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AUTORES
Hélinah Cardoso Moreira
Marlus Newton Passos Bento Vianna de Oliveira
REVISORES
Ana Bárbara Zanella
Christiane Dias Pereira
Jan Janssen
Maria Ottilia Bertazi Viana
Paulo Celso dos Reis Gomes
Tupac Borges Petrillo
Lista de siglas
ACV: Avaliação de ciclo de vida
BMU: Ministério do Meio Ambiente, Proteção da Natureza e Segurança
Nuclear da Alemanha (Bundesministerium für Umwelt, Naturschutz und
Reaktorsicherheit)
CIMGC: Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima
COP: Conferência das Partes da UNFCCC
EOD: Entidade operacional designada
GEE: Gases de efeito estufa
GWP: Potencial de aquecimento global (global warming potential)
Iclei: Governos Locais pela Sustentabilidade (Local Governments for
Sustainability)
IPCC: Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
(Intergovernmental Panel on Climate Change)
MCTIC: Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações
MDL: Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
MDR: Ministério do Desenvolvimento Regional
MMA: Ministério do Meio Ambiente
NDC: Contribuição Nacionalmente Determinada
OC: Observatório do Clima
ONU: Organização das Nações Unidas (United Nations – UN)
PNMC: Política Nacional sobre Mudança do Clima
PNRS: Política Nacional de Resíduos Sólidos
PNUMA: Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
RCE: Redução Certificada de Emissões
REDD: Redução de Emissões do Desmatamento e Degradação de Florestas
RSU: Resíduos sólidos urbanos
Sirene: Sistema de Registro Nacional de Emissões
SNIS: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento
Seeg: Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa
UNFCCC: Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima
(United Nations Framework Convention on Climate Change)
WMO: Associação Meteorológica Mundial (World Meteorological
Organization)
Lista de figuras
Figura 1 – Representação da entrada e da saída da radiação solar no
planeta..............................................................................................................10
Figura 2 – Aumento da temperatura média do planeta desde a Revolução
Industrial, segundo bases de dados diferentes............................................. 11
Figura 3 – Quantidade de desastres naturais reportados desde 1900........ 12
Figura 4 – Represa reserva Jaguari-Jacareí, em São Paulo, parte do
Sistema Cantareira que abastece a Grande São Paulo, durante a crise
hídrica de 2015.................................................................................................13
Figura 5 – Rua de Minas Gerais coberta de lama após chuvas intensas, em
janeiro de 2020.................................................................................................13
Figura 6 – Composição dos gases na atmosfera terrestre........................... 15
Figura 7 – Média anual de CO2 na atmosfera................................................ 15
Figura 8 – Foto do Lixão de Aurá, em Belém.................................................. 16
Figura 9 – Contribuição relativa de gases para o efeito estufa.................... 17
Figura 10 – Emissões de GEE no Recife, em tCO2e e percentual, segundo o
inventário lançado em 2015............................................................................ 18
Figura 11 – Percentual de recursos recebidos por região do globo............. 19
Figura 12 – Linha do tempo com alguns dos principais fatos da gestão do
clima no Brasil e no mundo............................................................................. 20
Figura 13 – Linha do tempo das realizações das COPs................................ 21
Figura 14 – Captura ativa de biogás em aterro sanitário da Essencis para
projeto MDL......................................................................................................22
Figura 15 – Contribuição Nacionalmente Determinada do Brasil................ 23
Figura 16 – Medidas adicionais da NDC brasileira........................................ 24
Figura 17 – Redução da concentração de NO2 nas cidades do Rio de
Janeiro e de São Paulo.................................................................................... 26
Figura 18 – Contribuição dos principais setores da economia para emissão
de CO2 de origem fóssil................................................................................... 26
Figura 19 – Emissões de GEE por setor da economia no Brasil, em 2015... 27
Figura 20 – Emissões de GEE por setor da economia no Brasil, de 2012 a
2018..................................................................................................................28
Figura 21 – Aumento do PIB mundial em comparação com o aumento das
emissões de CO2............................................................................................. 28
Figura 22 – Exemplo de curva de emissões, de 1990 a 2012, no setor de
resíduos pelo método IPCC............................................................................. 37
Figura 23 – Modelo esquemático da ACV...................................................... 38
Figura 24– Balanço de emissões no gerenciamento integrado de
resíduos............................................................................................................38
Figura 25 – Resultado do cálculo de créditos e emissões para diferentes
rotas tecnológicas........................................................................................... 39
Figura 26 – Resultado comparativo das simulações de emissões de GEE
nos quatro cenários......................................................................................... 45
Lista de tabelas
Tabela 1 – Potencial de aquecimento global de alguns GEEs, em 20 e 100
anos..................................................................................................................16
Tabela 2 – Exemplos de mitigação das emissões em outros setores por
meio da aplicação de tecnologias de tratamento de resíduos..................... 30
Tabela 3 – Diferenças de abordagens entre o IPCC e a ACV......................... 40
Tabela 4 – Cenários de quantificação de emissões considerando diversas
estratégias de gerenciamento de resíduos.................................................... 44
Tabela 5 – Composição de resíduos por frações.......................................... 45
Tabela 6 – Resultados das simulações de emissões de GEE nos quatro
cenários............................................................................................................48
Sumário
Apresentação...................................................................................... 8
Aula 1 – Introdução às mudanças climáticas....................................... 9
1.1. O que são mudanças climáticas? Como percebemos isso?... 9
1.2. Quais são os GEEs e seus impactos?.................................. 14
1.3. Financiamento climático.................................................... 18
1.4. Acordos e ações globais para o clima................................. 20
Aula 2 – Emissões de GEE e formas de quantificação ........................ 25
2.1. Aspectos gerais das emissões de GEE ............................... 25
2.2. Emissões do setor de resíduos e estratégias de mitigação .29
2.3. Introdução à quantificação de emissões............................ 32
2.4. Como quantificar as emissões de GEE? ............................. 34
2.4.1. Método IPCC .............................................................. 35
2.4.2. Método ACV ............................................................... 37
2.4.3. Diferenças de abordagens IPCC e ACV ........................ 39
Aula 3 – Quantificação de emissões ................................................. 43
3.1. Exemplos de quantificação das emissões de GEE por meio de
diferentes estratégias de gestão de resíduos............................ 43
Referências....................................................................................... 49
Bibliografia complementar................................................................. 52
Material de apoio............................................................................... 53
Glossário........................................................................................... 54
Apresentação
Desejamos boas-vindas ao Módulo “Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de
Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa” do Curso EaD em Tratamento e
Valorização de Resíduos Sólidos Urbanos.
Neste módulo, você compreenderá a relação entre a gestão de resíduos sólidos
urbanos (RSUs) e a proteção do clima. Serão apresentadas as metodologias
que possibilitam a quantificação de emissão de gases de efeito estufa* (GEE)
no município, além de se exemplificar as principais estratégias para mitigação
de emissões de GEE nas etapas do gerenciamento de resíduos.
Ao final deste módulo, você será capaz de:
• Entender as mudanças climáticas e seus efeitos locais, regionais e
globais, bem como sua relação com a gestão de RSU;
• Conhecer as metodologias de quantificação de emissões de GEE do
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC*), da
Organização das Nações Unidas (ONU), e da avaliação de ciclo de
vida (ACV);
• Diferenciar as principais estratégias e oportunidades para mitigação
de emissões de GEE na gestão de RSU.
Bons estudos!
As variações no clima e na temperatura da Terra são naturais, porém, mais recentemente, elas
têm acontecido em um período menor de tempo, ficando em torno de 0,2 °C mais quente a cada
década, ou seja, o aquecimento tem ocorrido 50 vezes mais rápido que a variação natural do
planeta (NOBRE; REID; VEIGA, 2012). Em 2019, por exemplo, a temperatura média global foi 1,1 °C
mais quente que o nível pré-industrial (WMO, 2020b).
Já o conceito de mudanças climáticas foi estabelecido na Convenção-Quadro das Nações Unidas
sobre a Mudança do Clima* (UNFCCC), adotado na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento, conhecida como Rio-92, como: “[...] uma mudança no clima que
possa ser atribuída direta ou indiretamente à atividade humana que altere a composição da
atmosfera global e que se soma àquela provocada pela variabilidade climática natural observada
ao longo de períodos comparáveis” (UN, 1992).
Os dados utilizados para calcular essas variações vêm da combinação de várias fontes,
incluindo estações, boias e balões meteorológicos, sensores em embarcações e aviões, radares,
satélites, pluviômetros, barômetros, anemômetros, entre outros equipamentos. Estes dados são
compartilhados por pesquisadores do mundo inteiro para monitorar as variações e elaborar
modelos e projeções climáticas.
Alguns dos efeitos das mudanças climáticas são o aumento da temperatura média do planeta, o
aumento da frequência e da duração de ondas de calor, o derretimento de geleiras, a variação dos
índices de precipitação, a acidificação e o aumento da temperatura dos oceanos, o aumento do
nível do mar. A figura 2 mostra a variação da temperatura média da Terra, de acordo com diferentes
fontes de dados.
Esse cenário de mudanças climáticas exige que o município tenha consciência de suas vulne-
rabilidades e desenvolva ações que possam contribuir para o atingimento das metas nacionais
de mitigação das emissões e adaptação aos efeitos das mudanças climáticas. Alguns exemplos
de impactos já podem estar ocorrendo no seu município, como a incidência de períodos de seca
prolongada, o desaparecimento de corpos de água (como açudes, represas e rios), a salinização
de cursos d’água, as enchentes e as tempestades tropicais, as perdas de produtividade agrícola, a
redução de estoques pesqueiros, entre outros.
Outra forma de avaliar as consequências das mudanças climáticas é por meio do aumento da
frequência de desastres naturais no Brasil e no mundo. A figura 3 mostra que o número de desastres
naturais reportados em todo o planeta, no ano de 2019, foi, aproximadamente, quatro vezes maior
do que há 40 anos.
Number of recorded natural disaster events, all natural disasters, 1900 to 2019
Nos anos de 2014 e 2015, o Sudeste brasileiro vivenciou uma experiência dessa natureza: o
prolongado período de seca na região atingiu os menores índices de chuvas em 85 anos (COSTA
et al., 2015). A estiagem levou o Sistema Cantareira a níveis mínimos em São Paulo, conforme
figura 4, comprometendo o abastecimento de água naquele estado e gerando riscos também para
o estado do Rio de Janeiro.
Ao contrário da seca que atingiu, principalmente, os estados de são Paulo e do Rio de Janeiro, em
2014 e 2015, a figura 5 mostra o estado de Minas Gerais, em janeiro de 2020, após a ocorrência
de chuvas intensas. Na cidade de Belo Horizonte, foi registrado o maior volume de chuva desde o
início da série histórica, e, em todo o estado, 196 cidades decretaram estado de emergência, com
mais de 55,7 mil pessoas atingidas.
Figura 5 – Rua de Minas Gerais coberta de lama após chuvas intensas, em janeiro de 2020
Você sabia?
Sem o efeito estufa natural, a temperatura da Terra seria de, aproximadamente,
-18 °C (USP, 2020).`
São considerados GEEs aqueles com potencial de absorver e reemitir radiação infravermelha,
e podem ter origem natural ou humana (UN, 1992). Os GEEs incluem dióxido de carbono (CO2),
metano (CH4), óxido nitroso (N2O) e clorofluorcarbonos (CFCs).
De todos os gases causadores do efeito estufa, o dióxido de carbono (CO2), sem dúvida, o que recebe
mais atenção, servindo, inclusive, como parâmetro de comparação do potencial de aquecimento
global. Na figura 7, você pode ver o aumento da concentração da CO2, na atmosfera, em partes por
milhão, de 1980 até 2020.
Fonte: The Global Monitoring Division of NOAA/Earth System Research Laboratory (NOAA, 2020).
CO2 1 1
CH4 84 28
Essa padronização permite fazer comparações como a da Universidade Federal do Pará, que
verificou que a emissão de CH4, ao longo da vida útil do Lixão de Aurá (figura 8), em Belém, equivalia
à queima de 34 mil hectares de floresta (SILVA, 2017).
Fonte: G1 PA (2019).
2%
4%
5%
CO2
6%
CH4
N20
17%
CFC-12
66%
CFC-11
Outros gases
Segundo o último relatório de avaliação do IPCC, as concentrações de CO2, CH4 e N2O excederam
os níveis pré-industriais em 40%, 150% e 20%, respectivamente, e excedem os níveis mais elevados
dos últimos 800 mil anos, de acordo com a comparação de amostras de núcleos de gelo (STOCKER
et al., 2013). De acordo com o mesmo relatório, indica-se que mais da metade dos aumentos
observados da temperatura média do planeta decorram de atividades antropogênicas, incluindo o
aumento da concentração dos GEEs.
Em nível municipal, as quantidades de emissões de cada um desses gases podem ser calculadas,
convertidas em carbono equivalente e divulgadas por meio de inventários de emissões. Embora
não sejam de elaboração obrigatória, os inventários trazem importantes informações para a
tomada de decisão, visando a uma transição para uma economia de baixo carbono. Exemplo disso,
em 2015, foi a Prefeitura do Recife, que lançou seu 1º Inventário de Emissões de Gases de Efeito
Estufa, demonstrando que o setor de resíduos sólidos contribuiu com 19,3% das emissões na
cidade, conforme figura 10 (RECIFE, 2015). Em 2019, foi a vez de Pernambuco lançar seu inventário,
demonstrando que o setor de resíduos sólidos contribuiu com 29,2% das emissões no estado
(PERNAMBUCO, 2019).
Figura 10 – Emissões de GEE no Recife, em tCO2e e percentual, segundo o inventário lançado em 2015
A Prefeitura de Curitiba, por exemplo, recebeu recursos do C40 Cities Finance Facility (CFF) para
o Projeto Curitiba Mais Energia, que previu painéis solares em espaços públicos da cidade, como
o antigo aterro municipal (CURITIBA, 2020). Outro caso foi a implantação do sistema de captação
de biogás com geração de energia elétrica para os aterros de Marambaia e Adrianópolis, ambos
no estado do Rio de Janeiro, financiado pelo Banco Mundial no valor de, aproximadamente,
US$ 21 milhões. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), por seu turno, foi um dos
cofinanciadores de dois aterros sanitários no estado do Ceará, em um projeto de mais de R$ 100
milhões.
No Brasil, existe ainda o Fundo Nacional de Mudanças Climáticas, que, entre 2011 e 2014, apoiou,
aproximadamente, 200 projetos, em recursos que somam R$ 96 milhões não reembolsáveis e R$
109 milhões reembolsáveis (CEPAL; IPEA; GIZ, 2016).
Outros fundos internos também podem ser usados para financiar projetos nesta área, como o
Fundo Nacional de Meio Ambiente e o Fundo Nacional de Defesa dos Direitos Difusos. Alguns
estados possuem fundos que podem apoiar a implantação de projetos de mitigação ou adaptação
às mudanças climáticas. É o caso, por exemplo, do Rio de Janeiro, que possui o Fundo Estadual de
Conservação Ambiental e Desenvolvimento Urbano (Fecam), criado em 1986.
Além disso, uma importante ferramenta de apoio a municípios foi desenvolvida pelo projeto
ProteGEEr, em 2019. Trata-se do Mapa de Financiamento para Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos,
uma ferramenta on-line para busca de linhas de financiamento de ministérios, agências, bancos e
outras instituições financeiras para gestão de resíduos sólidos de baixas emissões.
Outros instrumentos podem ser usados, como o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)
e o mecanismo de Redução de Emissões do Desmatamento e Degradação de Florestas (REDD),
ambos previstos no Protocolo de Quioto. A partir dos projetos de MDL, são gerados os “créditos de
carbono”, originando as “reduções certificadas de emissões” (RCEs).
Figura 12 – Linha do tempo com alguns dos principais fatos da gestão do clima no Brasil e no mundo
- publicação da
Fonte: Arquivo ProteGEEr. Contribuição Nacionalmente
Determinada brasileira
1
Antes disso, em 1949, foi realizada a Conferência Científica das Nações Unidas sobre Conservação e Utilização dos
Recursos Naturais, que, embora se relacione com o tema, tinha o foco no exaurimento de recursos naturais.
Figura 14 – Captura ativa de biogás em aterro sanitário da Essencis para projeto MDL
14A 14B
Segundo o relatório Status dos Projetos MDL no Brasil, publicado pelo Ministério da Ciência,
Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) em 2017, o país ocupava o terceiro lugar, com
339 projetos registrados. Projetos de gás de aterro representavam o quarto item, com 50 projetos
aprovados, isto é, 14,8% dos projetos aprovados, porém representando 23,7% das reduções
estimadas de emissão de GEE por tipo de projeto (BRASIL, 2017).
A meta de limitação do aumento da temperatura média global a até 2 °C somente foi estabelecida
em 2009, no Acordo de Copenhague celebrado na COP15. Este limite superior vem sendo mantido,
conforme os resultados da COP21, em 2015. Foi na COP21 que foi celebrado o Acordo de Paris,
atualmente o mais relevante acordo em vigor para controle das mudanças climáticas e emissões
de GEE.
Além de trazer efetivas metas de redução das emissões de carbono, a NDC do Brasil propôs ações
adicionais visando ao avanço para uma economia de baixas emissões de carbono, conforme pode
ser visto na figura 16.
O Acordo de Paris também adota o princípio da responsabilidade comum, porém diferenciada entre
as partes. Neste sentido, o instrumento prevê metas de redução diferenciadas entre os países,
assim como instrumentos de financiamento, transferência de tecnologias e capacitação.
A cada cinco anos está previsto que as partes realizarão um balanço de suas NDCs e resultados,
assim como apresentarão novas metas de NDC. O primeiro balanço está previsto para 2023.
17A – Entre 20 de março e 8 de abril de 2019 17B – Entre 20 de março e 8 de abril de 2020
Em âmbito global, a média de emissões de CO2 de fontes fósseis, entre 2009 e 2018, foi de 34,7 ±
1,8 GtCO2 (bilhões de toneladas) por ano, com um aumento médio anual de 0,9% (WMO, 2020b).
Entre as fontes fósseis de emissões, a queima de carvão predomina como responsável pela maior
quantidade de emissões, seguida por petróleo e gás natural (FRIEDLINGSTEIN et al., 2019).
Ainda no cenário mundial, a figura 18 mostra que o setor de geração de energia elétrica e
aquecimento é o principal emissor, com participação de, aproximadamente, 45% do total emitido
(FRIEDLINGSTEIN et al., 2019).
Figura 18 – Contribuição dos principais setores da economia para emissão de CO2 de origem fóssil
Uma outra fonte de consulta de dados das emissões de GEEs são os relatórios do Seeg, promovido
pelo Observatório do Clima (OC). Segundo o último relatório, em 2018, o Brasil emitiu um total de
1,939 bilhão de toneladas brutas de GEE, representando um aumento de apenas 0,3% em relação
ao ano anterior (ANGELO; RITTL, 2019). No cenário nacional, os principais contribuintes para as
emissões foram os setores de mudança do uso da terra, agropecuária e energia.
Comparando os dados do MCTIC até 2015 e do Seeg até 2018, verifica-se que o setor de resíduos
(resíduos sólidos e efluentes) aumentou sua contribuição proporcional no total de emissões,
passando de 4% para 5% no período (figura 20).
É importante levar em consideração, no entanto, que a redução de emissão de GEE não significa
retração econômica ou interrupção do crescimento. Ao contrário disto; conforme pode ser visto na
figura 21, desde a década de 1990 a economia mundial vem crescendo em ritmo mais acelerado
do que a emissão de CO2 (FRIEDLINGSTEIN et al., 2019).
Figura 21 – Aumento do PIB mundial em comparação com o aumento das emissões de CO2
Saiba mais!
No Brasil, conforme apresentado na 3ª Comunicação Nacional do Brasil à
UNFCCC (BRASIL,2016), as principais fontes antropogênicas de GEE são:
(i) queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás) para a geração
de eletricidade, transportes, indústria e aglomerados urbanos (CO2); (ii)
agropecuária (CH4) e mudanças no uso do solo, como o desmatamento
(CO2); (iii) processos industriais (CO2); e (iv) disposição final de resíduos
sólidos (CH4).
O avanço da gestão pública no manejo de resíduos, com respectiva redução das emissões de GEE,
requer o estabelecimento de políticas públicas que permitam alcançar os objetivos dentro de um
horizonte de tempo definido, com as máximas eficiência e efetividade.
A primeira constatação é a necessidade de encerramento dos lixões, causadores de emissões sem
controle para o ambiente e de degradação paisagística, ambiental e social. Isso deve ser feito após
a valorização dos resíduos e a construção de aterros sanitários. Para os pequenos municípios –
Mãos à obra!
Verifique se o seu município participou da última coleta de dados do SNIS,
ou quando foi o último ano de participação. Lembre-se de que, para ter
acesso a recursos de financiamento do governo federal para saneamento,
a participação no SNIS é um pré-requisito! Acesse em: http://www.snis.
gov.br/.
Mãos à obra!
Verifique quais os dados disponíveis e monitorados do gerenciamento dos
RSU do seu município. Adicionalmente, reveja o diagnóstico do PMGIRS
e avalie se ele condiz com a realidade atual. Ele é seu instrumento de
trabalho!
O Brasil foi o primeiro país a assinar a Convenção sobre Mudança do Clima, e foi nesta Convenção
que se iniciou a discussão sobre o relato e as comunicações nacionais de emissões de GEE em
países em desenvolvimento, bem como do instrumento de mensuração, relato e verificação (MRV).
A adoção de um mecanismo de MRV passa a ser um requisito e um diferencial quando se tem
interesse em comercializar as emissões mitigadas ou atrair outras fontes de financiamento ou de
receita acessória para seu projeto, por:
1) Garantir transparência e credibilidade tanto para o financiador quanto para o tomador de
crédito;
2) Reduzir o risco do investimento;
3) Permitir sua contabilização nas metas nacionais de emissões de GEE;
4) Servir de oportunidade para alavancar novos modelos de negócios em RSU.
01 03 05
Agropecuária Resíduos
Uso do solo,
Energia mudança do Emissões de
uso do solo processos
e florestas industriais
Por esse motivo, a destruição ou o aproveitamento de metano é uma importante ação com efeito no
curto prazo, por mitigar emissões de maneira imediata, desde que o processo seja adequadamente
monitorado e reportado.
O método do IPCC restringe o setor de resíduos apenas à atividade de disposição final dos
resíduos, contabilizando contribuições de reciclagem, compostagem, transporte, digestão
anaeróbia e tratamento em outros setores. Isso significa que este método apresenta valores ainda
subestimados tanto das emissões do setor quanto do seu potencial de mitigação.
Ber
ço
ao
Po
convertedores
rtã
produção
o
produto
Processamento
matéria-prima
rte
Matéria - prima distribuição
Design da
embalagem
Compostagem
Reciclagem mecânica varejo
Reciclagem química
so
Reciclagem energética
reciclagem reú
Aterro
Po
r tã consumidores
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ú m ulo
A visão mais ampla do setor de resíduos sob a perspectiva da ACV demanda uma nova abordagem
também em relação à estratégia de quantificação de emissões adotada. Ela estabelece que o
setor potencialmente atua como emissor de GEE ou como “poupador”. A figura 24 mostra algumas
etapas de gerenciamento de resíduos que podem funcionar nessas duas perspectivas.
IPCC ACV
2 – Limites do sistema Considera processos únicos, Considera todo o ciclo de vida dos
de gestão de resíduos como aterro, compostagem resíduos do sistema de gestão,
e incineração sem incluindo processos evitados, como
recuperação energética. a extração de novas matérias-primas
e o uso de combustível fóssil.
Você sabia?
A Alemanha, nos últimos 30 anos, conseguiu avanços significativos rumo a
uma gestão de resíduos de baixas emissões. De 1990 a 2010, o setor passou
de 38 milhões de toneladas de GEE (3,5% das emissões totais) para 11 milhões
de toneladas (1,6% das emissões nacionais).
Um dos fatores cruciais para esse declínio nas emissões foi a proibição do
aterramento de RSU sem pré-tratamento em 2005, que abriu oportunidade
para o desenvolvimento de tecnologias de tratamento, consolidando o
mercado e reduzindo significativamente as emissões de GEE do setor.
Os resultados obtidos nos quatro cenários simulados, conforme tabelas 4 e 5, podem ser observados
na figura 26.
Figura 26 – Resultado comparativo das simulações de emissões de GEE nos quatro cenários
Pode-se verificar, portanto, que, à medida que se “desviam” mais resíduos da disposição final
pelo aterramento – com a implantação de mais processos de tratamento na respectiva “rota
tecnológica” –, há uma redução proporcional na emissão dos GEEs desta rota, e, também, há um
aumento nos benefícios gerados.
Nesse sentido, fica claro que o potencial de redução de emissões de GEE deve ser sempre um dos
parâmetros a ser incorporado na tomada de decisão da pessoa responsável pela gestão municipal,
para uma melhor definição da rota tecnológica mais adequada para a gestão dos resíduos sólidos
do seu município e da sua região.
Bibliografia complementar
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www.umweltbundesamt.de/en/topics/climate-energy/climate-change/climate-greenhouse-
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com/climate.htm. Acesso em: 1º maio 2020.
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2020: background. Washington: UN, 2020. Disponível em: https://www.un.org/en/events/
ozoneday/background.shtml. Acesso em: 2 maio 2020.
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______. Waste and climate change: global trends and strategy framework. Nairobi: Unep, 2010.
Disponível em: http://wedocs.unep.org/handle/20.500.11822/8648. Acesso em: 4 maio 2020.
VAN ELK, A. G. H. P.; SEGALA, K. Redução de emissões na disposição final. Rio de Janeiro: Ibam,
2007. (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo aplicado a Resíduos Sólidos, n. 3).
WEISCHET, W.; ENDLICHER, W. Einführung in die Allgemeine Klimatologie, Studienbücher der
Geographie. 7th ed. Stuttgart: Gebrüder Borntraeger Verlagsbuchhandlung Berlin, 2008.
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World Bank, 2018. (Report n. 123798). Disponível em: http://documents.worldbank.org/curated/
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em: 4 maio 2020.
WRI – WORLD RESOURCES INSTITUTE. World’s Greenhouse Gas Emissions. Washington: WRI,
2017. Disponível em: https://www.wri.org/blog/2017/04/interactive-chart-explains-worlds-top-
10-emitters-and-how-theyve-changed. Acesso em: 4 maio 2020.
Gases de efeito estufa (GEEs): são substâncias gasosas que absorvem e emitem calor. Embora esse
processo seja natural, a concentração de certos gases pode causar o aumento do aquecimento.
Esta é a principal causa do efeito estufa. Os GEEs emitidos pelo setor de resíduos sólidos são
compostos predominantemente de metano, dióxido de carbono e óxido nitroso.
Hierarquia de gerenciamento de resíduos: seis etapas adotadas no art. 9º da PNRS (BRASIL, 2010)
definindo que, na gestão e no gerenciamento de resíduos sólidos, deve ser observada a seguinte
ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos
sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.