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MINERAÇÃO DE AREIA NO RS: UM SETOR EM TRANSIÇÃO & EVOLUÇÃO

Eng. Minas RENE CARAMEZ, SOMAR, rene@har.com.br


Eng. Civil EDUARDO MACHADO, ARO, eduardomachado@terra.com.br
Geol. IVAN ZANETTE, SMARJA, ivam.zanette@gmail.com
Eng. Minas LEANDRO FAGUNDES, UFPel, leandro.ufpel@gmail.com

RESUMO

Este trabalho através de uma análise temporal, apresenta a evolução na área mineral e ambiental do setor
de produção de areia em recursos hídricos no RS. Foram considerados os últimos 40 anos (1982-2022) de
atividade produtiva em leito de rios do RS, com destaque ao Rio Jacuí, Lago Guaíba e Lagoa dos Patos.

Palavras-chave: mineração, agregados, areia, recursos hídricos e sustentabilidade.

APRESENTAÇÃO

A extração de areia em leito de rio, para efeito pertencem à União, e as jazidas, em lavra ou não, é garantido
ao concessionário a propriedade do produto da lavra. Logo, as normas minerais e ambientais devem ser
cumpridas e atendidas pelo minerador. Assim, como a recuperação de áreas degradadas é prevista na
Constituição (1 e 2) e também preconizada na Política Nacional de Meio Ambiente – PNMA (3).
(1) Constituição Federal - Art. 176; (2) Constituição Federal Art. 225; e (3) Lei Federal 6.938/1991).

Hoje a mineração de areia no leito do rio Jacuí, segundo dados da ANM para 2021, lavra na faixa de 4,5
MTPA (4), com VPM (5) de R$ 66,8 milhões, e recolhendo R$ 9,1 milhões em CFEM (6). É um setor que
sempre está em busca de incorporação de tecnologia de ponta e inovações para suas operações, com foco
no bem estar dos seus colaboradores, no atendimento e satisfação de seus clientes, estando firmemente
engajada na proteção e preservação ambiental. O objetivo da sustentabilidade da mineração é um desafio
constante.
(4) MTPA: Milhões de Toneladas por Ano; (5) VPM: Valor da Produção Mineral; e (6) CFEM: Compensação Financeira pela Exploração Mineral.

PARCERIAS & ESTUDOS DE P&D&I (7)


(7) P&D&I: Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação

As três maiores mineradoras que operam no Rio Jacuí: (1) SOMAR; (2) SMARJA; e (3) ARO, conforme
dados da ANM, entre 2010-21 realizaram investimentos da ordem de R$ 20 milhões, sendo 68% destes
recursos em pesquisa mineral e 32% em lavra mineral. As mineradoras ao longo destes 40 anos, criaram e
mantem parcerias e convênios com: (1) Escola de Engenharia – DEMIN, PPG3M e Centro de Ecologia –
CENECO da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); (2) Instituto de Oceanografia da
Universidade Federal de Rio Grande (FURG); (3) Centro de Engenharias da Universidade Federal de
Pelotas (UFPEL); (4) Universidade Federal de Santa Maria (UFSM); (5) Fundação de Ciência e Tecnologia
(CIENTEC); e (6) Museu de Ciências e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul (PUCRS), entre outros.

Os estudos realizados servem para que as equipes técnicas das mineradoras, com apoio e suporte de
consultores especializados da Academia e do setor privado executem trabalhos e estudos periódicos e
contínuos de: (1) Topografia e geodésia com foco no monitoramento dos marcos georreferenciados, da
batimetria do rio e no monitoramento/rastreamento de dragas online por Sistema de Posicionamento Global
Diferencial – DGPS; (2) Geofísica aplicada com uso de georadar – GPR e sonar de varredura lateral – SVL;
(3) Estudos de sedimentologia, morfodinâmica, fácies e classes texturais, qualidade da água e dos
sedimentos de fundo, controle de taludes (erosão); além de (4) Cursos para treinamento e qualificação dos
profissionais; e (5) Apoio ao desenvolvimento de trabalhos de conclusão de curso – TCC, teses de mestrado
– M.Sc. e doutorado – D.Sc.
MINERAÇÃO & SUSTENTABILIDADE

As principais ações de controle e monitoramento das atividades de mineração e meio ambiente no Rio Jacuí
estão relacionadas aos seguintes tópicos: (1) Levantamento batimétrico com execução dos levantamentos
batimétricos de precisão, com isolinhas das profundidades nas áreas em mineração para monitorar a forma
da superfície de leito, a estabilidade das margens e a disponibilidade de minério; (2) Monitoramento da
rede dos marcos geodésicos para monitorar a posição relativa das margens e o controle de processos
erosivos; (3) Monitoramento de qualidade da água através de análises físico-químicas, conforme parâmetros
exigidos pelo órgão ambiental e em laboratórios credenciados pela FEPAM; (4) Monitoramento dos
sedimentos de fundo com execução de análises granulométricas e mineralógicas; (5) Monitoramento da
vegetação ciliar para avaliar e monitorar a mata ciliar e a evolução do cenário ambiental; (6) Monitoramento
das condições dos ecossistemas aquáticos e de transição, com dados quantitativos e temporais para a
ictiofauna, planctôn, bentôn e macrofauna de invertebrados aquáticos; (7) Monitoramento de ocorrências e
estabilidade das margens: levantamentos de ocorrências antrópicas ou naturais, permanentes ou temporárias
no leito e nas margens do rio, e análise dos segmentos de margem com processos erosivos significativos,
com marcos georreferenciados para o controle da progressão dos eventos de erosão; (8) Levantamento de
ocorrências naturais e antrópicas, permanentes ou temporárias, presentes no leito e nas margens do rio; (9)
Levantamento e análise das taxas de aporte de sedimentos (de fundo e em suspensão) com base em dados
hidrométricos e dados de coleta de sedimento; (10) Monitoramento em tempo real via satélite das dragas
que operam são rastreadas e monitoradas via GPS em tempo real, com a possibilidade do corte remoto das
bombas em caso de não conformidade com relação as restrições de operação. A mineradora, a empresa
contratada para rastreamento, as dragas, os órgãos ambientais e a sociedade possuem acesso 24 horas ao
sistema por meio do portal de rastreamento da FEPAM, no site do órgão; e (11) Monitoramento e controle
eletrônico por sistema com cerca eletrônica virtual dos limites das áreas liberadas para mineração. A cerca
é estabelecida pela FEPAM e compreende o limite da área requerida na ANM com as devidas restrições
ambientais. As posições, atividades e movimentações das dragas em lavra podem ser acessadas por
qualquer cidadão, 24 horas. Link: http://ww3.fepam.rs.gov.br/licenciamento/area4/mapa_dragas.asp

FIGURAS 01, 02 e 03 – ESTUDOS NO RIO JACUÍ – FONTE: SMARJA, 2022.

FIGURAS 04, 05 e 06 – ESTUDOS NO RIO JACUÍ – FONTE: ARO, 2022.

FIGURAS 07, 08 e 09 – ESTUDOS NO RIO JACUÍ – FONTE: SOMAR, 2022.

PERSPECTIVAS FUTURAS

A identificação e quantificação de novas áreas potenciais para mineração em recursos hídricos do RS foram
realizados desde os anos 2000 até 2020, seja no Lago Guaíba e na Lagoa dos Patos. Estes trabalhos seguiram
a linha de base adotada no Rio Jacuí, com a inclusão de novas e modernas técnicas e parâmetros ambientais
incorporados. Sendo de se destacar: (1) Realização das primeiras pesquisas minerais com equipe embarcada
na Lagoa dos Patos e aplicação de métodos indiretos com Georadar GPR, métodos diretos com sondagens
e sistemas para modelagem computacional das jazidas; e (2) Campanhas de pesquisa de campo com
autorização e aprovação do IBAMA para coleta de águas, sedimentos e biota aquática no Lago Guaíba em
5 (cinco) setores de classificação geoambiental, conforme setores nas margens direita e esquerda, e as fácies
do depósito sedimentar. Os trabalhos foram realizados por equipe de até cinquenta (50) profissionais e
pesquisadores do Centro de Ecologia da UFRGS e do Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS. O
resumo técnico dos trabalhos no Lago Guaíba indicaram os seguintes resultados de coletas: (1) Seis (06)
campanhas de peixes com mais de 2.000 indivíduos capturados, catalogados e classificados; (2) Três (03)
campanhas de biota com mais de 750.000 indivíduos capturados, catalogados e classificados; (3) Cinco
(05) campanhas qualidade com 1.200 parâmetros analisados em água e 1.000 parâmetros em sedimentos
de fundo. Destaque especial para os estudos de modelagem geoambiental e de genotoxidade na Campanha
III (2011) com sedimentos de fundo, executadas conforme os padrões nacionais e internacionais, sendo este
tipo de estudo, inédito no setor de areia do RS em recurso hídrico.

FIGURA 10 – LOCAIS DE AMOSTRAGEM E MAPA DO LAGO GUAÍBA – FONTE: ROSSI/P&D, 2022.

CONCLUSÕES

A atividade mineral está mudando, encontra-se em transição. As maiores empresas do setor no mundo
embora tenham alcançado resultados financeiros espetaculares em 2021, não deixam claro por quanto
tempo esse nível recorde se manterá. A mineração passa por mudanças sem precedentes, com a demanda,
a substituição e a alteração nas fontes de insumos minerais. Energias renováveis, eficiência no consumo de
energia e de água, a reciclagem e reuso, são alguns exemplos de ações da chamada transição de materiais.

Os ambientes operacionais ficam mais desafiadores e novos players surgem. Números associados a estas
ações ainda não estão disponíveis no Brasil, mas o movimento já começou. Quem estiver na vanguarda,
com o avanço das novas tecnologias serão menos afetados. É hora de percorrer caminhos inexplorados e
descobrir novas soluções. É com esta visão que o setor de agregados – brita e areia deve se mover, buscando
uma transição com tranquilidade, e sem sobressaltos.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem as diretorias da SOMAR, SMARJA e ARO pela disponibilização dos dados de seus
acervos técnicos. E agradecimentos especiais aos geólogos Nelson Machado (UFRGS) e Giovani Rossi
(ROSSI), e a engenheira Konnie Peuker (P&D), ninguém constrói nada sozinho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Acessos em 11/11/2022:

(1) http://somarmineradora.com.br/sustentabilidade/projetos/
(2) https://smarja.com.br/gestao-ambiental/
(3) https://aromineracao.com.br/como-fazemos/
(4) http://anm.gov.br – Anuário Mineral Brasileiro Interativo
(5) http://www.fepam.rs.gov.br/licenciamento/Area4/rastreamento_dragas.asp

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