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FUNIBER

FUNDAÇÃO l/NI

Disc~plina
··· ···· ····· ·············· · ··· ············ ··········-········· ···· ······

-~
índice

•• Apresentação da disciplina

Capítulo 1 • • Conceitos básicos

1.1. O meio ambiente . . . . .. . .. ... . . . .. .. .. .. . ... . . . .. ... .. .. .. . . . .. .. . . . . .. ... . .. . . . . .. . . . .. . . ... .. ... .. .. . . . . .. . 3


1.2. Demografia e meio ambiente ................... .. .. .. ........ ........................... .............. 5
1 .3. Ambiente e desenvolvimento . .. . . . .. . . . . . . .. .. .. . .. . . . .. . .. . . .. .. . . . . .. . . . . . . . . . .. . .. .. .. . . . . .. .. . .. . .. 7
1.3.1. A polémica do desenvolvimento ....................... ...... .. .... ....... .. ............... 8
1.3.2. Sustentabilidade e recursos .... ................................. ....... ..... ......... .. ...... 10
1.4 . Tecnologias inovadoras . .. . . . .. . . . . .. . . . .. .. . .. .. . . . . .. .. .. . .. .. .. . . . . .. . .. . . . . . . . .. .. .. . . . . .. .. . .. .. . . . . . 12
1.4.1. Ferramentas de gestão ambiental .. .. ..... ............ .. ... . ".... ..... .. .. .. .... .. .. .. .. .. 13
1.4.2. Qualidade ambiental .. .... .. .. .. ... .... .. ..... .. .. ... .. ... .. .. .. .. .. .. .. .. .... .. .. . .. .. .. .. .. .. . 14
1.4.2.1. Qualidade do ar . ... . . . .. .. . . .. . ... ... . . . . . . . ... . . . . . . . . . .. . . . .. .. . .. . . . . . ... ... .. . . 17
1.4.2.2. Qualidade da água ................ .......................... .... .............. .. .. 19
1.4.2.3. Qualidade do solo ...... .. ......... ................... ............................. 19
1.4.2.4. Qualidade dos seres vivos ....... ............. .... ....................... .. .... 19

Capítulo 2 • • O desenvolvimento sustentável

2.1. Que é o desenvolvimento sustentável? .. ... . .. .. .. .. .. .. .. .. .. ... .. .. .. ... .. . .. .. .. .. .. .. . .. .. .. .. 23


2.1.1. O desenvolvimento sustentável como conceito básico ............................ 26
2.1.2. Sustentabilidade e modificação de estruturas .. ..... ........................ ......... 26
2.1.3. Críticas ao conceito de desenvolvimento sustentável .............................. 29
2.2. Convênios, tratados e políticas de alcance internacional realizados em
torno do desenvolvimento sustentável . .. . .. . . . .. . .. . . .. . .. .. . . . . .. . . . . .. . . . .. . .. .. . .. . .. . .. .. . . .. . 29
2.2.1. O primeiro relatório do Clube de Roma (1972) ..................................... .. 30
2.2.2. A conferência de Estocolmo das Nações Unidas (1972) ... .. .. .. . .. .. .. .. .. .. .. .. 31

INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE 1


2.2.3. Convênio sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas
de Fauna e Flora Silvestre (CITES) ........... ..... .................. .. ........ ............ 32
2.2.4. A 1ª Cúpula da Terra {1992) ........ ......... ........ ......... ... .......... .......... ....... 32
2.2.4.1. Convenção-quadro das Nações Unidas sobre a Mudança
Climática . . .. . . . .. .. . .. .. . .. .. . . . ... .. .. .. .. . .. .. .. . .. ... .. . .. . . . ... . . .. . .. . .. .. . .. . . . . 33
2.2.4.2. Convenção da Biodiversidade ..................................... .. .......... 33
2.2.4.3. Declaração do rio sobre o meio ambiente e o desenvolvimento
sustentável . . .. . .. . . . .. .. . .. .. . .. .. .. .. . .. .. .. . .. . . . .. .. . . . . . . .. . . . . .. .. .. . . . . .. .. . .. . 35
2.2 .4.4. Declaração de princípios relativos às florestas ... .. .. ... .. ... .. . . ... . .. 37
2.2.4.5. A Agenda 21 .. . . . . .. .. ... ..... .... . .. . . .. . .. . .. . . .. . . . . .. . . . .. .. . .. .. .. .. . .. .. . . .. ... 40
2.2.5. A 2ª Cúpula da Terra {1997) .................................... .................... ....... . 42
2.2.6. Cúpula de Johannesburgo (2002) . . . . .. ... . ..... .. . .. .. ... . . . .. ... .. . ... .. .. . .. ... .. ... . . . . 43
2.3 . Os desafios do desenvolvimento sustentável .. .. .. ......... .. .. . ... .. ................ ........... . 45

•• Bibliografia

2 INTRODUÇÃO AO ME IO AMBIENTE
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA

FUNIBER
Fl.iNCW',.ÃO UNfl/EASJfÁR A '6EROM1ER>CANA

APRESENTAÇÃO DA
DISCIP LINA

A conservação do meio ambiente (ou ambiente) é um dos principais desafios dos países
e dos cidadãos, após ter comprovado que a inércia de tantos anos de exploração dos
recursos naturais desembocou nos graves problemas de poluição e deteriorização
ambiental com os quais nos deparamos atualmente.

Um dos objetivos da disciplina é oferecer uma visão do Desenvolvimento Sustentável,


entendido como um processo dirigido a conseguir um equilíbrio entre os fatores
econômicos, socioculturais e ecológicos, portanto, não se limita a descrever o conceito
de um ponto de vista puramente ecológico, mas que leva em conta suas dimensões
social, política e econômica. Ainda assm, devemos considerar que o desenvolvimento
sustentável não é uma meta, mas um processo em constante mudança no que a
exploração dos recursos naturais, a direção do investimento e do progresso científico-
tecnológico, junto à mudança institucional, permitem compatibilizar a satisfação de
necessidades sociais presentes e futuras (Bifani, 1997}.

Para conseguir esse desafio, um ponto fundamental nesse processo é o trabalho


educacional e formativo, o qual constitui o grande caminho para a sustentabilidade em
várias fases sucessivas: motivação, interesse, informação, sensibilização,
conscientização e ação.

A disciplina de Introdução organiza-se em dois capítulos e um anexo:

no primeiro capítulo, dá-se a definição de uma série de conceitos ambientais e


socioeconômicos básicos, envolvidos no conceito maior de desenvolvimento
sustentável, preparando o aluno para entender a complexidade do termo;

o segundo capítulo descreve desde os antecedentes imediatos do


desenvolvimento sustentável até a definição de seus desafios ou alcances,

INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE 1


APRE SENTAÇÃO DA DISCIPLINA

FUNIBER 8
hJNOAÇÃO UNNE

assim como os convenios, convenções e tratados de alcance internacional


celebrados em seu nome;

o anexo está dedicado aos instrumentos obrigatórios ou reguladores que


promulgam as administrações para a proteção do meio ambiente. Nesse
contexto, faz-se uma revisão das principais características da legislação em
nível internacional, europeu, latino-americano e estado-unidense.

Esse anexo não será impresso e está disponível no Campus Virtual.

Na tabela seguinte, especificam-se os objetivos da disciplina:

CAPfTULO OBJETIVO PARTICULAR RESUMO DO CAPÍTULO CONTRIBUIÇÃO E RESULTADO


OBTIDO
Proporcionar os conceitos
fundamentais necessários
Conhecimento de uma série de
para entender o enfoque do Definição de termos
conceitos ambientais básicos
Capitulo 1 desenvolvimento envolvidos no conceito de
relacionados com o desenvolvimento
sustentável em suas sustentabilidade.
sustentável.
dimensões natural, política e
socioeconõmica.
Conhecer os convênios e Definição e desafios do Conhecimento da origem do conceito
tratados existentes entre desenvolvimento e de sua evolução com as implicações
Estados que estabelecem as sustentável. ecológicas, sociais e econõmicas.
políticas de gestão f - - - -- - - - - - -+ - - - - -- - - - - -- - - - 1
Capitulo 2 orientadas à Convênios, tratados e Conhecimento da redação e
sustentabilidade, políticas de alcance assinatura de tratados e convênios
destacando a preocupação internacional realizados em internacionais, cujo objetivo é incidir
por esses temas nas torno do desenvolvimento sobre a proteção e conservação dos
políticas internacionais. sustentável. elementos naturais.
Análise das principais particularidades ç;
Ordenamento internacional. jurídicas internacionais em matéria
ambiental.

Conhecer a realidade atual Análise da política ambiental da União


Tutela do meio ambiente na
do direito ambiental Europeia, principais disposições e
União Europeia.
Anexo internacional, europeu, programas comunitários.
latino-americano e estado- Análise da política ambiental latino-
unidense. Tutela do meio ambiente na
americana, legislação setorial e outras
América Latina e no Caribe.
particularidades da região.
Tutela do meio ambiente Análise do sistema jurídico norte-
nos Estados Unidos. americano e legislação setorial.

2 INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE


CONCEITOS BASICOS

Capítulo 1

CONCEITOS BÁSICOS

- Proporcionar os conceitos fundamentais necessários para entender


sustentável em suas dimensões natural. política e socioeconômica.

<0
1. o E O A BIE TE

O conceito de meio ambiente (ou melhor, ambiente) é muito amplo, o que faz com que
seja bastante difícil dar uma descrição concreta; uma boa maneira de defini-lo seria,
seguindo Quiroz e Tréllez (1992):

p Qualquer espaço de interação e suas consecuências, entre a sociedade


(elementos sociais) e a natureza (elementos naturais).

Outros autores, como Sánchez e Guiza (1989), definem o ambiente como:

"Tudo aquilo que rodeia o ser humano e que compreende: elementos naturais,
tanto físicos quanto biológicos; elementos artificiais; elementos sociais e as
interações de todos esses elementos entre si".

1NTRODUÇÃO AO ME 10 AMB 1ENTE 3


CONCEITOS BÃSICOS

FUNIBER

Outras aproximações, como a de Sauvé ( 1997), conceituam o meio ambiente de


diversos pontos de vista:

meio ambiente natureza: alude ao entorno original, puro, do qual a espécie


humana distanciaou-se;
meio ambiente recurso: o ambiente como base material dos processos de
desenvolvimento;
meio ambiente problema: o ambiente ameaçado, deteriorado pela
contam inação;
meio ambiente meio de vida: ambiente na vida cotidiana, a escola, o lar, o
trabalho, etc.;
meio ambiente biosfera: que toma consc1encia da finitude do ecossistema
planetário. Trata-se de uma concepção global que invoca intervenções de
ordem mais filosófica, ética, humanista e que, obviamente, inclui as diferentes
cosmovisões dos grupos indígenas;
meio ambiente projeto comunitário: ambiente como entorno de uma
coletividade humana, meio de vida compartilhado com seus componentes
naturais e antrópicos.

O MEIO AMBIENTE: PRECISÕES TERMINOLÓGICAS

Um debate recorrente, referente ao termo meio ambiente, é a suposta redundância que existe entre ambos
os termos: a palavra 'tneio "significa o mesmo que "ambiente".
A razão dessa suposta reiteração obedece razões históricas, já que durante a Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Humano (Estocolmo 1972), da qual surgiu a primeira declaração ambiental internacional, a
imprecisão terminológica das traduções do inglês ao espanhol e ao português, fez com que se cristalizasse o
termo "meio ambiente" como de uso comum, em vez de utilizar só um dos termos (ou meio ou ambiente)
como seria mais lógico.
it:>

Especificando, das definições expostas, podemos distinguir dois grandes componentes


do ambiente ff. ).

l. COMPONENTES 00 MEIO AMBIENTE


L----~·-.-+~~- -~~,~~----'
MEIO AM8l.ENTE FÍSICO MEIO AMBIENTEHUMANO ~
- - i i ·-- ----
WMA ATIVIDADES HUMANAS
SOLO
ÁGUA
FLORA
FAUNA
MINERAIS
l'ENER~~~~~~-~~

Figura 1.1: Composição do meio ambiente.

4 INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE


CONCEITOS BÁSICOS

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O elemento físico ou natural é o que tradicionalmente associa-se mais com a ideia de


ambiente, já que é o que sofreu as consequências mais negativas da degradação, da
contaminação e dos despejos, devido às diferentes atividades dos seres humanos, pois
são estes que utilizam os recursos naturais, diretamente ou transformando-os; o que
está bem quando o uso é racional.

Existe um "dano permissível", utilizando a natureza sem


destrui-la e permitindo sua regeneração.

Na antiguidade, a natureza era capaz de absorver as ações exteriores perturbadoras (a


degradação, a contaminação), de forma que se mantinha um equilíbrio relativamente
estável. Atualmente, o crescimento da população, o uso irracional dos recursos e o
aumento da contaminação, provocou um aumento dessas ações perturbadoras de tal
maneira que o poder autodepurador do ambiente tem sido incapaz de compensá-las.
Esse estado gerou uma situação de equilíbrio instável que se pode definir como uma
situação degradada.

1.2. DE OGRAFIA E EIO A BIE TE

A demografia ocupa-se com a análise do comportamento da população, não só do


ponto de vista de suas atividades antrópicas, mas da perspectiva dos níveis
populacionais que a formam (globalmente ou por estratos) segundo os matizes que
interesse destacar das coletividades humanas, que no fundo são as gestoras das
atividades, dos materiais e das energias utilizadas pela comunidade a que pertencem.

De um ponto de vista prático, é conveniente situar a população dentro de um contexto


específico, em que seja fácil detectar que fatores podem afetar sua evolução, não só
em nível pessoal, mas também no dos conhecimentos e recursos que possuam.

A consideração do home como integrante do ecossistema não deixa de ser um ponto de


vista ecológico, em cujo caso será um elemento influente no equilíbrio biológico de
todos os seres bióticos que se encontram dentro do mesmo espaço vital, umas vezes
em concorrência hostil (como as bactérias, os micróbios, os insetos, etc.) e outras
vezes benéfica (como fornecimento de alimentos, peles e tecidos que se pode conseguir
através da agricultura, a pecuária, etc.).

INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE 5


FU NIBEfd~~
CONCEITOS BASICOS

FUNCAÇÃC UN' .AOAME•'ICM.

Não se pode esquecer que o problema de fundo encontra-se no comportamento do


homem em relação ao consumo dos recursos que extrai e nem sempre para consumo
próprio, mas para saciar suas ânsias de riqueza, razão pela qual é capaz de romper o
equilíbrio ecológico de um determinado ecossistema quando a população afetada não é
capaz de regenerar-se em tempo, podendo, inclusive, destrui-la para sempre.

A população pertencente a um ecossistema pode chegar a exercer uma elevada


pressão, de forma que pode destruir as relações de desenvolvimento naturais como
consequência de modificar os elementos que compõem a paisagem em que estão
imersos, afetando, mediante influências biológicas, não só os organismos não-
antrópicos, mas também aos próprios componentes da população humana.

A influência que a própria população consiga exercer sobre seus próprios componentes,
com o objetivo de minimizar os efeitos negativos sobre os ecossistemas naturais e
urbanos, fará parte da autogestão anteriormente mencionada.

Atualmente, existem municípios cujos modelos de desenvolvimento não se veem como


expansionistas, mas que optaram pelo crescimento zero, estabilizando, dessa maneira,
o equilíbrio entre os diferentes fatores que devem marcar a qualidade de vida que seus
concidadãos desejam, rejeitando o expansionismo.

É digno de destaque a importãncia da população no


momento de gerir o ecossistema, aplicando políticas
concordes com a sustentabilidade dos recursos.

A educação ambiental é o único caminho através do qual a população será capaz de


melhorar sua capacidade de gestão; ainda que os caminhos para consegui-lo sejam
diversos e com diferentes pontos de vista, segundo os objetivos que se pretendem
alcançar.

Como em qualquer organização, a gestão deve ser consensual e participativa, com a


diferença que, entre as organizações empresariais e as cidadãs, as normas que regem a
empresa devem ser aceitas como caminho para a rentabilidade da empresa, enquanto
que, nas populações, as normas devem emanar de leis existentes, adaptando-as à
problemática específica da comunidade em que se tenta aplicar.

O que fica evidente é que a gestão dos cidadãos há de ver-se exemplificada pela própria
Administração; e os critérios aceitas devem ser o resultado de consensos democráticos
entre os diferentes setores econômicos integrados na comunidade referida.

6 INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE


CONCEITOS BÁSICOS

FUNIBER ·_;J
-==================::=::===================::::::a

As infraestruturas exigidas para a atualização dos critérios ambientais que a sociedade


demanda são o resultado da "engenharia municipal", e seu custo, em muitos casos,
ultrapassa as possibilidades do município, aspecto pelo qual a gestão municipal, no que
respeita à sustentabilidade, deve ser uma gestão política auxiliada em grande parte
pelos critérios técnicos que convenham ser aplicados, não só urbanisticamente, mas
também em caráter econômico.

Para que os problemas de sustentabilidade possam resolver-se de forma eficaz, é de


capital importância a participação cidadã, através da qual se pode buscar a solução
consensuada dos problemas; além disso, os diferentes setores econômicos implicados
devem ceder em seus pontos de vista, em benefício da comunidade em que se
encontram inseridos.

1.3. M IENTE E DESE VOLVI ENTO

A preocupação pela deteriorização ambiental manifestada em finais da década de 1970


carregou implícita uma violenta crítica ao conceito de desenvolvimento dominante, em
qual prevaleciam aspectos econômicos, em particular a ideia de crescimento. Nessa
perspectiva, o crescimento/desenvolvimento era negativo, havia adquirido um caráter
cancerígeno e a sobrevivência da espécie humana e do planeta exigia que os
crescimentos explosivos, tanto o populacional quanto o econômico, precisam terminar.
Cunhou-se, assim, a expressão "crescimento zero", de claro caráter malthusiano 1 .

O malthusianismo sustenta que a população aumenta em proporção geométrica,


enquanto que os recursos disponíveis para a subsistência crescem apenas em
proporção aritmética. A população aumenta, portanto, para além do limite de
subsistência, fenômeno que só podem conter o próprio ser humano, a guerra e as
enfermidades. Daí que, para o malthusianismo, a possibilidade de aumento sustentável
da população encontra um limite no caráter finito dos recursos disponíveis.

Frente a essa teoria, outras propuseram a visão do conceito de desenvolvimento


tornando explícitas suas múltiplas dimensões, entre elas a ambiental.

1. THOMAS ROBERT MALTHUS. (Inglaterra. 1766-1834). Economista . Em 1798, publicou de forma anônima sua primeira
contribuição destacada no campo da economia política com o título "Ensaio sobre o princípio de população" que, na
edição de 1803, já havia convertido-se em um verdadeiro tratado sobre os limites do crescimento demográfico, titulou
"Resumos sobre os efeitos passados e presentes relativos à felicidade da humanidade". Outras obras suas são
"Princípios de economia política" (1820) e "A medida do valor" (1823). Malthus escrevia principalmente à vista do
desemprego e dos apuros econõmicos na Inglaterra da primeira Revolução Industrial. No século XIX, o colonialismo e
a abertura de novas áreas de terra cultivável impediram que se desse essa situação.

INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE 7


CONCEITOS BÁSICOS

FUNIBERG

1.3.1. A POLfMICA DO DESENVOLVIMENTO

Tal como mencionado, os anos sessenta e setenta foram testemunhas de uma crítica
desapiedada ao desenvolvimento (crescimento) visto por alguns como causa primeira da
deteriorização ambiental. Contudo, a década de 1980 presenciou o estancamento e
retrocesso do bem-estar de uma grande parte da humanidade. A falta de crescimento
econômico impediu o desenvolvimento e traduziu-se em mais pobreza, causando
também uma maior pressão sobre o sistema natural, fonte última de subsistência, assim
como de recursos para o desenvolvimento.

Em meados dos anos 80, promoveu-se o conceito de desenvolvimento em escala


humana, construído sobre uma interessante proposta de Max-Neef, Elizalde e outros
(1986). Esse desenvolvimento sustenta-se na "satisfação das necessidades humanas
fundamentais, na geração de níveis crescentes de autodependência e na articulação
orgânica dos seres humanos com a natureza e a tecnologia, dos processos globais com
os comportamentos locais, do pessoal com o social, do planejamento com a autonomia
e da sociedade civil com o Estado". Junto a esse conceito, trabalhou-se também o de
pobreza, passando da noção clássica e estritamente econômica (que se refere à
situação de quem se encontra abaixo de determinado nível de inclusão) a uma noção
ampla que abarca a ausência de satisfação de necessidades humanas fundamentais:
pobreza de subsistência (por alimentação e abrigo insuficientes}; de proteção (por
sistemas de saúde ineficientes, por violência, corrida armamentista, etc.); afetiva
(devido ao autoritarismo, a opressão, as relações de exploração do ambiente natural,
etc.); de entendimento (pela baixa qualidade da educação); de participação (pela
marginalização e discriminação das mulheres, crianças e minorias); de identidade (pela
imposição de valores estranhos a culturas locais e nacionais, pela emigração forçada, o ©J
exílio político, etc.); e assim sucessivamente.

Posteriormente, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, PNUD, cunhou


o conceito de desenvolvimento humano, definido como o processo de ampliação da
gama de opções das pessoas, brindando maiores oportunidades de educação, atenção
médica, inclusão e emprego e abarcando o espectro total de opções humanas, desde
seu ambiente físico em boas condições, até liberdades econômicas e políticas. O "índice
de desenvolvimento humano" - IDH - combina indicadores de expectativa de vida,
educação e inclusão. O PNUD sugiriu, naquele momento, um índice de liberdade
humana e de liberdade política (ILH) para avaliar a situação em matéria de direitos
humanos, índice que foi posteriormente abolido por desacordo de alguns países.

Em qualquer caso, estamos de acordo com Bifani (1997) quando afirma que hoje o
desenvolvimento é um conceito difícil de definir, segundo a perspectiva pela qual se
analisa. Entretanto, pode-se afirmar que sempre está associado ao aumento do bem-

8 IN T RODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE


CONCEITOS BASICOS

FUNIBER · - ~ ..............................................

estar individual e coletivo. Ainda que seja certo que este último tende a ser medido
exclusivamente por grandezas econômicas, é cada vez mais evidente a importância que
se designa às outras dimensões, como o acesso à educação e ao trabalho, à saúde e a
seguridade social, ou a uma série de valores, tais como a justiça social, equidade
econômica, ausência de discriminação racial, religiosa ou de outra natureza, liberdade
política e ideológica, democracia, segurança e respeito aos direitos humanos, qualidade
e preservação do meio ambiente.

Não obstante, a problemática do desenvolvimento, geralmente, considerou-se de tipo


econômico e político e a tarefa de conegui-lo foi responsabilidade de economistas e
políticos. Entre eles, tem sido frequente considerar que a industrialização é o meio
através do qual é possível chegar a níveis superiores de desenvolvimento ou, em outros
r termos, aceita-se comumente que as sociedades desenvolvidas são aquelas que
experimentaram mudanças estruturais que as levaram de uma economia
predominantemente agrária a outra em que as atividades dinâmicas e dominantes são
as manufaturas e os serviços. Daí que, desde finais da década de sessenta, se enfatize
a dimensão social do desenvolvimento e se fale de desenvolvimento econômico e
social.

Entretanto, é um fato evidente que a maioria das interpretações tende a privilegiar um


conceito de desenvolvimento no qual prima a ideia de crescimento econômico, medido
pela expansão do produto nacional bruto. Esse enfoque, que dominou a ação política e
a gestão econômica, parecia não ter obtido plenamente seus objetivos. A frustração e a
impaciência, mais ainda, o desespero, manifestam-se abertamente, aumentando a
inquietação social, memso que por motivos diferentes, em países desenvolvidos e em
países em desenvolvimento.

Os primeiros parece não alcançar nunca o horizonte disso que denominam "qualidade
de vida", por atrás da qual sacrificam muitas vezes sua própria liberdade enquanto
pessoas, quando não sua saúde, agredida constante e sutilmente pelos copiosas e
excessivamente processados alimentos que consumem. Quanto aos países em
desenvolvimento, tampouco alcançam seu horizonte, nesse caso o de uma existência
digna, pois veem como as cifras macroeconômicas deixam-nos sempre em uma posição
marginal.

Nesse contexto de desenvolvimento, situa-se o de sustentabilidade, que reconhece as


condições ecológicas, sociais e culturais para manter um crescimento econômico, mas
não só econômico.

INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE 9


CONCEITOS BASICOS

FUNIBERt)
f\.JNOJ-ÇÃO V~ ~(A 1etr ' ~Mr::-1~N\

O conceito de sustentabilidade tem duas vertentes


principais: a que se refere ao ambiente físico-natural e a
que se refere ao ambiente socioeconómico.

No pode, portanto, disociarse la sustentabilidade físiconatural de la socioeconômica, já


que los dos tipos de ambiente estarían en el mesmo sistema global.

1.3.2. SUSTENTABILIDADE E RECURSOS

Os recursos a levar realmente em conta quando se aplica o conceito de sustentabilidade


são aqueles que, sendo renováveis, podem esgotar-se se forem explorados em um ritmo
superior ao de sua renovação. Seu uso sustentável está regido pelas leis da ecologia e,
quando esses recursos são explorados em ritmo excessivo ou sofrem perturbações que
impedem a renovação (por exemplo, a impossibilidade de recuperação de um aquífero),
passam a converter-se em recursos não-renováveis.

Os recursos não-renováveis, seja para prover materiais, seja como fonte de energia, por
estarem em quantidades limitadas, propõem problemas relacionados ao esgotamento
dos próprios recursos, a eliminação direta de comunidades e ecossistemas, a perda de
recursos culturais (por exemplo, as jazidas arqueológicas) no processo de extração,
além dos efeitos indiretos da exploração, como a contaminação produzida nas tarefas
de transporte e transformação do produto base em produto útil. Em qualquer caso, a
sustentabilidade não é aplicável a tais recursos.

Se combinarmos os aspectos teóricos da sustentabilidade ecológica com as conclusões


da Conferência do Rio de Janeiro no ano 1992, é possível fazer uma síntese dos
principais problemas que apresenta a gestão sustentável em nível mundial. Mas, em
todo caso, o problema de fundo não é outro senão a capacidade de carga da biosfera,
em relação com o aumento da população, tanto em número quanto taxa de consumo
per capita.

O cálculo dos limites de pressão que o planeta pode suportar é um problema de


ecologia, difícil de resolver, tal como deixa manifesto o Relatório sobre os Limites do
Crescimento do Clube de Roma, que destaca o caráter sociológico, econômico, político,
cultural, ético e até religioso da questão. Com efeito, enquanto o controle do
crescimento das populações animais e vegetais faz-se por mecanismos puramente
biológicos, na população humana atual esses mecanismos agem só em casos extremos,
tendo sido substituídos por mecanismos socioculturais.

10 INTRODUÇÃO AO MEI O AMB I ENTE


CONCEITOS BASICOS

FUNIBER f)
fUN~iJNI • r-... WJ;RI< M'-\ -----------------------------

Em resposta ao documento do Clube de Roma, a Fundação Barifoche, com um grupo de


especialistas, elaborou o estudo "Catástrofe ou Nova Sociedade? Um Modelo Mundial
Latinoamericano", no qual propõe um conjunto de políticas que, sendo aplicadas,
podem permitir que a humanidade alcançará níveis adequados de bem-estar em um
prazo de algo mais de uma geração. E sublinha que os obstáculos que se opõem ao
desenvolvimento harmónico da humanidade não são físicos ou económicos, em sentido
estrito, mas essencialmente sociopofíticos.

Os problemas mais estritamente ecológicos da sustentabilidade estão para alguns


representados pela desmatamento e suas sequelas de estiagem, erosão e
desertificação, o perigo de degradação dos ecossistemas mais frágeis (zonas úmidas,
de montanha, costeiras, ilhas) e a diminuição da diversidade biológica.

O anterior explica que hoje todo o mundo, aparentemente, esteja de acordo que o atual
modelo económico não pode manter-se de forma indefinida e que é necessário planejar
um novo modelo que não esteja calcado exclusivamente na expansão e crescimento
económicos, respeitando as margens de tolerância do sistema planetário.

Chegamos, assim, ao conceito de desenvolvimento sustentável, sendo a Comissão


Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento a que consolidou seu uso e
significado como a "capacidade de atender as necessidades atuais sem comprometer as
das gerações futuras", explicitando seu conteúdo e pondo em conexão com políticas
socioeconômicas de caráter internacional, cristalizadas nos debates e acordos da
Conferência do Rio, em 1992.

Outras definições, mais atuais, aprofundam o conceito ao referir-se ao desenvolvimento


sustentável como "um tipo de desenvolvimento orientado à garantia da satisfação das
necessidades fundamentais da popuf ação e à elevação de sua qualidade de vida através
do manejo racional dos recursos naturais, propiciando sua conservação, recuperação,
mel hora e uso adequados, por meio de processos participativos e de esforços 1oca is e
regionais, de tal maneira que tanto essa geração quanto as futuras, tenham a
possibilidade de desfrutá-los com equilíbrio físico e psicológico, sobre bases éticas e de
equidade, garantindo a vida em todas as suas manifestações e a sobrevivência da
espécie humana".

Estamos de acordo, portanto, que o desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade


não são, propriamente, um conceito, mas um metaconceito, ou seja, um conceito que,
por sua vez, gera todo um campo de reflexão e conhecimento sobre si mesmo (daí que
esteja em permanente evolução), cuja principal característica é o aparente consenso
que provoca em todo mundo, ainda que não isento de uma visão crítica.

INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE 11


CONCEITOS BASICOS

FUNIBER

1.4. EC OLOGI NO ADORAS

Na Europa, os Programas de Ação Comunitária marcaram a conduta a seguir e fizeram


com que o Conselho da União Europeia adotasse, em 24 de setembro de 1996, a
Diretriz 96/61 relativa à Prevenção e Controle Integrados da Contaminação (Diretriz
IPPC), recomendação que pode ser considerada como consequência do planejamento
geral coletado pela primeira vez no V Programa Comunitário sobre Meio Ambiente, em
que se considera que o controle da contaminação, de maneira integrada, é o caminho
para chegar ao desenvolvimento sustentável, ou seja, a um marco em que sejam
compatíveis as atividades econômicas e as industriais, e em que se englobem os
recursos e a capacidade de regeneração dos ecossistemas.

O controle integrado da contaminação, como filosofia, exige uma forma de gerir que
modifica e completa a atual legislação sobre prevenção e controle de contaminação
originada pelas instalações industriais, de maneira que se planeje o modelo de gestão
com base a visualizar a empresa através dos fluxos de materiais que se extraem (a partir
dos recursos naturais), se processam e que são produtores de energia e bens de
consumo, de forma que sejam adotadas as linhas de planejamento, considerando:

as fases do processo produtivo, tanto individual quanto globalmente;

as relações quantitativas entre as emissões contaminadoras produzidas e as


características do meio ambiente receptor em cada caso;

as possíveis transferências de contaminação de um meio receptor a outro,


estabelecendo as medidas para evitá-las e, no caso de não ser possível, reduzir
as emissões aos meios hidrosférico, atmosférico e edáfico.

O papel das tecnologias inovadoras é uma das chaves do desenvolvimento sustentável


futuro, já que os processos derivados delas buscam criar o mínimo impacto sobre o
ambiente.

A colocação em prática dos critérios de


sustentabilidade através de soluções derivadas da
Engenharia Ambientaljã é um fato.

As tecnologias avançadas são o caminho adequado para aquelas atividades já


consolidadas, ou autorizadas, dentro do ecossistema urbano; os parâmetros
econômicos devem prever em seus resultados a amortização de suas tecnologias em
prazos curtos, com a finalidade de renovar os processos quando o caso assim exigir .

12 INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE


CONCEITOS BAS I COS

FU

1.4.1. FERRAMENTAS DE GESTÃO AMBIENTAL

As ferramentas de gestão ambiental são instrumentos sistemáticos para melhorar a


gestão da informação e da tomada de decisões, com o propósito geral de melhorar o
comportamento ambiental de projetos, empresas, produtos e serviços.

p Define-se como gestão ambiental o coryunto de ações


encaminhadas a obter a máxima racionalidade no processo de
decisão relativo à conservação, defesa, proteção e melhora do meio
ambiente, baseando-se em uma coordenada informação
multidisciplinar e na participação cidadã.

Em todo processo de tomada de decisão baseado no desenvolvimento sustentável,


intervêm os métodos para coletar dados mediante indicadores, processá-los e obter a
informação (elementos técnicos de gestão); métodos operacionais tangíveis que servem
de suporte aos conceitos (ferramentas de gestão analíticas e procedimentais) e,
finalmente, o conceito, ou seja, a ideia de como alcançar o desenvolvimento
sustentável.

Dado que as decisões devem sustentar-se por decisões


ambientais e de mercado, é imprescindível considerar os
aspectos sociais, tecnológicos e econõmicos.

As ferramentas de gestão ambiental podem ser focadas para processos ou, ainda, para
os produtos, tal como mostrado na t<> bela 1. . Um aspecto importante a destacar é que
a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) é uma ferramenta de prognóstico, ou seja, do
que não existe, na fase de projeto, enquanto que a Auditoria Ambiental é uma
ferramenta de diagnóstico, do que existe na realidade, na fase de exploração e
encerramento da atividade.

PROCESSOS PRODUTOS
Prognóstico Avaliação de Impacto
(Exame do novo) Ambiental Análise de Ciclo de Vida
Ecoetiquetas
Diagnóstico Auditorias Ambientais Tutela de produto
(Exame do que existe) Certificações, SGA

Tabela 1.1. Ferramentas de gestão ambiental.

INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE 13


CONCEITOS BASICOS

FUNIBER

1.4.2. QUALIDADE AMBIENTAL

Até a primeira metade da década de 1970, as empresas não consideravam a variável


ambiental no processo de produção. Realmente, os danos produzidos ao meio ambiente
por uma organização não eram considerados pela empresa tanto ambiental quanto,
sobretudo, economicamente, o que fazia com que a firma não tivesse motivos para
deixar de danificar o meio.

Pode-se dizer que a crise do petróleo de 1973 teve consequências positivas, tanto que
além de fomentar uma volta à diversificação energética, dada a precariedade das
reservas de petróleo, começava a reconhecer o crescente impacto ambiental gerado
pelas sociedades industrializadas e, especialmente, pela queima de combustíveis fósseis
que, num futuro não muito distante, poderiam esgotar-se.

O impacto ambiental sobre o planeta, ocasionado hoje em dia pela manipulação e


transformação das difeentes fontes de energia convencionais, gerou um novo marco,
diferente ao produzido há mais de trinta anos durante a crise energética do petróleo de
1973: o aquecimento global da Terra produzido pela emissão de C0 2 na atmosfera, o
buraco na camada de ozônio e a difícil solução ao tratamento e armazenagem dos
resíduos radioativos propiciaram a conscientização das sociedades industrializadas.
Estas, através de seus governos, emitem e promulgam leis ao setor energético cada vez
mais restritivas quanto aos critérios ambientais, o que permite vislumbrar um princípio
de conscientização no modelo de desenvolvimento sustentável.

Não obstante, deve-se ter uma ideia bem clara: apesar de o fato de proteger e assegurar
a qualidade de vida e o bem-estar suponha, a curto prazo, um custo às empresas, pode-
se afirmar com toda segurança que esse custo é infinitamente inferior ao que possuem
conceitos como a qualidade de vida e o bem-estar da humanidade.

GESTÃO AMBIENTAL TRADICIONAL GESTÃO AMBIENTAL OE FUTURO

Consideração da variável ambiental como uma Planejamento ambiental para prevenir a


interferência. contaminação.
• Atuação unicamente frente a demandas • Consideração do meio ambiente como um fator
externas. Ausência de planejamento. estratégico a mais da empresa.
• Controle técnico para cumprir com exigências • Consideração da atividade ambiental como um
regulamentares. fator econõmico de desenvolvimento de
• Posição defensiva frente a exigências de partes competitividade.
interessadas. • Consideração da atividade ambiental como
• Ausência de informação. elemento de oportunidades.

14 INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE


CONCEITOS BASICOS

FUNIBERG
" lNO>Ç.i<OLNl\'ERSITÁP!A18EROAMERC\NA -----------------------------

Nesse sentido, uma política ambiental bem concebida pode ajudar a reduzir custos
mediante economia de energia e matérias-primas e a gerar benefícios laterais pela
comercialização dos resíduos, além de chegar a segmentos de mercado especialmente
rentáveis.

Está óbvio que para que a atividade de uma empresa seja mais eficiente, a introdução
de critérios ambientais deve ser feita através de processos de produção. E é por esse
motivo que a concepção de uma correta gestão ambiental da empresa tem um papel
fundamental.

Do ponto de vista das empresas, existem numerosos argumentos que podem propiciar
uma mudança de mentalidade para com o meio ambiente, tal como ilustrado na figura
.2.

RISCOS ATIVIDADES LEGISLAÇÃO


AMBIENTAIS li DE EMPRESA li AMBIENTAL

--
PARTES IMPLICADAS
- Administração - Associação de consumidores
- Grupos ecologistas - Companhias seguradoras
·Vizinhos .. Trabalhadores
- Fornecedores -Oientes

Figura 1.2: Fatores que demandam das empresas uma maior atenção ambiental.

• Fatores ambientais stricto sensu: escassez de recursos naturais, efeito estufa,


danos à camada de ozônio, etc.;

• grupos de pressão: opinião pública, consumo "verde", afetados, ONGs, etc.;

• requerimentos legais: responsabilidade por danos, novas leis, limitações de caráter


internacional (CFCs, PCBs, etc.);

• razões econômicas: imagem da empresa, economia de energia, custo da água, das


matérias-primas, de gestão de resíduos, requisitos para a exportação, passivos
ambientais, etc.;

• motivos técnicos: produção limpa, eficiência energética, etc.

INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE 15


CONCEITOS BASICOS

O meio ambiente configura-se, assim, como o mais importante dos


fatores para a expansão das atividades de muitas empresas.

Como mencionado, a insustentabilidade do modelo de produção industrial provocou


uma tomada de consciência à proteção do meio ambiente, fazendo reagirem dois
agentes essenciais do mercado: a administração e o consumidor.

A resposta da administração pública foi a de ir aumentando continuamente a legislação


referente à proteção e conservação do meio ambiente. Dessa maneira, segundo as
pesquisas, a pressão normativa é, ainda hoje, o elemento de maior peso nas decisões de
caráter ambiental na empresa.

A administração competente age nesse campo advertindo as empresas e legislando


limites máximos de emissões e despejos e sancionando o descumprimentos. Ainda
assim, é preciso reconhecer que este é um sistema "frágil e delicado".

Outra das vias de ação da administração é a de incidir sobre o mercado, sendo este o
verdadeiro ponto de referência das empresas. Dessa forma, consegue-se que a
administração regule de forma indireta o mercado com base a tentar que os custos
ambientais da fabricação e comercialização dos produtos incluam-se em seu preço, de
maneira que bens e serviços menos agressivos ao meio ambiente encontrem-se no
mercado em situação vantajosa em relação a produtos similares que contaminam mais
ou desperdiçam recursos. É o que se passou a chamar "internalização das
externalidades". Dentro desse capítulo, assinala-se como exemplo as taxas e impostos
por contaminação, os sistemas de licenças prévias, a utilização de incentivos fiscais e
ajudas a empresas com "tecnologias limpas", etc.

No que respeita ao mercado e à opinião pública, diremos que eles funcionam como o
verdadeiro motor de mudança das empresas. É por isso que cada vez a empresa cuida
mais dos aspectos ambientais, já que se detectou um crescimento considerável da
demanda de produtos respeitosos com o meio ambiente.

A reação do consumidor é a de ir aumentando seu nível de exigência baseada em


conhecimentos ambientais, não sendo um modismo passageiro. Os consumidores mais
ativos nesse sentido são os que possuem um poder aquisitivo superior: é o segmento de
mercado que marca a tendência que mais tarde influenciará o restante da sociedade.

16 INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE


CONCEITOS BASICOS

FUNIBER

As necessidades básicas de uma gestão ambiental na empresa são


determinadas:

• pela existência de uma legislação cada vez mais complexa e exigente;


• pela melhora da qualidade ambiental de seus serviços e produtos e com isso suas
relações comerciais e sua competitividade;
• pela rejeição paulatina da sociedade para com atividades desrespeitosas com o meio
ambiente;
• pela maior vigilãncia e controle por parte da administração competente.

Ante essas demandas, a empresa deve tomar uma posição clara e decidir que critérios
seguir e como agir.

1.4.2.1. Qualidade do ar

A contaminação do ar é, em determinados núcleos urbanos, um dos problemas que os


cidadãos percebem com maior facilidade, o quefaz com que seja necessário fixar
políticas encaminhadas ao conhecimento do estado do ar, já que a poluição atmosférica
pode afetar a saúde das pessoas.

As diretrizes legislativas na União Europeia são levadas a cabo com uma crescente
elaboração de normas jurídicas tendentes a potencializar a elaboração de relatórios de
emissões, impulsionados pela Agência Europeia do Meio Ambiente.

Em alguns países, as ações estão orientadas para a criação de redes de vigilância da


contaminação atmosférica, permitindo o acompanhamento do estado do ar tanto nos
ecossistemas urbanos quanto nos naturais: níveis de contaminação, estudos de
emissão e imissão, estado da camada de ozônio, efeitos sobre monumentos históricos e
culturais, etc., servindo de base para informar a população.

INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE 17


CONCEITOS BASICOS

FUNIBER ,?'~
DAÇÃO UNJV "1A stAOAME<UCANA

Figura 1.3: Efeitos da corrosão sobre pedra.

A contaminação acústica é outro dos temas a destacar, já que o ruído de tráfego e


determinadas atividades municipais são, na atualidade, responsáveis pelo nível de
qualidade de vida dos cidadãos. Como medida preventiva e corretiva obtém-se a
confecção de mapas sonoros nos casos em que assim seja aconselhável. Em se
tratando de tráfego, deve-se levar em consideração a instalação de proteção acústica a
fim de amenizar os efeitos sobre centros habitados.

~)

Figura 1.4: Grande parte da contaminação acústica das cidades deve-se aos meios de transporte.

18 INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE


CONCEITOS BASICOS

FUNIBER

1.4.2.2. Qualidade da água

A água contaminada e seu tratamento é outro dos problemas mais urgentes dos
ecossistemas urbanos. Trata-se de um recurso escasso e sua reutilização não permite,
geralmente, recuperá-la para o consumo, destinando-se à rega, à limpeza de ruas, usos
industriais, etc.

O problema da qualidade das águas fica refletido na legislação a respeito, exigida pela
União Europeia aos Estados-membros. 2

A solução aos problemas de gestão das águas passa pela aplicação de políticas
preventivas: a delimitação de zonas ao longo das margens de rios, a fixação de
perímetros de proteção aos aquíferos, a declaração de zonas úmidas, os estudos de
impacto ambiental, a redução da contaminação, a economia no consumo de água, entre
outras medidas, de forma que a realização de atividades veja-se condicionada à
obtenção da correspondente permissão do organismo da bacia, ou ainda, à aplicação de
impostos sobre o despejo nos últimos casos mencionados, sancionando, nos casos
restantes, quando não se cumpram os requisitos exigidos por lei.

1.4.2.3. Qualidade do solo

O problema dos solos contaminados exige a adoção de medidas eficazes e urgentes a


respeito, com a finalidade de evitar sua degradação como consequência da grande
acumulação de resíduos perigosos procedentes de produtos de consumo humano, tais
como restos de inseticidas, pinturas, solventes de limpeza, etc., que representam um
grave risco para a saúde das pessoas, dos animais e das plantas.

1.4.2.4. Qualidade dos seres vivos

Nesse ponto, falar da qualidade dos seres vivos implica não só referir - se a seu
desenvolvimento nos próprios ecossistemas colaborando no funcionamento do
conjunto, mas também às repercussões na cadeia trófica. Por exemplo, quando o
homem consome animais ou plantas desenvolvidas em ambientes insalubres ou no caso
de animais alimentados com materiais manipulados geneticamente ou engordados de
forma artificial, com substâncias químicas cujos verdadeiros efeitos a médio e longo
prazo são desconhecidos.

2. Através da Diretriz 91/271/CE. relativa ao tratamento de águas residuais urbanas.

INTRODUÇÃO AO M EIO AMBIENTE 19


CONCF. ITOS BÃS ICOS

20 I NTRODUÇÃO AO M[ IO AMBIENH
CONCEITOS BASICOS

Resumo

INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE 21


CONCEITOS BASICOS

22 INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE


0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÃVEL
FUNIBER8
>!J~OAÇÁ-1 UNIVE:RSrTÁH!A:&RV""ERIC;t.NA -----------------------------

Capítulo 2

O DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL

- Conhecer os convernos e tratados existentes entre estados que estabelecem as políticas de gestão
orientadas à sustentabilidade, destacando a preocupação por esses temas nas políticas internacionais.

2.1. QUE É O DESE VOLV E TO SUST N EL?

O termo "desenvolvimento sustentável" foi cunhado pela lnternational Union for The
Conservation of Nature (IUCN), ainda que sua popularidade tenha origem no conhecido
relatório "Nuestro futuro común" ou relatório Bruntland (WCED, 1987), preparado pela
Comissão Bruntland de Nações Unidas, em que se lê:

11
Desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as
necessidades atuais sem comprometer a capacidade das futuras gerações de
satisfazer suas próprias necessidades".

INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE 23


0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL
UNIBER9
flJNOAÇ.ÃO

Os componentes substantivos nessa definição são as questões de equidade, tanto


dentro de uma mesma geração quanto entre gerações diferentes, possibilitando que
todas as gerações, presentes e futuras, aproveitem ao máximo sua capacidade
potencial. Mas a maneira como as atuais oportunidades estão distribuídas na realidade
não é indiferente. Seria estranho que estivéssemos preocupados profundamente com o
bem-estar das gerações futuras e ainda por vir e deixássemos de lado a triste sorte dos
pobres de hoje. Entretanto, a bem da verdade, na atualidade nenhum desses dois
objetivos tem designada a prioridade que merece. Por conseguinte, talvez uma
reestruturação das regras de distribuição dos ingressos, produção e consumo em escala
mundial seria uma condição prévia necessária para toda estratégia viável de
desenvolvimento sustentável.

O conceito de desenvolvimento sustentável nasceu em um contexto de crise econômica


e de reavaliação dos paradigmas de desenvolvimento. A crise econômica da maior parte
do mundo, a instabilidade, o aumento da pobreza, etc., colocavam em dúvida a
viabilidade dos modelos convencionais, inclusive a própria ideia de "desenvolvimento"
havia sido deslocada das políticas ante a urgente necessidade de estabilizar as
economias e recuperar o crescimento econômico.

O surgimento da ideia de desenvolvimento sustentável teve repercussões importantes


em todos os meios - graças aos esforços da Comissão das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) - devido à necessidade de renovar concepções
e estratégias, buscando o desenvolvimento das nações pobres e reorientando o
processo de industrialização dos países mais avançados.

O conceito convencional de desenvolvimento refere-se ao processo de melhoria das


condições econômicas e sociais de uma nação. O enfoque da Comissão buscou ir mais
além da dimensão econômica e social, tratando de incluir a questão ambiental como um
dos elementos centrais da concepção e da estratégia de desenvolvimento.

Ao qualificar o desenvolvimento com o adjetivo "sustentável", incorpora-se no conceito


a capacidade de perdurar ou continuar. A sustentabilidade expressa a preocupação de
que, de alguma maneira, se conserve o meio ambiente para uso e desfrute das gerações
futuras, o mesmo usufruto que faz a geração presente.

Nesse caso, "desenvolvimento" não é sinônimo de "crescimento". O crescimento


econômico está representado por incrementas no ingresso nacional; por outro lado, o
desenvolvimento implica algo mais amplo, uma noção de bem-estar econômico que
reconhece componentes não-monetários. Esses componentes podem incluir a qualidade
do próprio meio ambiente.

24 ) NTRODUÇ ÃO AO ME 1O AMB 1ENTE


0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
FUNIBER 9
FtJ~DA.ÇÃ()L'NI rtAl1u R().A.M~HC.V...."\ ------------------------------

O desenvolvimento sustentável busca resolver os velhos problemas do


desenvolvimento, com novos condicionantes que tornam mais complexa essa tarefa;
por exemplo, a superação da pobreza e divisão equânime na sociedade: esse conceito
agrega a necessidade de que os propósitos sejam cumpridos sem acelerar a
deteriorização ambiental e, inclusive, recuperando, na medida do possível, os ambientes
ambientais degradados.

Em consequência, o desenvolvimento sustentável exige precisar em que prazos, com


qual ordem de prioridades, a que níveis e escalas e com quais recursos econômicos
pode-se alcançar a meta da sustentabilidade.

Essa tarefa é bem complexa, dado os aspectos sociais, políticos e elementos técnicos
implicados. Por exemplo, na superação da pobreza, em que a sustentabilidade pode ser
inalcançável, ainda que em prazos relativamente longos.

Outro problema a comentar é o da interpretação. Na bibliografia sobre o tema, abundam


definições de desenvolvimento sustentável incorretas ou enviesadas, que
frequentemente tergiversam a ideia original. Por exemplo, uma grande parte da
literatura disponível tende a reduzir o conceito a uma mera sustentabilidade ecológica
ou a um desenvolvimento ecologicamente sustentável, preocupando-se somente com
as condições ecológicas necessárias para manter a vida humana ao longo das gerações
futuras (Bifani, 1997). Esse enfoque, ainda que útil, é claramente reducionista por não
considerar as dimensões social, econômica e política do termo.

Uma forma de medir o desenvolvimento é através de indicadores normalmente


relacionados somente a questões econômicas. Quando se busca um movimento para o
desenvolvimento sustentável, os indicadores têm a ver com as dimensões econômica,
social e ambiental.

INDICADORES 00 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Econamicos Sociais Ambientais


. Crescimento . Participação . Proteção
. Equidade . Equidade . Restauração

. Eficiência . Organização . Conservação

. Identidade cultural . Autorregulação


. Desenvolvimento institucional . Biodiversidade
. Educação . Emissões globais

INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE 25


0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL

2.1.1. 0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL COMO CONCEITO BÁSICO

O desenvolvimento sustentável pode ser analisado como um conceito (metaconceito)


inacabado e aberto, um modo de linguagem novo em nossa relação com a biosfera e
seus processos, assinalando um horizonte em que se situa uma cidadania mais
preocupada e consciente, governos expectantes, e cientistas que recuperam o sentido
da ciência.

Como assinala Jiménez Herrero (1992), o conceito (metaconceito) de desenvolvimento


sustentável tem quatro vantagens:

1. baseia-se em um acordo geral em torno da definicão de toda uma série de


problemas interrelacionados e em referência ao contexto em que se deve
buscar as soluções;

2. trata-se de um conceito de aplicabilidade universal;

3. supõe uma unificação de interesses tradicionalmente contrários;

4. abre uma via de reconciliação entre economia e ecologia, reforçando a


estratégia de crescimento econômico sobre a base de transformações em sua
estrutura.

Com efeito, se considerarmos que os fatores de produção são os recursos naturais, a


mão-de-obra e o capital, o emprego de menos recursos naturais torna-se possível
empregando uma maior quantidade dos outros dois fatores. Por exemplo, empregando
mais gente em processos de transformação ao estilo tradicional (ainda que em
condições mais adequadas) ou reinvestindo parte dos benefícios na conservação e
melhoria ambiental.

Por sua parte Daly, citado por Rivas ( 1 997), diz que para que uma sociedade seja
fisicamente sustentável, seus insumos globais materiais e energéticos devem cumprir
três condições: que as taxas de utilização de recursos não-renováveis não excedam
suas taxas de regeneração; que tampouco excedam a taxa a que os substitutivos
renováveis desenvolvam-se, e que suas taxas de emissão de agentes contaminantes
estejam de acordo com a capacidade de assimilação do meio ambiente.

2.1.2. SUSTENTABILIDADE E MODIFICAÇÃO DE ESTRUTURAS

Para os autores de Mais Além dos Limites do Crescimento, citados por Rivas (1997),
ante as preocupantes sinais de crescimento insustentável da sociedade, as respostas
possíveis são três:

26 INTRODUÇÃO AO MEI O AMBIENTE


0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL
FUNIBER

- uma primeira resposta mais ou menos convencional: disfarçar, negar ou


confundir esses sinais; isso se consegue escondendo e exportando os resíduos,
controlando preços, transladando os custos ao meio ambiente, buscando novos
recursos, etc.;

uma segunda resposta consiste em aliviar a pressão do planeta mediante


artifícios de tipo tecnológico (tecnosfera), mas sem abordar as causas profundas
que subjazem aos problemas (sociosfera); trata-se de uma posição ambientalista
de caráter reformista, que mesmo sendo necessária, nunca pode ser definitiva;

- a terceira resposta é a que vai na direção de reformular as coisas a partir de uma


análise profunda das causas, modificando as estruturas; é evidente que essa
posição tem um sentido moral mais profundo, pelo que é também mais
sustentável.

Estamos de acordo com esse panorama e com sua visão de um mundo mais
sustentável, representado pela terceira das respostas com traços bem definidos, a
saber:

valores sociais como a eficiência, justiça e equidade;

- recuperação dos valores (e prática) políticos;

suficiência material e segurança para todos;

- estabilidade populacional em seu mais amplo sentido;

- trabalho como forma de realização e dignidade pessoal;


(Q1
- economia como um meio e não como um fim;

- sistemas de energia eficientes e renováveis;

- sistemas de materiais cíclicos e eficientes;

- agricultura regeneradora de solos;

- acordo social sobre certos impactos que a natureza não pode enfrentar;

- preservação da diversidade biológica e cultural;

- estruturas políticas que permitam o equilíbrio entre o curto e o longo prazo;

- resolução dialogada dos conflitos.

Os traços anteriores podem também ser interpretados sob três condições para que o
desenvolvimento sustentável seja uma alternativa viável: progresso científico,
tecnologia social e nova estrutura de tomada de decisões. O progresso científico

INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE 27


0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
FUNIBER

continua sendo necessário em diferentes frentes, como a da pesquisa na busca por


métodos mais eficientes no uso da energia ou dos materiais. A tecnologia social, em
forma de instrumentos mais adequados para o estudo das sociedades, suas dinâmicas e
estruturas, é imprescindível para sair do círculo vicioso de nosso comportamento como
espécie, tanto na esfera individual, quanto na dos Estados e nações. Uma nova
estrutura na tomada de decisões pode favorecer a integração dos fatores
socioeconômicos e ambientais na definição das políticas a serem seguidas e nos
esquemas de planejamento e gestão.

Para David Malin, um dos autores de "La situação dei mundo 1999", do World Watch
lnstitute, os governos têm de aplicar grande parte da pressão que fará avançar a uma
sociedade moderna por um caminho sustentável. O paradoxo é que, mesmo que devam
introduzir mudanças estruturais importantes nas economias, não podem planejar essas
mudanças, precisamente pela grqandeza e complexidade que implicam.

Malin dá como exemplo o problema da mudança climática global: o Painel


Intergovernamental sobre Mudança Climática calculou de forma conservadora que a
atmosfera não pode suportar emissões de carbono de mais de 2.000 milhões de
toneladas ao ano, sem sofrir uma grave alteração. Distribuindo essa cota de maneira
uniforme entre os 10.000 milhões de pessoas que se prevê que compartilharão o
planeta no ano 2100, obtém-se uma cota por pessoa de meio kg ao dia. Num
automóvel, pode-se circular 4 quilômetros com essa quantidade. Estados Unidos, Japão
e outros países emitem carbono entre doze e vinte e sete vezes esse índice, e o ritmo
continua aumentando.

Se se aumentarem gradualmente os impostos sobre o carbono em todo o mundo,


durante 50 anos, chegando a 250 dólares por tonelada em 2050, as emissões globais
podem estabilizar-se nessa data, à medida que as pessoas e as empresas utilizarem os
combustíveis fósseis de maneira mais eficiente e mudarem à energia solar e outras
fontes de energia. Se o imposto continuar subindo após 2050, as emissões podem
parar por volta de 2100.

Contudo, como se verá, existem sérias dificuldades para cumprir sequer com as
previsões do Protocolo de Kioto, aprovado em 1997, que fixa uma redução de 5,2 %
para o prazo 2008-201 O dos gases de efeito estufa que os países desenvolvidos
emitem na atmosfera, referente aos níveis de 1990. O problema de fundo é a
resistência de certos países, como os Estados Unidos, que preveem, inclusive, a compra
de emissões de países com "excedentes", como Rússia, mecanismo "legal" introduzido
em Kioto pelos interessados.

Por isso, impulsionar os países para a sustentabilidade acarreta para muitos uma
modificação de caráter social só comparável à Revolução Agrícola do neolítico tardio e à

28 INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE


0 DES ENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
FUNIBER ,.

Revolução Industrial. A diferença, a favor do desenvolvimento sustentável, é que as


anteriores revoluções foram graduais e espontâneas, enquanto que a da
sustentabilidade deve ser uma opção totalmente consciente, início da era planetária e
do verdadeiro exercício da liberdade compartilhada.

2.1.3. CRfTICAS AO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL

Evidentemente, existe uma parte crítica nessa tendência de desenvolvimento


sustentável. A aceitabilidade universal do desenvolvimento sustentável não deixa de
levantar suspeitas, especialmente no ambiente do movimento da defesa do meio
ambiente. Ao vincular a proteção ambiental com o desenvolvimento econômico, o
"desenvolvimento sustentável" parece suavizar os conflitos entre esses fins.

Durante muitos anos, lutou-se para demonstrar como a expansão industrial causa dano
ao meio ambiente e, agora, justo quando o nível de deteriorização ameaça dar razão a
essa luta, aparece o termo "desenvolvimento sustentável" como uma varinha mágica
para fazer desaparecer tais conflitos com uma só meta unificadora.

Não obstante, é palpável que os conflitos permaneçam. A proteção ao meio ambiente


significa restrições à atividade econômica. Ainda que o crescimento econômico e a
conservação não sejam incompatíveis, continuam sendo companheiros incômodos.

Existe o perigo de que o desenvolvimento sustentável constitua-se em uma tela verde


para continuar tudo como sempre. Ao não especificar exatamente que grau de proteção
ambiental é exigido, o termo brinda os governos e a indústria com um meio para
apontar a defesa do meio ambiente sem se comprometer.

2.2. CO Ê IOS, TR T OS E OLÍT CA DE


ALCA CE INTER ACIO AL REALIZADOS E
TOR O DO DESEN OLVI ENTO SUSTE T VEL

A preocupação com o meio ambiente foi especialmente intensa nas últimas décadas,
gerando uma série de documentos, conferências e acordos de diferentes alcances
(locais, regionais, internacionais, etc.).

A configuração do desenvolvimento sustentável representou um processo que ainda


não encontrou fim. À continuação, de forma cronológica, descrevem-se os
antecedentes de documentos, congressos e conferências realizados em torno do tema
desenvolvimento sustentável.

INTRODUÇÃO AO MEIO AMBI ENTE 29


0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL
FUNIBER

2.2.1. 0 PRIMEIRO RELATÓRIO DO CLUBE DE ROMA (1972)

O Primeiro Relatório do Clube de Roma, de 1972, intitulado Os limites do crescimento


reconhece que:

p "Não pode haver crescimento infinito com recursos finitos•.

Nesse relatório, expôs-se uma versão certamente pessimista quanto ao esgotamento


dos recursos naturais no planeta. A importância desse relatório está no fato de que,
pela primeira vez, questiona-se o desenvolvimento infinito. Até esse momento, as
reflexões sobre limites, ainda que existissem, não faziam parte de um pensamento
majoritário; em geral a sensação era que se operava no inalcançável infinito (Oliva,
2004).

Nesse relatório, apresentaram-se os cinco fatores básicos que determinam e limitam o


crescimento do planeta:

a população;

a produção agrícola;

- os recursos naturais;

- a produção industrial;

- a contaminação.

Como medidas paliativas, propunha-se deter o crescimento demográfico, limitar o


consumo de alimentos e matérias-primas e frear a contaminação e a produção
industrial.

Apesar de as previsões contidas no relatório não tenham-se cumprido, este foi um


ponto de inflexão na visão do desenvolvimento.

Se repassarmos atentamente a definição de desenvolvimento sustentável proporcionada


pelo Relatório Bruntland, observaremos que é estritamente física, ou seja, baseada
exclusivamente na capacidade de carga do planeta e que se pode considerar, de certa
maneira, como um legado das advertências coletadas na obra Os limites do crescimento
(Oliva, 2004).

30 INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE


0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL

2.2.2. A CONFERfNCIA DE ESTOCOLMO DAS NAÇÕES UNIDAS (1972)

Em 5 de junho de 1972 1 , iniciou-se a Conferência de Estocolmo das Nações Unidas


sobre Meio Ambiente, também denominada Conferência sobre o Meio Humano, com a
participação dos representantes de 113 Estados e 400 organizações
intergovernamentais e não-governamentais (ONG· s) como observadores.

Essa conferência marca o início de uma série de encontros posteriores, com a intenção
de refletir sobre os problemas ambientais e vislumbrar propostas de soluções
alternativas com alcance planetário.

Em resposta à Conferência de Estocolmo, cria-se o Programa das Nações Unidas para o


Meio Ambiente (PNUMA) que, junto à União Internacional para a Conservação da
Natureza (UICN) e a World Wildlife Fund (WWF). elabora e apresenta, em 1980, sua
"Estratégia Mundial de Conservação da Natureza" (EMC).

A EMC define a conservação como:

p "A gestão pelo homem da utilização da biosfera de forma que


produza um melhor e sustentável benefício para as gerações
atuais, mas que mantenha sua potencialidade para satisfazer as
necessidades e aspirações das gerações futuras".

Portanto, é um conceito que abarca a preservação, a manutenção e a utilização


sustentável, a restauração e a melhoria do ambiente natural, podendo afirmar-se que a
conservação é garantia de um desenvolvimento a longo termo.

Os planejamentos da EMC estabelecem três finalidades fundamentais:

1 . manutenção dos processos ecológicos e dos sistemas vitais essenciais (por


exemplo, regeneração de solos, reciclagem de substâncias, purificação das
águas);

2. preservação da diversidade genética que exige a conservação das espécies e da


diversidade genética de uma própria espécie;

3. utilização sustentável das espécies e dos ecossistemas, sem superar em caso


algum a capacidade do ecossistema.

1. Desde essa data, o dia 5 de junho é considerado o Dia 1nternacional do Meio Ambiente.

INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE 31


0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL

FUNIBER,

2.2.3. CONVfNIO SOBRE O COMÉRCIO INTERNACIONAL DE ESPÉCIES AMEAÇADAS


DE FAUNA E FLORA SILVESTRE (CITES)

Esse convênio foi adotado em Washington, em 1973, e está vigente desde 1975, sendo
ratificado por 111 Estados.

Conventlon on International
Trade in Endangered Speeies
of Wild Fauna and Flora

Tem por finalidade estabelecer listas de espécies ameaçadas, cujo comércio


internacional está proibido ou regulado através de permissões ou cotas, de forma que se
possa combater o comércio ilegal e a exploração exagerada desses recursos vivos.

O convênio inclui as espécies em três categorias, com níveis progressivos de restrição


ao seu comércio. Por sua vez, financia estudos de populações na tentativa de diminuir o
grau de ameaça.

2.2.4. A 1ª CÚPULA DA TERRA (1992)

A Primeira Cúpula da Terra foi celebrada em junho de 1992, no Rio de Janeiro (Brasil),
cinco anos após o Relatório Bruntland, nos moldes da Conferência das Nações Unidas
para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), como consequência da decisão
tomada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 22 de dezembro de 1989.

A cúpula reuniu os mais altos representantes de 179 países, vários funcionários da


ONU, diversos representantes de governos municipais, de círculos científicos,
empresários, ONG's e outros grupos, o que fez com que se tornasse a reunião de
dirigentes mundiais mais ampla que já se tenha organizado.

No Rio de Janeiro, criaram-se cinco documentos: dois acordos internacionais ou


convênios (têm maior força jurídica que uma declaração), duas declarações de princípios
e um programa de ação sobre desenvolvimento mundial sustentável.

32 1NTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE


0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL

- Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança Climática;

- Convenção da Biodiversidade;

- Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável;

- Declaração de Princípios Relativos aos Florestas;

- Agenda 21.

2.2.4.1. Convenção-quadro das Nações Unidas sobre a Mudança Climática

A convenção sobre a mudança climática foi firmado em 9 de maio de 1992 por todos
os países participantes da Cúpula da Terra. Esse acordo estava estruturado em 26
artigos e seu objetivo era "a estabilização da concentração de gases de efeito estufa na
atmosfera em um nível que impedisse interferências antropogênicas perigosas no
sistema climático". Nesse sentido, pretendiam-se controlar, especialmente, as emissões
de dióxido de carbono (C0 2 ), clorofluorocarbonetos (CFC's) e metano (CH 4 ).

Nessa convenção fala-se de conservação da natureza como uma forma de prevenir a


mudança climática. Assim, no artigo 4, capítulo 1 .d, registra-se que todas as partes
firmantes da convenção têm de:

p Promover a gestão sustentável e promover e dar suporte com sua


cooperação à conservação e ao reforço, se for preciso, dos
receptores e depósitos de todos os gases de efeito estufa não
controlados pelo Protocolo de Montreal, incluídos a biomassa, as
florestas e os oceanos e também os de outros ecossistemas
terrestres, costeiros e marinhos.

2.2.4.2. Convenção da biodiversidade

A Convenção da Biodiversidade tem por objetivo "a conservação da biodiversidade, o


aproveitamento sustentável de seus componentes e a distribuição justa e equitativa dos
benefícios procedentes da utilização dos recursos genéticos mediante, entre outras
coisas, o acesso adequado a tais recursos e a transferência adequada de tecnologias
pertinentes, levando em conta todos os direitos sobre esses recursos e tecnologias e
também mediante um financiamento adequado".

Essa convenção obriga que os países desenvolvidos paguem a países em


desenvolvimento por utilizar seu material genético, o que fez com que os Estados
Unidos, que têm um forte comércio em bioengenharia, decidiu não firmá-lo.

IN TRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE 33


0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL
FUNIBER

Figura 2.1: Sagui-cabeça-de-algodão. A Convenção da Biodiversidade busca a proteção e conservação da


diversidade em escala mundial; mas não a diversidade entendida como os animais mais
"chamativos", como o da ilustração, mas todas as espécies vegetais e animais do planeta.

Essa é uma convenção chave para entender o caminho que segue e seguirá a
conservação. Os objetivos dessa convenção (especificados no artigo 1) são:

conservação da biodiversidade;

- aproveitamento sustentável de seus componentes;

- distribuição justa e equitativa dos benefícios procedentes da utilização de


recursos genéticos mediante, entre outras coisas, o acesso adequado aos
recursos genéticos e a transferência adequada de tecnologias pertinentes,
levando em conta todos os direitos sobre esses recursos e tecnologias e
também mediante um financiamento adequado.

A • ~ a . · é um resumo dos principais temas que a Convenção da Biodiversidade


desenvolve como pontos-chave para a conservação e preservação.

34 INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE


FUN1BER li >J · - - - - - - - - - - - - - - - - - - -º- º.E.S.EN· V·O·L·V·IM· E·N·T·O··SU·S·T·E·N·TA·V·E·L
Fl,INOAÇÃO UMVERSOÂRIA JSEAOMIERICAWi

1 Conservação insitu J. _

1Conservação exsitu ) /
Cooservação e
aproveitamento
sustentável @] .

Gestão da
._______

CX>NVENÇÃO DA - Educação e
consciência pública
biotecnologia
-
BIODIVERSIDADE
-
k.eSSoaos Avaliações de
recursos genéticos impacto ambiental
1 1
Distribuição de 1
seus benefíóos '

Figura 2.2: Pontos-chave para a conservação e preservação da biodiversidade. segundo a Convenção da


Biodiversidade.

2.2.4.3. Declaração do rio sobre o meio ambiente e o desenvolvimento


sustentável

A Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável reúne 27


princípios que pretendem estabelecer as bases para um desenvolvimento sustentável.

DECLARAÇÃO DO RIO

Princípio 1: Os seres humanos constituem o centro das preocupações relacionadas com o desenvolvimento
sustentável. Têm o direito a uma vida saudável e produtiva em harmonia com seu ambiente.
Princípio 2: Os Estados, de acordo com a Carta das Nações Unidas e com os princípios do direito
internacional. têm o direito soberano de explorar seus próprios recursos segundo suas próprias políticas de
meio ambiente e de desenvolvimento, e a responsabilidade de assegurar que atividades sob sua jurisdição ou
seu controle não causem danos ao meio ambiente de outros Estados ou de áreas além dos limites da
jurisdição nacional.
Princípio 3: O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam atendidas
equitativamente as necessidades de desenvolvimento e de meio ambiente das gerações presentes e futuras.
Princípio 4: Para alcançar o desenvolvimento sustentável. a proteção ambiental constituirá parte integrante
do processo de desenvolvimento e não pode ser considerada isoladamente deste.
Princípio 5: Para todos os Estados e todos os indivíduos, como requisito indispensável para o
desenvolvimento sustentável, irão cooperar na tarefa essencial de erradicar a pobreza, a fim de reduzir as
disparidades de padrões de vida e melhor atender às necessidades da maioria da população do mundo.

INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE 35


0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTAV EL
FUNIBER · _.·
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DECLARAÇÃO DO RIO

Princípio 6: Será dada prioridade especial à situação e às necessidades espec1a1s dos países em
desenvolvimento, especialmente dos países menos desenvolvidos e daqueles ecologicamente mais
vulneráveis. As ações internacionais na área do meio ambiente e do desenvolvimento devem também atender
aos interesses e às necessidades de todos os países.
Princípio 7: Os Estados irão cooperar, em espírito de parceria global, para a conservação, proteção e
restauração da saúde e da integridade do ecossistema terrestre. Considerando as diversas contribuições para
a degradação do meio ambiente global, os Estados têm responsabilidades comuns, porém diferenciadas. Os
países desenvolvidos reconhecem a responsabilidade que lhes cabe na busca internacional do
desenvolvimento sustentável. tendo em vista as pressões exercidas por suas sociedades sobre o meio
ambiente global e as tecnologias e recursos financeiros que controlam.
Princípio 8: Para alcançar o desenvolvimento sustentável e uma qualidade de vida mais elevada para todos,
os Estados devem reduzir e eliminar os padrões insustentáveis de produção e consumo, e promover políticas
demográficas adequadas.
Princípio 9: Os Estados devem cooperar no fortalecimento da capacitação endógena para o desenvolvimento
sustentável, mediante o aprimoramento da compreensão científica por meio do intercâmbio de conhecimentos
científicos e tecnológicos, e mediante a intensificação do desenvolvimento, da adaptação, da difusão e da
transferência de tecnologias, incluindo as tecnologias novas e inovadoras.
Princípio 10: A melhor maneira de tratar as questões ambientais é assegurar a participação, no nível
apropriado, de todos os cidadãos interessados. No nível nacional, cada indivíduo terá acesso adequado às
informações relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive informações
acerca de materiais e atividades perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar dos
processos decisórios. Os Estados irão facilitar e estimular a conscientização e a participação popular. colocando
as informações à disposição de todos. Será proporcionado o acesso efetivo a mecanismos judiciais e
administrativos, inclusive no que se refere à compensação e reparação de danos.
Princípio 11: Os Estados adotarão legislação ambiental eficaz. As normas ambientais, e os objetivos e as
prioridades de gerenciamento deverão refletir o contexto ambiental e de meio ambiente a que se aplicam. As
normas aplicadas por alguns países poderão ser inadequadas para outros. em particular para os países em
desenvolvimento, acarretando custos econõmicos e sociais injustificados.
Princípio 12: Os Estados devem cooperar na promoção de um sistema econõmico internacional aberto e
favorável, propício ao crescimento econõmico e ao desenvolvimento sustentável em todos os países, de forma
a possibilitar o tratamento mais adequado dos problemas da degradação ambiental. As medidas de política
comercial para fins ambientais não devem constituir um meio de discriminação arbitrária ou injustificável. ou
uma restrição disfarçada ao comércio internacional. Devem ser evitadas ações unilaterais para o tratamento
dos desafios internacionais fora da jurisdição do pars importador. As medidas internacionais relativas a
problemas ambientais transfronteiriços ou globais deve, na medida do possível, basear-se no consenso
internacional.
Princípio 13: Os Estados irão desenvolver legislação nacional relativa à responsabilidade e à indenização das
vítimas de poluição e de outros danos ambientais. Os Estados irão também cooperar. de maneira expedita e
mais determinada. no desenvolvimento do direito internacional no que se refere à responsabilidade e à
indenização por efeitos adversos dos danos ambientais causados, em áreas fora de sua jurisdição, por
atividades dentro de sua jurisdição ou sob seu controle.
Princípio 14: Os Estados devem cooperar de forma efetiva para desestimular ou prevenir a realocação e
transferência, para outros Estados, de atividades e substâncias que causem degradação ambiental grave ou
que sejam prejudiciais à saúde humana.
Princípio 15: Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deverá ser amplamente
observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou
irreversíveis. a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de
medidas economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.

36 INTRODU ÇÃO AO MEIO AMBIENTE


0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL

DECLARAÇÃO DO R 1O

Princípio 16: As autoridades nacionais devem procurar promover a internacionalização dos custos
ambientais e o uso de instrumentos económicos, tendo em vista a abordagem segundo a qual o poluidor deve,
em princípio, arcar com o custo da poluição, com a devida atenção ao interesse público e sem provocar
distorções no comércio e nós investimentos internacionais.
Princípio 17: A avaliação do impacto ambiental, como instrumento nacional, será efetuada para as
atividades planejadas que possam vir a ter um impacto adverso significativo sobre o meio ambiente e estejam
sujeitas à decisão de uma autoridade nacional competente.
Princípio 18: Os Estados notificarão imediatamente outros Estados acerca de desastres naturais ou outras
situações de emergência que possam vir a provocar súbitos efeitos prejudiciais sobre o meio ambiente destes
últimos. Todos os esforços serão envidados pela comunidade internacional para ajudar os Estados afetados.
Princípio 19: Os Estados fornecerão, oportunamente, aos Estados potencialmente afetados. notificação
prévia e informações relevantes acerca de atividades que possam vir a ter considerável impacto
transfronteiriço negativo sobre o meio ambiente, e se consultarão com estes tão logo seja possível e de boa
r fé.
Princípio 20: As mulheres têm um papel vital no gerenciamento do meio ambiente e no desenvolvimento.
Sua participação plena é, portanto, essencial para se alcançar o desenvolvimento sustentável.
Princípio 21: A criatividade, os ideais e a coragem dos jovens do mundo devem ser mobilizados para criar
uma parceria global com vistas a alcançar o desenvolvimento sustentável e assegurar um futuro melhor para
todos.
Princípio 22: Os povos indlgenas e suas comunidades, bem como outras comunidades locais, têm um papel
vital no gerenciamento ambiental e no desenvolvimento, em virtude de seus conhecimentos e de suas práticas
tradicionais. Os Estados devem reconhecer e apoiar adequadamente sua identidade, cultura e interesses, e
oferecer condições para sua efetiva participação no atingimento do desenvolvimento sustentável.
Princípio 23: O meio ambiente e os recursos naturais dos povos submetidos a opressão, dominação e
ocupação serão protegidos.
Princípio 24: A guerra é, por definição, prejudicial ao desenvolvimento sustentável. Os Estados irão, por
conseguinte, respeitar o direito internacional aplicável à proteção do meio ambiente em tempos de conflitos
armados e irão cooperar para seu desenvolvimento progressivo, quando necessário.
Princípio 25: A paz. o desenvolvimento e a proteção ambiental são interdependentes e indivisíveis.
Princípio 26: Os Estados solucionarão todas as suas controvérsias ambientais de forma pacifica, utilizando-
se dos meios apropriados, de conformidade com a Carta das Nações Unidas:
Princípio 27: Os Estados e os povos irão cooperar de boa fé e imbuídos de um espírito de parceria para a
realização dos princípios consubstanciados nesta Declaração, e para o desenvolvimento progressivo do direito
internacional no campo do desenvolvimento sustentável.

2.2.4.4. Declaração de princípios relativos às florestas

A Declaração de Princípios Relativos às Florestas pretende apresentar uma série de


medidas que previna o problema do desmatamento.

Essa declaração toma como um de seus preâmbulos que todos os tipos de florestas
contêm processos ecológicos complexos e singulares que constituem a base da
capacidade, atual e potencial, das florestas para proporcionar recursos a fim de
satisfazer as necessidades humanas e os valores ambientais, pelo que sua ordenação e
conservação racionais têm de preocupar os governos dos países em que se encontram e
a comunidade mundial, sendo importantes às comunidades locais e para o meio
ambiente em sua totalidade.

INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE 37


0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

f l,,NDAÇii(l UNIVERSffAAtA EAOAME' JC,\NA

Essa é uma Declaração autorizada de princípios sem força jurídica obrigatória, para um
consenso mundial a respeito da ordenação, a conservação e o desenvolvimento
sustentável das florestas de todo tipo.

Figura 2.3: As florestas converteram-se em um dos grandes cavalos de batalha da conservação, já que são
uma excepcional reserva de diversidade biológica e muitas delas ainda por conhecer.

Assim, as florestas são indispensáveis para o desenvolvimento econômico e a &

manutenção de todas as formas de vida.

O governo brasileiro tentou que se adotasse um texto que protegesse a riqueza florestal
da selva amazônica, mas o certo é que essa declaração não tem força jurídica
obrigatória, o que que faz com que, legalmente, não possa evitar que os países
desenvolvidos continuem explorando os recursos florestais.

38 1NTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE


0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
FUNIBER

A Declaração consta de 15 princípios, que se podem resumir nos seguintes:

RESUMO DA DECLARAÇÃO DAS FLORESTAS

Princípio 1: Os Estados têm o direito de explorar seus recursos sempre e quando não prejudiquem o meio
de outros Estados. O custo derivado da não-exploração das florestas deve ser financiado pela comunidade
internacional.

Princípio 2: Os Estados têm o direito de explorar suas florestas de acordo com uma política nacional
compatível com o desenvolvimento sustentável. Devem-se tomar medidas para a proteção das florestas,
foencer informação sobre elas e os ecossistemas florestais e promover a participação dos cidadãos em sua
conservação.

Princípio 3: A política nacional deve esforçar-se em estabelecer um marco de atuação para a proteção das
florestas. Em nível internacional, devem-se promover as disposições de índole institucional. Todas as ações de
proteção florestal devem estar integradas e ser consideradas conjuntamente.

Princípio 4: Deve-se reconhecer a função ecológica vital das florestas e sua grande riqueza biológica.

Princípio 5: A política florestal deve respeitar a cultura e interesses dos povos indígenas e levar em conta a
participação da mulher.

Princípio 6: As florestas são uma fonte renovável de energia, pelo que se tem de realizar uma ordenação
sustentável do fornecimento de madeira, um controle de seu uso e reciclagem. a promoção do
reflorestamento e uma avaliação do valor dos bens florestais.

Princípio 7: Deve-se potencializar um ambiente econõmico internacional propício para o desenvolvimento


sustentável das florestas, proporcionando recursos financeiros àqueles países pobres que possuam grandes
zonas florestais, de modo que se estimulem atividades substuintes das de exploração florestal.

Princípio 8: Deve-se potencializar o reflorestamento, aumentar a superfície florestal, potencializar


economicamente os planos de ordenação e conservação florestal, integrar na política nacional a proteção das
florestas, proteger as espécies em perigo de extinção e realizar avaliações do impacto ambiental. Os Estados
têm o direito de participar dos benefícios da exploração de seus recursos biológicos, incluído o material
genético.

Princípio 9: A comunidade internacional deve compensar os países em desenvolvimento que tentam


conservar seus recursos florestais, contribuindo a reduzir sua dívida externa. facilitando o acesso ao mercado
de produtos florestais e oferecendo alternativas à população que depende da exploração das florestas.

Princípio 1 O: Devem-se facilitar novos recursos financeiros aos países em desenvolvimento para que
possam efetuar a ordenação, conservação e o desenvolvimento sustentável de seus recursos florestais
(florestação, reflorestamento, luta contra o desmatamento e a degradação de florestas e terras).

Princípio 11: Deve-se fomentar, facilitar e financiar o acesso dos países em desenvolvimento às tecnologias
ecológicas.

Princípio 12: Deve-se potencializar as pesquisas científicas, os inventários e as avaliações florestais por
parte das instituições nacionais. Também deve-se potencializar as ações na ciência, o ensino, a tecnologia, a
economia, a antropologia, a capacitação e os aspectos sociais, bem como o intercâmbio de informação
florestal. Os habitantes autóctones devem contribuir com sua capacidade e conhecimentos ao
desenvolvimento sustentável das florestas. e também participar dos ganhos obtidos.

Princípio 13: Deve-se facilitar o comércio aberto e livre dos produtos florestais. a redução ou eliminação de
barreiras tarifárias para o acesso ao mercado de produtos florestais, a incorporação dos custos e benefícios
para o meio ambiente nas forças e mecanismos do mercado. Deve-se integrar a conservação florestal no
restante de políticas e evitar as práticas que a degradem.

INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE 39


0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTAV EL

RESUMEN DE LA DECLARAÇÃO DE LOS FLORESTAS

Princípio 14: Devem-se eliminar ou evitar as medidas unilaterais, incompatíveis com os acordos
internacionais que proíbam ou restrinjam o comércio internacional de madeira e dos produtos florestais, com o
objetivo de alcançar a ordenação sustentável a longo prazo.

Princípio 15: Deve-se regular a quantidade de contaminantes atmosféricos, em particular os causadores de


chuva ácida.

2.2.4.5. A Agenda 21

A Agenda 21 - ou também Programa 21 - foi aprovado por todos os países participantes


da Cúpula da Terra. Essa agenda desenvolve um plano de ação para a década de 90 e
inícios do século XXI, como base para o desenvolvimento sustentável e uma proteção
ambiental cada vez mais interdependente.

Como mencionado no preâmbulo da seção 1: "aborda os problemas diligentes de hoje e


trata de preparar o mundo para os desafios do próximo século". Trata-se de um
documento dinâmico que pode evoluir com o tempo em função das mudanças das
necessidades e das circunstâncias.

É um programa global de ação que está dirigido aos governos, às agências, às


organizações e programas do sistema das Nações Unidas, às ONGs, aos grupos de
eleitores e ao público em geral.

Definitivamente, propõem-se 7 ações prioritárias ou temas, os quais fazem parte de


uma estratégia geral, e os meios essenciais que devem ter as nações para poder aplicar
a Agenda 21 .

p Na Agenda 21, descrevem-se as bases para a ação, os objetivos, as


atividades e meios de execução para alcançar os objetivos do
desenvolvimento sustentável, ou seja, desenvolvimento social,
econômico e proteção ao meio ambiente.

Os medias essenciais para aplicar a Agenda 21 são:

- informação para a tomada de decisões;

- mecanismos nacionais e de cooperação internacional para o crescimento


sustentável;

- tecnologia ambiental racional;

- instrumentos legais e mecanismos internacionais;

- acordos institucionais internacionais.

40 INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE


0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
FUNIBER ~
l'UNOAÇAO UN

E as 7 ações prioritárias ou temas estão reunidas no seguinte quadro:

AS 7 BASES DE ATUAÇÃO DA AGENDA 21

1. O Mundo Próspero: revitalização do crescimento com critérios sustentáveis


Revitalização do crescimento internacional para acelerar o desenvolvimento sustentável nos países em
desenvolvimento e políticas nacionais relacionadas.
Integração do meio ambiente e o desenvolvimento no processo de tomada de decisões.

2. O Mundo Justo: Uma vida sustentável


Luta contra a pobreza.
Mudanças nos modelos de consumo.
Dinãmica demográfica e sustentabilidade.
Saúde pública.

3. O Mundo Habitável: Núcleos de população


Desenvolvimento sustentável dos núcleos de população.
• Abastecimento de água nas cidades.
Gestão ambiental limpa de resíduos.
• Contaminação e saúde pública urbanas.

4. O Mundo Fértil
Planajamento e gestão dos recursos da Terra.
Recursos de água doce.
Recursos energéticos.
• Agricultura e desenvolvimento rural sustentáveis.
Desenvolvimento florestal sustentável.
Gestão de ecossistemas frágeis:
Luta contra a desertificação e a seca.
Desenvolvimento sustentável das zonas montanhosas.
Desenvolvimento sustentável das áreas costeiras.
Desenvolvimento sustentável das ilhas.
Conservação da diversidade biológica.
Gestão ambiental racional da biotecnologia .

~! 5. O Mundo das pessoas: Participação e responsabilidade das pessoas


Educação, consciência pública e formação prática .
Fortalecimento do papel dos grupos principais:
As Mulheres.
As Crianças e os Jovens.
Os Povos lndlgenas e suas Comunidades.
As Organizações Não-Governamentais.
Os Agricultores.
• As Iniciativas das Autoridades Locais.
Os Sindicatos.
O mundo dos Negócios e da Indústria.
• A Comunidade Científica e Tecnológica.

6. O Mundo Compartilhado: Recursos globais e regionais


Proteção da atmosfera.
Proteção de oceanos e mares.
Utilização sustentável dos recursos marinhos vivos.

7. o Mundo Limpo: Gestão de produtos químicos e de resrduos


Gestão ambientalmente limpa dos produtos químicos tóxicos.
Gestão ambientalmente limpa de resíduos perigosos.
Gestão segura e ambientalmente limpa dos resíduos radioativos .

INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE 41


0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

A Agenda 21 é executado por diversos agentes em consonância com as diferentes


situações, capacidades e prioridades dos países e das regiões, com plena observância
de todos os princípios que figuram na Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento.

A eficácia dessas ações é medida por indicadores de sustentabilidade internacionais.


Para tal efeito, cada país seleciona os indicadores que se ajustem à sua realidade.

2.2.5. A 2ª CúPULA DA TERRA (1997)

A 2ª Cúpula da Terra foi celebrada em Nova Iorque entre 23 e 27 de junho de 1997,


para revisar os compromissos adquiridos no Rio, em particular a Agenda 21.

Essa Cúpula caracterizou-se pela escassez de acordos e, mais que uma reunião para
revisar resultados, converteu-se em um reconhecimento do baixo grau de cumprimento
dos compromisos acertados cinco anos antes.

Apesar da avaliação geral negativa que se fez dessa cúpula, sí que realizaram-se alguns
acordos como o "Plano para a ulterior execução da Agenda 21 ", que evitava renegociar
o programa a estabelecia um plano de trabalho para os próximos 5 anos, marcando uma
data para um novo exame em 2002. Marcou-se também esse ano como data limite para
que os países tenham acabado de formular estratégias nacionais de desenvolvimento
sustentável.

Esse exame deu como resultado um relatório do Conselho Econômico e Social em que,
transcorridos dez anos desde a Cúpula da Terra, constava-se que os objetivos fixados
não estavam sendo cumprindos como o esperado e que a situação do meio ambiente
continuava frágil, dando-se, por exemplo, nos países em desenvolvimento, escassos
progressos para reduzir a pobreza e agravamento dos problemas de saúde.

Segundo esse relatório, o atraso na execução deve-se:

à insuficiente integração dos objetivos sociais, econômicos e ambientais nas


políticas nacionais e internacionais;

- a não se ter dado uma mudança significativa nas regras de consumo e produção;

- às políticas aplicadas não mostrarem coerência nas esferas das finanças,


comércio, investimentos, tecnologia e desenvolvimento sustentável;

- a não se ter proporcionado os recursos financeiros necessários para executar a


Agenda 21 .

42 INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE


0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL

2.2.6. CúPULA DE JOHANNESBURGO (2002)

Do dia 26 de agosto ao dia 4 de setembro de 2002, realizou-se, na cidade de


Johannesburgo (África do Sul) a Cúpula Mundial da Terra, também conhecida como
Rio+ 1O. Essa cúpula tinha por objetivo, como em Kioto, a redução a uma média de
5,2% das emissões de C0 2 e outros gases de efeito estufa para o período 2008-2012 .

Após os 1O dias de intensas negociações, os principais êxitos da cúpula foram:

- compromisso (sem especificar) com a redução pela metade do número de


pessoas que carecem de acesso à água potável (aproximadamente, 2,2 bilhões
de pessoas). Contudo, não existem as mesmas garantias para dar serviços
r adequados de energia aos 2 bilhões de pessoas que precisam dela;

- adesão de mais países ao Protocolo de Kioto. Com efeito, o anúncio de que a


China, o Canadá, a Rússia e a Estônia tenham ratificado esse tratado supõe a
consecução do objetivo de seu cumprimento obrigatório, por estar subscrito por
um número de países que geram pouco mais de 55% das emissões totais do
planeta.

p Estados Unidos, o maior contaminador do mundo (25%), reiterou em


Johannesburgo sua negativa em aceitar o protocolo.

E os pontos pendentes continuam sendo:

- a redução dos subsídios à exportação dos que se beneficiam os agricultores das


explorações das nações ricas;

a decisão de implantar firmemente as energias renováveis. Nesse contexto, a


União Europeia viu-se barrada em sua estratégia de propor que para o ano de
2015, o total de energia primária consumida no mundo tivesse origem
renovável, já que não se estabeleceram metas, objetivos, nem prazos: tão só se
pediu aos governantes que seguissem um "significativo aumento" das energias
verdes, mas sem especificação ou medida concreta alguma;

- essa proposta fracassou devido ao bloqueio imposto pelos Estados Unidos, a


OPEP e diversas multinacionais - basicamente petrolíferas -, que temem perder
sua cota de negócio e poder ante um aumento no uso das energias renováveis.

- a abertura de mercados aos produtos procedentes dos países em via de


desenvolvimento.

INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE 43


0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVE L
FUNIBER ·

Em um princípio, o Plano de Ação estava coletado em um documento de 69 páginas e


152 recomendações e objetivos. Entretanto, na última hora, as páginas ficaram
reduzidas a apenas 32, com base na eliminação dos aspectos um tanto espinhosos; por
exemplo, desapareceu o objetivo de aumentar a O, 7% do PIB a ajuda ao
desenvolvimento, a recomendação ao setor privado de operar com transparência ou
menções sobre as dívidas dos países pobres.

EXTRA TO DO PLANO DE AÇÃO DA CÚPULA DE JOHANNESBURGO 2002


Biodiversidade: deve-se "reduzir consideravelmente" a taxa atual de extinção de espécies animais e
vegetais, o que significa dotar de novas fontes financeiras e técnicas os países pobres.
Substâncias químicas: os efeitos nocivos sobre o homem e o meio ambiente desses compostos devem ser
"minimizados" antes de 2020. Não obstante. não se especificam as medidas a adotar para conseguir esse fim.
Ajuda ao desenvolvimento: impelir os países desenvolvidos a realizar esforços para aumentar as ajudas ao
desenvolvimento até 0,7% do PIB (eliminado na última hora). Esse ponto fica, assim, totalmente em mãos
privadas.
Energia: diversificar o fornecimento energético desenvolvendo novas tecnologias menos contaminantes no
campo das energias fósseis e fontes renováveis, incluindo a elétrica. Paradoxalmente, os Estados Unidos e a
OPEP bloquearam o acordo sobre objetivos e prazos concretos para o incremento no uso das energias
renováveis.
Pesca: os recursos pesqueiros devem ter uma exploração sustentável como máximo até 2015. Assim mesmo,
devem-se criar novas zonas marltimas protegidas.
Comércio e globalização: "recomenda-se" uma redução das subvenções prejudiciais para o meio ambiente,
especialmente na exploração do carvão.
Protocolo de Kioto: os Estados que ratificaram o Protocolo de Kioto contra a mudança climática, realizam um
chamamento para os palses que ainda não o fizeram . Nesse contexto, aderem-se a tal protocolo nessa cúpula
países como China, Rússia, Canadá e Estõnia.
Agua e instalações sanitárias: antes de 2015, devem-se reduzir à metade o número de habitantes do
planeta sem acesso à água potável ou com rede de esgoto; desconhece-se. porém, a fórmula para que isso
seja uma realidade.
Pautas de consumo: todos os países devem promover modos de produção limpos e viáveis, levando em
conta que tanto os países industrializados como as nações pobres têm a mesma responsabilidade, ainda que
diferenciada.
Responsabilidade empresarial: futuro desenvolvimento de normas que exijam que as empresas
multinacionais tenham práticas aperfeiçoadas em sua área .

Como resultado da cúpula, os 143 países em desenvolvimento não obtiveram mais que
uma mera ratificação dos compromissos já dados em outros eventos anteriores pelos
Estados Unidos e a União Europeia para frear a queda da ajuda ao desenvolvimento do
Terceiro Mundo e a promessa de reduzir as subvenções agrícolas dos países ricos nos
próximos três anos.

Conclusivamente, foi uma conferência caracterizada mais pela falta de objetivos


concretos e cifrados, constituindo uma profunda decepção e outra fuga para diante.

44 INTRODUÇ ÃO AO MEIO AMBIENTE


0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
FUNIBER

2.3. OS DESAFIOS DO DESE O V ENTO


SUSTE TÁVEL

O conceito de desenvolvimento sustentável esteve sujeito a toda sorte de


controvérsias, associadas à posição que se assume frente aos problemas e a suas
dificuldades de instrumentação. Em geral, os países desenvolvidos enfatizam a
importância das ações dirigidas à conservação; por sua parte, os países em
desenvolvimento priorizam os aspectos vinculados ao crescimento. Outras críticas
apontam para a assimétrica situação Norte-Sul no sentido de destacar que mais que
intergeracional, a satisfação das necessidades do Norte não deve comprometer as
necessidades presentes e futuras do Sul.

O desenvolvimento sustentável é um modelo inacabado que retorna aos princípios do


ecodesenvolvimento fortalecendo-os com novos elementos da economia que, ao
mesmo tempo em que validam a necessidade de estratégias produtivas que não
degradem o ambiente, insistem na necessidade de elevar o nível de vida dos grupos e
setores da população mais vulneráveis, identificando melhor as responsabilidades de
cada parte frente à pobreza e à crise ambiental. Seus fundamentos são:

1. modificar pautas de consumo, sobretudo em países industrializados, para


manter e aumentar a base dos recursos e reverter a deteriorização para as
gerações presentes e futuras, a partir de:

a) impulsionar uma melhor compreensão da importância da diversidade dos


ecossistemas;

b) dispor medidas localmente adaptadas a problemas ambientais;

e) melhorar o monitoramento do impacto ambiental produzido pelas atividades


de desenvolvimento;

d) respeitar as pautas socioculturais próprias, sobretudo, dos povos indígenas


e empregar um enfoque de gênero no desenvolvimento dos projetos;

2. empreender ações em torno das seguintes linhas estratégicas:

a) erradicar a pobreza e distribuir mais equitativamente os recursos;

b) aproveitar de modo sustentável os recursos naturais e ordenar


ambientalmente o território;

c) compatibilizar a realidade social, econômica e natural;

dl promover a organização e a participação social efetiva;

e) impulsionar a reforma do Estado e gerar uma estratégia socioeconômica


própria;

INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE 45


0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
FUNIBER

f) reduzir o crescimento demográfico e aumentar os níveis de saúde e


educação;

g) estabelecer sistemas comerciais mais equitativos e abertos, tanto internos


quanto externos, incluindo aumentos da produção para consumo local.

A busca pelo desenvolvimento sustentável requer:

- um sistema político que assegure uma participação cidadã efetiva na tomada de


decisões;

- um sistema econômico que seja capaz de gerar excedentes e conhecimento


técnico sustentável e confiável;

um sistema social que forneça soluções às tensões originadas em um


desenvolvimento inarmônico;

- um sistema de produção que respeite a obrigação de preservar a base ecológica


para o desenvolvimento;

- um sistema tecnológico que possa buscar continuamente novas soluções;

um sistema internacional que fomente padrões sustentáveis de comércio e


finanças;

um sistema administrativo que seja flexível e tenha a capacidade de ser


autocorrigível.
"'
::

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (1992) oferece três princípios
orientadores para tender ao desenvolvimento sustentável :

1. o desenvolvimento sustentável deve conceder prioridade aos seres humanos. A


proteção ambiental é vital para promover o desenvolvimento humano. Isso
implica assegurar a viabilidade dos ecossistemas do mundo a longo prazo,
incluída sua biodiversidade, posto que toda a vida depende dela;

2. os países em desenvolvimento não podem escolher entre crescimento


econômico e proteção ambiental. O crescimento não é uma opção: é um
imperativo. A questão não é quanto crescimento econômico faça falta, mas que
tipo de crescimento;

3. cada país tem de fixar suas próprias prioridades ambientais, as quais diferirão
com frequência nos países industrializados e em desenvolvimento.

No que pese à prevalência dos indicadores econômicos como medida de


desenvolvimento, é crescente a importância que se designa a outras dimensões, tais
como o acesso à educação e ao emprego, à saúde e à seguridade social, ou a uma série
de valores tais como a justiça social, a equidade econômica, a igualdade racial, étnica e

46 INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE


0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÃVEL

religiosa, a liberdade política e ideológica, a democracia, a segurança, o respeito aos


direitos humanos e a qualidade do meio ambiente.

O desenvolvimento sustentável é um processo em busca da equidade e de uma melhor


qualidade de vida com proteção ao ambiente, incluindo transformações econômicas,
culturais e políticas; que requer a modificação de linhas produtivas, a distribuição e o
consumo e que se supere o déficit social.

O desenvolvimento sustentável implica um crescimento diferente, a partir de uma


mudança tecnológica; de um ordenamento territorial; de um contexto social
democrático que assegure a participação pública na tomada de decisões; de uma
redefinição de políticas, instituições, leis e normas, bem como de um sistema
internacional mais justo.

O desenvolvimento sustentável deve ser concebido como processo, não como meta,
para ir dando conta de suas principais restrições associadas às formas de exploração
dos recursos naturais, da orientação dominante da evolução tecnológica e das
características do marco institucional.

Dessa perspectiva, as soluções não se encontram só nas mãos do governo, nem nas
dos grupos de acadêmicos especializados. A solução implica a concepção de
estratégias que incluam todos, com uma corresponsabilidade diferenciada e objetivos
estabelecidos coletivamente. Também implica mensagens inequívocas claramente
enunciadas e de. acordo com cada grupo, assegurando que são compreendidas para
promover novas atitudes e aptidões, pressionar em direção à mudança e acelerar o
processo. Uma mudança de amplo alcance não um modismo ambientalista, que ofereça
novas motivações e compromissos de longo prazo; ou seja, entender o
desenvolvimento sustentável como um novo e melhor modo de vida.

Contudo, e dado o anterior, as implicações econômicas da sustentabilidade não são


completamente claras para a formulação de políticas, posto que não se trata de tomar
decisões para obter benefícios a curto prazo. Exige-se a criação das devidas condições
de mercado para consolidar o manejo sustentável dos recursos ambientais,
considerando a história mais reciente da globalização dos processos econômicos.

A sustentabilidade não pode ser alcançada se não existir um crescimento econômico


que enfatize seus aspectos qualitativos relacionados com a equidade e o alívio da
pobreza. Agindo sobre as causas e não somente sobre seus sintomas e efeitos mais
aparentes.

Como pode-se inferir, o desenvolvimento sustentável não é questão de transações


temporais ou de transferências de uma geração a outra. Antes de começar a agir sobre

INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE 47


0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTAV EL
UNIBER
F\JNOAÇÃO UI>. L

o problema das futuras gerações, é imperativo atender as que hoje encontram-se em


condições de sobrevivência. Porque as dificuldades do desenvolvimento sustentável
aumentam na medida do abandono social existente e em função da grandeza das
necessidades básicas que estão ainda por serem atendidas. O problema será cada vez
mais complexo se continuarem reproduzindo-se os padrões de produção e consumo, os
mesmos valores culturais, a desigual distribuição de renda e os esquemas tecnológicos
que propiciam a deteriorização.

Em suma, caminhar para o desenvolvimento sustentável implica uma nova visão de


mundo, uma reestruturação das relações Estado-Sociedade, uma intervenção
protagonista da sociedade civil nas decisões e mudanças institucionais e culturais para
a geração de novos valores sociais. Também implica a ênfase por uma modificação de
padrões tanto de produção quanto de consumo, sobretudo nos países desenvolvidos e
nos segmentos mais acomodados dos países pobres, uma reorientação tecnológica para
atenuar os impactos e reduzir os riscos, uma redefinição das políticas, das instituições e
dos aspectos normativos.

Essas características não podem ser abordadas de maneira fragmentada. Nisso se apoia
a complexidade de operar o desenvolvimento sustentável.

Desafios

Dimensão Humana:

padrões culturais;

educação;

- formação;

- coexistência de interesses.

Condução do desenvolvimento:

- ciência e tecnologia;

- sistemas de informação;

- política económica (instrumentos);

- ferramentas;

- custo/benefício;

- taxa de desconto futuro.

48 1NTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE


0 DESENVOLVIMENTO SUSTEN TAVEL
FUNIBER 8
Fi.JNOA<,"\ÃOUNIVEM e~ -----------------------------

Institucionalidade:

- horizontalidade;

- subsídios;

- corresponsabilidade.

Perspectivas e Condições

Considerando o que se disse anteriormente, algumas tarefas urgentes que podem ajudar
a empreender um caminho melhor são:

1. depender menos de fontes de energia fósseis, principalmente do petróleo, e


cada vez mais de fontes renováveis e menos contaminantes, assim como
favorecer a eficácia energética;

2. desenvolver processos tecnológicos de uso mais intensivo de mão-de-obra, de


acordo com a base de recursos naturais e mais limpos com um enfoque
eminentemente preventivo;

3. aperfeiçoar e incentivar a reciclagem e reaproveitamento dos dejetos e


desperdícios, assim como diminuir sua produção e dar-lhes o adequado fim;

4. impulsionar uma gestão dos recursos naturais com conhecimentos e


tecnologias baseados em uma nova racionalidade ambiental e com equidade
social;

5. fortalecer o enfoque regional canalizando esforços às áreas que têm prioridade;

6. instituir formas administrativas e políticas muito mais descentralizadas e que se


apoiem em maior medida nas comunidades locais, a partir de suas
características socioculturais e com um enfoque de gênero;

7. deter o crescimento urbano desordenado e macrocefálico - no sentido de estar


concentrado em determinados centros -, bem como os padrões de consumo
excessivo, favorecendo maiores oportunidades de desenvolvimento regional;

8. fortalecer o marco normativo e o estabelecimento de instrumentos econômicos;

9. instituir o direito a uma informação oportuna e veraz;

1 O. educar a população e promover, por todos os meios possíveis, a formação de


novos valores culturais concordes com a sustentabilidade.

Todas essas são condições indispensáveis ao futuro. Não se trata, em absoluto, de


propostas regressivas; o progresso tecnológico não é um mal em si mesmo; o objetivo
não é renunciar a seus avanços, mas de saber utilizá-los em uma dimensão humana.

INTRODUÇÃO AO MEIO AMBI ENTE 49


0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÃVEL

i4

50 INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE


0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL
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OResumo

INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE 51


0 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

>

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56 INTRO DU ÇÃO AO MEIO AMBIENTE


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