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Rio de Janeiro
2007
DANIELA SANTOS GOMES DA SILVA
Rio de Janeiro
2007
ii
BANCA EXAMINADORA
______________________________
Prof. Dr. Paulo de Martino Jannuzzi
Orientador – ENCE/IBGE
_____________________________________
Prof. Dr. Paulo Gonzaga Mibielli de Carvalho
ENCE/IBGE
___________________________________________
Profa. Dra. Inês Emília de Moraes Sarmento Patrício
Faculdade de Economia/UFF
iii
O mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as
pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram
terminadas, mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou
desafinam. Verdade maior. Viver é muito perigoso; e não é
não. Nem sei explicar estas coisas. Um sentir é o do
sentente, mas outro é do sentidor. A gente quer passar um
rio a nado, e passa: mas vai dar na outra banda é um ponto
muito mais em baixo, bem diverso do em que primeiro se
pensou.
iv
Dedico esse trabalho a Matheus e Gabriel, onde a partir de
sua essência e pureza de crianças espero poder
homenagear a população de que tanto vai se falar nesse
trabalho. Trata-se de milhões de pessoas que a cada dia
constroem um Brasil melhor, apesar de todas as
dificuldades, esquecimentos e mazelas a que são
submetidas.
v
AGRADECIMENTOS
Um trabalho de pesquisa nos reserva momentos de muita solidão, angústias e incertezas, trata-se de um
trabalho individual, onde, muitas vezes você se depara sozinho com seu tema em meio a vários autores,
que naquele momento são seus únicos companheiros. Além disso, ao escrever uma dissertação,
certamente, você doa elementos de sua vivencia familiar, social e institucional, por isso, afirmo que nesse
trabalho de algum modo tem influência dos vários momentos que eu vivi até hoje, de maneira que não
teria espaço para agradecer a todos, então, diante da homenagem que farei aqui espero contemplar
todos com meu muito obrigado!
Dentre os agradecimentos que desejo fazer encontra-se minha família, base, inspiração e incentivo para
minha busca incansável em alcançar a evolução como ser humano. Sendo assim, agradeço minha mãe
Diva Café, a quem admiro muito, minha irmã Danielle, minha madrinha Rose e meus primos Renata e
Pedro.
Agradeço também á Escola Nacional de Ciências Estatísticas ENCE e ao Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística IBGE pelo apoio institucional, pela disponibilização de recursos humanos, material e
financeiro que contribuíram para o desenvolvimento desse trabalho.
Quero agradecer ao Prof. Paulo Jannuzzi por me acolher com sua orientação, muito obrigada pela
compreensão, dedicação e persistência, que me ajudaram a desvelar os mistérios da pesquisa científica
e do saber acadêmico, contribuindo para minha evolução profissional e humana. Obrigado ainda, por me
ajudar a enfrentar e superar os obstáculos encontrados ao longo do caminho.
Aos professores que tive a oportunidade de conhecer no curso de mestrado da ENCE, só tenho a
agradecer pelos ensinamentos seja em sala de aula, pelos corredores ou em seus gabinetes, todos
sempre foram muito atenciosos.
Do mesmo modo, quero agradecer aos funcionários, em especial, à Sueli Alves - que sempre foi uma
grande amiga acima de tudo -, que estavam sempre prontos a nos ajudar com atenção, presteza e
carinho, colaborando para o bom andamento administrativo de nossa trajetória no mestrado.
Ao meu amigo, pai, tio, padrinho... Ranulfo Café gostaria de registrar minha admiração e agradecer por
você ter contribuído não só com esse trabalho, mas, essencialmente, na construção da minha formação,
por você ter acreditado em mim e estendido à mão sempre que precisei, muito obrigada!
Ao meu companheiro inseparável que foi um dos maiores incentivadores desse trabalho, que sempre
acreditou em mim até mesmo quando eu não acreditava. Sempre com muita atenção e carinho, agradeço
a você Marcelo Vieira por dividir comigo os momentos bons e os momentos difíceis, seja revisando,
auxiliando, amparando, inspirando ou ainda com a palavra de ordem “você vai conseguir”. É, eu
consegui.
Nesse curso de mestrado fiz amizades valiosas, vivenciei momentos enriquecedores, pude compartilhar
de experiências inovadoras, sempre acompanhada por grandes amigos. Nesse momento, quero dizer
muito obrigada a todos os meus companheiros de turma, em especial, a dedicada e sempre companheira
Edilma Desidério, a atenciosa e divertida Taiana Jung, a Aline Miranda que tivemos a chance de nos
reencontrar e reconstruir nossa valiosa amizade relembrando os tempos de faculdade, aos inesquecíveis
Vanessa de Souza, Raquel Vasconcellos, Vanderson Berbat, Leonardo Mello e Salomão Soares.
Aos amigos queridos que não poderia deixar de lembrar, pois, cada um, a seu modo, direta ou
indiretamente, contribuíram, incentivaram, apoiaram e, mesmo de longe, sempre torceram por mim, quero
aqui registrar o meu muito obrigado a Diogo, Demetrius, Adeilton, Luciana, Cristiano, Patrícia, Daniele,
Mônica, Cláudio Felipe, Fernando, Silvano, Simone, Adelmo, Tânia, Aguinaldo, Regina e Manoel.
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Existe ainda uma amiga que gostaria de destacar, pois sempre acreditou no meu potencial, incentivando,
ouvindo, compreendendo e mostrando que vale a pena prosseguir na busca dos nossos objetivos. A você
Lia quero registrar minha admiração, carinho e dizer muito obrigada!
Aos meus três tios Jorge, Sebastião e Messias presentes que ganhei ao longo da minha vida, sempre
acreditaram em mim, sem deixar de mencionar outro gratificante presente, a amiga Lourdinha, quero
dizer meu muito obrigado a todos vocês.
Aos professores José Eustáquio, Neide Patarra, Nelson Senra, Paulo Mibielli, José Francisco, Narcisa
Santos, Regina Lanzilloti, Inês Patrício, pois através deles pude vivenciar diferentes experiências tanto
sobre a ciência, a pesquisa e a sociedade quanto sobre a conduta profissional e até mesmo pessoal.
A todos que direta ou indiretamente contribuíram para meu desenvolvimento profissional e também como
ser humano, pois, sem dúvida, hoje eu sou uma pessoa melhor graças a todas as experiências que pude
de alguma forma compartilhar com vocês, seja em meio à lágrimas ou em meio a grandes sorrisos, muito
obrigada por cada uma das palavras e dos gestos de carinho, muito obrigada pelas sugestões e críticas,
muito obrigada pela atenção. Quero dizer a todos vocês que para mim, esse trabalho, não se trata
apenas de mais uma etapa cumprida em minha trajetória profissional, para mim, a realização e conclusão
desse trabalho representam a conquista do mérito da vida.
vii
RESUMO
viii
ABSTRACT
This study search to build an indicator that allows to identify and to compare the
conditions of life of a population, - being adopted in this case, the population of the
municipal districts of the Baixada Fluminense in the State of Rio de Janeiro -, across
an analysis based on the Multi-Criteria Analysis (MCA), in order to try to extrapolate the
different possibilities of the method Prométhée II. For so much, it is adopted as form of
operating of the referred method, the application PRADIN - it Programs for Support to
Decision Based on Indicators -, developed under the methodological reference of the
French school of Multi-Criteria Analysis, where begin from the use of a group of
different simulations use to the technique, being made modifications in the group of
considered indicators, in your weights, in the functions preferably, your parameters and
in the group of involved manager, for that with base in those results can to evaluate the
robustness of the final Multi-Criteria indicator. Like this, we hopes to observe limits and
possibilities of the adopted method, as well as, the situation of the Baixada Fluminense
(scenery used conveniently as backdrop for application of the methodology) through
the evaluation of your municipal districts with relationship to the social indicators. With
relationship to the structure, the study is divided in four chapters. The chapter 1
presents a discussion about concept and measurable of life conditions, passing soon
after for the subject of the social indicators in the support to the decision in the ambit of
the public administration. This chapter is contained with the description of some
methodological efforts in the measurable of the life conditions. In the chapter 2, a
characterization of the conditions of life of the Baixada Fluminense is had through the
municipal social indicators, and initially it is made a ransom on the process of formation
of the Area. The chapter 3, it refers to the applied methodology in the study, presenting
a discussion that is going from the stages of the decision process to examples of
applications of AMD in the cycle of the public politics, going by the methods that
compose the Multi-Criteria Analysis, as well as, concepts and methodological aspects.
The chapter 4 presents the results for the Baixada Fluminense according to the Multi-
Criteria indicator, and in which, besides, also are presented the results and effects of
the simulations still tested in the study, likewise a sensibility analysis. The study is
concluded with presentation of the principal results and pertinent considerations to the
limits and possibilities noticed during your development.
ix
SUMÁRIO
Introdução................................................................................................................................... 1
Considerações Finais............................................................................................................... 97
Bibliografia............................................................................................................................... 101
Anexos...................................................................................................................................... 105
x
LISTA DE QUADROS E FIGURAS
xi
LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS
xii
GRÁFICO 4 – IQM-Carências dos municípios da Baixada Fluminense em 2000..................... 43
xiii
INTRODUÇÃO
1
municípios da Baixada Fluminense no Estado do Rio de Janeiro. Para isso, baseia-se
na avaliação das diferentes possibilidades do método Prométhée II que pertence à
família AMD. Assim sendo, esse estudo tem por objetivo tentar extrapolar as diferentes
possibilidades do método Prométhée II, implementado no aplicativo PRADIN –
Programa para Apoio à Tomada de Decisão Baseada em Indicadores, onde seja
possível identificar as diferentes escolhas metodológicas oferecidas pelo método, bem
como, do aplicativo de sua implementação no processo de construção de um Indicador
Multicriterial.
Com isso, espera-se observar limites e possibilidades do método adotado,
bem como, a situação da Baixada Fluminense (cenário utilizado convenientemente
como pano de fundo para aplicação da metodologia) através da avaliação de seus
municípios quanto aos indicadores sociais.
A adoção da Baixada Fluminense como cenário tem uma característica
singular para esse estudo em função da observância e indignação forjadas em minha
experiência de vida. No entanto, muito mais do que uma reflexão individual, pode-se
notar também que são alarmantes as demandas sociais dos municípios que compõem
a Baixada Fluminense. Isto é, trata-se de uma região que, atualmente, faz parte da
Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro e que ao longo de sua formação foi
constituída como periferia da Capital, o que contribuiu, em boa medida, com o déficit
social apresentado durante seu processo de formação, e que ainda hoje vem se
apresentando em alguns aspectos. Assim, com intuito de observar as possíveis
variações existentes entre municípios é que se baseia a avaliação das condições de
vida da Baixada Fluminense, visando apresentar subsídios que possam orientar as
prioridades socioeconômicas da Região, a partir da identificação de situações críticas,
permitindo uma aplicação mais adequada dos programas e políticas sociais.
O Apoio Multicritério à Decisão (AMD) apresenta, em boa medida, elementos
metodológicos que permitem uma análise das condições de vida no nível municipal,
por meio da avaliação simultânea de diferentes critérios (indicadores), uma vez que,
trata-se de uma técnica que busca solução mais adequada para um problema com
vários objetivos a serem alcançados. Em outras palavras, através da identificação de
regiões críticas, o método permite chegar a um diagnóstico social dos municípios
analisados.
Quanto à estrutura, o estudo está dividido em quatro capítulos. O capítulo 1
apresenta uma discussão sobre conceito e mensuração de condições de vida,
passando em seguida para a questão dos indicadores sociais no apoio à decisão no
2
âmbito da gestão pública; este capítulo é encerrado com a descrição de alguns
esforços metodológicos na mensuração das condições de vida. No capítulo 2, tem-se
uma caracterização das condições de vida da Baixada Fluminense através dos
indicadores sociais municipais, sendo que inicialmente se faz um resgate sobre o
processo de formação da Região. Quanto ao capítulo 3, refere-se à metodologia
aplicada no estudo, apresentando uma discussão que vai desde as etapas do
processo decisório até exemplos de aplicações do AMD no ciclo das políticas públicas,
passando pelos métodos que compõem a análise multicritério, bem como, conceitos e
aspectos metodológicos. O capítulo 4 apresenta os resultados para a Baixada
Fluminense segundo o indicador multicriterial, e no qual, além disso, são apresentados
ainda os resultados e efeitos das simulações testadas no estudo, assim como uma
análise de sensibilidade. O estudo é finalizado com a apresentação dos principais
resultados e considerações pertinentes aos limites e possibilidades percebidos durante
seu desenvolvimento.
3
CAPÍTULO 1
4
para fins de planejamento, dimensionamento e monitoramento da eficiência das
políticas implementadas, a fim de possibilitar a avaliação da atuação do ator público.
Isto ocorre devido à intensificação de fatores como aumento da criminalidade,
pobreza, déficit de habitações, de transporte, entre outros, e no caso brasileiro, mais
especificamente, pelo fato da Constituição de 1988 gerar uma demanda por parte dos
municípios em busca de conhecimento sobre as condições de vida da população local,
como veremos mais detalhadamente no item 1.2.
Entretanto, definir ou delimitar as necessidades mínimas de sobrevivência de
uma população seja conceitual, política ou normativamente não é algo simples. Há
que se considerar os contextos sociais, econômicos e culturais dessa população,
assim como a carga de subjetividade que está implícita em seu modo de vida. Além
disso, trata-se de uma questão que muitas vezes se refere especificamente à
determinada parcela da população que irá utilizar os “benefícios” das políticas
implementadas, a fim de possibilitar a satisfação de tais necessidades humanas, ou
seja, o efeito dessas políticas deveria impactar na melhoria das condições de vida da
população. Por exemplo, em um programa de habitação popular, espera-se que
famílias que não têm casa própria ou que vivem em condições habitacionais precárias
possam, a partir desse programa, viver em habitações consideradas adequadas.
Porém, há quem defenda que o debate sobre a mensuração e a
caracterização da pobreza a partir das condições de vida da população deva estar
apenas vinculado à renda (linha de pobreza) ou ao consumo de bens e serviços.
Entretanto, a questão operacional dessas metodologias é discutível, uma vez que é
muito difícil estabelecer uma cesta básica de bens e serviços que atenda
minimamente às necessidades de uma população dadas suas especificidades. E no
caso do rendimento é possível dizer que um mesmo nível de renda poderia
representar diferentes condições de vida, já que vários fatores poderiam influenciar
positiva ou negativamente nessas condições de vida da população, tais como:
diferentes situações e condições de moradia; acesso à saúde e à educação; bem
como a manutenção de uma regularidade no rendimento. (TROYANO et al., 1990, p.
33)
A questão central que permeia o debate em torno da conceituação de
condições de vida está em determinar quais são as condições mínimas ou básicas que
podem satisfazer as carências e necessidades da população. Ao pensar condições de
vida a partir do eixo das necessidades pode-se dizer que “freqüentemente,
necessidades sociais são consideradas como: falta ou privação de algo (tangível ou
5
intangível); (...) demanda, como procura por satisfação econômica, social ou
psicológica de alguma carência” (PEREIRA, 2002, p. 39, 40).
Apesar da forte subjetividade que envolve o tema não se pode esquecer que
além das necessidades individuais existem as necessidades coletivas, ou seja, as que
são vivenciadas em grupos sociais e funcionam como parâmetro para a formulação e
implementação de políticas públicas. Sendo assim, pode-se dizer que a noção de
condições de vida vem se construindo historicamente a partir construções teóricas e
constatações empíricas sobre as necessidades, carências sociais, pobreza,
desigualdades sociais, além da exclusão social.
Ao voltar atenção para o debate internacional sobre pobreza pautado nas
condições em que uma população vive, onde muitas vezes as condições de vida da
população brasileira é comparada com a de populações de países bem menos
desenvolvidos, técnicos e especialistas brasileiros, nos últimos anos, se empenharam
em
6
políticas públicas. É necessário para tanto, investigar o modo de vida da população e
seu acesso aos programas sociais disponibilizados pelo poder público. Desta forma,
Troyano et al. afirmam que
7
“(...) o uso da expressão ‘qualidade de vida’ remete à demanda
por melhores condições de saúde e bem-estar, face aos
impactos e desigualdades sociais geradas pelo crescente
processo de urbanização, mas remete sobretudo a
componentes de caráter imaterial, imprimindo ao conceito o
enfoque do indivíduo, da pessoa, vinculado a aspirações por
felicidade, bem-estar e satisfação pessoal”.
No que tange a qualidade de vida, pode-se perceber que cada vez mais o
tema ocupa espaço na agenda político-social do país, provocando debates sobre as
propostas, metas e objetivos de programas sociais, bem como, sobre a atuação
pública evocando a necessidade de diagnósticos, monitoramento e avaliação das
políticas públicas. O termo qualidade de vida tem um sentido bastante genérico não
sendo de fácil definição nem de fácil compreensão, trata-se de um conceito subjetivo
extremamente complexo que está relacionado às necessidades individuais e sociais
da população. (VITTE et al., 2002, p. 40)
O debate sobre qualidade de vida engloba ainda diferentes dimensões, dentre
elas, pode-se destacar a social, que abarca saúde, educação, trabalho e renda, infra-
estrutura urbana, cultura, entre outras. Assim, a questão da pobreza e do bem-estar
humano, por exemplo, surge a partir do debate sobre da qualidade de vida balizando
discussões sobre o planejamento para ação pública.
Ao fazer um resgate contextual do tema Vitte et al. (2002, p. 40) diz que “a
qualidade de vida, principalmente a partir da década de 1970, tem se tornado uma
referência nas discussões do planejamento do desenvolvimento e dos padrões de
intervenção do Estado, principalmente no nível local”, logo, o conhecimento das
condições de vida e das necessidades individuais e coletivas contribui em muito para
que se possa organizar a ação pública, tendo no planejamento referência para
instrumentalizar tal ação.
Mas se a qualidade de vida é tão importante para os propósitos de
planejamento no setor público, como fazer para medir questões tão singulares da
dinâmica social? È difícil construir um modelo que possa captar o nível de
necessidades individuais e coletivas, levando em conta o contexto social e cultural dos
indivíduos. É nessa perspectiva que os debates e reflexões sobre o tema têm buscado
contribuir para a proposta de diferentes métodos na tentativa de medir alguns
aspectos da qualidade de vida.
Nesse sentido, os indicadores têm apresentado importante papel na tentativa
de identificar e medir o grau de desigualdades sociais, econômicas e culturais da
8
sociedade, construindo ferramentas que auxiliem no processo de elaboração de
estratégias para melhorar o bem-estar.
No Brasil as desigualdades se manifestam de diferentes maneiras, seja de
oportunidades, de renda, de cidadania, de direitos etc, o que per se contribui para que
as condições de vida da população se apresentem de modo bastante particular e
complexo.
Pode-se dizer que, do ponto de vista do desenvolvimento, a noção de
qualidade de vida passou por certa evolução, pois se antes (até anos 1950) quando os
estudos que falavam sobre desenvolvimento abordavam a qualidade de vida segundo
a perspectiva econômica (renda, produto interno bruto - PIB, nível de emprego), a
partir dos anos 1960 foi agregada à noção de qualidade de vida o conceito de bem-
estar. Mas, somente nos anos 1970 esse conceito de bem-estar passou a ter
conotação mais abrangente, saindo da lógica totalmente econômica e determinística e
incorporando um significado mais social. (VITTE et al., 2002)
Antes a qualidade era vista a partir do nível de consumo de bens e serviços,
passa a ter agregado em seu conceito componentes da dimensão social como
escolaridade, saúde e emprego. Ademais, nos anos 1980, é incorporada também a
questão ambiental, trazendo à discussão sobre desenvolvimento alguns aspectos
determinantes das condições de vida de uma dada população.
9
“(...) no mundo ocidental atual, por exemplo, é possível dizer
também que desemprego, exclusão social e violência são, de
forma objetiva, reconhecidos como a negação da qualidade de
vida. Trata-se, portanto, de componentes passíveis de
mensuração e comparação, mesmo levando-se em conta a
necessidade permanente de relativizá-los culturalmente no
tempo e no espaço”. (MINAYO et al., 2000, p. 10)
10
distribuir os recursos, para otimizar as condições que possam levar ao
desenvolvimento e a sustentabilidade local. De outro lado, esses esforços levam à
sociedade subsídios que fundamentam sua participação direta no exercício do controle
social, a partir de reivindicações quanto ao melhoramento do bem-estar, a igualdade
de oportunidades etc.
Em suma, existe atualmente uma demanda voltada ao planejamento no setor
público que se intensifica cada vez mais no nível local, o que aumenta a busca por
informações mais detalhadas sobre condições e qualidade de vida da população nos
municípios. Assim sendo, identificar e caracterizar o modo, condições e estilo de vida,
aliado a projetos de desenvolvimento e direitos humanos e sociais, constituem
ferramentas que permitem monitorar o desenvolvimento desses municípios.
11
realizadas em sua maior parte, especialmente no tocante aos
requisitos de dados para a formulação de medidas de políticas
e para o planejamento. Em alguns casos, as informações
apresentadas sob a rubrica de ‘indicadores sociais’ foram
rejeitadas como inúteis ou até mesmo como enganosas pelos
burocratas e administradores”. (CARLEY, 1985, p. 21)
12
A partir de então, diversos municípios passaram a demandar com maior
freqüência uma série de indicadores às instituições ligadas ao planejamento público,
com o intuito de fundamentar tecnicamente a elaboração de planos diretores de
desenvolvimento urbano, de planos plurianuais de investimentos, com o propósito da
avaliação de impacto de projetos, na perspectiva de justificar a alocação de recursos
federais em programas sociais no nível local, ou mesmo a fim de responder demandas
específicas oriundas de grupos sociais minoritários, por exemplo, disponibilizar
equipamentos ou serviços sociais para públicos específicos (para pessoas com
deficiência) ou por pressão política da sociedade local (melhoria dos serviços de
transporte urbano). (JANNUZZI, 2003)
Esse cenário nos permite afirmar que a administração pública no país vem
passando por uma fase de transformação devido à regulamentação de leis que exigem
planejamento, gestão eficaz e transparência no cumprimento de metas fiscais, o que
leva os gestores públicos a assumirem uma postura diferenciada quanto a sua
atuação, pois, torna-se necessário estabelecer um diálogo mais direto com a
sociedade, especialmente, no que diz respeito à comprovação de seus planos e
programas de governo.
No entanto, os indicadores sociais não podem e não devem ficar reservados
apenas aos especialistas, pois se eles têm a função de realçar os gastos públicos,
permitindo a comparação, o monitoramento e a avaliação do impacto das ações
governamentais, mais do que nunca deveriam ir além dos especialistas, sendo
difundidos para a sociedade a fim de fornecer mecanismos que possam auxiliar no
exercício do controle social. (JANNUZZI, 2003)
Devido a essas mudanças institucionais municípios, instituições ligadas ao
planejamento público e agências estatísticas passam a investir tempo, recursos
humanos e financeiros na organização de sistemas de informações estatísticas
municipais. Isso tem contribuído para que a informação que antes arquivada em
armários se transforme em informação estruturada, permitindo assim, seu uso e
disseminação tanto por parte de técnicos e pesquisadores quanto por parte de
políticos e imprensa, enfim, para uso da sociedade.
Dado esse quadro é necessário identificar qual é o conceito de indicadores
sociais, a fim de melhor compreender seu significado. Jannuzzi (2005, p. 138) define
que “(...) os indicadores sociais são medidas usadas para permitir a operacionalização
de um conceito abstrato ou de uma demanda de interesse programático”, em outras
palavras, trata-se de uma ferramenta que pode ser utilizada para identificar, entender
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e monitorar os problemas sociais, buscando assim identificar aspectos que possam
apontar a necessidade de formulação e reformulação de programas e políticas
públicas, a fim de fornecer subsídio ao processo decisório.
Para tentar evitar com que ocorra a substituição do conceito pela medida é
necessário que ao selecionar um indicador social se busque avaliá-lo segundo suas
propriedades (JANNUZZI, 2005). Não se pode deixar de ressaltar a dificuldade de um
indicador social em satisfazer todas as propriedades consideradas importantes quando
do seu emprego, deste modo será o analista quem irá realizar uma avaliação crítica a
respeito do indicador, a fim de melhor empregar seu uso.
Sempre que possível é fundamental que o indicador social apresente
relevância para fins de formulação e avaliação dos programas sociais aos quais se
destinam. Por exemplo, a taxa de mortalidade infantil e a proporção de domicílios com
saneamento adequado são medidas relevantes para o acompanhamento de
programas de saúde pública.
A validade é outra propriedade importante a ser considerada no momento de
escolha do indicador, uma vez que a medida selecionada deve representar (o mais
próximo possível) o conceito que está sendo indicado ou a demanda política que lhe
deu origem. Pode-se citar como exemplo de validade de um indicador a utilização de
indicadores antropométricos ou do padrão de consumo familiar de alimentos para fins
de monitoramento e avaliação de programas de combate à fome, pois se trata de uma
medida diretamente ligadas a questão nutricional.
A confiabilidade da medida adotada é outro critério fundamental a ser
considerado ao escolher os indicadores no sentido de legitimar seu uso. Nesse caso,
por exemplo, um estudo sobre vitimização pode ser mais confiável e mais válido para
fins de avaliação da violência em uma dada comunidade do que os dados oriundos de
registros de ocorrência policial ou ainda a mortalidade por causas violentas, já que o
indivíduo que sofreu a agressão pode por motivos de constrangimento omitir alguma
informação. Nesse caso, a pesquisa de vitimização tende ser menos constrangedora.
Existe ainda, a necessidade de que o indicador apresente cobertura
populacional, isto é, a medida adotada deverá apresentar abrangência territorial e
populacional a fim de melhor representar a realidade empírica em questão. Por
exemplo, medidas produzidas a partir de Censos Demográficos e de bases de dados
administrativos cumprem bem o critério mencionado.
Além disso, um indicador deve apresentar sensibilidade e especificidade às
ações do programa que será monitorado e avaliado, de modo que possa responder o
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quanto antes o resultado da intervenção realizada. Ao tomar como referência um
programa de transferência de renda, taxas como evasão escolar e freqüência escolar
são, em boa medida, sensíveis e até mesmo específicas ao avaliar os efeitos da
intervenção realizada.
Outros critérios importantes a serem considerados na seleção de indicadores
sociais dizem respeito à transparência metodológica ou inteligibilidade quanto à
construção da medida, justificando de modo claro e objetivo as escolhas realizadas a
fim de que esse indicador apresente legitimidade técnica, social e política;
comunicabilidade dessa medida ao público de maneira que permita maior
transparência técnica às decisões tomadas; factibilidade operacional para sua
obtenção; periodicidade na sua atualização; desagregabilidade populacional e
territorial se referindo ao público ou regiões específicas de interesse do programa e,
por fim, comparabilidade da medida, ou seja, que possibilite a comparação dos
resultados ao longo do tempo. (JANNUZZI, 2005, p. 139-142)
Com base nas propriedades apresentadas anteriormente é possível afirmar
que, tratam-se de critérios fundamentais para determinar a adequação dos indicadores
sociais que irão compor o sistema de avaliação e monitoramento das políticas ou
programas públicos. Entretanto, na prática fica evidente a dificuldade em se obter
indicadores que satisfaçam todos os critérios apresentados. Operacionalmente a
seleção de um indicador pode não ser adequada devido à complexidade em seu
processo de coleta ou mesmo ao alto custo, ou ainda, mesmo que o indicador
satisfaça todos os critérios de seleção possa ser que não esteja disponível na escala
territorial ou com a periodicidade desejada.
Em outras palavras, deve-se tentar adequar da melhor maneira possível os
objetivos a serem alcançados com a abordagem teórico-conceitual, as possibilidades
operacionais, os recursos disponíveis, entre outros, a fim de viabilizar a melhor
conduta a ser adotada na aplicação do estudo.
Numa abordagem prática é muito difícil para os municípios, seja pela falta de
recursos, estruturação ou ainda pelo compromisso com a periodicidade de seus
cadastros, disponibilizar informações municipais mais atualizadas e detalhadas. Em
geral, os estudos que utilizam informações municipais se baseiam em informações
oriundas dos Censos Demográficos, o que dificulta um pouco a dinâmica desses
estudos já que tais informações só são atualizadas a cada dez anos.
Já no tocante à classificação, a literatura apresenta diferentes formas para
classificar os indicadores sociais que podem ser definidos de acordo com a área
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temática na qual está sendo aplicado, ou melhor, podem ser classificados como
indicadores demográficos e de saúde, educacionais e culturais, de mercado de
trabalho, de renda e pobreza, habitacionais e de infra-estrutura urbana, entre outros.
Um outro tipo de classificação refere-se a uma área temática mais agregada, por
exemplo, os indicadores econômicos constituem-se de um conjunto de indicadores
que apontam questões sobre a situação econômica de uma determinada região, do
mesmo modo, ocorre com os indicadores de qualidade vida, ambientais e de
desenvolvimento humano.
16
¾ Indicadores-produto → referem-se às dimensões empíricas da realidade social no
que tange as variáveis resultantes de processo sociais mais complexos, podem
retratar as condições de vida (ex. esperança de vida ao nascer).
Eficiência no uso
dos recursos
17
respectivo programa. Esses efeitos podem ser compreendidos em termos técnicos,
sociais, econômicos, culturais e ambientais.
Por fim, pode-se afirmar que o movimento dos indicadores sociais tem
contribuído no sentido de gerar instrumentos de apoio à tomada de decisão no que se
refere ao planejamento público local, fortalecendo assim, o processo de
monitoramento, avaliação e diagnósticos sociais dos municípios, além de garantir a
participação e o controle social sobre todo processo de gestão das políticas públicas.
18
internacionais) no sentido construir um sistema amplo de indicadores ou ainda
medidas-síntese que pudessem apreender importantes aspectos da realidade social.
Entretanto,
Esta afirmação nos leva a refletir sobre o movimento de utilização dos índices
e dos sistemas de indicadores sociais na avaliação de políticas públicas, onde a
interpretação equivocada do uso dessas medidas muitas vezes contribui para o
excesso na aplicação do indicador, substituindo o conceito pela medida.
Internacionalmente, um dos esforços metodológicos na área de indicadores
sociais mais referenciados na imprensa de modo geral, seja por argumentos a favor ou
contra, é sem dúvida o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) proposto pelo PNUD
- Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - em 1990 no lançamento do
Relatório sobre Desenvolvimento Humano 1.
O IDH foi idealizado na tentativa de medir o desenvolvimento, que até então
era muitas vezes representado pela renda per capita, propôs uma medida simples que
fosse capaz de captar os aspectos sociais da vida humana, o que Amartya Sen 2
criticou contundentemente. Contudo, em 1999 Sen rendendo-se à proposta de
Mahbud ul Haq aportou uma importante contribuição ao Relatório do PNUD “Sen
argumentava que o elevado poder de atração e comunicação do IDH estimularia seus
usuários a também consultar o vasto sortimento de tabelas estatísticas e análises mais
aprofundadas constantes nos relatórios anuais do PNUD”. (SCANDAR NETO, 2006, p.
20-21)
Trata-se de um indicador sintético de desenvolvimento humano relativamente
simples, que considera três aspectos da dinâmica social relacionados ao
desenvolvimento, que são: saúde, educação e renda. A saúde é medida através da
esperança de vida ao nascer, a educação é mensurada a partir da taxa de
alfabetização das pessoas com 15 anos de idade ou mais e pela taxa de matrícula
bruta nos três níveis de ensino (fundamental, médio e superior), e, por fim, a renda é
1
Publicação anual.
2
Prêmio Nobel de Economia em 1998.
19
medida pelo PIB real per capita do país ajustado pelo PPC (paridade do poder de
compra). Calcula-se índices parciais para cada uma das dimensões apresentadas,
depois de calculados os três índices é computada uma média aritmética entre eles,
gerando o IDH 3 propriamente dito.
Na discussão sobre a utilização adequada dos indicadores sociais para medir
condições de vida o IDH configura um cenário controverso, uma vez que é bastante
utilizado como referência em estudos e pesquisas que tratam sobre desenvolvimento
humano, condições de vida, dentre outros. Por outro lado, há um certo fascínio no
sentido de se crer que a medida per se garantiria uma melhor gestão dos recursos e
programas sociais, conforme alerta Jannuzzi (2002). Em outras palavras, isso quer
dizer que não é possível captar a essência do conceito que se tenta medir, -
desenvolvimento -, a partir, apenas, dos três aspectos considerados na
operacionalização do indicador. O IDH deveria ser utilizado com o propósito de
apontar qual seria a tendência do desenvolvimento de determinada região, ou seja, se
haveria tendência de melhorar ou não. Mas isso seria algo mais superficial, cabendo
ao “usuário” buscar evidências mais contundentes para confirmar ou não a indicação
revelada pelo indicador, tal como idealizou Amartya Sen.
No caso do Brasil, também é possível destacar algumas das iniciativas que
abordam a temática aqui apresentada a partir de indicadores sociais. Por exemplo,
instituições como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que é o órgão
responsável pela coleta, sistematização e disseminação de estatísticas públicas no
país, dada sua experiência com os Censos Demográficos - o primeiro foi realizado em
1872 e desde os anos 1940 é publicado a cada dez anos - vem cada da vez mais
elaborando estudos metodológicos a fim de possibilitar meios de mensurar as
condições de vida da população.
Ao fazer um resgate histórico dos Censos verifica-se inicialmente que eles
compunham o quadro operativo das estratégias militares. No entanto, ao longo do
tempo, sua contribuição foi sendo ampliada, sobretudo, a partir da expansão do
temário de 1960, apontando a possibilidade da ampliação da participação social,
inclusive no tocante às comissões de planejamento do Censo, quer pela defesa de
direitos de grupos específicos ou de populações marginalizadas. Ao longo da história,
o Censo tornou-se um dos mais importantes instrumentos de apoio ao planejamento
público. Outra relevante contribuição dos censos consiste na efetivação do eixo
constitucional da descentralização, onde permitem uma abordagem de suas
3
A metodologia detalhada para o cálculo do IDH, encontra-se disponível nos relatórios anuais do PNUD.
20
informações num nível de desagregamento bastante peculiar, passando do nível de
unidades da federação e chegando no nível de distrito, além de ter um vasto temário.
Ademais, contribui para o apoio na elaboração de políticas e programas sociais que
levam em conta a singularidade, possibilitando assim que, seja considerado também o
princípio da equidade. (JANNUZZI, 2003, p.39-40)
Os Indicadores Sociais Municipais (IBGE) constituem outro esforço
metodológico que pode contribuir no processo de caracterização das condições de
vida de uma população. Essa é uma publicação do IBGE, que apresenta uma síntese
de indicadores sociais sobre a população e os domicílios do país, o que permite por
conseqüência um conhecimento mais detalhado de alguns aspectos socioeconômicos
da população. Pode ser vista como mais uma ferramenta que focaliza a dinâmica
social dos municípios brasileiros. O que por conseqüência, contribui para a
identificação das necessidades no nível de municípios, ao passo que em boa medida,
pode orientar os governos no processo de tomada de decisão.
Nessa perspectiva, de mensuração das condições de vida, pode-se destacar
o Índice de Condições de Vida (ICV) da Fundação João Pinheiro e do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada, que tem como novidade a comparação das condições
de vida entre municípios, ao passo que a pobreza e a situação da criança marcam o
foco do trabalho. Vale lembrar ainda esforços como a construção do Sistema de
Indicadores Urbanos em Belo Horizonte, através da junção do Índice de
Vulnerabilidade Social (IVS) com o Índice de Qualidade de Vida Urbana (IQVU),
orientado pela possibilidade de mensurar a demanda por condições de bem estar,
considerando ainda os efeitos das desigualdades sociais junto com o crescimento
desregrado do perímetro sócio urbano para gestão e monitoramento da qualidade de
vida municipal. (NAHAS, 2002 p. 38)
A Fundação SEADE Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados do
Estado de São Paulo, apresenta como contribuição ao tema a Pesquisa de Condições
de Vida (PCV) 4. Que além de abordar um conjunto de dados sócio demográficos,
enfoca também a caracterização das famílias; condições habitacionais; situação
educacional; inserção no mercado de trabalho; renda e patrimônio familiar; acesso a
serviços de saúde; portadores de deficiência; e vítimas de crimes.
Um outro exemplo que vale ressaltar no que diz respeito aos indicadores
municipais é o Índice de Qualidade dos Municípios (IQM) da Fundação CIDE – Centro
de Informações e Dados do Rio de Janeiro, que foi publicado pela primeira vez em
4
Para mais informações consultar: www.seade.gov.br.
21
1998. Trata-se de um indicador que tem como proposta identificar os municípios que
apresentam potencial para o desenvolvimento econômico, bem como, àqueles que
apresentam situação de deficiência quanto às condições consideradas necessárias ao
desenvolvimento da economia.
Deste modo, busca identificar os municípios com melhores condições para
novos investimentos e/ou empreendimentos com a finalidade de promover o
desenvolvimento no nível local. Para isso, realiza uma classificação dos municípios do
Estado do Rio de Janeiro de acordo com sua potencialidade de crescimento e
desenvolvimento, de modo a subsidiar um planejamento estratégico dos municípios e
do estado.
Assim, no tocante à classificação, o IQM apresenta um conjunto de temas os
quais abordam diferentes aspectos da dinâmica social:
22
indicador de 3º nível é atribuído peso igual a 1 e, é classificado como
autodesenvolvimento e auto-satisfação. Assim, o resultado dessa operação seria a
revelação das carências sociais medidas a partir de diferentes graus de necessidades.
Vale lembrar ainda, que da mesma maneira em que a demanda por
indicadores sociais aumenta, nasce ou reacende também um conjunto de criticas
referentes a essas metodologias e à aplicação delas, o que por conseqüência leva ao
aprimoramento ou aperfeiçoamento desse conjunto de metodologias que se atém à
mensuração das condições de vida da população.
23
CAPÍTULO 2
24
destacar que o final do século XIX foi marcado ainda pelo início cultivo da laranja. .
(FIGUERÊDO, 2004)
No final da década de 1920, alguns investimentos públicos foram
direcionados para a Região gerando, por exemplo, a expansão do sistema de
transportes a partir da abertura da rodovia Washington Luiz, da antiga rodovia Rio-São
Paulo e da Avenida Automóvel Clube. Pode-se ainda destacar como exemplos de tais
investimentos a expansão da rede elétrica; a implantação do programa de saneamento
da Baixada Fluminense em 1934 no governo de Getúlio Vargas; e a eletrificação da
ferrovia ramal Central do Brasil-Japeri em 1938 até Nova Iguaçu e, mais tarde em
1943 até Japeri, os quais contribuíram para o desenvolvimento da Região.
(FIGUERÊDO, 2004, p.12)
A Região da Baixada Fluminense apresentou ao longo da história uma
importante contribuição no fornecimento de mão de obra, principalmente, para a
cidade do Rio de Janeiro, uma vez que a população saía de seus municípios, em
geral, para trabalhar e/ou estudar na Capital. Tal fenômeno caracterizou esses
municípios como “cidades dormitórios” durante as décadas de 1940 a 1970. No
entanto, segundo alguns estudiosos esse conceito foi superado, apesar do movimento
continuar ocorrendo, onde atualmente, apresenta outras características como, por
exemplo, o deslocamento de trabalhadores da Capital para municípios da Baixada
Fluminense, bem como, o deslocamento de trabalhadores entre municípios.
Em geral, as áreas procuradas pelos migrantes na periferia da Capital foram
transformadas em cidades dormitórios e a via férrea (Central do Brasil-Japeri) foi a
principal forma de acesso ao Rio de Janeiro, o que contribuiu para maior concentração
populacional nestas áreas. “Assim, o período entre o final da década de 1940 até 1960
caracterizou-se numa expansão urbana acentuada que se direcionou pelo eixo
ferroviário e deu origem a uma periferia próxima ao núcleo do Rio de Janeiro“
(FIGUERÊDO, 2004, p.14). A partir da segunda metade do século XX a Baixada
Fluminense apresenta um processo significativo na configuração da população em seu
espaço, tendo o fenômeno da “periferização” 5 como sua especificidade.
Trata-se de uma Região que teve um importante papel perante a cidade do
Rio de Janeiro, que foi o de absorver o excedente populacional da capital durante o
auge do movimento migratório, devido sua facilidade de ligação com a metrópole, bem
como pelos baixos custos de moradia, se comparados com os da capital.
Ao longo de sua trajetória a Baixada Fluminense apresenta um déficit
5
O sentido de periferização que é atribuído ao conceito neste texto, é o de ocupação do entorno da cidade do Rio de
Janeiro (a Baixada Fluminense), quer pelo baixo preço da moradia, quer pela facilidade de acesso à capital.
25
histórico quanto às decisões político-administrativas, onde, em geral, os serviços e
programas sociais, assim como, equipamentos de cultura e lazer – grandes hospitais,
universidades, pólos comerciais, meios de transporte, salas de teatro, cinema, etc. –
eram instalados e/ou concentrados primordialmente na Capital do Estado, não
obstante o significativo percentual de habitantes representado pela população da
Baixada Fluminense.
O cotidiano e a “marginalização social 6” dos municípios que compõem a
Baixada Fluminense têm, tradicionalmente, como aspectos comuns de sua própria
realidade empírica, a precariedade na oferta de serviços sociais públicos ou privados
em setores básicos como educação, saúde pública, habitação popular, trabalho e
renda, cultura, transporte, entre outros. Vale ressaltar que tais serviços sociais fazem
parte de uma agenda de compromissos político-sociais definida seja pela Constituição
Federal ou por fóruns da própria sociedade, estabelecendo normativamente
prioridades e compromissos a cumprir.
Atualmente a Baixada Fluminense é composta por treze municípios 7 que
juntos representam potencial parcela da população da Região Metropolitana (RM) do
Rio de Janeiro, onde de acordo com o Censo Demográfico 2000 (IBGE), representava
cerca de 33% do contingente populacional da RM e 25% da população do Estado.
Com o objetivo de sistematizar informações que pudessem retratar as
condições de vida da população da Baixada Fluminense na última década, buscou-se
descrever o perfil sócio-demográfico dos municípios que compõem a Região com base
nos indicadores dos Censos Demográficos de 1991 e 2000 (população residente, taxa
de crescimento anual, densidade demográfica, responsável pelo domicílio por sexo,
rendimento do responsável, anos de estudo do responsável, abastecimento de água,
esgotamento sanitário, coleta de lixo).
6
Para fins de entendimento deste estudo, o conceito de marginalização social tem o sentido de “esquecimento”, de
supressão quanto aos setores básicos de prestação de serviços à população.
7
Divisão adotada pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento da Baixada e da Região Metropolitana (SEDEBREM):
Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaguaí, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Paracambi,
Queimados, São João de Meriti, Seropédica.
26
FIGURA 2: Estado do Rio de Janeiro e a localização da Baixada Fluminense
Guapimirim
Magé
Paracambi Duque de
Nova Iguaçu
Japeri Caxias
Queimados Belford
Roxo
Seropédica
São João de Meriti
Mesquita
Nilópolis
Itaguaí
27
2.2. Caracterização Demográfica
8
Na última década a cidade de Nova Iguaçu sofreu quatro desmembramentos, Belford Roxo, Queimados, Japeri e
Mesquita, sendo este o mais recente, tornaram-se municípios emancipados.
28
Quanto ao crescimento populacional, Duque de Caxias, por exemplo,
apresentou um histórico de crescimento populacional que atingiu mais 10% ao ano
entre as décadas de 40 e 50. Entretanto, a partir dos anos 60, o ritmo de crescimento
arrefeceu e nas últimas duas décadas o crescimento populacional se manteve estável
com aproximadamente 1,7% ao ano. Já Magé cresceu 2,6% ao ano em 2000,
enquanto que no período entre 1960 e 1980 registrou taxas médias de crescimento em
torno de 6% aa. Vale lembrar que Nova Iguaçu foi um município que sofreu
desmembramento devido à emancipação de Mesquita em 2001, apresentando uma
taxa de crescimento populacional negativa para o período de 1991 a 2000, outro
município que também apresentou taxa de crescimento populacional negativa foi
Nilópolis. Uma possível explicação para a diminuição na taxa de crescimento
populacional dos municípios mencionados pode ser atribuída, por exemplo, a
dificuldades de acesso às informações, inclusive pelas fontes primárias.
Na tentativa de contribuir para melhor leitura das informações acima e de
ilustrar o movimento de criação dos municípios da Baixada Fluminense, segundo o
ano e origem é que se apresenta a Figura 4.
Guapimirim
1990
Magé
Paracambi Nova Iguaçu Duque de 1789
1960 1833 Caxias
Japeri 1943
1990
Queimados Belford
Seropédica 1990 Roxo
1997 1990
29
TABELA 1 - População residente, por anos de referência, segundo os municípios da Baixada
Fluminense - 1991-2000
14.000
12.000
Densidade Demográfica Km2
10.000
8.000
1991
6.000
2000
4.000
2.000
0
i
m
ta
é
is
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B.
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J.
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ro
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ua
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Pa
N
D
S.
Se
G
Q
Municípios
30
Com relação à estrutura etária da população da Baixada Fluminense (Tabela
3), os dados do Censo mostraram que o contingente de crianças de 0 a 6 anos, em
2000, representava aproximadamente 14% do total da população, quanto ao
percentual de pessoas em idade escolar básica (7 a 14 anos), este ficou em torno de
15%. Já no que diz respeito aos considerados potencialmente ativos ou disponíveis
para atividades econômicas (população de 15 a 64 anos), a cifra era de
aproximadamente 66% da população residente na Região. E no tocante à proporção
de idosos (pessoas a partir de 65 anos), esse percentual representava a menor parte
da população da Região, ou seja, cerca de 5%.
Numa análise comparativa da estrutura etária da população entre os
municípios que apresentaram informações sobre a população segundo os grupos
etários, tanto para o ano de 1991 quanto para o ano de 2000, observa-se que o
segmento representado pelas pessoas com 60 anos ou mais vem aumentando sua
participação, inclusive num ritmo maior que a população infantil. Esta, por sua vez,
apresentou uma diminuição no compasso de seu crescimento, conforme os resultados
apresentados nas Tabelas 2 e 3, fenômeno registrado em todos os municípios da
Baixada.
Ao fazer uma análise detalhada dos municípios quanto à estrutura etária, é
possível observar que no tocante ao grupo com idade entre 0 e 6 anos, os municípios
de Japeri e Belford Roxo, em 2000, destacaram-se por apresentar maior percentual de
população nesse grupo etário sendo 16% e 15%, respectivamente. Enquanto que em
Nilópolis e Paracambi cerca de 12% dos habitantes tinham idade entre 0 e 6 anos,
sendo estes, os municípios que apresentaram menor percentual populacional nesse
segmento etário.
Quanto à população considerada potencialmente ativa ou disponível para
atividades econômicas, verificou-se que os municípios de Paracambi e Nilópolis foram
os que apresentaram maiores cifras, ficando em torno de 68%. Já o município com
menor índice de habitantes pertencentes a esse grupo etário foi Japeri com 63%.
E no que diz respeito à população com 65 anos ou mais de idade, os
municípios de Nilópolis e Paracambi foram os que apresentaram maiores percentuais,
cerca de 7% dos habitantes destes municípios eram idosos no ano de 2000. Ao passo
que Queimados e Japeri foram os municípios com os percentuais mais baixos de
população idosa em torno de 5%.
31
TABELA 2 - População residente percentual por grupos de idade, segundo os municípios da
Baixada Fluminense – 1991
32
GRÁFICO 2 – População residente percentual por grupos de idade – Baixada Fluminense –
1991-2000
100,0
90,0
80,0
70,0 66,0
64,1
60,0
(%)
50,0
40,0
30,0
20,0 17,4
14,4 13,9 14,7
10,0 5,4
4,1
0,0
0 a 6 anos 7 a 14 anos 15 a 64 anos 65 anos ou mais
Grupos de idade
1991 2000
33
TABELA 4 - Pessoas responsáveis pelos domicílios particulares permanentes, por sexo,
segundo os municípios da Baixada Fluminense – 1991 e 2000
34
foram os municípios com maior percentual de responsáveis por domicílios que
recebiam até 2SM ou se encontravam sem rendimento no ano de 1991 (Tabela 5). Em
2000 estes municípios apresentaram uma diminuição em seus percentuais, porém,
ainda assim, continuaram representando os maiores índices de chefes com
rendimento até 2SM. Já Nilópolis foi o município da Baixada Fluminense que
apresentou menor percentual de chefes recebendo até 2SM ou sem rendimento tanto
em 1991 quanto em 2000, apesar de em 2000 apresentar uma cifra de 40%.
35
GRÁFICO 3 – Percentual de Responsáveis por Domicílios com até 2 SM - Baixada Fluminense
– 1991-2000
75,3
73,2 73,3
71,3
69,7
66,3 66,0 66,4
64,8
63,2 62,6
57,7
55,6 56,3 55,8
52,1 52,7 52,3 52,8
49,9 50,1
48,0
39,8
iti
o
m
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é
aí
lis
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N
Pa
D
S.
Se
G
36
função do alto índice de carências encontradas na maioria das áreas rurais do Brasil,
ausência de política pública de caráter universal e inclusivo, entre outros.
Além disso, é possível destacar ainda Nilópolis como município que
apresentou melhor situação, uma vez que, dentre os municípios analisados, este foi o
que teve menor percentual de responsáveis pelos domicílios na situação descrita
anteriormente, quase 5%.
A maioria dos municípios analisados tinha seus responsáveis pelos
domicílios, em 2000, com apenas a primeira metade do Ensino Médio (1 a 4 anos de
estudo), onde na maior parte desses municípios cerca de 40% dos chefes de
domicílios se encontravam nessa situação.
37
Abastecimento por rede geral, e em torno de 21% apresentavam como forma de
abastecimento ligação por poço ou nascente.
Cabe ressaltar que esse indicador representa o número de domicílios ligados
a essas formas de abastecimento de água, o que não garante o real acesso destes
domicílios ao abastecimento de água, ou seja, para isso deveria ser realizado um
estudo sobre a qualidade dos serviços prestados.
Pode-se destacar Nilópolis e São João de Meriti como municípios que
apresentaram melhor situação quanto ao abastecimento de água, pois tanto em 1991
quanto em 2000 estes municípios apresentaram maior percentual de domicílios com
acesso à rede geral de água, ficando em torno dos 96% nos dois períodos
referenciados. Enquanto que Magé foi o município que apresentou o menor índice de
domicílios com acesso à rede geral de água em ambos os períodos analisados, sendo
que Guapimirim, no ano de 2000, foi o município com menor índice, cerca de 45%.
38
Em relação às condições de esgotamento sanitário, os dados censitários
revelam que no ano de 2000, aproximadamente 52% dos domicílios apresentavam o
sistema de esgotamento ligado à rede geral e 27% dos domicílios encontrava-se
ligados à fossa séptica.
Ao comparar os municípios que compõem a Baixada, verifica-se que
Paracambi, Nilópolis e Itaguaí apresentaram uma melhora na situação quanto ao
esgotamento sanitário, passando de menos de 4% dos domicílios com rede geral de
esgotamento sanitário, em 1991, para cerca de 80% dos domicílios em Nilópolis, 60%
em Paracambi e 41% em Itaguaí no ano de 2000. Contudo, nove dos treze municípios
da Baixada Fluminense ainda tinham, em 2000, 20% ou mais de seus domicílios com
formas inadequadas de esgotamento sanitário, ficando apenas Nilópolis e São João
de Meriti com menos de 10% dos domicílios apresentando outra forma de
esgotamento sanitário, em torno de 3% e 8 %, respectivamente.
39
Já no tocante ao serviço de coleta de lixo é possível observar que 89% dos
domicílios da Região apresentavam como forma destino do lixo a coleta domiciliar, e
11% desses domicílios apresentavam outras formas de destino para o lixo
(queimavam, enterravam, jogavam em terrenos baldios, entre outros). A Tabela 9
revela que houve uma melhora, já que registrou um aumento percentual de domicílios
com coleta regular de lixo na Baixada Fluminense. Em 1991, cerca de 53% dos
domicílios da Região tinha o lixo coletado, e em 2000 esse percentual passou para
quase 89% dos domicílios, como observado anteriormente.
No caso dos municípios, de acordo com o Censo Demográfico de 1991,
Itaguaí apresentava o menor índice de domicílios com coleta de lixo, em torno de 25%.
Ao passo que Nilópolis era praticamente o oposto tendo quase 94% de seus domicílios
com o lixo sendo coletado. Já em 2000 essas cifras passaram para 89% e 99%,
respectivamente. No entanto, para o ano de 2000 cabe destacar o município de Japeri,
pois apresentou cerca de 58% dos domicílios com lixo coletado e os outros 42% dos
domicílios tinham o lixo queimado ou enterrado, ou ainda, adotava outra forma para o
destino do lixo.
40
2.4. Uma síntese dos Indicadores Sociais dos municípios
41
TABELA 10 – Síntese dos Indicadores de Déficit Social, segundo os municípios da Baixada
Fluminense - 2000
Belford Roxo 21,13 27,77 11,58 33,29 48,35 10,88 5.446 55,0 6º
Duque de Caxias 22,94 30,65 11,05 30,66 45,96 10,56 1.669 45,9 11º
Nilópolis 3,31 3,82 1,00 23,27 34,28 6,00 8.027 45,3 12º
Nova Iguaçu 19,63 19,09 11,75 29,47 43,22 10,05 1.650 48,2 9º
São João de Meriti 8,18 4,58 2,30 27,20 42,24 8,69 12.909 47,5 10º
Fonte: IBGE, Indicadores Sociais Municipais e Censo Demográfico 2000. CIDE, Índice de Qualidade dos Municípios – Carências IQMc, 2001.
Nota: Não havia informação disponível para Mesquita.
42
GRÁFICO 4 – IQM-Carências dos municípios da Baixada Fluminense em 2000
Nilópolis 45,3
Itaguaí 52,4
Municípios
Paracambi 54,8
Queimados 58,3
Magé 59,6
Serópedica 61,4
Guapimirim 63,5
Japeri 64,0
43
CAPÍTULO 3
44
coisa, em geral, está se abrindo mão de uma outra na tentativa de atender aos
objetivos estipulados. Mas nem sempre, a partir da escolha realizada (da decisão
tomada) é possível garantir plena satisfação desses objetivos.
A Figura 5 busca ilustrar de maneira sucinta os principais fatores que
envolvem o processo decisório, a fim de melhor representar a carga de complexidade
da qual tanto se refere quando se fala em tomada de decisão.
As situações que permeiam a realidade quando se deseja resolver algum
problema podem ser compreendidas a partir de diferentes visões, ou seja, um mesmo
problema é percebido a partir de diferentes dimensões por vários atores. Por exemplo,
a questão da baixa escolaridade da população de uma determinada região pode ser
percebida a partir da observação do rendimento ou da situação de ocupação das
pessoas em idade economicamente ativa; ou segundo o nível de incidências de
doenças infecto-contagiosas registradas; ou a partir da utilização de equipamentos
culturais como cinemas, teatros, museus etc; ou ainda dentro do enfoque ambiental,
se aquela população tem pouca escolaridade muito provavelmente também haverá
pouca preocupação com a questão de meio ambiente. De fato, muitas vezes rios que
cortam áreas residenciais são assolados por lixo, assim também como acontece com
as encostas. Isso não quer dizer que o baixo nível de escolaridade é o único fator para
as situações aqui mencionadas, mas estas situações podem também ser reflexo do
baixo nível de escolaridade.
Essas situações poderiam apontar indícios da condição educacional daquela
população, onde o gestor público na condição de agente tomador de decisão teria que
estipular os tipos de ações a serem executadas ponderando a viabilidade das
mesmas, ou ainda, de modo racional teria que adequar, por exemplo, a proporção de
pessoas atendidas com o recurso disponível, verificando a necessidade e/ou
possibilidade de estipular uma distribuição mais equânime dos recursos com a
finalidade de solucionar o problema identificado.
Tomar uma decisão implica em considerar alguns fatores e desconsiderar
outros, para que seja possível determinar um quadro futuro, esperando assim que este
seja melhor que o anterior e, que se cometa o mínimo de erros possíveis e o máximo
de acertos, tentando chegar a um cenário “ótimo”. Mas não se pode desconsiderar que
os cenários são dinâmicos e mutáveis o que per se já agrega uma carga de
complexidade.
45
FIGURA 5: O Processo Decisório
Vários Conflitantes /
Solucionar
Situações Decisor Racionalidade objetivos alcançados
problema
simultaneamente
46
métodos de apoio à tomada de decisão sustentação fundamentada para a formulação
e até mesmo implementação de políticas públicas.
O processo decisório não é um sistema linear com uma única direção,
tratando-se de um ciclo constituído por etapas que vão desde a constatação do
problema até a definição dos critérios de decisão, passando pelas relações intrínsecas
à realidade empírica. De acordo com Gomes et al. (2004, p. 1), a tomada de decisão
apresenta sete aspectos que podem caracterizar a complexidade de um processo
decisório, que são:
1. Os critérios de resolução do problema são, no mínimo, dois que conflitam entre si.
6. Alguns dos critérios são quantificáveis, ao passo que outros somente o são por
meio de juízos de valor efetuados sobre uma escala.
47
planejada que seja, não existem decisões perfeitas, pois ao decidir por uma
alternativa, tem-se que renunciar a outras, o que pode gerar um sentimento de
frustração ou incerteza.
O processo seja ele para apoiar a decisão ou para tomar a decisão envolve
um conjunto de etapas e procedimentos que devem ser considerados e analisados,
pois é necessário ter uma definição clara e objetiva do problema em questão, listar
todas as alternativas de solução possíveis e, assim, avaliar as mais adequadas ao
cenário, determinar uma linha a ser seguida (Ensslin, 2001). Sendo assim,
metodologias como Apoio Multicritério à Decisão (AMD), Análise Envoltória de Dados
(DEA), mapas cognitivos, método Delphi, árvores de decisão ou diagrama de árvore,
vêm sendo cada vez mais utilizadas como auxílio à tomada de decisão.
48
estratégicas a quem de fato irá decidir. Não é intenção da metodologia multicritério
solucionar o problema através de uma única verdade.
O decisor ou “sujeito das decisões” ou “agente de decisões” ou ainda
“tomador de decisões”, pode ser um indivíduo, um grupo de indivíduos, um comitê,
entre outros, que de maneira direta ou indireta executará o ato de tomar decisão. Ou
seja, trata-se de quem exercerá o julgamento de valor na etapa final do processo
decisório, buscando identificar a escolha mais adequada a partir da avaliação das
alternativas existentes. No AMD o decisor é considerado um dos elementos que
compõem o modelo, sendo um elemento real ou um elemento não real. (GOMES et
al., 2004, p. 8-9)
Uma das finalidades do AMD é permitir a transparência e a sistematização no
que diz respeito aos problemas envolvidos no processo decisório, dando um enfoque
diferenciado a esses problemas de acordo com as especificidades de cada um,
respeitando individualidades, sem ter como propósito a solução do problema. Ao
contrário, visa identificar as informações/regiões críticas, possibilitando ser a tomada
de decisão uma ação, sobretudo, humana e não apenas do sistema. Em outras
palavras, trata-se de um processo metodológico que não se condiciona apenas à
busca de uma única função ótima e, sim, satisfazer vários objetivos. (GOMES et al.,
2002)
O enfoque multicriterial no auxílio à decisão está potencialmente ligado a uma
visão mais abrangente do problema, mais equânime e mais participativa em relação a
outros métodos que buscam sintetizar a informação, sem deixar de considerar a
especificidade e essência de cada realidade em questão, o que em geral acontece
quando se utiliza métodos de aglutinação para padronizar e “ranquear” realidades tão
complexas e dinâmicas. Portanto, torna-se possível transcender a lógica da soberania
da técnica, levando em conta a posição de diferentes atores, ou seja, considera o
conjunto e suas singularidades, a totalidade dos resultados a partir de diferentes
visões. (GOMES et al., 2004)
Neste contexto a técnica multicriterial vem contribuir com a crescente
necessidade que os governantes têm em dar maior transparência à atuação pública e,
por outro lado, pode propiciar à sociedade maior “controle” dos recursos aplicados.
O procedimento multicritério de apoio à decisão considera mais de um
aspecto no que diz respeito à avaliação de uma alternativa (ação potencial). Com base
em um conjunto de critérios, busca-se medir o desempenho das ações potenciais no
que se refere a um determinado aspecto, tentando otimizar os indicadores-critérios
49
simultaneamente. Trata-se de uma abordagem que tem como objetivo o Apoio à
Decisão e não a Tomada de Decisão em si.
A otimização na perspectiva da análise multicriterial é diferente da otimização
utilizada classicamente, uma vez que, no processo multicritério pode haver
necessidade de tanto maximizar quanto minimizar, por exemplo, dois indicadores-
critérios ao mesmo tempo, sem que necessariamente tenha que desconsiderar um
deles para realizar a avaliação, embora eles possam ser conflitantes. Isso quer dizer
que, por exemplo, tomando como referência o processo de avaliação do setor
educacional de determinados municípios, pode ser necessário minimizar o quanto
possível o custo com educação e, por outro lado, maximizar o quanto possível o
acesso de pessoas de 7 a 14 anos de idade à escola.
O processo decisório com análise pautada em métodos multicritério
apresenta questões relevantes e parâmetros operacionais (Figura 6) a serem
considerados, dentre os quais se destacam os atores envolvidos no processo;
definição clara e objetiva da situação (problema) a ser resolvida; as alternativas
(ações) possíveis e como estas podem ser analisadas; os objetivos que influenciarão
na análise das ações; o modo de medir o desempenho das ações potenciais segundo
cada um dos objetivos e como considerar este desempenho para cada um dos
objetivos; a análise de sensibilidade dos resultados (ou seja, tenta perceber o
comportamento dos resultados caso ocorra pequenas variações nos parâmetros
considerados no modelo); e, finalmente, as considerações e orientações finais através
da geração de estratégias que visem o melhoramento das ações potenciais.
50
FIGURA 6: Organização da estrutura do multicritério
Especificar o problema
⇓
Definir os objetivos
⇓
Identificar os atores
⇓
Estabelecer as ações potenciais
⇓
Selecionar os indicadores-critérios
⇓
Definir pesos dos indicadores-critérios
⇓
Determinar o método multicritério
⇓
Aplicar o indicador multicriterial
⇓
Gerar estratégias de apoio decisão
51
para apoio a tomada de decisão, apesar de existirem diferentes pontos de vista deverá
haver uma negociação em busca do consenso.
Por mais que se baseie em procedimentos metodológicos necessários ao
processo decisório, não há como desconsiderar o julgamento de valor, pois seria como
desconsiderar a trajetória, a experiência acumulada de cada ator envolvido no
processo.
Os atores agidos têm participação indireta no processo decisório, uma vez
que esta participação acontece de modo passivo, isto é, eles apenas sofrem as
conseqüências positivas ou negativas de cada decisão tomada. Já os atores
intervenientes têm participação direta na tomada de decisão (o decisor), ou seja, são
aqueles que vão utilizar seus sistemas de valores e/ou de interesses institucionais
para realizar suas escolhas no momento de decidir.
O grupo de atores intervenientes se subdivide em decisores, representantes e
facilitadores. Como mostra a Figura 7, o decisor diz respeito a quem formalmente ou
moralmente é responsável pela escolha realizada, ou seja, segue uma preferência,
assumindo ônus e bônus conseqüentes de sua decisão. Já o representante é aquele
ator que tem a função de representar o decisor no processo decisório, função esta,
designada pelo próprio decisor. A função do facilitador nesse processo consiste em
apresentar ferramentas (modelos) e elementos que possam contribuir para a
estruturação do problema de modo geral e, assim, apoiar o decisor no momento de
decidir. (Ensslin, 2001)
52
FIGURA 7: Contextualização dos atores no processo decisório
P P
a a
r i r
t n t d
i d i i
c
Atores envolvidos no processo AMD c r
i
i r i e
p e p t
a t a a
ç a ç
ã ã
o o
53
decisores envolvidos neste processo decisório, que são os agidos e os
intervenientes.
É possível dizer que os agidos, apesar de serem aqueles que não irão tomar
decisões, mas apenas participar do programa, não são pessoas passivas durante todo
o processo de decisão, assim como os intervenientes, a quem é destinada a função de
tomar decisão sobre os programas, também não são pessoas ativas durante todo o
processo. Embora os agidos não tomem decisão sobre o programa, é possível que
este grupo de indivíduos possa influenciar através de pressão e/ou reivindicação,
mesmo que indiretamente, para que determinada escolha seja realizada. (Gomes et
al., 2002)
O facilitador, segundo Gomes et al. (2002) seria uma espécie de coordenador
do programa que tem como função possibilitar a resolução do problema a partir da
modelagem do processo de avaliação, buscando administrar os diversos pontos de
vista do decisor e trazer ao processo informações que possam contribuir para uma
solução mais adequada aos objetivos. Entretanto, o facilitador deve tentar se isentar o
quanto possível de seu sistema de valores, na tentativa de não influenciar o processo.
Já ao analista cabe fazer a análise do problema de modo a estruturá-lo e, assim,
identificar fatores que possam influenciar o processo quanto à evolução, solução e
configuração do problema.
Outro importante fator no processo decisório é o problema a ser resolvido
que, pode ser percebido a partir de dois olhares conforme indica Ensslin (2001), o
racionalista e o construtivista.
O primeiro olhar se baseia no total objetivismo, isto é, parte da idéia de que
todos os decisores têm a mesma visão em relação a um mesmo problema numa
situação decisória. Em outras palavras, nenhuma outra dimensão que não a racional é
levada em consideração, principalmente, no que diz respeito aos valores, aos
objetivos, aos pré-conceitos, às instituições do decisor, enfim, sua subjetividade não é
considerada.
Quanto ao olhar construtivista do problema, pode-se dizer que os aspectos
subjetivos dos decisores assumem importante papel no contexto decisório, uma vez
que o decisor e sua percepção enquanto sujeito, suas crenças pessoais, suas
hipóteses, seus pré-conceitos, seus valores e objetivos, certamente influenciarão o
processo decisório a partir do Ensslin chamou de “filtro”, tanto na captação quanto no
desprezo das informações que melhor lhes convêm. Em outras palavras, pode-se
dizer que a partir desse olhar do problema e da subjetividade a ele intrínseca, os
54
diversos decisores vão perceber o mesmo problema de diferentes maneiras. Nesse
sentido, as técnicas multicriteriais lançam mão do olhar construtivista no processo de
apoio à tomada de decisão.
x∈ X
onde x é o vetor [ x1 , x 2 ,..., x n ] das n variáveis de decisão.
55
As alternativas devem ser diferentes, exaustivas e excludentes. A
exaustividade é dada no sentido de que, a cada alternativa inserida ao conjunto A o
modelo será reformulado com um novo conjunto A, sendo garantida a não entrada de
“alternativas intermediárias” ao conjunto que se apresenta constituído. As alternativas
são excludentes quando existe a garantia de não haver possibilidade de se optar por
uma solução mista. (Gomes et al., 2004, p. 9)
¾ Atributos – quanto aos atributos, pode-se dizer que são características que
representam propriedades ou capacidades das alternativas em satisfazer as
necessidades e/ou desejos do agente de decisão, embora em diferentes
“quantidades” ou “intensidades”. No caso da compra de um carro, por exemplo,
pode-se destacar preço, segurança, conforto, tamanho etc, como atributos a serem
considerados entre os diferentes modelos/alternativas.
56
FIGURA 8: Procedimentos para construção de um critério de decisão
Permite afirmar
Conjunto de regras algo quanto a um
Preferências do
par de alternativas
decisor
segundo ao
atributo em
questão
Critério de decisão
sobre o município x 2 .
57
¾ Indiferença (I ) , significa dizer que ambas as alternativas são equivalentes e
existem justificativas plausíveis para explicar essa equivalência. Pode-se dizer que
o agente decisor é “indiferente”a x1 e x 2 , o que é representado por x1 Ix 2 .
¾ Preferência fraca (Q) , essa situação pode ser detectada em casos onde o agente
58
No modelo pseudocritério, para cada critério serão estabelecidos dois limites
de tolerância que, deverão estabelecer as diferenças a serem alcançadas numa
situação de preferência. Os limites de tolerância se dividem em limite de indiferença,
representado por q e, em limite de preferência estrita, representado por p , ambos
podem ser constante ou variáveis.
A região existente entre os limites de tolerância q e p é denominada de
x1 Pj x2 ⇔ u j ( x1 ) − u j ( x2 ) > p (u j ( x2 ))
x1 I j x2 ⇔ u j ( x1 ) − u j ( x2 ) ≤ q(u j ( x2 ))
9
Busca otimizar uma única função objetivo construída a partir das preferências do agente de decisão
agregando todos os diferentes pontos de vista considerados.
59
que foi criado em 1976, que admite a preexistência de um sistema de preferências,
transitividade e independência das preferências do decisor. Os métodos da escola
americana possuem uma abordagem racionalista (normativa) do processo. (GOMES
et al., 2004)
Os métodos da escola francesa “admitem um modelo mais flexível do
problema já que não pressupõe, necessariamente, a comparação de alternativas e
não impõe ao analista de decisão uma estrutura hierárquica dos critérios” (GOMES et
al., 2004, p. 93). Esse grupo se baseia em relações que representam as preferências
que foram colocadas pelo decisor, a fim de propiciar ao tomador de decisão subsídios
necessários ao processo de tomada de decisão. O grupo de métodos da escola
francesa surge da necessidade de incorporar a incomparabilidade entre ações em que
não eram consideradas, numa contraposição aos métodos da escola americana. A
escola francesa possui uma abordagem construtivista, parte do princípio de que a
preferência do decisor pode ser construída ao longo do processo.
Os principais métodos da abordagem francesa são a família ELECTRE
(Elimination Et Choix Traduisant la Réalité), criada em 1968. O método utiliza critérios
de peso para a construção de matrizes de concordância e de discordância, faz a
comparação com pseudocritérios através de relações hierárquicas nebulosas,
considerando aspectos de aceitação, de rejeição e/ou estimando a credibilidade da
informação. Uma outra família da escola francesa é a família Prométhée (Preference
Ranking Organization Method for Enrichment Evaluations), proposta em meados dos
anos de 1980. Atualmente, a família Prométhée é constituída por seis métodos, a
saber, Prométhée (I, II, III, IV, V e VI).
Trata-se de um método que faz parte da categoria dos métodos de relação de
superação. Foi desenvolvido para tratar problemas multicritério discretos, comparando
o desempenho das alternativas critério a critério, e assim, dispõe estas em ordem de
prioridade. É possível variar o grau de preferência entre as alternativas, uma vez que
permite estabelecer menor preferência para as pequenas diferenças e maior
preferência para as grandes diferenças, a partir do conceito de pseudocritério.
No caso específico desse estudo, por opção metodológica e simplicidade
analítica, será utilizado o método Prométhée II implementado em um aplicativo de
domínio público PRADIN – Programa para Apoio à Tomada de Decisão Baseada em
Indicadores. O aspecto de maior relevância para adoção do método é o fato desse
considerar a subjetividade, a partir do conjunto de valores/interesses de cada decisor,
já que não tem como propósito a hierarquização das alternativas e, sim, uma
60
ordenação decrescente das alternativas, de acordo sua eficiência. Trata-se de uma
ferramenta que visa gerar uma ordenação das alternativas em ordem de prioridades,
ou seja, busca resolver problemas do tipo γ ( Pγ ) .
O método Prométhée II consiste em realizar uma ordenação de prioridades
das alternativas aplicadas a um sistema de preferência nebuloso (P ~) , isto é, um
conjunto que apresenta fronteira indefinida, não tem seus limites bem definidos, que é
caracterizado por um índice de preferência C ik e reflete a confiabilidade da afirmação
( x i Sx k ) .
δ ik = u j ( x i ) − u j ( x k ) (1)
61
2. Já na segunda etapa de operacionalização do Prométhée II, têm-se um processo
de avaliação da função de preferência relativa P (representa o grau de preferência
do decisor quando este escolhe uma alternativa em relação a outra) para cada
critério j , de acordo com o modelo de critério de decisão adotado, a fim de definir
o poder discriminatório do critério:
Pj ( x i , x k ) = Pj ( u j ( x i ) − u j ( x k ) ) = Pj (δ ik ) (2)
0 δ ik
62
A função de preferência desse modelo é dada por:
⎧0 se δ ik = 0 Indiferença
Pj (δ ik ) = ⎨
⎩1 se δ ik ≠ 0 Preferência estrita
1
Área de
preferência fraca
0 q p δ ik
⎧0
⎪1 se δ ik ≤ q
⎪
Pj (δ ik ) = ⎨ se q < δ ik ≤ p
⎪2 se δ ik > p
⎪⎩1
63
FIGURA 11: Representação gráfica da função de preferência Critério Gaussiano
(Monotônica Contínua)
Pj (δ ik )
0 δ ik
⎛ −δ ik2 ⎞
⎜ ⎟
⎜ 2σ 2 ⎟
A função de preferência desse modelo é dada por: Pj (δ ik ) = 1 − e ⎝ ⎠
alternativas
1
P( xi , x k ) = ⇒ q < u j ( x1 ) − u j ( x 2 ) ≤ p há preferência fraca entre as alternativas
2
64
intensidade de preferência de x i sobre x k , considerando simultaneamente todos
∑ w P (δ
j j ik )
S ik =
j
(3)
∑w
j
j
um dentro do processo. Cada critério pode ter pesos diferentes ou o mesmo peso,
caso tenha a mesma importância para o agente de decisão. De modo geral, a
definição dos pesos é realizada pelo agente de decisão.
Φ i+ = ∑ S ik ⇒ (4)
k
Φ i− = ∑ S ki ⇒ (5)
k
5. Finalmente, o quinto e último passo diz respeito à definição de uma ordenação das
alternativas. Ou melhor, neste passo será obtida uma ordenação total das
alternativas através de um índice resumo chamado de fluxo de superação neto ou
fluxo líquido φ i . Este índice é dado pela diferença entre os fluxos positivos e
negativos. Com base nos valores obtidos de φ i é possível obter uma ordenação
65
eficiente. O Prométhée II gera uma ordenação completa das alternativas, uma vez
que não admite a relação de incomparabilidade entre as alternativas.
(φ i+ − φ i− )
φi = (6)
m −1
66
atenção para a necessidade de identificar áreas que demandam maior atenção do
poder público, a fim de melhor conhecer as regiões críticas. Nesse sentido, ela coloca
que as técnicas de análise multicritério têm contribuído bastante, principalmente,
quando se tem vários critérios em análise.
O estudo apresenta ainda um debate sobre o processo de tomada de decisão
ressaltando seus principais aspectos e conceitos, discorre também sobre a
fundamentação teórica das técnicas de AMD, bem como, sobre a metodologia do IDH-
M. Além da análise do IDH-M para os municípios paranaenses foram aplicadas as
seguintes metodologias de apoio multicritério à decisão: Prométhée II, Electre III e
AHP. Através dos métodos de análise utilizados nesse trabalho, buscou-se ordenar os
municípios de modo a identificar as áreas consideradas potencialmente críticas
segundos os indicares utilizados.
Para efetuar a aplicação dessas ferramentas e garantir a possibilidade de
comparação entre elas foram utilizados os mesmos indicadores que compõem o IDH-
M (esperança de vida, freqüência escolar, alfabetização e log renda). Na
implementação do Electre III foram estabelecidos os limites indiferença q e
preferência p , além do veto v para esses indicadores. Já no que diz respeito a
operacionalização do Prométhée II foi definida a utilização da função de preferência
com limite de indiferença e limite de preferência estrita para todos os critérios,
parâmetros q e p , respectivamente. Enquanto que para utilizar o AHP não é
necessário definir parâmetros, mas sim, estruturar o problema em hierarquias. A
autora construiu matrizes de comparação par-a-par para cada critério, e assim
computou autovetores correspondentes a cada critério, realizando a soma ponderada
pelos pesos dos critérios.
Nos dois primeiros métodos de análise multicritério utilizados no estudo,
realizou-se análise de sensibilidade de modo a testar a consistência dos resultados.
Para implementar esses métodos foram utilizados aplicativos em ambiente MATLAB.
Por fim, Cavassin coloca que devido as diferentes características existentes
entre os métodos multicritério, faz-se necessário realizar uma análise da situação em
questão antes de optar por um método. Por exemplo, os métodos de
sobreclassificação são parcialmente compensatórios e utilizam informações adicionais,
por exemplo, quando se tem avaliação alta demais para um determinado critério, esta
pode ser compensada em outro critério que não possui uma avaliação tão boa assim,
logo um método compensatório seria bem aplicado. A autora coloca ainda que “o
método ELECTRE TRI poderia ser utilizado para gerar uma classificação ordenada
67
dos municípios, podendo assim, agrupá-los por faixas, de acordo com o grau de
desenvolvimento humano, assim, seria possível identificar aqueles em situação mais
difícil”. (CAVASSIN, 2004, p. 59)
Um outro exemplo de utilização de AMD no tocante à qualidade de vida pode
ser observado no trabalho de Lins; Gomes; Mello (2002), “Seleção do Melhor
Município: integração SIG-Multicritério”. Trata-se de um estudo que tem como
proposta apresentar de forma didática a metodologia de integração SIG-Multicritério.
Para isso, buscou-se selecionar o melhor município do Estado do Rio de Janeiro em
termos de qualidade de vida urbana.
Nesse artigo, os autores apresentam as características da análise
multicriterial – auxilia analistas e decisores em situações de identificação de
prioridades segundo diferentes critérios e interesses conflitantes – e dos Sistemas de
Informação Geográfica (SIG) – fornece suporte à solução de problemas espaciais
complexos – com o objetivo de promover a integração de ambas as técnicas e, assim,
fornecer aos decisores subsídios que permitam avaliar várias alternativas, com base
em critérios e objetivos múltiplos e conflitantes. Uma característica importante na
integração SIG-multicritério é o fato do SIG auxiliar o decisor a definir os pesos de
prioridade dos indicadores de análise, avaliar as alternativas-municípios viáveis, além
de permitir a visualização dos resultados da escolha realizada, possibilitando a
seleção de alternativas que satisfaçam os valores limiares mínimos. (LINS, et al.,
2002, p. 61, 62)
Após as considerações sobre as metodologias apresentadas pelos autores, o
estudo segue com a descrição dos passos necessários à aplicação do método
proposto, definindo os critérios e as alternativas de análise que serão considerados no
estudo, discute-se também qual método de avaliação multicritério será utilizado no
estudo sendo adotado o método multiobjetivo Pareto Race.
Após a análise dos resultados os autores puderam observar, por exemplo,
que os três municípios que apresentaram os melhores desempenhos pertencem à
Região Serrana dos Estado. Eles sugerem que uma análise inversa também poderia
ser realizada com o auxílio da integração SIG-multicritério, ou seja, uma avaliação dos
municípios com os piores desempenhos em termos de qualidade de vida, onde a
técnica se apresenta bastante adequada para no auxílio à escolha de áreas de
investimento para fins de planejamento local.
Jannuzzi (2005) apresenta como alternativa para o planejamento público e
avaliação de projetos/programas o software intitulado de “Programa para Apoio à
68
tomada de Decisão baseada em Indicadores” (PRADIN). Trata-se de uma ferramenta
baseada no método Prométhée II de apoio multicritério à decisão que tem por objetivo
oferecer aos gestores um instrumento que permita identificar públicos-alvo de
programa sociais.
É possível citar como exemplo de estudo baseado no AMD a proposta de
construção de um Indicador Multicriterial de Déficit Social, que apresenta como
objetivo a construção de indicadores de priorização de programas sociais e, para isso,
promove uma reflexão em torno do conceito de déficit social, o qual pode ser
estabelecido segundo a agenda de compromissos político-social (JANNUZZI, 2006).
Para construir a medida proposta, o autor descreve a técnica de AMD apresentando
os principais resultados obtidos com o aplicativo PRADIN. Não é objetivo do estudo
chegar a uma medida única e sintética, mas sim apresentar um indicador de déficit
social que possa ser utilizado pelos agentes decisores (gestores) no ciclo das políticas
públicas.
A implementação do AMD no PRADIN foi abordada a partir da descrição dos
passos necessários para construção do indicador multicriterial no software segundo a
definição de déficit social adotada para construção da medida
69
multicritério à decisão ELECTRE TRI. Para isso, adotou-se a realização de um
experimento, bem como, a investigação dos métodos pré-existentes de classificação
dos hotéis no município de Campos dos Goytacases/RJ. Assim, a aplicação do AMD
obedeceu às seguintes etapas: definição do conjunto de hotéis (alternativas); definição
do conjunto de critérios; desempenho dos hotéis (alternativas); definição das
categorias e fronteiras; definição dos parâmetros utilizados; análise multicriterial;
classificação dos hotéis; identificação de incomparabilidade; graus de credibilidade;
visualização das alternativas e fronteiras.
Segundo os autores a aplicação do AMD contribuiu para a obtenção
satisfatória da classificação dos hotéis, identificando, além disso, eventuais relações
de incomparabilidade, sem falar que permitiu a visualização de desempenhos dos
hotéis em relação aos padrões da categoria.
70
CAPÍTULO 4
71
especificamente adotou-se como critério de auxílio à tomada de decisão, o conjunto de
indicadores sociais considerados numa proposta de dimensionamento do déficit das
necessidades sociais da população referido no capítulo 1. O grau de importância
atribuído pelo agente de decisão a cada um dos indicadores é o passo seguinte dessa
etapa; por exemplo, para um determinado agente, os indicadores de infra-estrutura
urbana podem ter maior importância do que indicadores de educação, de acordo com
seus objetivos. Já para um outro agente de decisão, os indicadores de educação e
saúde podem ter maior grau de importância do que os indicadores de infra-estrutura
urbana, levando em conta seus objetivos. Por isso, é importante que logo após a
definição dos indicadores que deverão compor o estudo se estabeleça o grau de
importância destes para cada agente participante do processo de avaliação.
Na terceira etapa, após a definição dos critérios é necessário estabelecer os
parâmetros utilizados para comparação dos municípios (alternativas) de acordo com
estes mesmos critérios. Isto quer dizer que será determinado um padrão para efetuar
tais comparações entre os municípios. Em outras palavras, quando se escolhe a
função de preferência a ser utilizada, assim como os níveis de indiferença e de
preferência, o que está se fazendo é definir qual será a regra de comparação entre os
municípios. É importante destacar que no PRADIN é escolhida uma única função de
preferência, bem como, seus limiares de preferência para todos os indicadores, não
sendo possível escolher funções diferentes para cada um dos indicadores, como em
outros programas.
O nível de indiferença pode ser entendido como um parâmetro relacionado ao
erro amostral, à confiabilidade do indicador, isto é, em quanto será possível admitir
uma diferença significativa entre os municípios para um determinado indicador. Por
exemplo, se q = 5% e ao comparar dois municípios para o indicador taxa de
analfabetismo, se o resultado desta comparação apresentar uma diferença inferior a
5%, é possível dizer que não há diferenças significativas entre os municípios de
acordo com o limite de indiferença estabelecido; caso contrário, pode-se afirmar que
um município se encontra numa situação melhor ou pior que o outro.
O limite de preferência estabelece um critério para avaliação mais apurado
das diferenças entre os indicadores. Trata-se de avaliar não apenas se a diferença
entre os indicadores de dois municípios é significativa, mas se é expressiva.
Assim sendo, o limite de preferência pode estar relacionado com os critérios
normativamente estabelecidos para melhor adequação das condições de vida da
população, ou seja, pode-se tratar do padrão que se espera atingir de acordo com as
72
normas estabelecidas por compromissos sócio-político. Ao se definir, por exemplo,
p = 10% para a taxa de analfabetismo, significa dizer que na comparação entre as
taxas, entre dois municípios, àquele que apresentar taxa superior a essa teria
preferência em relação ao outro, superando-o no critério estabelecido. É importante
lembrar que como esse indicador representa uma situação de déficit, o município que
superar o outro estaria em situação mais crítica.
Após esses procedimentos, a etapa seguinte (etapa 4) consiste no cálculo do
Indicador Multicriterial através do uso do algoritmo do Prométheé II implementado no
aplicativo PRADIN. Os resultados são apresentados de forma ordenada, ou seja, os
municípios são hierarquizados de acordo com o resultado líquido entre superações e
subordinações que são definidas pela comparação dois a dois dos municípios de
acordo com função de preferência utilizada. Com o cômputo do Indicador Multicriterial
será obtido um indicador-síntese a partir dos indicadores e dos parâmetros
previamente estabelecidos.
Vale observar que como se está trabalhando com a noção de déficit, então o
município que apresentar maior cifra quanto ao Indicador Multicriterial será aquele
município que se destacar com a situação mais crítica.
Ainda nesta etapa, após a análise dos resultados é possível realizar
simulações (etapa recorrente) através de mudanças quanto aos indicadores
selecionados, retirando, trocando ou inserindo indicadores e alternativas, além de
variações quanto à função de preferência e seus limiares, e quanto ao peso dos
indicadores. Deste modo, é possível realizar a simulação de soluções quanto às
alternativas avaliadas.
A penúltima etapa refere-se à realização de uma análise de sensibilidade do
Indicador Multicriterial de modo a avaliar a robustez do indicador. A validação do
indicador, ou seja, da solução encontrada, pode ser realizada através da avaliação do
impacto de variações realizadas nos pesos dos indicadores, no grau de influência dos
decisores, ou ainda na retirada de alternativas que se encontram nas extremidades,
isto é, aquelas que tiverem apresentado melhor ou pior situação.
A sexta e última etapa permite realizar agrupamentos de soluções baseando
os grupos pelos quantis ou de acordo com a proximidade do Indicador Multicriterial, o
que permite uma solução além da hierarquização dos municípios, oferecendo soluções
que apresentem grupos de municípios com características semelhantes de acordo
com a avaliação realizada.
73
QUADRO 2: Etapas de Construção do Indicador Multicriterial para seleção de público-
alvo de programas sociais usando o PRADIN
1a.etapa
Definição do programa, agentes envolvidos e poder de
influência dos mesmos (com base na posição hierárquica,
recursos aportados etc)
2a.etapa
Explicitação dos indicadores que serão tomados como
critérios para decisão, bem como a importância que cada
agente confere ao mesmo
Etapa
3a.etapa recorrente
Definição dos parâmetros do algoritmo de comparação das Simulações
alternativas segundo os critérios como a função de segundo avaliação
preferência, níveis de indiferença e preferência coletiva dos
resultados
4a.etapa
Cômputo do Indicador Multicriterial
5a.etapa
Análise de Sensibilidade para validação do Indicador
Multicriterial
6a.etapa
Geração dos Agrupamentos de Soluções
74
4.2. Aplicação do PRADIN na simulação do cômputo do Indicador Multicriterial
75
TABELA 11 – Indicadores de Déficit Social utilizados como critério de avaliação para o
cômputo do Indicador Multicriterial no PRADIN, segundo os municípios da Baixada Fluminense
- 2000
São João de Meriti 8,18 4,58 2,30 27,20 42,24 8,69 12.909
Legenda:
PSE ⇒ percentual de domicílios particulares permanentes sem acesso a rede geral de esgoto ou fossa séptica;
PSA ⇒ percentual de domicílios particulares permanentes sem acesso a rede geral de água;
PSCL ⇒ percentual de domicílios particulares permanentes sem acesso a coleta domiciliar de lixo;
PR_1SM ⇒ percentual de pessoas responsáveis pelos domicílios particulares permanentes sem rendimento ou que recebem até um salário mínimo;
PR_4AE ⇒ percentual de pessoas responsáveis pelos domicílios particulares permanentes sem instrução ou com até 4 anos de estudo;
PNA ⇒ percentual de pessoas de 7 a 14 anos de idade não alfabetizadas;
DENSI ⇒ densidade demográfica (hab/Km2).
A fim de avaliar o efeito de cada uma das escolhas realizadas nas etapas
metodológicas acima apresentadas no cômputo do indicador multicritério, realizou-se
um conjunto de simulações conforme mostrado no Quadro 3, usando-se os
indicadores de déficit social (critérios) apresentados na Tabela 11.
Foram construídas efetivamente treze simulações, tendo como finalidade a
observação do efeito de algumas variações nas escolhas metodológicas. As
simulações sintetizadas no Quadro 3 estão agrupadas por diferentes grupos de cores,
sendo que na primeira simulação no cômputo do indicador multicriterial – grupo
marrom -, foi definido apenas um decisor, e foram utilizados os sete indicadores
descritos na Tabela 11, todos com pesos iguais e função de preferência critério usual.
Após a avaliação dos resultados dessa primeira simulação, decidiu-se pela realização
76
de novas simulações adotando os parâmetros utilizados nesta primeira como
referência para as seguintes.
Assim, no segundo grupo de escolhas metodológicas – grupo verde –,
buscou-se analisar o efeito da retirada de cinco indicadores e do uso de diferentes
funções de preferência, utilizando apenas os indicadores mais bem correlacionados
com o Indicador Multicriterial da primeira simulação, a saber: percentual de pessoas
responsáveis pelos domicílios particulares permanentes sem rendimento ou que
recebem até um salário mínimo e percentual de pessoas responsáveis pelos
domicílios particulares permanentes sem instrução ou com até 4 anos de estudo. A
segunda simulação foi realizada com os mesmos parâmetros da primeira, sendo
utilizado apenas esses dois indicadores, a fim de observar, a partir dos resultados
obtidos, o efeito dessa modificação.
No terceiro momento, realizou-se uma troca na função de preferência,
passando da função critério usual para a função critério de nível com área de
indiferença e preferência, lembrando que esta função utiliza os limiares p e q . Essa
mudança tem como intenção observar o impacto de uma flexibilização na função de
preferência em relação aos parâmetros da segunda simulação. Na quarta simulação,
que é a última do grupo verde, também foi realizada uma troca na função de
preferência, passando a utilizar a função de preferência: monotônica contínua que leva
em conta as distâncias dos indicadores e não apenas seus postos.
No próximo grupo de escolhas metodológicas – grupo lilás – considerou-se,
além dos dois indicadores usados nas simulações do grupo verde, também a
densidade demográfica. Portanto, na quinta simulação e primeira deste grupo, utilizou-
se todos os parâmetros da segunda simulação, porém, considerando agora três
indicadores. O objetivo foi analisar o efeito da inclusão de um indicador não
correlacionado com os demais.
Quanto à sexta simulação foram adotados os mesmos parâmetros da quinta,
trocando apenas a função de preferência de critério usual para critério de nível com
área de indiferença e preferência. Buscou-se analisar qual seria o resultado dessa
mudança no que diz respeito à quinta simulação. A sétima simulação também é
marcada pela troca da função de preferência em relação à quinta, onde, optou-se pela
função monotônica contínua, a fim de observar o comportamento dos resultados
quando se é levado em conta, ainda, à distância entre os indicadores.
77
No que diz respeito ao grupo azul de simulações – 8ª, 9ª, 10ª, e 11ª -, o
objetivo foi testar o impacto de variações nos pesos dos indicadores a partir dos
resultados obtidos, tomando como referência os parâmetros da sétima simulação.
Por fim, no grupo amarelo – simulações 12ª e 13ª – tomando como base os
parâmetros da sétima simulação, utilizou-se dois decisores, onde, para cada decisor
foi atribuído um grau de influencia e cada um deles determinou pesos diferentes para
os indicadores. O objetivo dessas simulações foi analisar o efeito da utilização de mais
de um decisor com diferentes graus de influência, bem como, os diferentes pesos
atribuídos para cada um dos indicadores.
78
QUADRO 3: Sumário das simulações realizadas para cômputo do Indicador Multicriterial utilizando o PRADIN
Etapas 1ª simulação 2ª simulação 3ª simulação 4ª simulação 5ª simulação 6ª simulação 7ª simulação 8ª simulação 9ª simulação 10ª simulação 11ª simulação 12ª simulação 13ª simulação
Decisores e
Decis.1 = 10 Decis.1 = 10
grau de 1 decisor 1 decisor 1 decisor 1 decisor 1 decisor 1 decisor 1 decisor 1 decisor 1 decisor 1 decisor 1 decisor
Decis.2 = 1 Decis.2 = 1
influência
Decisor 1: Decisor 1:
PR_1SM = 1 PR_1SM = 5
PR_4AE = 1 PR_4AE = 4
PR_1SM = 9 PR_1SM = 1 PR_1SM = 1 PR_1SM = 1 DENSI. = 8 DENSI. = 1
Pesos dos
Iguais Iguais Iguais Iguais Iguais Iguais Iguais PR_4AE = 1 PR_4AE = 9 PR_4AE = 8 PR_4AE = 1
indicadores
DENSI. = 0 DENSI. = 0 DENSI. = 1 DENSI. = 8 Decisor 2: Decisor 2:
PR_1SM = 5 PR_1SM = 1
PR_4AE = 4 PR_4AE = 1
DENSI. = 1 DENSI. = 8
79
Os resultados de cada simulação estão detalhados no Anexo 2, onde são
apresentados o valor do indicador multicritério, o escore de 0 a 100, a posição relativa
dentre os doze municípios observados e os fluxos de superação positivos e negativos,
além da correlação dos indicadores analíticos originais com o indicador multicritério. A
título de ilustração apresentam-se, nas Tabelas 12 e 13, os resultados da 1ª simulação
conforme pode ser obtido no PRADIN. É importante observar que quanto maior o valor
do Indicador Multicriterial maior é o déficit social no município.
80
GRÁFICO 5 – Indicador Multicriterial da 1ª simulação obtido no PRADIN
81
Os fluxos de superação são representados por Flx+ (superação positiva) e
Flx- (superação negativa). Eles indicam o percentual de comparações de indicadores
(duas a duas) em que o município superou ou foi superado pelos demais conforme a
função de preferência definida. Por exemplo, Japeri que apresentou o maior fluxo de
superação positiva quando comparado com cada um dos outros municípios, superou-
os em 87% das comparações e foi superado em aproximadamente 13 %. Em outras
palavras, isto quer dizer que se tratando de déficit social, Japeri não se encontra em
situação favorável, uma vez que seus indicadores superaram os demais municípios na
grande maioria das comparações.
O segundo grupo de resultados gerado pelo PRADIN, neste caso a Tabela
13, apresenta a média e o desvio padrão para cada um dos indicadores utilizados,
possibilitando assim uma avaliação mais detalhada desses indicadores. Assim,
fornece condições para se realizar alterações (ou não) no conjunto de indicadores
(critério) considerado na avaliação dos municípios. Além disso, traz também a
correlação do Indicador Multicriterial com cada um dos indicadores utilizados o que
permite observar o grau de relação existente entre eles e, conseqüentemente, a
coerência na utilização dos indicadores.
Os valores dos IMC's computados nas treze simulações são apresentados na
Tabela 14, e a posição ordinal dos municípios é apresentada na Tabela 15.
82
TABELA 14 – Indicador Multicriterial por simulações realizadas no PRADIN, segundo os municípios da Baixada Fluminense - 2000
83
TABELA 15 – Posição dos municípios da Baixada Fluminense segundo o Indicador Multicriterial - 2000
Duque de Caxias 6 5 4 4 6 7 5 6 4 4 7 7 5
Guapimirim 11 10 11 11 7 5 9 8 11 11 4 5 11
Itaguaí 5 6 6 6 5 3 4 5 7 6 2 2 6
Japeri 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 9 9 12
Magé 10 11 9 9 10 9 7 10 10 10 5 6 8
Nilópolis 1 1 1 1 2 1 1 1 1 1 11 10 1
Nova Iguaçu 4 3 3 3 3 4 2 3 3 2 6 4 2
Paracambi 3 4 5 5 1 2 3 4 5 5 1 1 3
Queimados 9 9 10 10 9 10 8 11 8 8 8 8 10
Serópedica 7 8 8 8 8 6 6 7 9 9 3 3 7
84
Segundo o plano de análise comparativa apresentado no Quadro 3, observa-
se que, na comparação da 2ª simulação com a 1ª a retirada de cinco dos sete
indicadores considerados não influenciou a ordem relativa dos municípios. Isto pode
ser atribuído ao fato dos indicadores utilizados serem fortemente correlacionados com
o Indicador Multicriterial e entre si, o que pode ser observado no gráfico abaixo o qual
revela a existência de uma relação linear entre os indicadores multicritério obtidos na
2ª simulação e os obtidos na 1ª. A correlação dos indicadores entre si pode ser
constatada na tabela apresentada no Anexo 3.
1,5
2
R = 0,9368
1
Japeri
Magé
Guapimirim
0,5
Queimados
Seropédica
IMC 2ª simulação
Belford Roxo
0
Itaguaí
-1 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
Duque de Caxias
Paracambi
-0,5
Nova Iguaçu
Nilópolis -1
-1,5
IMC 1ª simulação
85
com área de indiferença e preferência. Neste último caso, os limiares de preferência
não parecem interferir muito no resultado da classificação ordinal. Vale observar que
os fluxos de superação positiva e negativa são bem menores, em geral, que os da 1ª
simulação.
Na 5ª simulação, com a inclusão da densidade demográfica - indicador dentre
os sete selecionados inicialmente que apresentou menor correlação com o Indicador
Multicriterial da 1ª simulação e o que está menos correlacionados com os demais - no
conjunto de indicadores avaliados a partir da 2ª simulação, observou-se alterações
quanto à ordenação dos municípios.
Três municípios tiveram troca em suas posições relativas, uma vez que
Guapimirim passou da 10ª para a 7ª posição, Belford Roxo da 7ª para a 11ª posição e
Paracambi da 4ª para 1ª posição, resultados obtidos na 5ª simulação quando
comparado com a 2ª simulação.
O Indicador Multicriterial apresentou uma correlação positiva e forte com os
indicadores PR_1SM e PR_4AE e negativa com a densidade, porém nos dois
primeiros casos houve certa diminuição entre o grau de relação dos indicadores
quando comparado com os resultados da 2ª simulação. Ocorreu ainda uma redução
na dispersão do novo indicador. O Gráfico 7 mostra que há uma associação entre os
indicadores obtidos na 5ª simulação e os indicadores da 2ª, embora o R2 (0,716) agora
seja menor que o R2 (0,937) da comparação entre a 2ª e a 1ª simulação. Ou seja, se a
retirada de indicadores correlacionados (2ª simulação) teve pouco efeito no IMC, a
inclusão de um indicador não correlacionado com os demais, provocou uma alteração
significativa nessa ordenação.
86
GRÁFICO 7 – Indicador Multicriterial 5ª simulação versus 2ª simulação
0,8
0,6
Japeri
2
R = 0,716
0,4
Belford Roxo Queimados
Magé
0,2
IMC 5ª simulação
Seropédica
Guapimirim
0
Duque de Caxias
-1,5 -1 -0,5 0 0,5 1 1,5
Nova Iguaçu
Nilópolis -0,4
Paracambi
-0,6
-0,8
IMC 2ª simulação
87
GRÁFICO 8 – Indicador Multicriterial 7ª simulação versus 5ª simulação
0,4
0,3
Japeri
2
R = 0,661
0,2
Magé
0
-0,6 -0,4 -0,2 0 Seropédica 0,2 0,4 0,6 0,8
Nova Iguaçu
-0,2
Nilópolis
-0,3
-0,4
IMC 5ª simulação
88
GRÁFICO 9 – Indicador Multicriterial 8ª simulação versus 7ª simulação
0,8
0,6
Japeri
2
R = 0,6262
0,4
Queimados
IMC 8ª simulação
0,2
Magé
Belford Roxo
Seropédica Guapimirim
0
-0,3 -0,2 -0,1 Duque de Caxias0 0,1 0,2 0,3 0,4
Itaguaí
Paracambi
Nova Iguaçu
-0,2
São João de Meriti
-0,4
Nilópolis
-0,6
IMC 7ª simulação
89
GRÁFICO 10 – Indicador Multicriterial 12ª simulação versus 7ª simulação
0,7
0,3
0,1
Japeri
-0,3 -0,2 -0,1 0 Queimados
0,1 0,2 0,3 0,4
Duque de-0,1
Caxias Magé
Nova Iguaçu Guapimirim
Seropédica
Itaguaí
Paracambi
-0,3
-0,5
-0,7
IMC 7ª simulação
90
GRÁFICO 11 – Indicador Multicriterial 13ª simulação versus 12ª simulação
0,5
0,4 Japeri
0,3
0,2
Guapimirim
Queimados
0,1 Belford Roxo
IMC 13ª simulação
Magé
Seropédica
0
-0,3 -0,2 Itaguaí -0,1 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7
Paracambi Duque de Caxias São João de Meriti
-0,1 2
R = 0,026
Nova Iguaçu
-0,2
-0,3
-0,4 Nilópolis
-0,5
IMC 12ª simulação
91
Meriti foram excluídos da análise por serem municípios que apresentaram os maiores
valores do Indicador Multicriterial. A partir dessa análise foi possível observar que a
variabilidade do indicador calculado foi menor que a do indicador original e que a
relação entre eles também diminui quando comparada aos casos anteriores,
apresentando um coeficiente de correlação igual a 0,191.
Outra possibilidade de análise de sensibilidade que o aplicativo permite com
base na técnica multicritério implementada é a retirada de k unidades com cifras mais
baixas, no caso desse estudo, representa a retirada dos municípios com menor déficit
social. Ao excluir o município com menor indicador, Paracambi, os resultados não
apresentaram grandes diferenças, pelo contrário, a dispersão do Indicador Multicritério
calculado na análise de sensibilidade ficou bem próxima da dispersão do indicador
original, e, eles apresentaram ainda forte grau de associação com 0,97. Ao excluir da
análise os três municípios que apresentaram menor valor para o Indicador Multicriterial
(Itaguaí, Paracambi e Seropédica) é possível dizer que os resultados calculados são
próximos dos resultados originais, já que a correlação entre eles é bem forte (0,90).
De modo geral, pode-se afirmar que a solução obtida é válida, pois, o impacto
das variações realizadas foi pequeno, registrando tímidas alterações no resultado final,
sendo assim, a análise de sensibilidade confirmou a solidez do indicador.
4.3. A pergunta que não quer calar: qual dos Indicadores Multicriteriais representa a
melhor escolha?
Para tentar responder esta pergunta, ilustrou-se o resultado de cada uma das
simulações apresentadas no item 4.2 em cartogramas do déficit social na Baixada
Fluminense, de acordo com o Indicador Multicriterial conforme mostra a Figura 12.
Basicamente a conclusão que se chega é que para o cômputo do Indicador
Multicriterial, não há necessidade de uma grande quantidade de indicadores/critérios,
uma vez que, ao analisar o efeito das simulações realizadas foi possível constatar que
não houve diferenças significativas no resultado final do indicador. Assim, tanto na
simulação que utilizou 7 indicadores quanto nas simulações que consideraram 2 e 3
indicadores, os resultados ficaram bem próximos, levando em conta a quantidade de
indicadores pertencentes ao sistema de critérios.
Outro aspecto importante que pode ser observado a partir das simulações
realizadas é o fato de que ao se atribuir pesos diferentes aos indicadores não foram
92
captadas grandes influências nos resultados obtidos, a não ser quando se atribuiu boa
parcela do peso ou se retirou boa parte dele a um indicador não correlacionado.
Hagerty e Land (2004, p. 23) mostram que, de fato, mais importante que o
peso atribuído aos indicadores é o conjunto de indicadores usado, mais
correlacionados ou menos correlacionados, que pode influenciar o cômputo final de
um indicador sintético.
A utilização dos parâmetros q e p também não apresentou interferência
explícita nos resultados, ficando estes muito próximos dos resultados obtidos sem a
necessidade de especificar os limiares de preferência.
As simulações 11 e 12 evidenciam de forma bem clara a questão do peso
colocada acima, pois ao observar os referidos cartogramas, verifica-se que o déficit
social na Baixada Fluminense praticamente não existe, o que oculta ou disfarça a
dinâmica social apontada nas demais simulações.
Como foi visto no debate sobre mensuração de condições e qualidade de vida
– capítulo 1 -, bem como no capítulo 3 quando da apresentação da metodologia, a
subjetividade que tanto se falou nesses momentos sem dúvida há que ser
considerada, uma vez que ela é parte integrante do processo de tomada de decisão.
Nesse sentido, por exemplo, quando se deseja implementar um programa social numa
determinada região, é necessário identificar o público alvo, só neste primeiro
momento, já se tem uma subjetividade intrínseca a essa escolha, sem falar que cada
decisor além de diferentes interesses traz consigo uma carga de experiência tanto no
campo de conhecimento ao qual se despenderá aquela decisão quanto da sua própria
base empírica.
Assim, se o objetivo for a implementação de um programa que busque reduzir
o déficit social na Baixada Fluminense, por exemplo, e quando se pensa em medir
esse déficit, a fim de se constituir parâmetros ou eleger áreas prioritárias, muito
provavelmente não se deve levar em conta apenas indicadores puramente
econômicos, tal como, o caso do PIB; a densidade demográfica é um outro caso que
pode ser mencionado, entre outros. Isso porque se o objetivo é dimensionar o déficit
social, então, deve-se buscar indicadores que permitam captar o nível desse déficit.
Com isso, como seria possível fazer tal escolha? Pode-se utilizar indicadores
que possibilitem a captação do acesso da população a bens e serviços públicos,
através do uso de indicadores de infra-estrutura urbana, habitação, educação, saúde
etc. Outra possibilidade de contribuição na mensuração do déficit social seria a
realização agregada de um estudo qualitativo, onde seria possível confrontar os
93
resultados apontados pelos indicadores através de relatos, reportagens, ou imagens
que retratassem de maneira empírica o nível de acesso a esses bens e serviços,
levantados a partir de estudos de campo.
Buscou-se com o exemplo acima apresentar uma tentativa de ilustração de
como a subjetividade, o juízo de valor e o bom senso dos agentes envolvidos no
processo de tomada de decisão influenciam no resultado que se quer chegar, o que
está exemplificado nos cartogramas 11 e 12, onde, mostram um déficit social bastante
reduzido. Essa proposta visa mostrar que o indicador multicriterial em relação a outros
indicadores sintéticos é uma técnica mais flexível, porque não tem um modelo único o
que permite inúmeras variações do modelo, e, como a tomada de decisão é um ato
humano, a técnica deve ser vista como instrumento de apoio e nunca substituir o
decisor.
Por fim, a partir desse cenário é possível dizer que não se chega a uma
melhor escolha, uma vez que os resultados estão variando muito pouco e quase
sempre estão variando dentro dos mesmos níveis. Entretanto, se fossem adotados
apenas indicadores correlacionados, a partir de cada simulação realizada, pode-se
dizer que o modelo 4 responderia como a melhor alternativa para retratar o déficit
social na Baixada Fluminense. E, quanto à possibilidade de se considerar a inclusão
de um indicador não correlacionado (densidade demográfica) a opção que melhor
retrataria os bolsões de déficit social naquela Região seria a simulação 7, uma vez que
o contraste desse cartograma é o que mais se aproxima da freqüência geral dos
indicadores correlacionados.
94
FIGURA 12: Déficit social na Baixada Fluminense, segundo o Indicador Multicriterial
1ª Simulação 2ª Simulação
3ª Simulação 4ª Simulação
5ª Simulação 6ª Simulação
95
7ª Simulação 8ª Simulação
13ª Simulação
96
CONSIDERAÇÕES FINAIS
97
de questões empíricas da sociedade, onde, em boa medida, buscam retratar sua
realidade.
Após essa etapa é importante definir quais serão os critérios tomados como
parâmetros para realizar as análises desejadas, tratando-se de um importante passo,
onde, em muito, deve-se contar com o bom senso do pesquisador na construção de
um sistema lógico para o conceito adotado, isto é, a seleção de critérios que
apresentem relação com o conceito estabelecido, o que em geral tem a ver com o
conhecimento do pesquisador sobre o tema e com o levantamento de propostas
semelhantes já realizadas.
É importante ressaltar que o conjunto de indicadores selecionados para
construção de uma medida que pudesse representar o déficit na Baixada Fluminense
não está fechado, e que tão somente esses indicadores são representativos do déficit
social. Portanto indicadores como, por exemplo, de transporte público, de segurança
entre outros, poderiam integrar o conjunto de indicadores utilizado, também chamado
de conjunto critério de decisão. É claro que outros pesquisadores então poderiam
desejar incluir, retirar ou até mesmo mudar todo o conjunto de indicadores aqui
utilizado, mas, trata-se de uma escolha metodológica que lançou mão do que se
encontrava disponível e do que era possível realizar de acordo com os recursos.
A técnica utilizada na construção do Indicador Multicriterial se mostrou
bastante eficiente no que se refere aos objetivos propostos, podendo se destacar
como potencialidades do método a possibilidade de flexibilizar o modelo utilizado,
além, de permitir a análise da consistência e validade do resultado encontrado,
conforme foi constatado no capítulo 4. Como limites é possível destacar, diante do que
aqui foi observado, o fator humano através das diferentes escolhas e decisões que
podem ser tomadas, o que não seria uma limitação do método em si, mas uma
questão de coerência dos agentes envolvidos no processo decisório.
Em relação ao aplicativo PRADIN 2.0, o qual se operacionalizou o método,
pode-se dizer que atende bem ao seu propósito em ser uma ferramenta pública para
capacitação em análise multicritério, uma vez que possui uma linguagem bastante
acessível, além de gerar os resultados numa disposição clara, oferecer análise gráfica,
de sensibilidade e agrupamento das alternativas por clusters. Na tentativa de colaborar
com o aperfeiçoamento do aplicativo para melhor uso, é sugerido, caso seja possível,
que se colocasse uma breve explicação de cada função de preferência e seus limiares
no momento em que o usuário selecionasse a função desejada, de modo que ao
selecionar a função ele pudesse identificar que tipo de tratamento seria dado aos
98
indicadores, a fim de melhor compreender os resultados obtidos. Outra sugestão é a
inserção de uma opção para construir cartogramas dos resultados obtidos, pois esse
tipo de recurso para os objetivos de aplicação do PRADIN contribui em boa medida
para melhor apreensão e ilustração dos resultados.
O Indicador Multicriterial em relação a outros indicadores sintéticos como, por
exemplo, o IDH e o IQM, oferece a possibilidade de flexibilização do modelo a partir da
incorporação de aspectos que melhor se ajustem a cada situação analisada. Além
disso, como os próprios agentes envolvidos é que irão determinar os parâmetros de
análise e, em muitas vezes, possuem alguma familiaridade com o objeto e/ou região
de estudo, é possível usar desse conhecimento empírico para melhor adequar a
técnica, o que não é permitido em outras técnicas.
No debate sobre o uso de indicadores sociais no apoio à gestão pública, não
se pode deixar de fazer uma observação constatada nesse trabalho, onde, de acordo
com os indicadores especificados como de déficit social São João de Meriti é um dos
municípios que apresentam as melhores cifras quanto à infra-estrutura urbana, por
exemplo, segundo o Censo 2000 cerca de 95% dos domicílios da cidade tinham
acesso à rede geral de água, no entanto, é sabido que nos últimos anos e em muitos
bairros a água não chegava às casas. Ao levantar essa questão não se tem como
intenção discutir a metodologia dos Censos, até porque isso não foi de competência
desse trabalho, mas sim, alertar para o uso e aplicação dos indicadores, cabendo ao
pesquisador “desconfiar” dos dados que têm em mãos e procurar confrontá-los através
de outros meios de levantamento de dados como, por exemplo, o registro fotográfico
ou a pesquisa de campo.
O debate realizado e os resultados encontrados neste estudo evidenciaram
algumas das possibilidades e algumas das limitações quanto ao tema abordado e
também quanto ao método utilizado, deste modo, espera-se que estudos futuros
possam ser realizados a fim de contrapor os resultados aqui obtidos e, assim,
contribuir para o aprimoramento da técnica.
O exercício empírico sobre os dados relativos a Baixada Fluminense revelou,
através do Indicador Multicriterial - IMC, que as condições de vida nos municípios, de
modo geral, apresentam situação crítica em boa parte deles. Os municípios de Japeri,
Magé, Guapimirim, Queimados, Seropédica foram os que, na maioria das simulações,
apresentaram maiores IMC apontando que o déficit social é maior nestes municípios,
já Nilópolis, São João de Meriti e Paracambi ocuparam os melhores lugares na
ordenação segundo o IMC com as menores cifras para o indicador, sugerindo que o
99
déficit social é menor nestes municípios. Cabe ressaltar ainda que a representação do
déficit social da Baixada Fluminense por meio de cartogramas permitiu, em boa
medida, atentar para o fato de que o uso da técnica requer interação com o conceito
analisado, assim como com os fatores empíricos relacionados à situação em questão,
uma vez que não se pode nem deve dogmatizar o conhecimento da técnica, pois não
existe verdade única e a dinâmica social é bastante complexa.
100
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103
HEMEROGRAFIA
104
ANEXOS
105
ANEXO 1: Construção do Indicador Multicriterial usando o PRADIN
2. O segundo passo desta fase diz respeito à definição de quais serão os decisores
que participarão do processo.
106
3. Na etapa seguinte, deve-se determinar o grau de influência de cada um dos
decisores que atuarão no processo.
107
5. Diz respeito à especificação do valor de cada indicador para cada alternativa-
município como mostra o exemplo anterior.
6. Determinar o peso que cada agente de decisão dará para cada indicador.
108
Terceira fase – quanto aos parâmetros de comparação
109
Quarta fase – quanto os resultados
110
10. Nesse passo o PRADIN irá gerar um conjunto de alternativas - a partir do
indicador multicriterial (indicador-síntese) calculado -, segundo os critérios e os
pesos estabelecidos, ordenando-as daquela que apresenta menor potencial para
aquela que apresenta maior potencial.
111
Quinta fase – quanto à validação dos resultados
112
12. Por fim, é possível também realizar uma avaliação segundo a definição de clusters,
buscando a partir da análise de agrupamentos grupos de alternativas que
apresentem semelhança de acordo com os critérios utilizados.
113
114
ANEXO 2: Simulações do Indicador Multicriterial no PRADIN
1ª Simulação:
115
2ª Simulação:
Obs: função de preferência critério usual com q = 0 em termos relativos. Foi considerado
somente o percentual de pessoas responsáveis pelos domicílios particulares permanentes sem
rendimento ou que recebem até 1SM e o percentual de pessoas responsáveis pelos domicílios
particulares permanentes sem instrução ou com até 4 anos de estudo.
116
3ª Simulação:
Obs: função de preferência critério de nível com área de indiferença e preferência com q = 5 e
p = 20 em termos relativos. Foi considerado somente o percentual de pessoas responsáveis
pelos domicílios particulares permanentes sem rendimento ou que recebem até 1SM e o
percentual de pessoas responsáveis pelos domicílios particulares permanentes sem instrução
ou com até 4 anos de estudo.
117
4ª Simulação:
118
5ª Simulação:
Obs: função de preferência critério usual com q = 0 em termos relativos. Foi considerado
somente o percentual de pessoas responsáveis pelos domicílios particulares permanentes sem
rendimento ou que recebem até 1SM; o percentual de pessoas responsáveis pelos domicílios
particulares permanentes sem instrução ou com até 4 anos de estudo e a densidade
demográfica hab/km2.
119
6ª Simulação:
Obs: função de preferência critério de nível com área de indiferença e preferência com q = 5 e
p = 20 em termos relativos. Foi considerado somente o percentual de pessoas responsáveis
pelos domicílios particulares permanentes sem rendimento ou que recebem até 1SM; o
percentual de pessoas responsáveis pelos domicílios particulares permanentes sem instrução
ou com até 4 anos de estudo e a densidade demográfica hab/km2.
120
7ª Simulação:
121
8ª Simulação:
122
9ª Simulação:
123
10ª Simulação:
124
11ª Simulação:
125
12ª Simulação:
126
Correlação entre IMC e critérios/indicadores analíticos
127
13ª Simulação:
128
Correlação entre IMC e critérios/indicadores analíticos
129
14ª Simulação:
Análise de Sensibilidade
Cálculo do Indicador Multicritério
Parâmetros Q,P,Função: 0; 0; 4
130
15ª Simulação:
Análise de Sensibilidade
Cálculo do Indicador Multicritério
Parâmetros Q,P,Função: 0; 0; 4
131
16ª Simulação:
Análise de Sensibilidade
Cálculo do Indicador Multicritério
Parâmetros Q,P,Função: 0; 0; 4
132
17ª Simulação:
Análise de Sensibilidade
Cálculo do Indicador Multicritério
Parâmetros Q,P,Função: 0; 0; 4
133
18ª Simulação:
Análise de Sensibilidade
Cálculo do Indicador Multicritério
Parâmetros Q,P,Função: 0; 0; 4
134
ANEXO 3: Tabela da correlação de Pearson entre os indicadores analíticos
Correlação de Pearson
Indicadores
PSE PSA PSCL PR_1SM PR_4AE PNA DENS
- - - - -
PSE 1,00 -
- - - - -
PSA 0,64 1,00
- - - -
PSCL 0,77 0,53 1,00
- - -
PR_1SM 0,68 0,59 0,87 1,00
135