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Impactos da Mudança do Clima

para a Gestão Municipal


Sumário

ÍconesOrganizadores ................................................................................................ 6

Conhecendo o Curso. ...............................................................................................7

Unidade 1. Mudança do Clima, Adaptação e Mitigação Noções Gerais ................. 9

1. Introdução. ..................................................................................................................... 9

2. Efeito estufa ................................................................................................. 10

3. Mudança de Clima – Rio 92 .......................................................................... 12

3.1 Convenção-Quadro das Nações Unidades sobre mudança do clima ...... 13

4. Protocolo de Quioto. ..................................................................................... 15

4.1 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL ................................... 18

5. Outras iniciativas ...........................................................................................21

5.1 Rio +20. ................................................................................................. 21

5.2 Compensação de emissões durante a Copa de 2014. ......................... 22

6. Adaptação aos efeitos adversos da mudança do clima ................................ 23

7. Consequências da mudança do clima .......................................................... 25

8. Relatórios de Avaliação do IPCC. ................................................................. 26

8.1 Quarto Relatório de Avaliação do IPCC. ..............................................26

8.2 Quinto Relatório de Avaliação do IPCC. ............................................... 28

9. Encerramento. ............................................................................................... 30

Unidade 2. Mitigação. .............................................................................................. 32

1. Introdução. .................................................................................................................. 32

2. Mitigação. ...................................................................................................... 33
2.1 Definição e Objetivos ............................................................................33

2.2 Atores relevantes .................................................................................. 34

2.3 Protocolo de Quioto – Metas e Mecanismos ......................................... 35

2.4 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) ....................................36

2.5 Alguns programas que contribuem com o efetivo efeito de mitigação. ...... 38

2.6 Outras iniciativas brasileiras de mitigação – NAMAS. .......................... 40

2.7 Outras iniciativas brasileiras de mitigação – Planos Setoriais ..............42

2.8 Outras iniciativas brasileiras de mitigação – REDD+ ............................ 43

2.9 Outras iniciativas brasileiras de mitigação – INDCs ............................. 44

3. Conceitos de adicionalidade, leakage (fuga) e permanência. ......................45

4. Exemplos de ações de mitigação em setores diversos................................. 47

4.1 Projetos MDL de aterros sanitários ....................................................... 48

4.2 Projetos MDL de Reflorestamento / Florestamento. .............................49

4.3 Agricultura – Plantio direto. .................................................................. 50

4.4 Agricultura – Recuperação de áreas degradadas ................................ 51

4.5 Biodiesel. ............................................................................................... 51

4.6 Energia. ................................................................................................. 52

5. Encerramento. ............................................................................................... 57

Unidade 3. Adaptação. ............................................................................................ 54

1. Introdução. .................................................................................................................. 54

2. Adaptação. .................................................................................................................. 55

2.1 Definição, Objetivos e Tipos .................................................................. 55

2.2 Priorização de atividades ...................................................................... 57

3. Exemplos de ações de adaptação em setores diversos ...............................61

3.1 Energia. ................................................................................................. 62

3.2 Agropecuária. ........................................................................................62


3.3 Floresta e Biodiversidade. ..................................................................... 63

3.4 Saúde. ................................................................................................... 63

3.5 Zona Costeira e Áreas Urbanas ........................................................... 64

4. Interação entre adaptação e mitigação. ........................................................ 66

5. Conclusões e recomendações ...................................................................... 68

6. Encerramento. ............................................................................................... 71

Referências bibliográficas........................................................................................ 72
Nos conteúdos, você encontrará alguns símbolos (ícones).
Veja o que significa cada um deles!

ATENÇÃO – No conteúdo, existem conceitos, idéias, lembretes que são


importantes. Por isso, sempre que você vir tais destaques, no interior de um
quadro azul, ATENÇÃO!

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM – Ao realizar um curso, existem


conhecimentos, habilidades e atitudes (CHA) que você precisa desenvolver.
Os objetivos indicam esse conjunto de aprendizagem que deve ocorrer ao
finalizar uma Unidade de estudo e também ao concluir o curso. Por isso,
fique de olho nas descrições dos objetivos de aprendizagem.

SAIBA + – Além dos assuntos essenciais apresentados, o que existe


que possa contribuir com o progresso de sua aprendizagem? O SAIBA
+ traz endereços de sites, textos complementares, aprofundamentos
de idéias, curiosidades sobre os temas estudados.

RESUMO – Para facilitar a visão geral do que foi explorado, finalizamos


cada Unidade com uma síntese dos principais assuntos abordados.

Atualmente, a mudança do clima é tratada


como uma das ameaças mais relevantes ao
meio ambiente global!

Mas este não é um problema apenas


ambiental, pois suas causas estão ligadas aos
modelos de desenvolvimento adotados. Além
disso, seus efeitos serão sentidos por todos os
países, mas em maior intensidade nos países e
nas regiões mais pobres.

E se nada for feito para amenizar esses


efeitos, os gastos envolvidos serão de grande magnitude, afetando a sustentabilidade
do crescimento econômico e acirrando as desigualdades sociais.

Reconhecendo a mudança do clima como "uma preocupação comum da


humanidade", durante a Rio 92, os governos de 154 países assinaram a Convenção-
Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.

A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre


Mudança do Clima (sigla em inglês UNFCCC – Os principais gases de efeito estufa
United Nations Framework Convention on Climate de origem antrópica são o dióxido de
Change), de acordo com o seu art. 2º, tem como carbono (CO2), o metano (CH4), o
objetivo central estabilizar as concentrações de
óxido nitroso (N2O), os Perflúorcabonos
gases de efeito estufa na atmosfera a um nível
que impeça uma perigosa interferência antrópica (PFCs – principalmente CF4 e C2F6),
(interferência no meio causada por atividade / os hidrofluorcarbonos (HFCs) e o
intervenção humana) no sistema climático. hexafluoreto de enxofre (SF6).

Atualmente existem 195 Partes da Convenção (194 países e a União Europeia), e por meio
dela propõe-se a elaboração de uma estratégia global para proteger o sistema climático para as
gerações atuais e futuras.

A Convenção também prevê que “as medidas para enfrentar a mudança do clima devem ser
coordenadas, de forma integrada, com o desenvolvimento social e econômico, de maneira a
evitar efeitos negativos neste último, levando plenamente em conta as legítimas necessidades
prioritárias dos países em desenvolvimento para alcançar um crescimento econômico sustentável
e erradicar a pobreza”.

Com isso em mente, neste curso, exploraremos os conceitos básicos do


tema mudança do clima, as principais causas do problema, e os aspectos principais
das abordagens de mitigação e adaptação.
Veja, então, como é importante conhecermos e refletirmos sobre esse
tema na tomada de decisão e na escolha de medidas a serem tomadas.
O crescimento econômico em bases sustentáveis é fundamental para
reduzir as desigualdades sociais e permitir que milhões deixem a
perversa condição de pobreza.

Além disso, proteger e conservar o meio ambiente são um dos principais


desafios políticos que os países devem abordar para garantir o
desenvolvimento sustentável. Esta é uma demanda social básica, mas
pode requerer grandes investimentos científicos e econômicos.

Para facilitar a sua aprendizagem, distribuímos esses assuntos em três


(3) Unidades:

Unidade 1 – Mudança do clima, adaptação e mitigação – Noções Gerais.

Unidade 2 – Mitigação.

Unidade 3 – Adaptação.

O curso está direcionado principalmente aos governos estaduais e locais,


podendo facilitar a incorporação da questão da mudança do clima no processo de
planejamento fiscal e orçamentário.

Objetivos Gerais

Ao concluir o estudo deste curso, esperamos que você possa:

• Analisar as consequências da mudança global do clima;


• Indicar a relação entre adaptação e mitigação, considerando os
respectivos objetivos, princípios e contextos.

Boa caminhada!
Unidade 1
Mudança do Clima, Adaptação e Mitigação
Noções Gerais

1. Introdução

Mudança do clima. . . Efeito Estufa. . .


O que são? Como ocorrem?
Quais os impactos adversos da mudança do clima?
O que se tem feito para lidar com isso?

Não há dúvida que exploraremos assuntos vitais para a nossa vida e a vida
do planeta, não é mesmo? Por isso, vamos conversar sobre aspectos importantes
do efeito estufa; de dois princípios fundamentais da Convenção-Quadro (Princípio
da Precaução e Princípio das Responsabilidades Comuns, mas diferenciadas), e
do Protocolo de Quioto. Veremos também os impactos da mudança do clima e o
que os Relatórios de Avaliação do IPCC nos dizem sobre o tema.
Objetivos de aprendizagem

Assim, esperamos que, ao concluir esta Unidade, você possa:

• Definir o que é Efeito Estufa;


• Identificar as características do Princípio da Precaução;
• Identificar as características do Princípio das
Responsabilidades comuns, mas diferenciadas;
• Descrever os principais aspectos do Protocolo de Quioto;
• Descrever as consequências gerais da mudança do clima.

2. Efeito estufa

Os gases de efeito estufa existem naturalmente na atmosfera e são


responsáveis por manterem a Terra mais quente do que ela seria sem a existência
desses gases. Os principais gases de efeito estufa naturais são o vapor d'água, o
dióxido de carbono (CO ), o ozônio (O ), o metano (CH ), o óxido nitroso (N O).
2 3 4 2

Vamos entender melhor o efeito estufa...


Imagine um carro fechado ou uma estufa de plantas.
Se os vidros do carro ou da estufa estão fechados,
o calor é retido, não é mesmo? Pois é, do mesmo
modo, os gases da atmosfera são responsáveis por
reter a energia (em forma de calor). Observe a figura
a seguir que ilustra o fenômeno do efeito estufa.

Esse efeito estufa natural tem mantido a


atmosfera da Terra por volta de 30oC mais quente
do que ela seria na ausência dele, possibilitando a
existência da vida como conhecemos no planeta.

Caso o efeito estufa não existisse a temperatura


média global da superfície terrestre seria cerca de
15oC negativos, atualmente esta temperatura média é de cerca de 14oC positivos.

Mas as ações provenientes das atividades humanas – como geração de


energia, produção agrícola e urbanização – têm acentuado a concentração desses
gases na atmosfera, gerando um aumento na absorção do calor.
Junto com o modelo de produção e consumo iniciados pela Revolução
Industrial, houve uma intensificação das emissões desses gases por ações humanas.
Por causa do longo tempo que os gases de efeito estufa (GEE) permaneceram
na atmosfera, as emissões históricas trazem um grande impacto na concentração
atual de GEE.

O aumento dessa concentração reflete a ampliação dos padrões de consumo


das sociedades.

O que aconteceu ao longo do tempo...

http://www.afujimoto.com/index.php/11-noticias/253-taxa-de-concentracao-de-co2-atinge-niveis-recordes

Sobre o IPCC

Em 1988, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) e o Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente (PNUMA) estabeleceram o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima
(IPCC), para fornecer informações científicas, técnicas e socioeconômicas relevantes para o
entendimento da mudança do clima para a sociedade e para os formuladores de políticas.
O IPCC avalia as informações científicas, técnicas e socioeconômicas mais significativas
para contribuir na compreensão sobre os riscos da mudança do clima, seus impactos e as
possíveis alternativas de adaptação e mitigação, consolidando essas informações em relatórios
periodicamente publicados.

O conhecimento científico produzido pelo IPCC é demonstrado por meio de seus relatórios, os
Assessment Reports (ARs) – Relatórios de Avaliação. O 1º relatório foi emitido em 1990; o 2º,
em 1995; o 3º, em 2001; o 4º, em 2007, e o 5º, em 2014.

http://ipcc.ch/index.htm
http://www.ipcc.ch/organization/organization.shtml#.Unkh83k_1c8
http://www.climatescience.org.au/sites/default/files/WGIAR5-SPM
Esses outros gases Adicional ao CO2, outros gases, com propriedades similares de reter
são os calor, foram criados por causa de diversas atividades econômicas e passaram
hidrofluorcarbonos
(HFCs), os
a ser lançados intensamente na atmosfera.
perfluorcarbonos
(PFCs), o hexafluoreto
de enxofre (SF 6), os
clorofluorcarbonos A mudança do clima é comumente chamada de aquecimento
(CFCs) e os global porque uma das consequências mais prováveis da existência
hidroclorofluorcarbonos de concentrações maiores de GEE na atmosfera é o aumento da
(HCFCs).
temperatura média da superfície do planeta. Mas o aumento de
temperatura traz outros efeitos igualmente importantes, podendo
provocar novos padrões de ventos, chuvas e circulação dos oceanos.

3. Mudança de Clima – Rio 92

Diante das preocupações com a mudança do clima por conta da


emissão de gases de efeito estufa e outros temas ligados ao desenvolvimento
sustentável foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente
e Desenvolvimento, conhecida como RIO 92, na cidade do Rio de Janeiro, em
1992.

Nesse encontro foi adotada a Convenção-Quadro das Nações Unidas


sobre Mudança do Clima, assinada durante a “Cúpula da Terra”. O Brasil foi
a primeira Nação a assinar a Convenção, a qual entrou em vigor no país em
1994, depois de ser ratificada pelo Congresso Nacional. Vejamos um pouco
mais sobre isso.
3.1 Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre mudança do clima

A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima é


baseada em diversos princípios básicos. Vamos conversar sobre dois deles, que
são os seus pilares principais.

1. Princípio da Precaução
Esse princípio diz que a falta de plena certeza científica não
deve ser usada como razão para que os países posterguem a adoção
de medidas para prever, evitar ou minimizar as causas da mudança
do clima e mitigar seus efeitos negativos.

2. Princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas


Este princípio é base para o estabelecimento de compromissos
dos países e reflete a condição de que a maior parcela da
concentração de GEE na atmosfera é fruto de emissões históricas
originária principalmente dos países desenvolvidos, que iniciaram o
processo de industrialização há dois (2) séculos.

Para entender melhor esse conceito, imagine o seguinte... 200 amigos


marcaram uma confraternização em um restaurante, em um horário específico.
Porém, 40 colegas resolveram chegar 4 horas antes do combinado e iniciaram o
consumo de bebidas e alimentos bastante caros.
2. Princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas
(continuação)
Os outros 160 colegas chegam no horário
agendado e, após 30 minutos de confraternização,
os 40 colegas que chegaram mais cedo resolvem
voltar para casa e solicitam que a conta seja
dividida igualmente pelos 200 amigos.

Para evitar problemas entre os amigos, adota-se o


princípio das responsabilidades comuns mas diferenciadas. A
responsabilidade da conta é comum entre todos aqueles que
consumiram algo durante a confraternização, mas elas devem
ser diferenciadas, para não ocorrer divisão desproporcional
dos custos.

Por isso, a Convenção prevê que os países desenvolvidos devem tomar


a iniciativa no combate à mudança do clima e aos seus efeitos. Ou seja, a
responsabilidade do aquecimento global e seus efeitos sentidos hoje é daqueles
países que tiveram seu processo de industrialização desde a Revolução Industrial.

A Convenção também observa que:

▪ a maior parcela das emissões globais, históricas e atuais, de gases de


efeito estufa é originária dos países desenvolvidos e ainda representam
a maior parcela das emissões globais;
▪ as emissões de países em desenvolvimento de industrialização
recente aumentaram de maneira significativa nos últimos 10 anos,
porém as emissões per capita dos países em desenvolvimento ainda
são relativamente baixas, e
▪ a parcela de emissões globais originárias dos países em
desenvolvimento crescerá para que eles possam satisfazer suas
necessidades sociais e de desenvolvimento.
No âmbito da Convenção com base no princípio das responsabilidades comuns, mas
diferenciadas, foram estabelecidos, basicamente, dois grupos de países: as Partes do Anexo I,
ou seja, países que são listados no Anexo I do texto da Convenção, e as Partes não-Anexo I, ou
seja, que não são listadas no referido Anexo.

A lista de países do Anexo I é Alemanha, Austrália, Áustria, Belarus(a), Bélgica, Bulgária(a),


Canadá, Comunidade Europeia, Croácia (a), Dinamarca, Eslovaquia(a), Eslovênia*, Espanha,
Estados Unidos da América, Estônia(a), Federação Russa(a), Finlândia, França, Grécia, Hungria(a),
Irlanda, Islândia, Itália, Japão, Letônia(a), Liechtenstein*, Lituânia(a), Luxemburgo, Mônaco*,
Noruega, Nova Zelândia, Países Baixos, Polônia(a), Portugal, Reino Unido da Grã-Bretanha e
Irlanda do Norte, República Tcheca(a)*, Romênia(a), Suécia, Suíça, Turquia, Ucrânia(a).

(a) Países em processo de transição para uma economia de mercado.

* Nota do Editor: Países que passaram a fazer parte do Anexo I mediante emenda que entrou em
vigor no dia 13 de agosto de 1998, em conformidade com a decisão 4/CP.3 adotada na COP 3.

4. Protocolo de Quioto

Agora, vamos conversar sobre o Protocolo de Quioto,


o seu Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL (que
nasceu de uma proposta brasileira, em 1997), sobre a Rio+20
e a iniciativa de compensação de emissões durante a COPA
de 2014.

O Protocolo de Quito é um tratado internacional que


estabeleceu compromissos para os países industrializados de
redução de pelo menos 5%, em relação aos níveis de 1990,
das emissões antrópicas combinadas de gases de efeito
estufa para o período de 2008–2012 sob a Convenção-Quadro das Nações Unidas
sobre Mudança do Clima.

Mesmo que ainda não existam compromissos adicionais de redução de


emissões de gases de efeito estufa para os países em desenvolvimento, há algumas
possibilidades importantes:

1) desenvolver projetos para reduzir emissões no Brasil, no âmbito do


Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, com a consequente emissão de unidades
de Redução Certificada de Emissão (RCEs), e

2) venda a países industrializados para a utilização de seus compromissos


quantificados de limitação e redução de emissão assumida no âmbito deste Protocolo.
Os países Em dezembro de 2011, durante a COP17-CMP7,
membros da na cidade de Durban (África do Sul), a Convenção
Convenção- aprovou a decisão que estabelece um segundo período
Quadro se
reúnem de compromisso do Protocolo de Quioto, a partir de
periodicamente primeiro de janeiro 2013. Assim, juridicamente, os
nas chamadas mecanismos de Quioto, como o MDL, também estarão
Conferência das válidos para o segundo período de compromisso.
Partes (COPs).

A decisão sobre a data de término (2017 ou


2020) e dos números das metas dos países do Anexo
I no segundo período de compromisso foi definida na COP18-CMP8.

http://unfccc.int/meetings/doha_nov_2012/session/7050/php/view/decisions.php

A seguir, vamos conhecer um pouco sobre as COPs 18, 19 e 20. E fique


de olho na COP21!

COP 18/ MOP 8 –


Doha, Catar
(Novembro /
Dezembro 2012)
COP18 – Entre novembro e dezembro de 2012, em Doha (Catar),
durante a 18ª. Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do clima,
The Doha
Climate ocorreu a 8ª. Conferência das Partes na qualidade de Reunião das Partes no
Gateway Protocolo de Quioto (CMP). Desse encontro participaram 193 países, com o
objetivo principal de realizar um acordo final para orientar as metas de redução
de emissões de gases de efeito estufa (GEE) para os países do Anexo I para
seu segundo período de compromisso (iniciado em 2013 e acordado de ser
finalizado até o ano 2020).

COP 19/ CMP 9 –


Varsóvia, Polônia
(Novembro de
2013)

Warsaw Outcomes

COP19 – No período de 11 à 23 de novembro de 2013, em Varsóvia


(Polônia), ocorreu a COP 19 e a CMP9 do Protocolo de Quioto. Essa COP/
CMP foi marcada por impasses entre os países desenvolvidos e os em
desenvolvimento, quanto à redução das emissões de gases de efeito estufa.
Dentre as decisões tomadas em Varsóvia, destacam-se o mecanismo
internacional sobre perdas e danos (loss & damage), o financiamento climático
e o Marco de Varsóvia para desmatamento e à degradação florestal (REDD+).
COP20 – Ocorreu, entre 01 e 12 de dezembro de 2014, em Lima (Peru),
a COP20 (CMP10). Participaram 196 representantes de governos que integram
a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, com o http://unfccc.
objetivo maior de fazer um “esboço” de um documento que exigirá das nações int/meetings/
participantes da Convenção a adoção de medidas como o corte de emissões lima_dec_2014/
de gases de efeito estufa; a adaptação à mudança do clima; o tratamento das meeting/8141.php
questões sobre perdas e danos causados pelos impactos adversos da mudança
do clima; finanças; desenvolvimento e transferência de tecnologias, capacitação
e transparência de ação e apoio.

O texto final intitulado “O chamado de Lima para a ação para o clima”


aponta os elementos principais do próximo acordo global do clima, a ser
detalhado e posteriormente aprovado no fim de 2015, durante a COP 21, em
Paris. Sua versão final deixa claro que as responsabilidades entre os países são
diferenciadas. Se aprovado, seu conteúdo passará a vigorar a partir de 2020.

O CHAMADO DE LIMA PARA A AÇÃO PARA O CLIMA

Este chamado foi um passo relevante para construir um acordo com o objetivo
de alcançar a participação universal e melhorar ainda mais a implementação
plena, efetiva e sustentada dos princípios e disposições da Convenção-
Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, seus compromissos, e
reforçar o regime multilateral no âmbito da Convenção, a fim de alcançar seu
objetivo conforme estabelecido no seu artigo 2º.

Todas as partes devem se esforçar para alcançar uma economia e sociedade


resilientes de baixa emissão de gases de efeito estufa, com base na equidade
e de acordo com suas responsabilidades históricas, suas responsabilidades
comuns, mas diferenciadas e respectivas capacidades, a fim de alcançar o
desenvolvimento sustentável, a erradicação da pobreza e prosperidade para
o benefício das gerações presentes e futuras da humanidade.

http://unfccc.int/meetings/lima_dec_2014/session/8532.php
Fique de olho!
http://www.
ecodebate.com.
br/2014/04/22/
cop21-a- COP21 – Ocorrerá entre 30 de novembro e 11 de dezembro de 2015,
conferencia- em Paris, com o objetivo maior de concluir um acordo global para lidar com a
de-2015-
sobre-o-clima-
mudança do clima. Esse novo acordo deverá substituir o Protocolo de Quioto,
artigo-de-jose- de 1997, e, se acordado e aprovado, entrará em vigor a partir de 2020.
goldemberg/
A conferência de Paris buscará adotar um novo protocolo com a
possibilidade de incluir a participação de todos os países.

4.1 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL

O MDL foi um grande sucesso, no Brasil. Além de ter sido uma grande
oportunidade para implementar projetos baseados nos
princípios do desenvolvimento sustentável (um terceiro
princípio fundamental da Convenção), representou uma
oportunidade para as companhias e instituições públicas
brasileiras desenvolverem projetos de redução de emissão,
De acordo com o pelo uso de energias renováveis ou pelo aumento de
artigo 10, alínea eficiência energética.
c do Protocolo
de Quioto, todas
as Partes devem O MDL também apresentou oportunidades de
tomar todas projetos por meio do uso de combustíveis renováveis, o
as medidas aproveitamento de metano para cogeração de eletricidade
possíveis para
promover, facilitar e energia térmica na suinocultura, tratamento de resíduos
e financiar, com a transformação de lixões em aterros sanitários, com a
conforme o caso, consequente melhoria das condições sanitárias e de saúde.
a transferência
ou o acesso
a tecnologias, Na implementação desses projetos, houve a possibilidade de
know-how, transferir tecnologia e recursos externos de empresas e fundos públicos de
práticas e
processos
países do Anexo I interessadas em obter reduções certificadas de emissão.
ambientalmente
seguros relativos
Essa transferência de tecnologia ocorria por meio de contratos
à mudança
do clima, em de transferências de tecnologia e conhecimento (know-how), liberação de
particular para licenças e patentes, parcerias com centros de pesquisa ou universidades,
os países em parceriascomórgãospúblicos,realizaçãodecursos,estágiosetreinamentos,
desenvolvimento.
consultorias, assistência técnica especializada, aperfeiçoamento de
tecnologia e/ou ciência já existente, troca de experiências, dentre outros.

Agora, vamos conhecer um pouco mais a situação de Projetos de


MDL, no mundo, entre 2011 a 2014.
 1. Projetos até junho/2011
Um total de 7.742 projetos encontrava-se em alguma fase do ciclo de projetos
do MDL, sendo 3.214 já registrados pelo Conselho Executivo do MDL e 4.528 em
outras fases do ciclo. O Brasil ocupava o 3º lugar em número de atividades de
projeto, com 499 projetos (6%), sendo que em primeiro lugar encontrava-se a China
com 3.056 (39%) e, em segundo, a Índia com 2.098 projetos (27%).

3000
2750
2500
2250
2000
1750
1500
1250
1000
750
499
500
250
0
Com base na Fonte: MCT. Status MDL, junho 2011

 2. Final de 2012 (1º Período de compromisso do Protocolo de Quioto


(2008-2012) – Data final de coleta de dados: 12/02/2014)

No final do 1º período de compromisso do Protocolo de Quioto, 7.166


atividades de projeto estavam registradas. A Índia ocupava o 2º lugar, com 1.371
projetos (20%), a China em 1º lugar, com 3.682 (51%), e o Brasil ainda ocupava o
3º lugar, com 300 projetos registrados (4%).

China 51%
Índia 20%
Outros 12%
Brasil 4%
Vietnã 3%
México 3%
Malásia 2%
Indonésia 2%
Tailândia 2%
Coreia do Sul 1%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%

http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/30317.html
 3. Projetos até 31/12/2013
Até 31 de dezembro de 2013, havia 7.463 atividades de projeto registradas
(projetos de MDL no mundo). O Brasil ocupava o 3º lugar em número de atividades
de projeto, com 323 projetos atividades de projeto registradas (4%), sendo que em
primeiro lugar encontrava-se a China com 3.744 (50%) e, em segundo, a Índia com
1.484 projetos (20%).

China 50%
Índia 20%
Outros 12%
Brasil 4%
Vietnã 3%
México 3%
Malásia 2%
Indonésia 2%
Tailândia 2%
Coreia do Sul 1%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%

http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/30317.html

 4. Projetos até 30/09/2014


Quanto ao status do MDL no mundo, até 30 de setembro de 2014, 7.578
atividades de projeto encontravam-se registradas. A China continua ocupando o 1º
lugar, com 3.763 (50%); em segundo, a Índia com 1.536 projetos (20%), e o Brasil
em 3º lugar, com 330 projetos atividades de projeto registradas (4%).

China 50%
Índia 20%
Outros 13%
Brasil 4%
Vietnã 3%
México 3%
Malásia 2%
Indonésia 2%
Tailândia 2%
Coreia do Sul 1%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%

http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/30317.html
http://www.mct.gov.br/upd_blob/0235/235795.pdf
Para tomar conhecimento do tipo de atividades e dos projetos desenvolvidos pelo Brasil, veja o
sítio de internet do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
(http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/47952/Atividades_de_Projetos_MDL.html).

Importante: Informamos que o endereço eletrônico do Ministério da Ciência, Tecnologia e


Inovação tem previsão de ser redirecionado, pois o site do Ministério está migrando para um
novo portal (http://www.mcti.gov.br). Por ora, no link http://www.mct.gov.br você encontrará
opção para acessar o novo portal e também a versão anterior do portal.

Acompanhe, acessando:
http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/30317/Status_de_projetos_do_MDL_no_Brasil.html
http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/30317.html
https://cdm.unfccc.int/

5. Outras iniciativas

Por tudo o que estudamos, até aqui, e mesmo pela nossa experiência de
vida, sabemos que os impactos adversos à mudança do clima já são realidade; por
isso, várias iniciativas brasileiras estão sendo adotadas para enfrentar os desafios
deste cenário.

Neste tópico, vamos conversar sobre duas ações inovadoras, realizadas na


Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio+20, e
na Copa do Mundo de 2014, quando convidou empresas a fazerem doações para
compensação das emissões de gases de efeito estufa originadas desses eventos.

5.1 Rio +20

A Conferência das Nações Unidas sobre


Desenvolvimento Sustentável – Rio+20, realizada de 13 a 22
de junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro, marcou os 20
anos de outro encontro histórico: a Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – Rio 92.
Dois temas principais orientaram os debates:

1) a economia verde, no contexto do desenvolvimento sustentável e da


erradicação da pobreza; e

2) a estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável.

Participaram da Rio+20 delegações oficiais de 191 Estados-membros


da ONU, dois países observadores e 85 organismos internacionais e agências
especializadas da ONU. No total, a ONU credenciou 45.763 participantes.
A Rio+20 alertou que a superação dos desafios do desenvolvimento
sustentável nos próximos 20 anos passa pela necessária mudança
de padrões de produção e consumo, transição a padrões mais
sustentáveis que avança com maior ou menor velocidade de acordo
com o engajamento do setor produtivo.

Uma iniciativa inovadora durante a Rio+20 foi a compensação das


emissões de GEE originadas na organização do evento. Pela primeira vez o
sistema de cancelamento voluntário de RCEs foi utilizado pela UNFCCC. A
estratégia contou com a doação voluntária de indivíduos e empresas para
compensar as emissões que não puderam ser reduzidas em outras iniciativas.

Relatório de
Veja como funcionou: para compensar 1 tonelada de CO2 e, solicitou-
Sustentabilidade
se uma doação de 10 reais. Assim, ao final da conferência, mais de 45 mil
do Rio+20
reduções certificadas de emissões (RCEs) foram canceladas voluntariamente
Caderno de pela iniciativa junto ao sistema de registros do MDL/Protocolo de Quioto.
Sustentabilidade
Rio+20 5.2 Compensação de emissões durante a Copa de 2014

O governo brasileiro convocou empresas a doarem reduções certificadas


de emissões (RCEs) para compensar as emissões de gases de efeito estufa
durante a Copa do Mundo. Empresas que possuíssem RCEs colaboraram com
o governo na estratégia de compensação de emissões geradas pela realização
da Copa. Em troca, as empresas doadoras receberam o selo de Baixo Carbono.

Pela primeira vez, um país-sede da Copa do Mundo se preocupou


em compensar as emissões de GEE desse megaevento. Com esta
iniciativa, o Brasil conseguiu que todas as emissões diretas de
dióxido de carbono equivalente relativas à Copa do Mundo 2014
Copa Verde fossem compensadas.

Brasil As emissões relacionadas a atividades do governo federal no Mundial


compensou
somaram 59,2 mil toneladas de CO2e, montante que inclui as operações da
nove vezes
emissões
FIFA, os espectadores e as obras já realizadas.
diretas de
carbono da Participaram 16 empresas, que atenderam à chamada pública lançada
Copa do pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) em abril para compensar as emissões
Mundo de gases de efeito estufa durante a Copa.

O Brasil compensou mais de nove vezes a quantidade estimada de


emissões de dióxido de carbono geradas diretamente pela realização da
Copa FIFA 2014. Foram neutralizadas 545,5 mil toneladas de CO 2e O total de
545.500 créditos de CO e o equivalente a evitar o desmatamento 1.124 campos
2
de futebol de Floresta Amazônica.
6. Adaptação aos efeitos adversos da mudança do clima

Outro tema relevante para gestores públicos é o de adaptação aos efeitos


adversos da mudança do clima. Este se tornou uma preocupação mais
evidente após a divulgação do 4º relatório do Painel Intergovernamental
sobre a Mudança Climática – IPCC.

Nesse relatório, o IPCC ressalta que “o aquecimento do sistema


climático é inequívoco, como agora é evidente pelas observações dos aumentos
das temperaturas médias do ar e dos oceanos, o derretimento generalizado
de neve e gelo e o aumento global médio do nível do mar”. Também nesse
relatório o IPCC reconheceu que os países não-Anexo I deverão ter maiores
dificuldades para lidar com os impactos decorrentes da mudança do clima, bem
como terão os maiores custos no que diz respeito à adaptação. Esta evidência
foi confirmada no 5º relatório do Painel Intergovernamental sobre a Mudança
do Clima – IPCC.

O 5º Relatório de Avaliação do IPCC demonstra que as emissões de


gases de efeito estufa (GEE) são a principal causa do aquecimento global sem
precedentes e que as alterações do clima provocadas por este aquecimento
(ex. aumento do nível do mar, acidez dos oceanos e redução da extensão e
espessura do gelo nos polos) já estão causando impactos significativos para
a vida das pessoas e do ambiente natural, tais como perda de produtividade
agrícola, aceleração da extinção e deslocamento de espécies, ampliação de
danos à infraestrutura e economia por extremos de chuva e seca.

O relatório afirma que a forma mais efetiva de reduzir os riscos é evitar


o aquecimento, ou seja, reduzir as emissões de gases de efeito estufa (mitigar),
pois mesmo que as emissões sejam reduzidas drasticamente, ainda há o
risco de ocorrer impactos derivados das emissões históricas acumuladas. A
maneira de lidar com esses riscos é aumentar a resiliência dos ambientes e das
sociedades.

Mais à frente, veremos um pouco mais sobre esses dois Relatórios.


Outro relatório de referência sobre esta temática do IPCC é o
“Gerenciamento de Riscos de Eventos Extremos e Desastres para o Avanço
da Adaptação Climática (SREX)”, publicado em 2012. Este relatório apresenta
evidências que sugerem que a mudança do clima vem ocasionando mudanças
extremas no clima, tais como ondas de calor e recordes de altas temperaturas,
e desencadeando possivelmente desastres relacionados ao clima em função
dos eventos climáticos extremos.

As discussões sobre adaptação no Brasil e no mundo estão relacionadas


ao grau de vulnerabilidade aos impactos decorrentes da mudança do clima. Como
sabemos, o Brasil tem caráter agrícola, é dependente de hidroeletricidade e tem
muitos problemas socioeconômicos; por isso, pode apresentar vulnerabilidades
ambiental, social e econômica tanto sobre variabilidade natural de clima quanto
à mudança do clima.

É claro, sabemos também que a maioria dos impactos afetarão com


maior intensidade as regiões mais pobres, o que exigirá uma política de
adaptação consistente e eficaz.

No Brasil, alguns estudos realizados demonstram resultados interessantes para o país


relacionados aos impactos, vulnerabilidade e adaptação. Dentre esses, destacamos estudos
para o setor agropecuário, zona costeira, saúde humana, desertificação e energia

Mecanismo de Perdas e Danos

Em novembro de 2013, como um dos resultados da COP 19, ocorreu


a criação do Mecanismo Internacional de Varsóvia sobre Perdas e Danos.
O Mecanismo conta com um Comitê Executivo que responde à Conferência
das Partes, com representação equilibrada entre países desenvolvidos e em
desenvolvimento.

Esse Mecanismo tem o papel de implementar abordagens de perdas


e danos associados aos efeitos adversos da mudança do clima, por meio das
seguintes funções:

 aprofundar o conhecimento e entendimento de abordagens de


gestão de risco, inclusive de eventos de início lento (slow on-set
events);

 fortalecer o diálogo, a coordenação, coerência e sinergia com


stakeholders relevantes;

 aprimorar a ação e o apoio, incluindo financiamento, tecnologia e


construção de capacidades para lidar com perdas e danos.

Fonte: com base em


http://unfccc.int/adaptation/workstreams/loss_and_damage/items/8134.php
7. Consequências da mudança do clima

Lembra-se que desde a Revolução


Industrial, as atividades humanas,
passaram a ameaçar o equilíbrio
do sistema climático do planeta?

Pois bem, o tema ganhou maior repercussão na agenda política global,


principalmente devido a seu caráter inequívoco, gerando efeitos que incluem o
aumento do nível dos oceanos, novos padrões de ventos, chuvas e circulação dos
oceanos que afetarão todos os países do globo (IPCC, 2004).

O IPCC mostra registros de uma considerável alteração no clima em escala


global nos últimos 200 anos, fortemente relacionada ao aumento das atividades
humanas emissoras de gases de efeito estufa. Aponta que as consequências do
aumento de temperatura serão graves para todos os seres vivos, o que inclui o
homem.

As projeções do 5º relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança


do Clima (IPCC, 2013) registram que, na previsão mais otimista, a elevação da
temperatura sofrerá variação entre 0,3°C e 1,7ºC, no período 2081-2100. Na
previsão mais pessimista, o planeta ficará entre 2,6ºC e 4,8°C mais quente.

Como consequência desse aumento de temperatura, o IPCC (2013) prevê


uma elevação do nível do mar entre 26 cm, no melhor cenário, e 82 cm, na pior
estimativa, durante o século 21 (a projeção de 2007 era de aumento do nível do mar
entre 0,11m e 0,77m). Essa elevação afetará significativamente os ecossistemas
terrestres, as atividades humanas e a ocupação da zona costeira brasileira.

Ainda: devido à inércia do sistema climático, mesmo depois da estabilização


das emissões de gases de efeito estufa, o nível do mar continuaria subindo durante
vários milênios (FBMC, 2014).

Continue acompanhando notícias sobre o tema, acessando: http://ipcc.ch/


8. Relatórios de Avaliação do IPCC

Como já vimos, o Primeiro Relatório de Avaliação foi publicado em 1990; o


Segundo, em 1995; o Terceiro, em 2001; o Quarto, em 2007, e o Quinto, em 2014.

Os relatórios do IPCC estão organizados em três volumes, sob a


responsabilidade de três Grupos de Trabalho:

▪ Grupo 1 – trata da avaliação da ciência da mudança global do clima;


▪ Grupo 2 – ocupa-se da avaliação dos seus impactos, e
▪ Grupo 3 – cuida dos aspectos sociais e econômicos associados às
medidas de mitigação.
Neste tópico, vamos conversar especificamente sobre o Quarto e o Quinto
Relatório de Avaliação do IPCC.

8.1 Quarto Relatório de Avaliação do IPCC

Este Relatório de Avaliação apresenta o Sumário


Técnico do Grupo de Trabalho II, que trata de "Impactos,
Adaptação e Vulnerabilidade".

O Sumário registra os principais impactos adversos que


poderão afetar o Brasil e a América do Sul no futuro, por causa da
mudança global do clima. Portanto, poderão requerer medidas
de adaptação para o Brasil. Vejamos, então, esses impactos.

1. Altíssima probabilidade de áreas do nordeste árido


e semiárido do Brasil serem especialmente vulneráveis aos
impactos da mudança global do clima nos recursos hídricos,
com diminuição da oferta de água. Este cenário é ainda mais
relevante se considerar o aumento esperado na demanda por
água em razão do crescimento populacional.

2. Alta probabilidade de que o aumento na precipitação


de chuvas no sudeste do Brasil impacte as plantações e outras
formas de uso da terra, bem como favorecer a frequência e a
intensidade das inundações. Foi constatado um aumento de
0,5ºC na temperatura média da superfície terrestre do Brasil em
relação aos níveis pré-industriais.
3. Alta probabilidade de que nas próximas décadas ocorra
a extinção de considerável número de espécies na região tropical
da América Latina. Gradual substituição de florestas tropicais
por cerrado na região leste da Amazônia e de algumas áreas
semiáridas por áridas no nordeste do Brasil (desertificação), em
razão do aumento da temperatura e da diminuição da quantidade
de água no solo. Risco de perda de biodiversidade. Até 2050, no mundo, há alta
probabilidade de que 50% das terras agricultáveis estejam sujeitam à desertificação
ou salinização. Destacamos a estação de seca verificada na região da Amazônia em
2005 e em 2010.

Independente dos cenários elaborados serem de baixas ou altas emissões de gases do efeito
estufa, em média há uma diminuição da área de floresta tropical e um aumento da área de
savana. Para um aumento de 2ºC a 3ºC na temperatura média até 25% das árvores do cerrado
e até cerca de 40% de árvores da Amazônia poderiam desaparecer até o final deste Século.
(CGEE, Estudos estratégicos n.27. Acesse a revista aqui.)

4. Há alta probabilidade de que o aumento esperado no


nível do mar afete as zonas costeiras brasileira, com impactos
adversos inclusive em mangues. É importante dizer que os
grandes centros urbanos e industriais do Brasil se encontram em
regiões costeiras. Nessas regiões também está grande parte da
população. Uma elevação do nível médio do mar tornaria grandes
áreas do país em extremamente vulneráveis, podendo acarretar em grandes perdas
econômicas e sociais.

O aumento médio do nível do mar terá consequências para a navegação, agricultura,


biodiversidade, pesca, ocupação humana do litoral, entre outros. As áreas costeiras serão
significativamente alteradas.

5. A precipitação elevada é o principal fator relacionado à


mudança global do clima que exacerbará os impactos causados
pela erosão. O nordeste do Brasil é vulnerável, pois a erosão
nesta região já tem causado a sedimentação de reservatórios e,
consequentemente, diminuído a capacidade de armazenamento e
oferta de água. Os países em desenvolvimento são especialmente
vulneráveis à erosão, ainda mais no que tange às encostas de assentamentos
ilegais em áreas metropolitanas.

6. Em regiões que enfrentam escassez de água, como


o nordeste do Brasil, a população e os ecossistemas são
vulneráveis a precipitações menos frequentes e mais variáveis,
por causa da mudança global do clima, o que pode inclusive
prejudicar o abastecimento da população e o potencial agrícola desta região
(dificuldades na irrigação).

7. Poderá haver impactos da mudança global do clima


na saúde pública, tendo sido constatados no Brasil casos de
doenças relacionadas à inundação, tal qual a diarreia. Há também
impacto na saúde pública decorrente da fumaça de queimadas. A
mudança global do clima também poderá ter efeitos no aumento
dos casos de esquistossomose (do gênero Schistosoma).

Importante: os impactos futuros são analisados tendo como base


diferentes cenários de emissão de gases de efeito estufa, que não
preveem medidas adicionais de combate à mudança do clima ou maior
capacidade adaptativa dos sistemas, setores e regiões analisados. Além
disso, não prevê medidas de mitigação nesse período

8.2 Quinto Relatório de Avaliação do IPCC

“O relatório do Grupo de Trabalho II é outro importante passo para a nossa


compreensão sobre como reduzir e gerenciar os riscos da mudança do
clima. Juntamente com os relatórios do Grupo de Trabalho I e Grupo de
Trabalho III, fornece um mapa conceitual não só dos aspectos essenciais
do desafio climático, mas as soluções possíveis”.
(Rajendra Pachauri, presidente do IPCC, 2014)

Desde o 4º Relatório (2007), ficou mais fortemente


evidenciada que a influência humana (antrópica) é a maior
responsável pelo aquecimento global, desde meados do
Século XX.

Em revisão ao 4º Relatório, a partir do 5º Relatório,


essa evidência passou a ser considerada “extremamente
provável”, que considerou essa evidência “muito provável”.

A diferença é que “muito provável” significava a certeza em 90%; e


“extremamente provável” significa 95% de certeza.

As consequências mais prováveis dessa influência são impactos na


agricultura; a escassez do abastecimento de água e alimento; problemas nos
ecossistemas terrestres e marítimos; aumento da pobreza e inundações costeiras.
Veja que as concentrações de CO2 , observadas em 2011, aumentaram 40%
desde os tempos pré-industriais, principalmente devido às emissões decorrentes
do uso de combustíveis fósseis (IPCC, 2013).

E o 5º Relatório também nos informa que, dependendo do cenário de


evolução do problema, cerca de 15 a 40% do carbono emitido permanecerá na
atmosfera durante 1000 anos.

O Quinto Relatório também afirma que o aquecimento do sistema climático


é inequívoco e, desde a década de 1950, diversas das mudanças observadas são
sem precedentes sobre décadas e até milênios.

Os oceanos A qualidade do ar O gelo do Ártico Mudança no regime


continuarão a piorará... continuará a de chuva...
aquecer... encolher e
afinar... Na maioria das
regiões, espera-
O volume de gelo se um número
global continuará maior de eventos
a diminuir, por extremos
isso, o nível do relacionados a
mar continuará temperaturas
a subir durante extremas altas ou
o século 21, baixas.
provavelmente
a uma taxa As ondas de calor
muito superior à tendem a ser mais
observada durante fortes e terão
1971-2010 (IPCC, maior duração.
2013). A frequência,
intensidade e/
ou quantidade de
chuvas fortes
serão aumentadas
(IPCC, 2013).
Visite o link
http://ipcc.
Em março de 2014, o IPCC divulgou novo relatório (intitulado Mudança do
ch/report/
Clima 2014: Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade), informando que os efeitos da
ar5/index.
mudança do clima já estão ocorrendo em todos os continentes e oceanos.
shtml

Veja, então, que o IPCC AR5 (2014) tem como principal mensagem a clareza
da influência humana sobre o sistema climático, gerando riscos de graves impactos
em vários sistemas do globo, mas que existem meios para limitar essa situação e
projetar uma sociedade mais sustentável.
9. Encerramento

Concluímos a Unidade1, na qual compreendemos melhor como se dá o efeito


estufa e como as ações humanas contribuem com o aumento desse fenômeno.
Como conceito inicial, vimos também que mudança do clima é entendida como
aquecimento global, mas também traz outros desafios que vão além do incremento
da temperatura, como o aumento da frequência e da intensidade de secas, furacões,
enchentes e tempestades.

Após, passamos a explorar aspectos da Conferência das Nações Unidas


sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (RIO 92), especificamente falando sobre a
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (empenho inicial
para limitar a emissão dos gases de efeito estufa). Prosseguimos para a análise de
dois princípios importantes dessa Convenção: 1) o Princípio da Precaução, e 2) o
Princípio das Responsabilidades Comuns, mas diferenciadas.

Conversamos também sobre o Protocolo de Quioto, e seu Mecanismo de


Desenvolvimento Limpo – MDL, e vimos que a adaptação dos efeitos adversos
da mudança do clima, no Brasil, se relaciona com o grau de vulnerabilidade aos
impactos decorrentes da mudança do clima.

Refletimos sobre aspectos importantes como as consequências da mudança


do clima com elevação das águas entre 26 cm e 82 cm, durante o século XXI.

Ao abordarmos o Quarto Relatório de Avaliação do IPCC, verificamos que


há grande probabilidade de ocorrer vários impactos no País e na América do Sul
– como a perda de biodiversidade e mudanças no padrão hidrológico das regiões.

E o Quinto Relatório de Avaliação do IPCC mostra claramente um forte


aumento da influência humana no aquecimento global, gerando graves impactos
em vários sistemas do planeta (nos sistemas hídricos, da agricultura, e humanos).

O IPCC de 2013 registra que as concentrações de CO2, desde os tempos


pré-industriais até 2011, aumentaram 40%, sobretudo por causa das emissões
geradas pelo uso de combustíveis fósseis (IPCC, 2013).

Esse 5º Relatório também indica que, dependendo da evolução do problema,


entre 15 a 40% do carbono emitido ficará na atmosfera durante 1000 anos.

Também registra que, sem dúvida, o aquecimento do sistema climático


existe, causando muitas das mudanças que estudamos: o gelo do Ártico continuará
a diminuir e afinar; o nível do mar continuará a subir durante o século 21; os oceanos
continuarão a aquecer; a qualidade do ar piorará; a maioria das regiões enfrentará,
cada vez mais, eventos relacionados a temperaturas muito altas ou muito baixas, e
serão ampliadas a intensidade, quantidade e frequência de chuvas.

É muita coisa para pensarmos com atenção e zelo, não é mesmo? Agora
que já percebemos a importância do que vimos até aqui, vamos nos encontrar na
Unidade 2, para estudarmos a mitigação!
Unidade 2
Mitigação

1. Introdução

Você sabe o que é mitigação?


Quais os seus objetivos?
A mitigação pode minimizar as
causas da mudança do clima? Como?

É sobre isso que conversaremos nesta Unidade. Falaremos sobre


aspectos importantes da mitigação, como o seu significado e seus objetivos.
Veremos também que o Brasil implementa uma série de programas e medidas
que contribui para a redução da emissão de gases de efeito estufa, dentre eles,
o MDL, o uso de etanol como combustível automotivo, o uso do biodiesel como
alternativa a diminuição da dependência externa do petróleo, a recuperação de
pastagens e os sistemas integrados de produção agrícola.

Além disso, analisaremos os conceitos de adicionalidade, leakage (fuga),


permanência e alguns exemplos de ações de mitigação em setores diversos,
tais como os Projetos MDL de aterros sanitários – transformação de lixões em
aterros sanitários; os Projetos MDL de Reflorestamento/Florestamento; ações
na Agricultura; o Biodiesel, e a Energia.

Objetivos de Aprendizagem

Assim, esperamos que, ao concluir esta Unidade, você possa:

• Definir o que é mitigação;


• Identificar os objetivos da mitigação;
• Identificar a importância que teve o MDL no contexto da
mitigação;
• Caracterizar os princípios de adicionalidade, de leakage
(fuga) e de permanência.
2. Mitigação

2.1 Definição e Objetivos

Convenção de Mudança do Clima (em vigor desde 1994)


Estabeleceu um regime perigosas no sistema
jurídico internacional, com o climático, num prazo
objetivo principal (Art. 2) de suficiente que permita aos
alcançar a estabilização das ecossistemas adaptarem-se
concentrações de gases de sem comprometer a produção
efeito estufa na atmosfera de alimentos e permitindo
num nível que impeça que o desenvolvimento
interferências antrópicas prossiga de forma
sustentável.

A mitigação pressupõe ações para reduzir a emissão de gases de


efeito estufa, principalmente por meio do aumento de sumidouros e
substituição do tipo de fonte energética utilizada.

Vejamos alguns exemplos de mitigação: substituir combustível fóssil por


renovável – como diesel por biodiesel; carvão mineral por energia solar; eólica,
por biomassa e hídrica na geração de eletricidade; a substituição de lixões
por aterros sanitários; a expansão da cobertura florestal; a recuperação de
pastagens; os sistemas integrados de produção.

As ações de mitigação podem utilizar tecnologias avançadas ou ações simples,


como a apenas trocar lâmpadas eficientes em edifícios públicos (ex. escolas e
hospitais). O importante é que informações com base científica contribuam na
escolha adequada da ação a ser tomada no processo de escolha de políticas
de mitigação voltado à mudança do clima.

Também é importante sabermos que a capacidade de mitigação está


ligada ao desenvolvimento sustentável do país, já que as medidas que
contribuem para a redução da emissão dos gases de efeito estufa também
devem contribuir para o desenvolvimento sustentável. Além disso, requer
investimentos principalmente relacionados ao desenvolvimento tecnológico
para uma produção limpa e mais eficiente.
2.2 Atores relevantes

Um dos atores mais relevantes na produção de informações com base


científica tem sido o IPCC, principalmente, por meio da divulgação dos seus
Relatórios de Avaliação. Mas existem outros atores fundamentais, nesse processo.
É o que veremos, a seguir.

Bem, em grande parte, os formuladores de políticas públicas são os


responsáveis pelo desenvolvimento e pela orientação de iniciativas que buscam
reduzir a emissão de gases de efeito estufa, contribuindo dessa maneira para o
sucesso das ações de mitigação.

E depois da formulação dessas políticas públicas, quais atores


entram em cena para sua implementação?
Atores

Setor público Responsável pela implementação das políticas públicas na maior


parte dos casos.
É um setor muito ativo na produção de ações de mitigação.
Podemos ver isso nas iniciativas empresariais em andamento no
Setor produtivo Brasil; e em algumas organizações não-governamentais e
movimentos sociais, no incentivo de ações de mitigação e na
promoção de conhecimento e disseminação de informação sobre as
causas, impactos e soluções para os problemas associados à
mudança do clima.
Setor científico e Responsável por desenvolver a ciência e tecnologia para encontrar
tecnológico formas e maneiras de lidar com o aquecimento global ou criar
opções para que ela seja menos sentida.

Países desenvolvidos – Atrelados a compromissos mais rígidos e quantificáveis de


Partes Anexo I mitigação. O Protocolo de Quioto definiu metas de emissões
juridicamente vinculantes para estas Partes.

Países em desenvolvimento Os mais afetados pelos impactos da mudança do clima, se nada for
– Partes não-Anexo I feito para mitigar a emissão de gases.
O Protocolo de Quioto adotado na 3ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das
Nações Unidas sobre Mudança do Clima, em 1997, na cidade de Quioto, no Japão, só
entrou em vigor no âmbito internacional em 16 de fevereiro de 2005, após a ratificação pela
Federação Russa no fim de 2004.

O segundo período de compromisso do Protocolo de Quioto foi acordado em 2012, durante


a 18ª. Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, em Doha (Catar). Ele se
iniciou em 2013 e será finalizado até o ano 2020.

2.3 Protocolo de Quioto – Metas e Mecanismos

O Protocolo de Quioto estabeleceu três Mecanismos Adicionais de


Implementação para complementar as medidas de redução de emissão e Muitos veem
remoção de gases de efeito estufa domésticas implementadas pelas Partes nos mecanismos
criados pelo
Anexo I: Protocolo de
Quioto boas
oportunidades
1. Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL;
para promover o
2. Implementação Conjunta, e desenvolvimento
sustentável.
3. Comércio de Emissões.
O MDL é o único que permite a participação de países em
desenvolvimento, o que inclui o Brasil. Então, vamos explorar melhor esse
mecanismo no próximo item.
Lembre-se: o segundo período de compromisso do Protocolo de
Quioto (de 2013 a 2020) foi negociado durante a COP 18, na cidade
de Doha (Catar).

2.4 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)

Permitiu a realização de projetos de redução de emissões


nos países em desenvolvimento e a posterior venda das
reduções certificadas de emissão (RCEs) resultantes
desses projetos para serem utilizados pelos países
desenvolvidos como modo suplementar para cumprirem
suas metas quantificadas de redução de gases de efeito
estufa no âmbito do Protocolo de Quioto.

Representou uma oportunidade para entidades privadas


e entidades públicas desenvolverem projetos de redução
de emissão. Na implementação desses projetos ainda
houve a possibilidade de transferência de tecnologia e de
ingresso de recursos externos de empresas de países do
Anexo I (desenvolvidos) interessadas em obter reduções
certificadas de emissão. Foi o principal instrumento
econômico para a realização de medidas voluntárias de
mitigação da mudança do clima em países em
desenvolvimento.

Nesse sentido, o MDL representou uma fonte de


fi to importante para a redução das emissões de
gases de efeito estufa no Brasil, principalmente, nos setores
energético, industrial, de refl estamento e de resíduos.

Veja mais sobre as atividades de projetos de MDL em:


https://cdm.unfccc.int/
https://cdm.unfccc.int/Projects/projsearch.html

Podemos observar, na tabela abaixo, a distribuição das atividades de projeto


no Brasil por tipo de projeto, até 3 de setembro de 2014.
Quadro 1 --- Distribuição do número de atividades de projeto no Brasil por tipo de projeto

Número de
% do número de Estimativa total % da Estimativa
atividades de
Tipos de Projeto atividade de de redução de total de redução
projetos de
projetos de MDL GEE (tCO2eq)7 de GEE
MDL
Hidroelétrica 87 26,4% 137.088.500 37,0%
Biogás 63 19,1% 24.861.823 6,7%
Usina Eólica 54 16,4% 40.968.209 11,0%
Gás de Aterro 50 15,2% 87.280.381 23,5%
Biomassa Energética 41 12,4% 16.091.394 4,3%
Substituição de
Combustível Fóssil 9 2,7% 2.664.006 0,7%
Metano Evitado 9 2,7% 8.627.473 2,3%
Decomposição de N2O 5 1,5% 44.660.882 12,0%
Utilização e
Recuperação de Calor 4 1,2% 2.986.000 0,8%
Reflorestamentoe
Florestamento 3 0,9% 2.408.842 0,6%
Uso de Materiais 1 0,3% 119.959 0,0%
Energia Solar
Fotovoltaica 1 0,3% 6.594 0,0%
Eficiência Energética 1 0,3% 382.214 0,1%
Substituição SF6 1 0,3% 1.923.005 0,5%
Redução e Substituição
de PFC 1 0,3% 802.860 0,2%

Total 328 100% 370.872.142 100%

Fonte: Status MDL, setembro 2014


http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/30317/Status_de_
projetos_do_MDL_no_Brasil.html.

Note que, quanto ao tipo de projeto, a área de Energia Hidroelétrica


liderava com 26,4%; em seguida, os projetos de Biogás com 19,1%, Usinas
Eólicas 16,4%, Gás de Aterro 15,2% e Biomassa Energética 12,4%.

Os tipos de projeto com a maior estimativa de redução de emissão de


CO2e eram as atividades de projeto de Energia Hidrelétrica, Gás de Aterro e
Decomposição de N 2O, com 72,5% do total de emissões de CO eq 2
a serem
reduzidas no primeiro período de obtenção de créditos das atividades de projeto,
com uma estimativa de redução de emissões de 269.029.763 tCO 2eq durante
aquele período (BRASIL, 2014).

O MDL, por meio de projetos de geração de energia, aterros sanitários


e de reflorestamento, pôde possibilitar o aporte de fontes de recursos
adicionais para o desenvolvimento sustentável dos municípios,
contribuindo para a solução de grande passivo ambiental.

Além disso, o MDL possibilitou o fortalecimento da cooperação


entre os setores público e privado, além de ganhos em relação à
imagem institucional das cidades envolvidas e uma nova postura de
gestão pública.
Foi também uma oportunidade para estados e municípios brasileiros
participarem do esforço global do combate à mudança do clima, recebendo
recursos externos e transferência de tecnologia que permitiram a implantação
de projetos de redução de emissões no país, formação de recursos humanos e
geração de novos e melhores empregos, propiciando benefícios ambientais e
mais qualidade de vida.

É importante saber que o Brasil implementa uma série de outros


programas e medidas que contribuem para a redução da emissão
de gases de efeito estufa, ou seja com efetivo efeito de mitigação.
Mais à frente, veremos alguns desses programas.

A solução do grande passivo ambiental pode ser realizada pela desativação de lixões na
maioria dos municípios brasileiros e construção de aterros sanitários, pela recuperação de
áreas degradadas, pela substituição de combustível fóssil, entre outros.

2.5 Alguns programas que contribuem com o efetivo efeito de mitigação


Alguns desses
programas foram
Os programas que contribuem para a redução da emissão de gases
listados na Primeira
e na Segunda de efeito estufa também contribuem para o Brasil ter uma matriz energética
Comunicação relativamente limpa, com pequenas emissões no setor energético, para a
Nacional de estabilização das concentrações dos gases de efeito estufa na atmosfera e para
Mudança Global do
o desenvolvimento sustentável.
Clima, publicadas
em 2004 e 2010.
Para saber mais,
acesse:
Comunicação
Lembrete importante: o endereço eletrônico do Ministério da
Nacional do Brasil Ciência, Tecnologia e Inovação tem previsão de ser redirecionado.
à Convenção do Neste ano de 2015, o site do Ministério está migrando para um novo
Clima. portal (http://www.mcti.gov.br). Por ora, no link http://www.mct.gov.br você
encontrará opção para acessar o novo portal e também a versão
anterior do portal.
Para visualizar melhor essas informações, observe a figura abaixo, que nos
mostra a oferta interna de energia elétrica por fonte no Brasil.

Eólica/Wind
Biomassa3/Biomass3 1,1%
7,6%
Gás natural/Natural gas
11,3%

Derivados de petróleo/
Oil products
4,4%

Nuclear/Nuclear
2,4%

Carvão e Derivados1/
Coal and coal products1
2,6%

Hidráulica2/Hydro2
70,6%

Notes:
1
Inclui gás de coqueriaI/ncludes coke oven gas
2
Inclui importação de eletricidadIen/cludes electricity imports
³ Inclui lenha, bagaço de cana, lixívia e outras recuperações/

Fonte: Elaborado por Unica (https://ben.epe.gov.br/downloads/Relatorio_Final_BEN_2014.pdf)

Dentre os programas, destacamos o uso de etanol como combustível


automotivo e a incorporação do biodiesel à matriz energética brasileira. A seguir,
vamos conversar sobre cada um deles.

Iniciou em 1975, com o Programa


Nacional do Álcool – Proálcool,
para evitar o aumento da
dependência externa do petróleo
e a evasão de divisas quando dos
choques de preço do petróleo.
Essa capacidade de desenvolver
carros movidos a álcool acarretou
na tecnologia dos motores
flex-fuel, que proporcionou a
criação de uma nova vertente no
mercado.
O biodiesel é um combustível composto pelas variáveis ambiental, social e
econômica, que estão intimamente relacionadas. Além de ser não tóxico e
biodegradável, é um combustível que:

► representa alternativa que


propicia a diminuição da
dependência externa do
petróleo;
► não contribui com o aumento
das emissões de gases do
efeito estufa;
► reduz a emissão de monóxido
de carbono (CO);
► fortalece as fontes de energia renovável na matriz energética;
► contribui para o desempenho superior e uso cada vez menores dos
motores;
► possui um mercado em expansão interno e externo;
► contribui para a economia de combustível, e
► representa uma grande oportunidade para gerar emprego e renda,
principalmente para a classe de baixa renda, especialmente quando se
considera o amplo potencial produtivo da agricultura familiar.

Importante: as principais fontes de emissão de gases de efeito


estufa são provenientes dos combustíveis fósseis, dos resíduos, das
atividades industriais, da mudança no uso da terra e agricultura. Nos
países desenvolvidos, a principal fonte de emissão é o uso energético
de combustíveis fósseis. O Brasil possui um perfil de emissões diferente
dos demais países. O histórico de emissões de gases de efeito estufa
demonstra que no Brasil a maior parcela das emissões é proveniente do
setor mudança no uso da terra e florestas.

2.6 Outras iniciativas brasileiras de mitigação – NAMAS

Ações de Mitigação Nacionalmente Apropriadas (NAMAs)

No Acordo de Copenhagen (decisão 2/CP.15), está previsto que:

▪ as Partes não-Anexo I da Convenção irão implementar ações de


mitigação;
▪ as ações de mitigação tomadas ou previstas pelos países não-Anexo
I, incluindo seus inventários nacionais de emissões antrópicas de
gases de efeito estufa, devem ser comunicados à UNFCCC a cada
dois anos;
▪ tais ações estarão sujeitas à medição, comunicação e verificação
internas, de acordo com as diretrizes adotadas na Conferência das
Partes. Os resultados serão reportados nas comunicações nacionais
a cada dois anos.

E quais são os objetivos do Brasil apresentados


em Copenhagen? Vejamos...

▪ Reduzir o desmatamento na Amazônia (extensão estimada de redução:


564 milhões de toneladas de carbono até 2020);
▪ Reduzir o desmatamento no Cerrado (extensão estimada de redução:
104 milhões de toneladas de carbono até 2020);
▪ Restaurar pastagens (extensão estimada de redução: de 83 a 104
milhões de toneladas de carbono até 2020);
▪ Sistema integrado de agricultura-lavoura-pecuária (extensão estimada
de redução: de 18 a 22 milhões de toneladas de carbono até 2020);
▪ Plantio direto de culturas (extensão estimada de redução: de 16 a 20
milhões de toneladas de carbono até 2020);
▪ Fixação biológica de nitrogênio (extensão estimada de redução:
de 16 a 20 milhões de toneladas de carbono até 2020);

O compromisso ▪ Eficiência Energética (extensão estimada de redução: de 12 a 15


voluntário do milhões de toneladas de carbono até 2020);
Brasil
▪ Expandir o uso de biodiesel (extensão estimada de redução: de
48 a 60 milhões de toneladas de carbono até 2020);

COP 15/CMP 5 ▪ Aumentar o suprimento de energia de usinas hidrelétricas


Copenhagen – (extensão estimada de redução: de 79 a 99 milhões de toneladas
2009 de carbono até 2020);
▪ Fontes alternativas de energia (extensão estimada de redução: de
26 a 33 milhões de toneladas de carbono até 2020);
▪ Indústria do aço (substituição de carvão vegetal de desmatamento
Apêndice 2 do
por carvão vegetal de florestas plantadas. Extensão estimada de
Acordo de redução: de 8 a 10 milhões de toneladas de carbono até 2020).
Copenhagen
O Brasil espera que com essas ações o compromisso voluntário,
assumido em Copenhagen, seja alcançado até 2020.

2.7 Outras iniciativas brasileiras de mitigação – Planos Setoriais

Planos Setoriais de Mitigação e Adaptação


Para o atendimento do compromisso voluntário assumido durante a
COP 15, em Copenhagen, o Decreto nº 7390/2010, que regulamento a Lei nº
12.187/2009 (Política Nacional de sobre Mudança do Clima - PNMC), previu
a elaboração de Planos Setoriais com a inclusão de ações, indicadores e
metas específicas de redução de emissões e mecanismos para a verificação
do seu cumprimento.

Foram elaborados nove (9) planos setoriais, dos quais seis (6) são
ações de mitigação nacionalmente apropriadas (NAMAs). Vamos conhecê-
los, a seguir.
Todos os planos setoriais listados acima podem ser acessados em:
http://www.mma.gov.br/clima/politica-nacional-sobre-mudanca-do-clima/planos-setoriais-de-
mitigacao-e-adaptacao

2.8 Outras iniciativas brasileiras de mitigação – REDD+

REDD+ - Atividades de Redução das Emissões de GEE por


Desmatamento e Degradação florestal e incremento de estoques

Surge a partir de uma proposta do Brasil de criação de incentivos positivos


para a Redução de Emissões de Desmatamento (RED), apresentada em 2006,
durante a COP 12 (Nairóbi – Quênia).

Entre 2009 e 2010, o conceito de RED amplia para agregar atividades de


redução de degradação florestal a partir da realidade africana, permanecendo
também a atividade de redução do desmatamento. Assim, a sigla ganha mais um
D e torna-se REDD.

Outras atividades são propostas dentro do conceito de REDD, ampliando-o


ainda mais. São incluídas em seu escopo a proposta de conservação de estoques
e a inserção de manejo florestal sustentável, o que originou a sigla atual REDD+.
Veja, então, que o REED+ significa políticas e incentivos para redução
de emissões por desmatamento e degradação florestal, associado ao papel
da conservação, manejo sustentável de florestas e aumento de estoques de
carbono florestal em países em desenvolvimento.

http://www.mma.
gov.br/redd/index.
php/pt/

2.9 Outras iniciativas brasileiras de mitigação – INDCs

INDCs – Intended Nationally Determined Contributions

No Chamado de Lima para Ação Climática está prevista a adoção dos


INDCs, que significa contribuições pretendidas nacionalmente determinadas.

Pelo INDC, os países membros da Convenção-Quadro das Nações


Unidas sobre Mudança do Clima concordaram em delinear publicamente as
ações que pretendem adotar no âmbito de um acordo global para o novo
acordo, a ser decidido na 21ª. Conferência das Partes em Paris.

As contribuições dos países Reduzir emissão de gases de efeito


serão apresentadas, considerando Estufa para limitar o aumento da
Temperatura global média = 2º C
suas prioridades nacionais,
circunstâncias e capacidades, Dióxido
Vapor de carbono
e visam conjuntamente reduzir d’água (CO2)
Ozônio
as emissões globais de gases Metano Óxido
(O3)

(CH4) nitroso
de efeito estufa de uma maneira (N2O)
suficiente que limite o aumento da
temperatura global média a 2º C.
http://unfccc.int/meetings/lima_dec_2014/meeting/8141.php

3. Conceitos de adicionalidade, leakage (fuga) e permanência

 1. Conceito de Adicionalidade

O conceito de adicionalidade está intimamente relacionado ao conceito de


linha de base. A linha de base refere-se às emissões futuras de gases de efeito
estufa que ocorreriam sem uma política de intervenção ou atividade de projeto. É
em relação à linha de base que se projeta o nível de reduções de emissões a partir
das atividades de redução desenvolvidas por projetos, estratégias ou políticas com
esse objetivo.

De acordo com a Decisão 3/CMP.1, a Linha de Base é o cenário que


representa de forma plausível as emissões antrópicas por fontes de gases de efeito
estufa que ocorreriam na ausência da atividade de projeto proposta.

Adicionalidade significa que o projeto ou uma ação não poderia ser realizada
sem o apoio específico vinculado à mitigação de emissões. É a redução de emissões
de gases de efeito estufa ou o aumento de remoções de CO 2 de forma adicional ao
que ocorreria na ausência de tal atividade.
A figura abaixo nos mostra o conceito de linha de base e adicionalidade.

Emissão de gases
de efeito estufa
Emissão de linha de base

Redução de
emissões

Emissão do projeto

Fonte: JICA, 2006

Falando de forma mais simples... A adicionalidade diz respeito a uma atividade


que ocorreria de forma adicional ao que já ocorre (linha de base) na ausência de uma
atividade ou projeto. Por exemplo: a coleta de lixo de uma cidade pode ser considerada
a linha base e a aplicação da coleta seletiva de lixo é adicional à coleta de lixo. Observe
que a coleta seletiva é uma adicionalidade ao que já ocorre (coleta de lixo).

Em MDL, o critério da adicionalidade está previsto no artigo 12, parágrafo 5º, alínea (c) do
Protocolo de Quioto, adicionalidade é definida como “(c) Reduções de emissões que sejam
adicionais as que ocorreriam na ausência da atividade certificada de projeto”.

A Decisão 3/CMP.1, parágrafo 43 prevê que “a atividade de projeto no âmbito do MDL será
adicional se reduzir as emissões antrópicas de gases de efeito estufa por fontes para níveis
inferiores aos que teriam ocorrido na ausência da atividade de projeto registrada no âmbito do
MDL”. No entanto, quando outros benefícios financeiros existem, é preciso provar que o projeto
não seria implementado sem o auxílio dos recursos adicionais provenientes do MDL. Como por
exemplo, uma usina hidrelétrica, que pode vender a eletricidade que produz. Se, do ponto de
vista econômico e financeiro, for mais interessante construir uma usina térmica, mas mesmo
assim o empreendedor optar por fazer uma usina hidrelétrica motivado pelo MDL, o projeto pode
ser considerado adicional.

Caso no país exista uma atividade que reduza emissões de gases de efeito estufa e esta
atividade for obrigatória, ela não poderá ser registrada como atividade de projeto de MDL. Por
ex., a exigência da inclusão de 5% de biodiesel ao diesel brasileiro. Porém, o uso superior a este
percentual seria considerado adicional.

 2. Conceito de Leakage (Fuga)


Outro conceito muito importante para qualquer ação de mitigação é o de
fugas (leakage) que podem ocorrer da aplicação da atividade pretendida. É o
aumento de emissões de GEE que ocorre fora do limite de projeto, ação ou política
de mitigação que, ao mesmo tempo, seja mensurável e atribuível a essa ação.

Por exemplo, para reduzir o desmatamento de uma floresta, estabelece-se


um parque de proteção integral da natureza e realiza-se a retirada das pessoas,
que viviam naquela área. A fuga poderia ocorrer ao serem desmatadas novas
áreas em que as famílias retiradas do local do novo parque se mudariam.
Assim, as emissões de fuga devem ser descontadas dos ganhos alcançados
com a ação de mitigação.

 3. Conceito de Permanência
O conceito de permanência está vinculado à garantia ou não de que o
carbono estocado nas florestas estará a salvo de pragas, desastres naturais
ou intervenções humanas que poderão devolver o CO2 , outrora armazenado,
à atmosfera. De acordo com o Guia de Orientação do MDL (FRONDIZI, 2009),
o princípio de permanência está relacionado às atividades de mudança no uso
da terra e florestas.

4. Exemplos de ações de mitigação em setores diversos

Em termos de ações de mitigação de gases de efeito estufa, o Brasil


tem muito a ensinar a outros países do mundo, inclusive àqueles com metas
quantificadas de redução ou limitação de gases de efeito estufa. Boa parte
das iniciativas implementadas no Brasil, que resultaram direta ou indiretamente
em redução da emissão de gases de efeito estufa, podem ser consultados na Para Saber+
sobre a Primeira
Primeira e Segunda Comunicação Nacional de Mudança do Clima à UNFCCC. e Segunda
Comunicação
de Mudança do
Neste tópico, veremos algumas iniciativas de destaque no Brasil, como Clima, visite o
Projetos MDL de aterros sanitários - transformação de lixões em aterros endereço abaixo:
sanitários; Projetos MDL de Reflorestamento / Florestamento; Agricultura;
Biodiesel; Energia e outras ações. http://www.mct.
gov.br/index.
php/content/
Porém, antes de prosseguirmos, é fundamental relembrar duas ações view/4004/
Comunicacao_
importantes que já exploramos na Unidade 1: as iniciativas de compensação
Nacional.html
de emissão de GEE durante a Rio+20 e também durante a COPA de 2014.

Relembrando...

1) Compensação de emissão de GEE durante a Rio+20 – foi


uma estratégia que contou com a doação voluntária de pessoas
e empresas para haver a compensação das emissões que não
puderam ser diminuídas em outras iniciativas. Vamos aproveitar
para relembrar também como isso foi realizado: para compensar 1
tonelada de CO2e, foi pedido que 10 reais fossem doados. Resultado:
mais de 45 mil reduções certificadas de emissões (RCEs) foram
canceladas voluntariamente junto ao sistema de registros do MDP/
Protocolo de Quioto.
2) Compensação de emissões durante a COPA de 2014 – o Brasil
conseguiu neutralizar 545,5 mil toneladas de CO2e, correspondendo
a evitar o desmatamento de 1.123 campos de futebol de Floresta
Amazônica. Ou seja, das 59.2 mil toneladas emitidas de CO2 e, na
COPA, mais de nove vezes dessa quantidade foi compensada.

Agora, sim, podemos continuar o nosso estudo, para analisarmos


algumas ações de mitigação nos mais diversos setores. Vamos lá!

4.1 Projetos MDL de aterros sanitários

O metano (CH4) apresenta um potencial de aquecimento global 21 vezes


superior ao do dióxido de carbono (CO 2).

E o que significa potencial de aquecimento global?

Bem, potencial de aquecimento global (global warming potential -


GWP) é o índice estimado pela literatura científica e relatado pelo IPCC em
suas avaliações periódicas e utilizado para uniformizar as quantidades dos
diversos GEE em termos de dióxido de carbono equivalente, possibilitando que
as reduções de diferentes gases seja somada.

O GWP, que deve ser utilizado para o primeiro período de compromisso


(2008-2012), é o publicado no Segundo Relatório de Avaliação do IPCC
Veja mais no
(FRONDIZI, 2009).
Veja mais no
AR5:
sítio do IPCC:
No entanto, o 5º Relatório de Avaliação do IPCC deu atenção crescente
5º Relatório sobre o potencial de mudança de temperatura global (GTP), que se baseia na
De Avaliação temperatura média global da superfície num ponto escolhido do tempo. O GTP
do IPCC é mais adequado para atingir políticas baseadas em metas.

Intergovern-
mental Panel Os aterros sanitários são uma das principais fontes de emissão do gás
on Climate metano (CH4). A formação desse gás em lixões e aterros ocorre a partir da
Change decomposição de matéria orgânica por meio da ação de bactérias.

Ações locais para reduzir a emissão do metano são fundamentais para


contribuir com a luta global de combate à mudança global do clima.

O Aterro Bandeirantes possui capacidade para gerar aproximadamente


170 mil MWh de energia elétrica por ano e a possibilidade de comercialização
pela prefeitura de São Paulo (Veja http://www.infoescola.com/ecologia/aterro-sanitario-e-
mdl/ )de 1.070.629 RCEs (Reduções Certificadas de Emissão), sendo que cada
crédito corresponde a 1 tCO 2e (tonelada de carbono equivalente) que deixaram de
ser lançados para a atmosfera.

Essa comercialização gerou, em seu primeiro leilão, divisas à Prefeitura de


São Paulo de 12 milhões de Euros para cerca de 800.000 RCEs negociadas a
16,20 por tonelada de equivalentes de carbono. Até março de 2012 foram emitidas
3.673.321 RCEs.

Reduções Certificadas de Emissão representam as reduções de emissões de GEE decorrentes


de atividades de projetos elegíveis para o MDL e que tenham passado por todo o Ciclo do Projeto
do MDL (validação/registro, monitoramento e verificação/certificação), que culmina justamente
com a emissão ex post das RCEs. As RCEs são expressas em toneladas métricas de dióxido
de carbono equivalente, calculadas de acordo com o potencial de aquecimento global. Uma
unidade de RCE é igual a uma tonelada métrica de dióxido de carbono equivalente. As RCEs
podem ser utilizadas por Partes no Anexo I como forma de cumprimento parcial de suas metas
de redução de emissões de GEE até o final do segundo período de compromisso do Protocolo
de Quioto (2013-2020) (FRONDIZI, 2009).

4.2 Projetos MDL de Reflorestamento / Florestamento

As florestas são reservatórios ou sumidouros


de carbono, a remoção de CO2 da atmosfera dá-se por
meio da fotossíntese. Vejamos, a seguir, dois projetos de
MDL florestal implementados no Brasil:

1. Um destes projetos é desenvolvido no


estado de São Paulo, pela AES Tietê, e prevê a
redução de aproximadamente 160 mil toneladas de CO 2
por ano. De que modo? Bem, é realizada recomposição
de um montante superior de florestas nativas das áreas
de preservação permanente no entorno de reservatórios
hidroelétricos. O projeto utiliza o plantio de espécies nativas da mata atlântica para
fazer essa recomposição florestal;

2. O outro projeto florestal que vem sendo desenvolvido, no estado


de Minas Gerais, é promovido pelo Grupo Plantar, e prevê a redução de
aproximadamente 76 mil toneladas de CO2 por ano. É feito o plantio de florestas
industriais de eucalipto para a usina siderúrgica do grupo obter 100% de seu
suprimento de madeira de fontes plantadas, evitando o uso do carvão oriundo de
desmatamento ou coque de carvão mineral.
Você saberia dizer qual a diferença entre florestamento e reflorestamento? Quais atividades
seriam permitidas no âmbito florestamento/reflorestamento - F/R? Bem, vamos por partes...

Reflorestamento é quando não há mais floresta no local, ou seja, é uma área sem florestas que
pode ser reflorestada. Assim, após a atividade de reflorestamento, a área vira uma floresta.

Exemplos de atividades permitidas no âmbito F/R – Existem vários tipos de atividades,


desde florestas de produção - por exemplo, plantar florestas para produção de carvão vegetal -
ou reflorestamento para a conservação ambiental e proteção da biodiversidade - por exemplo,
uma área degradada no entorno de rios ou de lagoas poderia utilizar o MDL para financiar o
reflorestamento para proteção e recuperação das matas ciliares.

4.3 Agricultura – Plantio direto

Atividades de mitigação de sucesso incluem o plantio direto, integração da


lavoura agropecuária com florestas e rotação de culturas. E qual a importância
desse tipo do plantio direto? Bem, adotar o plantio direto significa mais carbono
no solo e menos na atmosfera, já que não há remoção da terra na hora do plantio,
mantendo a matéria orgânica no solo.

O Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento – MAPA (veja


http://agricultura.gov.br/) nos diz que o sistema de plantio direto segue a lógica das
florestas.

O plantio direto é feito sem as etapas do preparo convencional da aração e da gradagem da


terra, ou seja, sem o preparo físico da terra. Nessa técnica, é necessário manter o solo sempre
coberto por plantas em desenvolvimento e por resíduos vegetais (restos de outra plantação).

Essa cobertura tem por finalidade proteger o solo do impacto direto das gotas de chuva, do
escorrimento superficial e das erosões hídrica e eólica. Esse modo reduz em 60% o consumo
de combustíveis; em 90% a erosão do solo; melhora a qualidade da água, restaura a atividade
biológica natural: amplia a produção de grãos de forma sustentável e com maior rentabilidade,
e preserva o solo e o meio ambiente.

http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/milho/arvore/CONTAG01_72_59200523355.html

Isso significa que do mesmo jeito que o material orgânico caído das árvores se transforma em
rico adubo natural, os resíduos decompostos de safras anteriores por macro e micro-organismos
transformam-se no “alimento” do solo.

O Brasil é líder mundial no uso do sistema, que ocupa mais da


metade de sua área plantada.
Vejamos as vantagens do plantio direto:
1. Redução no uso de insumos químicos e controle dos processos erosivos,
pois a infiltração da água se torna mais lenta pela permanente cobertura no solo.

2. Contribui para que o solo não seja levado pelas erosões e armazene
mais nutrientes, fertilizantes e corretivos. A quantidade de matéria orgânica pode
triplicar, de uma concentração de pouco mais de 1% para acima de 3%. A viabilidade
econômica do sistema se assegura no crescimento – em muitos casos no potencial
de duplicação – da produção e da produtividade.

3. O sistema é um dos principais instrumentos dos projetos de integração


lavoura-pecuária-floresta plantada para recuperação de áreas de pastagens
degradadas. Com a melhora da qualidade do alimento do gado, o tempo de abate
e a emissão de metano sofrem significativa redução.

4.4 Agricultura – Recuperação de áreas degradadas

O solo degradado é consequência da perda de sua capacidade física e


química (fertilizantes) de continuar produtivo, o que o impossibilita de reter gás
carbônico (CO 2).

O Brasil possui cerca de 30 milhões de hectares de áreas de pastagens em


algum estágio de degradação, com baixíssima produtividade para o alimento animal.

Para conhecer outras iniciativas na agricultura, acesse o link abaixo:


http://www.agricultura.gov.br/desenvolvimento-sustentavel

4.5 Biodiesel

Você sabia que o biodiesel apresenta benefícios de natureza


social, econômica, ambiental e estratégica?
Permite o desenvolvimento da indústria nacional de bens e serviços e
contribui para substituir o diesel importado por combustível nacional, limpo e
renovável. Além disso, a cadeia produtiva do biodiesel tem grande potencial de
geração de empregos, promovendo a inclusão social, especialmente quando se
considera o amplo potencial produtivo da agricultura familiar.

Várias iniciativas de sucesso têm sido implementadas no Brasil, uma delas


é a inclusão no transporte público urbano de ônibus movidos à biodiesel. Entre as
cidades que aderiram a esta iniciativa estão São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro.
A economia de combustível chega a cerca de 30%, e contribui para a redução na
emissão de gases de efeito estufa (BRASIL, 2010).

O biodiesel pode ser produzido a partir de gorduras animais ou de óleos vegetais, existindo
no Brasil diversificadas opções de matérias-primas oleaginosas, com diferentes potenciais
energéticos, que podem ser utilizadas, tais como mamona, dendê (palma), girassol, babaçu,
amendoim, pinhão manso (Jatropha curcas L.) e soja, dentre outras. O Programa Nacional de
Produção e Uso de Biodiesel – PNPB procura não privilegiar nenhuma matéria-prima, deixando
o produtor escolher, que o fará com base na análise de custos de produção e de oportunidade.
(BRASIL, 2010).

Veja mais em:


.mme.gov.br/programas/biodiesel
O que é o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB)?

4.6 Energia

As ações de mitigação no setor energético no Brasil estão relacionadas à:

 instalação de painéis fotovoltaicos;

 geração de energia proveniente do lixo (lembra-se do


aproveitamento dos gases dos aterros sanitários?);

 construção de prédios eficientes, permitindo ganhos no


uso da energia, como por exemplo o uso de lâmpadas de
baixo consumo, e

 melhoria da eficiência da oferta e eficiência energética.

Dentre os benefícios do programa destaca-se a racionalização do


uso da energia elétrica; o aumento da eficiência energética em
aparelhos elétricos e a conscientização pública (na escolha do
aparelho considerando a sua eficiência e seu gasto energético).
Entre os projetos de conservação de energia bem sucedidos
desenvolvidos no Brasil destaca-se o Programa Nacional de Conservação de
Energia Elétrica – PROCEL que tem o objetivo de promover a racionalização
da produção e do consumo de energia elétrica, para eliminar os desperdícios
e reduzir os custos e os investimentos setoriais.

5. Encerramento

Finalizamos a Unidade 2, em que exploramos mais detidamente a


mitigação. Entendemos que a mitigação requer que as emissões dos gases
de efeito estufa sejam reduzidas. Essas ações contam com o suporte de
atores importantes, como o IPCC – que tem produzido informações com
base científica fundamentais, os formuladores de políticas públicas e o setor
produtivo – iniciativas empresariais.

Também exploramos as metas e os mecanismos do Protocolo de Quioto


e seguimos analisando alguns programas que contribuem com o efetivo efeito
de mitigação – como combustível automotivo e a incorporação do biodiesel à
matriz energética brasileira.

Vimos conceitos importantes, como o da adicionalidade (redução de


emissões de gases de efeito estufa ou no aumento de remoções de CO2 de
forma adicional ao que ocorreria na ausência de tal atividade); de leakage ou
fuga (aumento de emissões de GEE que ocorre fora do limite de projeto, ação
ou política de mitigação), e de permanência (vinculado à garantia ou não de que
o carbono estocado nas florestas estará a salvo de pragas, desastres naturais
ou intervenções humanas que poderão devolver o CO 2, antes armazenado, à
atmosfera).

Concluímos observando alguns exemplos de iniciativas de relevo nas


ações de mitigação em setores diversos, como os Projetos MDL; a Agricultura;
o Biodiesel; a Eficiência do uso da Energia e ações de compensação.

Agora, aguardamos você na Unidade 3, para o estudo da Adaptação. Até lá!


Unidade 3
Adaptação

1. Introdução

Ações de adaptação são importantes para diminuir os impactos que ocorrem


por causa das vulnerabilidades dos sistemas naturais e humanos diante dos efeitos
da mudança do clima.

Então, nesta Unidade, veremos temas fundamentais para compreendermos


os principais aspectos da adaptação. Exploraremos os princípios e a priorização
de atividades; alguns exemplos de ações de adaptação em setores diversos; a
interação entre adaptação e mitigação: complementaridades e trade-offs, concluindo
com recomendações para gestores governamentais.

Objetivos de aprendizagem

Assim, esperamos que, após finalizar o estudo desta Unidade, você possa:

• Definir o que é adaptação;


• Identificar os tipos de adaptação;
• Identificar os objetivos da adaptação;
• Descrever os princípios da adaptação;
• Fazer a relação entre adaptação e mitigação.
2. Adaptação

É por isso que conhecer as


A Segunda Comunicação Nacional do
vulnerabilidades sociais,
Brasil à Convenção-Quadro das
econômicas e ambientais é
Nações Unidas Sobre Mudança do
Clima destaca que todas as regiões e muito importante para
agentes econômicos e sociais melhorar a qualidade das
apresentam algum tipo de políticas de adaptação da
vulnerabilidade à mudança global do sociedade e do governo a
clima e a eventos climáticos tais eventos, não é mesmo?
extremos.

A vulnerabilidade representa o grau de susceptibilidade de uma região, de um grupo, de uma


atividade ou setor socioeconômico, ou de um recurso natural a eventos extremos do clima, tais
como secas, cheias, picos de temperatura, elevação do nível do mar e furacões. Vulnerabilidade
existe em função do caráter, da dimensão e da taxa de variação climática ao qual um sistema é
exposto, sua sensibilidade e capacidade de adaptação.

As medidas de adaptação são importantes para reduzir a vulnerabilidade


de regiões, ecossistemas, populações e atividades, e, desta forma,
reduzir os impactos e os prejuízos daí advindos.

Em alguns sistemas naturais, a intervenção humana pode facilitar a


adaptação à mudança do clima e seus efeitos (IPCC, 2014).

2.1 Definição, Objetivos e Tipos

A adaptação é um ajuste do sistema natural ou humano em resposta


aos efeitos climáticos atuais ou futuros. São iniciativas e medidas para
reduzir a vulnerabilidade dos sistemas naturais e humanos diante dos
efeitos atuais e esperados da mudança do clima.

Seu principal objetivo é reduzir o impacto dos efeitos adversos da


mudança do clima, para salvaguardar as populações, o meio ambiente e as
estruturas existentes.
Agora, vejamos as classificações da adaptação.

1. Antecipatória/proativa  ocorre antes de o impacto acontecer.

2. autônoma/espontânea/reativa  é a ação desencadeada por mudanças ambientais nos


sistemas naturais e por mudanças no mercado e bem-
estar nos sistemas humanos.

3. planejada  é resultado das ações e decisões políticas, baseadas na


consciência de que a mudança de clima pode vir a
ocorrer. (Nobre, 2008).

Tabela 1 - Exemplos de Adaptação Antecipatória e Reativa


Antecipatória Reativa

• Épocas de colheitas mais curtas ou mais longas


Sistemas • Migração de espécies para terras úmidas
Naturais
• Mudança em ecossistemas (a transição de
floresta tropical para savanas)

•Mudança na arquitetura de • Mudar local de residência


edifícios
• Mudança em prêmios de seguros
Privado
•Adquirir seguros contra
• Aquisição de sistemas de condicionamento de ar
eventos extremos
• Novos produtos de consumo

•Instalação sistemas de alerta • Oferta de compensação ou subsídios


precoce
• Fazer impor códigos de construção
•Estabelecimento de novos
• “Engordamento” das faixas de areia nas praias
códigos de construção
• Construção de diques (O "engordamento" ocorre por meio de ações de
Sistemas
Humanos ampliação da faixa de areia. É comum haver
erosão, por causas próprias da natureza, mas
também existe estreitamento de faixas de areia por
Público ações humanas inapropriadas (como construções
sobre dunas, dentre outras). Daí, para recuperar
larguras de praias, existe o processo de
"engordamento". Como isso será feito, dependerá
de cada situação. Por exemplo: é possível utilizar
areia do fundo do mar ou de rios, ou de jazidas de
areia. Mas, para isso, é preciso haver estudos de
impactos ambientais desse alargamento, de
durabilidade - dentre outros estudos - e a
concessão de licenças).

Não é muito fácil separar uma medida de adaptação de uma ação geral
de desenvolvimento. Vamos entender melhor... Imagine a construção de açudes
no semiárido... Sabia que isso também é uma medida de adaptação, mas sua
construção continua ocorrendo como forma de política local de diminuição dos
efeitos das secas naquela região?

Veja que muitas ações municipais, simples e baratas, poderiam ser


consideradas medidas de adaptação. É por isso que "a adaptação não tem que
necessariamente custar muito, é mesmo uma coisa de melhores práticas e
procedimentos que as municipalidades já têm capacidade de implementar".
(Vesna Stevanovic-Briatico, do governo da cidade de Toronto, Canadá). Outros exemplos:
construção
de cisternas
2.2 Priorização de atividades
no semiárido;
desentupimento
adequado de
valas e esgotos
que podem
contribuir para o
não alagamento
de ruas, criação
de um sistema
de alerta de
enchentes.

Quando se considera a mudança no clima no Brasil, podemos encontrar


um pouco mais de dificuldade para determinar um cenário futuro, principalmente,
por ser um país com grandes dimensões e regiões muito diferentes entre si
(como a Amazônia; o semiárido do Nordeste; o Centro-Oeste, as pradarias
no Sul e o Pantanal), pois cada região especificamente poderá ter diferentes
características climáticas no futuro.

No entanto, o planeta está esquentando. De acordo com o IPCC (2014),


as análises mostram que, desde 1850, no início da era industrial, o aquecimento
foi de cerca de 0,9ºC, sendo que mais de 66% dele aconteceu depois de 1950.
Boa parte desse aquecimento nos últimos anos foi causado pela ação antrópica
(do homem) - 95% de certeza de acordo com o 5º Relatório de Avaliação do IPCC.

Esse aumento pode não parecer muito, mas, se compararmos com o


corpo humano, o aumento de 1ºC na nossa temperatura já causa febre e mal-
estar. O mesmo ocorre com o planeta: mais 0,9ºC provoca forte impacto na Terra.

Então, é muito importante desenvolver o conhecimento científico


dos possíveis impactos decorrentes da mudança do clima e
considera-los na tomada de decisão de planejamento, em especial
no planejamento orçamentário e fiscal.
No Brasil, todos os setores poderão sofrer alguma consequência, mas
algumas áreas, em especial, sentirão os impactos. Por isso, é importante que
as atividades relacionadas à adaptação sejam dirigidas para todos os níveis de
As áreas que necessidades coletivas (saúde, alimento, água, entre outros).
poderão sofrer
mais impacto
são agricultura, A capacidade de modelagem climática no Brasil vem sendo
recursos hídricos, desenvolvida, analisando modelos globais e regionais para cenários
energias
renováveis, atuais e futuros da mudança do clima.
saúde humana,
ecossistemas e
biodiversidade e
No entanto, é importante investir, de modo mais consistente, na
zonas costeiras. produção da ciência do clima no Brasil, para facilitar o entendimento de
Consequentemente suas causas, consequências, das vulnerabilidades e das oportunidades de
as cidades
serão afetadas, mitigação ou adaptação.
trazendo grandes
perdas sociais,
econômicas Agora, para continuarmos o nosso estudo, precisaremos, antes,
e financeiras, entender o conceito de downscaling.
diminuição de
empregos e
migração a regiões E o que é downscaling, você saberia dizer?
menos afetadas por
essas mudanças.
O Centro de Bem, downscaling é a interpolação aplicada a projeções de mudança de
Previsão do clima provenientes de modelos climáticos globais para obter projeções climáticas
Tempo e Estudos
Climáticos – CPTEC mais detalhadas, no longo prazo, com uma melhor resolução espacial derivada
do Instituto Nacional de modelos regionais, do que a proporcionada por um modelo global. Essas
de Pesquisas projeções são passíveis de uso em estudos dos impactos da mudança de clima
Espaciais tem
desenvolvido
em diversos setores sócio-econômicos (agrícola, energético, saúde, recursos
estudos importantes hídricos, etc.), indicando a vulnerabilidade aos riscos na forma de probabilidade.
nesse tema. Para
isso, o INPE
desenvolveu o A interpolação significa a “junção de um modelo global com um modelo
modelo regional regional”, o que proporciona uma resolução mais alta na construção e avaliação
Eta-CPTEC para de cenários futuros de mudança do clima.
a América do Sul,
que é executado em
supercomputadores, Estudos realizados no INPE têm avaliado os diferentes cenários de
dada a necessidade
de grande mudança do clima propostos pelos modelos acoplados globais do Quarto e
processamento Quinto Relatórios de Avaliação do IPCC e desenvolvido métodos de downscaling.
em tempo real.
Outra instituição
brasileira que Essas projeções podem ser usadas em estudos dos impactos da
tem desenvolvido mudança de clima em diversos setores socioeconômicos (agrícola, energético,
diversos estudos
sobre os efeitos da saúde, recursos hídricos, etc.), indicando a vulnerabilidade aos riscos na forma
mudança do clima de probabilidade.
na agricultura é a
Empresa Brasileira
de Pesquisa A capacidade de adaptação dependerá basicamente de sua
Agropecuária – vulnerabilidade. Devido à complexidade e à natureza específica das
Embrapa.
vulnerabilidades brasileiras, a priorização da tomada de decisão deverá
considerar os resultados dos estudos já realizados no Brasil.
A vulnerabilidade é o reflexo do grau de
suscetibilidade do sistema para lidar com os efeitos
adversos da mudança do clima, e da sua resiliência, ou
seja, da habilidade do sistema em absorver impactos
preservando a mesma estrutura básica e os mesmos
meios de funcionamento. A vulnerabilidade é a função
da magnitude, qualidade, e índice da variação climática
a qual um sistema está exposto, como também sua
sensibilidade e capacidade de adaptação.

Vejamos os setores que serão mais diretamente afetados.

1. O setor agrícola no Brasil deverá ser o mais


diretamente afetado pelas secas, mas outros setores, como
a geração de energia hidrelétrica, também serão afetados,
principalmente devido às mudanças no regime hidrológico.
Com a queda na produção e na produtividade nos períodos
mais secos, os preços tendem a aumentar. Com a ampliação
das secas, os riscos de ocorrência de falta de alimento
também tendem a subir.

Para o setor elétrico, a vulnerabilidade climática é decorrente das variações


no ciclo hidrológico brasileiro e, consequentemente, em aproveitamentos hidrelétricos,
bem como no possível aumento da demanda de energia nas grandes áreas urbanas do
país em função do aumento de temperatura, afetando a produção e a oferta de energia.

2. As enchentes também representam um grande problema em várias regiões,


incluindo a região metropolitana do Rio de Janeiro, São Paulo, e outras grandes
cidades, especialmente, devido à ocupação desordenada e sem planejamento.
Secas e inundações poderão causar perdas de bilhões de dólares e, principalmente,
um considerável número de perdas humanas e de infraestrutura.

3. Algumas das principais vulnerabilidades do país


estão relacionadas à ocupação das zonas costeiras, devido
a possível elevação do nível do mar. Uma avaliação das
possíveis medidas de adaptação será importante para
evitar os altos custos de proteção de áreas desenvolvidas
ou de melhorar estruturas costeiras para um dado aumento
do nível do mar. Uma abordagem preventiva e uma política
de ordenamento territorial faz-se necessário quando da seleção de locais para a
expansão urbana e localização de indústrias, levando em consideração as possíveis
consequências da mudança do clima.
4. A mudança do clima pode implicar em um amplo
potencial de impactos na saúde pública. Alguns desses
impactos podem resultar diretamente em ondas de calor
e alteração no regime das chuvas, com consequentes
inundações e secas. A transmissão de várias doenças
infecciosas que são particularmente sensíveis às mudanças
de clima, especialmente aquelas transmitidas por mosquitos,
como, por exemplo, malária, que poderá migrar para a
região Sudeste.

No Brasil, a região Amazônica é uma das áreas mais vulneráveis a esses


problemas, considerando que o seu ambiente natural é o mais favorável ao aumento
de várias doenças nas quais a reprodução dos vetores e parasitas beneficia-
se das condições climáticas de altas temperaturas e umidade, além da grande
disponibilidade de água.

5. Outros impactos podem incluir mudança na produção de alimentos,


deslocamento de populações (migrações para regiões com melhores condições),
ocasionando desse modo, problemas sociais e econômicos.

O conhecimento atual das dimensões regionais da mudança global


do clima é o que possibilitará a tomada de decisões futuras.

Vejamos, a seguir, o mapa que apresenta de maneira geral os principais


impactos e as mudanças mais sensíveis esperadas para as regiões brasileiras para
o período de finais de século (2070-2100).

CCST -
Centro de
Ciência do
Sistema
Terrestre
E INPE -
Instituto
Nacional de
Pesquisas
Espaciais

INCT para
Mudanças
Climáticas

Fonte: Marengo, 2009.

Introdução à Mudança do Clima | 60


Também chamamos a atenção para alguns pontos do 5º Relatório de
Avaliação do IPCC no seu relatório sobre impactos, vulnerabilidade
e adaptação:

▪ Nas décadas recentes, as mudanças no clima causaram impactos


nos sistemas naturais e humano em todos os continentes e oceanos.
▪ Muitas espécies terrestres, marinhas e de água doce mudaram suas
escalas geográficas, atividades sazonais, padrões de migração e a
interação entre espécies em resposta à mudança do clima em curso.
▪ Os impactos negativos no rendimento das colheitas foram maiores
que os impactos positivos.
▪ Os impactos dos eventos climáticos extremos revelam significativa
vulnerabilidade e exposição de alguns ecossistemas e muitos
sistemas humanos a atual variabilidade climática.
▪ As pessoas que são socialmente, economicamente, culturalmente,
politicamente, institucionalmente marginalizadas são especialmente
vulneráveis à mudança do clima. Consulte mais
▪ Os riscos relacionados ao clima exacerbam outros fatores em: http://www.
estressantes, muitas vezes com resultados, especialmente para as ipcc.ch
pessoas que vivem em situação de pobreza.

Para finalizar este tópico, é importante retomar o


Mecanismo de Perdas e Danos, resultado da COP 1 9,
em Varsóvia, que começamos a estudar na Unidade 1 .

Esse Mecanismo representou uma preocupação com a questão da


adaptação e gestão de riscos e tem como intuito aprofundar o conhecimento e
entendimento de abordagens de gestão de risco, inclusive de eventos lentos;
fortalecer o diálogo, a coordenação, coerência e sinergia com stakeholders
relevantes; aprimorar a ação e o apoio, incluindo financiamento, tecnologia e
construção de capacidades para lidar com perdas e danos.

Agora que já relembramos esse importante Mecanismo, vamos


prosseguir para o tópico, a seguir, em que exploraremos alguns exemplos de
ações de adaptação. Vamos lá!

3. Exemplos de ações de adaptação em setores diversos

Neste tópico, conversaremos sobre alguns exemplos de ações


de adaptação em setores diversos, incluindo atividades de redução de
vulnerabilidades frente aos impactos adversos da mudança do clima.
Retiramos as ações destacadas da Segunda Comunicação Nacional de
Mudança do Clima. No entanto, a parte de energia foi retirada do documento
"Mudanças Climáticas e Segurança Energética no Brasil" (SHAEFFER, et al,
2008).

3.1 Energia

 Desenvolver modelos para o setor de energia capazes de levar


em conta os cenários de mudança do clima, de modo a aumentar a
confiabilidade dos resultados das simulações para o setor.

 Substituir equipamentos, tais como lâmpadas, para aumentar a


eficiência da iluminação pública e estimular projetos arquitetônicos
que façam melhor uso da iluminação e ventilação naturais, com
consequente conservação de energia.

 Fomentar a gestão de demanda de recursos hídricos, por meio


do uso racional da água e intensificar a ampliação dos programas de
eficiência energética setoriais.

 Fomentar uma política e incentivos econômicos produtivos para reduzir o


consumo e aumentar a eficiência energética nos setores residencial, industrial
e de serviços. Descontos para consumidores que instalem novos equipamentos
mais eficientes podem ser economicamente vantajosos para as concessionárias
quando o custo marginal da expansão do fornecimento exceder os custos do
programa de descontos.

 Criar incentivos à substituição de chuveiros elétricos por aquecedores a gás


(a alternativa mais viável economicamente) ou, mesmo, por painéis solares.

3.2 Agropecuária

 Identificar as vulnerabilidades do setor de agropecuária


no país, identificando os cultivares mais resilientes à
mudança do clima, ou intensificando técnicas menos
agressivas ao solo, tais como o plantio direto.

 Identificar a distribuição espacial de doenças de plantas


com base nas condições climáticas atuais e estimativas de
mudança global e regional do clima.

 Implementar políticas públicas guiadas para o melhoramento genético


animal e vegetal para as novas condições climáticas e de aumento na incidência
de pragas e doenças; e para a adequação do setor produtivo aos efeitos da
mudança global do clima, visando à orientação sobre medidas de adaptação.

 Implementar sistemas integrados de produção e sistemas de lavoura-


pecuária-floresta.

 Implementar atividades de recuperação de pastagens; fixação do nitrogênio http://www.


e utilização de dejetos animais como adubo nos cultivares. agricultura.gov.br/
desenvolvimento-
 Implementar ações integradas de ciência e tecnologia, visando à segurança sustentavel
alimentar de territórios rurais, especialmente no semiárido.

3.3 Floresta e Biodiversidade

 Desenvolver métodos e ferramentas que permitam uma melhor


percepçãoregionalelocaldosecossistemasflorestais,possibilitando
a identificação às principais vulnerabilidades florestais.

 Avaliar a potencialidade para estocagem de carbono de cada


ecossistema, bem como a identificação de áreas prioritárias para
estabelecimento de corredores ecológicos em ecossistemas
sensíveis à mudança do clima.

 Reestruturar e integrar as iniciativas relativas a inventários biológicos


(espécies e variabilidade genética) e informações ambientais (levantamento
pedológico e de dados climáticos e hidrológicos), bem como a implementação
de um programa nacional, que inclua a participação de outros atores, tais como
a iniciativa privada.

 Revisar prioridades de conservação e estabelecimento de corredores


ecológicos, levando-se em conta o impacto da mudança global do clima na
biodiversidade.

 Recuperar áreas degradadas e ecossistemas.

3.4 Saúde

 Fortalecer a capacidade política e institucional do Sistema


Nacional de Defesa Civil e outras entidades ligadas à saúde
humana para melhorar sua atuação em caso de desastres naturais.

 Realizar um levantamento dos impactos da mudança global


do clima na saúde humana e sua quantificação física e financeira,
de maneira que as informações sobre a produção de alimentos, os custos de
tratamento de doenças infecciosas endêmicas e de poluição atmosférica, morbi-
mortalidade e impactos materiais sejam previstos.

 Instalar sistemas direcionados de vigilância ambiental, epidemiológica e


entomológica em diversas localidades e para situações selecionadas, visando à
detecção precoce de sinais de efeitos biológicos da mudança do clima (aumento de
doenças e epidemias).

 Integrar as informações dos bancos de dados da defesa civil (municípios e


estados) com os órgãos de assistência médica, visando à melhoria na qualidade do
registro de agravos à saúde causados por eventos extremos de clima.

3.5 Zona Costeira e Áreas Urbanas

 Mapear e identificar as regiões mais suscetíveis de ocupação, considerando


os estudos de risco para zonas costeiras, contemplando aspectos ambientais,
técnicos, de engenharia e socioeconômicos com o intuito de normatizar a ocupação
litorânea, diminuindo os riscos que poderão ser causados pela elevação do nível do
mar e mau ordenamento territorial.

 Elaborar diretrizes e de normas técnicas para obras costeiras e marítimas,


que incorporem os possíveis impactos da mudança global do clima sobre obras
e construções.

 Avaliar e mapear a vulnerabilidade das áreas de risco de alagamentos e de


deslizamentos de encostas nas cidades.

 Realizar um levantamento dos impactos econômicos, sociais e ambientais em


relação a eventos de natureza climática, como inundações e deslizamentos.

 Promover construções que se adaptem às temperaturas mais elevadas, tais


como telhados ecológicos, prédios com iluminação e ventilação naturais, etc.,
levando em consideração as opções de uso e reuso da água.

Finalizamos a exploração de muitas ações de adaptação. Agora, precisamos


compreender como adaptação e mitigação se entrelaçam. E é isso que estudaremos,
a seguir.
4. Interação entre adaptação e mitigação

Neste momento, vamos conversar sobre a relação existente entre adaptação


e mitigação, analisando complementaridades e trade-offs (conflitos).

Ações de mitigação atuam nos processos que causam mudança do clima; por
isso, reduzem os impactos, positivos ou negativos, no clima global. Assim, podemos
dizer que ações de mitigação podem reduzir também o desafio da adaptação, já
que a adaptação pode ser realizada tanto em decorrência de um impacto positivo
quanto de um impacto negativo (Goklany, 2005 in IPCC).

As duas opções são implementadas no mesmo local ou em escala regional,


e podem ser motivadas por interesses e prioridades locais, regionais, e pelas
preocupações globais. Vejamos as diferenças entre o alcance dos efeitos das ações
de mitigação e de adaptação, o tempo para se sentir os benefícios e o retorno dos
custos aplicados de cada uma delas e também o retorno dos custos nelas aplicados.

Mitigação  - tem efeitos globais, mesmo que suas ações tenham sido
realizadas localmente. Envolve um maior número de países;
- as ações de reduções de emissões de CO2 podem ser alcançadas
por diferentes ações de mitigação, podendo haver comparação entre
uma ação e outra, da sua eficácia e do seu custo efetividade
(MOOMAW et al., 2001).
- os benefícios das medidas de mitigação hoje serão sentidos em
algumas décadas e não imediatamente, devido ao caráter de
permanência dos gases de efeito estufa na atmosfera.
- o retorno dos custos aplicados em medidas de mitigação são mais
demorados do que é o retorno dos seus benefícios.

Adaptação  - funciona em um escala de sistema de impactos, que é regional na


melhor das hipóteses, mas que geralmente são sentidos localmente.
- por seu caráter local ou regional, os efeitos e benefícios das
medidas de adaptação serão valorizados diferentemente,
dependendo das questões sociais, econômicas e do contexto
político no qual a ação está inserida.
- as medidas de adaptação são eficazes a curto prazo, trazendo
benefícios na redução da vulnerabilidade à variabilidade climática
natural.
- o retorno dos gastos com adaptação e redução de vulnerabilidades
são bem mais rápidos e mais fáceis de serem visualizados pela
população e agentes políticos.
Essas diferenças e assimetrias entre mitigação e adaptação têm efeito
no tipo de atividade que se pretende realizar. Existem inúmeras maneiras
de complementaridade entre ações de mitigação e adaptação, que
podem ser relacionadas em diferentes níveis de tomada de decisão.

Os esforços de mitigação podem promover a capacidade de adaptação


ao eliminar as falhas e distorções de mercado, como subsídios perversos
que impedem que os atores da tomada de decisão possam embutir em
suas ações os custos sociais inerentes à política adotada.

Podemos deduzir que a mitigação agrega a maior parcela dos recursos


disponíveis para o emprego de ações. Mas devido ao caráter temporal da
mitigação e da adaptação, espera-se que os recursos disponíveis para cada
ação sejam tratados de maneira separada.

Porém, em vários casos ações de mitigação e adaptação podem ter


complementaridade positiva.

Vejamos alguns exemplos de complementaridade positiva de ações de mitigação e adaptação:


uma região que possui encostas degradadas e sofre com deslizamentos por causa de eventos
extremos do clima pode realizar ações de revegetação de encostas, que ao mesmo tempo
aumentam a resiliência das localidades e aumentam o processo de remoção de CO2 da
atmosfera.

Da mesma forma, ações de replantio de vegetação na área de nascentes de água aumentam


o estoque de carbono (ação de mitigação) e podem propiciar uma maior regularidade de
vazão do rio na produção hidroelétrica (ação de redução de vulnerabilidade do setor elétrico).

Mas ações de mitigação e


adaptação nem sempre são
complementares. A
complementaridade pode ter
efeito positivo ou negativo. E isso significa
exatamente o quê?
Bem, uma ação de redução de vulnerabilidade e adaptação pode
aumentar as emissões de GEE. Da mesma forma, uma ação de mitigação
pode deixar uma localidade mais vulnerável. Entretanto, tanto as ações
de adaptação podem ser positivas ou negativas para a mitigação. Para
entender melhor, vejamos alguns exemplos.

▪ Exemplo de aumento de emissões de GEE: estabelecer


estruturas de irrigação para manter a produção agrícola quando
o processo hidrológico se transforma - as estruturas de irrigação
podem aumentar a demanda de energia, assim como exigir
grandes obras de infraestrutura que necessitam de insumos que
para serem produzidos geram emissões de GEE (ex. ferro, aço,
cimento etc.).
▪ Exemplo de ação que pode deixar uma localidade mais
vulnerável: para reduzir as emissões de energia, uma localidade
substitui fontes fósseis de energia por centrais hidroelétricas a fio
d’água. Se os regimes hidrológicos se transformam, o suprimento
de energia desta localidade pode ser afetado, pois as hidroelétricas
instaladas não possuem reservatórios (fio d’água).
▪ Exemplo de ações de adaptação positivas: o reflorestamento,
que também é considerada parte de uma estratégia regional de
adaptação, contribui positivamente para a mitigação.

A adoção de critérios de mitigação ou adaptação, ou ambos, são cada


vez mais comuns na tomada de decisões que envolve a mudança do clima.

A instalação
Por meio de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, alternativas de conjuntos
de baixo custo podem surgir em diversos setores, tais como o de energia e o de habitacionais
agricultura. Isso permitirá a transição para uma economia mais resiliente aos levando em
consideração o uso
impactos adversos da mudança do clima e com menor padrão de emissões de
e reuso da água
gases de efeito estufa. e preservação
de áreas verdes
são exemplos do
As ações reativas e autônomas de adaptação podem aumentar estabelecimento de
devido à intensificação da mudança do clima. A decisão a ser tomada poderá um novo critério de
quebrar tendências, acelerar transições e marcar um salto no caminho do planejamento local
desenvolvimento sustentável e tecnológico. A ação entre mitigar e adaptar, ou de baixo carbono e
de desenvolvimento
ambas, cabe ao tomador de decisão. Suas ações e necessidades deverão resiliente.
ser levadas em consideração, não deixando de lado as especificidades e
necessidades locais na escolha da ação a ser seguida.
O quanto deverá ser
investido em mitigação,
adaptação, ou ambos, e o Bem, essa é uma
quanto deverá ser decisão que permeará
investido em pesquisa? a ação do gestor
público local.

Quando a ação for tomada, haverá a oportunidade de se aprender e fazer as


correções necessárias. Os resultados incluirão todo o tipo de aprendizado. Apesar
de poder existir alguma incerteza sobre o procedimento adotado, certamente a
escolha tomada influenciará as ações futuras.

O gasto com mudança do clima agora representa economia no futuro.


Por cada US$ 1 investido em prevenção, podem-se poupar de US$ 3 a
US$ 12 em resposta (fonte: SNIP Peru).

5. Conclusões e recomendações

Agora que estamos finalizando o nosso estudo, é importante conversarmos


sobre algumas conclusões e recomendações para gestores governamentais,
federais, estaduais e municipais.

O sucesso das várias ações


de mitigação e adaptação
depende do grau de
comprometimento do
tomador de decisão e da
sociedade no esforço para
reduzir emissões de gases
de efeito estufa e dos
impactos decorrentes da
mudança do clima.
Para adotarmos ações, precisamos considerar as especificidades regionais,
as diferenças de percepção, a identificação do problema e a aceitação local
da medida. Essas ações também deverão contribuir para o desenvolvimento
sustentável e para a geração de emprego e renda.

Existem muitas oportunidades e opções, porém, são necessários esforços


na direção da eficiência energética e da conservação de energia, para reduzir o
consumo, evitando geração adicional e diminuindo as emissões de gases de efeito
estufa. O uso adequado da energia e a redução de seu consumo contribuem para a
redução da emissão de gases de efeito estufa e representa uma economia de divisas.

As ações de combate à mudança do clima tendem a ser muito mais


duradouras, eficazes e sustentáveis se estiverem atribuídas e atreladas a outros
benefícios tais como o ganho efetivo de geração de emprego e renda e incremento
do desenvolvimento sustentável. Isso acarreta em uma maior força técnica e política
para a implementação das ações pretendidas.

Outra importante medida para os gestores públicos é diminuir as taxas


de desmatamento líquido, com preservação das florestas nativas e
incremento das florestas plantadas.

Além disso, precisamos ter em mente que as florestas são consideradas


sumidouros temporários de carbono, e podem valer-se de atividades como o
MDL e o REDD+, gerando receitas para instituições públicas e privadas.

Os gestores públicos também devem considerar o aumento do uso dos


biocombustíveis
Os biocombustíveis brasileiros são fontes de riqueza inconteste para
o país. Sua produção gera renda no campo e sua utilização desloca
fontes fósseis que tanto impactam no clima, quanto na qualidade do
ar que se respira. (PNMC, 2008).

Florestas nativas: as florestas nativas possuem um valor mais alto de serviços ambientais,
por serem depositárias de grande patrimônio genético e ainda desconhecido em sua grande
maioria.

Florestas plantadas: as florestas plantadas, sejam para fins de reconstituição de


ecossistemas, sejam para utilização econômica, geram serviços ambientais de grande
monta, pois preservam fluxos d’água, diminuem ou impedem o assoreamento dos rios e
lagos, melhoram o micro-clima e permitem a preservação de espécies nativas da fauna. Não
deve ser deixada de lado a possibilidade da existência das florestas plantadas (de eucalipto,
pinus, etc.), pois estas geram produtos que substituem o uso de inúmeros recursos naturais
não renováveis, como carvão mineral e matéria prima de construção civil, além de reduzir a
pressão econômica sobre as próprias florestas nativas
É importante identificarmos bem as vulnerabilidades para as ações
referentes aos impactos serem o mais eficazes possível, contribuindo
de maneira adequada para a aplicação das medidas de adaptação. Os
efeitos da mudança do clima ocorrerão em diversos setores (energia,
saúde, recursos hídricos, biodiversidade, agricultura, econômico,
cultural, social, entre outros).

Por isso, as ações intersetoriais devem ser fortalecidas para facilitar a


capacidade de resposta ao aquecimento global.

Identificar os grupos populacionais mais vulneráveis, que não estão preparados para fazer
frente a esses impactos, e promover ações voltadas para fortalecer a resiliência desses grupos
são fundamentais para criar estratégias de adaptação eficazes. (PNMC, 2008).

Nesse sentido, é muito importante fomentar o desenvolvimento


tecnológico. Seja pela adoção de novas tecnologias, novos modelos, ou
simplesmente, por meio da adoção de medidas simples, como a criação de um
sistema de alerta precoce em casos de enchentes

O processo de planejamento também deve resultar em um melhor


ordenamento territorial, que envolve questões de estrutura das construções. Os
benefícios dos investimentos em tecnologias podem ser extremamente diminuídos
se o ordenamento territorial não for bem realizado. O gasto com mudança do clima
agora também poderá representar economia no futuro.

O planejamento pode ser realizado buscando ações imediatas, a um curto e


médio prazos, pois essas ações terão efeito também em longo prazo. É importante
que a mudança do clima passe a fazer parte das linhas orçamentárias dos governos,
onde possam ser incluídas medidas de mitigação e adaptação, que entre outras,
podem incluir atividades de conscientização e de desenvolvimento tecnológico.

O intuito de combater, esclarecer, reduzir ou eliminar as incertezas em relação


às causas, efeitos, magnitude e evolução da mudança do clima e as consequências
econômicas e sociais das diversas estratégias de resposta é a principal ação a ser
tomada no âmbito da gestão pública.
6. Encerramento

Concluímos a Unidade 3! Aqui, estudamos mais detalhadamente aspectos


importantes da adaptação e sua relação com a mitigação. Compreendemos que a
adaptação é um ajuste do sistema natural ou humano aos efeitos climáticos; são
ações para reduzir a vulnerabilidade dos sistemas naturais e humanos diante dos
efeitos da mudança do clima.

Ações de adaptação têm como principal objetivo reduzir o impacto dos efeitos
adversos da mudança do clima, para proteger as populações, o meio ambiente e as
estruturas existentes.

Após, analisamos as classificações da adaptação: 1) antecipatória/


proativa; 2) autônoma/ espontânea/ reativa, e 3) planejada, passando aos
princípios e às formas de priorização de atividades. Verificamos que a adaptação
dependerá de sua vulnerabilidade e que, por conta da complexidade das
vulnerabilidades brasileiras, a priorização da tomada de decisão deverá
considerar os resultados dos estudos já realizados no Brasil.

Vimos também que a área agrícola brasileira será a mais diretamente


impactada pelas secas, e que outros setores (por ex., a geração de energia
hidrelétrica) também serão afetados durante os períodos secos. Além disso,
várias regiões enfrentarão problemas com enchentes. Outras vulnerabilidades
têm a ver com a ocupação das zonas costeiras, por causa da elevação do nível
do mar. Também a saúde pública será afetada pelas doenças infecciosas que
surgirão devido às modificações nos padrões hidrológicos e climáticos. Problemas
econômicos e sociais também se apresentarão, por conta dos problemas que a
produção de alimentos sofrerá e a ocorrência de migrações para regiões menos
afetadas.

E, assim, finalizamos essa Unidade e também o nosso curso! Esperamos ter


contribuído com a sua aprendizagem.

Até uma próxima oportunidade!


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