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PUC-SP
São Paulo
2015
Luciano dos Santos Diniz
São Paulo
2015
Banca Examinadora
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Ao meu companheiro Paulo, com todo o meu amor.
AGRADECIMENTOS
À Nossa Senhora Desatadora de Nós, que tem me guiado durante toda essa
jornada, sempre dando mostras de sua poderosa intercessão.
Ao Paulo, meu parceiro e maior incentivador, por me mostrar, a cada dia, que
a vida, os sonhos e as alegrias são muito melhores se compartilhados.
À minha mãe, Tânia; aos meus irmãos. Eduardo e Rafael; às minhas cunhadas,
Jaqueline e Gabriela; e aos meus sobrinhos, Maria Eliza, João Pedro, Lara, Esther e
Lívia, meu amor e eterna gratidão.
Aos meus familiares, em especial à Tia Sônia, à Tia Elizabeth, à Tia Margareth,
à Tia Nilza, à Tia Dulce, ao Arthur, à Bárbara e a todos os integrantes do “Pisquila”,
pelo carinho e apoio permanentes.
Aos queridos Agustín Gant, Amon Barros, Ana Diniz, Ana Estevens, Bu Couto,
Carla Lima, Carolina Rocha, Cristiane Almeida, Felipe Paiva, Isabella Monteiro,
Katielle Susane, Letícia Junger, Ludmila Guimarães, Luís Mendes, Marina Carreiras,
Natália Bittencourt, Paulo Madeira, Roberta Abalen, Sancha Resende, Simone Silva,
Tarsila Filgueiras, pela amizade, consideração e despretensioso auxílio.
In order to strengthen the role of cities in the domestic economic environment national
and ensure their integration into the global market, the modifying actions proceeded
by the Government, in conjunction with private capital, not always broaden the citizens'
right to the city. Sometimes such actions lead, albeit unintentionally, to the
intensification of inequality, exclusion, and socio-spatial segregation of the poorest
segments of the population. The objective of the research was to identify whether the
interventions made by the Government in the North Section of the metropolitan region
of Belo Horizonte, since 2005, have initiated the gentrification process of the study
area Venda Nova. Specifically, it sought to identify the elements that characterize the
gentrification process, understood as ennoblement/elitization of certain areas, with
conceptual basis of national and international literature. Therefore, were researched
the occurrence of land order changes; the changes in urban infrastructure, in the
typology of buildings and in census indicators. For this purpose, in the present study,
it was used a bibliographical, documental and survey research with older residents,
recent residents and former residents that allowed knowing and evaluating the
gentrification phenomenon in its temporality. The research has concluded that, in fact,
the interventions proceeded by the government in the North Sector of the metropolitan
region of Belo Horizonte have initiated the gentrification process of the study area,
which is characterized by an active role of the Government; the reinvestment of public
and private capital in the surrounding environment; changes in the order land; the
transformation of the built environment; the reorganization of the social cartography of
the area with the arrival of higher-socioeconomic-level residents; and finally, the
indirect displacement of low-income residents.
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 19
Objetivo.................................................................................................................. 30
Objetivos específicos ............................................................................................. 30
Informações metodológicas ................................................................................... 30
1 PRODUÇÃO SOCIAL E CAPITALISTA DO ESPAÇO ....................................... 39
1.1 Formação espacial: do rural ao urbano....................................................... 39
1.2 Formações econômicas pré-capitalistas e a renda fundiária. ..................... 52
1.3 A renda da terra (urbana) e a configuração do espaço citadino.................. 55
1.4 Estruturação do espaço urbano nas cidades latino-americanas ................. 60
1.5 A urbanização das cidades brasileiras ........................................................ 68
2 processos contemporâneos nA (RE)PRODUÇÃO Da cidade CAPITALISTA .... 78
2.1 Cidades pós-modernas e a globalização do espaço ................................... 78
2.2 Estruturação urbana e os agentes produtores do espaço........................... 88
2.3 A cidade como locus do processo de acumulação de capital ................... 100
2.4 Cenários urbanos: práticas de valorização do espaço .............................. 107
3 GENTRIFICAÇÃO E A (RE)ESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO URBANO ......... 119
3.1 Origem, características e efeitos da gentrificação: uns perdem, outros
ganham ................................................................................................................ 119
3.2 A dicotomia “produção x consumo” da gentrificação................................. 126
3.2.1 Teoria econômica: a gentrificação como uma nova fronteira urbana de
rentabilidade ........................................................................................................ 127
3.2.2 Teoria cultural: novos estilos de vida e demandas de consumo como
causas da gentrificação ....................................................................................... 132
3.2.3 “Produção + consumo”: a convergência das perspectivas teóricas sobre a
gentrificação ........................................................................................................ 137
3.3 Globalização e as formas contemporâneas de gentrificação .................... 139
3.4 Processos de gentrificação urbana no Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro,
Salvador e Recife................................................................................................. 149
4 CENÁRIOS URBANOS: VENDA NOVA, BELO HORIZONTE E O ESPAÇO
METROPOLITANO ................................................................................................. 162
4.1 Instituição e estruturação de Venda Nova ................................................ 162
4.2 Venda Nova no contexto de Belo Horizonte ............................................. 167
4.3 A produção do espaço metropolitano de Belo Horizonte .......................... 189
4.4 Reestruturação produtiva do Vetor Norte da Região Metropolitana de Belo
Horizonte ............................................................................................................. 195
5 REESTRUTURAÇÃO DA METRÓPOLE E O PROCESSO GENTRIFICATIVO
NA ÁREA DE ESTUDO VENDA NOVA (AEVN) ..................................................... 210
5.1 A macro estruturação do espaço no Vetor Norte da Região Metropolitana
de Belo Horizonte ................................................................................................ 211
5.2 Novos cenários para Venda Nova: a transformação do ambiente construído
e a oferta de novos serviços na AEVN ................................................................ 227
5.3 A alteração da ordem fundiária e a transformação da AEVN .................... 234
5.4 A alteração da cartografia social da AEVN ............................................... 255
5.5 Deslocamentos da população autóctone: alguns relatos .......................... 263
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 278
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 288
APÊNDICE A – Convite para entrevista .................................................................. 325
APÊNDICE B – Roteiro de entrevista (morador da AEVN) ..................................... 326
APÊNDICE C – Roteiro de entrevista (ex-morador da AEVN) ................................ 327
APÊNDICE D – Quadro de moradores e ex-moradores entrevistados ................... 328
19
INTRODUÇÃO
A presente tese analisa uma área da cidade de Belo Horizonte – Venda Nova,
que vem sofrendo impactos de ações públicas na direção de sua elitização. Esse tema
deve ser contextualizado com uma reflexão sobre o espaço urbano nos dias de hoje.
A cidade “condensa diferentes facetas ligadas ao mundo econômico, à vida
social, à cultura, atingindo os modos de vida, as subjetividades, a comunicação, a
questão do território e da alteridade” (VÉRAS, 2000, p. 9). Nessa condição, o espaço
urbano não pode ser visto como mero receptáculo da vida social, nem como resultado
ou coisa derivada da ação humana, na medida em que, por interação ou retroação, o
espaço intervém nas relações sociais de produção e reprodução. Constituindo-se, por
isso, como produto, condição e meio da reprodução social (SALGUEIRO, 1999a;
CARLOS, 2012).
denominado como Venda Nova (doravante nominado como Região Histórica Venda
Nova – RHVN), o qual, tempos depois, foi integrado ao território da capital. A princípio,
enquanto subúrbio da cidade, em 1919, passando posteriormente à condição de
distrito, em 1923. A incorporação definitiva da RHVN a Belo Horizonte, contudo,
ocorreu somente em 1948, em atendimento às reivindicações da população venda-
novense (APCBH, 2008).
Desde o início, o desenvolvimento da cidade de Belo Horizonte foi marcado
pela observância das diretrizes traçadas na sua planta básica apenas na área
delimitada como urbana – concentradora da infraestrutura, dos serviços e do comércio
da cidade. Fora da zona urbana, o crescimento ocorreu de forma mais espontânea e
desorganizado, tornando-se determinante na ocupação das áreas mais afastadas do
centro da cidade, bem como em sua conurbação com os Municípios circunvizinhos.
Sobretudo a partir das décadas de 1940 e 1950, quando a expansão de Belo Horizonte
passou a ser impulsionada pelo processo de industrialização e pelo incremento da
ocupação periférica, com uma crescente relação de interdependência (econômica,
social) entre a capital e os Municípios adjacentes1.
Até então, a RHVN tinha um lento ritmo de crescimento, passando a apresentar
um cenário mais dinâmico em razão do avanço da metrópole. As obras de construção
do Complexo da Pampulha, em 1940, atraíram para esta região as pessoas com maior
poder aquisitivo, enquanto as pessoas de baixa renda e os migrantes do interior do
Estado foram ocupando as áreas próximas, localizadas no eixo norte da cidade. Na
RHVN, as pessoas eram atraídas pelo baixo preço dos terrenos, apesar dos novos
loteamentos não possuírem autorização da Poder Público municipal e quaisquer
infraestruturas (água, luz, saneamento, sistema viário e iluminação pública
adequados), deixando muitos moradores em condições precárias de vida. Sendo que
muitas vilas surgiram desses loteamentos irregulares.
Conforme Villaça (1998, p. 114), Belo Horizonte é assim caracterizada:
(i) uma metrópole interiorana, “que dispõe de área para expansão em todas
as direções: 360 graus”;
(ii) uma cidade que, no início de sua expansão, é dividida ao meio pelo rio
Arrudas e pela ferrovia que se aloja junto a ele. “A barreira divide o
espaço urbano em duas partes” – o “lado de cá” (onde se localiza a área
central) e o “lado de lá” (oposto à área central) –, cuja diferença nos
1
O que, mais tarde, desencadeou o processo de metropolização da região e ensejou, em meados de
1973, a instituição da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).
22
2
Os 40 Territórios de Gestão Compartilhada em Belo Horizonte foram estabelecidos por meio do
Decreto nº 14.724/2011 (BELO HORIZONTE, 2011).
24
Entre os bairros que integram a RAVN, faz-se especial menção ao bairro Venda
Nova, importante centralidade da região, devido não só ao caráter histórico de sua
ocupação – já que nesta localidade se iniciou a ocupação do antigo arraial Venda
Nova –, mas, também, ao protagonismo que o mesmo exerceu ao longo do tempo,
como centro comercial e de serviços regional. A ampla oferta de serviços na região,
sobretudo nos seus principais eixos viários (Rua Padre Pedro Pinto e Avenida
Vilarinho), confere maior conforto aos moradores, garantindo-lhes certa
independência em relação aos serviços prestados no centro de Belo Horizonte
(PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, 2004). De maneira que, a região
é referência tanto para os munícipes residentes no eixo norte de Belo Horizonte,
quanto para os moradores dos Munícipios vizinhos, localizados no Vetor Norte da
Região Metropolitana de Belo Horizonte. Não à toa a palavra “venda” faz parte do seu
nome.
25
3
O território da Região Administrativa Venda Nova possuía 258 setores censitários, em 2000. No Censo
Demográfico de 2010, verificou-se um acentuado processo de subdivisão, de modo que, atualmente, a
área é composta por 411 setores censitários.
4
Trata-se das unidades espaciais utilizadas no Atlas de Desenvolvimento, delineadas a partir da
agregação diferenciada de setores censitários do IBGE, que as diferenciam das áreas de ponderação
adotas nos Censos Demográficos.
27
(ii) pelo fato da AEVN estar localizada na RAVN, região esta que se
diferencia consideravelmente das Regiões Administrativas Pampulha e
Norte, também situadas no eixo norte da capital, eis que: 1) o processo
de ordenação do solo da Região Administrativa Pampulha, a partir da
década de 1940, favoreceu a ocupação e o uso do território por camadas
mais abastadas da população; 2) suas especificidades e vantagens
localizacionais a distingue da Região Administrativa Norte. Apesar de
ambas serem caracterizadas pela ocupação por população de baixa
renda e apresentem demasiados déficits no tocante ao desenvolvimento
socioespacial;
5
Também denominado como Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves e Cidade
Administrativa Minas Gerais.
29
Objetivo
Objetivos específicos
Informações metodológicas
(GOLDMANN, 1967): “os fatos sociais devem ser tratados como coisas”6
(DURKHEIM, 1974, p. XX).
Segundo Goldmann (1967), as ciências históricas e humanas, ao contrário das
ciências físico-químicas7, analisam a ação humana, sua estrutura, as aspirações que
a norteiam e as alterações que sofre. O estudo histórico não se restringe às ações
conscientes da atividade humana (aspecto parcial), vinculando as intenções
conscientes dos agentes à significação objetiva de seu comportamento e de suas
ações; derivando, pois, duas consequências: (i) o processo de conhecimento constitui
um fato humano, histórico e social, de modo que, ao estudar a vida humana, há
identidade parcial entre o sujeito e o objeto do conhecimento. Razão pela qual, o
problema da objetividade se coloca diferentemente nas ciências humanas do que na
físico-química; (ii) o investigador deve esforçar-se para integrar o estudo dos fatos
sociais a história das teorias a respeito desses fatos, assim como por ligar o estudo
dos fatos da consciência à sua localização histórica e à sua infraestrutura econômica
e social. Em outras palavras, os fatos sociais estão relacionados aos aspectos
temporais/espaciais em uma dada sociedade.
Uma vez que, na investigação de fatos sociais “não há como conceber uma
investigação que estabeleça uma separação rígida entre o sujeito e o objeto. Os
resultados obtidos nas pesquisas não são indiferentes nem à forma de sua obtenção
nem à maneira como o pesquisador vê o objeto” (GIL, 2008, p. 5). Nesse aspecto,
Cardoso (1976, p. 64) assinala que o sujeito incorpora a forma de pensar e de se
comunicar da sociedade em que se encontra. Para ela, o relacionamento
pensamento-objeto “está baseado na explicação parcial concretamente aceita pela
sociedade ou pelo grupo social, conforme ela é assimilada pelo sujeito, tendo
importância a sua posição dentro dela ou dele”. Tal situação, contudo, não invalida a
pesquisa em ciências sociais, mas “justifica a existência de diferentes quadros de
referência para análise e interpretação dos dados” (GIL, 2008, p. 5). Por tal razão,
“parece muito mais correto falar de objetivação, e não de objetividade” (CARDOSO,
1976, p. 64).
O propósito fundamental da atividade científica é a obtenção da verdade, “por
intermédio da comprovação de hipóteses, que, por sua vez, são pontes entre a
6
“Mas os fatos sociais dificilmente podem ser tratados como coisas, pois são produzidos por seres que
sentem, pensam, agem e reagem, sendo capazes, portanto, de orientar a situação de diferentes
maneiras. Da mesma forma o pesquisador, pois ele é também um ator que sente, age e exerce sua
influência sobre o que pesquisa.” (GIL, 2008, p. 5).
7
Estudam fatos exteriores ao homem, analisam o mundo sobre o qual recai sua ação.
32
8
Tal metodologia é adotada em países como Áustria, Espanha, EUA, Hungria e Inglaterra e,
recentemente, passou a ser utilizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas – FIPE, a partir
de 2010 (FIPE, 2014).
34
9
A pesquisa do mercado imobiliário em Belo Horizonte, realizada pela Fundação IPEAD/UFMG,
abrange construtoras e incorporadoras no mercado de construção e comercialização de imóveis novos
e imobiliárias no mercado de aluguéis.
35
10
As “unidades de desenvolvimento humano” foram delineadas buscando gerar áreas mais
homogêneas, do ponto de vista das condições de desenvolvimento humano, do que as “áreas de
ponderação” utilizadas pelo IBGE (MARQUES, 2013).
11
“Measuring how gentrification affects low-income residents is methodologically challenging and
estimating the scope and scale of displacement and exploring what happens to people who are
displaced have proved somewhat elusive. In short, it is difficult to find people who have been displaced,
particularly if those people are poor. Atkinson (…) likens it to ‘measuring the invisible’. By definition,
36
displaced residents have disappeared from the very places where researchers or census-takers go to
look for them.”
12
Esta mesma dificuldade é verificada nos dados demográficos concernentes à cartografia social. O
conjunto de dados censitários não permite identificar o tempo de residência dos novos moradores na
AEVN e, de igual modo, não indicam o local de destino daqueles que se deslocaram. Em regra, o tempo
de permanência no domicílio está relacionado ao tempo de moradia na circunscrição municipal, no
caso, no Município de Belo Horizonte.
37
13
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 17 jun. 2015.
38
Como acontece com os conceitos, as leis econômicas não são “leis eternas”,
mas “leis históricas; pois se têm o caráter de leis, é sòmente (sic) graças a
um desenvolvimento histórico particular, a um desenvolvimento concreto das
fôrças (sic) produtivas” (FERNANDES, 1973, p. 123).
14
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na cidade de Betim em 01 jul. 2015.
39
Então, como produto da sociedade, o espaço geográfico irá refletir tanto a sua
estrutura como a sua dinâmica. E a sua total compreensão só será possível se estiver
acoplada à compreensão da sociedade, a qual, por não ser imutável, enseja uma
compreensão historicamente determinada do espaço, “sempre relacionada ao grau
de desenvolvimento a que chegaram, nessa sociedade, as forças produtivas, as
relações de produção e a cultura”. Ou seja, a cada momento, estão nele incorporados
“as relações de classe15 então vigentes na sociedade, os conflitos de interesses e de
objetivos daqueles que a constituem, e os diversos valores que estruturam a sua
cultura” (ABREU, 1994, p. 58).
Nessa mesma vertente, Harvey (2011b, p. 201) expõe que “a história da
mudança social é em parte apreendida pela história das concepções de espaço
[ambiente construído] e de tempo, bem como dos usos ideológicos que podem ser
dados a essas concepções.” Não bastasse, segundo ele, “todo processo de
transformação da sociedade deve apreender a complexa estrutura da transformação
das concepções e práticas espaciais e temporais”. Tais práticas são reveladas pela
triplicidade percebido-concebido-vivido de Lefebvre (2006), em que o percebido
corresponde à prática espacial que emana da vida cotidiana, englobando produção e
reprodução social, lugares e conjuntos espaciais próprios a cada formação social.
Como no neocapitalismo, em que a prática espacial associa a realidade cotidiana
(emprego do tempo) e a realidade urbana (percursos que ligam os lugares do trabalho,
do lazer e da vida privada). O concebido consiste nas representações do espaço
produzidas racionalmente por cientistas, tecnocratas, urbanistas, planejadores (como
Haussmann, Lúcio Costa, Aarão Reis e tantos outros), que impõem a concepção do
espaço apropriado às relações de produção dominante. O que, na ordem capitalista,
redundaria numa organização do espaço, hegemonicamente realizada pelo Estado,
para atendimento dos interesses do capital. E, por fim, o vivido que, compreendendo
os espaços de representação, revela o espaço oriundo da apropriação e vivência dos
habitantes (seus usuários), com suas respectivas histórias, lembranças, imagens e
simbolismos. Ou seja, o espaço enquanto resultado das ações humanas, como
15
“As classes se constituem, fundamentalmente, com base nas posições ocupadas por grupos de
homens e mulheres nas relações de produção, ou seja, nas relações de propriedade e não propriedade
dos meios de produção. Isso significa que as relações entre as classes sociais são, simultaneamente,
relações de exploração econômica e opressão política. Portanto, a cada modo de produção,
determinado fundamentalmente pelas relações entre forças produtivas e relações de produção,
corresponde uma classe dominante e exploradora e, em contrapartida, uma classe dominada e
explorada.” (ALMEIDA, 2011, p. 54).
41
16
Para Augé (2005), um “lugar” se define por, pelo menos, três caracteres comuns: identitários,
relacionais e históricos. Em oposição, um espaço que não os possua, definirá um “não-lugar” –
representado pelos espaços públicos de rápida circulação de pessoas e bens, como aeroportos,
estações de metrô, rodovias, grandes centros comerciais, quartos de hotéis, etc..
17
Para a lógica formal a urbanização se configura como um produto da industrialização; embora,
dialeticamente, o fenômeno urbano supere o período industrial, por fomentar transformações
qualitativas na sociedade (ARAÚJO, 2012).
18
Praças das antigas cidades gregas em que se instalavam mercados e feiras livres e que eram,
também, utilizadas para a realização das assembleias dos cidadãos (homens livres), enquanto máxima
expressão da esfera pública e participação da vida política da pólis (LEFEBVRE, 2006; ARENDT,
2010).
42
19
O valor de uso, na concepção de Marx (2013), decorreria da utilidade que uma mercadoria ou um
bem, sob diversos aspectos, possuiria para a satisfação dos diferentes tipos de carências, desejos e
necessidades humanas. A título exemplificativo, os alimentos saciam a fome, a habitação satisfaz a
necessidade de abrigo, as roupas mitigam o frio, etc., num contexto progressivamente ampliado de
consumo, segundo a criação de novos desejos e necessidades. Diferentemente, o valor de troca refere-
se ao tempo de trabalho socialmente necessário para a produção de determinada mercadoria. O valor
de troca reflete as condições sociais e físicas específicas do processo de trabalho sob o qual ela é
produzida, tendo o dinheiro como medida de valor. Pode-se dizer, então, que o valor de uso tem uma
relação qualitativa, enquanto o valor de troca tem relação quantitativa (HARVEY, 2013a, 2013b).
43
Escola de Chicago
Teoria Convencional
(Não Marxistas)
Teorias de
Geografia e
Desenvolvimento
Economia Urbanas
Urbano
Teoria Marxista
opunham ao modelo inicial de Burgess, dada à rigidez irrealista dos limites de zonas,
sua arbitrária homogeneidade e a não correspondência com a realidade das cidades
pré-industriais e modernas (BEAUJEU-GARNIER, 1997).
Embora concordasse com a existência de um distrito central (zona nuclear) nas
cidades, em consonância com o modelo das zonas concêntricas de Burgess, Hoyt
(1939) entendia que a expansão centro-periferia ocorria ao longo de rodovias,
ferrovias e hidrovias, porventura existentes nas cidades. Pelo modelo setorial de
Hoyt20 (Figura 4), toda a dimensão da cidade perfaz um círculo, o qual é integrado por
diferentes setores que emanam da área central para a periferia a partir das principais
rotas de transporte. O autor ressalva, contudo, que as “zonas ou seções são
determinadas pela predominância de um uso, não pela sua presença exclusiva”
(HOYT, 1939, p. 5, tradução nossa)21. Assim, padrões similares de uso da terra –
zonas industriais, residenciais (de classes altas, médias e baixas) –, originam-se das
bordas da zona nucelar (distrito comercial) e se irradiam para as bordas periféricas da
cidade. Nesse contexto, quanto maior era a acessibilidade, maiores eram os valores
dos imóveis, de maneira que as classes altas se auto segregaram em regiões
afastadas da zona central, cujas áreas eram mais aprazíveis, enquanto as classes
mais baixas se aglutinavam nas proximidades das zonas de trabalho, como forma de
reduzirem os custos com o deslocamento. O modelo setorial de Hoyt, embora mais
realista, não abarca toda a complexidade inerente à ocupação territorial das cidades
americanas, sobretudo em relação àquelas que apresentam maior dimensão
(BEAUJEU-GARNIER, 1997).
Não obstante a singularidade das cidades, Harris e Ullman (2005) afirmam que
o padrão de uso da terra, a estrutura e as funções que desempenham, por se
assemelharem, permitem que os resultados de investigações socioespaciais de uma
cidade possam ser generalizados e, por conseguinte, aplicados a localidades
distintas. Para eles, como grande parte das cidades norte-americanas eram
organizadas a partir dos setores de negócios, industriais e residenciais, a estruturação
interna das cidades decorreria da junção entre elementos dos modelos anteriores –
das zonas concêntricas (segundo a teoria de Burgess) e dos setores (conforme a
proposta de Hoyt) – no quadro de um modelo de múltiplos núcleos.
20
O modelo de Hoyt baseou-se num estudo empírico de 64 pequenas e médias cidades americanas,
além das cidades de Chicago, Detroit, Filadélfia, Nova York e Washington.
21
“Zones or sections are determined by the predominance of one use, not by its exclusive presence”.
48
22
Dentre os modelos de estruturação urbana do tratamento convencional da economia e geografia
urbanas, inclui-se a teoria do lugar central formulada por Walter Christaller, em 1933, a partir do estudo
de pequenas cidades do sul da Alemanha. De acordo com esse modelo, a supremacia das cidades é
condicionada pela centralidade que possuem na prestação de serviços e de atendimento das
necessidades do conjunto de uma população. Ou seja, enquanto os modelos teóricos da Escola de
Chicago abordam a estrutura interna das cidades, a teoria de Christaller debruça-se sobre “sistemas
de cidades” (GOTTDIENER, 1997; BEAUJEU-GARNIER, 1997; ULLMAN, 2005).
50
23
Por ora, a gentrificação pode ser entendida como um processo de “aburguesamento” (para evidenciar
a luta de classes) de bairros pobres e da classe trabalhadora, mediante um influxo de capital e de
pessoas de classe média (compradores e inquilinos), promovendo a reestruturação e a recuperação
do estoque imobiliário e, por conseguinte, substituindo os moradores de nível socioeconômico mais
baixo que aí moravam (SMITH, 1988, 1996, 2010a).
52
24
Conforme Lipietz (1988, p. 124), “o espaço é um bem que pode ter um preço: preço do solo, renda
fundiária, em resumo, o que se pode chamar de tributo fundiário – ‘tributo’ para designar o fato de que
este preço tem mais a ver com uma taxa do que com o valor de uma mercadoria.”
53
25
As patentes e os denominados "direitos de propriedade intelectual" configuram exemplos
paradigmáticos dos poderes de monopólio (HARVEY, 2013c). No caso das áreas urbanas, são
exemplos: estabelecimentos comerciais localizados dentro ou nas proximidades de escolas, estádios
de esportes, aeroportos, shopping centers, dispondo da exclusividade da venda de determinadas
mercadorias. O que lhes confere a possibilidade de cobrar preços mais elevados pela venda dos
produtos. No caso das habitações, a renda de monopólio decorreria da localização em áreas mais
aprazíveis e únicas, possibilitando a obtenção de rendas superiores às auferidas por proprietários de
imóveis situados em áreas sem as mesmas características (BÓGUS, 1987).
55
26
Definidas por Lojkine (1997) como a totalidade das estruturas físicas contidas na cidade, como casas,
ruas, fábricas, escritórios, sistema de esgoto, equipamentos culturais e educacionais, que servem à
produção e ao consumo das sociedades capitalistas.
27
Máquinas de crescimento.
56
28
“The urban poor have to solve a complex equation as they try to optimize housing cost, tenure security,
quality of shelter, journey to work, and sometimes, personal safety. For some people, including many
pavement-dwellers, a location near a job — say, in a produce market or train station — is even more
important than a roof. For others, free or nearly free land is worth epic commutes from the edge to the
center. And for everyone the worst situation is a bad, expensive location without municipal services or
security of tenure.”
59
De acordo com Singer (1979), a renda da terra paga por aqueles que utilizam
o espaço urbano para fins de consumo improdutivo tem caráter diferencial diverso da
renda paga pelos que utilizam o espaço objetivando a obtenção de lucro. A renda
paga pelos primeiros, como parte do consumo individual ou familiar, está condicionada
aos rendimentos e às preferências individuais no tocante à localização habitacional,
enquanto os segundos ponderam o lucro adicional proporcionado por determinada
localização.
Para Carlos (2012), a ocupação do espaço citadino ocorre de forma desigual,
cujas diferenças apontam o confronto entre as estratégias que orientam os interesses
privados dos setores econômicos da sociedade (capital industrial, financeiro,
comercial, fundiário, imobiliário) – que veem no espaço-mercadoria a condição de
realização da reprodução econômica –, e aqueles que o consomem de forma
improdutiva (embora imprescindível à reprodução da força de trabalho). Nesse
aspecto, a relação entre renda e preço do metro quadrado do solo urbano denota a
repartição assimétrica da propriedade privada do solo, bem como a inacessibilidade
aos equipamentos públicos, serviços e habitação pelas camadas populacionais
menos abastadas.
Em contrapartida, o espaço se configura como elemento ideológico, político e
econômico, verificando-se a confluência de múltiplos interesses e as ações de
distintos agentes (sociais e econômicos), que se articulam dialeticamente nas
deliberações que envolvem o planejamento e o uso do solo urbano. De maneira que
a questão urbana constitui campo fértil para o embate entre as ações derivadas de
processos dominantes (hegemônicos) associados às lógicas de reprodução do capital
e aquelas advindas de processos de permanência (resistência) de movimentos
sociais, culturais, etc., potencializando as transformações na vida cotidiana das
pessoas e dos lugares. De acordo com Costa,
29
De acordo com Salgueiro (1998, p. 39), a fragmentação espacial identificada na cidade pós-moderna
(pós-industrial) pode ser entendida como “uma organização territorial marcada pela existência de
enclaves territoriais distintos e sem continuidade com a estrutura socioespacial que os cerca”.
63
(antes localizados apenas em bairros nobres), estão espalhados por toda a cidade e
se misturam às áreas de habitação. A distribuição de zonas industriais é orientada
pela disposição das vias interurbanas e pela localização dos aeroportos. Imóveis de
luxo se situam em áreas pobres e, ao mesmo tempo, áreas de favelas estão
localizadas em bairros de estratos superiores, as quais, apesar de articuladas, se
separam por muros e cercas, a fim de garantir a segurança das ilhas de riqueza frente
à massiva pobreza (BÄR; BORSDORF; JANOSCHKA apud BORSDORF, 2003).
A esse respeito, há a intensificação da instalação de condomínios residenciais
e comerciais fechados no perímetro urbano (urban gated communities), bem como
nas áreas periféricas da cidade (suburban gated communities). Tais empreendimentos
imobiliários são, em regra, mas não exclusivamente, ocupados pelas classes mais
abastadas e se diferenciam segundo a tipologia dos imóveis (apartamentos, casas), o
padrão construtivo (baixo, médio, luxo) e a infraestrutura disponibilizada aos
moradores (equipamentos de lazer, instalações desportivas, áreas verdes, etc.) (BÄR;
BORSDORF; JANOSCHKA apud BORSDORF, 2003; JANOSCHKA; GLASZE, 2003;
BORSDORF; HIDALGO, 2010).
Nesse sentido, entre os megaprojetos de habitação que veem sendo
disseminados nas cidades latino-americanas, Borsdorf (2003), Janoschka e Glasze
(2003), Borsdorf e Hidalgo (2010) citam os grandes condomínios fechados Alphaville,
nas imediações da cidade de São Paulo, cujas sofisticadas áreas residenciais
possuem forte aparato de segurança e oferecem aos seus habitantes centros
comerciais, de emprego, de lazer e de entretenimento, entre outras comodidades30.
Por outro lado, há um processo de consolidação de antigas áreas de vilas e favelas,
cujas intervenções englobam a construção de unidades habitacionais, a instalação de
infraestrutura urbana (saneamento básico, eletricidade, reestruturação do sistema
viário, etc.), a implantação de escolas, comércio, equipamentos destinados ao lazer,
parques e áreas verdes. E, finalmente, verificam-se políticas públicas orientadas à
renovação/requalificação de áreas degradadas (bairros, favelas, cortiços), localizadas
normalmente nas regiões centrais da cidade, para atendimento dos interesses do
mercado imobiliário31. Borsdorf (2003) ressalva que este modelo de estruturação
30
Convém ressaltar que os “condomínios horizontais” ou “loteamentos fechados” que se multiplicam
nos arredores das cidades brasileiras são ilegais, porquanto o parcelamento do solo urbano é regido
pelo disposto na Lei Federal nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979, e não pela Lei Federal que rege os
condomínios edilícios – Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964. Ou seja, não há previsão normativa,
em Lei Federal, para os denominados “condomínio horizontal” ou “condomínio de lotes”.
31
No Brasil, como convém a uma sociedade patrimonialista, dispensa-se mais cuidados ao patrimônio
privado que ao patrimônio público. Ocupações ilegais, como as favelas, são largamente toleradas
64
urbana está em consonância com o atual crescimento do espaço urbano, o qual não
mais está associado às pressões migratórias de outrora. De maneira que a demanda
e o consumo do espaço constituem mais uma característica do desenvolvimento pós-
moderno das cidades latino-americanas, influindo determinantemente na ocorrência
de processos gentrificativos, ou seja, elitizantes, na região (FORD, 1996).
quando não interferem nos circuitos centrais da realização do lucro imobiliário privado. Assim, “quando
a localização de uma terra ocupada por favelas é valorizada pelo mercado imobiliário, a lei se impõe.
Lei de mercado, e não norma jurídica, determina o cumprimento da lei” (MARICATO, 2003, p. 159). Em
síntese, a noção de patrimonialismo remonta à teoria weberiana concernente a uma das três formas,
ou “tipos ideais”, de exercício legítimo do poder político: dominação tradicional; dominação carismática
e dominação legal (BENDIX, 1986; WEBER, 2003). E, afeta à dominação tradicional-patrimonial, se
configura no trato da res publica, pela autoridade, como se privada fosse. Ou seja, o Estado age visando
os interesses particulares do grupo que o controla (CAMPANTE, 2003).
65
32
“We live in ‘fortress cities’ brutally divided between ‘fortified cells’ of affluent society and ‘places of
terror’ where the police battle the criminalized poor.”
33
Embora a obra de Elias e Scotson (2000) retrate questão distinta da ora discutida, o ensaio teórico
sobre as relações entre estabelecidos (insiders) e outsiders permite uma aplicação extensiva a
quaisquer tipos de relação de exclusão, de hierarquia de poder e desigualdade.
66
34
“Dentre os quais a natureza das funções, a concentração de recursos sem proporção com o seu
papel produtivo, o tipo de relações que mantêm com a sua região, a desproporção entre a população
total e a população ativa, o desequilíbrio social dos níveis de vida e as formas gerais de organização
do espaço interno.” (SANTOS, 1965, p. 3).
35
“Entre esses fatôres (sic), alinhamos o tipo de colonização que deu origem à cidade, a sua função
inicial, a atividade atual a que a cidade presidente e o grau, maior ou menor, de consciência dos seus
problemas, em que encontra o país.” (SANTOS, 1965, p. 15).
68
36
Ao passo que, em 2010, a população total brasileira era de 190.755,799 e a taxa de urbanização de
84,36% (IBGE, 2014).
70
37
A Lei Complementar nº 14/1973 instituiu oito Regiões Metropolitanas, a saber: São Paulo, Salvador,
Curitiba, Porto Alegre, Recife, Fortaleza, Belém e Belo Horizonte, e seus sistemas de gestão,
constituídos pelos Conselhos Consultivo e Deliberativo. Ressalta-se que a instituição da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro, pela Lei Complementar nº 20/1974, ocorreu após a fusão dos antigos
Estados do Rio de Janeiro e da Guanabara e da transformação deste em Município daquele. As
Regiões Metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais constituem, desde a sua criação,
as três principais regiões metropolitanas brasileiras, seja pela concentração da capacidade produtiva
em relação ao resto do país, seja pelo contingente populacional residente nas mesmas.
71
38
Institui a correção monetária nos contratos imobiliários de interesse social, o sistema financeiro para
aquisição da casa própria, cria o Banco Nacional da Habitação (BNH), e Sociedades de Crédito
Imobiliário, as Letras Imobiliárias, o Serviço Federal de Habitação e Urbanismo e dá outras
providências.
39
A criação do BNH ocorreu cinco meses após o golpe de 1964, constituindo-se como um típico produto
da ditadura, face às características econômicas, políticas e ideológicas de sua atuação (VILLAÇA,
1986).
73
40
“Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme
diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais
da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.
§1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil
habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.
§2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de
ordenação da cidade expressas no plano diretor.
§3º - As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro.
§4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor,
exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não
utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente
aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e
sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais” (BRASIL, 1988).
41
“Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinqüenta (sic) metros
quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua
família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
§1º - O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos,
independentemente do estado civil.
§2º - Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.
§3º - Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.” (BRASIL, 1988).
42
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade” (BRASIL, 1988).
74
gestão urbana43. O disposto nos artigos 182 e 183 da CR/88 fundamenta a doutrina
segundo a qual a propriedade urbana é condicionada pelo "direito urbanístico" (art.
24, inciso I44) com o fito de realizar as chamadas funções urbanísticas, propiciando
moradia, condições adequadas de trabalho, recreação e de circulação humana
(SILVA, 1999).
Nesse sentido, o art. 182 da CR/88 atribui ao Município, como o ente federativo
responsável pela promoção da política urbana, o encargo de "ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade, e garantir bem-estar de seus
habitantes". Estabelece, ainda, que o Plano Diretor "é o instrumento básico da política
de desenvolvimento urbano e de expansão urbana" (§1º) e que a propriedade urbana
deve cumprir sua função social, em consonância com as exigências fundamentais de
ordenação expressa no Plano Diretor (§2º).
Assim, ao instituir seu planejamento estratégico, o Município não pode ignorar
as diretrizes gerais traçadas no art. 21, inciso XX45, da CR/88, para o desenvolvimento
urbano nas áreas de habitação, saneamento básico e transportes urbanos. O Plano
Diretor irá, portanto, definir a melhor função social de cada espaço da cidade,
considerando as necessidades e especificidades econômicas, culturais, ambientais e
sociais (BRASIL, 2005).
Na mesma vertente, o Estatuto da Cidade – Lei Federal nº 10.257, de 10 de
julho de 200146 -, que regulamenta os artigos 182 e 183 da CR/88 –, estabelece como
diretriz geral a ser seguida pelo Poder Público a garantia do direito a cidades
sustentáveis, “entendido como o direito à terra urbana, à infra-estrutura (sic) urbana,
ao transporte e aos serviços públicos, dentre outros, para as presentes e futuras
gerações” (art. 2º, inciso I). De igual forma, prevê a gestão democrática das cidades,
facultando à participação da população e de associações representativas dos vários
43
Segundo Fernandes (2010), no decorrer do processo de urbanização do Brasil diversas Constituições
foram promulgadas e/ou outorgadas (1934, 1937, 1946, 1967 e a Emenda nº 1 de 1969); contudo, até
a CR/88, não havia dispositivos constitucionais específicos para regular a gestão urbana.
44
“Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico”. (BRASIL, 1988).
45
“Art. 21. Compete à União:
(...)
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e
transportes urbanos” (BRASIL, 1988).
46
Após a elaboração do Estatuto da Cidade, o Brasil foi inscrito no “Rol de Honra” da UN-HABITAT,
em 2006, em parte por ter aprovado essa lei-marco, que consolidou uma ampla proposta de reforma
jurídica formulada e defendida, ao longo de décadas, em um processo histórico de disputas sociais,
políticas e jurídicas. E, por outro lado, por ter encampado, de maneira exemplar, a proposta de
integração entre o Direito Urbanístico e o Direito Ambiental no contexto da ação municipal,
compatibilizando as denominadas agendas “verde” e “marrom” das cidades (FERNANDES, 2010).
75
47
Constituem exemplos de equipamentos urbanos, entre outros: as redes elétricas; as instalações de
água, esgotamento sanitário e gás canalizado; as placas de sinalização; o sistema viário; os
logradouros públicos; os prédios públicos; as caixas de coleta de lixo; as Universidade; os centros de
pesquisa; os centros de lazer. Tais bens aparelham a cidade com o fim de oferecer aos moradores e
usuários maior comodidade no dia-a-dia (CARVALHO FILHO, 2005).
48
Ressalta-se que os dados gerados a partir da pesquisa são todos autodeclarados pelos entrevistados
nos Municípios, de modo que os resultados não podem ser considerados absolutos nem conclusivos,
76
uma vez que são um retrato conjuntural do processo de elaboração dos Planos Diretores Participativos.
(BRASIL, 2005). Decorre daqui, ainda, que não se pode precisar a qualidade política e técnica desses
planos municipais.
49
O Estatuto da Cidade, em seu art. 41, prevê a obrigatoriedade de instituição do Plano Diretor para
os seguintes Municípios: (i) com mais de vinte mil habitantes; (ii) integrantes de regiões metropolitanas
e aglomerações urbanas; (iii) onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os instrumentos
previstos no §4º do art. 182 da CR/88; (iv) integrantes de áreas de especial interesse turístico; (v)
inseridas na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental
de âmbito regional ou nacional; (vi) incluídas no cadastro nacional de Municípios com áreas suscetíveis
à ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou
hidrológicos correlatos.” (BRASIL, 2001).
50
Ao atender as demandas dos empresários do setor, incluindo população com faixas de renda
superiores (entre 7 e 10 salários mínimos), e excluindo a população com renda entre 0 e 3 salários
mínimos, “o PMCMV pode repetir aspectos negativos do BNH, que privilegiou a classe média em
detrimento das rendas mais baixas. Antes excluída do mercado, a classe média foi incluída no pacote
graças aos juros subsidiados do seguro e à disponibilidade de recursos para financiamento.”
(MARICATO, 2011, p. 72).
77
51
“ - la transformation des territoires nationaux en espaces nationaux de l'économie internationale,
- l'exacerbation des spécialisations productives au niveau de l'espace,
- la concentration de la production dans des unités plus petites avec l'augmentation du rapport entre
produit et superficie, par exemple, dans l'agriculture,
- l'accélération de toutes les formes de circulation et son rôle croissant dans la régulation des activités
localisées avec le renforcement de la division territoriale et de la division sociale du travail, et la
dépendance de celui-ci vis-à-vis des formes spatiales et des normes sociales (juridiques et autres) à
tous les échelons,
- la productivité spatiale comme donnée dans le choix des localisations,
- le découpage horizontal et vertical des territoires,
- le rôle de l'organisation dans la constitution des régions et celui des processus de régulation,
- la tension grandissante entre localité et globalité au fur et à mesure qu'avance le processus de
globalisation.”
80
hidroviárias, seja por cabos de fibra ótica ou satélites (CARLOS, 1996). Assim, nesse
fluxo contínuo de bens materiais e imateriais, o desenvolvimento científico-tecnológico
amplia o espaço e, simultaneamente, encurta o tempo para atingi-lo.
Segundo Harvey (2011b, p. 77), o progresso implica a conquista do espaço, a
derrubada de todas as “fronteiras usuais do espaço e do tempo, produzindo tanto um
novo internacionalismo como fortes diferenciações internas em cidades e sociedades
baseadas no lugar, na função e no interesse social”. O processo de globalização tende
a desterritorializar pessoas, capital, bens e serviços (IANNI, 1999), promovendo, na
mesma medida, a unificação do espaço mundial, cuja organização decorre de uma
hierarquização dos Estados (que vão do centro à periferia), a partir das relações de
dominação-subordinação que se fundamentam no mercado mundial (CARLOS, 1996;
SASSEN, 1998).
Sassen (1998) expõe que, ao lado da dispersão das atividades econômicas,
surgiram novas formas de centralização espacial, concernentes à gestão no nível dos
altos escalões e ao controle das operações. Os mercados nacionais/globais e as
operações globalmente integradas demandam lugares centrais, com infraestrutura
física, mão de obra qualificada, serviços especializados52, telecomunicações, etc.,
requisitos fundamentais à realização dos novos processos produtivos e ao
gerenciamento de uma rede global de fábricas, escritórios e mercados financeiros.
52
Prestação de serviços esta que engloba, segundo Sassen (1998, p. 78), “questões financeiras, legais
e de gerenciamento geral; inovação; desenvolvimento; projetos arquitetônicos; administração; pessoal;
tecnologia da produção; manutenção; transporte; comunicações; distribuições das vendas por atacado;
publicidade; serviços de limpeza para as empresas; segurança; armazenamento.”
81
53
Belo Horizonte, inicialmente inserida na categoria das cidades com “suficiência de serviços” nos
estudos de 2000 e 2004, passou à condição de cidade com “alta suficiência de serviços”, nos rankings
de 2010 e 2012 (GaWC, 2012).
82
No dizer de Carlos (1996, p. 15), “o mundial que existe no local, redefine seu
conteúdo, sem todavia anularem-se as particularidades”. O mundo se torna fluido e,
graças às técnicas de informação e ao dinheiro, controlado pelo mercado.
Por outro lado, nessa nova geografia das transações internacionais, inúmeras
cidades outrora importantes perderam funções e poder econômico, devido a sua
tecnologia manufatureira atrasada, tornando-se cada vez mais periféricas e excluídas
dos processos econômicos que alimentam a nova economia mundial. Se antes da
década de 1980, a geografia das transações era determinada, em parte, pela
localização dos recursos naturais (matérias-primas, produtos agrícolas ou minérios),
do início de 1980 em diante, as finanças e os serviços especializados (jurídicos,
contábeis, administrativos, publicitários, etc.) passam a ter papel dominante na
economia global (GOTTDIENER; FEAGIN, 1989; BORJA; CASTELLS, 1997;
SASSEN, 1998). Fato corroborado por Harvey ao ressaltar que
54
Centros planejados para a promoção da indústria de alta tecnologia, resultantes de diferentes tipos
de cooperação ou associação entre os setores público e privado, que são promovidos pelo governo
(nacional, regional ou local), frequentemente em associação com universidades, entes privados,
instituições sem fins lucrativos, etc., com o fim de gerar novas tecnologias e fomentar a economia da
informação (hardware, software, engenharia genética, energia renovável, produtos químicos,
biotecnologia, etc.), dentro de um espaço urbano de alta qualidade (CASTELLS; HALL, 1994).
84
55
“en una economía mundial cuya infraestructura productiva está compuesta de flujos de información,
las ciudades y las regiones se están convirtiendo de forma creciente en agentes decisivos del desarrollo
económico”.
56
O processo de esvaziamento das zonas industriais se acentuou no Hemisfério Norte a partir dos anos
1970, tendo cidades industriais como Detroit, Lille, Bilbao, Pittsburgh, o vale do Reno, as Midlands
inglesas, etc., como os casos mais emblemáticos (SOMEKH; CAMPOS NETO, 2005).
57
Nesse aspecto, Borin (2004, p. 52), salienta que, ao contrário das corporações multinacionais (típicas
dos anos 1960 e 1970), “que tendiam a reproduzir as relações de trabalho observadas em suas
matrizes, as transnacionais, além de fabricarem diferentes partes do produto em diferentes países,
fazem-no sob contratos variados de trabalho.”
85
CASTELLS, 1997; IANNI, 1999). Conforme Simmel (1987, p.13), no complexo espaço
da vida moderna, “a economia do mercado e o domínio do intelecto estão
intrinsicamente vinculados. Eles partilham uma atitude que vê como prosaico o lidar
com homens e coisas”, da qual deriva uma justiça formal frequentemente combinada
à dureza desprovida de consideração.
Tudo isso tem impacto sobre a sociedade civil urbana, que se baseia em um
compromisso fundado na mútua dissociação. Ou seja, um acordo que visa a
não se ocupar de assuntos de terceiros, a paz da indiferença mútua. Essa é
a razão pela qual, do ponto de vista positivo, a cidade moderna é como um
acordeão capaz de se abrir facilmente para acomodar novas ondas de
migrantes; os espaços de diferenciação são cerrados. Do ponto de vista
negativo, o compromisso mútuo de separação significa o fim das práticas de
cidadania – que exigem a consideração de interesses divergentes –, assim
como a perda da simples curiosidade humana em relação ao outro.
(SENNET, 2001, tradução nossa)58.
58
“All this has an impact on urban civil society which rests on a compromise based on mutual
dissociation. That means the truce of leaving one another alone, the peace of mutual indifference. This
is one reason why, on the positive side, the modern city is like an accordion easily able to expand to
87
accommodate new waves of migrants - the pockets of difference are sealed. On the negative side,
mutual accommodation through dissociation spells the end of citizenship practices - which mean
understanding divergent interests - as well as a loss of simple human curiosity about other people.”
59
“Conforme lembra Weber, o tipo ideal é uma construção lógica que nasce de uma determinada
realidade histórica, mas que com ela não se confunde. É um meio auxiliar, um instrumento de
investigação, sem o qual seria impossível apreender os múltiplos sentidos da realidade. Uma vez
construído, o tipo ideal pode servir de meio em relação ao qual outras realidades, em que não se
originaram, podem ser comparadas, não com o objetivo da adequação mas, exatamente ao contrário,
para apontar as suas especificidades.” (CARVALHO, 2000, p. 72).
60
No Brasil, o processo de modernização caracterizou-se pela segmentação, dada à coexistência de
setores industriais modernos, setores tradicionais e a economia agrário-exportadora (MEDEIROS,
2001).
88
61
A tríade de fluxos de capital é complementada pelo circuito terciário, em que o capital é investido nos
custos sociais das forças produtivas – desenvolvimento científico e tecnológico –, e na reprodução da
força de trabalho – melhora qualitativa da mão de obra do trabalhador, mediante formação técnica e
educacional –, com o fim de potencializar o sistema de produção e a obtenção de lucros (HARVEY,
1978).
62
Como exemplo, veja-se os megaprojetos de urbanização instalados em cidades como Dubai e Abu
Dhabi, no Oriente Médio, a fim de resolver a superacumulação proveniente da produção do petróleo
(HARVEY, 2012).
63
“The production of the physical and social landscape of capitalism we thereafter increasingly caught
up in the search for solutions to the over accumulation problem through the absorption of capital and
labor surplus by some mix of temporal and geographical displacement of surplus capital into the
production of physical and social infrastructures.”
89
64
A hegemonia aqui, diferentemente do conceito originário de Gramsci para prever a atuação da classe
operária na construção de uma outra sociedade, permite analisar o papel da burguesia na estruturação
do espaço, designando a influência que esta exerce sobre a sociedade, práticas, costume, moral,
cultura e saber incluídos, desde a sexualidade até os modos de trabalho, por intermédio de pessoas
(políticos, personalidades, intelectuais, cientistas), instituições e representações (partidos, associações
de classe) (HARVEY, 2011b; LOJKINE, 1997; LEFEBVRE, 2006).
90
65
Nessa vertente, as relações sociais de valor de troca, imanentes ao modo capitalista de produção,
pressupõem: (i) o conceito de “pessoa jurídica” e “pessoa física”, ambas “pessoas” despidas de
qualquer laço de dependência e suscetíveis a envolverem-se em relações de troca ou conflito dentro
dessa liberdade; (ii) um sistema de direito de propriedade, que assegura aos indivíduos o domínio
sobre os valores de uso mediante a propriedade e a troca; (iii) um padrão comum do valor em troca (o
dinheiro); (iv) a liberdade e igualdade na condição de troca, segundo as condições socialmente aceitas
(HARVEY, 2005a).
91
66
De acordo com o art. 29 da Lei nº 4.591/1964, “considera-se incorporador a pessoa física ou jurídica,
comerciante ou não, que embora não efetuando a construção, compromisse ou efetive a venda de
frações ideais de terreno objetivando a vinculação de tais frações a unidades autônomas, em
edificações a serem construídas ou em construção sob regime condominial, ou que meramente aceite
propostas para efetivação de tais transações, coordenando e levando a termo a incorporação e
responsabilizando-se, conforme o caso, pela entrega, a certo prazo, preço e determinadas condições,
das obras concluídas.” (BRASIL, 1964).
67
Ou seja, “agentes econômicos que se dedicam a uma ou a várias funções: incorporação,
desenvolvimento imobiliário, financiamento, gestão da obra, construção, consultoria, arquitetura,
comercialização, marketing imobiliário e administração predial, entre outras.” (FIX, 2009, p. 56).
92
objetivo de extrair renda de áreas que se tornarão mais lucrativas com o passar do
tempo” (LOGAN; MOLOTCH, 1987, p. 30, tradução nossa)68; e, finalmente, (iii) o
estrutural, que se difere do segundo por não depender exclusivamente de sua
capacidade de estimar as tendências de valorização da terra, agindo diretamente nas
condições futuras do mercado. “Sua estratégia é criar rendas diferenciais,
influenciando a tomada de decisões daqueles que têm como prerrogativa determinar
a implantação de vantagens localizacionais em uma região em detrimento de outra”
(LOGAN; MOLOTCH, 1987, p. 30, tradução nossa)69. Para tanto, age a favor (ou
contra) políticas de zoneamento da cidade, realização de obras públicas, etc., visando
apropriar-se não só da renda diferencial, mas também da monopolista.
Os agentes econômicos, em concorrência e em conflito entre si70, atuam na
produção de empreendimentos imobiliários que, pelo valor de uso que possuem para
terceiros (consumidores), proporcionam-lhes a obtenção de lucros (valor de troca).
Caracteristicamente, para a realização de tais empreendimentos, envolve-se desde a
aquisição de terrenos até a contratação de consultores, planejadores, edificadores,
agentes financeiros, etc., para a execução das diversas fases do projeto, culminando
na comercialização final dos imóveis edificados pelos agentes intermediários
(corretores imobiliários). Embora, na prática, muitas dessas atividades possam ser
fundidas numa mesma unidade de capital, que as articula para criar e capturar rendas
fundiárias (SMOLKA, 1979).
Daí que, a construção de imóveis (em especial os habitacionais) em regiões
periféricas das cidades, onde normalmente os preços dos terrenos são menores,
permite maior obtenção de lucros. Não bastasse, faculta a especulação em torno dos
terrenos localizados entre as áreas centrais e externas da cidade, favorecendo, ainda,
a agregação de valor aos terrenos particulares, em razão das melhorias de
infraestrutura e serviços proporcionados pela Administração Pública, num cenário de
privatização dos lucros e socialização dos custos da urbanização (VÉRAS, 2003a).
68
“Some individuals seek out right place to be in the future. These entrepreneurs, who anticipate
changing use values from place, speculate on the future of particular spots. Such active entrepreneurs
seek rent by gaining control over locations likely to become more strategic over time.”
69
“Their strategy is to create differential rents by influencing the larger arena of decision making that will
determine locational advantages.”
70
Harvey (1978, p. 6, tradução nossa) ressalta a contradição existente na própria classe capitalista, na
medida em que todo capitalista age, espontânea e criativamente, num mundo de individualismo,
liberdade e igualdade. Enquanto na competição pela obtenção de lucros, as leis inerentes ao processo
de produção capitalista agem diretamente sobre todo indivíduo capitalista. Segundo o autor, “um mundo
de individualidade e liberdade na superfície esconde um mundo de conformidade e coerção por baixo”
(“a world of individuality and freedom on the surface conceals a world of conformity and coercion
underneath”).
93
71
Isto é, uma área central e uma periferia de forma tentacular em contínua expansão, cujos tentáculos,
em geral, se estendiam ao longo dos eixos viários, onde existia a oferta de infraestruturas básicas e
serviços urbanos (LACERDA; ZANCHETI; DINIZ, 2000).
72
Para Lipietz (1988, p. 127-128), o Estado exerce um duplo papel na estruturação do espaço: (i) “ele
tem que atenuar as insuficiências da lei do valor na alocação do espaço entre agentes privados da
reprodução social capitalista: planificação, acordo, produção dos equipamentos coletivos”; (ii) “ele
intervém na jurisdição fundiária para afastar, em favor do desenvolvimento capitalista, o ‘poder sobre o
espaço’ que a história legou aos ‘herdeiros’ de uma idade pré ou paleocapitalista.”
73
De acordo com o art. 32, §1º, da Lei Federal nº 10.257/2001, “considera-se operação urbana
consorciada o conjunto de intervenções e medidas coordenadas pelo Poder Público municipal, com a
participação dos proprietários, moradores, usuários permanentes e investidores privados, com o
objetivo de alcançar em uma área transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais e a
valorização ambiental.” Por sua vez, o §2º prevê que, para a realização da operação urbana
consorciada poderá haver, entre outras medidas, “I – a modificação de índices e características de
parcelamento, uso e ocupação do solo e subsolo, bem como alterações das normas edilícias,
considerado o impacto ambiental delas decorrente; II – a regularização de construções, reformas ou
ampliações executadas em desacordo com a legislação vigente; III - a concessão de incentivos a
operações urbanas que utilizam tecnologias visando a redução de impactos ambientais, e que
comprovem a utilização, nas construções e uso de edificações urbanas, de tecnologias que reduzam
os impactos ambientais e economizem recursos naturais, especificadas as modalidades de design e
de obras a serem contempladas.”
94
possam lhes resultar em perdas (HARVEY, 1982; ABREU, 1994). Isto não quer dizer,
todavia, que o Estado seja injusto na aplicação dos recursos públicos, “mas que ao
aplicar ele confirma a lógica da acumulação” (MARICATO, 1979b, p. 79).
É importante chamar a atenção para o fato de que o mecanismo especulativo
surge e se desenvolve pela ineficiente atuação do Poder Público, quando deixa de
cobrar, por meio dos tributos adequados: (i) os investimentos que realiza no espaço
citadino, responsáveis pela valorização imobiliária dos bens particulares (contribuição
de melhoria74); (ii) o valor de mercado dos bens imóveis (imposto sobre a propriedade
predial e territorial urbana – IPTU75) e de sua respectiva transmissão (imposto sobre
a transmissão de bens imóveis - ITBI76); (iii) a não utilização, subutilização ou não
edificação dos bens imóveis77, pela eventual retenção especulativa do proprietário
74
“Art. 81. A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos
Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída para fazer face ao custo de obras
públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada e como
limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado.” (BRASIL,
1966).
75
“Art. 32. O imposto, de competência dos Municípios, sobre a propriedade predial e territorial urbana
tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel por natureza ou por
acessão física, como definido na lei civil, localizado na zona urbana do Município.
§1º Para os efeitos deste imposto, entende-se como zona urbana a definida em lei municipal; observado
o requisito mínimo da existência de melhoramentos indicados em pelo menos 2 (dois) dos incisos
seguintes, construídos ou mantidos pelo Poder Público:
I - meio-fio ou calçamento, com canalização de águas pluviais;
II - abastecimento de água;
III - sistema de esgotos sanitários;
IV - rede de iluminação pública, com ou sem posteamento para distribuição domiciliar;
V - escola primária ou posto de saúde a uma distância máxima de 3 (três) quilômetros do imóvel
considerado.
§2º A lei municipal pode considerar urbanas as áreas urbanizáveis, ou de expansão urbana, constantes
de loteamentos aprovados pelos órgãos competentes, destinados à habitação, à indústria ou ao
comércio, mesmo que localizados fora das zonas definidas nos termos do parágrafo anterior.
Art. 33. A base do cálculo do imposto é o valor venal do imóvel.
Parágrafo único. Na determinação da base de cálculo, não se considera o valor dos bens móveis
mantidos, em caráter permanente ou temporário, no imóvel, para efeito de sua utilização, exploração,
aformoseamento ou comodidade.
Art. 34. Contribuinte do imposto é o proprietário do imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu
possuidor a qualquer título.” (BRASIL, 1966).
76
“Art. 35. O imposto, de competência dos Estados, sobre a transmissão de bens imóveis e de direitos
a eles relativos tem como fato gerador:
I - a transmissão, a qualquer título, da propriedade ou do domínio útil de bens imóveis por natureza ou
por acessão física, como definidos na lei civil;
II - a transmissão, a qualquer título, de direitos reais sobre imóveis, exceto os direitos reais de garantia;
III - a cessão de direitos relativos às transmissões referidas nos incisos I e II.
Parágrafo único. Nas transmissões causa mortis, ocorrem tantos fatos geradores distintos quantos
sejam os herdeiros ou legatários.” (BRASIL, 1966).
77
“Art. 5º Lei municipal específica para área incluída no plano diretor poderá determinar o parcelamento,
a edificação ou a utilização compulsórios do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado,
devendo fixar as condições e os prazos para implementação da referida obrigação.
§1º Considera-se subutilizado o imóvel:
I – cujo aproveitamento seja inferior ao mínimo definido no plano diretor ou em legislação dele
decorrente” (BRASIL, 2001).
96
78
“Art. 7º Em caso de descumprimento das condições e dos prazos previstos na forma do caput do art.
5º desta Lei, ou não sendo cumpridas as etapas previstas no §5º do art. 5º desta Lei, o Município
procederá à aplicação do imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana (IPTU) progressivo
no tempo, mediante a majoração da alíquota pelo prazo de cinco anos consecutivos.” (BRASIL, 2001).
79
O Estatuto da Cidade, seguindo o disposto no art. 182 da CR/88, prevê, em seu artigo 8º, caput, que
“decorridos cinco anos de cobrança do IPTU progressivo sem que o proprietário tenha cumprido a
obrigação de parcelamento, edificação ou utilização, o Município poderá proceder à desapropriação do
imóvel, com pagamento em títulos da dívida pública.”
80
O universo de pesquisa corresponde a 1.343 municípios, porquanto o questionário aplicado nos
Municípios de São Paulo não continha esta questão. A avaliação de previsão normativa dos
instrumentos de política urbana compreendeu os Planos Diretores e as leis municipais específicas
pertinentes à matéria (BRASIL, 2008).
97
(RMBH), foram avaliados 33 (dos 34) Municípios que a compõem, cujos percentuais
foram de: (i) 81,8% (27 Municípios) para o parcelamento, a edificação ou a utilização
compulsórios; os mesmos (ii) 81,8% (27 Municípios) em relação à aplicação do IPTU
progressivo no tempo; e, em similaridade com o índice nacional, tão somente (iii)
57,6% (19 Municípios) estabelecem a contribuição de melhoria (BRASIL, 2008). Vale
dizer que a previsão normativa dos instrumentos urbanísticos não implica
necessariamente na sua aplicabilidade, eis que a regular execução de tais
instrumentos está condicionada à delimitação da forma e das áreas de aplicação,
quiçá da elaboração/revisão da norma legal específica.
No caso de Belo Horizonte, embora os instrumentos urbanísticos mencionados
acima estejam inseridos no Plano Diretor (Lei nº 7.165, de 27 de agosto de 1996), e
na Lei de parcelamento, ocupação e uso do solo (Lei n° 7.166, de 27 de agosto de
1996), ambas alteradas segundo as diretrizes do Estatuto da Cidade pela Lei nº
9.959/201081 e atualmente em vigor no Município82, não há a plena aplicação dos
mesmos no território municipal. Salienta-se, inclusive, que após a realização da 4ª
Conferência Municipal de Política Urbana, entre os meses de fevereiro e agosto de
2014, reunindo mais de oito mil pessoas para pensar o futuro da cidade, a proposta
de regulamentação da contribuição de melhoria e do IPTU progressivo no tempo no
âmbito municipal obteve parecer favorável, sendo incluída no Projeto de Lei (PL) que
propõe alterações no Plano Diretor e na Lei de parcelamento, ocupação e uso do solo
(BELO HORIZONTE, 2014).
Ocorre, porém, que, além da aplicabilidade dos instrumentos estar
condicionada à aprovação do PL pelo Poder Legislativo municipal, sua
operacionalização está atrelada à estruturação do Poder Executivo para sua
aplicação, não sendo possível vincular um prazo específico para tanto (BELO
HORIZONTE, 2014). Ainda, em relação à cobrança de IPTU e ITBI, verifica-se que a
“Planta de Valores Genéricos”83 atualmente utilizada como base para a tributação dos
81
No Plano Diretor, o art. 46 estabelece que a contribuição de melhoria, o IPTU e o ITBI devem ser
utilizados como instrumentos complementares do desenvolvimento urbano e do ordenamento territorial
(BELO HORIZONTE, 1996a). Por sua vez, os artigos 74-B a 74-F do Plano Diretor preveem a aplicação
do parcelamento, da edificação e da utilização compulsórios, do IPTU progressivo no tempo e da
desapropriação com pagamento em títulos da dívida pública, os quais também estão elencados nos
artigos 14-C e 14-D da Lei de parcelamento, ocupação e uso do solo (BELO HORIZONTE, 1996b).
82
Ressalta-se que a primeira revisão do Plano Diretor de Belo Horizonte ocorreu em 2000, por
intermédio da Lei Municipal nº 8.137, de 27 de dezembro de 2000.
83
Nela estão presentes os dados genéricos necessários ao estabelecimento do valor de base de
cálculo dos impostos imobiliários, tais como: valor do metro quadrado do terreno em uma determinada
região; valor do metro quadrado de construção associado a um dado tipo construtivo; condições de
aplicação dos fatores de correção, etc. (ALMEIDA, 2009).
98
84
Produzido pelo IBGE, desde 1991, o IPCA-E realiza um balanço trimestral da inflação e é
correntemente utilizado como índice de reajuste do IPTU (IBGE, 2014).
85
Forçoso mencionar que, especificamente em relação à cobrança do ITBI, o Órgão arrecadador
municipal adota o maior valor venal do bem para servir como base de cálculo do imposto. Ou seja, caso
o valor previsto na “Planta de Valores Genéricos” seja inferior àquele autodeclarado quando da
transferência – transmissão ou cessão – da propriedade do bem imóvel, aplica-se o valor declarado na
transação e promove-se a atualização da “Planta de Valores Genéricos”. Entretanto, via de regra, as
informações autodeclaradas quanto ao valor do imóvel são subestimadas, prática que se manifesta
sobretudo quando o imóvel não é novo ou financiado (AGUIAR; SIMÕES, 2012).
99
86
“Na década de 1960, a região da Avenida Paulista – antiga sede dos casarões da elite cafeeira –
começa a ser apresentada como ‘novo centro’ de São Paulo, ao mesmo tempo em que o centro da
cidade propriamente dito passa a ser considerado ‘decadente’ pelas elites, na medida em que crescem
o comércio e os serviços orientados para as camadas populares. (...). No final da década de 1970, o
capital imobiliário avança no sentido sudoeste, na direção da Avenida Faria Lima e, posteriormente,
das avenidas Luis Carlos Berrini e da marginal Pinheiros. (...). Em pouco tempo, com apenas parte do
projeto executado, a Faria Lima passou a ser considerada uma espécie de sucessora da Avenida
Paulista, até então identificada como endereço de maior prestígio na metrópole” (FIX, 2009, p. 46-47).
87
A implantação dos condomínios fechados Alphaville na periferia de São Paulo iniciou-se na década
de 1970 e, atualmente, conta com vários residenciais fechados e fortemente vigiados, além de um
diversificado e dinâmico centro comercial e de serviços (incluindo escolas, shopping centers,
supermercados, edifícios comerciais, etc.) que garantem a conveniência dos moradores. Esse modelo
de empreendimento residencial horizontal, que emergiu em 1973, em Barueri (SP), rompeu o espaço
territorial paulistano em 1997 e, atualmente, se faz presente em 21 estados brasileiros. Em Minas
Gerais, faz-se especial menção ao empreendimento denominado “Alphaville Minas Gerais”, ocupando
uma área equivalente a 873.283 m², localizada no Vetor Norte da RMBH, mais precisamente no
município de Vespasiano, próximo ao Centro Administrativo do Estado de Minas Gerais (CAMG) e ao
aeroporto internacional de Confins.
102
88
Há, nesse sentido, o surgimento de um “novo centro” na cidade, cujo espaço é ocupado pela classe
dominante, com a concentração de importantes elementos da estrutura urbana. Simultaneamente,
verifica-se o abandono do “centro velho” (outrora “principal”) pelas classes de alta renda e sua
substituição pelas camadas mais baixas da população. Processo que, aos olhos da minoria dominante,
é chamado de decadência. “O centro da cidade mudou”. E é essa ideia que a ideologia dominante
procura difundir: “de que o centro da cidade é o seu centro, mesmo que seja centro de uma minoria”
(VILLAÇA, 1997, p. 1.383).
89
A OUC “Nova BH” suscitou inúmeras controvérsias e, diante da forte oposição da sociedade civil,
sobretudo pela ausência de discussão das políticas públicas a serem implementadas com a população,
a Prefeitura de Belo Horizonte paralisou o andamento do projeto, abandonou sua antiga denominação
(passando a adotar o termo OUC Antônio Carlos/Pedro I e Leste Oeste) e, mediante e deliberação
conjunta com a sociedade, irá formular uma nova proposta. Em virtude de tais modificações, o projeto
terá que ser novamente submetido à votação no Conselho Municipal de Políticas Urbanas (Compur)
antes de ser finalizado e encaminhado à Câmara Municipal da capital.
103
90
Harvey (2013a) alude à política popularizada por Joseph Schumpeter, denominada como “destruição
criativa”, pela qual promove-se inovações na economia de mercado através da destruição de antigos
modelos de negócio.
105
91
Segundo Villaça (1998, p. 13), “o simples registro de transformações espaciais não é suficiente para
caracterizar a estruturação ou a reestruturação. É preciso mostrar como mudanças em um elemento
da estrutura provocam mudanças em outros elementos”. Para ele, pode haver a renovação de um
bairro, por exemplo, sem necessariamente haver a sua reestruturação, caso tal bairro não perca sua
importância, natureza, classe social e localização.
92
A utilização desses termos, na literatura urbana, visa expressar diferentes formas de intervenção no
tecido urbano, em que pode ou não haver alteração de usos. O primeiro, reestruturação urbana, tem
por objetivo a introdução de novos elementos estruturantes do aglomerado urbano ou de uma área
urbana. A renovação urbana corresponde ao processo de substituição do patrimônio urbanístico ou
imobiliário (edificações, malha viária, etc.), no seu todo ou em parte substancial, por modelos
contemporâneos, seja pela atuação da iniciativa privada, seja pela ação planificadora do Estado. A
reabilitação, por sua vez, constitui um processo integrado de recuperação, manutenção e conservação
do patrimônio urbanístico e imobiliário existente, com a realização de obras de modernização que o
torne mais atrativo e dinâmico, melhorando suas condições de uso socioeconômico. A revitalização
implica na recuperação de edifícios em áreas urbanas degradadas, com apoio às estruturas sociais,
econômicas e culturais locais. Embora o termo sugira espaço sem vida, não significa dizer que não
haja vida no espaço negligenciado. A requalificação expressa processos de renovação e/ou reabilitação
que procuram conferir nova(s) função(ões) a determinadas áreas, diferentes daquelas pré-existentes.
E, por fim, a regeneração envolve intervenções proativas de substituição de antigos usos por outros
mais adaptados à sociedade de consumo, com forte incidência nas áreas industriais e portuárias
(MERLIN; CHOAY, 1996; DGOTDU, 2000; 2013).
106
Em última análise, “a propriedade privada do solo urbano faz com que a posse
de uma renda monetária seja requisito indispensável à ocupação do espaço urbano”
(SINGER, 1979, p. 33). Mesmo quando as políticas públicas lidam com programas de
habitação popular, financiamentos imobiliários, etc., como no BNH e no atual PMCMV,
não chegam a eliminar as contradições existentes, porquanto têm como finalidade
precípua organizar o espaço para assegurar o desenvolvimento das forças produtivas,
da acumulação do capital e da reprodução da força de trabalho (MEYER, 1979;
VÉRAS; BONDUKI, 1986). Assim, parte significativa da população que não tem
condições financeiras para pagar pelo direito de ocupar uma parcela do solo urbano
acaba ocupando áreas em que os direitos de propriedade não vigoram, dando ensejo
a invasões, formações de favelas, etc. (SINGER, 1979, p. 33). O que, em última
análise, contribui para a (re)distribuição desigual dos serviços públicos e o
consequente aumento dos custos sociais.
93
Segundo Ferreira (2005), o planejamento estratégico deriva das estratégias militares traçadas para
dirigir e planificar os movimentos e as operações de guerra, a partir da gestão dos recursos disponíveis
e dos meios operacionais. Os princípios e metodologias utilizados nas operações militares aplicaram-
se, inicialmente, na moderna gestão de empresas e grandes organizações. Para além da gestão
empresarial, o planejamento estratégico passou a ser utilizado na gestão de cidades e regiões, num
processo dinâmico, contínuo e de constante realimentação de situações, propostas, resultados e
soluções, que subsidiam as tomadas de decisões (econômicas, sociais, culturais, urbanísticas e
ambientais).
94
Para tanto, as cidades “devem responder a cinco tipos de objetivos: nova base econômica, infra-
estrutura (sic) urbana, qualidade de vida, integração social e governabilidade” (CASTELLS; BORJA,
1996, p.155).
109
95
O modelo racional-funcionalista influenciou a cidade moderna, planejada, com as funções da cidade
– trabalho, habitação, lazer e circulação (segundo os princípios urbanísticos da Carta de Atenas, 1933)
–, delimitadas em seu espaço físico-territorial, e teve como marco histórico, no Brasil, a implantação do
projeto de Lucio Costa em Brasília (1956-1960).
96
O mesmo discurso higienizador foi adotado nos Código de Posturas Municipais de São Paulo (1886)
e do Rio de Janeiro (1889). “A necessidade de demolição dos cortiços insalubres era sistematicamente
invocada para a proteção da saúde pública, porém, eles somente eram demolidos nas áreas mais
centrais da cidade, especialmente para dar lugar as grandes avenidas que viriam para “embelezar e
modernizar” nossas cidades (como se alegava na época), ou seja, abrir espaços para a frutificação do
capital imobiliário” (VILLAÇA, 1986, p. 15).
110
revoltas populares de 1848 (BRESCIANI, 2004; FERREIRA, 2005) –, cujo êxito prático
angariou seguidores em diversas cidades da Europa e do mundo, influindo inclusive
nos trabalhos da Comissão Construtora que concebeu o traçado da cidade de Belo
Horizonte, em 1987.
A contínua formação de centros urbanos, trazendo consigo graves problemas
relacionados à ocupação desordenada do espaço, passou a exigir a edição de normas
técnicas de planejamento e construção de cidades (HARADA, 2005), visando à
melhoria das condições de vida dos cidadãos, à vitalidade econômica e cultural e ao
desenvolvimento. Conforme Ferreira (2005), o planejamento estratégico aplicado à
gestão das cidades ocorreu, de forma pioneira, na cidade de São Francisco
(Califórnia), em 1981, pela iniciativa de grandes empresários, preocupados com a
crise fiscal e financeira que se instalara na cidade. Em articulação com o Município,
os grandes empresários recorreram às técnicas do planejamento estratégico
empresarial para promoverem a gestão das transformações urbanas, espaciais e
funcionais, assim como a instalação das infraestruturas e equipamentos necessários
ao fomento do desenvolvimento econômico da cidade. Ferreira salienta, ainda, que:
97
Importa aclarar que, embora de naturezas distintas, o planejamento estratégico e o planejamento
territorial são complementares entre si, na medida em que o primeiro – compreendendo o objetivo, as
ações e os meios para atingi-lo –, carece do segundo (definição da localização das atividades humanas)
para a concretização das ações de natureza espacial, as quais, segundo Ferreira (2005), têm
predominância na qualificação e no reforço da competitividade das cidades.
111
98
“Por sociedade civil entende-se o conjunto dos cidadãos, nas suas diversidades profissionais e
sociais, que constituem a sociedade e que exprimem a sua iniciativa e a sua vontade de participação
através das organizações, associações e estruturas muito diversificadas tendo por finalidade alcançar
objetivos de caráter económico (sic), social, cultural, educativo, desportivo, humanitário, cívico ou outro,
que não pertencem directamente (sic) à esfera política ou estatal”. (DATAR apud FERREIRA, 2005, p.
43).
112
99
No Brasil, cabe ao prefeito, como chefe do Poder Executivo, a competência para conceber e executar
o plano estratégico da cidade, inclusive viabilizando meios para que haja uma articulação com as outras
esferas do Poder Público, seja em âmbito estadual, regional e/ou federal, no sentido de garantir a
promoção interna e externa da cidade. Deve-se ter em vista que, à câmara de vereadores, enquanto
Poder Legislativo, cabe exercer a fiscalização sobre as políticas públicas então adotadas no Município.
Em Belo Horizonte, a dinâmica da governança municipal é complementada pelo COMPUR – instância
de discussão e deliberação de políticas de planejamento urbano e gestão do território –, garantindo, ao
menos em tese, que a planificação da cidade seja democrática e participativa.
113
aqueles que poderão ser os atributos e recursos distintivos que garantam uma
vantagem competitiva à mesma.
As estratégias de desenvolvimento urbano variam de cidade para cidade,
baseados na realidade, nos recursos específicos (naturais, humanos, localizacionais),
no objetivo e no público a atingir. Segundo Harvey (1989, 2005a), há quatro
estratégias relativas ao empreendedorismo urbano, as quais, todavia, não se excluem
entre si. A primeira, enfoca o fomento de vantagens específicas destinadas à
produção de bens e serviços, mediante a exploração de recursos naturais ou da
localização estratégica; a criação, através de PPP, de infraestruturas físicas (como
transportes e comunicações, instalações portuárias ou aeroportuárias, saneamento
básico, etc.) e sociais (como educação, ciência e tecnologia, cultura, etc.) que
fortaleçam a base econômica da região; o estímulo à criação de novos produtos e
tecnologias; a redução dos custos locais (pela concessão de subsídios, renúncias
fiscais, crédito barato, aquisição de terrenos, etc.); a qualidade, quantidade e custos
da oferta local de mão-de-obra.
A segunda estratégia diz respeito à divisão espacial de consumo, em que a
região urbana buscar melhorar sua posição competitiva enfocando à qualidade de
vida100, o turismo, a cultura e o lazer, como forma de atrair maior público consumidor
(turistas). Nesse sentido,
100
A qualidade de vida urbana, nesse aspecto, compreende um conjunto de atributos, bens e serviços,
de natureza material ou imaterial, que a cidade disponibiliza aos cidadãos e à comunidade,
possibilitando as condições de realização pessoal, profissional e familiar dos indivíduos, tais como:
acesso à habitação digna (ou seja, dotada de condições de conforto, segurança e funcionalidade);
prestação de serviços qualificados de educação, saúde, cultura, lazer e desporto; condições adequadas
de mobilidade; padrões urbanísticos, arquitetônicos e ambientais de qualidade estética, funcional e
saudável; segurança pública e assistência social (FERREIRA, 2005).
114
101
Geralmente encomendados a festejados arquitetos internacionais, “para que, através de projetos
envolvendo alta tecnologia ou citações pós-modernas construam uma verdadeira ficção de lugares
coletivos” (LIMA, 2004, p. 2), como chamariz para a espetacularização da obra e da cidade, em que o
valor de uso fica reduzido frente sua essência econômica.
102
Relevante mencionar que, no processo de expansão dos museus Guggenheim pelo mundo, alguns
projetos, por distintas razões, foram descartados pela da Fundação Solomon R. Guggenheim, dentre
eles: Ilha Formosa-Taiwan (China), Rio de Janeiro (Brasil) e Guadalajara (México).
103
Conforme Ferreira (2005), a realização de grandes eventos constitui, quando estrategicamente
articulada, uma oportunidade ímpar para desencadear profundas transformações nas cidades e nos
sistemas territoriais.
115
104
“La necesidad de contar con un signo de identidad propio es una condición básica para, por un lado,
proyectarla al exterior y diferenciarse en el sistema urbano mundial y, por otro, desde un punto de vista
de gobernabilidad interna, para que los ciudadanos se identifiquen con ella y crean ser partícipes del
proyecto, posibilitando, de esta manera, la exigida cohesión social.”
116
105
“The colonial aspects of gentrification are also evident through the universalising of certain forms of
(de)regulation. There is the obvious spread of market discipline, such as the privatisation of housing
markets in ex-communist countries for example. The neighbourhood transitions that result are
accompanied, or indeed sometimes led by, an expansionist neo-liberalism in public policy that often
118
accentuates the social divisions between gentrifiers and the displaced (...) this policies have resulted in
a kind of neo-colonialism.”
119
106
Os estudos que abordam o fenômeno empregam termos distintos para designá-lo. O vocábulo
gentrification, utilizado pelas ciências sociais anglo-saxônicas (SMITH, 1996; LEY, 2010a, entre outros),
é correntemente adotado no Brasil, mediante adaptação da palavra à estrutura fonética e gráfica da
língua portuguesa: gentrificação (ARANTES, 2002; LEITE; SOMEKH, 2009; por exemplo). Em Portugal,
faz-se uso de “nobilitação urbana” (SALGUEIRO, 2006; MENDES, 2008c; RODRIGUES, 2010),
ressaltando a sinonímia entre os termos gentry (raiz da palavra gentrification) e nobreza.
107
“One by one, many of the working class quarters of London have been invaded by the middle classes-
upper and lower. Shabby, modest mews and cottages-two rooms up and two down-have been taken
over, when their leases have expired, and have become elegant, expensive residences. Larger Victorian
houses, downgraded in an earlier or recent period-which were used as lodging houses or were otherwise
in multiple occupation-have been upgraded once again. Nowadays, many of these houses are being
sub-divided into costly flats or 'houselets' (in terms of the new real estate snob jargon). The current
social status and value of such dwellings are frequently in inverse relation to their size, and in any case
enormously inflated by comparison with previous levels in their neighbourhoods. Once this process of
'gentrification' starts in a district, it goes on rapidly until all or most of the original working class occupiers
are displaced, and the whole social character of the district is changed.”
120
108
De acordo com Harvey (1978, 2005b, 2005c), cada novo ciclo de acumulação tem um determinado
spatial fix, caracterizado pela fixação geográfica de capital (investimento no ambiente construído) e a
criação de uma paisagem física inteiramente nova (aeroportos, portos, ferrovias, etc.), para fins de
produção, circulação, troca e consumo.
121
109
“Simultaneously a physical, economic, social and cultural phenomenon. Gentrification commonly
involves the invasion by middle-class or higher-income groups of previously working-class
neighbourhoods or multi-occupied ‘twilight areas’ and the replacement or displacement of many of the
original occupants. It involves the physical renovation or rehabilitation of what was frequently a highly
deteriorated housing stock and its upgrading to meet the requirements of its new owners. In the process,
housing in the areas affected, both renovated and unrenovated, undergoes a significant price
123
they seek to enhance the exchange value of an area and to reap substantial profits from promoting
UNEVEN DEVELOPMENT at the intra-urban scale.”
111
“The reinvestment of CAPITAL at the urban centre, which is designed to produce space for a more
affluent class of people than currently occupies that space. The term, coined by Ruth Glass in 1964,
has mostly been used to describe the residential aspects of this process but this is changing, as
gentrification itself envolves.
Gentrification is quintessentially about urban reinvestment. In addition to residential rehabilitation and
redevelopment, it now embraces commercial redevelopment and loft conversions (for residence or
office) as part of a wider restructuring of urban geographical space. Gentrification proper combines this
economic reinvestment with social change insofar as more affluent people – the urban ‘gentry’ – move
into previously devalued neighbourhoods. Gentrification often involves direct or indirect displacement of
poor people.”
112
“Middle-class settlement in renovated or redeveloped properties in older, inner-city districts formerly
occupied by a lower-income population. The process was first named by Ruth Glass, as she observed
the arrival of the ‘gentry’ and the accompanying social transition of several districts in central London in
the early 1960s. A decade later, broader recognition of gentrification followed in large cities such as
London, San Francisco, New York, Boston, Toronto and Sydney undergoing occupational transition
from an industrial to a post-industrial economy. But more recently gentrification has been identified more
widely, in smaller urban centres, in Southern and Eastern Europe and also in some major centres in
Asia and Latin America.”
125
113
“Any explanation for it taking place predominantly in inner cities must be based on scrutiny of
contingent relations of historically specific contexts.”
114
“(1) reinvestment of capital; (2) social upgrading of locale by incoming high-income groups (3)
landscape change; and (4) direct or indirect displacement of low-income groups”
115
“Gentrification is a process and not a final state. It is always incomplete”.
126
116
“Underlying all of these changes in the urban landscape are specific economic, social and political
forces that are responsible for a major reshaping of advanced capitalist societies: there is a restructured
industrial base, a shift to service employment and a consequent transformation of the working class,
and indeed of the class structure in general; and there are shifts in state intervention and political
ideology aimed at the privatization of consumption and service provision. Gentrification is a visible
spatial component of this social transformation. A highly dynamic process, it is not amenable to overly
restrictive definitions; rather than risk constraining our understanding of this developing process by
imposing definitional order, we should strive to consider the broad range of processes that contribute to
this restructuring, and to understand links between seemingly separate processes.”
127
A teoria econômica, baseada nos ciclos de rent gap de Smith (1988, 1996,
2007, 2010a, 2010b), tornou-se uma das mais influentes, e ao mesmo tempo
controversa, entre os estudiosos da gentrificação, ao enfatizar o aspecto econômico
(produção, oferta) como causa determinante para a sua ocorrência. Segundo Smith
(1988, 1996, 2010a, 2010b) e Savage et al. (2003), as transformações socioespaciais
e tensões decorrentes do processo gentrificativo estão diretamente associadas ao
desenvolvimento urbano desigual, enquanto expressão geográfica das desigualdades
do capitalismo. Em última análise, da contradição mais fundamental entre o valor de
uso e o valor de troca.
Conforme salientam Lees et al. (2007), em meados da década de 1970, o futuro
das cidades industriais parecia incerto e precário. Os centros urbanos, sobretudo das
cidades norte-americanas, enfrentavam os efeitos do rigoroso processo de
desindustrialização e de suburbanização da classe média iniciado em meados da
década de 1950.
De acordo com o modelo de filtragem (filtering), a deterioração das áreas
centrais da cidade foi favorecida pela mudança das famílias mais abastadas para os
espaços residenciais da periferia urbana, cuja qualidade era superior. Os imóveis
deixados para trás – menores, de qualidade inferior e menos desejados –, foram,
então, “filtrados” e passaram a ser ocupados pelas famílias de rendas mais baixas
(filtering down), enquanto os piores imóveis foram abandonados ou, eventualmente,
demolidos (SMITH, 1982; 1996; EUFRÁSIO, 2008).
128
divertir no mesmo espaço, com fácil acesso a bares, restaurantes, teatros, shoppings
centers e demais centros culturais, de lazer e de consumo.
“A crescente onda de “retorno à cidade” pelos pioneiros urbanos estimulou a
requalificação, renovação, revitalização e, talvez, o completo renascimento urbano da
região” (LEES et al., 2007, p. 44, tradução nossa)117. Por outro lado, e
simultaneamente, deixou às claras a dura realidade da pobreza, do deslocamento de
inúmeros moradores de baixa renda, da crônica escassez de habitação a preços
acessíveis e da exclusão socioespacial.
Mas, o quê, de fato, influenciou a transformação da preferência locacional dos
consumidores (gentrifiers ou agentes gentrificadores individuais) e favoreceu a
ocorrência da gentrificação nas áreas centrais das cidades? Para Smith (2010a), os
fatores econômicos, e não as forças culturais, foram (são) determinantes para o
“renascimento urbano”. Segundo ele, na decisão de reabilitar as áreas centrais da
cidade, uma preferência do consumidor tende a se destacar frente as demais, qual
seja: a preferência pelo lucro, ou, mais precisamente, pelo rentável investimento
financeiro.
Influenciado pela perspectiva marxista, Smith (1996, 2010a, 2010b) avalia
como o desinvestimento, a obsolescência tecnológica e a gradual deterioração do
ambiente construído (estabelecimentos comerciais, fábricas, casas e demais
infraestruturas) ao longo do tempo, podem criar uma diferença entre a renda da terra
capitalizada (capitalized ground rent) – ou seja, o retorno econômico que o proprietário
obtém a partir da utilização atual do imóvel), e a renda potencial (potential ground rent)
de um determinado lugar – ou seja, o retorno máximo que poderia ser obtido se a terra
fosse utilizada em sua condição ideal (melhor uso e em nível mais elevado). E, é
justamente essa diferença entre a renda da terra atualmente capitalizada e a renda
da terra potencial que configura aquilo que Neil Smith denomina como rent gap.
Numa economia de mercado, quando um bairro é estruturado pela primeira vez,
em regra, não há discrepância entre as rendas capitalizada e potencial da terra, na
medida em que a produção do lugar destina-se à maximização das rendas –
observadas, contudo, as limitações localizacionais e tecnológicas. Entretanto, o
capital investido para o desenvolvimento do lugar está, agora, fixado no espaço
(spatial fix) e, portanto, vulnerável a quaisquer circunstâncias que possam alterar a
117
“A growing wave of young, well-educated professionals were choosing to come back to the city-and
the choices of these 'urban pioneers' were helping to spur renewal, renovation, revitalization, and
perhaps a full-fledged urban renaissance.”
130
118
Terminologia utilizada por Villaça (1998, 2015) para designar os diversos pontos do território urbano,
cuja acessibilidade é o valor de uso mais importante.
119
“Wide enough to yield a good return after all of the costs of conversion to new land uses -
rehabilitation of old run-down houses, or demolition and new construction.”
132
120
Formas de consumo que abrangem escolhas particulares e identitárias bastante diversificadas, em
âmbitos sobejamente diferentes – como a habitação, a alimentação, o vestuário, os usos do corpo, os
hábitos de trabalho e de lazer, a religião, a arte, a organização do espaço e do tempo, etc. –,
diretamente relacionadas à emergência de uma condição social e urbana pós-moderna (MENDES,
2008a, 2008c, 2011a; HARVEY, 2013c).
121
O termo deriva da sigla "YUP", expressão inglesa que significa young urban professional, e é
comumente utilizado para referir-se a jovens profissionais, entre 20 e 40 anos de idade, com formação
universitária, boa situação financeira, que valorizam o sucesso profissional e o consumo de bens
materiais.
134
122
Segundo Santos (2007, p. 155), “quando se confundem cidadão e consumidor, a educação, a
moradia, a saúde, o lazer aparecem como conquistas pessoais e não como direitos sociais. Até mesmo
a política passa a ser uma função do consumo. Essa segunda natureza vai tomando lugar sempre
maior em cada indivíduo, o lugar do cidadão vai ficando menor, e até mesmo a vontade de se tornar
um cidadão por inteiro se reduz.”
123
“Throughout the Global North, many national governments are pursuing policies that restrict the rights
of Individuals as citizens – redefining rights instead in terms of consumers and investors as cities seek
to attract wealthy home owners and free-spending tourists. In the Global South many of these principles
are imposed by the 'structural adjustment' dictates of the International Monetary Fund and other
transnational financial institutions. Consumer sovereignty is becoming policy – summarized best
perhaps by George W. Bush's notion of the 'ownership society' – such that individuals face increased
penalties if they do not behave as Homo economics in planning their home purchase, their retirement,
and even the expenses of their own health care.”
135
classe média, a tese de Ley (2010a, 2010b) confere um papel secundário à indústria
imobiliária na produção do ambiente construído. Assim, embora ele não descarte o
poder do mercado de moradia, são os gentrifiers (homens e mulheres124) e a
intensificação de suas demandas culturais e de consumo que propiciam a alteração
da lógica de alocação do uso da terra e, consequentemente, a ocorrência da
gentrificação.
Conforme Beauregard (2010), o estilo de vida, gostos e práticas de consumo
dessa nova classe média estariam associados a uma necessidade de exibição pública
de si e das mercadorias adquiridas, como forma de demonstrar sua capacidade de
consumo e favorecer o estabelecimento de relações sociais entre “iguais”. O que seria
facilitado pela centralidade urbana remodelada. Para Bourdieu (2004, 2008), a
proximidade no espaço físico faculta que a proximidade social produza todos os seus
efeitos, favorecendo a acumulação de capital social e, ao mesmo tempo, facilitando
encontros casuais e previsíveis que intensificam a frequência a lugares bem
frequentados.
A perspectiva teórica de Bourdieu (1983, 2004), assente na noção de habitus,
revela como as práticas, os valores e o comportamento individual dos agentes
gentrificadores se ajustam às suas condições de existência, notadamente, às suas
posições e trajetórias sociais. Nesse aspecto, determinadas práticas de consumo –
especialmente o consumo cultural – têm por função assinalar a posição do indivíduo
em sua respectiva classe social e, simultaneamente, diferenciá-lo das demais. Ou
seja, em decorrência dos condicionamentos sociais,
124
Rose (2010) foi a primeira a enfatizar o crescimento da participação feminina no mercado de trabalho
e a relação existente entre as qualificadas profissionais solteiras e os processos gentrificativos. Para
as mulheres solteiras, famílias monoparentais e casais sem filhos, as áreas centrais da cidade
apresentavam-se mais propícias que os subúrbios, permitindo a conciliação do trabalho profissional
(um ou mais empregos) com as atividades domésticas. Haja vista à minimização dos custos e tempo
de deslocamento casa-trabalho, a proximidade com os estabelecimentos comerciais (lojas,
restaurantes, lavanderia, creche, etc.) e centros de prestação de serviços que, a princípio, não estariam
disponíveis nos subúrbios (BEAUREGARD, 2010).
136
Por outro lado, aqueles que não possuem capital, sob suas diferentes espécies
– econômico, social, cultural ou mesmo simbólico –, são mantidos à distância (física
ou simbólica), dos bens considerados socialmente mais raros e condenados a estar
ao lado das pessoas ou dos bens menos desejáveis e comuns. Nessa vertente, “não
há espaço, em uma sociedade hierarquizada, que não seja hierarquizado e que não
exprima as hierarquias e as distâncias sociais” (BOURDIEU, 2008, p. 160). A
contiguidade geográfica entre grupos sociais distintos não se traduz, portanto, em
interações sociais efetivas (MAQUIAVELI, 2012).
Ao refutar a teoria cultural, Smith (2010a) expõe que, se a preferência do
consumidor, segundo a teoria cultural de Ley, for realmente a causa determinante para
a ocorrência da gentrificação, isso significaria, por hipótese, que as preferências
individuais alteram em uníssono, não só nacionalmente, mas internacionalmente, ou
então que os constrangimentos sociais mais importantes são determinantes para
suprimir a individualidade implícita ao ato de consumo.
125
“If the latter is the case, the concept of consumer preference is at best contradictory: a process first
conceived in terms of individual consumption preference has now to be explained as resulting from
cultural uni-dimensionality. The concept can be rescued as theoretically visible only if it's used to refer
to collective social preference, not individual preference.”
126
“Builders, developers, landlords, mortgage lenders, government agencies, real estate agents, and
tenants; all things considered”.
137
127
“The needs of production – in particular the need to earn profit – are more decisive initiative behind
gentrification than consumer preference”.
128
“Gentrification is a back to the city movement all right, but of capital rather than people.”
129
Na fábula “Blind men and the elephant”, um grupo de homens cegos tocam um elefante para saber
o que é. Cada um toca uma parte diferente do animal, como a sua perna ou a sua presa. Após, eles
comparam as impressões sobre o que sentiram e percebem o total desacordo entre suas
manifestações. A história é, então, utilizada para indicar que os eventuais pontos de vista sobre
determinado fato estão condicionados às diferentes perspectivas que se tem dele (LEES et al., 2010).
138
Isso não quer dizer, de certa forma ingênua, que o consumo é uma
consequência automática da produção, ou que a preferência do consumidor
é um efeito totalmente passivo causado pela produção. Isso equivaleria a
uma teoria da soberania do produtor, quase tão unilateral quanto a sua
contrapartida neoclássica. Pelo contrário, a relação entre a produção e o
consumo é simbiótica, mas é uma simbiose em que a produção prepondera.
Afinal de contas, preferência do consumidor e demanda por habitação
requalificada podem ser produzidas. (SMITH, 2010a, p. 87, tradução
nossa)131.
130
“Neither side is comprehensible without the other, and all present theories of gentrification touch
bottom in these basic conditions for the existence of the phenomenon.”
131
“This is not to say in some naive way that consumption is the automatic consequence of production,
or that consumer preference is a totally passive effect caused by production. Such would be a producer
sovereignty theory, almost as one-sided as its neoclassical counterpart. Rather, the relationship
between production and consumption is symbiotic, but it is a symbiosis in which production dominates.
Consumer preference and demand for gentrified housing can be created after all.”
139
132
“These economic shifts were often accompanied by political shifts as cities found themselves
competing in the global market, shorn of much of the traditional protection of national state institutions
and regulations: deregulation, privatization of housing and urban services, the dismantling of welfare
services—in short, the remarketization of public functions.”
140
133
“A socioeconomic and indeed cultural transformation due to middle-class colonization or
recolonization.”
134
Evidenciada pelas profissões intelectuais, científicas, de gestão, artísticas e correspondentes
qualificações universitárias, cuja atuação implica na produção de novas ideias, tecnologias, conteúdos
criativos e inovadores (RODRIGUES, 2010).
135
“How, in the larger context of changing social geographies, are we to distinguish adequately between
the rehabilitation of nineteenth-century housing, the construction of new condominium towers, the
opening of festival markets to attract local and not so local tourists, the proliferation of wine bars — and
boutiques for everything — and the construction of modern and postmodern office buildings employing
thousands of professionals, all looking for a place to live (…)? (…). Gentrification is no longer about a
narrow and quixotic oddity in the housing market but has become the leading residential edge of a much
larger endeavor: the class remake of the central urban landscape.”
141
136
“When a family sees its neighborhood changing dramatically, when all their friends are leaving, when
stores are going out of business and new stores for other clientele are taking their places (or none at all
are replacing them), when changes in public facilities, transportation patterns, support services, are all
clearly making the area less livable, then the pressure of displacement is already severe, and its actually
only a matter of time. Family under such circumstances may even more as soon as they can, rather
than wait for the inevitable; they are displaced nonetheless.”
142
137
“integration of gentrification into a wider range of economic and cultural processes at the global and
national scales”.
138
Aqui, a utilização do termo se faz em consonância com a concepção de Smith (1996) ao tratar dos
ciclos de valorização-desvalorização do solo (rent gap), como forma de estimular a valorização da terra
e a reprodução do capital. Ressalta-se que, assim como Smith, outros autores se apropriaram da
categoria “fronteira” para a compreensão de processos diversos daquele originalmente tratado por
Turner (1894), conforme alude Carvalho (2004). Apesar da propriedade e acerto dessas abordagens,
em especial aquelas desenvolvidas por Martins (1997) e Carvalho (2004) – que se referem,
respectivamente, aos processos de expansão: (i) do território brasileiro em direção à Amazônia (frente
pioneira, com presença do capital na produção, e frente de expansão, com a ocupação do espaço sem
a mediação do capital) e (ii) periférica do Município de São Paulo (fronteira campo/cidade, rural/urbano)
–, no presente trabalho não se aplicam, dadas às diferenças na situação fundiária e socioeconômica
do objeto de estudo.
145
POSITIVOS NEGATIVOS
Deslocamentos provocados pela majoração dos
aluguéis e dos preços de venda dos imóveis
Danos psicológicos secundários devido ao
deslocamento
Estabilização das áreas em deterioração Indignação e conflitos comunitários
Diminuição da oferta de habitações a preços
Aumento dos valores de propriedade
acessíveis
Especulação imobiliária e aumento insustentável dos
preços dos imóveis
Redução da taxa de vacância dos imóveis Desabrigados
Apropriação privada de recursos públicos, por meio
Aumento das receitas fiscais locais
de lobby e articulações políticas
Aumento de políticas de desenvolvimento e
Deslocamento comercial e industrial
melhoria de serviços públicos
Aumento dos custos de vida e mudança nos
serviços locais
Redução do espraiamento da cidade para Aumento da demanda por habitações em bairros
áreas suburbanas ocupados por população de baixa renda
Perda da diversidade social e segregação entre ricos
Aumento da diversidade social
e pobres
Reabilitação imobiliária, com ou sem Subocupação e perda de população em áreas
subsídios públicos gentrificadas
Fonte: Atkinson; Bridge, 2005, p. 5, tradução nossa
147
139
“Urban literature uses, often, without definition, terms such as urban regeneration, urban
revitalization, gentrification, neighborhood renewal, rehabilitation, and renovation. A cursory search of
the literature reveals that the form of neighborhood change we are studying has also been called a
“back-to-the-city movement“ (…) and “urban reinvasion” (…). The existence of such a welter of terms to
describe the very same phenomenon is not simply meaningless terminological entrepreneurship. One
of the lessons of the sociology of knowledge is that words are not passive; indeed, they help to shape
and create our perceptions of the world around us. The terms we choose to label or describe events,
must, therefore, convey appropriate connotations or images of the phenomenon under consideration in
order to avoid serious misunderstandings.”
149
Assim, como ressaltam Lees et al. (2007, p. xix, tradução nossa)140, “é difícil
ser favorável à ‘gentrificação’, mas quem se oporia a ‘renascimento urbano’,
‘reabilitação urbana’ e ‘sustentabilidade urbana’ [...]?” Tais fatores revelam as faces
tirânicas do dinheiro e da manipulação da informação, constituindo os pilares da
produção da história atual do capitalismo globalizado (SANTOS, 2006), que emergem
no urbanismo neoliberal.
140
“It's hard to be for 'gentrification', but who would oppose 'urban renaissance', 'urban regeneration',
and 'urban sustainability' (…)?”
141
“But in the Global South, gentrification as an urban strategy is playing out in even more diverse ways.
Although urban thinking in much of Europe and North America is obsessed with the contours of
postindustrial society, urbanization in the Global South is driven by the simultaneous expansion of 'old'
and 'new' spatial economic shifts; cities are being reshaped by the expansion of manufacturing and
150
heavy industrial activities, as well as the growth of high-tech offshoring and outsourcing activities and
smaller pockets of service-sector innovation. Increasingly, though, the class transformation of urban
space in cities of the Global South involves systematic, large-scale reconstruction of large chunks of the
urban fabric - backed by the financial support of transnational investors and the political support of state-
led”.
142
Diferindo do modelo anglo-saxão, Parra (2014) retrata as especificidades da gentrificação ocorrida
em Sevilha, na Espanha, cuja reestruturação é caracterizada pela intervenção estratégica da
Administração Pública, como catalizadora do processo, e pelo relevante papel dos servidores públicos
como consumidores (gentrifiers) do espaço gentrificado.
143
Marginal gentrifier, no caso de Rose (2010), famílias monoparentais femininas mais pobres.
151
144
A expulsão direta ou o deslocamento indireto dos antigos moradores podem decorrer da alteração
dos usos do solo, da degradação do ambiente citadino, da considerável elevação dos impostos ou dos
preços do comércio local (CASGRAIN; JANOSCHKA, 2013).
153
145
United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
154
146
Segundo Vasconcellos (2015), pelo menos 1.000 famílias de 24 comunidades cariocas foram
removidas nos últimos anos em razão das obras de preparação da capital fluminense para receber tais
eventos.
156
147
As UPPs foram baseadas no programa instalado em Medellín, na Colômbia, em 2002, bem como
na ocupação do Haiti pelas Nações Unidas, sob a liderança do Brasil. O projeto é coordenado pela
Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMERJ) e financiado pelo governo do Estado (GAFFNEY, 2013).
157
elas são bem-vindas e cujos resultados, a longo prazo, são incertos (GAFFNEY, 2013;
VASCONCELLOS et al., 2013; CUMMINGS, 2013a, 2013b, 2015).
Ribeiro (2013), ressalta um processo inevitável de substituição da população
típica da favela do Vidigal148 por outra, mais rica, de novos residentes nacionais e
estrangeiros. Para ele, o processo equivaleria à renovação urbana e social verificada
em áreas centrais de cidades europeias outrora abandonadas pelas camadas mais
abastadas da população e que, por isso, enfrentavam um processo de degradação. A
diferença residiria no fato de que, no Vidigal, ocorre uma “gentrificação à brasileira”,
na medida em que a área é carente de infraestrutura, de serviços básicos e não se
encontra desocupada.
Segundo Cummings (2013b, 2013c), a “fronteira da asfaltização” (asphalt
frontier), decorreria de três fenômenos que, integrados, criam as condições para a
gentrificação das áreas informais das pacificadas favelas do Rio de Janeiro (favela
gentrification):
148
“Todos os caminhos da gentrificação levam ao Vidigal porque, além de ser dono de uma das mais
belas paisagens da Zona Sul, é, por si só, um cartão-postal. Está na direção para a qual os
espectadores do Arpoador olham ao aplaudir o pôr do sol. ‘Mora’ ao lado do morro Dois Irmãos. Tem
uma praia quase particular. Seu passado tem certo charme: fez história na luta contra as remoções na
cidade e, desde os anos 70, é a preferida dos artistas. Espremida entre Leblon e São Conrado,
alimenta-se da riqueza dos bairros vizinhos” (GARÇONI, 2013).
149
A glamorização da favela é favorecida pela difusão internacional da cultura, do carnaval, e de estilos
musicais (como o funk e o samba), provenientes dos “morros” do Rio de Janeiro, entre jovens artistas,
turistas e aventureiros transnacionais. Aclamado pela crítica internacional, o filme “Cidade de Deus”,
também propiciou que a favela chic ganhasse a atenção da mídia nos últimos anos (CUMMINGS,
2013c).
158
150
Não obstante, das 600 famílias que residiam na área, restam apenas 100. As demais, foram
realocadas no “Parque Carioca”, do PMCMV (VASCONCELLOS, 2015).
159
151
Occupy Wall Street – força contra-hegemônica inspirada nos levantes da Primavera Árabe, o
movimento surgiu em meados de setembro de 2011, no distrito financeiro de Manhattan, na cidade de
Nova York, como forma de protesto contra a desigualdade socioeconômica, a corrupção e a influência
das empresas (principalmente do setor financeiro) no governo norte-americano (HARVEY, 2013c).
152
Leite e Somekh (2009) ressaltam, contudo, que “mesmo nos Estados Unidos, onde o setor privado
predomina, os grandes investimentos Públicos principalmente em infra-estrutura (sic) transportes e
criação de Espaços Públicos e equipamentos culturais é que efetivamente viabilizam os grandes
Projetos Urbanos”. O Estado, nesse aspecto, tem função determinante na produção capitalista, cujo
papel não se restringe a um mero regulador do mercado e agente da reprodução social.
161
A história de Venda Nova remonta ao início do século XVIII, época em que seus
moradores mais antigos eram administrativamente subordinados à Comarca de
Sabará – uma das primeiras regiões ocupadas na Capitania de Minas Gerais153 –, e
eclesiasticamente ligados à Freguesia de Curral D’El Rei154 (SILVA, 2000). Segundo
Paiva (1992), a Comarca de Sabará, também conhecida como Comarca Rio das
Velhas155, foi uma importante cidade do ciclo do ouro156, constituindo, desde cedo,
uma região de intensa atividade econômica (comércio, agropecuária e prestação de
serviços).
153
Em 1720, a Capitania de Minas Gerais, ou Província de Minas Gerais, era integrada por 5 Comarcas:
Ouro Preto, Rio das Mortes, Serro do Frio, Paracatu e Rio das Velhas. A Capitania possuía uma
complexa demarcação administrativa, mesclando: (i) divisões civis – vilas (correspondente ao
Munícipio atual) e distritos (também chamados de freguesias ou arraiais); (ii) divisões eclesiásticas –
paróquias e freguesias. De maneira que a divisão dos distritos paroquiais não é a mesma dos distritos
municipais (MATOS, 1979; PAIVA, 1992).
154
Segundo Matos (1979), recebeu esse nome em função da alocação, em seu território, de um grande
curral de gado pertencente à Fazenda Real. No final do século XIX sua povoação foi inteiramente
removida para a instalação da cidade de Belo Horizonte como nova capital do Estado de Minas Gerais
(GOMES, 2009).
155
A Comarca compreendia as Vilas de Sabará, Pitangui e Caeté e o julgado de Curvelo (MATOS,
1979).
156
A crise no mercado de açúcar brasileiro, no final do século XVII, e a descoberta e exploração de
riquezas minerais (ouro e diamante) na região de cidades históricas mineiras, deu início ao ciclo do
ouro no Brasil. No período de sua vigência, a extração e exportação do ouro ocupou um lugar de
destaque na história colonial brasileira, dominando a dinâmica econômica local até o final do século
XVIII (LACERDA et al., 2010).
163
por tropeiros que, ao transportarem toda sorte de mercadorias, abriam novas trilhas e
caminhos, ampliando a rede de estradas que interligavam as áreas da Capitania às
Capitanias do Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e Bahia. Ao longo dos percursos,
foram surgindo pequenos povoados e arraiais que facilitavam a ligação entre as
diferentes localidades e a própria comercialização dos gêneros (PAIVA, 1992,
APCBH, 2008).
Não é possível determinar a data precisa de fundação de Venda Nova, dada à
inexistência de estudos sistematizados sobre a região e às poucas referências à sua
memória histórica. Contudo, a pesquisa realizada por Paiva (1992) e um conjunto de
pesquisadores da “Inscriptum Pesquisas Históricas”, em documentação manuscrita
de órgãos da Comarca de Sabará e de outros órgãos administrativos coloniais e
provinciais, datados dos séculos XVIII e XIX, indica o seu surgimento na segunda
metade do século XVIII. Provavelmente, “em função das atividades agropecuárias e
do comércio que se praticava na região, bem como devido ao caminho da ‘Bahia a
Minas’ que parece ter cortado o arraial ou se ramificado até ele” (PAIVA, 1992, p. 26).
Época em que Venda Nova servia de pouso para os tropeiros que, trilhando o
“caminho dos currais da Bahia”, por lá passavam com gados e mercadorias para
abastecer as regiões mineradoras (APCBH, 2008).
Apesar dos inconvenientes da tradição oral, por vezes destituída de
comprovação histórica, os relatos empreendidos pelos moradores da Área de Estudo
Venda Nova – AEVN indicam um percurso semelhante sobre a origem do povoado e
de sua denominação. É o que se observa do depoimento prestado pela entrevistada
MA-5:
Porque o nome? [...]. A explicação mais aceita, você sabe como eram as
cafuas, né. E o quê que eles faziam nas cafuas? Eles faziam um cercado com
qualquer coisa, onde o gado podia dormir [...], isso tudo correndo à margem
do Vilarinho [...]. Então, o quê que se supõe? O que é que eles faziam? Eles
faziam essas cafuas, onde morava a família daqueles que vieram lá dos
currais da Bahia, vieram do Paraná, vieram das regiões com boi. O boi anda
tantos quilômetros, depois não anda mais. Então, naquelas pousadas ali,
foram surgindo cidades [...]. Então, qual é a presunção? Que Venda Nova
tenha aumentado assim a população. E, em vez deles terem as vendas, só
aquelas cafuas com o morador. Tinha uma coberta, onde as pessoas
dormiam do lado de fora da casa. Porque ele não poria um tropeiro dentro da
casa dele, né. As pessoas dormiam ali. Faziam as refeições ali. Essas coisas.
Descansavam, compravam, vendiam. Então, alguém construiu uma venda de
melhor aspecto. Talvez ligada mesmo a alguma casa. [...]. Porque essas
cafuas elas eram meio de mato, meio de capim, meio de folha de coqueiro,
essas coisas assim. Mas uma coisa daquele tijolo de barro, [...] adobe. Fez
uma coisa de adobe, rebocou e depois caiou. A gente pensa numa coisa
assim. E, também, tinha mais o que vender. Porque, era o mínimo o que eles
tinham pra vender. Por causa da dificuldade de transporte [...]. Então, o que
164
eles tinham pra vender era muito pouco. O que eles trocavam ali com os
tropeiros, essas coisas assim. E, esta venda, eles presumem, que ela ficava
na beira do córrego do nado. O córrego do nado é a Avenida 12 de outubro
agora, que não chama mais 12 de outubro, chama Avenida Dr. Álvaro
Camargo. [...]. Então, o boi passava ali a nado. Por isso o córrego do nado.
E, 200 metros e tanto pra frente, ele cai no Vilarinho. Então, aquela região ali,
a gente presume... presume, que essa loja era por ali. E que como ela tava
na beira do córrego do nado, para depois atravessar o boi pra levar até o
Curral D’El Rei, as pessoas falavam assim: não! Vamos parar naquela venda
nova! Vamos parar naquela venda nova! Porque era melhor, mais confortável.
Presume-se. Saber ninguém sabe. Foi muito pesquisado. Foi 1 ano de
pesquisa por 6 pesquisadores da Inscriptum Pesquisas Históricas e eles não
conseguiram descobrir com 100% de certeza (MA-5)157.
Entre os documentos mais antigos, incluiu-se uma carta enviada à Dona Maria
(rainha de Portugal), datada de 1787, por meio da qual os moradores do arraial de
Venda Nova solicitavam a autorização para a construção de uma capela de invocação
a Santo Antônio na região. Foi ao redor dessa capela, cuja construção restou
157
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 02 jul. 2015.
158
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 06 jul. 2015.
165
159
“Art. 1º - Fica elevado à categoria de Paróquia o distrito de Venda Nova, atualmente pertencente à
Freguesia do Curral D’El Rei.”
160
“Art. 2º - Fica igualmente criada a Freguesia de Venda Nova no termo de Santa Luzia que terá por
divisas as do distrito do mesmo nome.”
161
Designação para território municipal (GOMES, 2009).
167
162
Inicialmente denominada como Freguesia do Curral d’El-Rey, a capital do Estado de Minas Gerais
passou a chamar-se Belo Horizonte, por força do Decreto nº 36, de 12 de abril de 1890. Em 12 de
dezembro de 1897, com a inauguração oficial da nova capital, altera-se seu nome para Cidade de
Minas. Contudo, após a publicação da Lei nº 302, de 1º de julho de 1901, a cidade passa novamente
a designar-se Belo Horizonte.
163
A antiga capital, além de não oferecer as condições necessárias ao crescimento econômico (o relevo
acidentado da cidade dificultava a mobilidade nos transportes e nas comunicações e o sistema de
saneamento não comportava grande aumento populacional), possuía uma arquitetura cuja
irracionalidade e desordem “marcavam o modelo colonial de ocupação, com suas ruas estreitas e
tortuosas desembocando em largos irregulares onde se situavam os monumentos e as edificações
públicas e de expressão cultural” (MONTE-MÓR, 1997, p. 474).
164
Conforme Salgueiro (2001, p. 151), “a historiografia em geral, sugere que os parlamentares de Ouro
Preto impuseram a escolha de Belo Horizonte como uma última tentativa de levar ao fracasso a idéia
(sic) da construção de uma nova capital, já que, a princípio, parecia difícil, com tantos pontos
desfavoráveis, transformar esse arraial em ‘cidade moderna’, no espaço de tempo de quatro anos,
impostos pela lei. Além disso, sua proximidade com Ouro Preto a manteria em sua zona de influência”.
Ressalta-se que, quando das discussões entre "mudancistas" e "não mudancistas" acerca da
transferência da capital do Estado para a então Freguesia de Curral D’El Rei, a Região Histórica de
Venda Nova – RHVN, há muito, se encontrava vinculada ao Município de Sabará.
168
165
O plano elaborado por Aarão Reis, para a primeira cidade planejada do País, reflete a ideia de ordem
e funcionalidade ao espaço sob a influência do modelo de Pierre Charles L’Enfant para Washington
D.C, em 1791; do barão Georges von Haussmann, durante o reinado de Luís Napoleão (Segundo
Império), na reestruturação de Paris (PLAMBEL, 1979); além do modelo de La Plata, privilegiado, em
parte, na planta da nova capital (SILVA, 1991; SALGUEIRO, 2001).
169
166
Para Villaça (1998, p. 114), “a metodologia científica não pode prescindir de boas observações,
descrições e classificações dos processos. (...). Para isso, os chamados modelos simplificados de
estrutura urbana são úteis, desde que não se pretenda tirar deles mais do que podem oferecer.”
170
Belo horizonte foi, sob vários aspectos, uma espécie de cartão de visitas do
novo regime. Seu traçado, sua fisionomia eram mais que uma metáfora da
nova ordem que se buscava implantar, eram materializações de uma filosofia,
de uma política, de uma pedagogia, de uma nova forma de sociabilidade. [...]
a cidade nascida da ação política, a cidade balizada pela intervenção do
estado, a cidade moderna e modernista, republicana e contraditória em sua
tensão entre a forma moderna de sua estrutura arquitetônica e urbanística e
certo conservadorismo. (MONTE-MÓR et al., 2007, p. 11-17).
167
Relevante mencionar que, em 1895 – ou seja, dois anos antes de sua inauguração oficial, a cidade
de Belo Horizonte já contava com duas áreas de invasão no perímetro urbano, ocupadas por,
aproximadamente, três mil pessoas, as quais foram removidas pelo governo, em 1902, e instaladas em
local reservado à morada da classe operária (PLAMBEL, 1984).
168
O Decreto nº 803/1895 previa a doação de terrenos situados nas zonas urbana e suburbana, pelo
Poder Público, para os segmentos da população diretamente ligados ao aparato estatal e aos
proprietários de terra em Ouro Preto, como forma de incentivar sua transferência para a nova Capital.
171
169
Nesse caso, as atividades econômicas, produtivas, de comércio e serviços se restringiriam ao
atendimento das demandas por bens e serviços dos habitantes da cidade. Contudo, na prática, o
crescimento da cidade acabou contrariando alguns dos aspectos previstos no projeto original, seja pelo
rápido crescimento demográfico, seja pela expansão das atividades econômicas, que a transformaram
num importante polo econômico do estado (MONTE-MÓR et al., 2007).
172
170
Em consonância com o disposto no art. 5º do Decreto nº 680/1894.
173
171
Especificamente no contexto da Região Metropolitana de Belo Horizonte, Plambel (1984) ressalta
que, nessa época, a atividade econômica dos demais Municípios era essencialmente agropecuária,
ressalvando-se os Municípios de Pedro Leopoldo (com atividades industriais têxteis) e Nova Lima (com
as atividades na Mina de Morro Velho em expansão).
172
Promove-se, inclusive, nesta época, a alteração do zoneamento original da cidade, que passa a ser
dividida em quatro áreas, a saber: zona central, zona urbana, zona suburbana e zona rural (LIMA,
2009).
173
Criada em 1927, como instituição privada subsidiada pelo Estado, a Universidade de Minas Gerais
(UMG) foi federalizada em 1949, passando a denominar-se Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) somente em 1965.
175
174
O crescimento desordenado expressa um processo intencional de reprodução das desigualdades
sociais. Segundo Villaça (1997, p. 1375), a segregação espacial das classes sociais se configura como
um elemento indispensável ao “exercício da dominação política e desigual apropriação dos recursos
do espaço enquanto produto do trabalho e como a força determinante da estruturação intra-urbana
(sic)”. Nesse aspecto, o espaço urbano tende a (re)produzir a estrutura gerada pelos interesses das
classes de altas rendas, pois elas, para esse fim, controlam a esfera econômica (destacando-se o
controle do mercado imobiliário), o Estado (no tocante à localização da infraestrutura, dos aparelhos
do Estado e da legislação de ocupação e uso do solo) e a ideologia (visando auxiliar a dominação e
torná-la aceitável pelos dominados).
177
175
Apesar de estar localizada próxima à Pampulha, a RHVN não foi beneficiada com investimentos ou
políticas públicas decorrentes do plano urbanístico concebido para aquela região (MINAS GERAIS,
2006b).
178
em primeiro lugar, porque, dada a falta de espaço no centro urbano, tais vilas
só podem ser construídas em bairros distantes, onde se consome no
transporte o que se economiza no aluguel; segundo, porque, mesmo se
tratando de ‘casa própria’, tem mostrado experiências que as classes menos
favorecidas raramente atingem a estabilidade econômica necessária para
possuí-la, donde o geral fracasso de tais tentativas. (BELO HORIZONTE,
1940, Preâmbulo).
176
Com delimitação das dimensões mínimas dos lotes (1.000m²) e impedimento à instalação de
qualquer atividade econômica em seu espaço. A mesma legislação foi utilizada para forçar uma
ocupação de alto padrão construtivo no Bairro Cidade Jardim criado a época (PLAMBEL, 1984).
179
177
Relevante mencionar que, apesar das iniciativas do Poder Público, a princípio, poucas indústrias se
instalaram no local, uma vez que persistiam os problemas concernentes ao fornecimento de energia
elétrica (apesar da construção da usina de Gafanhoto) e à precariedade do sistema viário, que
dificultava a distribuição da produção para os grandes centros do país. Sendo que, somente após o
governo resolver o problema de fornecimento de energia elétrica, com a criação da CEMIG –
Companhia Energética de Minas Gerais, em 1952, grandes empresas se instalaram no Distrito
Industrial de Contagem: Belgo Mineira, Mafersa, etc. (PLAMBEL, 1982).
180
178
Após a publicação do Decreto-Lei nº 148, de 17 de dezembro de 1938, que fixou a divisão territorial
do Estado, o distrito de Venda Nova foi anexado ao Município de Santa Luzia.
179
Em 1947, no contexto da redemocratização nacional, Belo Horizonte conquistou sua verdadeira
autonomia política. Com o fim da subordinação da prefeitura ao Estado, a cidade elegeu, pela primeira
vez, seu prefeito. Até então, todos os seus 30 prefeitos haviam sido nomeados. Naquele ano, Otacílio
Negrão de Lima (1947-1951) iniciou seu segundo mandato como representante do Poder Executivo
municipal, desta vez eleito pela população belo-horizontina. Por sua vez, a Câmara Municipal foi
organizada por meio do Decreto-Lei nº 213, de 22 de novembro de 1947 (KAMEL, 2007; GOMES;
CESARINO, 2011).
181
a cidade, antes de mais nada, é, também, a projeção no espaço físico da ação dos
diversos grupos sociais que a compõem (PLAMBEL, 1979). De todo modo, ainda que
o plano proposto não tenha se concretizado na prática, não se pode negar que, com
o tempo, a RHVN assume a condição de “cidade dormitório”, acolhendo a grande
massa da população operária que para lá se deslocava, atraída pelos preços dos
terrenos e condições mais acessíveis de compra e financiamento. Com o aumento
populacional, avolumam-se os problemas decorrentes do crescimento desordenado,
da falta de infraestrutura e de serviços urbanos essenciais, tais como: redes elétricas,
instalações de água, esgotamento sanitário, sistema viário, coleta de lixo, instituições
de ensino, prestação de serviços de saúde, centros de lazer, etc..
para 1.418, tendo como principais ramos de atividade: madeira, couro e pele, têxtil,
vestuário e calçados, alimentos, bebidas, editorial e gráfica; a demanda pelo consumo
de energia quase triplicou; a arrecadação de impostos aumentou mais de 700% (BH
100 ANOS, 1996).
A capital continuava sendo o principal centro de atração dos fluxos migratórios
da região metropolitana e do Estado, sendo considerada uma das seis primeiras
aglomerações urbanas do país, já anunciando sua forma posterior de aglomerado
metropolitano. Como consequência direta, houve o crescimento do mercado
imobiliário e uma maior atração de investidores, acarretando em substancial
valorização dos imóveis urbanos180, de modo que, a partir de 1947, os prefeitos da
capital, doravante eleitos pelo voto direto, passaram a dispensar maior atenção ao
replanejamento da cidade (KAMEL, 2007).
Em 1951, por força da Lei nº 232, a administração do prefeito Américo René
Gianetti cria o serviço do Plano Diretor181, objetivando a elaboração do Plano Diretor
da cidade e, igualmente, do Plano Diretor da RHVN. Para a execução dos trabalhos,
buscou-se a colaboração de técnicos eminentes, como o urbanista Francisco Prestes
Maia, que seria, a princípio, o consultor da Comissão Executiva do Serviço do Plano
Diretor, o arquiteto Oscar Niemeyer e o paisagista Burle Marx. Contudo, embora não
tenha havido a sua efetiva execução, os estudos empreendidos pelos consultores
resultaram em importantes recomendações, como: a construção de avenidas radiais
com a finalidade de interligar os diversos pontos da cidade, independentemente da
travessia no centro urbano da capital, garantindo a fluidez do tráfego no Município e
um crescimento urbano compatível com as normas de urbanização; a implantação da
lei de zoneamento; a elaboração dos planos diretores do Município; e a integração da
sociedade civil na obra do governo municipal, já que o povo não poderia ser alijado
das políticas de planejamento urbano (KAMEL, 2007).
Outro estudo que serviu de insumo de dados e informações e instrumento
básico para a elaboração dos Planos Diretores de Belo Horizonte foi a análise
metódica e multidisciplinar da estrutura urbana, elaborada pela Sociedade para
180
“Para se ter uma idéia (sic) da valorização de terrenos em BH, em dez anos, um lote, adquirido à
avenida Afonso Pena por 200 contos, passou a valer 4 milhões de cruzeiros” (BH 100 ANOS, 1996, p.
63).
181
Dentre as atribuições do Serviço do Plano Diretor foi prevista a realização de estudos e
planejamentos que compreendiam os aspectos relacionados ao cadastro imobiliário; à supervisão da
Planta Cadastral; ao zoneamento de áreas residenciais, comerciais, industriais, agrícolas,
universitárias, hospitalares e centros administrativos; às construções particulares e gabaritos de
prédios; aos núcleos residenciais e cidades jardins; e ao traçado de grandes avenidas e demais
logradouros públicos (art. 2º da Lei nº 232, de 08 de setembro de 1951).
183
182
Fenômeno urbano decorrente do processo de fusão de áreas urbanas, mais ou menos contíguas,
pertencentes a cidades distintas, estreitamente ligadas de um ponto de vista funcional (PLAMBEL,
1989).
185
183
A ausência de investimentos, por parte do Poder Púbico, para a melhoria da qualidade de vida na
região, associada ao descontentamento da população residente, resultou, em 1962, numa tentativa de
emancipação da RHVN. Contudo, o movimento foi veementemente rechaçado pela Assembleia
Legislativa do Estado de Minas Gerais (SILVA, 2000).
187
184
As duas primeiras Regiões Administrativas foram instituídas no mesmo ano de criação da RMBH.
188
185
Na reforma administrativa implantada em 2000, o Município alterou o status institucional dessas
divisões territoriais para Secretarias Municipais da Coordenação de Gestão Regional. Atualmente, as
circunscrições administrativas definidas territorialmente são geridas pelas Secretarias Municipais
Adjuntas de Administração Regional – SMAARs, com limites territoriais atualizados pela Lei nº 10.231,
de 20 de julho de 2011 (APCBH, 2008).
189
186
Em Minas Gerais, o processo de metropolização advindo da urbanização da capital e de sua
influência sobre os Municípios vizinhos, desde o fim da década de 1950, fomentou a delimitação da
RMBH em 1970, como resultado de estudos promovidos pelo governo do Estado. Em 1971, houve a
celebração de um convênio entre o Estado e os 14 Municípios da RMBH, a fim de propiciar o
planejamento metropolitano (PLAMBEL, 1986).
187
Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964 – dispõe sobre o condomínio em edificações e as
incorporações imobiliárias.
188
Lei nº 4.380, de 21 de agosto de 1964 – institui a correção monetária nos contratos imobiliários de
interesse social, o sistema financeiro para aquisição da casa própria, cria o Banco Nacional da
Habitação (BNH), e Sociedades de Crédito Imobiliário, as Letras Imobiliárias, o Serviço Federal de
Habitação e Urbanismo e dá outras providências.
189
Lei nº 4.864, de 29 de novembro de 1965 – cria Medidas de estímulo à Indústria de Construção Civil.
190
A RMBH, conforme art. 1º, §2º, da Lei Complementar nº 14, de 8 de junho de 1973, constituía-se
dos Municípios de Belo Horizonte, Betim, Caeté, Contagem, Ibirité, Lagoa Santa, Nova Lima, Pedro
Leopoldo, Raposos, Ribeirão das Neves, Rio Acima, Sabará, Santa Luzia e Vespasiano.
190
191
Ainda na década de 1970, foi criada a Companhia de Transportes Urbanos da Região Metropolitana
de Belo Horizonte – METROBEL, órgão técnico da instância estadual, com objetivo específico de
planejar os sistemas de transporte e trânsito da RMBH (ANDRADE, 2009).
191
A cidade como parte desse conjunto não fica imune a essa lógica e sua
organização visa basicamente o "formal produtivo" não oferecendo, contudo,
urbanidade ao seu usuário, a população: - os serviços públicos não atendem
satisfatoriamente a maior parte dos seus moradores, as condições de
habitação são precárias, as áreas de lazer segregadas, os locais de
encontros quase inexistentes. Enfim a cidade se organiza por funções e
portanto falta-lhe o "urbano". (PLAMBEL, 1982, p.131).
192
O entreposto do CEASA é o mais diversificado do país e ocupa o segundo lugar nacional em vendas
de hortigranjeiros (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2012a).
192
193
Além do lançamento desses loteamentos, houve uma intensificação na oferta habitacional para a
população de baixa renda a partir da atuação da Companhia de Habitação do Estado de Minas Gerais
– COHAB Minas, bem como das cooperativas habitacionais, na constituição e entrega de grandes
conjuntos habitacionais à população.
194
Todos os municípios da RMBH, com exceção de Belo Horizonte.
193
195
De acordo com o art. 45 da Constituição do Estado de Minas Gerais de 1989 (com redação dada
pelo art. 1º da Emenda à Constituição nº 65/2004), “considera-se região metropolitana o conjunto de
Municípios limítrofes que apresentam a ocorrência ou a tendência de continuidade do tecido urbano e
de complementaridade de funções urbanas, que tenha como núcleo a capital do Estado ou metrópole
regional e que exija planejamento integrado e gestão conjunta permanente por parte dos entes públicos
nela atuantes” (MINAS GERAIS, 1989).
196
De acordo com o art. 48 da CEMG/89 (com redação dada pelo art. 1º da Emenda à Constituição nº
65/2004), “considera-se aglomeração urbana o agrupamento de Municípios limítrofes que apresentam
tendência à complementaridade das funções urbanas que exija planejamento integrado e recomende
ação coordenada dos entes públicos” (MINAS GERAIS, 1989).
197
De acordo com o art. 49 da CEMG/89 (com redação dada pelo art. 1º da Emenda à Constituição nº
65/2004), “considera-se microrregião o agrupamento de Municípios limítrofes resultante de elementos
comuns físico-territoriais e socioeconômicos que exija planejamento integrado com vistas a criar
condições adequadas para o desenvolvimento e a integração regional” (MINAS GERAIS, 1989).
194
198
A partir de então, a gestão política na RMBH esteve a cargo da Assembleia Metropolitana (AMBEL),
composta pelos prefeitos dos Municípios que a integram, por vereadores destes Municípios, escolhidos
em quantidade proporcional ao seu número de habitantes, um representante da Assembleia Legislativa
do Estado de Minas Gerais e um representante do governo do Estado de Minas Gerais, todos indicados
pelos órgãos de origem, como disposto no art. 45, §§ 1º e 2º, da CEMG/89, e na Lei Complementar nº
26/1993, que estabelece as normas gerais relativas ao planejamento e à execução de funções públicas
de interesse comum, a cargo da região metropolitana, e dispõe sobre as atribuições, a organização e
o funcionamento da Assembleia Metropolitana da RMBH. Entretanto, a AMBEL sempre foi controlada
pelo governo do Estado e pelos Municípios mais populosos da RMBH (ANDRADE, 2009).
195
1973 LC nº 14/1973 Belo Horizonte, Betim, Caeté, Contagem, Ibirité, Lagoa Santa, 14
Nova Lima, Pedro Leopoldo, Raposos, Ribeirão das Neves,
Rio Acima, Sabará, Santa Luzia e Vespasiano
1989 CEMG/89 Brumadinho, Esmeraldas, Igarapé e Mateus Leme 18
1993 LC nº 26/1993 Confins (emancipado de Lagoa Santa), Juatuba (emancipado 24
de Mateus Leme), Mário Campos, São Joaquim de Bicas
(emancipado de Igarapé), São José da Lapa (emancipado de
Vespasiano) e Sarzedo (emancipados de Ibirité)
1997 LC nº 48/1997 Florestal e Rio Manso 26
1999 LC nº 53/1999 Baldim, Capim Branco, Itabirito, Itaguara, Matozinhos e Nova 32
União
2000 LC nº 56/2000 Jaboticatubas e Taquaraçu de Minas (exclusão do Município 33
de Itabirito)
2002 LC nº 63/2002 Itatiaiuçu 34
Fonte: Elaborado pelo autor
199
De acordo com a Lei Complementar Estadual nº 124, de 17 de outubro de 2012.
200
A título de informação, entre 2001 e 2015, o cargo de Governador do Estado de Minas Gerais foi
ocupado por Itamar Franco (PMDB), de 1999 a 2003; Aécio Neves (PSDB), de 2003 a 2010; Antônio
Anastasia (PSDB), de 2010 a 2014; Alberto Pinto Coelho Júnior (PP), de 2014 a 2015; e, finamente,
Fernando Pimentel (PT), governador em exercício, eleito em 2015. Por sua vez, a autoridade máxima
do Poder Executivo Municipal de Belo Horizonte ficou a cargo de Célio de Castro (PSB), de 1997 a
196
2002; Fernando Pimentel (PT), de 2002 a 2008; e, por fim, Márcio Lacerda (PSB), prefeito em exercício,
eleito em 2009 e, depois, reeleito em 2013.
201
Na Primeira Conferência Metropolitana, realizada em 2007, foram instalados o Conselho
Deliberativo e a Assembleia Metropolitana, e regulamentado o Fundo de Desenvolvimento
Metropolitano. De igual modo, informalmente foi criado o Colegiado Metropolitano, como apoio aos
membros da sociedade civil eleitos para o Conselho, com representações de 20 entidades dos diversos
segmentos, cuja atuação tem lhe concedido forte legitimidade, consolidando-o como um importante
agente de ampliação do processo participativo (MINAS GERAIS, 2011a; 2011b).
202
A Agência de Desenvolvimento Metropolitano, instituída pela Lei Complementar nº 107, de 12 de
janeiro de 2009, é uma autarquia territorial e especial, de caráter técnico e executivo, para fins de
planejamento, assessoramento, regulação urbana e apoio à execução das funções públicas de
interesse comum dos Municípios na região metropolitana (MINAS GERAIS, 2011a; 2011b).
203
O Fundo de Desenvolvimento Metropolitano é constituído de recursos provenientes do Estado (50%)
e do conjunto dos 34 Municípios da RMBH (50%) – cuja contribuição é proporcional as suas receitas
líquidas –, além de dotações orçamentárias, transferências do governo federal, operações de crédito
internas ou externas, doações, entre outros (MINAS GERAIS, 2011a; 2011b).
204
O PDDI-RMBH, concluído em dezembro 2010, foi contratado pela SEDRU, com recursos do Fundo
de Desenvolvimento Metropolitano, junto à Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas,
Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Fundação IPEAD), e elaborado por uma equipe
coordenada pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (CEDEPLAR), da Faculdade
de Ciências Econômicas (FACE), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com a
participação de pesquisadores de outras unidades de ensino superior e centros de pesquisa no Estado,
além de consultores nas áreas de planejamento urbano e ambiental, transportes, políticas públicas e
outros estudos setoriais (MINAS GERAIS, 2011a).
197
205
Nesse caso, entendidas como um espaço de referência para os cidadãos metropolitanos. As áreas
urbanas enquadradas nessa categoria possuem “alta densidade econômica, forte heterogeneidade de
usos, grande complexidade funcional e adensamento residencial”, e são caracterizadas pela
“concentração diversificada de emprego, comércio e serviços públicos e privados, assim como pela
acessibilidade privilegiada” (MINAS GERAIS, 2011a, p. 20). Em função da instalação do Centro
Administrativo do Estado de Minas Gerais e dos impactos oriundos dos investimentos realizados e
previstos para a região, o centro tradicional da Região Administrativa Venda Nova (RAVN) se consolida
como uma nova centralidade regional, “conurbado com Justinópolis em Ribeirão das Neves a oeste,
com a região da Pampulha ao sul e com [o] centro do São Benedito em Santa Luzia, incorporando
progressivamente áreas dos municípios de Vespasiano, Confins e Lagoa Santa” (MINAS GERAIS,
2011b, p. 58).
198
206
Abrangendo as Regiões Administrativas Pampulha, Norte e Venda Nova de Belo Horizonte e os
Municípios de Ribeirão das Neves, Santa Luzia, Pedro Leopoldo, Vespasiano, São José da Lapa;
Lagoa Santa e Confins.
207
Consiste no “Plano de Ações Imediatas” para o Vetor Norte que prevê as ações e projetos já
implantados ou em fase de execução, visando promover a ampliação da acessibilidade local e regional,
o desenvolvimento de empreendimentos de inovação tecnológica, a preservação de ativos ambientais,
culturais e científicos e a gestão compartilhada entre os atores envolvidos (MINAS GERAIS, 2008).
200
à nova ordem econômica e que seja compatível com o sofisticado padrão de consumo
daqueles que se pretende atrair para a região (CASTELLS; HALL, 1994; HARVEY,
2011b).
208
Designação dada a aeroportos que se constituem como os principais centros de operações de voos
comerciais (centro logístico e de serviço expresso), servindo de ponto de transferência do tráfego aéreo
para outros modais de transporte (MINAS GERAIS, 2010).
202
209
Forma urbana que compreende negócios intensivos em aviação e empresas relacionadas a partir
do núcleo. Conhecido como “cidade-aeroporto” ou “cidade da aviação”, é composto por instalações
logísticas, de distribuição, escritórios, hotéis, áreas residenciais, de serviços e recreação (MINAS
GERAIS, 2010).
210
O Rodoanel Norte, além de integrar Municípios de Leste a Oeste da RMBH, fará uma conexão entre
a BR-381, saída Vitória, com a mesma rodovia na saída para São Paulo, cruzando a BR-040, saída
Brasília, além de outras rodovias estaduais, como a MG-010 (MINAS GERAIS, 2011c).
211
Trata-se do complexo viário composto pela Rodovia Prefeito Américo Gianetti, comumente
conhecida por MG-010, e sua extensão urbana no Município de Belo Horizonte (Avenida Cristiano
203
Machado e Boulevard Arrudas), que se constitui como o principal eixo articulador viário do Vetor Norte
da RMBH, permitindo o acesso a diversos municípios que o compõem. As recentes obras de melhorias
e ampliação de sua capacidade integram um conjunto de medidas urbanístico-viárias adotadas pelo
Governo do Estado denominado como “Linha Verde”.
212
Associação civil de direito privado, de caráter científico, tecnológico, educacional e cultural, sem fins
lucrativos, fruto da parceria entre a UFMG, o governo do Estado de Minas Gerais, o Município de Belo
Horizonte, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (SEBRAE-
MG) e a Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG).
204
213
O PMDI corresponde a uma inovação da CEMG/89 no tocante à previsão de um novo instrumento
de planejamento integrado para o Estado. Elaborado em 2003, o PMDI estabelece estratégias do
governo para o desenvolvimento sustentável de Minas Gerais em longo prazo, a partir da definição de
metas para a construção do futuro, numa perspectiva de 20 anos. Em 2007, o PMDI passou por uma
revisão com o objetivo de consolidar os avanços já alcançados e garantir maior eficácia às ações
previstas até 2023, como forma de “tornar Minas o melhor Estado para se viver” (MINAS GERAIS,
2007, p. 9).
214
De acordo com o relatório de avaliação situacional de Belo Horizonte e de sua inserção no contexto
metropolitano, embora a cidade possua 95% de seu espaço físico já ocupado, o seu entorno
metropolitano ainda oferece ampla disponibilidade de espaços para a expansão sustentável, o que se
constitui em importante ativo estratégico para a atração de investimentos produtivos (PREFEITURA
MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, 2009b).
206
215
Nesse aspecto, relevante mencionar que o Estado de Minas Gerais vem ampliando sua participação
nas exportações brasileiras dos produtos intensivos em tecnologia e no grupo de setores com alto
potencial tecnológico, destacando-se no campo das biociências – por concentrar 28% das empresas
existentes no Brasil, e na capacidade inovativa – por possuir uma taxa de inovação mais elevada do
que a média nacional, segundo dados da última Pintec/IBGE de 2008. Belo Horizonte, por sua vez, é
considerada a principal aglomeração de empresas de biotecnologia da América Latina, além de incluir
as atividades de tecnologia de informação entre o leque de suas especialidades no setor de serviços.
Ainda, a cidade conta com uma rede de instituições científicas e de ensino (UFMG, UEMG, CEFET/MG,
CETEC/MG e universidades privadas); de incubadoras de base tecnológica consolidadas (Biominas,
Insoft, Inova – UFMG e Nascente – CEFET/MG) e de instituições de apoio e fomento à pesquisa
(FAPEMIG). Além disso, a UFMG é referência nacional na obtenção de patentes, sendo a única
universidade brasileira a entrar no ranking internacional da Organização Mundial de Propriedade
Intelectual (2009) de instituições com o maior número de patentes depositadas (FUNDAÇÃO JOÃO
PINHEIRO, 2012a).
216
Assim como as campanhas de city marketing ressaltadas por Delgadillo (2014), o PEBH estabelece
uma correspondência entre a imagem atrativa e positiva que se pretende para a cidade e os atributos
que deverão caracterizá-la como uma cidade do futuro, quais sejam: “cidade de oportunidades”; “cidade
saudável”; “cidade com mobilidade”; “cidade segura”; “cidade com todas as vilas vivas”; “cidade
compartilhada”; ”cidade sustentável”; “cidade de todos” (PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO
HORIZONTE, 2009a, p. 34).
207
217
“Art. 7º - São objetivos estratégicos para promoção do desenvolvimento urbano:
I - a consolidação do Município como pólo (sic) regional de aglomeração de serviços, mediante o
estabelecimento de condições para o estreitamento das relações entre:
a) as fontes de conhecimento científico, as de informação e as de capacitação tecnológica;
b) as empresas de serviços especializados e os clientes e os fornecedores destas;
c) as empresas de serviços especializados e os segmentos do mercado de mão-de-obra qualificada;
II - a criação de condições para a instalação de indústrias leves de alta tecnologia, para a especialização
industrial dos setores tradicionais e para a integração do setor industrial com as áreas industriais dos
municípios vizinhos;
III - a expansão do sistema viário e sua integração com o da região metropolitana, de modo a viabilizar
a sua participação na estruturação do desenvolvimento econômico, da ordenação da ocupação e do
uso do solo;
IV - a melhoria das ligações viárias com os municípios vizinhos;
V - a melhoria do sistema de transporte coletivo, mediante a criação de condições para a implantação
de rede multimodal, integrando os sistemas de capacidade baixa, média e alta;
(...)
XV - a criação de condições para a formação e a consolidação de centralidades;
(...)
XX - a promoção da integração metropolitana e da complementaridade dos investimentos, tanto na
prestação de serviços quanto na execução de obras de interesse comum;” (BELO HORIZONTE,
1996a).
218
“Art. 9º - São diretrizes da política de desenvolvimento econômico:
(...)
VIII - a delimitação de áreas com características ou potencialidades para a aglomeração de atividades
econômicas que visem à exportação;
IX - a priorização, na instalação de incubadoras de alta tecnologia, da localização próxima às
universidades e aos centros de pesquisa;
(...)
XVIII - o incentivo à pesquisa e produção de tecnologia de ponta, associadas à instalação e ao
desenvolvimento de indústrias, serviços e atividades comerciais que dela fazem uso;” (BELO
HORIZONTE, 1996a).
208
CASTELLS, 1997; WARD, 2004; FERREIRA, 2005, entre outros), visam garantir
competitividade, conectividade, inovação, flexibilidade institucional e fiscal, etc.
(ARANTES, 2002), para um Estado (PMDI) e uma cidade (PEBH) que, no horizonte
temporal de 2030, se pretendem melhores para se viver.
A ação deliberada do Poder Público, na reestruturação econômica do Vetor
Norte da RMBH, tem redesenhado as estruturas internas da Região Administrativa
Venda Nova, corroborando a tese da cidade como growth machine (LOGAN;
MOLOTCH, 1987). Forçoso verificar, então, se a reconfiguração socioespacial ocorre
de forma ordenada, mediante justa distribuição dos benefícios/ônus e equidade no
uso do espaço (art. 2º, inciso IX, do Estatuto da Cidade), ou de forma desordenada,
resultando em ameaça à permanência da população de baixa renda e/ou na piora de
suas condições de vida.
210
219
Nos autores Smith (1996); Criekingen (2006); Clark (2010); Bourne (2010); Rose (2010); Hamnett
(2010); Beauregard (2010); Marcuse (2010); Lees (2012); Betancur (2014); Savage et al. (2003);
Atkinson e Bridge (2005); Lees et al. (2007); Smith e Williams (2010); Davidson e Lees (2010); Casgrain
e Janoschka (2013).
211
220
O empreendimento é composto por 6 edificações principais, que se dividem em Palácio do Governo;
2 grandes edifícios que abrigam os órgãos da administração do Estado; Centro de Convivência e Apoio;
Auditório e prédio de Serviços, com capacidade para receber um contingente de 16 mil funcionários
por dia, provenientes das diversas secretarias e autarquias estaduais, antes localizadas em diversos
edifícios da área central da capital. Ainda, estima-se a frequência de um público flutuante médio de 10
mil pessoas, que são atraídas pelos serviços dispostos no local (MINAS GERAIS, 2006a).
221
No processo de elaboração do projeto, iniciado em 2003, o Governo do Estado avaliou as seguintes
opções locacionais da capital: (i) área da Polícia Militar, no bairro Prado; (ii) área do Exército, no bairro
Barro Preto; (iii) hipercentro da cidade; (iv) fazendas Capitão Eduardo e São José, na Região
Administrativa Nordeste; (v) Granja Werneck, na Região Administrativa Norte; (vi) área do Aeroporto
Carlos Prates, na Região Administrativa Noroeste; e, por fim, (vii) a área do Hipódromo Serra Verde,
na Região Administrativa Venda Nova (MINAS GERAIS, 2006a).
212
anúncio da escolha ocorreu no final do ano de 2005 e logo após, em fevereiro de 2006,
foi assinado o decreto de desapropriação da área.
“Processo civilizatório” este que, para ser justo, deve considerar a história, a
memória e as relações sociais das pessoas que residem na localidade, buscando a
equidade na apropriação e no uso do solo urbano. De forma que essa reconfiguração
espacial não seja acompanhada de práticas que expulsam e desenraizam a
213
população vulnerável. Mas, sim, com a melhoria das condições de vida dos
moradores, com estímulo à diversidade social e respeito à função social da
propriedade e da cidade (artigo 182 da CR/88).
Forçoso ressaltar que a realocação da sede do poder do Estado não
representa, tão somente, uma alteração localizacional, mas, acima de tudo, uma
mudança no significado das relações simbólicas e no locus tradicional da centralidade
urbana “– a Praça da Liberdade – símbolo político e espacial da modernidade e do
republicanismo, que marcaram fortemente a cidade e seus percursos” (MINAS
GERAIS, 2006a, p. 746). A implantação do CAMG na Região Administrativa Venda
Nova marca, nesse sentido, um novo momento da capital, cujo desenvolvimento se
dá, agora, em direção ao norte metropolitano.
O caráter simbólico ímpar dessa nova centralidade é realçado em alguns
relatos de moradores e ex-moradores da AEVN, cujas falas sugerem certo
enaltecimento da população local, que se sentia negligenciada pelo Poder Público,
excluída das políticas de desenvolvimento econômico, social e cultural efetivadas em
outras regiões da cidade. A partir dos depoimentos dos entrevistados, é possível
perceber uma mudança no tratamento anteriormente dispensado aos venda-
novenses pelos demais moradores da cidade – em regra, desdenhoso e depreciativo.
A título exemplificativo, citam-se:
Eu vou usar um pouco uma parábola entre esse papel exatamente. Nós agora
estamos no centro do Centro Administrativo, né. Então, agora os olhos estão
voltados pra cá. Então, a tendência é crescer e tornar-se até mais bonito em
função do Centro Administrativo, que é um grande ganho até para emprego
das pessoas aqui também, né. E outros agregados que ganham em função
disto, né, do transporte. Aí teve que melhorar a [Avenida] Cristiano Machado,
a [Avenida] Antônio Carlos. Então, trouxe o quê? O desenvolvimento também,
né. E é muito bonita a Cidade Administrativa. Ela é um marco pra Venda
Nova, que estava esquecida, né. Única parte esquecida. Ela era esquecida.
No meu ponto de vista, eu como uma construtora daqui, de projetos de médio
porte. Mas é um desenvolvimento muito [grande]. Quem te viu, quem te vê.
[...]. Vai ser a longo prazo esse reflexo. Porque tudo em volta está sendo feito
ainda, né. E, também, vamos supor que esse marco de uma grande
construção, de uma edificação que nós não tínhamos nenhuma desse porte.
Ela agrega a você a fazer mais coisas aqui. Quem veio? Quem é o funcionário
[público] que tá ali. Porque aquilo ali não vai sair mais dali. Então, você vai
querer morar por aqui perto. E vai melhorar também, né. Então, você vai atrair
mais condomínios, que vão ter ali. Que é interessante. Que já está tendo.
Então, qual a visão? Quem tá vendo? Qual é o expurgo que tá sendo
214
incomodado? Porque foi expurgado. O Morro Alto222 foi expurgado tudo que
era ruim, que era decadente, né (MA-7)223.
"[A Cidade Administrativa], eu acho que foi algo positivo para a região. Eu
acho que deu um status, sabe. Eu percebo isso, que as pessoas sentem um
certo orgulho. Eu moro numa região que tem a Cidade Administrativa, sabe.
Pelo menos as pessoas do bairro têm essa questão, assim. Eu acho que
melhorou sim, nesse sentido. [...]. Simbolicamente é um poder político, né. A
Cidade Administrativa representa. Então, você morar perto disso é a mesma
coisa que você morar, igual, antigamente, que era a Praça da Liberdade, né.
Morar próximo da Praça da Liberdade era um luxo, né. Então, hoje, fazer
parte desse meio, eu percebo que as pessoas sentem um certo orgulho de
estar próximo desse grande símbolo do Estado. Então, eu percebo isso. [...].
Venda Nova é a periferia, né. É a periferia. Então, sempre tem esse olhar
realmente, principalmente dos outros setores pra essa região. Por exemplo,
eu tenho uma amiga que, ela mora na região centro-sul e ela trabalha no
[banco] Itaú próximo à Cidade Administrativa. E ela achava um absurdo a
valorização dos imóveis lá, pelo fato da Cidade Administrativa. E ela falava:
nossa, mas nessa região. Isso não vale! Porque tem toda aquela ideia da
periferia mesmo. De tudo que era antes. E ainda tem, claro, todos os
problemas. Mas eu percebo que tinha sim, essa imagem [ruim]. [Com a
Cidade Administrativa, essa imagem está mudando]. Tá mudando pela
estrutura, por tudo que a região tá oferecendo (MR-2)224.
222
Trata-se do bairro Morro Alto do Município de Vespasiano, localizado em área limítrofe ao CAMG,
cuja implantação resultou na remoção de famílias pobres que residiam na região.
223
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 14 jul. 2015.
224
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 30 jun. 2015.
215
O estigma do lugar pode ser observado, então, nos atores sociais quando
declaram sua localização no espaço belo-horizontino, onde a periferia é vista como
distante e a sua população como pobre e desqualificada (MARCUSSO, 2014). Assim,
“o direito a ter direito é expresso ou negado, abnegado ou reivindicado a partir de
lugares concretos: o morar, o estudar, o trabalhar, o divertir-se, o viver saudavelmente,
o transitar, o opinar, o participar” (KOGA, 2011, p. 33).
Esta articulação espaço-indivíduo é corroborada por Santos ao afirmar que:
cada homem vale pelo lugar onde está; o seu valor como produtor,
consumidor, cidadão depende de sua localização no território. Seu valor vai
mudando incessantemente, para melhor ou para pior, em função das
diferenças de acessibilidade (tempo, freqüência (sic), preço) independentes
de sua própria condição. Pessoas com as mesmas virtualidades, a mesma
formação, até mesmo o mesmo salário, têm valor diferente segundo o lugar
em que vivem: as oportunidades não são as mesmas. Por isso, a
possibilidade de ser mais ou menos cidadão depende, em larga proporção,
do ponto do território onde se está. (SANTOS, 2007, p. 107).
225
Trata-se da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (SUDECAP), autarquia municipal
responsável pela execução das obras de infraestrutura urbana e dos bens imóveis públicos do
Município de Belo Horizonte.
226
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 14 jul. 2015.
216
227
A implantação do projeto envolveu a remoção de residências (883) e de comércios (74) situados
nos aglomerados subnormais (IBGE, 2014) que ficavam às margens das vias que sofreram intervenção
(PEREIRA; CAMPOS, 2009a). “Sob essa condição, a idéia (sic) de remoção/varredura dos indesejáveis
(...) parece permear a formatação do projeto” (PEREIRA; CAMPOS, 2009b, p. 6).
228
Em síntese, trata-se de obra de requalificação urbana destinada ao capeamento do ribeirão Arrudas
nas Avenidas Andradas e do Contorno, com intervenção paisagística em todo o boulevard (MINAS
GERAIS, 2008).
229
Cargo, no período, ocupado por Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB),
o qual foi eleito governador do Estado de Minas Gerais em 2002 e, depois, reeleito em 2006.
217
230
Propõem-se a estruturação do sistema viário metropolitano em rede, em detrimento da distribuição
viária radial então existente, como forma de fortalecer as diversas centralidades (novas e antigas) e
promover a integração das mesmas à metrópole, criando uma articulação entre elas, além de reduzir a
necessidade de acessar o núcleo central da capital (MINAS GERAIS, 2011a, 2011b).
218
MG-010. Além dos Municípios de Betim e Sabará, a rodovia passará por Contagem,
Ribeirão das Neves, Pedro Leopoldo, Vespasiano e Santa Luzia, permitindo que o
tráfego de veículos de carga e de passeio nas rodovias federais BR-262 e BR-381
(tráfego de passagem231) ocorra sem adentrar Belo Horizonte (PREFEITURA
MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, 2008a, 2008b).
Deste modo, a implantação do Rodoanel Norte favorecerá as atividades da
plataforma logística de desenvolvimento industrial voltada para exportação, ao
melhorar a acessibilidade do AITN e sua ligação com as principais áreas industriais
da RMBH, permitindo a criação de novas demandas e sinergias entre as regiões
metropolitanas localizadas sob a sua área de influência (PREFEITURA MUNICIPAL
DE BELO HORIZONTE, 2008b).
231
Estima-se que o Rodoanel Norte desviará do atual Anel Rodoviário, aproximadamente, 90% do
tráfego de veículos de carga e 30% dos veículos de passeio (PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO
HORIZONTE, 2008b).
219
232
Com as obras já iniciadas, o empreendimento será edificado na Região Administrativa Norte (divisa
com a Região Administrativa Venda Nova), em uma área margeada pela Avenida Cristiano Machado
(“Linha Verde”), em frente à estação do metrô Vilarinho.
220
221
222
Na esteira do AITN, do CAMG, da “Linha Verde” e do Rodoanel Norte, ocorre
uma significativa valorização fundiária na região, estimulando a atuação dos agentes
econômicos e intermediários que veem no novo arranjo territorial uma forma de
ampliar as possibilidades de investimento do capital (inclusive de caráter especulativo)
e a extração de renda adicional. Além disso, a diminuta extensão territorial de Belo
Horizonte e a escassez de terras para novos empreendimentos nas demais Regionais
do Município233 contribuem para intensificar a atuação dos agentes econômicos no
Vetor Norte, dinamizando o mercado imobiliário do entorno.
O próprio PDDI-RMBH aponta o forte aquecimento no mercado imobiliário da
região, a verticalização nas áreas melhor servidas de infraestrutura e mais próximas
do CAMG, “cuja implantação tem gerado grande valorização no entorno”, a
especulação em relação ao preço dos imóveis e a intensificação do número de
condomínios residenciais fechados voltados para as classes mais abastadas (2011b,
p. 50). Nesse sentido, parcelas consideráveis da população com maior poder
aquisitivo veem se estabelecendo em condomínios fechados exclusivos,
estrategicamente localizados nos Municípios que compõem a área de influência
desses empreendimentos.
Dentre os novos “enclaves fortificados” (CALDEIRA, 2000) previstos para o
Vetor Norte, citam-se: (ii) o “Alphaville Minas Gerais”; (ii) o “Precon Park”; (iii) o
“Reserva Real – Condomínio Resort”; (iv) o “Porto do Rio Golfe Village Resort”
(MINAS GERAIS, 2008).
O condomínio residencial “Alphaville Minas Gerais”, em Vespasiano, está
localizado às margens da “Linha Verde”, próximo ao CAMG. O empreendimento
possui 542 lotes residenciais (todos vendidos no lançamento), com áreas de 450 a
790 metros quadrados, completa infraestrutura e abrigará áreas comerciais e um
clube de 14.751 m², com estruturas destinadas ao descanso à recreação e à prática
de esportes pelos moradores (ALPHAVILLE URBANISMO, 2015). As obras, iniciadas
em 2014, estão em fase adiantada de execução (com toda a terraplanagem, redes de
drenagem e esgoto concluídos) e têm entrega prevista para 2015 (FRANCO, 2014a).
O “Precon Park” (“Terras Fidalgo”) ocupará uma área aproximada de 11
milhões de m², localizada entre os Municípios de Pedro Leopoldo, Lagoa Santa e
Confins. O empreendimento será composto por quatro parques de usos mistos:
233
Aproximadamente 95% do espaço físico de Belo Horizonte está ocupado, restando poucas áreas
‘desocupadas’ e com restrições variadas” (MINAS GERAIS, 2006b; PREFEITURA MUNICIPAL DE
BELO HORIZONTE, 2009b).
223
negócios; ciência e tecnologia (no qual já se encontra em funcionamento uma
faculdade: a Fundação Pedro Leopoldo); residencial e esportivo, divididos entre os
setores Norte e Sul. Por privilegiar a miscigenação de usos, o projeto engloba, no
mesmo espaço: (i) empresas; (ii) centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D); (iii)
condomínios residenciais uni e multifamiliares, de padrões médio e de luxo; (iv)
instituições de ensino; (v) centros comerciais, incluindo um shopping center; (vi)
centro de convenções; (vii) hotéis; (viii) áreas de entretenimento, de esporte
(incluindo um estádio de múltiplo uso para 35 mil expectadores), de lazer (com um
parque de diversões/temático) e de saúde. As obras foram iniciadas no primeiro
semestre de 2015 (MINAS GERAIS, 2008; PRECON, 2008)
Além disso, prevê-se a instalação do “Fashion City Brasil”, considerado o maior
centro de distribuição da moda nacional em um shopping de atacado composto por
550 lojas. As obras desse empreendimento foram iniciadas em setembro de 2013,
com previsão de entrega para 2015 (MINAS GERAIS, 2008; PRECON, 2008;
FASHION CITY BRASIL, 2015).
De acordo com Bruno Dias, presidente da Precon,
234
No mesmo sentido, o estudo de impacto ambiental elaborado para a implementação do CAMG
ressalta a necessidade de adoção de políticas públicas que promovam a ocupação regional por um
público diversificado – o social mix ressaltado por Lees (2008) e Mendes (2012) –, a fim de evitar a
expulsão da população original e a consequente elitização da região (MINAS GERAIS, 2006a).
226
favorecer o seu desenvolvimento – novos fluxos de pessoas, de mercadorias, de
serviços e de capital (MINAS GERAIS, 2014).
Como ressaltado por Rolnik,
235
Cabe ressaltar que parte do empreendimento (Estação Vilarinho) estava em operação desde 2002,
época em que o serviço de metrô entrou em atividade na região. Ao projeto original, foram acrescidos
uma estação de ônibus (integrando ônibus e metrô) e um centro comercial (CBTU, 2005b).
236
Empresa responsável pela implantação, gestão e operação do metrô de Município de Belo Horizonte
(CBTU, 2005a).
228
A modernização do sistema de transporte público inclui, ainda, a implantação
da Estação de Integração Venda Nova237, localizada na Rua Padre Pedro Pinto, com
operação intramodal, integrando ônibus-ônibus do MOVE238 municipal. A implantação
do MOVE segue a lógica de integração tronco-alimentada, com linhas de ônibus
alimentadoras partindo dos bairros em direção às estações de integração e vice-versa,
e linhas troncais partindo dessas estações em direção ao hipercentro e demais polos
urbanos (BHTRANS, 2008, 2012). Para receber o MOVE, houve a
ampliação/adequação da capacidade das Avenidas Cristiano Machado, Antônio
Carlos, D. Pedro I e Vilarinho (principais vias de acesso à AEVN e região),
consolidando, assim, as intervenções procedidas no sistema de mobilidade urbana no
período 2005-2014 (BHTRANS, 2014).
A instituição do MOVE no PlanMob-BH239 levou em conta a estimativa da matriz
de viagens (no horizonte de 2020), com base nas tendências de crescimento
populacional do Município, no número de postos de trabalho criados com a instalação
do CAMG e dos deslocamentos diários dos seus respectivos usuários, dentre outras
informações. O MOVE constituiu, assim, uma alternativa ao atraso na ampliação do
sistema de metrô do Município, visando tornar a mobilidade urbana um fator positivo
para o ambiente de negócios metropolitano e, também, garantir maior mobilidade à
população, principalmente no período de realização dos jogos da Copa do Mundo de
2014, em que Belo Horizonte figurou como uma das cidades–sede (BHTRANS, 2012).
Evento, inclusive, que fortaleceu os projetos de intervenção urbana e a governança
empreendedorista neoliberal que já vinham sendo adotados em Belo Horizonte e no
Vetor Norte da RMBH240 (SANTOS JUNIOR, 2014).
237
A Estação, que operava desde 2000, foi reformulada e passou a integrar o MOVE em 2014.
238
Denominação do sistema de transporte coletivo por ônibus do Município de Belo Horizonte – BRT
(Bus Rapid Transit). É composto por: (i) uma rede de vias preferenciais ou exclusivas em importantes
corredores municipais e (ii) estações de integração e de transferência ao longo das Avenidas Vilarinho,
Antônio Carlos, Cristiano Machado, Paraná, Pedro I, Santos Dumont. Integrante do Plano Diretor de
Mobilidade Urbana de Belo Horizonte (PlanMob-BH), o MOVE realiza a conexão entre o hipercentro e
o Vetor Norte de Belo Horizonte, atendendo, também, os Municípios circunvizinhos, em sua versão
intermunicipal – MOVE Metropolitano (BHTRANS, 2012).
239
Elaborado em conformidade com o art. 41, §2º, do Estatuto da Cidade: “No caso de cidades com
mais de quinhentos mil habitantes, deverá ser elaborado um plano de transporte urbano integrado,
compatível com o plano diretor ou nele inserido” (BRASIL, 2001).
240
O Planejamento Estratégico para a Copa de 2014 divulgado, em abril de 2010, pelo Governo do
Estado previa, dentre outras obras: a ampliação da capacidade do sistema de transporte do BRT
Cristiano Machado e do BRT Antônio Carlos (corredor rápido de ônibus com a função de ligar o AITN
à região hoteleira e ao centro, com estação próxima ao Estádio Mineirão). No tocante ao marketing
urbano, objetivava divulgar a imagem de Belo Horizonte e de Minas Gerais nacional e
internacionalmente, para consolidar a cidade como destino turístico do Brasil (AGÊNCIA MINAS, 2010,
2011; PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, 2010).
229
Quando comparada a acessibilidade e a qualidade dos serviços de transporte
público de outrora com a atual rede de mobilidade da região, os entrevistados apontam
uma significativa melhoria. A título exemplificativo, a entrevistada MA-9 ressalta que:
Hoje tem metrô. Tem o MOVE que melhorou. O pessoal reclama muito: ah,
porque você não pega todo dia! Mas para quem já passou o que eu passei.
[...]. Quando eu vou ao centro [de Belo Horizonte], eu não vou de carro, eu
vou de ônibus. Então, assim, eu acho o MOVE um luxo. Quando eu
trabalhava, [...], eu levantava cedo. Eu tinha que levantar 5:30hs da manhã,
pra chegar na cidade às 8hs., porque era um trânsito infernal. Não tinha
metrô. Do trabalho eu ia pro Santa Tereza, no [Colégio] Tiradentes. [...] Saía
de lá às 23hs., chegava em casa 1h. da manhã. Quando chovia, [...], tinha
uma ponte na entrada de Venda Nova, você não sabia se a ponte estava lá
ou não. [...]. Então, você que ir pro centro, você quer andar mais rápido, vai
de MOVE ou vai de metrô. Lógico que não estou falando da hora que o
pessoal, o trabalhador vai apertado, né. Isso aí, eu acho que é coisa que tem
que resolver mesmo. Então, assim, quando eu vou de MOVE, é ar
condicionado, é rápido, né. Mesmo que for em pé. Porque na época eu ia em
pé, pendurada na porta, entendeu? E chegava toda amassada lá no trabalho.
[...]. Tem ônibus que circula só em Venda Nova. [...]. Eu acho Venda Nova
uma cidade. [...] o movimento que tem na rua. Às vezes eu saio, assim, e fico
olhando como tem movimento. É como se tivesse no centro da cidade de Belo
Horizonte. [...]. Então, assim, é uma mobilidade super fácil e antigamente não
[era]. (MA-9)241.
241
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 02 jul. 2015.
230
RMBH, constituindo-se no primeiro shopping de grande porte da região. Entre as 207
lojas do centro comercial incluem-se lojas âncoras como: C&A, Fastshop, Marisa,
Casas Bahia, Polishop, Renner, Centauro, Riachuelo, RiHappy, Dadalto, Ricardo
Eletro, Ponto Frio, Leitura, Lojas Americanas, Leader, Boticário, Le Postiche, Hering,
By Tennis, TNG, Chilli Beans, Adidas, etc., algumas inéditas na localidade. Além da
ampliação da oferta de comércio e de serviços, o estabelecimento dispõe de salas de
cinema e teatro, disponibilizando novas alternativas de lazer para a população.
242
Em 2007, houve a inauguração do Centro Cultural Venda Nova (CCVN), construído com recursos
do Orçamento Participativo. O CCVN possui biblioteca, sala de exposições, auditório, anfiteatro,
administração e uma grande área externa ajardinada. A programação mensal inclui cursos, oficinas e
encontros de grupos culturais da região (PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, 2012a).
243
Relevante mencionar que a ampliação dos estabelecimentos privados de ensino superior na Região
Administrativa Venda Nova acompanhou o incremento da oferta de vagas dessa modalidade de ensino
no país, em decorrência das estratégias e programas adotados pelo Governo para facilitar o acesso ao
ensino superior, como o Programa Universidade para Todos (ProUni), criado em 2005.
231
Kennedy244, Faculdade Faminas245, Faculdade Pitágoras-INED246, Instituto Metodista
Izabela Hendrix247, FACEMG – Faculdade de Ensino de Minas Gerais/Instituto Belo
Horizonte de Ensino Superior – IBHES248, FGV – Fundação Getúlio Vargas/IBS
Business School de Minas Gerais249, Centro Universitário Una250, Centro Universitário
Estácio BH251); (iii) centros de saúde públicos (Hospital Risoleta Tolentino Neves –
HRTN252, Unidades de Pronto Atendimento – UPAs) e privados (Hospital da
Unimed253, Centro de Nefrologia do Hospital Evangélico – Unidade Venda Nova254),
redes de supermercados e farmácias; concessionária de veículos, entre outras
atividades comerciais que, até então, eram inexistentes ou limitadas na região.
Quando comparada a disponibilidade de estabelecimentos comerciais e de
serviços de antigamente com a atual rede comercial e de serviços existente, os
entrevistados apontam uma significativa transformação da região. Relatam, inclusive,
que muito raramente precisam ir até o centro de Belo Horizonte para fazer compras
ou obter a prestação de serviços diversos, porquanto são bem atendidos em relação
a estas necessidades na própria região. Para ilustrar, reproduz-se abaixo trechos de
algumas das entrevistas realizadas com os moradores e ex-moradores da AEVN:
244
Até então, a antiga Escola de Engenharia Civil Kennedy, inaugurada em 1964, era a única instituição
de ensino superior localizada na Região Administrativa Venda Nova. Em 2005, as atividades de ensino
da instituição foram ampliadas, passando a oferecer novos cursos de graduação e de pós-graduação
lato sensu.
245
Inaugurada em 2003, ao lado da Estação Vilarinho, oferece cursos de graduação e de pós-
graduação lato sensu.
246
Inaugurada em 2007, na Rua Padre Pedro Pinto, na AEVN, também ofertando cursos de graduação.
247
O “Campus Vetor Norte”, localizado na Região Administrativa Venda Nova, foi inaugurado em 2009
e oferece cursos de graduação e um polo de EAD – Ensino a Distância.
248
Localizada na AEVN, a primeira unidade entrou em atividade em 2009 e a terceira em 2015. Todos
os Campi estão situados na Avenida Vilarinho, na AEVN, e oferecem cursos superiores e tecnológicos.
249
A unidade “Vetor Norte – BH”, inaugurada em 2012, está instalada na Avenida Vilarinho, na AEVN,
e oferece cursos de graduação e de pós-graduação lato sensu.
250
O “Campus Linha Verde” foi inaugurado em 2012 e está localizado na Av. Cristiano Machado, na
Região Administrativa Venda Nova, com a oferta de cursos técnicos, superiores e de pós-graduação
lato sensu.
251
Unidade inaugurada em 2015, na Rua Padre Pedro Pinto, na AEVN, com oferta de cursos de
graduação.
252
Inaugurado em 2006, o HRTN é responsável pela assistência aos pacientes de urgência clínica e
cirúrgica, traumatológica e não traumatológica da população residente no eixo Norte da RMBH,
englobando, além de Belo Horizonte, os Municípios de Ribeirão das Neves, Vespasiano, Santa Luzia,
Pedro Leopoldo, Matozinhos, Confins, Esmeraldas, Jaboticatubas, Contagem e São José da Lapa.
253
Inaugurado em 2013, o Centro de Promoção da Saúde Unimed, localizado na Avenida Pedro I,
surge como uma opção de atendimento mais próxima para os clientes que residem no Vetor Norte da
RMBH, minimizando a lacuna da rede assistencial na região.
254
Inaugurado em 2014, na Rua Padre Pedro Pinto, na AEVN, o Centro está direcionado ao
atendimento de pacientes portadores de doença renal crônica, advindos da RMBH.
232
comércio era muito pouco. Era restrito à [Rua] Padre Pedro Pinto. Agora, não.
Agora a [Avenida] Vilarinho já é uma rua mais comercial. E a [Rua] Padre
Pedro Pinto é totalmente comercial. Mudou tudo (MR-1)255.
Veio muitas lojas, né. Vamos pensar, da minha adolescência mesmo, é, não
tinha Ponto Frio. Porque eu lembro uma vez que meu pai foi comprar uma
máquina de escrever pra mim, a gente tinha que ir pro centro [de Belo
Horizonte]. Não tinha Ricardo Eletro, Ponto Frio, C&A, não tinha essas lojas
assim. Era mesmo na região central. Lojas Americanas. [...]. Bancos. E, hoje,
Venda Nova [AEVN] tem quase todos os bancos aqui. Os grandes bancos,
em Venda Nova [AEVN] você tem. Você não precisa ir para o centro de Belo
Horizonte pra fazer nada. [...]. Então, eu não vou no centro. Então, eu faço
tudo em Venda Nova [AEVN]. Então, assim, se eu precisar de banco, se eu
precisar de comprar, qualquer lugar eu vou aqui em Venda Nova [AEVN].
Então, assim, eu não vou na área central pra nada (EXM-5)256.
Coisas, assim, de grande impacto, tem o campus das faculdades que estão
lá [...]. Aquele centro comercial, ele é muito grande. Inclusive, no final de
semana eu evito tirar meu carro da garagem pra poder ir pra lá, porque é um
horror. É um caos. É pior do que você descer pro centro da cidade na hora
do rush. [...]. Ali você tem muito comércio, você tem shopping popular, você
tem as farmácias, você tem aquelas lojas bem típicas de lojas de bairro
mesmo, né. É, lanchonetes e os bancos, né. Então, aquilo ali que faz
movimentar aquela região toda e desde que eu me entendo, sempre foi
daquele jeito. [...]. Por exemplo, há 15 anos atrás, vamos voltar lá pra 2001,
não existia Ponto Frio, Ricardo Eletro, Casas Bahia, não existia. É, o Ponto
Frio tem um pouco mais de tempo que ele tá lá. Eu casei em 2002 e nessa
época eu comprei minha televisão no Ponto Frio de Venda Nova [AEVN].
Então, o Ponto Frio de Venda Nova [AEVN] tem, mais ou menos, esse tempo
aí. Mas, por exemplo, o Ricardo Eletro chegou um pouco depois. O Magazine
Luiza e Pernambucanas chegaram tem 5-6 anos. [...]. [Lojas] Americanas,
chegou [Lojas] Americanas na [avenida] Vilarinho, quase em frente ao
Shopping Norte. Ela, dessas lojas conhecidas, ela é a mais nova. [...]. Acho
que, hoje, a única coisa que, assim, eu seria obrigado a sair de Venda Nova
[AEVN], pra fazer na região central, seria questões relacionadas à carteira de
motorista, Detran. [...]. Tudo o que você for precisar, de ir ao médico, eu posso
ir lá. Eu tinha um plano de saúde da Unimed. A Unimed fez um hospital bem
grande ali na [avenida] Pedro I, né. Então, muito mais cômodo pra mim. Antes
[do Hospital] da Pedro I, também, eu fazia consulta nas clínicas de lá, que
tinham convênio. Até carro eu comprei ali na região. [...]. Agora tem. No
Shopping Norte, abriu uma concessionária grande lá. A Sinal da Fiat. Bem
grande. Relativamente grande. Boa concessionária. De carro usado é o que
mais tem. [A concessionária Sinal] é recente. Ela tem uns 3 anos. É bem
nova. [...]. Hoje, você só vai ao centro [de Belo Horizonte] se quiser. Porque,
o que tem no centro, hoje, tem lá na região (MA-2)257.
Hoje em dia, você consegue ver lojas que, talvez, pela renda da região, não
teria. E hoje em dia já tem. Tem uma loja de móveis [...], que até que minha
mãe gosta bastante, que ela tem no Ponteio [Lar Shopping]258. E ela é uma
loja, assim, que, eu acho que pelo preço, é tipo uma tok stok [...]. Pelo preço,
assim, eu acho que não viria pra cá. Talvez veio pelo fato de, né, construir
novas habitações, pessoas que trabalham na Cidade Administrativa, pessoas
de renda melhor vai poder, agora, mobiliar a casa por lá. Pensei por esse
nicho porque minha mãe gosta muito de comprar coisas pra casa e eu lembro
255
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 01 jul. 2015.
256
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 07 jul. 2015.
257
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na cidade de Betim em 01 jul. 2015.
258
Trata-se de um shopping center localizado em uma região nobre de Belo Horizonte, na Região
Administrativa Centro-Sul, que abriga diversas lojas especializadas em arquitetura, design e decoração,
voltadas para a venda de mobiliário e eletrodomésticos para classes com elevado nível de renda.
233
muito dela falando: nossa nunca imaginei que essa loja viria pra cá! Tipo
assim, não tem nada a ver. Pelo fato de só ter no Ponteio essas lojas mais
requintadas e com um preço superior. [Em relação ao Shopping Estação BH],
eu acho que trouxe benefício sim. Por exemplo, cinema, eu acho um cinema
bom. Que a região não tinha. A gente tinha um cinema, [...] ainda tem, né, um
cinema do Shopping Norte259 que é irrisório, assim. Chega a ser até
vergonhoso. Mas, assim, é um cinema legal. Eu vou mais, por causa do
cinema. Mas eu sinto, assim, que o shopping fica completamente lotado e
você percebe que é, eu acho particularmente, que é região de Venda Nova
todinha ali dentro. Ele fica muito cheio. É um shopping que veio, que a galera,
sei lá, a galera abraçou. Porque tava precisando daquilo. Ou porque ia pro
[Shopping] Del Rey ou porque ia pro Minas [Shopping]260, que é um pouco
mais longe. Querendo ou não é longe, né. E ali é muito próximo. Então, ele
fica bastante cheio. Tanto das pessoas que vai só pra comer ou gente que
vai pra comprar, divertir. Tá sempre cheio (MA-6)261.
259
Inaugurado em 1997, foi o primeiro shopping a ser instalado na AEVN, cujas características se
assemelham aos chamados “mini-shoppings de bairro”, face ao mix de lojas limitado. Atualmente, o
Shopping Norte abriga um supermercado (EPA Plus) e uma concessionária de veículos zero da marca
Fiat, além de outros estabelecimentos comerciais e de serviço.
260
O Shopping Del Rey encontra-se situado na Avenida Presidente Carlos Luz (Região Administrativa
Pampulha), enquanto o Minas Shopping está localizado na Avenida Cristiano Machado (Região
Administrativa Nordeste). Ambos foram inaugurados em 1991 e, devido à localização, são referência
de consumo e entretenimento para a população da Região Administrativa Venda Nova.
261
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 06 jul. 2015.
262
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 17 jun. 2015.
234
Contudo, ainda que se admitam as externalidades positivas do processo de
reestruturação urbana da AEVN e a melhoria da qualidade de vida da população local,
é preciso reconhecer que as benesses não necessariamente atingem o grupo social
que originalmente ocupava a região. Diante da valorização da AEVN, os antigos
moradores, de rendas mais baixas, acabam não resistindo ao encarecimento da terra
e do custo de vida, tornando-a inacessível para esse segmento da população. Por
falta de alternativas, a população pobre acaba sendo “expulsa” para mais longe,
evidenciando o processo de gentrificação da área.
263
Em 2000, procedeu-se à primeira revisão do Plano Diretor de Belo Horizonte (Lei nº 8.137/2000).
Nesse mesmo ano, foi instituído o Plano Diretor Regional de Venda Nova pelo Decreto nº 10.251/2000,
a fim de promover a descentralização administrativa e ordenar o desenvolvimento socioeconômico do
principal vetor de crescimento do Município. Em 2010, o Plano Diretor Municipal foi novamente revisto
(Lei nº 9.959/2010), adequando-se às diretrizes do Estatuto da Cidade. Atualmente, após a conclusão
da IV Conferência Municipal de Política Urbana, realizada entre os meses de fevereiro e agosto de
2014, promove-se a revisão das normas que regem a política urbana do Município e da RAVN, bem
como a elaboração do Projeto de Lei relativo à revisão/regulamentação das respectivas legislações
urbanísticas (PAZ, 2000; PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, 2012b).
235
aqueles destinados à locação, nos meses de janeiro e julho, no período de 2001 a
2013. A menção aos anos mais recentes objetiva demonstrar a elevação contínua do
valor da terra, corroborando a tese de que o processo de gentrificação segue um curso
constante.
Forçoso ressaltar que a utilização dos anúncios de imóveis como fonte de
informação do mercado imobiliário da AEVN apresenta a desvantagem de não retratar
o preço do imóvel ou do aluguel de fato transacionado, dada à eventual diferença
entre o valor anunciado e o valor de venda ou locação. Contudo, parte-se da hipótese
de que a evolução dos respectivos valores tenha tendências semelhantes no médio e
longo prazo. Tal metodologia é utilizada em países como Áustria, Espanha, EUA,
Hungria e Inglaterra, sendo também adotada pela Fundação Instituto de Pesquisas
Econômicas – FIPE, a partir de 2010, para a elaboração de um índice nacional de
preços do setor imobiliário264 (FIPE, 2014).
O Gráfico 1 demonstra, assim, o número de ocorrências ao longo do período e
a respectiva evolução dos preços dos imóveis residenciais colocados à venda na
AEVN, englobando bens de tipologias (casa, casa geminada, apartamento tipo e
cobertura, barracão e quitinete) e características diversas (número de dormitórios,
número de banheiros, número de vagas na garagem, etc.). De acordo com os dados
obtidos, a média de valor dos imóveis residenciais colocados à venda, em janeiro de
2001, era de R$34.046,88, sendo que, em julho de 2013, a média de valor dos imóveis
passou a ser de R$248.294,12, representado um aumento significativo de,
aproximadamente, 629,3% no preço dos imóveis anunciados no período.
Interessante observar, no Gráfico 1, a existência de três momentos de inflexão
no mercado imobiliário da AEVN, cuja elevação dos preços dos imóveis se mostrou
mais significativa: (i) no biênio 2005-2006, em que o valor dos imóveis saltou de
R$56.170,59 para R$107.770,83, representando um aumento de 91,8%; (ii) no biênio
2008-2009, em que o valor passou de R$104.061,54 para R$144.353,85, com um
aumento de 38,7%; e, por fim, (iii) no biênio 2012-2013, em que o valor dos imóveis
saltou de R$199.523,81 para R$248.294,12, apresentando um aumento de 24,4%.
A alta no valor dos imóveis no biênio 2005-2006, coincide com o ano de anúncio
da implantação do CAMG, da Catedral Cristo Rei, do Shopping Estação BH no Vetor
Norte da RMBH, bem como da execução das obras da “Linha Verde”. Por sua vez, a
264
A construção do índice decorreu da parceria firmada entre a FIPE e o ZAP, um portal de classificados
na internet que concentra uma grande massa de anúncios imobiliários, de venda ou locação, de
diversas cidades brasileiras (FIPE, 2014)
236
elevação dos preços no biênio 2008-2009 ocorreu imediatamente após o início das
obras do CAMG e a inauguração da “Linha Verde”. Já o aumento ocorrido no biênio
2012-2013 coincide com a inauguração do Shopping Estação BH (Quadro 7).
265
A última atualização, em 2005, baseou-se nos dados do censo demográfico do IBGE de 2000.
Quadro 8 – Variação do preço do m² dos imóveis localizados na AEVN e em bairros de Luxo de Belo Horizonte (Classificação
IPEAD)
AEVN BAIRROS DE LUXO (CLASSIFICAÇÃO IPEAD)
BAIRRO PERÍODO M² (R$) AUMENTO (%) BAIRRO PERÍODO M² (R$) AUMENTO (%)
abr/09 1.420,00 abr/09 4.159,00
Candelária 155,49% Lourdes 101,68%
jan/15 3.628,00 jan/15 8.388,00
jul/13 1.875,00 abr/09 4.901,00
Cenáculo 78,29% Belvedere 85,29%
jan/15 3.343,00 jan/15 9.081,00
nov/11 1.898,00 abr/09 4.355,00
Europa 65,7% Mangabeiras 54,81%
jan/15 3.145,00 jan/15 6.742,00
jul/13 1.964,00 abr/09 3.410,00
Minas Caixa 113,85% Sion 95,81%
jan/15 4.200,00 jan/15 6.677,00
ago/09 1.436,00 abr/09 3.238,00
Venda Nova 140,32% Cruzeiro 85,29%
jan/15 3.451,00 jan/15 6.490,00
Fonte: FIPE, 2015.
Nota: Os períodos (início/fim) de análise estão em consonância com os anúncios de venda de apartamentos publicados no site do ZAP imóveis. No período avaliado
não houve a disponibilização de dados concernentes ao bairro Parque São Pedro. Como anteriormente mencionado, os bairros de luxo referenciados no presente
quadro estão identificados no Mapa 1.
238
239
266
Calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o IGP-M considera as variações de preços do
Índice de Preços por Atacado (IPA), que tem peso de 60% do índice, o Índice de Preços ao Consumidor
(IPC), que tem peso de 30% e o Índice Nacional de Custo de Construção (INCC), representando 10%
do IGP-M. O índice é usado como referência para a correção de contratos de aluguel e de fornecimento
de energia (IBRE, 2014).
240
Então, assim, a pretensão era ficar em Venda Nova [AEVN]. Como a gente
começou a fazer pesquisas, na época que a gente resolveu casar, na região,
por valor de imóveis, a diferença foi muito grande. Então, nós desistimos e
procuramos as regiões mais próximas. [...]. Dava uma diferença de, mais ou
menos, 175%. Nós compramos o nosso apartamento no valor de R$80 mil e
na região de Venda Nova [AEVN] a gente encontrava apartamentos de R$220
mil, R$200 mil. Isso apartamento, sem contar a casa, né. Porque casa
pequena, o barracão, o pessoal tava vendendo mais pra construtoras e elas
estavam demolindo as casas antigas, pra poder fazer casas geminadas ou
até mesmo apartamentos. [Isso] foi em 2008, mais ou menos nessa época
mesmo (EXM-3)268.
Absurdamente [aumentou] o valor. [...]. De 2005 pra cá, o imóvel assim. Pra
você ter uma ideia, o imóvel que custava R$60 mil, hoje ele custa R$180 mil,
R$200 mil. E a gente não consegue enxergar onde que está essa diferença
tão grande, né. E aí, né, fica difícil entender, sendo que você não está vendo.
Você tem mudanças, e gente segurando, gente mudando, gente permutando.
Porque, aí, se não dá pra adquirir, você faz permuta. Você continua lá, faz
um prédio de 6 unidades e continua morando. Permuta com o construtor. Aí
você mora lá, mas outros mais 5 moradores estão com você naquele mesmo
espaço. Isso tem acontecido. [...]. Você espera, você não tem dinheiro pra
comprar aquilo com essa especulação, por aquele valor, né (MA-7)269.
267
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 24 jun. 2015.
268
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 16 jul. 2015.
269
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 14 jul. 2015.
241
Em 2000, um lote do meu tio, ele valia cerca de R$30 mil, R$25 mil, hoje, ele
não vende, o lote vazio, por menos de R$80-R$90 mil. Então, assim, você
tem uma hipervalorização que acontece em toda região. Na medida em que
anunciou a Cidade Administrativa já começou a valorizar o imóvel. E Linha
Verde, não sei o que. Na medida em que anuncia o shopping vai valorizando
cada vez mais o imóvel. E, assim, você tem vários imóveis lá, dos últimos que
eu sei que vendeu casa já construída, próxima da minha casa, valendo [...]
R$260 mil, R$300 mil, R$450m mil, dependendo da qualidade do imóvel. Em
relação a aluguel, tem uma variação muito grande. Tenho tios que alugam
cômodos assim né, barracõezinhos, de 2 ou 3 quartos, pequenos, já teve
época deles cobrarem, sei lá, há uns 15 anos também, R$150, R$200, e hoje
cobram, tipo, R$800 (M-10)271.
270
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 09 jul. 2015.
271
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 30 jun. 2015.
243
colocados à venda foi de 629,3%, enquanto o aumento da média de valor dos aluguéis
foi, como dito, de 286,7%. Em contrapartida, a inflação medida pelo Índice Nacional
de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)272 foi de apenas 127%. Enquanto a inflação
acumulada indicada pelo (IGP-M) foi de 175%. Nesse mesmo período, o aumento
acumulado do salário mínimo no país foi de 277%. Índices, portanto, nitidamente
inferiores ao percentual de aumento do preço dos imóveis ofertados à venda/locação
na AEVN.
Fonte: Elaborado pelo autor com dados extraídos do IBRE (2014) e (BRASIL, 2015)
272
Produzido pelo IBGE, o IPCA mede a inflação de um conjunto de produtos e serviços
comercializados no varejo, referentes ao consumo pessoal das famílias, cujo rendimento é de 1 a 40
salários mínimos. Desde junho de 1999, o IPCA é o índice utilizado pelo Banco Central do Brasil para
o acompanhamento dos objetivos estabelecidos no sistema de metas de inflação, razão pela qual é
considerado o índice oficial de inflação do país (BRASIL, 2015).
244
273
“Recentemente, a revista Exame (n°12, p. 29-41, 2010) encomendou ao instituto Ibope Inteligência
uma abrangente pesquisa sobre o mercado imobiliário brasileiro, que constatou que o país teve a
terceira maior alta do mundo no valor dos imóveis no último ano (de junho de 2009 a junho de 2010),
atrás apenas de Hong Kong e Singapura (Exame, 2010). Aspectos demográficos favoráveis, como o
aumento percentual da população em idade ativa (PIA) e a existência de novos arranjos familiares, o
crescimento econômico do país e a maior oferta de crédito explicam o aumento acelerado da demanda
por imóveis no Brasil” (Sathler et al, 2011, p. 15).
274
Com as alterações procedidas pela Lei Municipal nº 8.137/2000 no Plano Diretor (Lei nº 7.165/1996)
e na Lei de parcelamento, ocupação e uso do solo (Lei n° 7.166/1996), o zoneamento da AEVN,
composto predominantemente por Zona de Adensamento Preferencial (ZAP), teve seu coeficiente de
aproveitamento aumentado de 1,0 para 1,7, excetuando a área central da AEVN, denominada como
Zona Central de Venda Nova (ZNCV), cujo coeficiente passou a ser igual a 2,0.
275
“Art. 45 - O potencial construtivo é calculado mediante a multiplicação da área total do terreno pelo
Coeficiente de Aproveitamento Básico do zoneamento em que se situa” (BELO HORIZONTE, 1996b).
245
276
Construtoras e incorporadoras que se especializaram na produção de unidades residenciais para
as faixas de renda média da população.
246
Fonte: Elaborado pelo autor com ilustrações de publicidade de empreendimentos extraídos de Rossi,
(2015) e Tenda (2015)
Nota: As quatro primeiras ilustrações referem-se a condomínios edilícios da construtora e incorporadora
Rossi e as 2 últimas a empreendimentos residenciais da Tenda. Todos localizados na AEVN e
entregues no ano de 2013.
248
Muita gente, um pessoal que tinha um poder aquisitivo menor tinha um lote,
aí valorizou. Então: vamos vender! Aí vem uma construtora, por exemplo, e
oferece uma grana boa. Aí ele vende, aí constrói um prédio. Igual, aqui é
cheio de prédio. Antigamente só tinha casinha. Foi antes da Cidade
Administrativa [que passou a ter prédios]. Mas depois da Cidade
Administrativa aumentou muito. Tem aqui na [Avenida] Vilarinho, aqui perto.
Tem um condomínio grande no terreno que era do Cenáculo. [...]. Perto do
252
277
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 02 jul. 2015.
253
Minha casa, hoje, está em torno de R$500 mil. Já tive oferta [para vende-la],
mas recusei. [...]. Eu não sei se [a intenção] era para morar ou construir
prédio. [...]. Porque, no fundo da minha casa, fica o Retiro das Irmãs que é o
Cenáculo. É uma mata. [...]. E, essa mata do Cenáculo, uma parte dela, as
irmãs venderam para a Construtora Rossi. Ela fez vários condomínios lá.
Inclusive, um apartamentozinho lá, no lançamento, eles estavam vendendo
por R$160 mil, o mais simples. Aí, eles construíram lá, depois compraram
mais uma parte. E a mata delas continuou preservada. Mas lá, imóvel
valorizou demais nos últimos 3 anos. [...]. Tá tendo muito empreendimento
imobiliário. Muita construção. [Antigamente] era mais casa. Agora tá sendo,
você vê, vende uma casa e onde era uma casa estão construindo um prédio.
Quando você vê uma construção, é prédio. Ou então casa geminada.
Inclusive, há 1 quarteirão lá de casa, tinha 1 casa lá que eles venderam o lote
e construíram 6 casas geminadas lá. [O empreendimento da Rossi] é com
área de lazer. Um condomínio muito bem montado, com área de lazer, com
portaria 24 horas. Os outros prédios são mais ou menos nesse estilo.
Inclusive, atrás do Shopping Norte tem 3 torres [Figura 24], lá, tudo nesse
mesmo estilo. Com portaria, bom acabamento. Eu acho que é pra uma
pessoa mais de classe média. Tá tendo essa mudança na região (MR-1)279.
278
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na cidade de Betim em 01 jul. 2015.
279
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 01 jul. 2015.
254
280
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 06 jul. 2015.
255
281
Desenvolvimento verificado com enforque nas pessoas, introduzindo valores humanistas e
humanizadores na análise dos territórios, como contraponto ao desenvolvimento centrado apenas no
crescimento econômico – PIB (Produto Interno Bruto) –, ou na capacidade de renda e consumo. Os
indicadores do IDH foram construídos a partir dos Censos Demográficos do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) de 2000 e 2010 (KOGA, 2011; PNUD; Ipea; FJP, 2013, 2015).
282
O IDHM-Renda é obtido a partir do indicador Renda per capita, mediante a seguinte fórmula: [ln
(valor observado do indicador) - ln (valor mínimo)] / [ln (valor máximo) - ln (valor mínimo)], onde os
valores mínimo e máximo são, respectivamente, R$8,00 e R$4.033,00 (a preços de agosto de 2010)
(PNUD; Ipea; FJP, 2015).
283
O IDHM-Educação é obtido através da média geométrica do subíndice de frequência de crianças e
jovens à escola (peso de 2/3), e do subíndice de escolaridade da população adulta (peso de 1/3)
(PNUD; Ipea; FJP, 2015).
284
O IDHM-Longevidade é obtido a partir do indicador esperança de vida ao nascer, através da fórmula:
[(valor observado do indicador) - (valor mínimo)] / [(valor máximo) - (valor mínimo)], onde os valores
mínimo e máximo são 25 e 85 anos, respectivamente (PNUD; Ipea; FJP, 2015).
285
“O IDHM é um número que varia entre 0 e 1. Quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento
humano de um município” (PNUD; Ipea; FJP, 2013, p. 27).
257
inclusive, a redução da diferença entre o seu IDHM e o IDHM da Região Centro Sul.
A dinâmica evolutiva da RAVN aplica-se igualmente à AEVN, cujo IDHM, em 2010, foi
de 0,765286. Índice, portanto, superior à média global da RAVN.
286
Esse valor situa a AEVN na faixa de Desenvolvimento Humano Alto (IDHM entre 0,700 e 0,799).
258
287
A densidade do domicílio decorre da razão entre o total de moradores do domicílio e o número total
de cômodos usados como dormitório (PNUD; Ipea; FJP, 2015).
288
Segundo o IBGE (2011, p. 5), o domicílio particular permanente é definido como aquele que “foi
construído a fim de servir exclusivamente para habitação e, na data de referência, tinha a finalidade de
servir de moradia a uma ou mais pessoas”.
259
TAXA DE ANALFABETISMO
11 A 14 15 A 17 18 A 24 25 A 29 25 ANOS OU
LUGAR
ANOS ANOS ANOS ANOS MAIS
2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010
AEVN 0,99 0,98 0,79 0,38 0,99 0,55 1,10 0,35 5,49 3,04
RAVN 1,74 1,22 1,22 0,83 1,48 0,70 1,71 0,71 7,55 4,47
Belo Horizonte 1,61 1,12 1,31 0,85 1,39 0,62 1,73 0,68 5,82 3,45
Fonte: PNUD, Ipea e FJP, 2015
289
Refere-se à razão entre a população de determinada faixa etária (11 a 14 anos de idade, por
exemplo) que não sabe ler nem escrever um bilhete simples e o total de pessoas nesta faixa etária,
multiplicada por 100 (PNUD; Ipea; FJP, 2015).
260
290
Nesse caso, a razão entre o número de pessoas no grupo etário de 18 a 24 anos frequentando o
ensino superior (graduação, especialização, mestrado ou doutorado) e a população total dessa mesma
faixa etária, multiplicada por 100 (PNUD; Ipea; FJP, 2015).
291
Valores em reais de 01 de agosto de 2010 (PNUD; Ipea; FJP, 2015).
261
292
Renda per capita inferior ao nível mínimo necessário para a satisfação de suas necessidades
básicas e, por conseguinte, à reprodução da força de trabalho, que inclui os custos advindos da
alimentação, da habitação, do vestuário e do transporte (VÉRAS, 2003b).
262
dos rendimentos dos 20% mais pobres (Quadro 15) é corroborada pelo percentual da
renda por eles apropriada, passando de 4,25%, em 2000, para 4,81%, em 2010. O
aumento na apropriação da renda é, também, verificado no percentual apropriado
pelos 40% mais pobres, que passa de 12,75%, em 2000, para 14,32%, em 2010.
O destaque a ser feito refere-se aos 20% mais ricos da AEVN, que passam a
se apropriar, em 2010, de parcela ainda maior da renda domiciliar (51,23%),
comparativamente a 2000 (50,64%). O que, todavia, não ocorre em relação à
população da RAVN e do Município de Belo Horizonte. No caso da RAVN, a parcela
do quinto mais rico passa de 53,16% da renda total para 51,44%, enquanto a parcela
do quinto mais rico de Belo Horizonte reduz de 65,72% para 65%.
293
Seu valor é 0 quando não há desigualdade (a renda domiciliar per capita de todos os indivíduos tem
o mesmo valor) e tende a 1 à medida que a desigualdade aumenta (PNUD; Ipea; FJP, 2015).
263
294
Isenção de impostos, melhores condições e taxas de financiamento, efetivação de parcerias público-
privadas – PPPs, etc.
264
Eu, por exemplo, eu até parei com essa ideia. Eu estava com a ideia, em
2014, de fazer uma aquisição de imóvel. E eu havia feito uma pesquisa no
final de 2013. Quando eu voltei, que eu retornei à Caixa Econômica e falei a
localização, eu levei um choque. Porque tinha subido tanto, mas tanto, mas
tanto, que a minha renda não dava mais. Como não dá até hoje. Porque eu
não pretendo sair dessa região. (..). Era uma diferença, assim, de uns R$20
mil. A diferença de preço. De uns R$20 mil, em menos de 1 ano. Então, eu
engavetei esse projeto, porque eu não quero morar fora da região. Além de
eu gostar muito daqui. A minha vida está toda aqui (MR-6)296.
Na época que a gente comprou, o que motivou a gente escolher, porque tinha
as outras opções dos bairros mais próximos, era o eminente crescimento que
Venda Nova iria ter a partir da construção da Cidade Administrativa. Porque
tinham outros apartamentos em outros lugares, mas, por exemplo, de 3
quartos, com o mesmo valor daqui. Só que eram num lugar que não iria
crescer tanto. [...]. A estrutura aqui de comércio é ótima. Tanto comércio
quanto hospitalar é ampla mesmo. [...]. Eu acho que tudo aqui, até de escola
mesmo, vai nos atender. Futuramente vai nos atender. Eu vejo, a cada dia,
melhorias aqui em Venda Nova [AEVN]. [...]. Eu sou apaixonado com esse
lugar. Eu falo com todos que Venda Nova é o melhor lugar que eu já morei.
A possibilidade, nossa aqui, de crescimento é muita boa, principalmente
porque tem uma unidade do meu serviço aqui perto. Tem um setor da minha
empresa aqui perto, na Estação Vilarinho e na Estação Venda Nova. Então,
o que possibilitaria a minha transferência pra cá e consequentemente a
melhoria na qualidade de vida (MR-5) 297.
295
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 09 jul. 2015.
296
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 30 jun. 2015.
297
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 07 jul. 2015.
266
298
Aqui incluídos os proprietários fundiários e imobiliários que, diante da valorização da terra, venderam
seus imóveis a fim de se beneficiarem do superlucro gerado pelas intervenções espaciais. Embora se
reconheça que, nem sempre, o valor obtido pelo proprietário-morador possibilite a aquisição de outro
imóvel na mesma região.
299
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 14 jul. 2015.
267
Se continuar do jeito que tá, vai chegar num ponto que isso aqui vai virar,
como se diz, um bairro de gente só rica. Porque, as pessoas que estão aqui
não vão conseguir manter. Não vão conseguir. [Antigamente], você podia
sair, você podia comprar, é, lanchar na rua, você podia comprar várias coisas.
Hoje em dia não. Você tem que selecionar o local. Porque, eles sabem que
aqui estão, é, vindo mais executivos. Eles sabem, também, que as pessoas
que estão vindo pra cá são pessoas que têm um poder aquisitivo maior do
que as de antigamente. Então, eles estão realmente começando a cobrar por
isso, também. Então, provavelmente vai virar um bairro de gente rico. A não
ser que alguma coisa governamental mude, pra que aí as pessoas voltem,
né. Vamos supor, no meu caso, se surgir alguma oportunidade da gente
voltar, pode ser. Mas, eu acredito que a tendência é valorizar cada vez mais.
[...] Vou te dar um exemplo da minha prima. Essa prima que eu te falei que
comprou um apartamento aqui [Figura 29]. Lá no prédio dela, é, muita gente
querendo alugar. As pessoas que trabalham, os executivos que trabalham na
Cidade Administrativa, eles querem morar perto. A pessoa não quer
atravessar a cidade para poder trabalhar. Ela quer morar perto do trabalho
dela (EXM-2)300.
300
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 24 jun. 2015.
269
Foram meus pais mesmo. Eles moravam de aluguel e adquiriram esse imóvel
e em seguida eu me casei. [Hoje, eu] moro no imóvel dos meus pais. Ele veio
301
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 14 jul. 2015.
270
a óbito e como o imóvel, a área, o território do bairro [...] é muito extenso. Eles
são de 600, 800 e até 1000m², lotes que hoje não se tem, né. Então, lá, ele
executou 6 residências, das quais cada um filho ficou com uma residência.
[...]. Então, eu reformei uma pequena casa que eu morei na minha infância e
transformei ela na minha casa atual. [...]. Eu moro numa residência que é
herança do meu pai. É uma comunidade familiar. [...] E, hoje, também temos
as unidades vagões, que são 6, 7 ou 8 residências num imóvel ou as
chamadas, anteriormente a isso, quando o imóvel não era tão valorizado,
você fazia geminadas, né [Figura 30]. E hoje não. Hoje você faz é um conjunto
habitacional residencial horizontal ou prédio vertical. A divisão do lote entre
membros da família se confirma. E, também, tá tendo, assim, muito mais
desmembramentos. Ou seja, venda de meio lote, 1/3. [...]. Isso seria uma
prática destinada a manter às pessoas em Venda Nova [AEVN], também. E,
também, porque é difícil adquirir outro [imóvel] sozinho. O imóvel tá com um
valor de aquisição muito elevado, né. O valor dele tá muito elevado. Houve
uma supervalorização dos imóveis ultimamente (MA-7)302.
A partilha do terreno é uma tática comum entre as famílias da AEVN, que veem
na construção conjunta uma forma de se manterem próximos dos familiares e não
terem que se mudar para localidades distantes, em razão do crescente preço dos
imóveis. A prática se configura como uma estratégia de manutenção da moradia na
AEVN e, ao mesmo tempo, de postergação do deslocamento relacionado ao processo
gentrificativo.
Nós chegamos a procurar imóvel pra morar em Venda Nova [AEVN]. Apesar
de que, assim, a nossa família, ela é muito antiga lá. Tanto a minha, quanto
a dela. Meu pai mora em Venda Nova [AEVN] tem, deve ter, uns 40 anos ou
302
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 14 jul. 2015.
271
pra mais. Bem mais de 40 [anos]. E o meu sogro também. Então, assim, na
época, quando eles foram pra lá, não tinha nada. Compraram os imóveis, os
lotes, e foram construindo, né. E, naquela época, você comprava era 2 lotes,
né. Então, você comprava 2 lotes de 360 [m²] ou comprava um terreno de
mais de 1000 m². E, eles construíram tudo ali e os filhos acabam que moram,
moravam próximo. Então, nós chegamos a procurar imóvel, sim. Mas, na
época que nós casamos, [...] lá para o ano 2000, no início de 2001, nós
chegamos a procurar imóvel aonde é, hoje, a Estação Vilarinho. E, tava até
bem barato se for comparar com os valores de hoje. [...]. Em 2001, um
apartamento próximo à Estação Vilarinho, do metrô, ele era R$27,5 mil, um
apartamento de 60-70 m². Hoje, ele custa por volta de R$160-R$170 mil. E,
eu não comprei porque na época achei caro. É verdade. Então, acabou que
a gente construiu do lado, num espaço no lote do pai dela. E a gente foi morar
lá. [No lote] que já era da família. [...]. Na verdade, [os imóveis] têm valorizado
muito. Acho que, agora, que deu uma estabilizada no crescimento, né. Mas,
de 15 anos pra cá os imóveis, eles têm subido muito o valor deles. Inclusive
os novos, né. [...]. Pra você ter ideia de como foi a questão da valorização de
imóveis. Quem tem imóvel em Venda Nova [AEVN] não quer vender. Ou
vende assim: eu tenho uma casa num lote grande e você é dono de uma
construtora, eu vou vender pra você minha casa e você ainda vai me dar um
apartamento do prédio. Aí eu vendo (MA-2)303.
Aqui, assim, acho que quase ninguém praticamente vai conseguir morar aqui
perto, né. Assim, pensando na minha infância, nas pessoas com quem a
gente cresceu. Não vejo ninguém morando aqui perto. Só se for morar com
os pais, ou construir na casa dos pais. Ou, sai mesmo. [...]. Porque Venda
Nova [AEVN] tem um valor diferenciado (EXM-5)304.
303
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na cidade de Betim em 01 jul. 2015.
304
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 07 jul. 2015.
272
[O valor do aluguel, em 2002] devia ser uns R$300 reais. Era um barracão,
com 2 quartos, sala, cozinha, banheiro e 1 vaga de garagem. [Em 2006, a
entrevistada se mudou para outro imóvel na AEVN, em que o valor do aluguel
era, inicialmente, de R$600 reais]. Nesse imóvel que eu fui já não era só 2,
nós éramos 3. Por isso que a gente pôde locar um imóvel mais caro. [Em
2013, a entrevistada sai da AEVN e passa a residir no Bairro Itapoã, na
Região Administrativa da Pampulha], em virtude do mercado imobiliário ter,
dos preços terem subido muito ao longo do tempo. Mas, eu tinha percebido,
né. Os preços tanto de imóveis quanto de aluguéis estavam ascendentes.
[...]. Na hora de renovar, algumas pessoas se queixavam. Quem tava de
aluguel, né. Elas falavam que tinha imóvel nas mesmas condições, ou em
condições melhores, porém com um preço mais acessível [fora da AEVN]
(EXM-4)305.
Na verdade, como eu morei na casa do meu vizinho de vida toda. Ele fez um
preço, assim, bem camarada pra gente. A luz e a água da gente eram juntas
com a deles. Então, assim, eu não tive muito problema de falar, assim, eu tive
que pagar um aluguel caríssimo em Venda Nova [AEVN]. Mas eu sabia da
realidade. Se eu fosse procurar uma casa ali, se eu fosse pagar realmente o
que devia, eu iria pagar um aluguel bem mais caro. Na época, se eu não me
engano, eu pagava a ele R$300 ou R$400, já com a água e já com a luz. Mas,
tipo assim, aquele preço super, hiper, camarada, porque era vizinho de janela
da minha mãe. Mas, eu tenho plena consciência de que não era esse o valor
que deveria ser cobrado. [...]. [A recente reestruturação urbana da AEVN],
pra mim, impactou na valorização. Valorizou tanto, tanto, que eu, por
exemplo, que gostaria de ficar aqui, eu não consigo mais ficar aqui pelo preço,
o valor dos imóveis. [...]. O que eu vejo que de mais, de melhor trouxe,
realmente foi isso. A valorização pra quem tem. Agora, para as pessoas, igual
eu por exemplo, que quero ficar, eu realmente não consigo (EXM-2)306.
305
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 06 jul. 2015.
306
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 24 jun. 2015.
307
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 01 jul. 2015.
273
Meu marido tem um imóvel, mas a gente ainda tem que construir.
Infelizmente não [é na AEVN]. É no bairro Ribeiro de Abreu. Próximo
ao Ribeiro de Abreu. É um loteamento recente. [...]. Ainda é Belo
Horizonte. [...]. Acho que é nordeste. [...]. Por isso a resistência, um
pouquinho, de fazer a construção lá. Mas aqui está inviável de comprar
um imóvel por enquanto. Ah, os preços são muito altos. Geralmente
apartamento, a gente já tem resistência um pouco com apartamento,
né. E hoje você não compra um imóvel em Venda Nova [AEVN] por
menos de R$500 mil. [...]. Eu gosto de morar aqui. Tem algumas coisas
que me trazem satisfação de estar aqui, né, que é a família. [...]. A
gente vai crescendo junto com Venda Nova [AEVN]. Algumas coisas,
a gente sente mais, e outras parece que já tá conosco. [Meu marido]
não quer ir pra lá [bairro Ribeiro de Abreu], ele quer ficar aqui em Venda
Nova [AEVN]. Mas, por uma questão de continuar pagando o aluguel.
Por uma questão financeira, econômica. [Meu marido não quer se
mudar para o bairro Ribeiro de Abreu], porque ele vê em Venda Nova
[AEVN] todo um progresso que lá no bairro Ribeiro de Abreu não teve
ainda. Aí ele vê o progresso (MA-1)308.
308
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 22 jun. 2015.
274
309
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 30 jun. 2015.
275
Se for pensar, eu fui expulsa né. [...]. Quem não tem condições, tem que sair
mesmo, né. Não tem condições de ficar e de se manter. E tá alto [o custo] pra
se manter, principalmente aqui para o lado de Venda Nova [AEVN], na região
de Venda Nova mesmo, fica caro você morar aqui. Então, ou você sai para
os bairros um pouco mais distantes [do centro] de Venda Nova [AEVN] ou vai
pra fora mesmo (EXM-5)310.
Na realidade, eu não queria sair de Venda Nova [AEVN], não queria, não
queria, não queria. Bati o pé que eu não queria. Só que a gente começou a
achar imóveis, no valor que a gente poderia pagar, muito ruins. Imóveis muito
velhos, que a gente teria que fazer uma obra muito grande. Então eu comecei
a ver que não compensa. Aí a gente começou a olhar mais afastado um pouco
de Venda Nova [AEVN]. O mais próximo que a gente achou foi esse que a
gente comprou. Tanto é que quando eu fechei negócio, eu acreditava que lá
era Belo Horizonte. Eu não sabia que já era Ribeirão das Neves, que é bem
na divisa mesmo. Eu não sabia. Aí eu falei assim, não, então aqui pra mim tá
ótimo. Porque lá também é bem fácil. Tanto é que gasta 10 minutos pra
chegar aqui [no local de trabalho]. O acesso lá é bem fácil pra essas coisas.
Mas eu queria realmente em Belo Horizonte. A gente achou um pouco assim,
a questão do tempo só de locomoção (EXM-2)311.
310
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 07 jul. 2015.
311
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 24 jun. 2015.
312
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 01 jul. 2015.
276
Então, nós namoramos 9 anos, né. E aí, imóvel aqui em Belo Horizonte, para
o lado de Venda Nova [AEVN], [era] muito caro. [Eu] tinha uma amiga que
sempre estudou comigo e ela foi morar nesse bairro chamado Severina. É
um bairro novo de Ribeirão das Neves. Não é um bairro muito antigo e não é
tão longe. Eu lembro que eu fui na casa dela, gostei do bairro e falei com ele
[esposo]: nossa, vamos lá pra você conhecer! [Ele] gostou também, nós
compramos o lote, construímos e fomos morar em Ribeirão das Neves. [O
bairro] fica no meio termo, ele divide Belo Horizonte, Venda Nova e
Vespasiano. [...]. [Na época], procuramos lote em Venda Nova [AEVN]. Mas,
eu lembro que era bem mais caro. Bem mais caro. Sim, sim, bem mais caro.
[...]. Eu falo que lá é só pra dormir. E minha mãe fala também. Que lá é pra
eu dormir. [...]. Então, assim, a gente fica aqui o dia inteiro, aí eu vou embora
pra dormir mesmo. [...]. Praticamente todos os dias. [...]. Quando eu fui morar
lá, lá não tinha correio, lá não tinha lixeiro. Então, assim, é um choque muito
grande, né. [...]. Aí eu não mudei nada, meus endereços todos são daqui. [...].
Eu ainda não me desvinculei daqui [da AEVN] e acho que nem vou me
313
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 24 jun. 2015.
277
desvincular. Até porque, também, minha família é muito unida, todo mundo é
daqui de Venda Nova [AEVN] (EXM-5)314.
Mudaria, com certeza. Sem pensar 2 vezes, sem pensar 2 vezes. Voltaria [a
morar aqui], com certeza. Sinto [muita falta]. Falta assim, é porque eu cresci,
um perto do outro, vizinho dentro da casa da gente. Os meus vizinhos são os
meus padrinhos de casamento, são os meus padrinhos de batismo, são os
meus padrinhos de consagração. Todo mundo. Eu sou madrinha das crianças
hoje em dia, que tá com 13, 14 anos. Eu sou madrinha delas. Então, é um
convívio muito legal que teve, assim, pelo menos da minha, da nossa parte.
Foi um convívio muito legal. Então, isso, pra mim, eu sinto falta. Então, se eu
pudesse voltar, eu voltaria. (..). Às vezes eu posso até conseguir, né. Eu tô
lutando bastante pra ver se eu consigo. Mas, no momento, eu queria ficar no
centro [da AEVN] e eu não consigo (EXM-2)315.
Eu queria ficar em Venda Nova [AEVN]. E não ficamos por conta da questão
financeira. [...]. Meu sonho ainda é voltar pra Venda Nova [AEVN], pra Belo
Horizonte. Eu falo: eu quero morar em Belo Horizonte! Eu tô cansada de
morar em Ribeirão das Neves! [...]. [Mas], tem hora que eu acho que ele [o
sonho de residir na AEVN] está tão distante, ele está tão longe. [...]. Eu falo
que eu sou venda-novense, né. Então, assim, eu fico aqui de carteirinha. [...].
É uma ideia, assim, de morar mesmo e de gostar. É o lugar que eu gosto, que
eu me sinto bem. E, eu gosto mesmo de Venda Nova [AEVN]. Então, eu acho
que é isso. [...]. Tanto que eu não [me] vejo [em] outro lugar. Tipo: ah, vou
morar no Santo Antônio, vou morar no... não quero! Meu desejo maior é morar
por aqui, próximo daqui (EXM-5)316.
314
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 07 jul. 2015.
315
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 24 jun. 2015.
316
Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada na AEVN em 07 jul. 2015.
278
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por outro lado, como efeito negativo desse processo, há a formação do grupo
de ex-moradores (EXM) da AEVN, integrado pelas camadas de baixa renda, com perfil
socioeconômico e profissional deficiente. Para esses, o deslocamento é
acompanhado do enfraquecimento das relações interpessoais e identitárias (quebra
das relações de vizinhança, do sentido de coletividade, da vivência do espaço público,
etc.), em ofensa ao direito à moradia e à cidade. Ainda, conforme ressaltado nos
relatos dos ex-moradores EXM-1, EXM-2, EXM-3 e EXM-5, há o manifesto desejo de,
um dia, retornarem ao território identitário, onde concretizaram suas relações de
sociabilidade (familiares, de amizade e vizinhança).
Principia-se, então, a consolidação de uma nova AEVN, concentradora de
novos investimentos públicos e privados, que cresce em metros quadrados
construídos, mas que, simultaneamente, decai em adensamento populacional, dada
à expulsão das parcelas mais pobres da população. De forma que as novas
infraestruturas e serviços disponíveis irão beneficiar os novos moradores, em
detrimento dos insolventes moradores “expulsos”.
Interessante observar que o período (2001-2013) em que ocorreram algumas
das principais modificações socioespaciais no Vetor Norte da RMBH e, bem assim,
na AEVN, é posterior à aprovação do Estatuto da Cidade (Lei Federal nº 10.257/2010),
que regulamentou os artigos 182 e 183 da CR/88 e atribuiu aos Municípios o encargo
de ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade
urbana, de forma a garantir o direito à cidade, a qualidade de vida e o bem-estar de
seus habitantes, como um direito fundamental (art. 5º, CR/88).
Para tanto, o Poder Público deve se valer dos instrumentos de planejamento
urbano oferecidos pelo Estatuto da Cidade (contribuição de melhoria; IPTU
progressivo no tempo; parcelamento, edificação e utilização compulsórios, etc.) para
evitar a especulação imobiliária e garantir um efetivo controle sobre a dinâmica de uso
e ocupação do solo da AEVN. Ainda, a compatibilização da reestruturação
socioespacial com a manutenção dos antigos moradores de baixa renda na região
pode ser alcançada por meio da delimitação de ZEIS ou pelo emprego de instrumentos
legais de controle dos preços dos aluguéis, como adotado recentemente na cidade de
Berlim. De acordo com a lei, o preço dos aluguéis dos imóveis localizados em bairros
com intenso processo de gentrificação não podem subir mais que 10% da média da
região. A medida visa impedir que os custos da locação residencial subam a preços
286
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Editora Guanabara, 1987. p. 90-113.
Prezado (a),
A. Caracterização social
1. Quantos anos você tem?
2. Qual é a sua naturalidade?
3. Qual é o seu estado civil? Tem filhos? Qual a idade deles?
4. Qual é o seu grau de escolaridade?
5. Qual é a sua profissão? Você está trabalhando? Onde?
6. Quem mais trabalha na sua casa? Quem contribui para a renda familiar?
7. Você já recebeu ou recebe alguma ajuda do governo, como por exemplo,
Bolsa Família, FIES, Minha Casa, Minha Vida?
A. Caracterização social
1. Quantos anos você tem?
2. Qual é a sua naturalidade?
3. Qual é o seu estado civil? Tem filhos? Qual a idade deles?
4. Qual é o seu grau de escolaridade?
5. Qual é a sua profissão? Você está trabalhando? Onde?
6. Quem mais trabalha na sua casa? Quem contribui para a renda familiar?
7. Você já recebeu ou recebe alguma ajuda do governo, como por exemplo,
Bolsa Família, FIES, Minha Casa, Minha Vida?
PERÍODO DE
TIPO DE ESTADO COMPOSIÇÃO
SIGLA SEXO IDADE ESCOLARIDADE PROFISSÃO RENDA FAMILIAR IMÓVEL ATUAL RESIDÊNCIA EM
MORADOR CIVIL FAMILIAR
VENDA NOVA
MA-1 F 34 CASADA 2 SUPERIOR COMPLETO ASSISTENTE SOCIAL 5 SALÁRIOS MÍNIMOS APARTAMENTO 1981-2015
MORADORES ANTIGOS
MA-2 M 34 CASADO 4 SUPERIOR COMPLETO GESTOR DE RECURSOS HUMANOS 12 SALÁRIOS MÍNIMOS CASA 1981-2015
MA-3 M 40 DIVORCIADO 1 SUPERIOR COMPLETO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL 6 SALÁRIOS MÍNIMOS APARTAMENTO 1975-2015
MA-4 F 24 CASADA 4 2º GRAU COMPLETO ASSISTENTE DE ADMINISTRAÇÃO 2 SALÁRIOS MÍNIMOS CASA 1991-2015
(MA)
MA-5 F 80 VIÚVA 1 2º GRAU COMPLETO DONA DE CASA 5 SALÁRIOS MÍNIMOS CASA 1951-2015
MA-6 F 28 SOLTEIRA 4 SUPERIOR COMPLETO ENGENHEIRA DE COMPUTAÇÃO 10 SALÁRIOS MÍNIMOS CASA 1987-2015
MA-7 F 52 CASADA 4 SUPERIOR COMPLETO ENGENHEIRA CIVIL 12 SALÁRIOS MÍNIMOS CASA 1988-2015
MA-8 F 49 CASADA 4 SUPERIOR COMPLETO ENGENHEIRA CIVIL 10 SALÁRIOS MÍNIMOS CASA 1992-2015
MA-9 F 58 SOLTEIRA 3 SUPERIOR COMPLETO DONA DE CASA 10 SALÁRIOS MÍNIMOS CASA 1975-2015
MR-1 M 58 VIÚVO 3 2º GRAU COMPLETO SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL 15 SALÁRIOS MÍNIMOS CASA 2006-2015
MORADORES
RECENTES
MR-2 F 33 CASADA 3 SUPERIOR COMPLETO PROFESSORA ESTADUAL 8 SALÁRIOS MÍNIMOS CASA 2009-2015
(MR)
MR-3 M 35 CASADO 2 SUPERIOR COMPLETO SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL 15 SALÁRIOS MÍNIMOS CASA 2005-2015
MR-4 M 42 DIVORCIADO 1 SUPERIOR COMPLETO ADMINISTRADOR 10 SALÁRIOS MÍNIMOS CASA 2007-2015
MR-5 M 37 CASADO 4 SUPERIOR COMPLETO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL 8 SALÁRIOS MÍNIMOS APARTAMENTO 2011-2015
MR-6 F 51 DIVORCIADA 2 SUPERIOR COMPLETO BIBLIOTECÁRIA 3 SALÁRIOS MÍNIMOS APARTAMENTO 2008-2015
EXM-1 M 25 CASADO 2 2º GRAU COMPLETO AUXILIAR DE SERVIÇOS GERAIS 3 SALÁRIOS MÍNIMOS CASA GEMINADA 2008-2014
MORADORES
EXM-2 F 26 CASADA 2 SUPERIOR COMPLETO EDUCADORA FÍSICA 5 SALÁRIOS MÍNIMOS APARTAMENTO 1989-2013
(EXM)
EX-
328