em ambas as
faixas granulométricas, que se beneficiadas, obter-se ia baixos valores de enxofre total em
qualquer corte densimétrico. No entanto, para isso, as frações mais densas não seriam
consideradas. Assim, os resultados destes estudos mostram que as camadas não mineradas de
Candiota apresentam potencial para o uso energético. Desta forma, é interessante para a
empresa estudar com mais detalhamento a viabilidade econômica de um futuro processo de
beneficiamento, possibilitando uma melhoria na qualidade do produto final e um maior
aproveitamento das reservas de carvão.

5. AGRADECIMENTOS
O estudo recebeu apoio financeiro pelo Edital MCT/CNPq/CTEnerg n°. 33/2006 –
Combustão e Gaseificação, projeto 555112/2006-3. Os autores agradecem a Companhia Rio-
Grandense de Mineração pela realização dos oito furos supervisionados pelo geólogo Rui
Osório. Maiquel Kochhan Lunkes agradece ao CNPq pela bolsa de iniciação tecnológica
industrial (ITI) durante a vigência do projeto. Wolfgang Kalkreuth agradece ao CNPq pela
bolsa de produtividade em pesquisa.

6. REFERÊNCIAS
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combustion. Fuel v.80, p.1857-1870, 2001.

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