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Módulo

Gestão de Resíduos Sólidos


Urbanos de Baixas Emissões
de Gases de Efeito Estufa
Ficha Técnica

AUTORES
Hélinah Cardoso Moreira
Marlus Newton Passos Bento Vianna de Oliveira

REVISORES
Ana Bárbara Zanella
Christiane Dias Pereira
Jan Janssen
Maria Ottilia Bertazi Viana
Paulo Celso dos Reis Gomes
Tupac Borges Petrillo
Lista de siglas
ACV: Avaliação de ciclo de vida
BMU: Ministério do Meio Ambiente, Proteção da Natureza e Segurança
Nuclear da Alemanha (Bundesministerium für Umwelt, Naturschutz und
Reaktorsicherheit)
CIMGC: Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima
COP: Conferência das Partes da UNFCCC
EOD: Entidade operacional designada
GEE: Gases de efeito estufa
GWP: Potencial de aquecimento global (global warming potential)
Iclei: Governos Locais pela Sustentabilidade (Local Governments for
Sustainability)
IPCC: Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
(Intergovernmental Panel on Climate Change)
MCTIC: Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações
MDL: Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
MDR: Ministério do Desenvolvimento Regional
MMA: Ministério do Meio Ambiente
NDC: Contribuição Nacionalmente Determinada
OC: Observatório do Clima
ONU: Organização das Nações Unidas (United Nations – UN)
PNMC: Política Nacional sobre Mudança do Clima
PNRS: Política Nacional de Resíduos Sólidos
PNUMA: Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
RCE: Redução Certificada de Emissões
REDD: Redução de Emissões do Desmatamento e Degradação de Florestas
RSU: Resíduos sólidos urbanos
Sirene: Sistema de Registro Nacional de Emissões
SNIS: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento
Seeg: Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa
UNFCCC: Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima
(United Nations Framework Convention on Climate Change)
WMO: Associação Meteorológica Mundial (World Meteorological
Organization)
Lista de figuras
Figura 1 – Representação da entrada e da saída da radiação solar no
planeta..............................................................................................................10
Figura 2 – Aumento da temperatura média do planeta desde a Revolução
Industrial, segundo bases de dados diferentes............................................. 11
Figura 3 – Quantidade de desastres naturais reportados desde 1900........ 12
Figura 4 – Represa reserva Jaguari-Jacareí, em São Paulo, parte do
Sistema Cantareira que abastece a Grande São Paulo, durante a crise
hídrica de 2015.................................................................................................13
Figura 5 – Rua de Minas Gerais coberta de lama após chuvas intensas, em
janeiro de 2020.................................................................................................13
Figura 6 – Composição dos gases na atmosfera terrestre........................... 15
Figura 7 – Média anual de CO2 na atmosfera................................................ 15
Figura 8 – Foto do Lixão de Aurá, em Belém.................................................. 16
Figura 9 – Contribuição relativa de gases para o efeito estufa.................... 17
Figura 10 – Emissões de GEE no Recife, em tCO2e e percentual, segundo o
inventário lançado em 2015............................................................................ 18
Figura 11 – Percentual de recursos recebidos por região do globo............. 19
Figura 12 – Linha do tempo com alguns dos principais fatos da gestão do
clima no Brasil e no mundo............................................................................. 20
Figura 13 – Linha do tempo das realizações das COPs................................ 21
Figura 14 – Captura ativa de biogás em aterro sanitário da Essencis para
projeto MDL......................................................................................................22
Figura 15 – Contribuição Nacionalmente Determinada do Brasil................ 23
Figura 16 – Medidas adicionais da NDC brasileira........................................ 24
Figura 17 – Redução da concentração de NO2 nas cidades do Rio de
Janeiro e de São Paulo.................................................................................... 26
Figura 18 – Contribuição dos principais setores da economia para emissão
de CO2 de origem fóssil................................................................................... 26
Figura 19 – Emissões de GEE por setor da economia no Brasil, em 2015... 27
Figura 20 – Emissões de GEE por setor da economia no Brasil, de 2012 a
2018..................................................................................................................28
Figura 21 – Aumento do PIB mundial em comparação com o aumento das
emissões de CO2............................................................................................. 28
Figura 22 – Exemplo de curva de emissões, de 1990 a 2012, no setor de
resíduos pelo método IPCC............................................................................. 37
Figura 23 – Modelo esquemático da ACV...................................................... 38
Figura 24– Balanço de emissões no gerenciamento integrado de
resíduos............................................................................................................38
Figura 25 – Resultado do cálculo de créditos e emissões para diferentes
rotas tecnológicas........................................................................................... 39
Figura 26 – Resultado comparativo das simulações de emissões de GEE
nos quatro cenários......................................................................................... 45
Lista de tabelas
Tabela 1 – Potencial de aquecimento global de alguns GEEs, em 20 e 100
anos..................................................................................................................16
Tabela 2 – Exemplos de mitigação das emissões em outros setores por
meio da aplicação de tecnologias de tratamento de resíduos..................... 30
Tabela 3 – Diferenças de abordagens entre o IPCC e a ACV......................... 40
Tabela 4 – Cenários de quantificação de emissões considerando diversas
estratégias de gerenciamento de resíduos.................................................... 44
Tabela 5 – Composição de resíduos por frações.......................................... 45
Tabela 6 – Resultados das simulações de emissões de GEE nos quatro
cenários............................................................................................................48
Sumário
Apresentação...................................................................................... 8
Aula 1 – Introdução às mudanças climáticas....................................... 9
1.1. O que são mudanças climáticas? Como percebemos isso?... 9
1.2. Quais são os GEEs e seus impactos?.................................. 14
1.3. Financiamento climático.................................................... 18
1.4. Acordos e ações globais para o clima................................. 20
Aula 2 – Emissões de GEE e formas de quantificação ........................ 25
2.1. Aspectos gerais das emissões de GEE ............................... 25
2.2. Emissões do setor de resíduos e estratégias de mitigação .29
2.3. Introdução à quantificação de emissões............................ 32
2.4. Como quantificar as emissões de GEE? ............................. 34
2.4.1. Método IPCC .............................................................. 35
2.4.2. Método ACV ............................................................... 37
2.4.3. Diferenças de abordagens IPCC e ACV ........................ 39
Aula 3 – Quantificação de emissões ................................................. 43
3.1. Exemplos de quantificação das emissões de GEE por meio de
diferentes estratégias de gestão de resíduos............................ 43
Referências....................................................................................... 49
Bibliografia complementar................................................................. 52
Material de apoio............................................................................... 53
Glossário........................................................................................... 54
Apresentação
Desejamos boas-vindas ao Módulo “Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de
Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa” do Curso EaD em Tratamento e
Valorização de Resíduos Sólidos Urbanos.
Neste módulo, você compreenderá a relação entre a gestão de resíduos sólidos
urbanos (RSUs) e a proteção do clima. Serão apresentadas as metodologias
que possibilitam a quantificação de emissão de gases de efeito estufa* (GEE)
no município, além de se exemplificar as principais estratégias para mitigação
de emissões de GEE nas etapas do gerenciamento de resíduos.
Ao final deste módulo, você será capaz de:
• Entender as mudanças climáticas e seus efeitos locais, regionais e
globais, bem como sua relação com a gestão de RSU;
• Conhecer as metodologias de quantificação de emissões de GEE do
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC*), da
Organização das Nações Unidas (ONU), e da avaliação de ciclo de
vida (ACV);
• Diferenciar as principais estratégias e oportunidades para mitigação
de emissões de GEE na gestão de RSU.

Para que você acompanhe melhor a leitura, inserimos um asterisco (*)


nas palavras que estão no glossário, ao final da apostila.

Bons estudos!

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 8


Aula 1 – Introdução às mudanças climáticas
O combate às mudanças climáticas foi considerado como o “desafio definidor
do nosso tempo” pelo ex-secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, durante a
Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, realizada
em 2007 (KI-MOON, 2007). No mesmo dia, o ex-secretário convocou toda a
comunidade internacional a agir: “A ciência é clara. As mudanças climáticas
estão acontecendo. O impacto é real. O tempo para agir é agora” (Ibidem).
As mudanças climáticas estão mais presentes no nosso dia a dia do que
costumamos perceber. Você mesmo já deve ter ouvido falar delas em alguma
conversa com pessoas próximas ou em notícias na televisão. Às vezes, o assunto
surge como uma discussão acadêmica, mas, em outros casos, ele aparece na
constatação espontânea de que uma antiga nascente de água secou ou que o
verão foi mais quente que o esperado.

1.1. O que são mudanças climáticas? Como percebemos isso?


Mas, afinal, o que é o clima e o que são as mudanças climáticas?
Segundo a Organização Meteorológica Mundial (WMO, 2020a), o “clima, em
sentido estrito, pode ser definido como as condições climáticas médias de
um local e período de tempo específicos”. Uma das formas de se descrever
o clima é por meio da média e da variabilidade de seus elementos mais
relevantes, como temperatura, chuva, pressão atmosférica, umidade e
ventos.
O clima não se confunde com tempo ou previsão do tempo. Estes referem-se
a uma fotografia das condições atmosféricas em um curto período de tempo
e determinado espaço, ou um estado momentâneo da atmosfera (JACOBI et
al., 2015; ALEMANHA, 2013).
O sistema climático é o resultado de um balanço energético delicado entre a energia que é recebida,
absorvida e refletida pela Terra. A figura 1 mostra como a radiação solar recebida no planeta se
comporta: (i) parte dela não ultrapassa a atmosfera e retorna diretamente para o espaço; (ii) outra
parte entra na atmosfera, reflete nas superfícies do planeta e volta para o espaço; (iii) uma terceira
parte atravessa a atmosfera e permanece no planeta, seja ao ser absorvida pela superfície e pelos
seres vivos, seja por meio do efeito estufa natural.

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 9


Figura 1 – Representação da entrada e da saída da radiação solar no planeta

Fonte: Chagas (2019).

As variações no clima e na temperatura da Terra são naturais, porém, mais recentemente, elas
têm acontecido em um período menor de tempo, ficando em torno de 0,2 °C mais quente a cada
década, ou seja, o aquecimento tem ocorrido 50 vezes mais rápido que a variação natural do
planeta (NOBRE; REID; VEIGA, 2012). Em 2019, por exemplo, a temperatura média global foi 1,1 °C
mais quente que o nível pré-industrial (WMO, 2020b).
Já o conceito de mudanças climáticas foi estabelecido na Convenção-Quadro das Nações Unidas
sobre a Mudança do Clima* (UNFCCC), adotado na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento, conhecida como Rio-92, como: “[...] uma mudança no clima que
possa ser atribuída direta ou indiretamente à atividade humana que altere a composição da
atmosfera global e que se soma àquela provocada pela variabilidade climática natural observada
ao longo de períodos comparáveis” (UN, 1992).
Os dados utilizados para calcular essas variações vêm da combinação de várias fontes,
incluindo estações, boias e balões meteorológicos, sensores em embarcações e aviões, radares,
satélites, pluviômetros, barômetros, anemômetros, entre outros equipamentos. Estes dados são
compartilhados por pesquisadores do mundo inteiro para monitorar as variações e elaborar
modelos e projeções climáticas.
Alguns dos efeitos das mudanças climáticas são o aumento da temperatura média do planeta, o
aumento da frequência e da duração de ondas de calor, o derretimento de geleiras, a variação dos
índices de precipitação, a acidificação e o aumento da temperatura dos oceanos, o aumento do
nível do mar. A figura 2 mostra a variação da temperatura média da Terra, de acordo com diferentes
fontes de dados.

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 10


Figura 2 – Aumento da temperatura média do planeta desde a Revolução
Industrial, segundo bases de dados diferentes

Fonte: Met Office apud BBC (2020).

Esse cenário de mudanças climáticas exige que o município tenha consciência de suas vulne-
rabilidades e desenvolva ações que possam contribuir para o atingimento das metas nacionais
de mitigação das emissões e adaptação aos efeitos das mudanças climáticas. Alguns exemplos
de impactos já podem estar ocorrendo no seu município, como a incidência de períodos de seca
prolongada, o desaparecimento de corpos de água (como açudes, represas e rios), a salinização
de cursos d’água, as enchentes e as tempestades tropicais, as perdas de produtividade agrícola, a
redução de estoques pesqueiros, entre outros.
Outra forma de avaliar as consequências das mudanças climáticas é por meio do aumento da
frequência de desastres naturais no Brasil e no mundo. A figura 3 mostra que o número de desastres
naturais reportados em todo o planeta, no ano de 2019, foi, aproximadamente, quatro vezes maior
do que há 40 anos.

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 11


Figura 3 – Quantidade de desastres naturais reportados desde 1900

Number of recorded natural disaster events, all natural disasters, 1900 to 2019

Fonte: Ritchie e Roser (2019).

Nos anos de 2014 e 2015, o Sudeste brasileiro vivenciou uma experiência dessa natureza: o
prolongado período de seca na região atingiu os menores índices de chuvas em 85 anos (COSTA
et al., 2015). A estiagem levou o Sistema Cantareira a níveis mínimos em São Paulo, conforme
figura 4, comprometendo o abastecimento de água naquele estado e gerando riscos também para
o estado do Rio de Janeiro.

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 12


Figura 4 – Represa reserva Jaguari-Jacareí, em São Paulo, parte do Sistema Cantareira
que abastece a Grande São Paulo, durante a crise hídrica de 2015

Fonte: Veja (2015).

Ao contrário da seca que atingiu, principalmente, os estados de são Paulo e do Rio de Janeiro, em
2014 e 2015, a figura 5 mostra o estado de Minas Gerais, em janeiro de 2020, após a ocorrência
de chuvas intensas. Na cidade de Belo Horizonte, foi registrado o maior volume de chuva desde o
início da série histórica, e, em todo o estado, 196 cidades decretaram estado de emergência, com
mais de 55,7 mil pessoas atingidas.

Figura 5 – Rua de Minas Gerais coberta de lama após chuvas intensas, em janeiro de 2020

Fonte: Agência Brasil (2020).

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 13


Vale lembrar que as cidades são as principais afetadas pelos efeitos das mudanças climáticas,
além de serem o local de residência da maioria da população mundial: no Brasil, por exemplo,
aproximadamente 85% da população vive em áreas urbanas (ESPÍNDOLA; RIBEIRO, 2020; IBGE,
2015).
A administração pública municipal pode sofrer prejuízos financeiros causados pelos impactos das
mudanças climáticas, como o aumento dos gastos em manutenção de ruas, falhas no serviço de
transporte público, gastos adicionais no sistema de saúde etc.
As mudanças climáticas são mundialmente combatidas por esforços de:
a) Mitigação: definida como a intervenção humana para reduzir as emissões por fontes de GEE
e fortalecer as remoções por sumidouros de carbono (BRASIL, 2020b);
b) Adaptação: entendida como aumentar a preparação e a capacidade de resposta aos impactos
das alterações climáticas aos níveis local, regional, nacional (CE, 2013).

Você sabia?
Sem o efeito estufa natural, a temperatura da Terra seria de, aproximadamente,
-18 °C (USP, 2020).`

1.2. Quais são os GEEs e seus impactos?


Parte da radiação solar atravessa a atmosfera, reflete nas superfícies do planeta, mas não volta
para o espaço, ficando retida, o que causa o efeito estufa natural, que é um dos responsáveis por
manter a temperatura global em valores adequados à vida.
São os gases da atmosfera que atuam nessa retenção de radiação e o aumento da concentração
de determinados gases que agravam esse efeito. Neste sentido, a figura 6 mostra a composição
da atmosfera, com presença predominantemente de nitrogênio e oxigênio, além de outros gases
em proporções muito inferiores.

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 14


Figura 6 – Composição dos gases na atmosfera terrestre

Fonte: Tradução nossa.

São considerados GEEs aqueles com potencial de absorver e reemitir radiação infravermelha,
e podem ter origem natural ou humana (UN, 1992). Os GEEs incluem dióxido de carbono (CO2),
metano (CH4), óxido nitroso (N2O) e clorofluorcarbonos (CFCs).
De todos os gases causadores do efeito estufa, o dióxido de carbono (CO2), sem dúvida, o que recebe
mais atenção, servindo, inclusive, como parâmetro de comparação do potencial de aquecimento
global. Na figura 7, você pode ver o aumento da concentração da CO2, na atmosfera, em partes por
milhão, de 1980 até 2020.

Figura 7 – Média anual de CO2 na atmosfera

Fonte: The Global Monitoring Division of NOAA/Earth System Research Laboratory (NOAA, 2020).

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 15


Cada um dos GEEs possui características diferentes, em especial a quantidade de calor absorvida
e o tempo de permanência na atmosfera. Por este motivo, o IPCC adotou uma métrica para
quantificá-los de forma padronizada.
Essa métrica é denominada potencial de aquecimento global (GWP, do inglês global warming
potential), e estabelece uma relação de equivalência entre o potencial de aquecimento de
determinado gás comparado com o CO2, utilizando a conversão em massa para CO2-equivalente
(CO₂e) (STOCKER et al.; FIRMO et al., 2019). Conforme pode ser visto na tabela 1, cada tonelada de
CH4 emitida na atmosfera equivale a 84 toneladas de CO₂e.

Tabela 1 – Potencial de aquecimento global de alguns GEEs, em 20 e 100 anos

Gás GWP em 20 anos GWP em 100 anos

CO2 1 1

CH4 84 28

N2O 264 265

CF4 4880 6630


Fonte: Stocker et al. (2013, tradução nossa).

Essa padronização permite fazer comparações como a da Universidade Federal do Pará, que
verificou que a emissão de CH4, ao longo da vida útil do Lixão de Aurá (figura 8), em Belém, equivalia
à queima de 34 mil hectares de floresta (SILVA, 2017).

Figura 8 – Foto do Lixão de Aurá, em Belém

Fonte: G1 PA (2019).

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Para avaliar o quanto cada um dos GEEs efetivamente contribui para o estado atual do efeito estufa,
é necessário levar em consideração o GWP e a concentração de cada um deles na atmosfera. Na
figura 9, pode ser observado o percentual de contribuição para o efeito estufa dos cinco principais
gases, considerando não só a concentração atual na atmosfera, como, também, o potencial deles
no aquecimento da Terra. Ou seja, a concentração atual de CH4 na atmosfera, um dos principais
gases produzidos no gerenciamento de resíduos sólidos, contribui para 17% do efeito estufa atual
do planeta.

Figura 9 – Contribuição relativa de gases para o efeito estufa

2%

4%
5%
CO2
6%
CH4

N20
17%
CFC-12
66%
CFC-11

Outros gases

Fonte: Alemanha (2019).

Segundo o último relatório de avaliação do IPCC, as concentrações de CO2, CH4 e N2O excederam
os níveis pré-industriais em 40%, 150% e 20%, respectivamente, e excedem os níveis mais elevados
dos últimos 800 mil anos, de acordo com a comparação de amostras de núcleos de gelo (STOCKER
et al., 2013). De acordo com o mesmo relatório, indica-se que mais da metade dos aumentos
observados da temperatura média do planeta decorram de atividades antropogênicas, incluindo o
aumento da concentração dos GEEs.
Em nível municipal, as quantidades de emissões de cada um desses gases podem ser calculadas,
convertidas em carbono equivalente e divulgadas por meio de inventários de emissões. Embora
não sejam de elaboração obrigatória, os inventários trazem importantes informações para a
tomada de decisão, visando a uma transição para uma economia de baixo carbono. Exemplo disso,
em 2015, foi a Prefeitura do Recife, que lançou seu 1º Inventário de Emissões de Gases de Efeito
Estufa, demonstrando que o setor de resíduos sólidos contribuiu com 19,3% das emissões na
cidade, conforme figura 10 (RECIFE, 2015). Em 2019, foi a vez de Pernambuco lançar seu inventário,
demonstrando que o setor de resíduos sólidos contribuiu com 29,2% das emissões no estado
(PERNAMBUCO, 2019).

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 17


O Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg) indicou, em 2017, que, nas
cidades, o tratamento e a disposição final de resíduos sólidos e efluentes podem atingir contribuições
percentuais médias de 10% a 20% no total de emissões de GEE, sendo mais representativas que a
média nacional (3% a 5%).
Observa-se que, nesses casos, o setor de resíduos tem um papel muito mais significativo nas
emissões estadual e municipal, demonstrando a importância de identificarmos ações que também
contribuam com a redução das emissões de GEE e, consequentemente, com a melhoria da qualidade
de vida local.

Figura 10 – Emissões de GEE no Recife, em tCO2e e percentual, segundo o inventário lançado em 2015

Fonte: Recife (2015).

1.3. Financiamento climático


Um dos grandes temas na área de mudanças do clima é a disponibilidade de financiamento para
as ações de mitigação e adaptação. Existem fontes de financiamento específicas, que podem
disponibilizar recursos financeiros para sua cidade, caso o projeto inclua parâmetros para a
redução de emissões de GEE.
Em 2017, os fundos climáticos multilaterais aprovaram, aproximadamente, US$ 2 bilhões
destinados a 152 projetos em 70 países diferentes. A região da América Latina e do Caribe recebeu
22% dos recursos desta natureza, entre 2003 e 2017, conforme figura 11.

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 18


Figura 11 – Percentual de recursos recebidos por região do globo

Fonte: Climate Funds Update (2020)

A Prefeitura de Curitiba, por exemplo, recebeu recursos do C40 Cities Finance Facility (CFF) para
o Projeto Curitiba Mais Energia, que previu painéis solares em espaços públicos da cidade, como
o antigo aterro municipal (CURITIBA, 2020). Outro caso foi a implantação do sistema de captação
de biogás com geração de energia elétrica para os aterros de Marambaia e Adrianópolis, ambos
no estado do Rio de Janeiro, financiado pelo Banco Mundial no valor de, aproximadamente,
US$ 21 milhões. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), por seu turno, foi um dos
cofinanciadores de dois aterros sanitários no estado do Ceará, em um projeto de mais de R$ 100
milhões.
No Brasil, existe ainda o Fundo Nacional de Mudanças Climáticas, que, entre 2011 e 2014, apoiou,
aproximadamente, 200 projetos, em recursos que somam R$ 96 milhões não reembolsáveis e R$
109 milhões reembolsáveis (CEPAL; IPEA; GIZ, 2016).
Outros fundos internos também podem ser usados para financiar projetos nesta área, como o
Fundo Nacional de Meio Ambiente e o Fundo Nacional de Defesa dos Direitos Difusos. Alguns
estados possuem fundos que podem apoiar a implantação de projetos de mitigação ou adaptação
às mudanças climáticas. É o caso, por exemplo, do Rio de Janeiro, que possui o Fundo Estadual de
Conservação Ambiental e Desenvolvimento Urbano (Fecam), criado em 1986.
Além disso, uma importante ferramenta de apoio a municípios foi desenvolvida pelo projeto
ProteGEEr, em 2019. Trata-se do Mapa de Financiamento para Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos,
uma ferramenta on-line para busca de linhas de financiamento de ministérios, agências, bancos e
outras instituições financeiras para gestão de resíduos sólidos de baixas emissões.

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 19


Saiba mais!
O Mapa de Financiamento para Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos pode
ser acessado pelo site do Ministério do Meio Ambiente (MMA) ou clique aqui

Outros instrumentos podem ser usados, como o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)
e o mecanismo de Redução de Emissões do Desmatamento e Degradação de Florestas (REDD),
ambos previstos no Protocolo de Quioto. A partir dos projetos de MDL, são gerados os “créditos de
carbono”, originando as “reduções certificadas de emissões” (RCEs).

1.4. Acordos e ações globais para o clima


A primeira vez em que a comunidade internacional reuniu-se exclusivamente para tratar do tema do
meio ambiente foi em 1972, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano,1
que ficou conhecida como Conferência de Estocolmo. A figura 12 mostra a linha do tempo com
algumas das principais conferências internacionais sobre mudanças climáticas.

Figura 12 – Linha do tempo com alguns dos principais fatos da gestão do clima no Brasil e no mundo

- publicação da
Fonte: Arquivo ProteGEEr. Contribuição Nacionalmente
Determinada brasileira

1
Antes disso, em 1949, foi realizada a Conferência Científica das Nações Unidas sobre Conservação e Utilização dos
Recursos Naturais, que, embora se relacione com o tema, tinha o foco no exaurimento de recursos naturais.

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 20


Em 1988, o IPCC foi criado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) em
conjunto com a WMO. O IPCC é responsável por elaborar relatórios científicos de avaliação das
mudanças climáticas, a fonte de informação mais importante sobre o tema em nível mundial.
As mudanças climáticas e a necessária redução de GEE vêm sendo tratadas mundialmente no
âmbito da UNFCCC, assinada na Rio-92, no Rio de Janeiro (também chamada de Eco-92). A
UNFCCC é a base para a resposta mundial ao desafio das mudanças climáticas e da limitação do
aquecimento global, atualmente compreendendo 197 partes signatárias, incluindo o Brasil.
Desde 1995, o órgão supremo da Convenção reúne-se uma vez por ano na Conferência das
Partes (COP), onde são avaliados os resultados obtidos até o momento, assim como discutidos
compromissos adicionais. Na figura 13, estão representadas todas as COPs realizadas até 2018 (a
reunião de 2019 ocorreu em Madri, na Espanha).

Figura 13 – Linha do tempo das realizações das COPs

Fonte: Brasil (2020c).

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 21


O reforço da Convenção-Quadro veio com a assinatura do Protocolo de Quioto, em 1997, no Japão,
durante a COP3. Em síntese, o Protocolo de Quioto foi a primeira forma de operacionalização da
Convenção-Quadro, estabelecendo limites de emissão de GEE e medidas de apoio para mitigação
e adaptação. Um dos instrumentos econômicos de sucesso e muito utilizado no Brasil foi o MDL.
O Brasil implementou o primeiro projeto de MDL registrado no mundo, chamado de Novagerar e
localizado no aterro sanitário do município de Nova Iguaçu, no estado do Rio de Janeiro. A partir
daí, vários outros projetos foram registrados no país, como o do Aterro de Bandeirantes, um dos
maiores da América Latina, localizado em São Paulo. As figuras 14A e 14B retratam o sistema de
captação e queima de gás de um aterro em São Paulo.

Figura 14 – Captura ativa de biogás em aterro sanitário da Essencis para projeto MDL

14A 14B

Foto: Soninha Vill (Acervo ProteGEEr).

Segundo o relatório Status dos Projetos MDL no Brasil, publicado pelo Ministério da Ciência,
Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) em 2017, o país ocupava o terceiro lugar, com
339 projetos registrados. Projetos de gás de aterro representavam o quarto item, com 50 projetos
aprovados, isto é, 14,8% dos projetos aprovados, porém representando 23,7% das reduções
estimadas de emissão de GEE por tipo de projeto (BRASIL, 2017).
A meta de limitação do aumento da temperatura média global a até 2 °C somente foi estabelecida
em 2009, no Acordo de Copenhague celebrado na COP15. Este limite superior vem sendo mantido,
conforme os resultados da COP21, em 2015. Foi na COP21 que foi celebrado o Acordo de Paris,
atualmente o mais relevante acordo em vigor para controle das mudanças climáticas e emissões
de GEE.

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 22


O Acordo de Paris reafirmou o objetivo de conter o aumento da temperatura média global em
menos de 2 °C acima dos níveis pré-industriais, além de aplicar esforços para limitar este aumento
a 1,5 °C. O elemento central do Acordo de Paris são as Contribuições Nacionalmente Determinadas
(NDCs) de cada país, ou seja, metas de redução pós-2020 de emissões de GEE que cada uma das
partes do Acordo compromete-se a alcançar. O Brasil submeteu sua primeira NDC em setembro
de 2016, conforme figura 15.

Figura 15 – Contribuição Nacionalmente Determinada do Brasil

Fonte: Brasil (2020a).

Além de trazer efetivas metas de redução das emissões de carbono, a NDC do Brasil propôs ações
adicionais visando ao avanço para uma economia de baixas emissões de carbono, conforme pode
ser visto na figura 16.

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 23


Figura 16 – Medidas adicionais da NDC brasileira

Fonte: CNI (2018).

O Acordo de Paris também adota o princípio da responsabilidade comum, porém diferenciada entre
as partes. Neste sentido, o instrumento prevê metas de redução diferenciadas entre os países,
assim como instrumentos de financiamento, transferência de tecnologias e capacitação.
A cada cinco anos está previsto que as partes realizarão um balanço de suas NDCs e resultados,
assim como apresentarão novas metas de NDC. O primeiro balanço está previsto para 2023.

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 24


Aula 2 – Emissões de GEE e formas de quantificação
Neste capítulo, veremos, de forma mais específica, como
o setor de gerenciamento de resíduos sólidos relaciona-se
com as mudanças climáticas, as fontes e a quantidade de
emissões de GEE e suas formas de quantificação.

2.1. Aspectos gerais das emissões de GEE


Embora as metas de emissões sejam nacionais, a gestão pública municipal tem grande importância
no seu atingimento:
[...] há uma expectativa de que as cidades usem sua capacidade de liderança
e influência política não só para que sejam cumpridas as propostas de
redução de emissão de gases do efeito estufa dos países signatários
do Acordo de Paris, mas também aumentando a ambição nos períodos
de revisão, até porque os impactos da mudança climática irão afetá-las
enormemente (RIBEIRO; SANTOS, 2016).
Nas últimas duas décadas, as emissões de dióxido de carbono decorrentes de fontes fósseis
têm aumentado constantemente, com pequenas quedas de emissões decorrentes de crises
econômicas (WMO, 2020b). Embora ainda seja muito cedo para obtenção dos resultados, é
esperado que, em 2020, haja uma redução temporária das emissões em decorrência da pandemia
do novo coronavírus (Covid-19).
Na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, as medidas de restrição adotadas pelos governos
implicaram a redução da circulação de veículos e a interrupção de atividades industriais, o que
refletiu positivamente nos níveis de poluição do ar, em especial com a redução da presença de NO2
(vide figura 17).

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 25


Figura 17 – Redução da concentração de NO2 nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo

17A – Entre 20 de março e 8 de abril de 2019 17B – Entre 20 de março e 8 de abril de 2020

Fonte: Gutierrez (2020).

Em âmbito global, a média de emissões de CO2 de fontes fósseis, entre 2009 e 2018, foi de 34,7 ±
1,8 GtCO2 (bilhões de toneladas) por ano, com um aumento médio anual de 0,9% (WMO, 2020b).
Entre as fontes fósseis de emissões, a queima de carvão predomina como responsável pela maior
quantidade de emissões, seguida por petróleo e gás natural (FRIEDLINGSTEIN et al., 2019).
Ainda no cenário mundial, a figura 18 mostra que o setor de geração de energia elétrica e
aquecimento é o principal emissor, com participação de, aproximadamente, 45% do total emitido
(FRIEDLINGSTEIN et al., 2019).

Figura 18 – Contribuição dos principais setores da economia para emissão de CO2 de origem fóssil

Fonte: Friedlingstein et al. (2019).

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 26


No Brasil, o Relatório das Estimativas Anuais de Emissões de Gases de Efeito Estufa é elaborado
pelo MCTIC. A sua quarta edição foi lançada em 2017 e encontra-se disponível no site do Sistema
de Registro Nacional de Emissões (Sirene) (BRASIL, 2017). A figura 19 apresenta o percentual de
contribuição dos principais setores da economia para as emissões nacionais.

Figura 19 – Emissões de GEE por setor da economia no Brasil, em 2015

Fonte: Brasil (2017).

Uma outra fonte de consulta de dados das emissões de GEEs são os relatórios do Seeg, promovido
pelo Observatório do Clima (OC). Segundo o último relatório, em 2018, o Brasil emitiu um total de
1,939 bilhão de toneladas brutas de GEE, representando um aumento de apenas 0,3% em relação
ao ano anterior (ANGELO; RITTL, 2019). No cenário nacional, os principais contribuintes para as
emissões foram os setores de mudança do uso da terra, agropecuária e energia.
Comparando os dados do MCTIC até 2015 e do Seeg até 2018, verifica-se que o setor de resíduos
(resíduos sólidos e efluentes) aumentou sua contribuição proporcional no total de emissões,
passando de 4% para 5% no período (figura 20).

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 27


Figura 20 – Emissões de GEE por setor da economia no Brasil, de 2012 a 2018

Fonte: Angelo e Rittl (2019).

É importante levar em consideração, no entanto, que a redução de emissão de GEE não significa
retração econômica ou interrupção do crescimento. Ao contrário disto; conforme pode ser visto na
figura 21, desde a década de 1990 a economia mundial vem crescendo em ritmo mais acelerado
do que a emissão de CO2 (FRIEDLINGSTEIN et al., 2019).

Figura 21 – Aumento do PIB mundial em comparação com o aumento das emissões de CO2

Fonte: Friedlingstein et al. (2019).

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 28


2.2. Emissões do setor de resíduos e estratégias de mitigação
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) trouxe a obriga-
ção da implementação da destinação final ambientalmente ade-
quada* de resíduos sólidos, incluindo a adoção de tratamentos
adequados, e não o mero aterramento (vide figura 22).
Além da redução da emissão dos GEEs, o tratamento dos resíduos
sólidos e a sua disposição adequada evitam a degradação
dos solos e diversos problemas de saúde pública, podendo,
ainda, atuar como um importante vetor para a inclusão social
dos catadores e das catadoras dos lixões e de rua, bem como
exercer papel preponderante na conquista de melhorias para as
populações carentes que vivem no entorno dos lixões.
A hierarquia* de gerenciamento de resíduos sólidos, prevista na PNRS, privilegia, também, a
redução das emissões.
O Brasil possui geração média de 0,96 kg de resíduos por pessoa por dia, o que, em 2018, significou
62,78 milhões de toneladas de resíduos gerados em áreas urbanas, a maioria direcionada para
aterros ou lixões (BRASIL, 2019), contando com apenas um pequeno percentual de reciclagem
de resíduos secos e algumas experiências isoladas de valorização de resíduos orgânicos
(compostagem e biodigestão – temas que serão abordados com mais detalhes nos próximos
módulos deste curso). O tratamento térmico tem sido empregado, basicamente, apenas para
resíduos de serviços de saúde e industriais.
Para alcançar as metas da NDC brasileira, entende-se como necessária uma transição do modelo
atual de gestão de RSU para um modelo de gestão de RSU com baixas emissões de GEE.

Saiba mais!
No Brasil, conforme apresentado na 3ª Comunicação Nacional do Brasil à
UNFCCC (BRASIL,2016), as principais fontes antropogênicas de GEE são:
(i) queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás) para a geração
de eletricidade, transportes, indústria e aglomerados urbanos (CO2); (ii)
agropecuária (CH4) e mudanças no uso do solo, como o desmatamento
(CO2); (iii) processos industriais (CO2); e (iv) disposição final de resíduos
sólidos (CH4).

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 29


O setor de resíduos, juntamente ao setor de processos industriais e uso de produtos, responde pela
menor parcela de emissões no Brasil (5%), com 91,9 milhões de tCO2e em 2018. Mesmo assim,
essa cifra representa um crescimento de mais de 600% desde 1970 e de 95% entre 2000 e 2018.
O Pnuma afirma que “o setor de resíduos está numa situação única de mudar de uma fonte menor
das emissões globais para ser um maior compensador de emissões” (UNEP, 2010). Isso porque
existe um potencial enorme de melhoria do setor, fazendo com que as ações para otimização do
manejo de resíduos tenham um custo-benefício muito melhor.
Os GEEs emitidos no setor de resíduos sólidos são compostos, predominantemente, de metano
(CH4), oriundo da decomposição da fração orgânica, dióxido de carbono (CO2) e um pequeno
percentual de óxido nitroso (N2O).
A urbanização e o aumento dos padrões de consumo, esta associada à industrialização dos bens
de consumo, geram um aumento dos resíduos e de seus impactos negativos.
Por outro lado, ações voltadas para a estruturação do setor de resíduos, com base no conceito
da economia circular, têm potencial de impactar positivamente outros setores; por exemplo, a
reciclagem de um material, que evitará a extração de uma nova matéria-prima e reduzirá o consumo
energético de uma indústria.
A adoção de processos de tratamento e reaproveitamento tem resultados diretos nas emissões de
GEE na indústria e nos setores de energia e transportes, resumidas na tabela 2.

Tabela 2 – Exemplos de mitigação das emissões em outros setores por


meio da aplicação de tecnologias de tratamento de resíduos

Forma de tratamento Resultados


Economia de energia na indústria por meio da incorporação
Reciclagem
do material reciclado na produção de novos produtos
Redução do uso de fertilizante químico e consequente
Compostagem
redução de consumo de energia para sua produção
Substituição de uma fonte de energia fóssil por uma alternativa,
Biodigestão anaeróbia
o biogás, além do benefício do composto mencionado acima
Produção de combustível Substituição de combustível fóssil, menor massa de
derivado de resíduo resíduos transportada para disposição final
Substituição de combustível fóssil, menor massa de
Incineração
resíduos transportada para disposição final
Fonte: Arquivo ProteGEEr.

O avanço da gestão pública no manejo de resíduos, com respectiva redução das emissões de GEE,
requer o estabelecimento de políticas públicas que permitam alcançar os objetivos dentro de um
horizonte de tempo definido, com as máximas eficiência e efetividade.
A primeira constatação é a necessidade de encerramento dos lixões, causadores de emissões sem
controle para o ambiente e de degradação paisagística, ambiental e social. Isso deve ser feito após
a valorização dos resíduos e a construção de aterros sanitários. Para os pequenos municípios –

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 30


há mais de 3.300 cidades com menos de 15 mil habitantes no Brasil –, a implantação da coleta
seletiva de secos e úmidos pode reduzir as necessidades de aterramento.
Um aspecto fundamental de ser mencionado é que a transição do modelo de disposição de resíduos
em lixão para aterro sanitário poderá gerar um grande impacto negativo nas emissões. Por mais
que as condições sanitárias, de estrutura e operacionais sejam adequadas, nos aterros sanitários,
devido ao grau de compactação dos resíduos, à altura da célula e ao porte, há uma produção maior
de metano, visto que há ausência de oxigênio nas camadas de resíduos. Nos lixões, normalmente,
os resíduos têm mais troca de oxigênio com a atmosfera, o que faz com que a degradação deles
gere mais gás carbônico (CO2) do que metano (CH4). Lembre-se de que o metano tem um potencial
de impacto 28 vezes maior do que o gás carbônico.
Logo, em seu município, caso ainda haja um lixão, o primeiro passo é elaborar uma estratégia para o
encerramento dele, tema que foi abordado no módulo “Encerramento de Lixões e próximos passos”
(presente no curso EaD Fundamentos e Premissas-Chave para a Gestão Sustentável de Resíduos
Sólidos Urbanos). Caso o município tenha condições financeiras para viabilizar a implantação de
um aterro sanitário, é indispensável que seja previsto um mecanismo de coleta e destruição do gás
gerado e avaliada a viabilidade de sua recuperação energética.
O mais importante é lembrar que existem diversas rotas tecnológicas, para diferentes escalas e
grande espectro tecnológico, que devem ser avaliadas antes de se pensar no simples aterramento,
tema que será abordado no módulo Rotas Tecnológicas para a Gestão Integrada de Resíduos Sólidos
Urbanos deste curso. Não esqueça de que aprendemos que os resíduos podem se transformar em
diversos subprodutos, como energia, composto, novos materiais, e serem reinseridos no ciclo de
produção, fortalecendo a economia circular e, consequentemente, promovendo a sustentabilidade.
Bom, resumimos, abaixo, as principais relações entre o gerenciamento de resíduos e as emissões
de GEE:
• As emissões de metano nos aterros sanitários são o principal contribuinte para as
emissões de GEE no setor de resíduos sólidos;
• O estabelecimento de novos aterros sanitários deve acontecer tendo como requisito a
implementação de sistemas de captação de gás eficientes, que garantam a destruição do
metano;
• A conversão de lixões em aterros sanitários sem a captação de gás levará ao aumento
das emissões do gás metano;
• A destruição do metano pode ser feita por flares, com sistemas de queima de metano ou
usando a energia contida no metano para produzir eletricidade ou calor, ou o biometano,
usado como substituto ao gás natural;
• A reciclagem de resíduos orgânicos, pela compostagem ou pela digestão anaeróbia, tem
uma dupla vantagem. De um lado, reduz o aterramento de materiais biodegradáveis,
que produzem metano sob condições anaeróbias. De outro, gera subprodutos, como o
composto ou a energia a partir do biogás, com benefícios de redução de GEE pela não
necessidade de extração e processamento da matéria-prima;

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 31


• O mesmo princípio aplica-se a todos os tipos de reciclagem de resíduos secos. A
reciclagem dos resíduos evita o consumo de matéria-prima. Quanto maiores forem as
taxas de reciclagem, maiores serão as reduções de GEE;
• Acredita-se que a recuperação energética dos resíduos tenha um papel importante
no médio prazo. Por exemplo: a indústria cimenteira demonstra interesse em utilizar
uma parte da fração seca que não tem valor de mercado para a reciclagem como um
combustível alternativo, denominado combustível derivado de resíduos (CDR), a partir
de uma preparação e/ou um pré-tratamento adequado. O coprocessamento na indústria
cimenteira é uma tendência mundial crescente, que oferece importantes benefícios para
o setor de RSU e para a mitigação de suas emissões, por desviar um fluxo significativo de
resíduos do aterro sanitário, bem como pela substituição de combustíveis fósseis para a
geração de energia.

2.3. Introdução à quantificação de emissões


Um grande desafio das pessoas responsáveis pela gestão pública, assim como dos
diferentes níveis de governo, é ter uma base de dados confiável e representativa para
promoção de política pública e/ou tomada de decisão. No caso dos resíduos não é
diferente.
Sabemos que há uma fragilidade na coleta, no monitoramento e na melhoria de dados
a nível municipal. Atualmente, o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento
(SNIS) é a base de dados mais representativa de saneamento no Brasil, coordenada
pela Secretaria de Saneamento do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR).
É importante notar que o SNIS é composto a partir da resposta voluntária de
questionários por parte dos municípios e dos prestadores e das prestadoras de serviços
de saneamento, o que gera uma variação anual da amostra que, de fato, responde ao
questionário.

Mãos à obra!
Verifique se o seu município participou da última coleta de dados do SNIS,
ou quando foi o último ano de participação. Lembre-se de que, para ter
acesso a recursos de financiamento do governo federal para saneamento,
a participação no SNIS é um pré-requisito! Acesse em: http://www.snis.
gov.br/.

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 32


Visando à promoção de uma gestão sustentável de RSU, é indispensável que se conheça os
resíduos gerados. Trabalhar com médias nacionais ou dados de outros municípios pode acarretar
tomada de decisões precipitadas e falhas. Nesse contexto, antes de se pensar na quantificação
das emissões de GEE, é importante fazer a caracterização dos resíduos do município para se
conhecer suas propriedades, o percentual de composição de cada fração, os volumes gerados
e suas variações ao longo do ano. A norma ABNT NBR 10007 orienta como realizar uma boa
amostragem de resíduos sólidos.
Um bom planejamento depende do conhecimento sobre o que está sendo planejado. Por isso,
reforçamos a necessidade de elaboração de um Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos
Sólidos (PMGIRS) que não seja uma encomenda de um estudo, mas, sim, um instrumento de
planejamento.
Uma vez levantadas as informações sobre a geração e as características (gravimétricas e
granulométricas) dos resíduos municipais, devemos dar o segundo passo, que é utilizar esses
dados para quantificar as emissões de GEE. Dados básicos como população total, geração per
capita de resíduos, percentual de cada tipo de resíduo gerado, informações sobre os processos de
tratamento e disposição final são fundamentais. Dependendo da metodologia de cálculo utilizada,
serão demandados alguns dados diferenciados.

Mãos à obra!
Verifique quais os dados disponíveis e monitorados do gerenciamento dos
RSU do seu município. Adicionalmente, reveja o diagnóstico do PMGIRS
e avalie se ele condiz com a realidade atual. Ele é seu instrumento de
trabalho!

O Brasil foi o primeiro país a assinar a Convenção sobre Mudança do Clima, e foi nesta Convenção
que se iniciou a discussão sobre o relato e as comunicações nacionais de emissões de GEE em
países em desenvolvimento, bem como do instrumento de mensuração, relato e verificação (MRV).
A adoção de um mecanismo de MRV passa a ser um requisito e um diferencial quando se tem
interesse em comercializar as emissões mitigadas ou atrair outras fontes de financiamento ou de
receita acessória para seu projeto, por:
1) Garantir transparência e credibilidade tanto para o financiador quanto para o tomador de
crédito;
2) Reduzir o risco do investimento;
3) Permitir sua contabilização nas metas nacionais de emissões de GEE;
4) Servir de oportunidade para alavancar novos modelos de negócios em RSU.

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 33


Você sabia?
Os Governos Locais pela Sustentabilidade (Iclei), o Observatório do Clima
(OC) e o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de
Efeito Estufa (Seeg) geram um relatório de Emissões de GEE do Setor
Resíduos, que faz uma análise histórica das emissões de 1990 a 2016.

2.4. Como quantificar as emissões de GEE?


Diversas ferramentas e metodologias disponíveis podem ser aplicadas no gerenciamento dos
resíduos sólidos para o cálculo das emissões de GEE, dependendo do objetivo da análise e da
abordagem dada ao setor.

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 34


O objetivo e o escopo da quantificação das emissões de GEE de gestão de resíduos podem ser
muito diferentes, como reportar um inventário, avaliar o impacto da redução na fonte de resíduos
ou acompanhar o desenvolvimento ao longo do tempo de um cenário proposto.
Recomenda-se refletir cuidadosamente sobre o objetivo da avaliação de GEE e, em seguida, decidir
qual metodologia é mais apropriada e deve ser usada. De todo modo, duas abordagens merecem
destaque por contribuírem diretamente com as estratégias nacionais e com a visão da PNRS e da
Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC).

2.4.1. Método IPCC


A primeira metodologia para a elaboração de inventários nacionais, utilizada internacionalmente,
é a do IPCC. Ela também é usada no reporte obrigatório do Brasil para a UNFCCC. No caso deste
reporte, são feitas estimativas setoriais, com base nos dados disponíveis. Um inventário local
acaba sendo o instrumento mais adequado para planejamento e para contribuir com os dados e
as estimativas nacionais.
A quantificação da emissão de GEE utilizada na elaboração de inventários nacionais segue o
método prescrito pelo IPCC (1995) e aprovado pela UNFCCC, o qual é dividido em cinco setores:

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 35


02 04

01 03 05
Agropecuária Resíduos

Uso do solo,
Energia mudança do Emissões de
uso do solo processos
e florestas industriais

Os métodos de inventário de emissões de GEEs do IPCC subdividem o setor de resíduos em:

Resíduos sólidos Esgoto doméstico; e Efluente industrial.


RSU;
industriais;

O método recomenda que a estimativa das emissões devidas ao tratamento ou à disposição


de resíduos rurais seja somada às demais do setor agropecuário. Além disso, a estimativa das
emissões de uso de combustíveis fósseis no transporte do resíduo e aquelas devidas à incineração
de resíduos, quando realizado o aproveitamento energético, são contabilizadas no setor de energia.
Segundo as premissas do IPCC, a geração de metano possui um comportamento gradativo e
cumulativo ao longo do tempo. Isso implica que, além da redução líquida de emissões entre os
anos-base e o inventariado, é preciso reduzir as emissões acumuladas ao longo dos anos. Um
resíduo (orgânico) aterrado hoje gera emissões no ano presente e nos anos futuros, porque ainda
não degradou por completo. Desta forma, ao manter um padrão de aterramento, ainda que seja
significativamente reduzido, somam-se as emissões de anos anteriores de resíduos já aterrados,
e que seguem emitindo metano por pelo menos duas décadas, conforme exemplo de curva da
figura 22.

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 36


Figura 22 – Exemplo de curva de emissões, de 1990 a 2012, no setor de resíduos pelo método IPCC

Fonte: Arquivo ProteGEEr.

Por esse motivo, a destruição ou o aproveitamento de metano é uma importante ação com efeito no
curto prazo, por mitigar emissões de maneira imediata, desde que o processo seja adequadamente
monitorado e reportado.
O método do IPCC restringe o setor de resíduos apenas à atividade de disposição final dos
resíduos, contabilizando contribuições de reciclagem, compostagem, transporte, digestão
anaeróbia e tratamento em outros setores. Isso significa que este método apresenta valores ainda
subestimados tanto das emissões do setor quanto do seu potencial de mitigação.

2.4.2. Método ACV


Uma outra abordagem é pela avaliação de ciclo de vida (ACV), que apresenta uma visão integrada,
focada no fluxo de materiais, desde a extração da matéria-prima até a disposição final. Sob esta
ótica, consideram-se todas as emissões decorrentes do gerenciamento completo dos resíduos,
independentemente do local ou do momento em que as emissões ocorrem, como se gerasse uma
foto das emissões que determinadas tipologia e quantidade de resíduos podem gerar ou evitar.
O conceito de economia circular pode ser facilmente visualizado por esse método, uma vez que
prevê novos fluxos de matéria e energia, ampliando, assim, seu potencial de mitigação, pois
considera os impactos nos outros setores, de forma integrada, conforme figura 23.

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 37


Figura 23 – Modelo esquemático da ACV

Ber
ço
ao
Po
convertedores

rtã
produção

o
produto
Processamento
matéria-prima

Outros materiais transpo

rte
Matéria - prima distribuição
Design da
embalagem
Compostagem
Reciclagem mecânica varejo
Reciclagem química
so
Reciclagem energética
reciclagem reú
Aterro

Po
r tã consumidores
oa
oT
ú m ulo

Fonte: Braskem (2020).

A visão mais ampla do setor de resíduos sob a perspectiva da ACV demanda uma nova abordagem
também em relação à estratégia de quantificação de emissões adotada. Ela estabelece que o
setor potencialmente atua como emissor de GEE ou como “poupador”. A figura 24 mostra algumas
etapas de gerenciamento de resíduos que podem funcionar nessas duas perspectivas.

Figura 24– Balanço de emissões no gerenciamento integrado de resíduos

Fonte: Arquivo ProteGEEr.

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 38


Nesse sentido, as rotas tecnológicas definidas ora emitem ora poupam as emissões de GEE. A figura
25 ilustra um típico resultado desse balanço em uma estimativa de emissões utilizando o método
ACV. As barras apresentam diferentes cenários definidos para a gestão de resíduos. A partir da
definição de cenários, pode-se observar quais deles emitem mais (barras positivas) e quais deles
poupam mais emissões (barras negativas). O balanço final é o valor líquido, representado pela cor
azul. Sem detalhar os cenários estimados, o que se observa é que o cenário C3 é o que apresenta
as menores emissões de GEE.

Figura 25 – Resultado do cálculo de créditos e emissões para diferentes rotas tecnológicas

Fonte: Arquivo ProteGEEr.

2.4.3. Diferenças de abordagens IPCC e ACV


As abordagens IPCC e ACV têm objetivos de quantificação e características diferentes, pois seus
escopos e suas referências partem de outras premissas. É importante que se entenda que ambas
são complementares e úteis, de acordo com o objetivo da quantificação. Elas se diferenciam em
seis aspectos, que são apresentados na tabela 3.

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 39


Tabela 3 – Diferenças de abordagens entre o IPCC e a ACV

  IPCC ACV

1 – Objetivo da Orienta os países a Considera o balanço global das


quantificação compilarem inventários emissões e reduções de GEE de todo o
nacionais sobre GEE. A sistema de gestão de resíduos de um
estrutura foi pensada de país ou região.
modo que não importasse a Consiste em avaliar o sistema de
experiência ou os recursos gestão de resíduos com todos
do país, a fim de que os ciclos de materiais e recursos
conseguissem produzir relacionados à gestão de resíduos
estimativas confiáveis de suas de uma região, desde a coleta e o
emissões e redução de gases. transporte de resíduos até o tratamento
intermediário, a recuperação energética
e a disposição final, incluindo os efeitos
de substituição de matérias-primas e
de ganhos de energia no processo.

2 – Limites do sistema Considera processos únicos, Considera todo o ciclo de vida dos
de gestão de resíduos como aterro, compostagem resíduos do sistema de gestão,
e incineração sem incluindo processos evitados, como
recuperação energética. a extração de novas matérias-primas
e o uso de combustível fóssil.

3 – Referência O objetivo da exigência As emissões de GEE causadas


temporal do IPPC é calcular um pelos resíduos gerados em um
inventário de GEE para um ano ano de referência são calculadas
específico, que seria o ano independentemente de quando estas
de referência para o relatório. emissões de GEE ocorrem.
Esse método inclui todas as Os cenários de gestão de resíduos
emissões de GEE causadas podem ser calculados para situações
por resíduos gerados no passadas e futuras, dependendo de um
ano de referência e em anos ano de referência. No caso de um aterro,
anteriores, utilizando um não faz diferença quando os GEE serão
modelo de decaimento. emitidos, visto que serão quantificadas
Também permite prever as as emissões totais de uma vez.
emissões de GEE de cenários
futuros de gestão de resíduos,
se as características de
resíduos, como geração,
composição e disposição
final, forem aplicadas para
cada ano consecutivo com
base nesses cenários.

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 40


4 – Referência espacial As emissões de GEE são A referência espacial para ACV são
quantificadas dentro de um as emissões de GEE pelas atividades
território e, portanto, seguem humanas de uma região. Os resíduos
o princípio de emissão dessas atividades podem ser tratados
territorial, independentemente dentro ou fora dessa região, gerando
de ser um estado federal ou emissões de GEE em outros lugares.
um município, mas sempre Por isso, é definida como a referência
com uma delimitação local. espacial a região responsável pela
geração das emissões, e não o local
de emissão de GEE. O princípio da
responsabilidade das emissões é
derivado da abordagem do ciclo de vida,
pois a atividade humana é responsável
por gerar resíduos em algum lugar.

5 – Caráter da Um inventário de emissões Na metodologia ACV, são incluídas


quantificação de GEE resulta em um valor as consequências da recuperação
(absoluta e marginal) absoluto das emissões de de materiais e energia que levam
GEE pelas atividades de à redução de emissões de GEE na
gerenciamento de resíduos substituição de matérias-primas e
de um determinado ano e combustíveis fósseis. As mudanças
região; por isso, quanto mais têm um efeito marginal nas emissões
resíduos forem gerados, de GEE; portanto, não são medidos
maior será o valor absoluto os valores absolutos dos cenários
de emissões de GEE, caso não envolvendo a gestão de resíduos. Por
ocorram mudanças na gestão. isso, os dados de entrada não devem
ser alterados, ou seja, trabalha-se com
as mesmas quantidade e tipologia de
resíduos para diferentes cenários.

6 – Apresentação O resultado de um inventário Pela ACV, é fornecido um valor para as


de resultados de GEE é um valor absoluto emissões de GEE por meio de um cenário
para as emissões em um de referência. O resultado é sempre
determinado ano e região; por uma diferença entre duas opções de
isso, é positivo. Considera gerenciamento de resíduos, e pode ser
as séries temporais de positivo ou negativo, dependendo se são
emissões de GEE no passado emissões ou créditos. Não trabalha com
até o ano mais recente linha de tempo, e pode, sim, apresentar
de dados disponíveis. resultados em anos de referência, para
representar etapas de desenvolvimento.
Fonte: Arquivo ProteGEEr.

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 41


Você deve estar se perguntando quando, na prática, cada método deve ser aplicado. Neste
capítulo, foi possível entender o escopo de cada um, a importância da quantificação, e saber que
existem vários métodos para isso. No próximo passo, será necessário apoio técnico (por meio de
consultoria, universidades, equipe interna etc.) para definição da metodologia de acordo com o
objetivo do município.
Dependendo dos desafios a serem implementados, o critério de mitigação pode ser um aliado,
visto que pode abrir portas para uma cooperação internacional, acesso a recursos diversificados,
nacional e internacional, bem como trazer um destaque e protagonismo para o município.

Você sabia?
A Alemanha, nos últimos 30 anos, conseguiu avanços significativos rumo a
uma gestão de resíduos de baixas emissões. De 1990 a 2010, o setor passou
de 38 milhões de toneladas de GEE (3,5% das emissões totais) para 11 milhões
de toneladas (1,6% das emissões nacionais).
Um dos fatores cruciais para esse declínio nas emissões foi a proibição do
aterramento de RSU sem pré-tratamento em 2005, que abriu oportunidade
para o desenvolvimento de tecnologias de tratamento, consolidando o
mercado e reduzindo significativamente as emissões de GEE do setor.

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 42


Aula 3 – Quantificação de emissões

3.1. Exemplos de quantificação das emissões de GEE por meio de diferentes


estratégias de gestão de resíduos
De tudo que falamos até agora, é importante que você tenha
entendido as relações fundamentais da gestão de resíduos com
as mudanças climáticas, de que forma você pode contribuir na
sua gestão local para as metas globais, e quais as estratégias de
mitigação em sua ordem de relevância.
Contudo, dependendo do seu objetivo com a mitigação de emissões
de GEE, você precisará quantificar estas emissões, para poder
monitorar o quanto se está reduzindo e, também, para reportar
como medida de transparência para conseguir algum benefício
adicional, como, por exemplo, um financiamento climático.
Neste tópico, vamos fazer algumas simulações utilizando uma
ferramenta de quantificação de GEE no manejo dos resíduos
sólidos pelo método de ACV, que foi adaptada pelo ProteGEEr
para as condições brasileiras (acompanhe o site do MDR para
informações sobre a publicação da ferramenta). Essa ferramenta já
foi testada em alguns municípios e serviu no processo de tomada
de decisão sobre qual a melhor rota tecnológica a ser implantada
no local e qual o seu impacto no clima.
Cabe ressaltar que, para que os benefícios das ações de gestão
integrada dos resíduos reflitam-se integralmente nas quantifica-
ções das emissões do setor, é importante considerar ferramentas
baseadas na ACV. No caso de quantificações embasadas no modelo IPCC, é importante lembrar
que os benefícios da mitigação de GEE não estarão somente no setor de resíduos, e sim distribuí-
dos também entre os setores de transportes, energia e indústria, conforme ações adotadas e seus
reflexos nestes segmentos.
Neste módulo, iremos utilizar algumas simulações apenas para que você entenda o impacto de
diferentes cenários de gestão de resíduos nas emissões de GEE, e, também, o potencial de uso
desta ferramenta de cálculo de emissões de GEE.
Vamos simular alguns cenários de emissões de GEE para diferentes arranjos de tecnologias de
tratamento e disposição final (rotas tecnológicas) para os resíduos gerados por uma população de
200 mil habitantes.
Consideramos esse contingente populacional, pois a quantidade de resíduos gerada diariamente
possibilita uma escala que dá viabilidade financeira para a implantação de diferentes rotas
tecnológicas, permitindo um leque muito maior de alternativas tecnológicas.

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 43


Nesse sentido, mesmo que o seu município tenha uma população inferior a esse quantitativo simu-
lado, é importante que você considere que algumas tecnologias só terão viabilidade econômica se
forem consideradas soluções regionais compartilhadas (mais detalhes constam nos Módulos de
“Rotas Tecnológicas para a Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Urbanos” deste curso, e de “Im-
plementação de Consórcios Públicos de Manejo de RSU” no curso EaD Fundamentos e Premissas
Chave para a Gestão Sustentável de Resíduos Sólidos Urbanos). Portanto, as rotas tecnológicas
simuladas para 200 mil habitantes podem ser entendidas como sendo o resultado para um único
município ou para um conjunto de municípios menores compartilhando uma solução regional de
tecnologia de tratamento e/ou disposição final dos seus resíduos.
Para essa população de 200 mil habitantes, simulamos alguns cenários de valorização de resíduos
e consequente desvio da disposição final descritos na tabela 4. Você poderá perceber os benefícios
para a proteção do clima na figura 27.

Tabela 4 – Cenários de quantificação de emissões considerando diversas estratégias de gerenciamento de resíduos

Biogás para Reciclagem e CDR (% do total


Cenários simulados
eletricidade¹ compostagem de rejeitos)

Aterro sanitário com Não Não Não


drenagem de biogás,
mas sem destruição ou
aproveitamento do gás

Cenário 1 com Sim Não Não


aproveitamento do biogás
para geração de eletricidade¹

Cenário 2 + reciclagem de Sim 30% secos (desvio de Não


30% dos resíduos secos e aproximadamente 10%
30% dos resíduos orgânicos da massa total de RSU);
30% orgânicos (desvio de
aproximadamente 15%
da massa total de RSU)

Cenário 3 + aproveitamento Sim 30% secos; 20%


de 20% dos rejeitos como 30% orgânicos (desvio de
CDR para coprocessamento aproximadamente
15% da massa
total de RSU)
Fonte: Arquivo ProteGEEr.
Nota: ¹ Eficiência média da coleta de biogás de 50% ao longo de toda a vida útil do aterro,
considerando existência de instrumentos econômicos de remuneração do CO2 mitigado.

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 44


Os principais dados de entrada da simulação foram: (i) geração per capita de 0,96 kg/habitante/dia
(média do Brasil), totalizando 80.505 toneladas por ano; e (ii) composição gravimétrica com 51,4%
de orgânicos/36,6% de recicláveis secos/12% de rejeitos (média Brasil, versão Planares 2011). Um
detalhamento da composição dos resíduos utilizada nas simulações está na tabela 5.
Tabela 5 – Composição de resíduos por frações

Composição Média Brasil (versão Planares 2011)

Resíduos de alimentos 48,4%


Resíduos de jardins e parques 3,0%
Papel, papelão 13,1%
Plásticos 13,5%
Vidros 2,4%
Metais ferrosos 2,3%
Alumínio 0,6%
Têxteis 2,6%
Borracha, couro 0,7%
Fraldas (fraldas descartáveis) 4,0%
Madeira 4,7%
Resíduos minerais 0,0%
Outros 4,7%
Total (deve ser 100%) 100,00%
Elaboração dos autores e autoras.

Os resultados obtidos nos quatro cenários simulados, conforme tabelas 4 e 5, podem ser observados
na figura 26.

Figura 26 – Resultado comparativo das simulações de emissões de GEE nos quatro cenários

Fonte: Arquivo ProteGEEr.

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Como pode-se observar na figura 27, o cenário 1, que tem todos os resíduos coletados (80.505
toneladas anuais) sendo encaminhados para um aterro sanitário, sem aproveitamento energético
do biogás, é o pior cenário do ponto de vista climático, com a emissão líquida de GEE de 131.741.112
toneladas de CO2 eq/ano, devido à alta concentração de metano contida neste biogás, o qual,
apesar de ser coletado, não é “destruído” no aterro sanitário. Cabe ressaltar que não há nenhuma
emissão de GEE evitada neste cenário.
Apesar de também aterrar todos os resíduos coletados (80.505 toneladas anuais), o cenário
2 emite somente 65.285.386 toneladas de CO2 eq/ano. Como há a queima do biogás coletado
gerando eletricidade, o metano é transformado em CO2, reduzindo seu potencial efeito estufa e
gerando a compensação de um “crédito” de 1.007.671 toneladas de CO2 eq/ano, cuja emissão foi
evitada devido à substituição da fonte de energia elétrica pelo uso do biogás. Este montante pode
ser abatido das emissões geradas, resultando em uma emissão “líquida” de 64.277.715 toneladas
de CO2 eq/ano.
Ou seja, apenas com a implantação de um sistema de captação centralizado e eficiente, que utiliza
o biogás do aterro sanitário para a geração de eletricidade, há uma redução de 51,2% das emissões
de GEE em relação ao cenário 1!
Verifica-se, portanto, que a implantação dessa alternativa tecnológica (aproveitamento do
biogás coletado para gerar eletricidade) em um aterro sanitário é muito efetiva do ponto de vista
de proteção do clima. Além das questões relativas à proteção ao clima, esta opção tecnológica
traz outros benefícios adicionais: (i) aumento da segurança do aterro sanitário, pela queima de
gases inflamáveis e explosivos; (ii) melhoria da qualidade ambiental da área, reduzindo os odores
oriundos da liberação do metano; (iii) geração de receitas acessórias, pelo uso e pela potencial
comercialização da eletricidade gerada a partir da queima do biogás; e (iv) melhoria da operação
do aterro, conforme necessidade de monitoramento e de garantida da eficiência da queima para
remuneração das emissões evitadas.
O cenário 3 emite 57.257.025 toneladas de CO2 eq/ano, com uma redução no quantitativo de
resíduos aterrados, que passa a ser de 60.386 toneladas. São mantidos os benefícios climáticos
advindos do aproveitamento energético do biogás para gerar eletricidade. Como, adicionalmente,
há a reciclagem de 30% da fração seca e de 30% da fração orgânica pela compostagem, é gerado
um “crédito” total de 14.931.177 toneladas de CO2 eq/ano de emissões evitadas. Fazendo a
compensação destas parcelas, a emissão “líquida” é de 42.325.848 toneladas de CO2 eq/ano.
Ou seja, ao reciclar 30% dos resíduos secos e compostar 30% dos resíduos orgânicos, há uma
redução de 34,2% das emissões de GEE em relação ao cenário 2. Em relação ao cenário 1, há uma
redução de 67,9% das emissões de GEE.
Verifica-se, portanto, que a implantação dessas duas alternativas tecnológicas (reciclagem dos
resíduos secos e compostagem dos resíduos orgânicos) também é muito efetiva do ponto de vista
de proteção do clima. Como a simulação do cenário 3 manteve os critérios do aterro sanitário
do cenário 2 (aproveitamento do biogás para gerar eletricidade), além dos benefícios já descritos
no cenário 2, há outros adicionais na adoção desta rota tecnológica: (i) aumento da vida útil
do aterro sanitário, pela redução de resíduos efetivamente aterrados; (ii) geração de potenciais

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 46


ganhos e sinergias para a agricultura na região, pela produção e pela potencial comercialização
do composto orgânico; (iii) geração de receitas acessórias, pela comercialização dos materiais
recicláveis secos; e (iv) potencial aumento da geração de trabalho e renda se a reciclagem estiver
em um contexto que contempla a inclusão das cooperativas de catadores e catadoras de materiais
recicláveis, conforme preconiza a legislação (Lei nº 12.305/2010 e Lei nº 14.445/2017).
O cenário 4 emite 49.282.125 toneladas de CO2 eq/ano, com envio menor de resíduos ao aterro, de
apenas 48.309 toneladas. São mantidos os benefícios climáticos advindos da redução de emissões
pelo aproveitamento energético do biogás para gerar eletricidade, e pela reciclagem de 30% da
fração seca e de 30% da fração orgânica pela compostagem. Como há o coprocessamento de 20%
dos rejeitos como CDR (12.077 toneladas por ano), é gerado um “crédito” de 9.771.501 toneladas
de CO2 eq/ano, perfazendo um total de 26.642.428 toneladas de CO2 eq/ano de emissões evitadas
por todas as tecnologias implantadas. Fazendo a compensação destas parcelas (emissões
evitadas pelo aproveitamento do biogás, emissões evitadas pela reciclagem de secos e orgânicos,
emissões evitadas pela produção e coprocessamento de CDR), a emissão “líquida” é de 22.639.697
toneladas de CO2 eq/ano.
Ou seja, com a implantação incremental de processos que possibilitem o aproveitamento de 20%
dos rejeitos como CDR, há uma redução de 46,5% das emissões de GEE em relação ao cenário 3.
Em relação ao cenário 2, há uma redução de 64,8% das emissões de GEE; e, em relação ao cenário
1, há uma redução de 82,8% das emissões de GEE.
Verifica-se, portanto, que a implantação dessas alternativas tecnológicas (reciclagem dos
resíduos secos e compostagem dos resíduos orgânicos) também é muito efetiva do ponto de
vista de proteção do clima. Como a simulação do cenário 4 manteve os critérios do cenário 2
(aproveitamento do biogás para gerar eletricidade, reciclagem de 30% dos resíduos secos e
compostagem de 30% dos orgânicos), além dos já descritos no cenário 3, há outros benefícios na
adoção desta rota tecnológica: (i) aumento adicional da vida útil do aterro sanitário, pela redução
ainda maior de resíduos efetivamente aterrados; (ii) geração de potenciais ganhos e sinergias
da indústria cimenteira e da construção civil na região, pela implantação de uma instalação para
efetuar a produção do CDR; e (iii) geração de receitas acessórias, pela comercialização do CDR.
Na tabela 6, que apresenta os resultados quantitativos das simulações realizadas, pode-se observar,
em cada cenário: (i) as emissões totais, tanto relativas a cada tratamento realizado quanto ao
aterramento dos rejeitos no aterro sanitário; (ii) as emissões evitadas, relativas aos diferentes
tratamentos realizados somadas às do processo tecnológico do aterramento dos rejeitos no aterro
sanitário; e (iii) as emissões líquidas, resultado da subtração das emissões evitadas daquelas
totais, ou seja, faz a compensação entre ambas.

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 47


Tabela 6 – Resultados das simulações de emissões de GEE nos quatro cenários

Toneladas Emissões totais Emissões evitadas Emissões líquidas


Cenários aterradas/ (toneladas de (toneladas de (toneladas de
ano CO2 eq/ano) CO2 eq/ano) CO2 eq/ano)

1 80.505 131.741.112 0 131.741.112

2 80.505 65.285.386 -1.007.671 64.277.715

3 60.386 57.257.025 -14.931.177 42.325.848

4 48.309 49.282.125 -26.642.428 22.639.697


Fonte: Arquivo ProteGEEr.

Pode-se verificar, portanto, que, à medida que se “desviam” mais resíduos da disposição final
pelo aterramento – com a implantação de mais processos de tratamento na respectiva “rota
tecnológica” –, há uma redução proporcional na emissão dos GEEs desta rota, e, também, há um
aumento nos benefícios gerados.
Nesse sentido, fica claro que o potencial de redução de emissões de GEE deve ser sempre um dos
parâmetros a ser incorporado na tomada de decisão da pessoa responsável pela gestão municipal,
para uma melhor definição da rota tecnológica mais adequada para a gestão dos resíduos sólidos
do seu município e da sua região.

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 48


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10-emitters-and-how-theyve-changed. Acesso em: 4 maio 2020.

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 52


Material de apoio
BRASIL. Decreto nº 5.445, de 12 de maio de 2005. Promulga o Protocolo de Quioto à Convenção-
Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, aberto a assinaturas na cidade de Quioto,
Japão, em 11 de dezembro de 1997, por ocasião da Terceira Conferência das Partes da Convenção-
Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Diário Oficial da União, Brasília, 2005.
Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2005/decreto-5445-12-maio-2005-
536824-publicacaooriginal-28134-pe.html. Acesso em: 4 maio 2020.
______. Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. 4º Relatório das Estimativas
Anuais de Emissões de Gases de Efeito Estufa. Brasília: MDIC, 2017. Disponível em: https://sirene.
mctic.gov.br/portal/opencms/. Acesso em: 4 maio 2020.
______. Ministério da Ciência e Tecnologia. Ministério das Relações Exteriores. Convenção-Quadro
das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima. Editado e traduzido pelo Ministério da Ciência e
Tecnologia com o apoio do Ministério das Relações Exteriores da República Federativa do Brasil.
Brasília: MCT; MRE, [s.d.]a. Disponível em: https://cetesb.sp.gov.br/proclima/wp-content/uploads/
sites/36/2014/08/convencaomudancadoclima.pdf. Acesso em: 4 maio 2020.
______. Pretendida Contribuição Nacionalmente Determinada para Consecução do Objetivo da
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Brasília: Itamaraty, [s.d.]b.
Disponível em: http://www.itamaraty.gov.br/images/ed_desenvsust/BRASIL-iNDC-portugues.pdf.
Acesso em: 4 maio 2020.
NAÇÕES UNIDAS. Acordo de Paris. Paris: Nações Unidas, 2015. Disponível em: https://nacoesunidas.
org/acordodeparis/. Acesso em: 4 maio 2020.

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa 53


Glossário
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima: a UNFCCC, do inglês United
Nations Framework Convention on Climate Change, tem o objetivo de estabilizar as concentrações
de GEE na atmosfera em um nível que impeça uma interferência humana perigosa no sistema
climático.

Destinação final ambientalmente adequada: destinação de resíduos que inclui a reutilização, a


reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético ou outras destinações
admitidas pelos órgãos competentes do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama), do
Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS) e do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade
Agropecuária (Suasa). Entre elas encontra-se a disposição final, observando normas operacionais
específicas, de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os
impactos ambientais adversos.

Gases de efeito estufa (GEEs): são substâncias gasosas que absorvem e emitem calor. Embora esse
processo seja natural, a concentração de certos gases pode causar o aumento do aquecimento.
Esta é a principal causa do efeito estufa. Os GEEs emitidos pelo setor de resíduos sólidos são
compostos predominantemente de metano, dióxido de carbono e óxido nitroso.

Hierarquia de gerenciamento de resíduos: seis etapas adotadas no art. 9º da PNRS (BRASIL, 2010)
definindo que, na gestão e no gerenciamento de resíduos sólidos, deve ser observada a seguinte
ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos
sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.

IPCC: o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (Intergovernmental Panel on


Climate Change) é o órgão mundial mais importante na avaliação das mudanças climáticas. Ele foi
fundado em 1988 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) em conjunto
com a Organização Meteorológica Mundial (WMO). Seu objetivo é apresentar cientificamente o
estado da arte sobre as mudanças climáticas e seu potencial impacto. Desde a sua criação, o IPCC
elaborou cinco relatório de avaliação sobre mudanças climáticas e está, atualmente, trabalhando
no sexto.

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