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INVENTÁRIO DE GASES DE EFEITO ESTUFA NA MINERAÇÃO: CASE GRANITO RS

Carlos Eduardo Peuker Fagundes, UFPel, carlospeuker.fagundes@gmail.com


Leandro Fagundes, UFPel, leandro.ufpel@gmail.com
Amilcar Oliveira Barum, M.Sc., UFPel, amilcarbarum@gmail.com

RESUMO

Este trabalho faz a quantificação dos gases de efeito estufa – GEE´s conforme as premissas e metodologias
do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC) e da Norma Brasileira de Mudanças
Climáticas – ABNT NBR ISO 14064 para elaboração e identificação das fontes e o cálculo das emissões
de GEE´ de uma mineradora de granito, onde as variáveis do plano de mineração permitiram o
desenvolvimento do Inventário das Emissões de Gases de Efeito Estufa.

Palavras-chave: mineração, gases de efeito estufa, inventário e sustentabilidade.

APRESENTAÇÃO

Os problemas associados ao aquecimento global e as mudanças climáticas, colocam o tema da economia


de baixo carbono como uma questão central para o desenvolvimento sustentável, buscando meios de
compatibilizar o desenvolvimento econômico e a proteção do clima. As emissões de gases de efeito estufa
(GEE´s) — substâncias atmosféricas que causam o aquecimento global e a mudança climática — são
determinantes para se entender e solucionar a crise climática atual. Como signatário da Convenção do
Clima, o Brasil publica suas emissões de acordo com o protocolo estabelecido para sua Comunicação
Nacional.

O Inventário das Emissões de Gases de Efeito Estufa é o procedimento consagrado para identificação das
fontes e o cálculo das emissões de GEE´s em nível mundial, nacional ou individual. É o ponto de partida
na gestão de metas nacionais. Com as metas estabelecidas na Política Nacional para Mudança do Clima se
torna necessário conhecer, monitorar e verificar as emissões por setores de atividade. O Inventário das
Emissões de GEE´s é um instrumento gerencial, que permite quantificar as emissões de efeito estufa. Neste
caso iremos analisar uma empresa do setor de produção mineral de granito para a produção de britas no
município de Eldorado do Sul, RS.

GASES DE EFEITO ESTUFA

O dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O) são os principais GEE´s. O
CO2 perdura na atmosfera por até 1.000 anos, o CH4 por cerca de 10 anos, e o N2O por aproximadamente
120 anos. Com base em um cálculo de 20 anos, o CH4 é 80 vezes mais potente do que o CO2 como causa
do aquecimento global, e o N2O é 280 vezes mais potente. A elaboração dos Inventários de GEE´s servem para:
(1) Adequação às exigências dos clientes, seja por suas metas e estratégias de sustentabilidade, da política de
ESG, ou da legislação ambiental; (2) Reportar os dados de emissões do fornecedor, e que esses possam ser
incorporados em seus inventários; e (3) Melhorias na eficiência operacional e energética. Os benefícios que os
Inventários de GEE´s podem trazer são: (1) Abertura de novos clientes e mercados; (2) Oportunidade de melhoria na
competitividade por meio dos indicadores reportados; (3) Oportunidades de redução de custos; (4) Melhoria dos
indicadores de desempenho operacional e energético; e (5) Possibilidade de participação no mercado de créditos de
carbono.

A coleta de informações e a gestão destes indicadores serve para auxiliar na melhoria da tomada de
decisões, de forma a garantir visibilidade, controle e segurança para informações estratégicas da
mineradora. Os gases inventariados neste estudo foram os três principais: (1) Dióxido de carbono – CO2;
(2) Metano – CH4; e (3) Óxido nitroso – N2O), convertidos em CO2 equivalente (CO2e). Cada GEE possui
um Potencial de Aquecimento Global (PAG) associado, que é a medida métrica de quanto cada gás
contribui para o aquecimento global. O PAG foi definido na decisão 2/COP 3, ou conforme revisado
subsequentemente de acordo com o artigo 5, sendo um valor relativo que compara o potencial de
aquecimento de uma determinada quantidade de gás com a mesma quantidade de CO2 que, por
padronização, tem PAG de valor igual a 1, já o CH4 tem PAG igual a 25, e o N2O igual a 298. O inventário
apresentado considerou as emissões de CO2, CH4 e N2O de acordo com as fontes de emissão mapeadas e a
disponibilidade de dados. Adicionalmente, o inventário também computou as emissões de CO 2 de origem
renovável como fonte de energia comprada para a mineradora.
TECNOLOGIA DE LAVRA & BENEFICIAMENTO

Em relação aos dados básicos de engenharia, para o projeto da mina destacamos os seguintes: (1) Material:
granito; (2) Previsão da operação: 240 dias/ano; (3) Turno diário: 8horas/dia; (4) Produção anual: até 1,0
MTPA; (5) Sistema de mineração: desmonte com explosivos e operação de escavadeiras e caminhões; e (6)
Sistema de beneficiamento: britagem em 3 estágios com classificação em peneiras vibratórias.

Os equipamentos principais da UNIDADE DE MINERAÇÃO – UM são os encarregados de realizar os


trabalhos diretos de produção, como perfuratrizes, escavadeiras hidráulicas, carregadeiras de rodas e
caminhões fora de estrada e/ou convencionais. Os equipamentos auxiliares não têm responsabilidade direta
nos trabalhos de produção nas frentes de lavra, mas são indispensáveis na operação da mina. São eles: trator
de esteira, motoniveladora - patrola, retroescavadeira, caminhões espargidores - pipa, comboio, UMB de
explosivos, guindaste - muck, e as camionetas médias e veículos leves, usadas no transporte em geral.

FIGURA 01 – EQUIPAMENTOS PRINCIPAIS DA MINA.

Os equipamentos da UNIDADE DE TRATAMENTO DE MINÉRIOS – UTM utilizados envolvem uma


planta de britagem moderna, adequada à finalidade e objetivos da mineradora, que é a produção de
agregados de diversas granulometrias, e produção de asfalto do tipo CBUQ em 2 unidades, uma
gravimétrica e outra volumétrica. Em relação as características dos circuitos de britagem e classificação
temos: (1) Britador de mandíbulas; (2) Britador cônico e peneira de 2 decks; e (3) Britador cônico e peneira
de 3 decks.

FIGURA 02 – CIRCUITO DE BRITAGEM (A) & DE REBRITAGEM (B) DA UTM.

LIMITES OPERACIONAIS REPORTADOS NO INVENTÁRIO

A metodologia universalmente adotada estabelece o limite operacional como a forma de classificar as


emissões em diretas ou indiretas provenientes dos processos das empresas. Para isso, foram estabelecidos
três Escopos, no âmbito da Convenção do Clima e dos organismos subsidiários e de assessoramento: (1)
Escopo 1 para emissões diretas; (2) Escopo 2 para emissões indiretas; e (3) Escopo 3: para emissões de
atividades indiretas (não considerado neste estudo).

As EMISSÕES DIRETAS são emissões geradas a partir de fontes pertencentes ou controladas pela
mineradora. No Escopo 1 foram consideradas as GEE´s da própria empresa (emissões físicas), incluídas as
emissões da queima de combustíveis, dos processos de fabricação nas usinas de solos e de asfalto, e de
transporte na propriedade da empresa. As emissões contabilizadas no Escopo 1 foram subdivididas em: (1)
Combustão estacionária; (2) Combustão móvel; (3) Geração própria de energia; (4) Uso de explosivos; (5)
Emissões decorrentes dos processos produtivos; (6) Emissões fugitivas; (7) Emissões provenientes de
resíduos sólidos e efluentes; (8) Emissões do solo exposto pela descobertura, tratamento e correção de solos,
e recuperação das áreas degradadas.

As EMISSÕES INDIRETAS são emissões geradas em fontes pertencentes ou controladas por outra
empresa, mas que interferem nas atividades da empresa responsável pelo Inventário. No Escopo 2 foram
consideradas as emissões indiretas de GEE por uso de energia, considerando energia elétrica e/ou vapor.
De forma resumida temos: (1) Abordagem baseada na localização da mineradora; e (2) Abordagem baseada
na aquisição de energia elétrica, com as emissões de GEE provenientes da geração de energia adquirida de
terceiros, sendo consumida pela empresa, mas compradas no mercado livre.

O Escopo 3 das outras emissões de GEE indiretas, ou seja, todas as demais fontes de emissões de GEE
possivelmente atribuíveis à atividade da empresa. Por exemplo: viagens de funcionários e transporte de
produtos em veículos não pertencentes à empresa, terceirização de atividades núcleo e atividades de
gerenciamento/descarte de resíduos fora do estabelecimento, e etc. Destacamos que esta etapa, não foi
considerado no presente estudo realizado, sendo prevista sua realização numa próxima etapa. Mas deverá
envolver: (1) Transporte e distribuição fora da propriedade; (2) Resíduos sólidos gerados nas operações;
(3) Viagens a negócios de colaboradores; e (4) Viagens de deslocamento dos colaboradores (casa-trabalho).

Para efeito do PLANO DE OPERAÇÃO DA MINERADORA deste estudo, os limites de processo


produtivo se restringiram as operações de lavra e dos processos físicos na mina: (1) Decapeamento e
abertura das frentes de lavra; (2) Extração – desmonte de rochas, carregamento e transporte ao britador
primário; (3) Beneficiamento – britagem e classificação; (4) Movimentação de máquinas, equipamentos e
transporte interno; (5) Recuperação das áreas abertas e degradadas; (6) Depósitos Controlados de Materiais
– DCM´s; e (7) Recuperação ambiental dessas áreas e outras previstas no projeto da mina.

RESULTADOS DO INVENTÁRIO

A identificação e quantificação dos GEE´s foram realizadas utilizando: (1) As premissas e metodologias de
quantificação do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC) da ONU; e (2) A Norma
Brasileira de Mudanças Climáticas – ABNT NBR ISO 14064. A Tabela 01 apresenta os dados de produção
dos materiais por tipo de materiais existentes na mineradora considerando os anos base de 2010, 2015 e
2020.

TABELA 01 – PERFIL DA PRODUÇÃO (toneladas/ano & %).


MATERIAIS NA MINA 2010 2015 2020
BRITAS DIVERSAS 386.982 (76,4%) 398.012 (75,2%) 444.965 (76,2%)
BRITAS EM ESTOQUES 21.250 (4,2%) 15.820 (3,0%) 20.600 (3,5%)
PRODUTOS USINADOS 98.259 (19,4%) 115.218 (21,8%) 118.589 (20,3%)
TOTAL MINERADO 506.491 529.050 584.154
VARIAÇÃO DA PRODUÇÃO 100,0 104,5 110,4
Observação: (1) Dados do Relatório Anual de Lavra (RAL) junto à ANM nos anos base indicados.

A Tabela 02 apresenta os valores mínimos e máximos para os fatores de emissão por tipo de escopo do
inventário.

TABELA 02 – FATORES DE EMISSÃO POR ESCOPO (tonCO2e/ton ROM).


FATORES DE EMISSÃO ESCOPO 1 ESCOPO 2
FATOR MÍNIMO 0,00185 0,00012
FATOR MÁXIMO 0,00190 0,00013
Observação: (1) IPCC/ONU; (2) ABNT NB 14.064.

Com os fatores de emissão utilizados e a produção total de ROM temos o seguinte perfil de estimativa de
emissões de GEE´s para os casos do Escopo 1 e 2, no caso da mineradora de granito em Eldorado do Sul,
RS: (1) Emissão mínima de 0,00197 tonCO2e/ton ROM; e Emissão máxima de 0,00203 tonCO2e/ton ROM.

A Tabela 03 e Tabela 04 apresentam os valores obtidos das emissões de GEE’s para os anos base utilizados
neste estudo conforme o escopo do inventário e o total calculado.

TABELA 03 – EMISSÕES POR ESCOPO NO INVENTÁRIO (tonCO2e/ton ROM).


ANO DO INVENTÁRIO ESCOPO 1 (MIN-MAX) ESCOPO 2 (MIN-MAX)
2010 937,00835 - 962,33290 60,77892 - 65,84383
2015 978,74250 - 1.005,19500 63,48600 - 68,77650
2020 1.080,68490 - 1.109,89260 70,09848 - 75,94002
Observação: (1) IPCC; (2) ABNT NB 14.064.
TABELA 04 – EMISSÕES TOTAIS DA MINERADORA (tonCO2e/ton ROM).
ANO DO INVENTÁRIO INVENTÁRIO TOTAL INVENTÁRIO TOTAL
Valores Mínimos Valores Máximos
2010 997,78727 1.028,17673
2015 1.042,22850 1.073,97150
2020 1.150,78338 1.185,83262
Observação: (1) IPCC; (2) ABNT NB 14.064.

As figuras 04 e 05 apresentam os perfis da produção de ROM na mineradora e os resultados das emissões


mínimas e máximas totais do Inventário das Emissões de GEE’s para os anos base utilizados.

FIGURA 03 & 04 – PERFIL DA PRODUÇÃO & DAS EMISSÕES DO INVENTÁRIO.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(1) Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), ONU. (ipcc.ch)


(2) Norma Brasileira de Mudanças Climáticas – ABNT NBR ISO 14064 (2007).
(3) Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), II Inventário de Gases Efeito Estufa do Setor Mineral (2014).
(4) World Resources Institute – WRI: Greenhouse Gas Inventory Scope. (www.wri.org.br)
(5) GHG Protocol Corporate Accounting and Reporting Standard, Revised Edition (2004).
(6) The GHG Protocol Corporate Value Chain (Scope 3) Accounting and Reporting Standard (2011).

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