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Prof. Dr. Márcio Roberto Toledo – Orientador
Universidade Federal de São João del-Rei - UFSJ
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Prof. Dr. Ivair Gomes
Universidade Federal de São João del-Rei - UFSJ
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Profª. Drª. Sandra de Castro de Azevedo
Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL
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Dedicatória:
Aos meus avós Maria e José, Lúcia e Fernando pelas bênçãos constantes;
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AGRADECIMENTOS
“A gratidão é o melhor sentimento que um ser humano pode ter.” (Cláudia Raia)
“Dizer que alguém é importante vai te fazer bem e, tenha certeza, pode mudar o momento –
ou até a vida – de quem ler e/ou ouvir.” (Xuxa Meneghel)
Acredito que com esta experiência do mestrado, por ora, encerro um ciclo virtuoso de
formação acadêmica, iniciado há muito tempo. E durante todo esse período, inúmeros me
acompanharam em incontáveis momentos. Inúmeros foram os que, nesse caminhar, trilharam
outros caminhos e tantos outros vieram, junto a mim, caminhar. Os sujeitos que aqui estão
agradecidos são aqueles que permaneceram ou juntaram-se a mim nesse compartilhar infinito
de experiências que formam o presente autor.
Agradeço primeiramente a Deus, que tem sido o guia e sustentáculo em minha vida, tanto
pessoal quanto profissional. Em todos os momentos, reconheço que Ele é o maior mestre que
alguém pode conhecer. Sua presença e direção têm sido fundamentais para minha jornada, e
sou profundamente grato por Sua orientação constante. Obrigado, Deus, por tudo o que tem
feito por mim.
À minha amada família, que ocupa um lugar especial em meu coração, gostaria de
expressar minha profunda gratidão. Aos meus queridos pais, Carlos e Valéria, e aos meus
amados irmãos, Ana Carla e Carlos Vilmar, agradeço pelo exemplo de vida que vocês
representam, pela força que sempre me sustentou e pelas orações constantes. Vocês são meu
porto seguro, meu suporte incondicional. Obrigado por tudo! Meu esforço será dedicado
eternamente a ver cada um de vocês felizes e realizados. ♥
Ao meu passado, memória e ancestralidade, quero expressar minha profunda gratidão aos
meus parentes falecidos de Oliveira, Morro do Ferro, Engenho e Matinha. Suas histórias e
legados permeiam meu ser, conectando-me com as raízes familiares e enriquecendo minha
compreensão do presente. Através das memórias transmitidas e dos laços de sangue, carrego
comigo uma herança preciosa que moldou minha identidade. Agradeço por suas presenças em
minha linhagem, honrando-os ao preservar e transmitir essa história para as gerações futuras.
Que suas almas descansem em paz, sabendo que suas influências e amor permanecem vivos
dentro de mim.
À Universidade Federal de São João del-Rei, expresso minha imensa gratidão pela
oportunidade de cursar a instituição que sempre almejei. Foi por meio dessa universidade que
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pude abrir uma janela que hoje me permite vislumbrar um horizonte acadêmico superior. Sou
profundamente grato pela qualidade de ensino, infraestrutura e apoio oferecidos pela
instituição, que foram fundamentais para o meu desenvolvimento pessoal e profissional.
Ao meu orientador Prof. Márcio Roberto Toledo, pela orientação, amizade, apoio е
confiança, desde as Iniciações Científicas até o Mestrado, cujo seu empenho dedicado à
elaboração do trabalho foi valioso.
Às professoras Carla Juscélia de Oliveira Souza e Tatiane Marina Pinto de Godoy, pelo
carinho, empatia e contribuição emocional durante todo o período como universitário. O
respeito, amizade e gratidão por vocês duas serão eternos.
Aos professores Ivair Gomes (UFSJ) e Sandra de Castro de Azevedo (UNIFAL) por terem
participado da minha banca de defesa. Suas presenças e contribuições foram essenciais para a
conclusão deste importante marco em minha jornada acadêmica. Agradeço por compartilharem
seu conhecimento, expertise e tempo para avaliar meu trabalho e oferecer valiosas sugestões e
críticas construtivas.
À minha melhor amiga, Raquel Alves, expresso minha imensa gratidão. Ao longo dos
últimos 8 anos, nossa parceria foi marcada por confidencialidade, intimidade, lealdade,
fidelidade, compartilhamento de momentos em novelas, relatórios e trabalhos de campo juntos.
Em vários momentos, éramos apenas nós dois, desfrutando do laboratório e do CTAN,
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proporcionando companhia mútua, mesmo aos finais de semana. Você é uma pessoa perfeita,
guerreira, carinhosa e atenciosa. Admiro tudo o que você faz e a alegria que sinto por tê-la
conhecido é imensa. Muito obrigado por tudo!
Aos meus amigos e colegas que sempre estiveram comigo durante o mestrado, seja para
uma conversa, auxílio, um bate-papo qualquer, um carinho, companhia e apoio na imersão da
pós-graduação: Alícia Moreira, Gustavo Zanin, Igor Silvério, Lucas Giarola, Lucas Rodrigues,
Maria Clara Franco e Thiago Fantini.
Aos alunos e alunas, professores e professoras das escolas Dr. Garcia de Lima e
Governador Milton Campos, expresso minha profunda gratidão. Cada pergunta, curiosidade,
demonstração de carinho e apoio em relação à minha pesquisa reforçou a certeza de que não
estava sozinho neste caminho profissional. Vocês demonstraram empatia em todos os desafios
enfrentados durante o mestrado. Amo todos vocês!
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RESUMO
Palavras-chave: Cidades Pequenas; Rede Urbana; Geografia Urbana; Funções; São João del-
Rei.
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ABSTRACT
The need to move forward in discussions about small Brazilian cities in Geography is notorious.
Currently, despite the increase in academic papers presented at conferences in the area, there is
still a gap in the analysis of these cities, both in quantitative and qualitative terms. In this sense,
the objective of this dissertation is to contribute to the theoretical and methodological debate
on small towns, using the Brazilian urban reality as a basis, in order to highlight the importance
of its study. The research reveals the diversity of definitions on the subject and its variables,
presenting trends in current studies, their areas of concentration and definitions related to small
cities. In the context of the chosen study area, which is the Immediate Region of São João del-
Rei/MG, the central hypothesis is that, during the Technical-Scientific-Informational period,
the analyzed cities specialized and spatialized in different ways, even having a common origin
in mining. In this way, an investigation was carried out on the small towns that are part of the
urban network of the municipality of São João del-Rei, highlighting their functions and
potential, with the aim of reinforcing their importance in the regional context, covering
economic, population, cultural, agricultural aspects. , religious, industrial, tourist and memory.
Keywords: Small Towns; Urban Network; Urban Geography; Functions; São João del-Rei.
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LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Quantidade de cidades mineiras de acordo com sua população (2000-2020) ......... 34
Tabela 2 - Universidades a que estão vinculadas as dissertações de geografia sobre cidades
pequenas no Brasil (2000/2020) ............................................................................................... 48
Tabela 3 - Universidades a que estão vinculadas as teses de geografia sobre cidades pequenas
no Brasil (2000/2020) .............................................................................................................. 49
Tabela 4 - Orientadores das dissertações sobre cidades pequenas no Brasil no âmbito da
geografia (2000/2020) .............................................................................................................. 50
Tabela 5 - Orientadores das teses sobre cidades pequenas no Brasil no âmbito da geografia
(2000/2020) ............................................................................................................................. 51
Tabela 6 - Artigos sobre cidades pequenas presentes nos anais do SIMPURB (2015, 2017, 2019)
.................................................................................................................................................. 54
Tabela 7 - População dos municípios da região imediata de São João del-Rei (2022) ............ 80
Tabela 8 – PIB das regiões imediatas de Minas Gerais (2018) ................................................ 80
Tabela 9 - Tipologia urbano-rural .......................................................................................... 101
Tabela 10 - Caracterização urbana/rural dos municípios ........................................................ 102
Tabela 11 – PIB dos municípios estudados (2019) ................................................................. 104
Tabela 12 – Recursos advindos do governo federal (2020) .................................................... 111
Tabela 13 - Quantidade de católicos na região imediata de São João del-Rei (2010) ............ 114
Tabela 14 – Produções agrícolas em toneladas das cidades analisadas (2021) ....................... 156
Tabela 15 - Dados completos das dissertações sobre cidades pequenas no Brasil (2000/2020)
................................................................................................................................................ 175
Tabela 16 - Dados completos das teses sobre cidades pequenas no Brasil (2000/2020) ........ 185
Tabela 17 - Dados completos dos trabalhos apresentados no SIMPURB em 2015 ................ 189
Tabela 18 - Dados completos dos trabalhos apresentados no SIMPURB em 2017 ................ 190
Tabela 19 - Dados completos dos trabalhos apresentados no SIMPURB em 2019 ................ 190
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LISTA DE ABREVIATURAS
SUMÁRIO
Os três versos anteriores proporcionam uma breve introdução sobre minha pessoa.
Aqueles que nascem no interior trazem consigo uma riqueza de identidades e memórias
singulares. Portanto, gostaria de me apresentar. É importante ressaltar que meu objetivo é
compartilhar os caminhos que moldam-me: um nativo da cidade pequena de Oliveira/MG,
alguém ligado ao campo, um geógrafo e professor na escrita desta dissertação.
2013) a partir do momento em que essa existência começa a ser vivida. Desta maneira, “tenho
comigo as lembranças do que eu era”, parafraseando a música ‘Nos Bailes da Vida’ de Milton
Nascimento.
Dois anos após meu nascimento, minha irmã Ana Carla Costa Silva veio ao mundo, e
nove anos depois, recebemos a alegria de receber em nossas vidas o caçula, Carlos Vilmar Costa
Silva. Cada um de nós possui sua própria maneira de ser, viver e enxergar o mundo, mas
compartilhamos uma característica comum: o amor incondicional pela nossa família.
Durante minha infância e adolescência, tive o privilégio de vivenciar uma conexão direta
com a zona rural, mesmo residindo na cidade. Essa experiência enriquecedora permitiu que eu
mergulhasse nas atividades campestres e me encantasse com a imensidão dos campos. Em
companhia da minha irmã, desfrutávamos dos momentos emocionantes com cavalos, bois e
vacas, sempre acompanhados de perto pela sabedoria do meu tio Valdir e a experiência
inigualável do meu avô Fernando. Essas interações rurais despertaram em mim um amor
profundo pela natureza e uma compreensão das tradições e valores que permeiam a vida no
campo.
Durante as férias escolares, nos meses de janeiro e julho, não havia passatempo melhor
do que ir para a casa de meus avós. Fazia de tudo: plantava milho e feijão, ia para as colheitas
de café, lavava chiqueiro, cuidava das galinhas, buscava bezerros nos pastos, subia nas
goiabeiras com meus primos, assistia meu avô tirando leite das vacas, ajudava na preparação
de linguiças caseiras e olhava se havia caído algum abacate maduro do pé. A rotina era
simplesmente a mesma, passando anos e anos.
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Nas minhas andanças pela zona rural, gostava de sair pelas estradas enquanto vovó
preparava o delicioso almoço de domingo, com a maioria dos filhos e netos reunidos. Saía com
meu pai e alguns primos e passávamos sob as árvores. Eu as chamava de “floresta”. No pequeno
riacho, a gente ficava assentado sobre a “pinguela”, observando o barulho e o caminhar daquela
água cristalina. Eu gostava também de subir na porteira, após vencer a comprida e profunda
cava da estrada.
Quando dizem que a religiosidade vem desde o "berço", é uma afirmação totalmente
verídica. Com apenas cinco anos de idade, eu não perdia uma única missa nos finais de semana.
Levava meus carrinhos como distração na igreja, mas na maioria das vezes acabava
adormecendo no colo da minha mãe, que fazia um esforço extra para acomodar tanto eu quanto
minha irmãzinha, que também pegava no sono.
Quando me deparo com fotografias antigas, uma onda de emoção e nostalgia toma conta
de mim. Nelas, posso ver momentos preciosos ao lado dos meus saudosos bisavós maternos,
que guardo com carinho em minhas memórias. Uma imagem que se destaca é a de mim ao lado
do querido vô Bentinho, caminhando e deslizando sobre os grãos de café espalhados para secar
ao brilho do sol, juntamente com minha bisavó, “Sá” Marieta.
Sempre gostei de estudar, seja na pré-escola, ensino fundamental e médio. O gosto pelo
ensino já começava a aparecer na infância e adolescência, tendo meus irmãos como meus
“alunos”, ao ajudá-los nas tarefas escolares.
2Distrito de Oliveira onde meus avós paternos cresceram. Atualmente, alguns parentes ainda continuam morando
por lá.
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No fim do ano de 2014, finalizado meu ensino médio, escolho o curso de Geografia pela
UFSJ para a realização de um dos meus sonhos: o ingresso na faculdade. Sem sequer conhecer
São João del-Rei como turista, saio do meu conforto familiar para morar sozinho pela primeira
vez.
Sempre tive a sensação que fiz a escolha certa, referente ao curso e à cidade. A saudade
de Oliveira, família e amigos foram amenizados pelos ciclos sanjoanenses que foram sendo
criados. O que permanecia e que valorizo muito atualmente é meu reconhecimento e gratidão
para com minhas origens. Assim, estudar as cidades pequenas e a relação campo-cidade foi
“imposta” pelo meu passado.
Em 2018 termino meu bacharelado; em 2021 minha licenciatura. Posso afirmar com todas
as letras que entrar em um programa de pós-graduação, em 2020, para cursar o mestrado foi a
coisa mais estrombótica3 de toda a minha vida. A dedicação acadêmica se resume, na maioria
das vezes, na seriedade, comprometimento, abrir mão de inúmeros hobbies para entrar de
cabeça na imersão da leitura e escrita.
Embora possa ter inspiração na bem diversificada biblioteca física e virtual, não é com
olhar do homem culto que enxergo as ruralidades e as cidades pequenas, mas com a alma caipira
que carrego lá de Oliveira, onde nasci.
Termino este prefácio com o verbete Matrioska, escrito por Betto (2019):
“Somos como bonecas russas, conhecidas como Matrioska, que cabem uma na outra, disse
minha avó: -Filho, você não é só você. Dentro do seu coração, do seu sentimento, de sua
memória e de suas entranhas, há uma legião de pessoas. Portanto, nunca se sinta só, a menos
que levado pela ignorância. E jamais se feche às pessoas que o povoam. Ore pelos que já
partiram e se abra aos que ainda vivem. Cada um de nós é um feixe de relações”
3 Termo usado por minha avó Maria para designar algo complicado, estranho, difícil, assustador.
Figura 2: Estrela do Sul (Fonte: Hélcio Laranjo, 2021).
A partir da década de 1990, no entanto, este panorama vem sendo modificado graças
aos esforços de estudiosos dos diversos campos das Ciências Humanas, Sociais e da Arquitetura
e Urbanismo, que passaram a enfocar, em suas pesquisas, as cidades médias e pequenas.
Vale dizer que tal abertura não se deu por acaso. Ao contrário, busca responder às
transformações ocorridas no Brasil contemporâneo (e, de igual modo, em outros países),
geradoras de novas dinâmicas e configurações nos papéis desempenhados pelas cidades
pequenas, seja no âmbito do intraurbano ou na escala urbano-regional.
Assim, podemos observar que o aumento de pesquisas sobre essas cidades foi por causas
das transformações na organização do nosso espaço geográfico, que trouxe mudanças para as
redes urbanas. Permitindo, portanto, novos papéis e relações perante tais cidades, possibilitando
visibilidades que contribua na inserção das cidades pequenas nas escalas nacionais (FRESCA,
2010).
Por outro lado, diante de tão profundas transformações, questões tipicamente ligadas às
grandes cidades e regiões metropolitanas, começaram a aparecer nas cidades pequenas.
Exemplo disso, são as questões socioambientais, ampliação das diferenças e desigualdades
do/no espaço, incremento das funções urbanas, complexificação das relações entre cidades,
apropriação e ressignificação de culturas e deslocamentos intra e interurbanos. Assim,
suscitando maior atenção dos pesquisadores.
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Isto posto, esta pesquisa está dividida em duas partes. A primeira vai ao encontro de
demonstrar os caminhos que as cidades pequenas percorreram e percorrem no âmbito da
Geografia brasileira, dentro do universo acadêmico. Logo, destacaremos suas possibilidades e
tendências de estudos no Século XXI.
Desta forma, para entendermos a produção do espaço urbano nessas cidades, devemos
sempre levar em consideração fatores, como os sociais, políticos, culturais e econômicos.
Santos (1985) enumera algumas características de produção espacial: processos, estruturas,
formas, dinâmicas e funções. Essa última subsidiará nossa pesquisa.
Analisar a função de uma cidade, segundo Corrêa (1987, p.80), pode permear “dar conta
da totalidade social em sua espacialização, podem-se, sem receio de cair no empirismo, iniciar
24
o estudo da organização espacial de uma sociedade em um dado momento de sua história pelas
suas formas”.
Para isso, nossas análises compreendem as seguintes cidades pequenas que compõe a
Região Imediata de São João del-Rei: Conceição da Barra de Minas, Coronel Xavier Chaves,
Lagoa Dourada, Madre de Deus de Minas, Nazareno, Piedade do Rio Grande, Prados, Resende
Costa, Ritápolis, Santa Cruz de Minas, São Tiago, São Vicente de Minas e Tiradentes.
A presente dissertação inicia com a hipótese de que mesmo um grupo de cidades tenha
se originado pelo mesmo motivo, a divisão territorial do trabalho, ou seja, suas funções urbanas,
não serão, obrigatoriamente, iguais. Esse fenômeno pode ser justificado pelos processos da
globalização capitalista vigente; caminhos escolhidos culturalmente por seus habitantes e pelos
novos e alternativos fluxos da atual hierarquia urbana.
Para que nossas indagações fossem sanadas, no que tange ao domínio da presente
dissertação, partimos, a priori, na busca por conceitos e definições pré-existentes sobre as
cidades pequenas e redes urbanas. Tal recorte espacial, que por muitas vezes foi negligenciado
4Em algumas partes desta dissertação aparecem a expressão ‘pequenas cidades’, porém, são citações de autores,
descrição de eventos ou o título de livros e artigos .
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A escolha pelo tema se justifica por dois motivos, científico e pessoal. O primeiro pelo
fato de haver poucos estudos sobre as cidades pequenas no Brasil, sua definição e
caracterização. Desse modo, buscamos contribuir para o necessário debate sobre a temática no
país e na região abordada, já que, segundo o IBGE, 84,4% das cidades brasileiras são
consideradas pequenas, demograficamente (abaixo de 50 mil habitantes), representando 34,6%
da população brasileira, reforçando a ideia da construção de uma agenda de pesquisa nacional
sobre o assunto (BELL e JAYNE, 2009; MOREIRA JUNIOR, 2013).
Considerando tal defesa, o elo entre a cidade pequena e suas adjacências rurais está
associado ao processo campo-cidade, já que um aspecto depende do outro para sua
sobrevivência, exemplificados pelos setores primários, secundários e terciários. Logo, é uma
“via de mão dupla”, com forte relação de dependência para ambos os espaços.
A segunda etapa foi articulada a partir de informações sobre a realidade local, regional
e nacional, disponibilizadas por alguns órgãos públicos, a saber: IBGE, FJP, CAPES, Ministério
da Economia e Prefeituras.
No capítulo posterior, número 2, é destacado o debate sobre redes urbanas, com foco
em Minas Gerais. Desta forma, é mostrada a atual divisão da hierarquia urbana do estado,
salientando as principais cidades e redes. O objetivo é evidenciar o papel das cidades pequenas
nas redes urbanas que fazem parte.
Por um momento achei que minha pesquisa não seria finalizada. Como seria estar no
mestrado sem acesso às bibliotecas? Livros físicos? Sem poder visitar as cidades que compõem
minha área de estudo? E as fotografias? Seria tudo à distância e virtual até quando? As reuniões
às pressas com o orientador em sua sala na universidade seriam uma utopia?
Essas perguntas me atormentaram por longos meses. Ao sair de São João del-Rei para
passar a quarentena inicial em minha cidade natal, Oliveira, vi que não seria nada fácil. De um
lado o conforto e segurança de estar em família. Do outro, o medo e a angústia sobre os estudos.
Tudo foi se ajeitando durante o ensino remoto. Ainda cursava as disciplinas que
valeriam como créditos do Programa. Foi horrível, infelizmente. Aulas cansativas, corpo já não
estava aceitando o computador pela frente. Porém, a resiliência chegou. Eu não era o único que
estava passando por aquele problema. Coube, então, adaptar-se à realidade.
Novas ideias foram surgindo. Estar em casa o dia todo me possibilitou tempo para
investigar novas metodologias de estudo, possibilidades na área pesquisada e o contato com
profissionais da temática. Afinal, estávamos todos na mesma situação, no marasmo e no tédio
sem ir para lugar algum.
A pandemia, por outro lado, me viabilizou a aproximação dos meus estudos com minha
família. O que antes eu contava com os colegas da faculdade para me auxiliar, estava sendo
feito, nesse período, por meus pais e irmãos. Revisões, tabulações de dados, separação de livros
e um ombro amigo durante as crises de ansiedade e bloqueio criativo.
E eis que chego até aqui, com a pesquisa finalizada. O sentimento que fiz meu melhor
diante as possibilidades que eu obtinha prevalece. Porém, no fundo do coração, tem aquele
resquício que poderia ter feito mais, aquela inquietação eterna do pesquisador, mas foi o que
5 Sentido carinhoso de possessividade que construí durante o caminho do mestrado com as cidades estudadas.
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consegui dentro do meu limite e espero ter atingido um degrau que jamais poderia imaginar
anos atrás.
As imagens que ilustram as aberturas dos capítulos são pinturas de Hélcio Laranjo.
Jornalista aposentado, é natural de Oliveira, sendo conterrâneo do autor deste trabalho, cujo
tema das cidades pequenas é bastante presente em suas obras, retratando paisagens urbanas e
rurais em seus quadros.
6 Frade dominicano, jornalista graduado e escritor brasileiro. Nascido em Belo Horizonte/MG, recebeu diversos
prêmios por suas obras. Militante de movimentos pastorais e sociais, tendo ocupado a fu nção de assessor especial
do Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva entre 2003 e 2004.
Figura 3: Cotidiano (Fonte: Hélcio Laranjo, 2019).
Corrêa (1989), por exemplo, já nos alertava: “[...] os esforços de reflexão empreendidos
sobre o espaço urbano e a cidade têm preferencialmente, privilegiado as grandes cidades”
(CORRÊA, 1989, p.45). E Milton Santos destaca “[...] vemos perfilar-se outro fenômeno
urbano, o das cidades locais que, a nosso ver, merece tanto interesse quanto o precedente”
(SANTOS, 1982, p.69). Para Andrade (2001), “[...] umas das dificuldades em discutir cidades
pequenas é sua própria conceituação. O critério quantitativo deve ser usado com bastante
cautela devido à complexa organização territorial e urbana do espaço brasileiro” (ANDRADE,
2001, p.2).
32
Corroborando com Juanico (1976), as pesquisas tendem a deixar de lado este tema
periférico no campo da Geografia Urbana, para colocar em evidência apenas as cidades mais
reconhecidas nacionalmente. Para o autor, é feita uma suposição de que os problemas
encontrados nas cidades pequenas não são relevantes, não necessitando de estudos e discussões.
No entanto, embora apresentem diversos problemas, a sua intensidade está em uma escala local
e não em proporção aos das metrópoles, fato que as fazem serem menos estudadas pela
Geografia.
Para Brandão (2019), o motivo dessa nova vertente de pesquisa busca responder às
mudanças políticas que estavam acontecendo no Brasil. Segundo ele, tais transformações eram
articuladoras para a criação de novas dinâmicas no espaço urbano, sobretudo na escala regional,
abarcando as cidades pequenas.
Outro aspecto aponta a própria função das cidades pequenas como incentivadoras da
descentralização das atividades produtivas, principalmente as indústrias, permitindo a criação
de polos alternativos para atração de migrantes e, dessa forma, aliviando a pressão migratória
sobre os grandes centros.
Muitas são as cidades que abrigam poucos habitantes e tem menor expressão econômica
e política, configurando-se como pequenas, no território brasileiro. Devido às suas variadas
características, consideradas algumas vezes como “cidades do interior” ou “cidades rurais”,
33
elas, porém, não deixam de ser urbanas, pois existe uma estrutura urbana como edificações,
casas, ruas, avenidas, praças; entre outras inúmeras características que agregam singularidades
às cidades pequenas (SNICER, 2015).
Sendo assim, analisar e entender as cidades pequenas vai além de um trabalho que
agrega articulação em escalas geográficas e que exige um posicionamento consciente do
pesquisador sobre a realidade a ser observada e descrita, bem como um critério justo sobre a
classificação hierárquica de cidades.
Esse sub-tópico se inicia com uma inquietação: o que é uma cidade? Diante da
complexidade de uma resposta, entende-se a relevância de discutir criticamente tal indagação.
Os teóricos que se comprometem a respondê-la percorrem inúmeras esferas para fundamentar
sua resposta. Alguns se concentram nas dinâmicas populacionais, outros nos fluxos de
comunicação, bens e serviços e uns no campo de lutas e reivindicações.
Antes de estudar cidades de qualquer porte, julga-se necessário compreender o que seria
uma cidade no sentido teórico. Sendo assim, é importante relacionar o recorte espacial e
temporal, além da experiência acadêmica e profissional percorrida pelo pesquisador que se
compromete a explicar o que é uma cidade. É importante ter em mente que não existem
respostas erradas, já que as cidades são dinâmicas, transformando-se a todo instante e com
novas teorias sendo desenvolvidas a respeito do fenômeno urbano.
34
Uma, dentro de uma perspectiva mais tradicional, é uma visão material da cidade do
ponto de vista de seus níveis de concentração, adensamento, aglomeração, aspectos
que constituem a preocupação principal desse tipo de abordagem. A outra,
independentemente do perfil anterior, com ideias mais recentes, considera a cidade do
ponto de vista de suas funções, sua dinâmica e suas contradições, levando em conta
dados relativos ao comércio, à disseminação de informações e ao seu papel na
qualidade de vida dos moradores (FIGUEIREDO, 2008, p. 31).
Desta forma, conseguimos entender a imensa diversidade das cidades no Brasil, com
diferenças exponenciais de população e, ainda assim, todas consideradas cidades, já que a
demografia não é limite para a definição, mas apenas o critério político-administrativo. Em
Minas Gerais, objeto de estudo da presente dissertação, é possível visualizar a gama de cidades
e suas respectivas populações, em diferentes épocas, conforme tabela abaixo. Vale destacar a
grande maioria na primeira classe de divisão.
é falado sobre o limite mínimo para ser considerado uma cidade, que varia de autor para autor,
demonstrando incertezas para uma definição geral sobre o que é uma cidade.
Por outro lado, há uma definição sobre cidades focada em sua função, sendo
caracterizada por ideias mais recentes, conforme demonstra Oliven (1987). Segundo o autor,
“as cidades se constituem nos centros mais dinâmicos de sociedades complexas e, portanto,
representam também espaços nos quais as contradições deste tipo de sociedade se tornam mais
evidentes” (OLIVEN, 1987, p. 13). Tais contradições podemos interpretar como as
desigualdades sociais dentro de um mesmo aglomerado urbano, com classes ricas e pobres.
Já para Cavalcanti (2001) uma cidade pode ser interpretada de acordo com alguns
acontecimentos, a saber: criação de comércios, bancos, hospitais, escolas, cinemas,
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Seguindo a mesma linha, Silva (2004) destaca que a cidade é o produto da “atuação
constante dos agentes produtores do espaço urbano, sendo o local que possibilita a maximização
da reprodução capitalista” (SILVA, 2004, p.56). Logo, a incessante produção do espaço urbano
vai determinar as características de tais espaços, levando em consideração o poder econômico
dos atores espaciais.
Permeando pelas duas abordagens, Carlos (2009) apresenta sua teoria. Para a autora, ao
qual nos baseamos, a cidade é “o locus da produção, concentração dos meios de produção, do
capital, da mão de obra, mas é também concentração de população e bens de consumo coletivo”
(CARLOS, 2009, p.73). Ou seja, a cidade vai ser a responsável por ter para si os bens e serviços
e difundi-los para sua população. Já Scarlato (1995, p. 400) reforça que “a cidade é um lugar
de trocas”, seja de bens materiais ou de experiências e sentimentos.
Por fim, as cidades, com suas singularidades, são capazes de construir futuros diferentes
e, assim, serem modificadas de acordo com sua função, por seus habitantes e pelo governo
local. Muitas conseguem se manter pelo turismo, outras por fluxos industriais, estudantis, saúde
ou até mesmo por sua importância política na região que está inserida.
Nesta perspectiva da categoria cidade, percebe-se a dimensão ampla que está intrínseca
ao conceito, possibilitando a observação que qualquer cidade, independentemente de sua
extensão territorial, irá apresentar formas e funções distintas, que merecem discussão. As
diferenças, portanto, podem ser demográficas, econômicas e funcionais, variando, assim,
qualitativa e quantitativamente.
Este subcapítulo tratará das principais abordagens sobre o conceito de cidade pequena,
nos olhares de pesquisadores brasileiros e estrangeiros da Geografia. Salienta-se que é
necessário levar em consideração o recorte temporal das ideias antes de traçarmos
interpretações, a fim de evitarmos críticas inoportunas, já que por trás de cada teoria está
presente uma época diferente, com vivências variadas de autor para autor.
37
Entretanto, uma ampliação das pesquisas sobre a cidade pequena pode ser observada,
no caso brasileiro especificamente, a partir da década de 1990. Isso representou uma renovação
da Geografia por meio da adoção do enfoque crítico-analítico de orientação marxista, sendo
acompanhado, em contrapartida, pela diminuição das pesquisas de cunho estatístico-
demográfico (SPOSITO e SILVA, 2013).
Esse período foi classificado como um momento da construção dos estudos sobre as
cidades pequenas brasileiras na Geografia. Isso porque passou-se a observar um maior
crescimento das análises referentes a esse tipo de cidades, realizadas de forma mais sintética,
ganhando sentido ao confrontar as bibliografias sobre o assunto com a interpretação mais
aguçada das obras.
Para Pierre George, geógrafo francês precursor da Geografia crítica, seu critério não
abrange aspectos demográficos e sequer econômicos ou funcionais e sim o deslocamento
interno. Em seu entendimento, George (1968) evidencia o espaço interno limitado nessas
cidades no tocante às relações sociais e econômicas, facilitando-as, gerando pouca
complexidade de sua compreensão. Nas palavras do autor, uma cidade pequena é identificada
como um
Com base nessa definição, constata-se que o critério utilizado por este autor não é o
número de pessoas que a cidade contém, mas sim, o tempo gasto com o deslocamento e a forma
como ele é feito. No entendimento do autor, esta categoria de cidade ocupa um espaço bastante
limitado, o que facilita as relações econômicas, além das relações sociais.
30 mil e 100 mil habitantes; já as grandes com população superior a 100 mil habitantes. Nota-
se, entretanto, a exclusão das cidades que continham número inferior a 5 mil habitantes. 7
Amorin Filho e Serra (2001) mencionam que em 1979, por iniciativa de Andrade e
Lodder, diversas pesquisas foram feitas no Brasil sobre centros urbanos. Para eles, as cidades
pequenas seriam aquelas que obtinham menos de 50 mil habitantes.
Ruckert (1981), em suas pesquisas sobre o estado do Rio Grande do Sul, afirma que as
cidades pequenas eram aquelas que tinham como moradores a marca de no mínimo 10 mil
habitantes registrados no último censo demográfico, em 1970.
Santos (1982) ainda exemplifica que “a cidade local é a dimensão mínima a partir da
qual as aglomerações deixam de servir às necessidades da atividade primária para servir às
necessidades inadiáveis da população, com verdadeira especialização do espaço” (SANTOS,
1982, p. 71).
No entanto, de acordo com Fresca (2010), é importante destacar que cidades pequenas
e cidades locais não devem ser vistas enquanto expressões iguais. Cidade local seria o menor
escalão das cidades brasileiras, que atendem apenas as necessidades mais imediatas de seus
habitantes (SANTOS, 1982). Já a cidade pequena seria aquela com complexidade de atividades
urbanas que extrapola o denominado nível mínimo, mas que tal complexidade de atividades
urbanas não gera processos necessários para que as mesmas possam ser analisadas como
cidades intermediárias (FRESCA, 2010).
Dessa maneira, os centros locais precisam de cidades com níveis urbanos mais
desenvolvidos para sanarem suas demandas, tendo a cidade pequena adjacente como o alvo
imediato de procura. O fato reforça a proximidade do centro local e da cidade pequena, não
sendo necessária a busca por uma cidade média ou grande, já que a complexidade das
necessidades é mínima.
7A exclusão das cidades com menos de 5 mil habitantes mencionada na frase pode ser uma decisão metodológica
adotada para se concentrar nas características e padrões das áreas urbanas maiores e mais representativas em um
contexto de estudo da Geografia Urbana.
39
Ainda sobre as cidades pequenas tratadas por Santos (1982), ele reitera que a
comunidade internacional, em sua maioria, estabeleceu como marca máxima dessas cidades a
população de 20 mil habitantes. No entanto, chama a atenção que usar somente a demografia é
uma generalização perigosa, já que o mais importante são os fluxos funcionais,
complementando seu desenvolvimento e dinâmica.
Todavia, alguns pesquisadores optam por utilizar apenas o critério demográfico. Alba
(1984), em estudos no México, estabeleceu que as cidades de menor nível hierárquico eram
aquelas que possuíam a população entre 15 e 50 mil habitantes. Por outro lado, não justificou a
exclusão das cidades com população inferior a 15 mil habitantes. Em suma, “conhecer como
estas pessoas vivem e quais são suas necessidades é tão importante quanto conhecer a realidade
das demais cidades, pois não se pode esquecer que as pequenas cidades fazem parte de um
contexto maior: um estado, uma região, um país” (FIGUEIREDO, 2008, p. 39).
Ainda na América Latina, Jordan e Simioni (1998) afirmavam, à época, que as cidades
pequenas eram as que tinham população inferior a 50 mil moradores, em suas pesquisas no
México e Chile. Já para Gohn (2004), em contextos mundiais, destaca que a marca ainda
continua em 50 mil habitantes, reforçando que elas fazem parte de um “ideal utópico de moradia
feliz no imaginário de milhares de pessoas” (GOHN, 2004, s/p).
Vallega (1995) faz distinções para as cidades de pequeno porte na Itália. O autor propôs
a seguinte divisão: cidades pequenas seriam aquelas com população entre 25 e 100 mil
habitantes. Já as cidades com população inferior a 25 mil seriam denominadas de muito
pequenas.
Julga-se necessário, também, apresentar as noções dos órgãos públicos que possuem o
objetivo de traçar políticas públicas com base em dados, subsidiando as várias esferas de gestão
pública e privada. O Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) usa a nomenclatura
“pequenos centros”, e os divide em três grupos, por população. O primeiro é constituído por
cidades de até 10.000 habitantes, o segundo em cidades de 10.001 a 20.000 habitantes e o
40
terceiro, de 20.001 a 50.000 habitantes. E, por fim, a classificação do IBGE (2000) define
pequena cidade como aquelas que possuem até cem mil habitantes.
Logo, frente ao referencial teórico que subsidia esta pesquisa, constata-se que não há
consenso quanto a uma definição definitiva do que seja uma cidade pequena. No entanto, apesar
das pesquisas privilegiarem os grandes centros para, de certo modo, formularem teorias e
explicações sobre o urbano contemporâneo, é necessário um olhar mais atento para cidades de
menor porte.
Amorim Filho e Serra (2001) destacam que o critério demográfico também passa por
reformulações ao longo do tempo. Em estudo enfocando as cidades médias, os autores
reforçam:
Embora não haja um acordo absoluto quanto aos limiares demográficos máximo e
mínimo que podem conter o conjunto das cidades médias, há, em cada período
histórico, coincidentes patamares demográficos definidores desse conjunto de cidades
nas mais variadas regiões do mundo (AMORIM FILHO E SERRA, 2001, p. 13)
Para Lefebvre, a indefinição pode ser comparada à uma torre de babel8 no meio
acadêmico, visto que “mesmo quando existem inovações conceituais produtivas, a
fragmentação das realidades urbanas na prática política, econômica e cultural cotidiana é
8 A narrativa da Torre de Babel é o mito bíblico fundador que explica a razão de existirem diferentes línguas , ideias
e pensamentos.
41
replicada sem demasiado sentido crítico dentro do terreno discursivo da teoria urbana”
(LEFEBVRE, 2003, p.54 apud BRENNER, 2018, p. 273).
De acordo com Sposito (2001), atualmente há uma incessante busca pela elaboração de
um conceito, já que existe uma noção do que seria uma cidade pequena, utilizando bases de
sustentação empírica, seja por critérios demográficos ou funcionais.
Ainda, segundo Sposito (2001), uma distinção merece ser feita sobre as nomenclaturas
utilizadas e que não representam a mesma noção: cidade de pequeno porte e cidade pequena. A
primeira expressão indica, majoritariamente, a quantidade; o aspecto demográfico, variando
entre 20, 50, 100 mil habitantes como limite máximo. Uma cidade pequena, por sua vez, deve
ser entendida no que respeita a sua função, exercida no conjunto de sua rede urbana,
influenciando e apresentando fluxos com outras cidades, em níveis menores em comparação
com as cidades médias. Assim, só é possível analisar sua conjuntura quando comparamos com
outros centros.
Consequentemente, Sposito (2001) afirma que, basear-se apenas em uma variável, seja
demografia ou funcional, pouco contribuiria para a elaboração do conceito de cidade pequena.
Para ela, “não há correspondência direta entre o tamanho demográfico de uma cidade e seu
papel na rede urbana ou, em outras palavras, cidades de mesmo porte populacional podem
desempenhar papéis que diferem em sua natureza e importância” (SPOSITO, 2001, p.613-614).
Para Faissol (1972), caracterizar uma cidade perpassa na análise de não apenas
especificar a quantidade numérica de sua população, mas observar seu tamanho funcional
perante sua rede urbana. Apesar de haver predominância da demografia nos estudos sobre
cidades pequenas, é fundamental que as pesquisas sejam situadas no tempo; na época e local
em que foram feitas. Figueiredo (2008) enfatiza a importância de se analisar outras variáveis.
Segundo a autora,
Os centros de níveis elevados e melhor equipados oferecem mais bens e serviços, têm
maior número de estabelecimentos e tipos de negócios, maior volume de população,
influenciando centros menores. Por outro lado, os centros de níveis inferiores, mesmo
equipados, fornecem somente bens e serviços de baixa o rdem que são,
frequentemente, procurados apenas pelos consumidores locais (FIGUEIREDO, 2008,
p. 42).
Assim sendo, Monbeig (1957) ao se referir aos estudos sobre as cidades pequenas,
reforçou a importância de se analisar a função que tais cidades exercem. Para ele,
A função urbana não é menos interessante numa cidade pequena do que numa capital;
é aí menos difícil de estudar, e seus diferentes elementos decompõem-se mais
facilmente. É a função comercial, ligada à presença dos meios de transportes, mais
frequentemente, a razão de ser das pequenas cidades do interior: fazendeiros, colonos,
sitiantes, trazem suas colheitas e compram as roupas e os instrumentos de trabalho de
que necessitam (MONBEIG, 1957, p. 56-57).
Scarlato (1995) afirma que a caracterização urbana de uma cidade não se resume à
demografia, mas, sim, pelas funções urbanas que executam. Quanto mais importante e maior
categoricamente são essas funções na rede urbana para essa cidade, maior será sua
caracterização urbana, oscilando entre três esferas de grandeza: pequena, média ou grande.
Logo, seu papel estará atrelado ao seu aspecto funcional.
Para além do quesito educacional, é válido salientar que quando se pesquisa as cidades
pequenas, deve-se, de antemão, analisá-las separadas em dois grupos: as que estão próximas
9Interessante destacar que Fresca traz em 2001 e Silva e Azevedo comprovam 20 anos depois que a fragilidade
permanece.
43
aos centros de hierarquias urbanas maiores e aquelas distantes, já que isso influencia nas
observações propostas. Logo,
Isto posto, para que uma cidade seja analisada é necessário compará-la com outra
perante sua rede urbana, ressaltando sua importância dentro da hierarquia urbana. Sendo assim,
o resultado das análises possibilitará entender quais as funções, papéis e centralidade tais
cidades ocupam, determinando, por conseguinte, sua posição dentro daquela hierarquia
(ENDLICH, 2009).
Neste subcapítulo mostraremos como as buscas sobre cidade pequena vêm aumentando
no Brasil no século XXI. O recorte temporal dessa investigação, 2000 até 2020, se justifica pelo
desenvolvimento tecnológico do país, período em que a sociedade começa a solidificar e
intensificar o uso da internet e as pesquisas sobre o tema passam a ser divulgadas online.
Figura 4: Variação de busca do termo ‘cidade pequena’ no Brasil – 2004/2020. (Fonte: Google Trends, 2021).
Ao contrário de São Paulo, estado mais rico do país, possuidor de nove regiões
metropolitanas (São Paulo, Vale do Paraíba e Litoral Norte, Ribeirão Preto, Baixada Santista,
Sorocaba, Campinas, Piracicaba, Jundiaí e Rio Preto), com muitas cidades com mais de 500
mil habitantes, cuja a prioridade de busca acaba sendo outra. Entretanto, destaca-se que em São
Paulo também existem cidades com população inferior a 50 mil habitantes, totalizando 501,
porém, fazem parte de outra rede urbana, com maiores benefícios, diferente do Piauí.
10Na maioria das vezes, são pessoas de cidades médias e grandes que fazem tais indagações, com o intuito de
saberem mais sobre as cidades pequenas.
45
Abastecimento de água em cidade pequena?; Segredos de uma cidade pequena?; Quanto ganha
um prefeito de cidade pequena?; Como planejar uma orgia em cidade pequena? 11 .
Sobre este fenômeno, portanto, percebe-se que a população de tais cidades preocupa-se
principalmente com as dificuldades econômicas, logo, recorre-se à internet com o intuito de
procurar alternativas frente ao mundo dos negócios. E, também, a dificuldade de relações
sociais nessas cidades, já que o universo de possibilidades é reduzido.
À vista disso, o próximo passo foi procurar qual plataforma de bancos de dados
eletrônicos direcionar a investigação, que ofertaria a maior eficiência no tocante à produção
científica no âmbito da pós-graduação brasileira. Nesse ínterim, nosso foco de abordagem foi
o Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES), pertencente ao Ministério da Educação e integrado à Plataforma Sucupira,
ferramenta originada em 2014 de coleta de informações dos Programas de Pós-Graduações que
permite a anexação do trabalho final.
11
De antemão, ressalta-se que a exposição dessa última dúvida não vai ao encontro de esquecer o teor sério e
comprometido aqui da pesquisa para a ciência geográfica, mas, sim, evidenciar as realidades locais em seu ponto
mais fidedigno e atual.
46
Sobre o recorte temporal, foi delimitado o período entre 2000 e 2020, já que o ano
vigente no momento (2021) ainda não se findou e levando em consideração que pesquisas ainda
podem ser divulgadas até o último mês do ano. Fora isso, tal período ainda favorece a
possibilidade do acesso aos arquivos, já que com a Plataforma Sucupira os trabalhos são
divulgados simultaneamente no momento da busca, agilizando seu acesso.
No entanto, ressalta-se que o recorte temporal escolhido foi justificado para analisar a
produção acadêmica da temática a partir do início do Século XXI, além de ser a mesma época
da modernização tecnológica que vivemos, já que antes dos anos 2000 poucos trabalhos são
encontrados na forma digital.
12 Ressalta-se que trabalhos sobre a temática podem ter ficado de fora de nossas análises, pelo fato das pesquisas
serem sobre alguma cidade pequena e não haver a menção do termo ou terem usado outro semelh ante durante a
dissertação/tese, no título, resumo ou nas palavras-chaves.
47
do programa”, “instituição”, já que a ideia era abordar todo o acervo disponível. Todavia, no
campo “grande área do conhecimento” foi destinado apenas para as Ciências Humanas e no
filtro “área do conhecimento” foi estipulado apenas para a Geografia.
Na pesquisa dos artigos presentes nos anais do SIMPURB foi feita a seleção dos últimos
três eventos, ocorridos em 2015, 2017 e 2019, já que foram os únicos que mantiveram os anais
disponíveis na internet até 2021. E do SINAPEQ foi catalogado apenas os anais da última
edição disponível, em 2020.
8
Quantidade
0
2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018 2020
Anos
Figura 5: Dissertações brasileiras sobre cidades pequenas (2000-2020). Fonte: CAPES, 2021. (Elaborado pelo
autor, 2022).
48
8
Quantidade
0
2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018 2020
Anos
Figura 6: Teses brasileiras sobre cidades pequenas (2000-2020). Fonte: CAPES, 2021. (Elaborado pelo autor,
2022).
Além dos professores nominalmente supracitados, a grande maioria dos docentes possui
um trabalho orientado, tanto em dissertações quanto em teses, conforme as Tabelas 4 e 5
revelam.
Atualmente, os grupos de estudos com mais notoriedade no país são aqueles que estão
preocupados na sistematização sobre os grandes centros e regiões metropolitanas, cujos alguns
professores citados nas tabelas fazem parte, como a Rede Brasileira de Estudos sobre Cidades
Médias (REDBCM), Observatório das Metrópoles e a Rede de Pesquisadores sobre Cidades
Médias (ReCiMe).
25
20
15
10
5
0
Discussões
Figura 7: Discussões das dissertações sobre cidades pequenas no Brasil – 2000/2020. (Fonte: CAPES, 2021.
Elaborado pelo autor, 2022).
53
8
6
4
2
0
Discussões
Figura 8: Discussões das teses sobre cidades pequenas no Brasil – 2000/2020. (Fonte: CAPES, 2021. Elaborado
pelo autor, 2022).
As inquietações sobre espaço urbano lideram a lista dos temas das pesquisas no âmbito
de mestrado. Já no doutorado, as buscas por rede urbana em cidades pequenas se sobressaem
às demais. As dissertações supracitadas possuem o recorte temporal a partir de 2005, porém,
outros temas foram discutidos no início dos anos 2000, mas em menor frequência. Quanto às
teses, as maiores preocupações científicas que são sobre rede urbana datam já no ano 2000,
apresentando oscilação até 2017, ano da divulgação da última pesquisa sobre o assunto regional.
Por conseguinte, podemos observar que os estudos sobre espaço urbano e rede urbana,
na esfera da pós-graduação no Brasil, são os mais discutidos e problematizados, justificado pela
busca incessante de entender as recorrentes transformações e mutações do espaço geográfico.
Além disso, a rede urbana corrobora ao fenômeno citado também, no tocante que os centros
urbanos estão se desenvolvendo e novos fluxos sendo criados, alimentando e atualizando a
função urbana de cada localidade.
Detectamos que quase todas as pesquisas analisadas (por títulos, resumos e palavras-
chaves) estão focadas em estudos de casos específicos e não na busca pelo aprofundamento
teórico para fundamentar os estudos sobre a temática, mas sempre reservando uma parte do
trabalho para uma conceituação, mesmo que breve.
1.4.2 A produção sobre cidades pequenas nos anais de eventos acadêmicos brasileiros
Foram catalogadas apenas sete pesquisas que discutiam a temática de cidades pequenas
na Geografia Urbana, conforme Tabela 6. Os dados completos das pesquisas, como autores,
títulos e universidades, estão divulgados no tópico “ANEXOS”, presente no final desta
dissertação.
diferenciando um ou outro eixo temático. São apresentados aqui os existentes na última edição,
em 2020, e o único que tinha os anais disponíveis na internet:
fundamental para a formação cidadã, para a vida na cidade, para uma postura crítica,
participativa e propositiva diante dos desafios urbanos tanto nas grandes, quanto nas
pequenas cidades. A partir do contexto da cidade em que se vive, o Ensino de
Geografia pode contribuir na teoria, na metodologia e na prática nos estudos das
cidades, com reflexões importantes sobre a dinâmica urbana e a vida na cidade, o
direito à cidade e a relação campo-cidade. Além disso, as ações realizadas pela
comunidade escolar, influenciam na realidade local, possibilitando avanços sociais,
políticos, ambientais, culturais e econômicos (SINAPEQ, 2020).
20
Quantidade
15
10
0
EIXO 1 EIXO 2 EIXO 3 EIXO 4 EIXO 5 EIXO 6 EIXO 7 EIXO 8
Figura 9: Quantidade de trabalhos por eixos do SINAPEQ - 2020. (Fonte: SINAPEQ, 2021. Elaborado pelo
autor, 2022).
No Brasil, podemos perceber como a discussão está atrelada em várias vertentes e rumos
de estudos. Para chegarem aos resultados de caracterização destas cidades, observamos que
houve variação na utilização de critérios quantitativos, qualitativos, ou o uso dos dois critérios.
13
A ordem numérica dos eixos segue a relação da citação direta utilizada na página anterior com a definição de
cada um.
57
Entretanto, a maior parte dos trabalhos utiliza a definição oficial do IBGE, por meio da Regiões
de Influência das Cidades (REGIC), sobre as funções de cada uma, principalmente.
Esses são alguns dos desafios e tendências encontrados nos diversos trabalhos
acadêmicos mencionados. O conjunto de estudos sobre cidades pequenas possibilita avançar na
construção de um conceito mais bem delineado, demonstrando as possibilidades, perspectivas
e desafios teórico e metodológicos sobre o tema.
Esses estudos, direta ou indiretamente, são alicerces para outras formas de divulgação
do saber científico, em forma de trabalhos em congressos, livros, artigos em periódicos,
dissertações, teses, entre outras (MOREIRA JUNIOR, 2013).
Figura 10: O vendedor de lenhas (Fonte: Hélcio Laranjo, 2022).
Para isso, este capítulo analisa o caráter de uma rede urbana. Na sequência, é
apresentada a rede urbana mineira, com o intuito de explicar as peculiaridades de Minas Gerais
onde se situa a área de estudo.
O estudo sobre redes não é novo no âmbito da Geografia. De acordo com Dias (2001),
pesquisas revelam que a preocupação em torno do conceito se destinou a construir metodologias
interpretativas para enfocar o quesito das distâncias e suas relações de fixos e fluxos na
organização do território.
Para Corrêa (2012), a categoria de redes abrange toda uma espacialização, no entanto,
não deixam de ser sociais. Segundo o autor,
As redes geográficas são redes sociais espacializadas. São sociais em virtude de serem
construções humanas, elaboradas no âmbito de relações sociais de toda ordem,
envolvendo poder e cooperação, além daquelas de outras esferas da vida” (CORRÊA,
2012, p.200).
No espaço geográfico é comum nos depararmos com vários tipos de redes, como as de
transportes, as urbanas e as digitais, por exemplo. Desta maneira, em uma elucidação mais
extensiva, entendem-se as redes geográficas como um composto de pontos do espaço
geográfico operantes e relacionados mutuamente. Esses vínculos podem ser concretos, virtuais,
simbólicos e culturais, promovendo a troca de informações, materiais, conhecimentos ou
valores humanos, dentre outras coisas.
Dias (2001) afirma não existir apenas uma rede, mas várias que estão sobrepostas e
interligadas, mesmo apresentando diferenças. Para a autora, todas as redes pertencem à mesma
origem estrutural, apenas divergindo pelo espaço. “Ao interagir umas com as outras, as redes
realizam interações/doações espaciais e se beneficiam entre si, multiplicando, cruzando,
cobrindo e se sobrepondo em todas as direções, formando uma trama na superfície terrestre”
(PEREIRA, 2015, p.5).
Entretanto, seu uso não é considerado democrático, haja vista que sua difusão está
intrinsicamente interligada a interesses das classes privilegiadas, com forte poder político e
econômico. O avanço e modernização das redes consolidam o meio técnico-científico-
informacional (SANTOS e SILVEIRA, 2001), meio geográfico atual do mundo globalizado.
Portanto, é fundamental que as redes continuem a ser estudadas devido ao seu papel nas
novas configurações do espaço geográfico (urbano ou rural), pois apresentam fixos e fluxos de
diferentes proporções, representando assim a realidade de cada local.
As redes geográficas, por sua vez, sendo uma construção da sociedade, pode remeter-se
a diferentes variáveis, já que são portadoras de ordem (DIAS, 2001). Corrêa (2012) sugere três
dimensões para explicar uma rede geográfica: organização, tempo e espaço.
A literatura sobre redes geográficas aponta alguns de seus arranjos espaciais. São eles,
solar, dendrítico, christalleriana, axial, circular e de múltiplos circuitos. Estas
configurações devem ser vistas como tipos ideais, não tendo nenhum sentido
explicativo, normativo ou preditivo, mas contribuindo para tornar inteligível a
sociedade, por meio de uma de suas mais significativas construções (CORRÊA, 2012,
p. 205).
A Geografia tem se debruçado sobre a influência exercida pelas redes atualmente, já que
elas são reconstituídas o tempo todo, dinamicamente, sejam as de transportes, de comunicações,
comércio ou até mesmo a rede urbana. Busca-se compreender a lógica dos fluxos existentes no
espaço geográfico, com suas origens e tendências dentro da globalização.
No entanto, é necessário evidenciar que o estudo sobre as redes não é recente e nem
limitado ao âmbito da Geografia, mas também de outras áreas de conhecimento, como:
“Sociologia, Antropologia, História, Medicina, Biologia, Matemática, Engenharia Civil,
Engenharia Elétrica, Engenharia de Telecomunicações, Arquitetura, Sistemas de Informação,
Economia, Administração, Psicologia, dentre outras” (PEREIRA, 2014, p.4).
Vale ressaltar que o termo é utilizado de modo informal na sociedade, ou seja, nas
conversas entre pessoas, indo ao encontro do que Santos (1999) salienta, que por conta dessa
proximidade do termo com a sociedade, ele acaba gerando oscilações e indecisões sobre o uso
correto da palavra rede.
Pereira (2009) afirma que as redes existentes dentro de tais centros urbanos têm seu
papel interligado às pessoas, informações e objetos em seu interior. Com isso, conseguem
promover uma complexa comunicação de variáveis entre diferentes pontos do espaço
62
geográfico, beneficiando a todos que dela necessitam, com destaque para as grandes
multinacionais em suas decisões de negócios difundidos por todo o planeta.
Sendo assim, a rede urbana tem sido foco de estudos há anos. Um divisor de águas dos
estudos ligados a essa temática acontece quando Walter Christaller, em 1933, publica sua tese
de doutorado. Nela, o autor aprofunda a discussão sobre a teoria dos lugares centrais, tendo
como área de estudo o sul da Alemanha e que, posteriormente, se torna um modelo para futuras
pesquisas sobre as redes urbanas.
Todavia, como com qualquer teoria, recebeu críticas. Ao longo do tempo, foi observado
que tal estudo é resultado parcial das relações sobre rede urbana, tendo em vista que Christaller
não considerou as particularizações de produção dos centros urbanos, já que a complexidade
das funções de cada centro urbano se origina das várias hipóteses que cada local oferece para o
surgimento dos aspectos econômicos desse lugar.
À vista disso, Corrêa (2012) justifica como a teoria dos lugares centrais de Christaller
não é a melhor escolha para analisar uma rede urbana:
14
Regiões adjacentes influenciadas pelos centros urbanos.
63
Porém, sendo alvo de críticas ou não, a teoria christalleriana influenciou tanto países
capitalistas quanto socialistas, à época, no direcionamento de construção de planejamentos
regional e urbano e de políticas públicas sociais. Com o Brasil não foi diferente. O Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) se baseia, desde 1972, passando pelas edições dos
anos de 1987, 1993 e 2007, na teoria dos lugares centrais para a elaboração da REGIC.
Quatro anos depois, Corrêa e Loykasek (1972) analisaram a Teoria dos Lugares Centrais
com o objetivo de analisar a rede urbana paranaense para identificar funcionalidades centrais
exercidas pelas cidades desse estado. Ainda no mesmo ano o IBGE propôs uma nova
regionalização do Brasil, desta vez elencando as regiões funcionais urbanas, tendo em vista o
desenvolvimento econômico regional em expansão.
Em 2020, foi lançada a versão mais atualizada da REGIC, com estudos realizados em
2018. Como metodologia para a obtenção dos dados sobre a influência das cidades brasileiras,
Logo, é possível visualizar a rede urbana brasileira em duas vertentes: como a hierarquia
dos centros urbanos, agrupada em cinco categorias; e as regiões de influência determinadas pela
relação das cidades de menor para as de maior hierarquia urbana.
Figura 11: Hierarquia dos centros urbanos brasileiros. (Fonte: REGIC, 2020).
Desta maneira, no tocante às redes e a hierarquia urbana, o Brasil atualmente conta com
cinco grandes divisões: metrópoles, capitais regionais, centros sub-regionais, centros de zona e
centros locais (REGIC, 2020).
A área de influência desses locais é extensa e alcança todo país, com áreas de
justaposição em alguns pontos. As metrópoles se dividem em três esferas:
a) Capital Regional A - composta por nove Cidades, em geral Capitais Estaduais das
Regiões Nordeste e Centro-Oeste com exceção do Arranjo Populacional de Ribeirão
Preto/SP. Apresentam contingente populacional próximo entre si, variando de 800 mil
a 1,4 milhão de habitantes em 2018. Todas se relacionam diretamente a Metrópoles;
Por sua vez, os centros sub-regionais são a categoria para 352 municípios com atividades
menos complexas, com menos influência em relação às capitais regionais. São cidades com
pouca demografia, tendo média de 85 mil habitantes. Este terceiro grupo hierárquico é dividido
em duas classes:
b) Centro Sub-Regional B - formado por 256 Cidades com grande participação das
Regiões Sudeste e Nordeste, apresenta média nacional de 70 mil habitantes, maiores
no Sudeste (85 mil) e menores no Sul (55 mil) (REGIC, 2020, p. 11).
a) Centro de Zona A - formado por 147 Cidades com cerca de 40 mil pessoas, mais
populosas na Região Norte (média de 60 mil habitantes) e menos populosas nas
Regiões Sul e Centro-Oeste (ambas com média de pouco mais de 30 mil pessoas). Em
67
b) Centro de Zona B - este subnível soma 251 Cidades, todas classificadas nos níveis
4 e 5 de gestão territorial. São de menor porte populacional que os Centros de Zona A
(média inferior a 25 mil habitantes), igualmente mais populosas na Região Norte (35
mil, em média) e menos populosas na Região Sul (onde perfazem 15 mil habitantes).
Os Centros de Zona B são mais numerosos na Região Nordeste, onde localizam-se
100 das 251 Cidades nesta classificação (REGIC, 2020, p. 12).
Ao mesmo tempo, esses centros locais oferecem fraca habilidade de execução de suas
atividades comerciais e de controle público, tendo, geralmente, centros urbanos maiores mais
próximos como referência política, pública e comercial.
São a maioria das cidades do país, totalizando 4.037 centros urbanos, o equivalente a
82,4% das unidades urbanas analisadas na presente pesquisa. Sobre sua média populacional,
Os números chegam à marca de apenas 12,5 mil habitantes, com maiores médias na
Região Norte (quase 20 mil habitantes) e menores na Região Sul (7,5 mil pessoas em
2018). Essa diferença regional das médias demográficas repete o padrão apresentado
pelos Centros de Zona, inclusive tendo também a Região Nordeste com o maior
número Cidades neste nível hierárquico (REGIC, 2020, p. 12).
Analisando o perfil regional de cada nível hierárquico, a maior parte das metrópoles
encontra-se na Região Sudeste, bem como os dois níveis seguintes (capitais regionais e centros
sub-regionais). Essa concentração ocorre tendo em vista que a Região Sudeste sedia grande
parte das funções de gestão do país, bem como porção substancial da renda nacional. Essa
renda, estando distribuída em diversas cidades presentes na Região Sudeste, propicia a
existência de mercados de nível intermediário para atender ao grande número de consumidores
com renda mais elevada.
na rede final, mas que existem e são hierárquicas em sua forma. As conexões entre as
metrópoles representam o agregado das ligações entre as atividades que geram fluxo. Essas
atividades, localizadas em um conjunto “x” de cidades, podem envolver hierarquia, como a
sede de uma instituição pública e suas agências, mas também podem ser uma ligação entre
iguais ou mesmo de complementares.
Isso faz com que a ligação entre as cidades não seja, a priori, hierárquica, porém, o
resultado agregado das ligações do conjunto de atividades no conjunto de cidades, evidencia a
existência de centros urbanos de maior importância, onde há concentração dos fluxos, sendo
possível, a partir de seu mapeamento, estabelecer uma hierarquia entre as cidades.
Logo, é possível averiguar como a rede urbana brasileira é complexa e dinâmica. Vale
ressaltar isso se deve aos processos de industrialização e de urbanização que
acontecem/aconteceram no país, assim como fluxos migratórios e novas relações espaciais tanto
quantitativa quanto qualitativamente.
No estado de Minas Gerais, a rede urbana atual passou por diversas reformulações ao
longo do tempo. Para uma melhor compreensão, julga-se necessário uma contextualização
histórica, perpassando pelos primórdios da ocupação territorial no estado, já que os processos
políticos e econômicos, como industrialização, urbanização e migração, por exemplo,
moldaram a rede urbana.
Nos caminhos percorridos, eram instalados roças, capelas, vilas, arraiais e pousadas.
Logo, essas estruturas ajudaram e auxiliaram no processo da mineração, dando origem às
primeiras cidades mineiras.
Com isso, tinha início certa articulação para uma futura industrialização no território.
Observa-se que, mesmo restrito a uma pequena parte da província, foi a produção de café que
proporcionou as bases para a industrialização mineira, seguindo os passos de São Paulo.
Todavia, de acordo com Costa (2018, p.7), “mesmo com esse pequeno avanço da
indústria em Minas Gerais, no início do século XX, o atraso econômico em relação a São Paulo
levou a elite econômica mineira a defender um projeto de industrialização” no qual o Estado
desempenhava papel central e que, majoritariamente, ocorreu na região central do estado.
Contudo, a rede urbana de Minas Gerais está atrelada à rede urbana da Região Sudeste
e à do Brasil. Ainda no início do Século XX, duas cidades se despontavam como modernas e
importantes, devido ao poder de atrair população de sua hinterlândia e permitindo que o estado
conseguisse avançar com sua industrialização, mesmo que em processo lento comparado aos
estados vizinhos: Belo Horizonte e Juiz de Fora.
A primeira, hoje metrópole nacional, por sua função política, já que foi planejada e
inaugurada no ano de 1897. E a segunda pela influência do café, à época, dinamizada pelo
desenvolvimento econômico, industrial e de serviços, sendo caracterizada nesse período e
atualmente como capital regional ou cidade média.
De acordo com Corrêa (1968, apud ALVIM, 2009), ainda em 1960, a rede urbana do
Brasil era constituída por redes geográficas regionais, algumas organizadas, outras não. “Foram
consideradas desorganizadas as redes de Belém, Recife, Salvador, Fortaleza, São Luís, Brasília
e Goiânia, e organizadas as de Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto
71
Alegre” (ALVIM, 2009, p.78). Na Figura 12, abaixo, é demonstrado os centros locais de Minas
Gerais e suas regiões de influência.
Figura 12: Lugares centrais de Minas Gerais pertencentes às diferentes redes urbanas regionais brasileiras em
1960. (Fonte: ALVIM, 2009).
É importante destacar que as redes urbanas da Região Sudeste não eram formadas por
cidades pertencentes ao mesmo estado em que elas estão localizadas. Algumas cidades
mineiras, conforme a Figura 8, estavam associadas às redes geográficas urbanas de São Paulo
e Rio de Janeiro e não de sua própria capital estadual, Belo Horizonte. Tal fato mostra a
amplitude de uma rede urbana que se desenvolve por questões de proximidade e relevância e
não necessariamente por limites territoriais estaduais.
Na década de 1960, a rede urbana mineira, então, deixou de apresentar uma estrutura
simples, já que passou a possuir cidades com diferentes funcionalidades e relevância. Assim, o
fato corrobora com o desenvolvimento da economia, industrialização em processo de
concentração, o êxodo rural e a modernização dos transportes e comunicações.
Já em 1980, Baeninger (1998, apud ALVIM, 2009) relata que no contexto nacional, a
rede urbana passa por uma multiplicação, já que várias cidades foram criadas. Segundo a autora,
em 1950 o país possuía 1.889 cidades e em 1980 apresentava 3.991. Entretanto, apesar da
reconfiguração da rede urbana brasileira, ela possuía, em sua maioria, cidades pequenas, em
comparação com as médias e grandes, mostrando que a realidade do país perpassa pelos centros
de pequeno porte até os dias de hoje.
No ano de 1982, Minas Gerais possuía 722 municípios e suas sedes municipais,
denominadas por cidades pelo Decreto-Lei 311. Havia níveis hierárquicos diversificados, sendo
72
algumas caracterizadas por cidades médias, além da metrópole e das cidades pequenas, de
acordo com Amorim Filho, Bueno e Abreu (1982). A Figura 13 apresenta a organização da rede
urbana da década de 1980, com foco nas cidades médias.
Figura 13: Hierarquia das cidades médias em Minas Gerais - 1980. (Fonte: ALVIM, 2009).
É possível analisar que o estado já apresentava maior complexidade, quanto à sua rede
urbana, denotando certa diversificação e aumentando a área de influência, ou hinterlândia, de
cada cidade. Logo,
Tinha-se então além da cidade primaz, 103 cidades médias, cidades que mantinham
relações externas com outras inferiores ou mesmo superiores a elas, cidades que já
tinham centralidades que lhe imprimiam diferentes raios de influência confirmando
assim uma maior articulação dos centros urbanos no território estadual (ALVIM,
2009, p.90).
Figura 14: Novas áreas de centralidades das cidades mineiras 15 , em 1993. (Fonte: ALVIM, 2009).
15 Em tempo: atualmente, a grafia correta da cidade presente na tabela é Piumhi e não Piuí.
74
No estudo mais recente sobre hierarquia e rede urbana, proposto pela REGIC em 2018
e lançado em 2020, a configuração mineira é a seguinte, levando como base a região de
influência da capital mineira:
A rede de Belo Horizonte apresenta importantes Capitais Regionais, cada qual com sua
rede própria. No norte mineiro, Montes Claros exerce uma atratividade significativa para toda
a região, sendo a grande referência em termos de oferta de bens e serviços. Na região do
Triângulo Mineiro, a oeste, Uberlândia apresenta também uma rede com importante
complexidade interna, adentrando o estado de Goiás e sendo um conhecido polo logístico de
caráter nacional.
Outra cidade que se destaca na rede urbana mineira é Juiz de Fora, Capital Regional da
Zona da Mata Mineira, que atrai o arranjo populacional de Além Paraíba, Ubá e Muriaé,
municípios mineiros, e também Sapucaia, no Rio de Janeiro. Todas elas são Centros Sub-
Regionais com sua própria área de influência sobre Centros de Zona e Centros Locais em suas
redes.
Logo, urge a necessidade de pensarmos os impactos nas esferas públicas por conta da
complexidade das redes urbanas mineiras, de modo a observar e considerar as amplitudes de
novos centros urbanos, requerendo investimentos, tanto produtivos quanto em infraestrutura,
alicerçando a influência em sua hinterlândia e contemplando novas gamas de redes e fluxos.
Figura 15: Festividades. (Fonte: Hélcio Laranjo, 2019).
Em 2017, o IBGE realizou uma nova proposta16 de divisão regional do estado de Minas
Gerais. O que antes era denominado por Microrregiões e Mesorregiões foi reclassificado para
Regiões Geográficas Imediatas e Intermediárias, respectivamente.
As Regiões Geográficas Imediatas, que têm como referência a rede urbana, são
estruturadas a partir de centros urbanos próximos para suprir necessidades imediatas das
populações (compras de bens de consumo, emprego, serviços de saúde, educação e prestação
de serviços públicos etc.). São limitadas a uma estrutura composta por, no mínimo, 5 municípios
e, no máximo, 25 municípios, além de ter uma população mínima aproximada de 50 mil
habitantes (IBGE, 2017).
O presente capítulo trata das dinâmicas da Região Imediata de São João del-Rei, bem
como seu contexto histórico de formação. Além disso, destacaremos o espaço urbano
geográfico dos municípios em questão, reforçando e trazendo para discussão o motivo de ser
uma das variáveis mais abordadas em cidades pequenas, tais quais suas funções perante a rede
urbana local.
16
Ao longo do século XX, foram elaboradas as seguintes divisões regionais principais: Zonas Fisiográficas (1942),
Microrregiões e Mesorregiões Homogêneas (1968 e 1976) e Mesorregiões e Microrregiões Geográficas (1989).
Dessa forma, a divisão regional do Brasil não passava por atualizações significativas em quase três décadas, sendo
assim, já era necessário rever suas classificações, para uma melhor compreensão das dinâ micas da rede urbana
brasileira.
79
Figura 17: Região Imediata de São João del-Rei-MG. (Elaborado pelo autor, 2021).
80
Sua população total é de 190.338 habitantes, assim dividida por municípios na Tabela
7, de acordo com os resultados preliminares do Censo Demográfico de 2022.
MUNICÍPIO POPULAÇÃO
Conceição da Barra de Minas 3.588
Coronel Xavier Chaves 3.474
Lagoa Dourada 12.611
Madre de Deus de Minas 5.191
Nazareno 8.192
Piedade do Rio Grande 4.560
Prados 8.964
Resende Costa 11.004
Ritápolis 4.984
Santa Cruz de Minas 8.074
São João del-Rei 93.778
São Tiago 11.741
São Vicente de Minas 6.669
Tiradentes 7.508
(Fonte: IBGE, 2022. Elaborado pelo autor, 2023).
No âmbito econômico, ao olhar o PIB (201817 ) das outras Regiões Imediatas de Minas
Gerais, que totalizam 70, a região estudada se encontra na 35ª posição, exatamente na metade
da lista, conforme a Tabela 8. Essas arrecadações que contribuem para o PIB contêm
participação de alguns distritos, além das cidades que são sedes da zona urbana.
Passos 6.354.140,92
Teófilo Otoni 6.191.106,52
Alfenas 6.023.320,78
Ubá 5.931.398,32
Manhuaçu 5.813.282,62
Unaí 5.358.220,54
Curvelo 5.201.831,40
Lavras 5.012.147,44
Ituiutaba 4.807.944,16
Formiga 4.774.472,41
Patrocínio 4.608.624,80
Itajubá 4.537.381,48
Barbacena 4.532.678,48
São Lourenço 4.166.024,54
Guaxupé 4.112.064,78
Frutal 4.097.292,60
São João del-Rei 4.001.107,24
Pará de Minas 3.860.652,97
Pirapora 3.702.164,23
Dores do Indaiá 3.445.975,99
Cataguases 3.284.057,73
Caratinga 3.280.125,18
Ponte Nova 3.256.965,04
Três Corações 3.238.417,86
Muriaé 3.153.877,43
Iturama 3.101.620,25
Janaúba 2.890.806,27
Viçosa 2.742.621,21
Três Pontas-Boa Esperança 2.646.555,56
São Sebastião do Paraíso 2.596.724,72
Guanhães 2.407.225,75
Capelinha 2.349.100,98
Oliveira 2.337.291,59
Monte Carmelo 2.292.971,16
Salinas 2.010.635,25
Diamantina 1.697.644,21
Almenara 1.667.605,17
Campo Belo 1.595.496,12
Carangola 1.574.301,49
Além Paraíba 1.519.860,70
Piumhi 1.415.012,52
Januária 1.349.571,14
Caxambu-Baependi 1.124.341,75
São Francisco 1.104.419,09
Pedra Azul 1.091.208,72
São João Nepomuceno-Bicas 1.079.467,07
Araçuaí 997.690,08
Abaeté 925.309,74
Aimorés-Resplendor 895.139,10
Espinosa 887.081,58
Mantena 771.246,39
Águas Formosas 520.033,08
(Fonte: Fundação João Pinheiro, 2022. Elaborado pelo autor, 2023).
82
Oliveira (2017) relata que, depois da criação da UFSJ, a cidade começa a se inserir
fortemente como um centro emergente regional. Desta forma, foi possível perceber a criação
de novos serviços no local, bem como o aumento de fluxos de pessoas ligadas à universidade
(professores, técnicos administrativos e estudantes), redefinindo o espaço urbano são-joanense.
A UFSJ teve sua origem na antiga Fundação de Ensino Superior de São João del-Rei
(FUNREI), que foi criada em 1987 como uma instituição de ensino superior. Ao longo dos
anos, a FUNREI desempenhou um papel fundamental no processo de centralidade de São João
del-Rei. Em 2002, a FUNREI foi federalizada e passou a se chamar UFSJ, tornando-se uma
instituição de ensino superior de caráter público e federal.
Além disso, a região estudada é cortada pela rodovia BR-265, sendo próximas às outras
duas importantes que ligam São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, que são as BR-381 e
BR-040. Além das rodovias, a região possui proximidade com aeroportos, mostrando a fácil
disposição de locomoção para seus habitantes e mercadorias.
Julga-se necessário salientar que como temos uma amostra ampla (treze cidades) para
nossas análises, optamos por nos basear, no contexto histórico, por uma visão panorâmica. O
objetivo não é aprofundar o debate sobre a fundação das cidades, com datas históricas
83
específicas e detalhadas, mas sim de mostrar o motivo, geral, da existência de tais centros
urbanos, a fim de nossa interpretação ser baseada na divisão territorial do trabalho
posteriormente. Salientamos que São João del-Rei foi retirado das análises posteriores por não
se enquadrar como uma cidade pequena ou centro local.
moradores vem da terra. Plantações de milho, feijão e principalmente do leite retirados nos
inúmeros sítios e fazendas da cidade.
A ocupação e fixação dos primeiros moradores teve como principal causa as atividades
da pecuária e da agricultura, crescendo e se desenvolvendo paulatina e progressivamente o
povoado, elevado a município em 1962.
Coronel Xavier Chaves, ilustrado no mapa da Figura 19, se constituiu nos primeiros
anos do século XVIII, quando paulistas e portugueses, atraídos pelas possibilidades de
descoberta de ouro, fixaram-se às margens do Rio Grande, corpo hídrico importante da região.
A região permaneceu estagnada em suas atividades econômicas até o fim do século XIX.
Nesse mesmo período, chegou à região, procedente da fazenda do Jacaré, município de Lagoa
Dourada, o Coronel Francisco Rodrigues Xavier Chaves, denominado como Comendador. Deu
início à formação da povoação para a região trazendo muitas famílias, fixando-as ao meio
através de trabalho nas lavouras, engenhos e na fabricação de manteiga.
85
Lagoa Dourada, ilustrada na Figura 20, foi denominada como Alagoas, pelos
bandeirantes que lá passaram. Mais tarde, Alagoas passou a ter o nome de Lagoa Dourada, por
haver nesta localidade uma lagoa que tinha grande quantidade de ouro e o ouro refletia na
superfície da água.
Forte pelo seu potencial agropecuário atualmente, Madre de Deus de Minas (Figura 21),
se constituiu motivado pelas constantes buscas de minério existentes na localidade, mais
especificamente de Cianita, cujo município foi batizado por esse nome antes do atual.
3.1.5 Nazareno
Conhecida na região como a “Cidade da Fé”, Nazareno, Figura 22, segue à risca o
contexto histórico de onde se encontra. Originada pelas escavações do ouro datadas do início
do Século XVIII, o município, até hoje, apresenta valas e escavações resultantes desse processo
econômico. Este acontecimento põe à prova que o fator básico e preponderante do início da
povoação foi a riqueza do subsolo do atual município.
87
3.1.7 Prados
O atual município de Prados, Figura 24, data de 1704, quando, segundo a tradição, ali
se fixaram dois sertanistas irmãos, membros da família Prado, de Taubaté, iniciando a
exploração do ouro, então abundante naquele local.
89
A povoação que logo surgiu teve como primeiro templo uma humilde capelinha coberta
de sapé, consagrada a Nossa Senhora da Conceição. Se tornou município em 1892, após se
desmembrar de Tiradentes.
O antigo arraial da Lage, hoje Resende Costa, Figura 25, teve seu aparecimento ligado
a três acontecimentos: A) O cruzamento de duas estradas - uma que ligava Goiás ao Rio e outra
que vinha do Sul da Província em direção ao Norte para a mineração. B) Três grandes fazendas,
localizadas na região, a dos Campos Gerais, a do Pinto e a da Lage. Foram também elementos
de grande importância para o desenvolvimento do primitivo aglomerado. C) A fé e a índole
religiosa dos primeiros habitantes exerceram também destacável influência na formação da
antiga povoação (IBGE, 2017).
90
Em 1912 virou município e seu nome é uma homenagem àquele que lá nasceu, José de
Resende Costa Filho, que teve participação honrosa na Conjuração Mineira. Resende Costa
possui o distrito de Jacarandira. O artesanato é a principal atividade econômica do município,
fortalecendo a economia e fomentando o turismo.
3.1.9 Ritápolis
O arraial, anteriormente denominado São Sebastião do Rio Abaixo e depois Santa Rita
do Rio Abaixo, tem hoje o topônimo 'Ritápolis', em homenagem à Santa Rita de Cássia,
conforme localização da Figura 26.
91
A povoação no local se originou pelo fato que a região era cortada por estradas, que
ligavam Goiás ao Rio. Por lá passavam tropeiros, procedentes de outras regiões. Esses primeiros
habitantes construíram no local pousadas e capelas, onde descansavam de longas e penosas
jornadas. Aos poucos, foram construindo ranchos de sapé, dando início ao aparecimento do
antigo arraial de São Sebastião do Rio Abaixo.
Além disso, a ocupação, a fixação e o desbravamento têm seus motivos nos trabalhos
relacionados com a agricultura e, mais tarde, com a extração mineral. Ritápolis apresenta em
seu solo minério de manganês, minério de cassiterita, de ouro e columbita. Foi elevado à
categoria de município em 1963.
Conta-se que, em 1708, foi descoberto ouro na região, no local então denominado
Vargem Alegre, na Fazenda das Gamelas, de propriedade do Padre José Manoel. Na ocasião,
já lá habitavam proprietários de terras e, segundo a tradição oral, foi lá erigida, em 1760, uma
capela frequentada, por ocasião de festas religiosas, pelos fazendeiros e proprietários de terras.
São Tiago, nome atual do município, ilustrado na Figura 28, teve como base de seu
povoamento as atividades agropecuárias, também, já que havia várias propriedades agrícolas
na região.
93
O topônimo tem a sua origem perdida no passado e admite-se que seja o mesmo em
homenagem a São Tiago, santo da devoção dos primitivos moradores da povoação, após virar
município em 1948.
Assim sendo, o arraial ganhou o nome de São Vicente Férrer. Em maio de 1856, São
Vicente Férrer foi elevado à freguesia e consequentemente também a distrito, pela Lei
provincial número 762. O Decreto Lei Estadual número 148, de 17 de dezembro de 1938,
alterou o topônimo para Francisco Sales, elevando-o à categoria de município. A Lei 1.039, de
dezembro de 1953, alterou novamente o nome do município para São Vicente de Minas.
3.1.13 Tiradentes
Os primeiros povoadores das terras do atual município de Tiradentes, Figura 30, foram
paulistas, atraídos pelos cascalhos e manchas de ouro nos montes e na Bacia do Rio das Mortes,
como São João del-Rei, no século XVIII.
95
O primeiro nome do município foi São José del-Rei, mais tarde substituído por São José
do Rio das Mortes, até chegar ao nome atual. Com a exploração do ouro em grande escala, sua
população cresceu provocando um aumento rápido de moradias, construção de igrejas, bom
número de comerciantes, surgindo então a cidade, em 1860, se desmembrando de São João del-
Rei.
Portanto, debater sobre o desenvolvimento das cidades pequenas, ressaltando desde sua
formação até os dias atuais, requer um trabalho atencioso para entendermos de forma séria
como as relações foram construídas. As características analisadas, como a produção do espaço
urbano, o crescimento dos setores cultural, econômico, social, entre outros, evidenciam de
forma detalhada as dinâmicas da região pesquisada, já que é abordado o cotidiano da sociedade
com os atores remodeladores do espaço.
desenvolvido segundo as necessidades da população ali inserida, sendo produto social das
interações nas esferas políticas, culturais e econômicas.
De acordo com Corrêa (1989), existe um conjunto de agentes sociais que fazem e
refazem a cidade. São eles: a) Os proprietários do meio de produção, sobretudo os grandes
industriais; b) Os proprietários fundiários; c) Os promotores imobiliários; d) O Estado e e) Os
grupos sociais excluídos (CORRÊA, 1989). Sendo assim, podemos dizer que o espaço urbano
é economicamente produzido, mas socialmente vivenciado, ou seja, apropriado e transformado
com base em ações racionais e também afetivas.
Estudar as cidades pequenas pode subsidiar inúmeras pesquisas, já que elas são maioria
no país, necessitando de suporte de políticas públicas para seu desenvolvimento (BOVO;
SANTANA; OLIVEIRA, 2016). Essas cidades estão se modificando diariamente em virtude
da dinâmica de sua população e economia, e acompanhando as demandas de seus citadinos.
A influência desse processo nas cidades menores auxilia para a reprodução do espaço
urbano desses locais, com vestígios presentes no meio da sociedade. É muito comum você
encontrar criações de animais, plantações, feiras, paisagens e símbolos remetendo ao rural. Isso
97
acontece porque os hábitos foram trazidos para a cidade pelos moradores que saíram do campo,
independente do motivo. Desta forma, houve a criação da identidade cultural relacionado ao
modo de vida rural, mesmo morando nos centros urbanos.
Por outro lado, é na praça central da cidade pequena onde tudo acontece. Ali estão
localizadas as moradias da elite local18 , os principais comércios, igreja principal e outros
serviços primordiais à população. Ainda na praça, é bem comum a concentração de pessoas em
eventos, encontros de socialização e de festas religiosas, reunindo diversas classes sociais da
cidade. Portanto, essa apropriação do espaço é reforçada pelas relações de seus habitantes
(SILVA, 2000).
Todavia, os bairros das cidades pequenas possuem uma identificação própria aos
habitantes. Essa caracterização, muitas vezes, não é perceptível aos turistas, mas somente pelas
pessoas que conhecem o lugar. É habitual denominar bairros de acordo com símbolos
intrínsecos da área. Por exemplo: lugares com fortes tradições rurais são denominados como
“bairro do povo da roça”, cujos moradores são conhecidos como “caipiras”. Ainda há aqueles
bairros mais violentos, conhecidos como “bairro do povo de briga” e também o “bairro do povo
sério”, “bairro de gente pão-dura” e “bairro dos pobres”, evidenciado por Silva (2000).
Neste sentido, considera-se que a produção desse espaço urbano é o resultado das
próprias ações da sociedade capitalista, que Lefebvre (2008) salienta que tal fenômeno é um
produto histórico, sendo fundamental entender enquanto particularidades sociais e políticas.
18 Fato que está mudando aos poucos, com a mudança dessas famílias de elite para os condomínios fechados mais
distantes do centro municipal.
98
No Brasil, segundo o IBGE (2017), o critério utilizado para definir áreas como rurais
ou urbanas passa, exclusivamente, pela divisão administrativa, através do Decreto de Lei nº
311, de 1938, como reforçado no início desta dissertação. Em outros países, há outras variáveis,
como tamanho da população, densidade demográfica, oferta de serviços, participação da
agricultura e/ou aglomeração de habitações.
É fundamental salientar que toda cidade pequena dispõe de sua sede administrativa, já
que é um ente federado. Desta maneira, não existe cidade pequena exclusivamente rural, mas
podendo ser predominantemente, já que ela possui oferta de produtos e serviços, mesmo que
seja pequena e precária.
É possível destacar, também, nessa discussão, que os limites entre uma zona rural e uma
urbana seguem uma tendência de definição, que são através de objetivos fiscais, enquadrando
apenas os domicílios e não considerando o seu entorno, no que tange dados territoriais e sociais.
Não obstante, esse fato atende diretamente às prefeituras, porém dificultam uma série de
políticas públicas que visam atender outras variáveis no regime rural-urbano.
A ideia do continuum, de acordo com Marques (2002), se baseia a partir do Século XX,
no período dos processos de urbanização e industrialização. Tal noção vai ao encontro que no
avanço dos dois fenômenos citados anteriormente acontece uma maior interação entre o campo
e a cidade. Assim, nota-se maior predomínio do segundo perante o primeiro, de modo que a
área rural ganha características do urbano.
A análise dos fluxos de bens, pessoas, dinheiro, informações etc. entre os espaços rurais
e os espaços urbanos é outra dimensão promissora e em voga. As relações urbano-rurais,
segundo Rosa e Ferreira (2010), permitem observar as continuidades e as descontinuidades
entre o rural e o urbano e repensar o conceito do continuum, buscando compreender o rural e o
urbano como partes de uma mesma estrutura. São capazes também de ressaltar vantagens
comparativas e diferenças desses espaços, mas que só podem ser avaliadas quando consideradas
a articulação e a contiguidade dessas duas categorias em permanente transformação.
biscoitos em São Tiago; e cavalos e porcos até mesmo em São João del-Rei, que não é
considerado um centro local, mas apresenta tais características rurais.
Figura 31: Aspectos rurais flagrados nas cidades pesquisadas. (Fontes: Arquivo pessoal, 2021; Portal Pop News,
2021).
O estudo do cotidiano de uma cidade pequena e também das pessoas que ali vivem e se
relacionam revelam algo mais sobre suas dinâmicas. O senso comum evidencia que essas
cidades se caracterizam por serem pacatas, agradáveis e tranquilas, um lugar sem violência.
Durante o trabalho de campo realizado, foi possível observar fatos que justificam tal ideia 19 :
19Apesar do senso comum dizer que as cidades pequenas são pacatas, sabe-se que isso nem sempre é verdadeiro.
Não devemos generalizar e nem romantizar.
101
portas e janelas das casas abertas, crianças brincando na rua, pessoas sentadas no banco da praça
dialogando.
De acordo com Melo (2008), é importante reconhecer que nelas também existe uma
rotina ativa, com relações de trabalho, afazeres nas ruas e outras atividades diárias. Embora o
ritmo possa ser descrito como "lento" e sereno, isso não significa que não haja obrigações ou
responsabilidades. Pelo contrário, as pessoas se envolvem em suas tarefas diárias, como ir ao
trabalho, à escola ou à igreja, ainda que tudo esteja relativamente próximo e não haja a mesma
agitação encontrada em cidades maiores.
20 “Classificação e Caracterização dos Espaços Rurais e Urbanos do Brasil | Uma primeira aproximação – 2017”.
102
A Tabela 9 revela que quanto menor a população, maior é a conexão com o rural21 . Ao
analisar os municípios com população maior que 50 mil habitantes, são denominados
predominantemente urbanos, pois não existem cidades com zero relação com o rural. Por mais
que o processo de urbanização seja intenso em comparação à vida rural, haverá sempre a
dependência agrícola, por meios de ofertas de alimentos e animais. Portanto, campo e cidade
se relacionam, mas com formas diferenciadas.
Há, também, alguns municípios que não se encaixam nesses dois extremos. Assim, são
denominados como intermediários e apresentam as seguintes variáveis:
Além disso, os municípios que estão a uma distância relativa acima da média nacional,
simultaneamente, em relação a maiores hierarquias próximas (metrópole, capital regional,
centro sub-regional) são classificados como remotos. Já os municípios cuja distância for igual
ou inferior à média nacional em relação a pelo menos um dos centros anteriormente citados são
classificados como adjacentes.
MUNICÍPIO CARACTERIZAÇÃO
Conceição da Barra de Minas Município Rural Adjacente
Lagoa Dourada Município Urbano
Madre de Deus de Minas Município Rural Adjacente
Nazareno Município Rural Adjacente
Piedade do Rio Grande Município Intermediário Adjacente
Prados Município Rural Adjacente
Resende Costa Município Rural Adjacente
Ritápolis Município Intermediário Adjacente
Santa Cruz de Minas Município Rural Adjacente
São Tiago Município Urbano
21 Há uma exceção em nossa área de estudo. Mesmo o município de Santa Cruz de Minas não apresentar zona
rural, há a presença de ruralidades, aspecto herdado de São João del-Rei.
103
Isto posto, uma cidade pequena apresenta em sua morfologia a configuração urbana
contrastada, ou seja, aspectos que negam o urbano presente no próprio meio urbano. Em nossa
área de estudo foi possível observar várias situações e atividades que por ora nos remetem ao
rural, porém, visíveis no meio urbano, indicando que uma cidade reverbera e presencia uma
exuberância de contradições e vivências.
O fato acima é ainda mais nítido nos espaços periurbanos dessas cidades, tendo em vista
a dificuldade na delimitação campo-cidade, já que apresentam com maior facilidade a presença
de animais, plantações agrícolas e lotes ainda sem construções, nos remetendo ao aspecto rural.
Assim, considera-se que nas cidades pequenas o espaço urbano deve ser entendido a
partir do campo e vice-versa, ao ponto que modificações em geral na dinâmica agropecuária
acarretam transformações no conteúdo e configuração da cidade.
Como mencionado no tópico anterior, o espaço urbano das cidades pequenas está
fortemente ligado ao âmbito rural, estando vinculados em várias escalas espaciais. Todavia, por
motivos do processo de urbanização brasileiro, há mudanças no campo, seja pela “entrada” do
urbano no meio rural ou pelo aumento desordenado de aglomerados nos centros urbanos.
Na região estudada foi constatado que a dinâmica não segue uma tendência única.
Cidades como Lagoa Dourada, Nazareno, Resende Costa, São Tiago, São Vicente de Minas e
Tiradentes possuíram, no recorte temporal dos últimos três censos demográficos, acréscimo e
decréscimo de sua população rural. As demais cidades apresentam apenas diminuição. As
Figuras 32, 33 e 34 mostram os números.
22 Embora cidades pequenas possam enfrentar desafios em termos de renda, emprego e infraestrutura, existem
vários fatores que podem influenciar essa relação de forma positiva ou negativa. A análise do contexto local, das
indústrias predominantes, dos investimentos e das políticas adotadas é fundamental para compreender a dinâmica
específica entre cidade pequena e renda em cada caso.
106
12.000
10.000
Quantidade
8.000
6.000
4.000
2.000
0
URBANA
RURAL
TOTAL
*Distrito ainda
Figura 32: População urbana, rural e total em 1991. (Elaborado pelo autor, 2021).
8.000
6.000
4.000
2.000
0
URBANA
RURAL
TOTAL
Figura 33: População urbana, rural e total em 2000. (Elaborado pelo autor, 2021).
107
8.000
6.000
4.000
2.000
0
URBANA
RURAL
TOTAL
Figura 34: População urbana, rural e total em 2010. (Elaborado pelo autor, 2021).
Um dos fatores que intensificam esse processo é o êxodo rural, em que há um intenso
fluxo migratório de pessoas em busca de melhores condições de vida e/ou expulsos,
especialmente aquelas que saem do campo com destino à cidade devido a vários processos,
dentre eles, a mecanização do campo, que expulsa a população do campo para a cidade. A
cidade influencia a criação de uma nova expectativa nesses indivíduos que são atraídos pelo
processo de industrialização, sendo disseminada a ideia de que com a chegada das indústrias
haverá a consolidação de novos postos de trabalho.
Isso ocorre porque os costumes do campo foram trazidos pelas pessoas que migraram
para as cidades, muitas delas forçadas e que até hoje não se identificam com o modo de vida
urbano, pois criaram uma identidade cultural do modo de vida rural que agora se entrelaça com
as características do modo de vida urbano. A influência das ruralidades nas cidades pequenas
contribui para a reprodução socioespacial destes locais, trazendo heranças desse processo.
Ao mesmo tempo que a produção do espaço urbano está atrelada ao seu uso, como
hábitos e práticas de vida trazidas do rural, as moradias fazem parte dessa categoria de análise
também, já que novos lares são criados para suportar a demanda da sociedade urbana.
Assim, essas populações fazem parte de uma rede funcional que apresenta conexões do
urbano e rural simultaneamente. Porém, em muitos casos, acabam se encontrando em condições
precárias, tanto de emprego quanto de moradia. O fato corrobora com Júnior (2011, p.10), ao
destacar que “a mudança do campo para a cidade não acarreta, portanto, em melhorias nas
condições de vida, pois os recursos que a cidade possui, nem sempre são desfrutados por eles;
moram na cidade, mas não participam da vida da mesma”.
Outro fator típico de cidade pequena em relação às maiores por perto é a presença de
universitários indo estudar. Assim, o alvo é São João del-Rei por causa da UFSJ, fortalecendo
os fluxos de carros e ônibus entre as cidades. Essa migração pendular, com deslocamento
temporário ou diário de pessoas por motivos de estudo, trabalho, saúde ou lazer, contribui para
fortalecer a organização da rede urbana regional estruturada a partir de São João del-Rei.
A conduta que o Estado exerce em tais cidades é fundamental para garantir diversos
fatores para seus habitantes, como o bem-estar social, desassistido pelo capitalismo.
Consequentemente, o Estado é um meio importante para a aplicação de políticas públicas que
objetivam assegurar nossos direitos como moradores dos centros urbanos.
109
Maricato (2000) nos alerta sobre dois fenômenos que não devem ser esquecidos nesta
análise: o aumento exponencial da urbanização, bem como seu planejamento. A atual fase do
mundo urbano, que nos remete ao crescimento acelerado das cidades, acontece sem uma
supervisão de políticas rigorosas no que tange ao desenvolvimento urbanístico, além de sua
gestão.
Além disso, foi constatado, via Tabela 12, que as cidades estudadas também recebem
subsídios atrelados a outros fatores23 , além do FPM, como: COVID-19, potencial hidráulico do
23 Apoio/Auxílio Financeiro aos Estados, Municípios e Distrito Federal; PFEC INCISO I e II: Objetivo é
compensar entes federados pela diminuição de repasses federais durante a crise econômica causada pela pa ndemia
de Covid-19.
Royalties - ITA: Royalties são a compensação financeira que os governos brasileiro e paraguaio recebem pela
utilização do potencial hidráulico do Rio Paraná para a produção de energia elétrica na Itaipu.
Royalties - CFH: Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Hídricos para Geração de Energia
Elétrica.
Royalties - CFM: Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais.
FUNDEB: Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação.
Royalties - ANP / PEA / FEP: Royalties pela Produção de Petróleo e Gás Natural - Cota-Parte Especial dos
Royalties pela Produção de Petróleo e Gás Natural - Fundo Especial do Petróleo.
Imposto Territorial Rural - ITR: O imposto sobre a propriedade territorial rural.
CIDE - Combustíveis: Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico relativa às atividades de importação
ou comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados e álcool.
LC 176/2020 (ADO25): Institui transferências obrigatórias da União para os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, por prazo ou fato determinado.
110
Rio Paraná, exploração de recursos hídricos para geração de energia elétrica, exploração de
recursos minerais, educação, exploração de petróleo e gás natural e imposto sobre propriedade
rural.
111
TABELA 12 – RECURSOS ADVINDOS DO GOVERNO FEDERAL (2020)
FUNDEB -
Apoio/Auxílio Distribuição das
FPM - Fundo
Financeiro aos Retenções da Imposto
de Royalties CIDE - LC
Estados, PFEC Royalties Royalties - Royalties - União (Fundo de PFEC Territorial
Municípios Participação - ANP / Combustíve 176/2020 TOTAL
Municípios e INCISO II - ITA CFH CFM Manutenção e INCISO I Rural -
dos PEA / FEP is (ADO25)
Distrito Desenvolviment ITR
Municípios
Federal o da Educação
Básica)
Conceição
da Barra de 7.494.712,33 718.471,95 378.020,37 0,00 0,00 303.707,31 260.820,39 135.470,34 57.131,52 8.977,86 7.489,84 0,00 9.364.801,91
Minas
Coronel
Xavier 7.494.712,33 716.024,49 328.638,10 0,00 0,00 1.012.474,46 307.049,91 135.470,34 49.668,13 7.239,48 7.256,49 0,00 10.058.533,73
Chaves
Lagoa
9.992.949,58 1.002.830,88 1.245.631,86 0,00 0,00 2.376.108,84 2.001.658,45 180.627,10 188.256,21 11.112,36 13.417,82 72.112,92 17.084.706,02
Dourada
Madre de
Deus de 7.494.712,33 670.471,95 487.899,46 141.051,76 366.111,63 2.725.133,41 359.828,29 135.470,34 73.737,82 21.161,02 7.995,95 0 12.483.573,96
Minas
Nazareno 7.494.712,33 745.564,56 824.616,64 56.219,67 471.581,59 1.659.547,37 761.018,35 135.470,34 124.626,80 16.281,35 9.551,12 0 12.299.190,12
Piedade do
7.494.712,33 722.093,51 429.412,20 * * * 322.394,23 135.470,34 64.898,64 14.665,17 7.734,45 32.182,40 9.223.563,27
Rio Grande
Prados 7.494.712,33 747.979,57 865.006,32 * * 749.969,36 749.235,82 135.470,34 130.731.03 8.461,36 9.739,37 0 10.760.574,47
Resende
9.992.949,58 994.215,51 1.100.958,61 * * 1.390.631,09 1.071.808,89 180.627,10 166.391,32 24.663,88 12.748,89 51.616,05 14.986.610,92
Costa
Ritápolis 7.494.712,33 722.704,41 439.385,15 * * 368.731,90 319.925,49 135.470,34 66.405,92 22.491.43 7.783,79 0 9.555.119,33
Santa Cruz
7.494.712,33 745.541,72 824.424,54 * * 6.345,99 536.543,25 135.470,34 124.597,73 12 9.547,93 0 9.877.195,83
de Minas
São Tiago 9.992.949,58 991.023,99 1.046.988,77 * * 72.123,96 686.570,27 180.627,10 158.234,79 14.108,75 12.503,33 52.783,33 13.207.913,87
São Vicente
7.494.712,33 740.683,08 743.071,65 15.470,19 40.154,16 823.105,02 633.434,84 135.470,34 112.302,60 30.041,26 9.169,15 0 10.777.614,62
de Minas
Tiradentes 7.494.712,33 741.984,13 765.570,90 * * 2.621,07 633.672,89 135.470,34 115.702,85 8.631,57 9.266,71 45.349,11 9.952.981,90
(Fonte: Tesouro Nacional, 2021. Org.: o autor)
112
Para Henrique (2010), as presentes discussões entre esses dois processos são
norteadoras para entendermos melhor a problemática dos diferentes tipos de cidades no mundo
contemporâneo. Destaca também que essa relação será sempre entendida por discussões e
resultados, supressões e inserções, mas nunca na exclusão do rural pelo urbano, apenas trazendo
singularidades e particularidades às cidades pequenas.
Tal processo de analisar a função de um centro local ainda é pouco observada, bem
como a temática em si, porém, fundamentais para tornar inteligíveis os fatores das grandes
alterações na urbanização do Brasil nos séculos XX e XXI.
Portanto, a divisão territorial do trabalho que observamos nas cidades pequenas tem seu
grau pautado exatamente nas possibilidades e potencialidades que se fazem presentes em sua
rede urbana. Assim, no atual período que vivenciamos, o Técnico-Científico-Informacional
(SANTOS e SILVEIRA, 2001), tais cidades começam a fazer parte de um processo conduzido
por novas formas de tecnologia, economia, política e social, dando suporte para novas redes de
capital, pessoas e mercadorias, alçando as cidades pequenas para patamares do local para o
nacional.
Com isso, é possível vislumbrar novos cenários para elas, já que começam a ter nova
visibilidade em variados aspectos. Assim, estão sujeitas a estarem recebendo investimentos,
públicos/privados, nacional/internacional, para se aproveitar da mão de obra barata que ali se
encontram, além de isenção de impostos e outros suportes que acabam atraindo novos olhares
empreendedores para as cidades pequenas, que antes não existiam, reconfigurando as dinâmicas
de seu espaço urbano e de seus habitantes.
Vale destacar que no trabalho etnográfico24 realizado por todas as cidades, foi possível
perceber as dinâmicas dos habitantes de cada uma com todas as outras cidades da rede urbana
analisada. Seja por motivos de saúde, trabalho, fé, educação, compras ou lazer, é comum se
deslocarem de sua cidade natal e ir para outra vizinha, por carro, moto ou ônibus, devido à
facilidade de locomoção e proximidade de todas elas.
24A etnografia é o método utilizado pela antropologia na coleta de dados. Baseia -se no contato intersubjetivo entre
o pesquisador e o seu objeto. A base de uma pesquisa etnográfica é o trabalho de campo.
114
Entretanto, quando a necessidade se torna complexa e São João del-Rei, principal cidade
da região, não consegue sanar, o destino acaba sendo alguma cidade fora da rede urbana,
principalmente Barbacena, Juiz de Fora e Belo Horizonte, caracterizadas pela REGIC como
Centro Sub-Regional, Capital Regional e Metrópole, respectivamente.
3.3.1 Religiosas
A segunda forma veio caracterizada pelas classes mais pobres, principalmente dos
provenientes da zona rural, mais tradicional e forte que a primeira. É marcada pela fé dos
antigos “colonos pobres, índios destribalizados, os escravos e todos os tipos de mestiços. Com
o tempo, essa forma de catolicismo se torna a mais comum no Brasil” (TAVARES, 2015, p.
546).
Sendo assim, é possível afirmar, segundo Tavares (2015), que o catolicismo faz parte
da formação de pilares da nossa sociedade, ainda mais no meio rural ou do interior, já que a
religiosidade católica é caracterizada pela relação intimista e familiar entre os santos e seus
devotos, devido à simplicidade e humildade intrínseca nesse meio.
Desta maneira, é perceptível a relação pessoal entre a imagem santa e o fiel: há conversa,
adoração, enfeites e velas acesas em forma de agradecimento e proteção. Nas casas há sempre
um local apropriado para deixá-la, sempre com amor e zelo. Nas festas dos santos padroeiros
das paróquias, o santo “sai” às ruas, recebe e faz visitas. Na Figura 35, quadro e imagem de São
Sebastião exposto na janela de uma casa em Santa Cruz de Minas, em virtude das
comemorações de seu dia.
116
Figura 35: São Sebastião em Santa Cruz de Minas. (Fonte: Paróquia de São Sebastião , 2022).
A Figura 36 mostra imagens de alguns padroeiros das cidades analisadas, dentre eles
Nossa Senhora da Conceição, em Conceição da Barra de Minas; Santo Antônio em Lagoa
Dourada; Nossa Senhora Mãe de Deus em Madre de Deus de Minas; São Vicente Ferrer em
São Vicente de Minas e Nossa Senhora da Piedade em Piedade do Rio Grande.
117
Figura 36: Santos padroeiros das cidades. (Fonte: Arquivo pessoal, 2021).
Tavares (2015) aborda outro aspecto das relações de comunidade. Segundo o autor, não
se reza nem festeja sozinho, há a necessidade da conversa e “colocar o papo em dia” após as
celebrações religiosas, acompanhados de um bom café e quermesses locais, mobilizando a
fraternidade e ação coletiva.
Em Piedade do Rio Grande e Madre de Deus de Minas foi possível fazer o registro
fotográfico desses momentos. Por trás das mesas de café, biscoitos e bolos há um simbolismo
intrínseco, uma mistura da simplicidade e empatia em dividir o lanche com pessoas que sequer
118
são conhecidas, quando são oriundas de cidades vizinhas e que estão em romarias, mas
compartilham da mesma fé, que é o mais importante. A Figura 37 ilustra o fato supracitado.
Figura 37: Café e lanche após as missas. (Fonte: Arquivo pessoal e Paróquias locais, 2022).
das festas, com a instalação de barraquinhas de comida, shows com artistas da terra e alguns
jogos, como o bingo, conhecido em alguns lugares como víspora.
Na área de estudo estipulada para a presente dissertação, excluindo das análises São
João del-Rei, por não se encaixar como cidade pequena/centro local, é possível observar que
doze das trezes cidades possuem a religiosidade como uma função urbana. A exceção vai para
Tiradentes, considerada como profana26 (não há o desrespeito com o sagrado, aqui neste caso
especificamente, já que é muito usada essa ideia), cujo a predominância de suas outras funções
se sobressai ao sagrado, ou seja, o “carro-chefe27 ” da cidade não está relacionado aos eventos
religiosos.
Figura 38: Festividades religiosas em Conceição da Barra de Minas. (Fonte: Paróquia local, 2022).
Figura 39: Festividades religiosas em Coronel Xavier Chaves. (Fonte: Arquivo pessoal e paróquia local, 2022).
Figura 40: Festividades religiosas em Lagoa Dourada. (Fonte: Arquivo pessoal e paróquia local, 2022).
Ao começar um ano novo, Madre de Deus de Minas se prepara para as festas para sua
padroeira, Nossa Senhora Mãe de Deus. Comemorada em 01 de janeiro, os fiéis fazem vigília
em pleno réveillon para saudar a santa. Porém, na cidade as comemorações oficiais são no dia
08 de setembro, data do nascimento da Virgem Maria.
Figura 41: Festividades religiosas em Madre de Deus de Minas. (Fonte: Paróquia local, 2022).
Figura 42: Festividades religiosas em Nazareno. (Fonte: Arquivo pessoal e paróquia local, 2022).
Figura 43: Festividades religiosas em Piedade do Rio Grande. (Fonte: Arquivo pessoal e paróquia local, 2022).
A Figura 44 ilustra as celebrações. A cidade que possui várias igrejas antigas recebe
devotos de outras cidades, seja pela religiosidade na Semana Santa ou pelo turismo religioso
no geral.
126
Figura 44: Festividades religiosas em Prados. (Fonte: Arquivo pessoal e paróquia local, 2022).
Figura 45: Festividades religiosas em Resende Costa. (Fonte: Arquivo pessoal e paróquia local, 2022).
Os devotos, então, cumprem promessas durante a festa com peregrinação a pé, missas,
transportes de andores, ofertas de dinheiro, velas e prendas para o leilão. Com a chegada da
procissão, há um grande foguetório, tradição sustentada por várias gerações de uma mesma
família. Há a atuação de bandas, corais, com a participação efusiva da população, mostrada na
Figura 46.
128
Figura 46: Festividades religiosas em Ritápolis. (Fonte: Arquivo pessoal e paróquia local, 2022).
Na menor cidade brasileira em extensão territorial, Santa Cruz de Minas se prepara todo
mês de janeiro para comemorar seu padroeiro: São Sebastião. Com cavalgadas, missas,
procissões e shows, a cidade se concentra ao redor da Matriz, na praça principal, para as
festividades. Celebrado no dia 20 de janeiro, a atração reúne devotos e fiéis das cidades vizinhas
para intercederem ao santo contra a peste, fome e guerra, demonstrado na Figura 47.
129
Figura 47: Festividades religiosas em Santa Cruz de Minas. (Fonte: Arquivo pessoal e paróquia local, 2022).
Já em São Tiago, acontece a festa de São Tiago Maior e Sant’Ana. Seguindo a tradição
das outras cidades, há missas, procissões e shows locais. Destaque para as crianças vestidas
com roupa em alusão à São Tiago pelas ruas da cidade, com repiques de sino e muita alegria na
missa campal, mostrada na Figura 48.
130
Figura 48: Festividades religiosas em São Tiago. (Fonte: Arquivo pessoal e paróquia local, 2022).
Por fim, São Vicente de Minas tem as festividades de São Vicente Ferrer, devoção
surgida desde os primeiros tempos de formação da localidade. Celebrado no dia 02 de maio, a
festa é antecedida pela novena preparatória. No dia maior, há bênção de animais, forró,
quermesses, leilões e feiras, com a participação de munícipes das localidades vizinhas. No local,
são vendidos folhetos, quadros e santinhos. A Figura 49 ilustra as festividades.
131
Figura 49: Festividades religiosas em São Vicente de Minas. (Fonte: Arquivo pessoal e paróquia local, 2022).
Ao analisar as ações das cidades religiosas aqui elencadas28 , é necessário destacar dois
fatores: a organização interna do espaço geográfico, com os preparativos nas ruas, calçadas e
nas casas e a função dos agentes transformadores, no caso aqui os devotos, por meio da
participação das comemorações ligadas à Igreja Católica. Além disso, o deslocamento de fiéis
de cidades vizinhas retrata o ir e vir no espaço urbano, na busca pelo exercício de sua religião.
Essas hierópolis que conseguem atrair um fluxo contínuo de devotos são aquelas que
recebem pessoas durante todo o ano e não por ocasião das festas de seus padroeiros. Na região
estudada, percebemos que tal fenômeno não é presente. Por outro lado, são notórios os fluxos
periódicos, ou seja, as visitas que são geralmente uma ou duas vezes por ano nas datas religiosas
28Todas as cidades analisadas fazem parte da Diocese de São João del-Rei, exceto São Tiago, que pertence à de
Oliveira.
132
mais importantes, de forma muito acentuada. Rosendahl (2008) pontua que é ao redor das
igrejas que a vida urbana acontece neste período. Tudo se concentra ali.
3.3.2 Culturais/turísticas
Assim sendo, novos produtos turísticos são criados para atender um público mais
exigente e para movimentar a economia, desenvolvendo, desta maneira, os setores de serviços,
econômicos, hotelaria e cultural. Desta forma, as cidades começam a ser impulsionadas por
melhorias cada vez mais, com o intuito de estarem sempre prontas para as visitas da população
de outras localidades.
Cavaco (2001) salienta que o turismo em cidades pequenas é peculiar, já que apresenta,
em sua maioria, espaços humanizados, contemplativos, aspectos históricos, entrelaçados com a
cultura local. Segundo Trigueiro (2001), o turismo bem planejado e articulado nas cidades
pequenas pode trazer, já que há exceções, inúmeros benefícios, como a geração de empregos,
diretos e indiretos, melhoria na mobilidade urbana, preservação ambiental e desenvolvimento
do PIB municipal. Sendo assim, a movimentação dos turistas nestes espaços reverbera a
necessidade de sempre inovar nos produtos locais, já que é habitual a compra de
“lembrancinhas” nas viagens.
29Termo usado pelo professor Wagner Batella (UFJF) em suas aulas sobre cidades pequenas e médias, ao se referir
que todos os processos atuais podem ser explicados pelo fenômeno da globalização.
134
O artesanato é bem popular também. Com feirinhas pelas ruas durante os eventos da
cidade, a população se organiza para a confecção e venda de produtos que remetem ao local,
sendo indicados para turistas guardarem de lembrança das viagens à região.
Em Coronel Xavier Chaves, o principal evento que reúne turistas e curiosos até mesmo
fora do Brasil é pela realização do Festival Internacional de Escultura em Pedra, com ateliês
abertos, montados em praça pública.
A cidade, que é famosa pela cantaria30 , aproveita a ocasião para conseguir visibilidade
internacional. O evento consiste na elaboração de um tema central, cujos escultores vão elaborar
seus produtos a partir da ideia estabelecida pelos organizadores. Ao final, os artistas têm suas
esculturas expostas ao público, com os melhores recebendo premiação em dinheiro. Há também
programação especial para o público, com exposição de peças em argila, confeccionadas em
oficinas e shows. A Figura 51 detalha um pouco sobre as obras.
30Arte que remonta há mais de 8.000 anos no entalhe da pedra para a produção de peças a serem utilizadas nas
edificações.
135
Figura 51: Festival Internacional de Escultura em Pedra. (Fonte: Prefeitura M unicipal, divulgação internet, 2020).
31Rocambole, torta ou rolo suíço é um bolo em forma cilíndrica. Feito com massa comum de bolo, a cobertura é
passada sobre o bolo, para que este seja então enrolado sobre si mesmo. Diferente de um bolo de camadas, o
rocambole é feito de uma única peça de bolo. Os recheios podem ser diversos, desde carnes a doces.
136
Figura 53: Calendário Cultural em Lagoa Dourada. (Fonte: Prefeitura Municipal, 2022).
137
Merece destaque que em Piedade do Rio Grande ainda há dois eventos tradicionais que
remetem às origens da cidade. A Festival da Canção e o Rural Fest Piedade trazem para os ares
piedadenses a verdadeira cultura local, sempre com atividades e concursos na zona rural, com
animais, trilhas e ações. Desta forma, reforça-se, ainda mais, a relação cidade-campo que
analisamos aqui.
Na cidade de Prados, que circunda a formação rochosa da Serra de São José, os eventos
culturais são os mais diversos. No calendário disponibilizado pela Prefeitura Municipal,
percebemos que tais festividades abrangem todos os públicos, desde os infantis até a terceira
idade. Além disso, há disputas na modalidade aventureira, aproveitando os aspectos naturais da
cidade. Merecem destaque, também, eventos que acontecem na zona rural. A Figura 54 revela
os principais eventos.
Isso pode resultar em um aumento nos preços dos imóveis, expulsão de moradores de
baixa renda e uma transformação gradual do caráter original da cidade pequena, podendo levar
à perda de identidade e desequilíbrios socioeconômicos. É importante que as cidades pequenas
estejam atentas aos efeitos da gentrificação e adotem políticas e estratégias que promovam o
32 Processo de segregação socioespacial vivenciado em áreas urbanas, caracterizado pela valorização acentuada de
determinada área, que culmina na saída de moradores antigos em razão do aumento local do custo de vida.
33 A Casa Torta é um espaço de recordações lúdico, interativo que propõe um diá logo sensível e uma quebra de
tabu: Fazer adultos brincarem novamente como nos tempos de infância. Jogos, poesia, cenários para fotografar,
adereços, brinquedos antigos e um roteiro com 25 atividades lúdicas.
139
Figura 56: Artesanato em Resende Costa. (Fonte: Arquivo pessoal, divulgação internet, 2021).
Duas cidades que são parecidas culturalmente são Ritápolis e São Vicente de Minas, já
que ambas possuem festivais relacionados à música e à identidade local, como carnaval e
exposições agropecuárias.
Vale destacar que a biografia do inconfidente Tiradentes relata que ele nasceu em
territórios ritapolitanos, na famosa Fazenda do Pombal35 (Figura 57). O local, hoje, atrai turistas
pelo seu contexto histórico, pois as ruínas da antiga fazenda ainda permanecem por lá, além de
universitários e pesquisadores por sua vasta área botânica e hídrica do Rio das Mortes.
do centro urbano. A cidade que possui relevância por ser um polo moveleiro, consegue atrair
turistas de várias regiões do país para comprarem seus móveis, muitos também exportados para
outros países. A Figura 58 demonstra os produtos e também o pórtico de entrada.
Figura 58: Santa Cruz de Minas e seus produtos. (Fonte: Arquivo pessoal, divulgação internet, 2022).
Buscar a valorização identitária do município, essa é uma iniciativa que visa agregar
aspectos próprios da “mineiridade” com propósito de celebrar nossas raízes e valorizar
o sentimento de pertencimento local. Com este evento a pequena Santa Cruz de Minas
apresenta o “torresmo e angu” como seu principal produto gastronômico e une a ele a
moda de viola, relembrando e valorizando assim as “rodas de viola” das antigas
fazendas mineiras, origem bucólica de nosso território. Em Minas, unir gastronomia
e roda de viola é convite certeiro para o sucesso! Todos os dias, há barracas com
142
Em São Tiago, a principal atração cultural turística são os famosos cafés com biscoitos.
A renomada “Festa do Café com Biscoito” acontece uma vez ao ano, no segundo final de
semana de setembro, quando a acolhedora Praça da Matriz fica repleta de barracas de biscoitos,
artesanatos e produtos da agroindústria local. São servidos gratuitamente aproximadamente seis
toneladas de biscoitos (mais de 150 tipos) e três mil litros de café, ilustrada na Figura 59.
Figura 59: Festa do Café com Biscoito. (Fonte: Arquivo pessoal, 2022).
Milhares de turistas vão a São Tiago exatamente para essa finalidade: gastronômica.
Assim, além de aquecer a economia local, a cidade ganha evidência nacionalmente, já que os
produtos são vendidos além do território mineiro e têm grande adesão das pessoas.
Atualmente, fazem parte do roteiro onze cidades, incluindo cidades citadas na presente
dissertação: Casa Grande, Conselheiro Lafaiete, Coronel Xavier Chaves, Entre Rios de Minas,
Lagoa Dourada, Ouro Branco, Ouro Preto, Queluzito, Resende Costa, Ritápolis e São Tiago. O
projeto está sendo gerido pelos três Circuitos Turísticos dos quais fazem parte os municípios
integrantes: Trilha dos Inconfidentes, Vilas e Fazendas e Circuito do Ouro. A Figura 60 revela
o trajeto do roteiro cultural, além do detalhe da placa que fica inserida nos postes de todas as
cidades indicando a rota correta para os turistas.
Figura 60: Circuito Turístico “Caminhos de São Tiago”. (Fonte: Divulgação, 2022).
144
Por fim, na cidade com o maior valor turístico cultural dentre as citadas e sendo
reconhecida nacionalmente, Tiradentes respira cultura durante todo o ano. Recheada com
festivais, eventos, festas, exposições, concertos e palestras, a cidade é procurada por turistas
brasileiros e estrangeiros para momentos de lazer, descanso, conhecimento e tranquilidade.
Além disso, conta com a luxuosa Maria-Fumaça36 , ligando até São João del-Rei e passando por
inúmeras paisagens naturais, mostrada na Figura 61.
Tiradentes conta com vasto casario de época colonial, ruas de pedras e o simbolismo
intrínseco construído há vários séculos. Os principais eventos estão organizados na Figura 62,
distribuídos ao longo do ano e contando com setores gastronômicos, de cinema, literário, em
memória à Tiradentes e aventureiros, já que conta com a exuberante paisagem da Serra de São
José ao fundo da cidade.
36 A locomotiva (trem) a vapor propulsionada por um motor que se compõe de três partes principais: a caldeira,
produzindo o vapor usando a energia do combustível, a máquina térmica, transformando a energia do vapor em
trabalho mecânico.
145
Figura 62: Eventos em Tiradentes. (Fonte: Divulgação, 2021. Org.: Hugo Rodrigues, 2022).
É digno de destaque que em Tiradentes é notório que o turismo se preocupa mais com
os turistas, deixando de lado os próprios munícipes. Hoje se pode caracterizar Tiradentes, como
uma cidade partida, em que os turistas têm acesso a muitas coisas (e efetivamente a cidade
oferece muito), mas a maioria dos habitantes pouco pode desfrutar. Nesse processo, o cidadão
dissocia-se da cidade, não a reconhece e não se identifica completamente com ela.
Christo (2006) salienta que a culinária mineira típica tem sua origem na senzala, ou seja,
as receitas que classificam a comida como sendo típica de Minas Gerais, surgiram na
escravidão. Segundo a Associação de Bares e Restaurantes de Minas Gerais (ABRASEL), a
culinária típica compreende ingredientes, preparo e utensílios peculiares de uma região.
146
Cozida, frita ou armazenada na própria gordura do porco caipira, que sofria apenas o
processo de aquecimento antes do consumo, possibilitando um sabor muito peculiar;
o chouriço, feito do sangue cozido e ervas finas; a costelinha frita e preparada com a
famosa canjiquinha mineira; o mocotó (joelhos cozidos com a pele); o suã cozida e
frita (parte óssea da coluna vertebral do porco junto à carne); a linguiça suína com
temperos caseiros (pimentas, cebolas, salsa, etc.), defumada com a fumaça oriunda do
fogão a lenha, dentre outros pratos (LOPES, et al., 2020, p.4-5).
Durante um café, as merendas e/ou quitandas têm seu apreço, feitos em fornos de barros,
por exemplo. Enfatizamos a fabricação de "biscoito de polvilho, broas de fubá de milho com
amendoim, bolachas, roscas e pães, ambos produzidos com material prima própria (ovos
caipiras, banha de porco, manteiga e/ou nata caseira, rapadura e/ou melaço, fermento natural e
polvilho)" (LOPES, et al., 2020, p.4-5).
Deste modo, o turismo relacionado com a cultura ganha ainda mais força em cidades de
porte menor, já que suas singularidades e peculiaridades aguçam a curiosidade e interesses dos
turistas. Assim, conhecer uma cultura que não seja a sua, ajuda tais cidades a serem
reconhecidas e ganhando visibilidade, gerando a deslocação de pessoas para terem ganho de
novas experiências e realidades com outros povos e cultura.
3.3.3 Industriais
Com mudanças no capitalismo e nas forma de produzir, novas relações espaciais vão se
construindo. À vista disso, o processo de globalização do capital gerou divisões territoriais do
trabalho nos países, contribuindo para o aumento e desenvolvimento das empresas
multinacionais, sobretudo nos países subdesenvolvidos, que por ora não tinham visibilidade no
aspecto econômico mundial. Assim, novas formas de produção foram aparecendo, com
destaque para a produção flexível.
A guerra fiscal entre as várias unidades da Federação, os salários mais baixos nas
regiões menos desenvolvidas, a proximidade de fontes de matérias -primas, o nível da
infraestrutura local e o desenvolvimento do Mercosul têm provocado o deslocamento
da indústria em direção a diferentes regiões. Alguns estados e regiões têm se
destacado, beneficiando-se do processo de descentralização industrial. (SABOIA,
2001, p.85).
Agora, os centros urbanos que antes faziam parte da rede econômica apenas como meros
exportadores de matérias-primas, reservas de mão de obra ou cidades-dormitórios, possuem
nova função, que é sediar as multinacionais, complexificando a divisão internacional do
trabalho. Este fenômeno se baseia na necessidade de acumular vantagens comparativas no
território.
Entretanto, as decisões continuam a ser nos países desenvolvidos e nas metrópoles, nas
matrizes industriais. Apenas as filiais, com algumas exceções, se encontram no interior do
território, formando uma “centralização desconcentrada” (SPOSITO; SANTOS, 2012, p.36).
148
Vale destacar que as cidades começam a ter um novo papel neste processo, justificado
pelas avançadas tecnologias, bem como o desenvolvimento de pesquisas e capital. Assim, vão
se adequando aos alicerces organizacionais econômicos, atraindo o interesse das indústrias, sem
ter relação direta com as metrópoles, apenas se localizando próximas às principais rodovias do
país.
Segundo Fresca (2010), é importante interpretar as conexões que cada cidade com seu
processo de divisão territorial do trabalho, para avaliarmos sua contribuição e inserção em sua
rede urbana, para não cairmos em classificações simplistas quando formos analisar suas
funções.
Em nossa área de estudo, foi possível observar três cidades com a presença de indústrias,
resguardando, sempre, às devidas proporções quando comparadas às cidades maiores, a fim de
evitar análises equivocadas. Tais cidades são: Madre de Deus de Minas, Nazareno e São Vicente
de Minas.
Os Laticínios Madre Deus contam com 25 anos de existência na região, situada entre os
distritos de Emboabas e São Miguel e pertencentes ao município de Madre de Deus de Minas.
É a terceira geração de empresários laticinistas e lidera, na região, a produção de queijos
tradicionais.
149
Figura 63: Produtos do Laticínio Madre Deus. (Fonte: Divulgação Laticínio Madre Deus, 2022).
Os produtos são vendidos na região. Porém, a maior parte dos estoques vão para o estado
do Rio de Janeiro, sendo comercializado na capital fluminense e em Niterói. Dos ares madre-
deusenses para a Região Sudeste do país.
37Derivado do leite de vaca pasteurizado, este queijo possui uma massa semi-cozida, consistência macia e aroma
doce e frutado.
150
Atualmente, é reconhecida por todo o país com seu alto valor de investimento e lucro
anual. Com aporte financeiro de sua subsidiária, a empresa holandesa Advanced Metallurgical
Group, o grupo está investindo R$ 650 milhões nas duas fases do projeto de lítio no complexo
industrial da mina de Volta Grande, na divisa dos municípios de Nazareno e São Tiago, em
nossa área de estudo.
Com isso, a empresa pretende não só trazer a nova estrutura para a exploração de lítio
no estado, mas também expandir as suas operações que já estão em franca atividade no estado,
como forma de proporcionar um forte crescimento no mercado nacional. A Figura 65 revela a
grande ocupação da mineração em terras nazarenenses.
151
Essa tradição, aliada às condições favoráveis da região, como topografia, clima, altitude,
além da fácil adaptação do gado para a produção de leite, proporcionou a criação de um polo
pioneiro para a produção deste tipo de queijo na região.
Figura 66: Queijos São Vicente. (Fonte: Divulgação Queijos São Vicente, 2022).
Tendo como base o que foi mostrado sobre tais indústrias, fica exposta a importância
que as cidades pequenas tem nos circuitos espaciais de produção da região estudada. Assim,
podemos considerar que há um rompimento com as atividades tradicionais, ou seja, a simples
relação do mercado consumidor e produtor, já que agora as cidades pequenas conseguem uma
atração para seus produtos sem uma conexão com cidades maiores adjacentes. Logo, fica
destacado uma nova hierarquia urbana para essas cidades, com novas funções de produção.
3.3.4 Agrícolas
Assim, analisando as produções agrícolas das cidades da região estudada, seja em escala
local, regional, nacional e global, podemos compreender o uso do território e o lugar ocupado
pela cidade na rede urbana e na divisão territorial do trabalho. Esse processo denominado como
especialização produtiva (SANTOS, 2013), fazem com que esses centros urbanos possam ser
caracterizados como:
Desta forma, nessas cidades, os setores econômicos permeiam pela produção agrícola,
de maneira geral, representando a conexão da atividade do capital no campo com a cidade
(GOMES, 2018). Então, podemos caracterizar um exemplo da dinâmica econômica urbana
desta maneira, seguindo os três setores:
Com isso, o território ganha novas dinâmicas e fluxos, sendo relevante para
entendermos sua organização, uso e regulação (CASTILLO e FREDERICO, 2010; GOMES,
2018).
Frederico (2012, p.6) vai denominar esses espaços como regiões competitivas, ou seja,
“compartimentos no espaço geográfico caracterizado pela reunião de fatores produtivos de
ordem técnica e normativa e pela inserção proeminente nos mercados internacionais, ganhando
notoriedade em todo o mercado, principalmente estrangeiro”.
Desta maneira, essas regiões denominadas como competitivas vão consolidar suas
especializações nas cidades consideradas pequenas e/ou médias. A sua inserção na rede urbana
local é o que irá caracterizar sua identidade funcional perante todas as demais, já que “elas
deixam de ser cidades no campo para se tornarem cidades do campo” (XAVIER, 2018, p.140).
Em nossa área de estudo, percebemos que o perfil agrícola tradicional está perdendo
espaço para as culturas consideradas como modernas, voltadas ao agronegócio (GONZAGA,
2019).
Gonzaga (2019) analisa as atuais produções agrícolas na região de São João del-Rei,
aqui já mencionadas nos parágrafos anteriores. A autora valoriza o fato que o local sempre teve
plantio e colheita de inúmeros produtos, porém o atual processo de desenvolvimento teve início
a partir de 1990, quando ocorreu a migração de agricultores vindos de São Paulo e do sul
mineiro.
O milho sempre foi de suma importância para a região, sendo voltado para
agroindústrias, como a Produtos Loredo39 , Zanfa’s40 e Espadeiro41 (GONZAGA, 2019).
Entretanto, vale ressaltar o grande número de agricultores tradicionais/familiares nessa
produção, objetivando o mercado interno também, direcionado à fabricação de fubá artesanal,
seja para consumo humano ou animal.
Mesmo com a produção do milho em destaque, a soja e o trigo se relevam nessas cidades
por conta de seu rápido crescimento na economia local, ganhando cada vez mais espaço e
atraindo o interesse de produtores.
O trigo é voltado para o mercado interno, ao contrário da soja, que é exportada. Porém,
ambos os produtos fazem parte de um modelo capitalista, cuja a produção é concentrada nas
mãos de poucos. Madre de Deus de Minas é considerado como o cinturão da agricultura da
região, já que possui alta produção dos grãos citados, favorecidos pela topografia plana e solos
pertinentes para a agricultura contemporânea.
Podemos aferir, portanto, que a agricultura aqui na região, de modo geral, está ligada às
características do agronegócio do atual período, pois possui máquinas de plantio e de colheita,
sementes transgênicas, silos de armazenagem e pivôs centrais para irrigação. A Figura 68 exibe
alguns silos em Madre de Deus de Minas, da empresa Kepler Weber, além de algumas
plantações.
Figura 68: Silos de armazenamento de grãos e plantações. (Fonte: Arquivo pessoal, 2021).
Castillo e Frederico (2010) reforçam a importância dessa rede de colaboradores, que vai
permitir o vínculo das várias fases produtivas que acontecem separadamente no território,
articulando os fixos e fluxos. Além disso, os círculos de cooperação vão garantir a organização
necessária para que a produção se consolide na região.
159
Há também outras empresas privadas que prestam serviços para os produtores das
cidades agrícolas citadas, bem como aluguel de silos, máquinas, comercialização de produtos e
sementes, que são a Melo Agronegócios, Richard Fachini Agronegócios e a multinacional
Monsanto.
Assim, essas empresas conseguem conectar tais produtores rurais com a globalização
vigente, já que são multinacionais na maioria das vezes e acabam dando visibilidade para a
região no contexto internacional. Desta forma, cria-se possibilidades para sistemas e objetos
locais alcançarem o mundo, gerando novas dinâmicas e influências.
É digno de destaque também a forte presença do gado leiteiro na região, sendo a base
dos produtos lácteos referidos no tópico anterior, desempenhando um papel essencial na
economia agrícola local. Essas atividades leiteiras não apenas fornecem alimentos de qualidade
para a população, mas também geram oportunidades econômicas significativas.
Sobre essas cidades agrícolas de nossa área de estudo, é possível interpretar a forte
relação do campo com o urbano, tendo em vista a necessidade de buscar serviços que regem o
sistema produtivo rural, como:
município uma logística territorial planejada pelos agentes hegemônicos que regula m
a produção no campo (GOMES, 2018, p. 25).
Com isso, vai ampliando e reconfigurando os centros urbanos, que agora adaptam-se de
acordo com as demandas do campo em cada etapa produtiva. Portanto, as cidades do
agronegócio são consideradas como “nós” da rede urbana agroindustrial, ou seja, lugares onde
acontecem a regulação e desenvolvimento da agricultura científica globalizada, integrando os
seguintes fenômenos: circuitos espaciais produtivos e os círculos de cooperação.
Figura 69: O horizonte. (Fonte: Hélcio Laranjo, 2020).
Deste modo, o referencial teórico aqui presente acentua tal fenômeno, ressaltando que
os avanços teórico-conceituais-metodológicos podem ser referência para outros estudiosos
sobre o tema, já que há uma necessidade e escassez de estudos sobre a região abordada, também.
Assim sendo, o modo de vida de seus habitantes é/foi alterado pela globalização,
influenciando na cultura, turismo, agricultura, religiosidade e indústria. Podendo, assim,
impactar o modo de vida dessa população, já que agora há características globais ali mesmo na
cidade pequena.
Mesmo com sinais globais em seu meio, ainda é notório a relação de tais cidades com
o polo da região, que é São João del-Rei. Desta maneira, os fluxos da rede urbana mostram essa
conexão forte. Porém, entre as próprias cidades pequenas há bastante laços, com os turistas
locais frequentando cidades vizinhas pelos mais diversos motivos, mas sobretudo pelas funções
que elas apresentam.
Na vertente qualitativa, podemos usar cidade pequena ou centro local, mas atentando-
se às situações e escalas. As características das duas definições permeiam-se sobre a função na
rede urbana, influenciando e apresentando fluxos com outras cidades, em níveis menores em
comparação com as cidades médias.
163
Desta forma, são cidades pequenas ao se analisar o modo clássico, como grande, média
e pequena, já que estão na base da pirâmide, pois são cidades simples, sem infraestrutura
complexa e dependente de cidades maiores em diversos fatores.
Foi constatado que a divisão territorial do trabalho presente nas cidades pesquisadas é
regulada de acordo com suas singularidades, potencialidades e possibilidades de se inserir na
rede urbana local. Com o período Técnico-Científico-Informacional, elas passam a incorporar
o processo tecnológico vigente, com novos modos de vida e novos fluxos de produtos e capital,
dando visibilidade para a região, já que houve o desenvolvimento das relações locais, regionais,
nacionais e globais.
Assim, entendemos que a hipótese de trabalho foi confirmada, pois ao mostrar que essas
cidades pequenas tiveram a mesma origem de fundação, por motivos minerários, cada uma se
especializou e espacializou de um jeito próprio. Consequentemente, ao contribuir para a rede
urbana local com diversas funções, tais cidades conseguem se reestabelecer e se reinventar para
atraírem turistas, empresas e investimentos para se desenvolverem nas mais diversas vertentes
e afastarem o senso comum de serem atrasadas, antiquadas, antigas, mal vistas e julgadas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
"O poder não muda ninguém. Faz com que a pessoa se revele." (BETTO,
2019, p. 65)
165
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ANEXOS
"As perguntas mais importantes não têm respostas. Se têm, não são
importantes." (BETTO, 2019, p. 56)
175
TABELA 15 - DADOS COMPLETOS DAS DISSERTAÇÕES SOBRE CIDADES PEQUENAS NO BRASIL (2000/2020)
A CIDADE LOCAL NO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO: NÁDIA CRISTINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL BEATRIZ RIBEIRO
O EXEMPLO DE MACHADO/MG SILVA DE UBERLÂNDIA SOARES
UNIVERSIDADE FEDERAL
A PRODUÇÃO DO ESPAÇO DAS PEQUENAS CIDADES MARIA SUELY DA
DO RIO GRANDE DO BEATRIZ MARIA
DO SERIDÓ POTIGUAR SILVA MEDEIROS
NORTE SOARES PONTES
FRANCISCO UNIVERSIDADE FEDERAL
CIDADES PEQUENAS, GRANDES PROBLEMAS: PERFIL ADEMIR ARAÚJO DA
EDNARDO DO RIO GRANDE DO
URBANO DO AGRESTE POTIGUAR COSTA
GONÇALVES NORTE
POLÍTICAS PÚBLICAS E PEQUENOS MUNICÍPIOS: MÁRCIO MIGUEL UNIVERSIDADE FEDERAL CICILIAN LUIZA
UMA AVALIAÇÃO DO ESTADO DO PARANÁ TAVARES DO PARANÁ LÖWER SAHR
UNIVERSIDADE EST.
ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO EM POMPEU
ANDRÉ RIANI COSTA PAULISTA JÚLIO DE
MUNICÍPIOS PEQUENOS SEGUNDO UMA FIGUEIREDO DE
PERINOTTO MESQUITA FILHO/RIO
PERSPECTIVA REGIONAL: O CASO DE ANALÂNDIA-SP CARVALHO
CLARO
2006 4
O TERRITÓRIO COMO UM TRUNFO: UM ESTUDO MARIA DE FÁTIMA
JOSINEIDE DA SILVA UNIVERSIDADE FEDERAL
SOBRE A CRIAÇÃO DE MUNICÍPIOS NA PARAÍBA FERREIRA
BEZERRA DA PARAÍBA
(ANOS 1990) RODRIGUES
A CIDADE DE COREMAS - PB: GEOGRAFIA HISTÓRICA RITA DE CÁSSIA UNIVERSIDADE FEDERAL DORALICE SÁTYRO
DE UMA PEQUENA CIDADE GREGÓRIO DE DA PARAÍBA MAIA
ANDRADE
ESPAÇO VIVIDO, COTIDIANO E QUALIDADE DE VIDA SÉRGIO HENRIQUE
UNIVERSIDADE ESTADUAL CLAUDETE DE
EM PEQUENOS MUNICÍPIOS. CASO: MUNICÍPIO DE REZENDE
DE CAMPINAS CASTRO SILVA VITTE
URUPÊS (SP) CRIVELARO
UNIVERSIDADE EST.
MARIA
SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL EM CIDADES CLÁUDIA MARQUES PAULISTA JÚLIO DE
ENCARNAÇÃO
PEQUENAS ROMA MESQUITA FILHO/PR.
BELTRÃO SPOSITO
PRUDENTE
DESENVOLVIMENTO E PLANEJAMENTO URBANO NA
DEISIANE DOS UNIVERSIDADE FEDERAL ELSON MANOEL
CIDADE DE JAGUARUNA/SC: REPRESENTAÇÃO E
SANTOS DELFINO DE SANTA CATARINA PEREIRA
ATUAÇÃO DOS ATORES LOCAIS
CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO URBANO DA PEQUENA FABIANO BOLZAN UNIVERSIDADE FEDERAL GILDA MARIA
CIDADE: UM ESTUDO SOBRE SÃO SEPÉ - RS SCHERER DE SANTA MARIA CABRAL BENADUCE
2009 2
PEQUENOS MUNICÍPIOS RURAIS E
UNIVERSIDADE FEDERAL CICILIAN LUIZA
DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL: REFLEXÕES A CLOTILDE ZAI
DO PARANÁ LÖWEN SAHR
PARTIR DO MUNICÍPIO DE MATO RICO - PR
178
CARLOS AUGUSTO
NOVA CRUZ: SUA DINÂMICA E AS RELAÇÕES COM SEVERINO ALVES UNIVERSIDADE FEDERAL
DE AMORIM
AS CIDADES DE MONTANHAS E LAGOA D'ANTA - RN COUTINHO DA PARAÍBA
CARDOSO
PEQUENAS CIDADES DA REDE URBANA DE PATO KARIM BORGES DOS UNIVERSIDADE ESTADUAL FERNANDO DOS
BRANCO – PR SANTOS DO OESTE DO PARANÁ SANTOS SAMPAIO
UNIVERSIDADE EST.
CIDADES PEQUENAS E INDÚSTRIA: CONTRIBUIÇÃO
PAULO FERNANDO PAULISTA JÚLIO DE ELISEU SAVÉRIO
PARA A ANÁLISE DA DINÂMICA ECONÔMICA NA
JURADO DA SILVA MESQUITA FILHO/PR. SPOSITO
REGIÃO DE PRESIDENTE PRUDENTE-SP
PRUDENTE
LUIZ FERNANDO
DOM PEDRITO, CIDADE E CAMPO: A VITOR ÂNGELO UNIVERSIDADE FEDERAL
MAZZINI
MODERNIZAÇÃO AGRÍCOLA E A CIDADE LOCAL VILLAR BARRETO DO RIO GRANDE DO SUL
FONTOURA
DINÂMICA TERRITORIAL DA REDE URBANA NA PATRICIA HELENA UNIVERSIDADE FEDERAL EDIMA ARANHA
MESORREGIÃO LESTE DE MATO GROSSO DO SUL MILANI DE MATO GROSSO DO SUL SILVA
DILEMAS E PERSPECTIVAS DAS PEQUENAS E NOVAS
CIDADES: UMA ANÁLISE DA PAISAGEM COMO
VANESSA MARIA UNIVERSIDADE FEDERAL SONY CORTESE
SUBSÍDIO AO ORDENAMENTO TERRITORIAL,
LUDKA DO PARANÁ CANEPARO
CONDIÇÕES SOCIOAMBIENTAIS E CULTURAIS DE
2012 4
BELA VISTA DO TOLDO, SC
SOCIABILIDADE E SENTIMENTO DE INSEGURANÇA PEDRO HENRIQUE
UNIVERSIDADE ESTADUAL ANGELA MARIA
URBANA EM PEQUENAS CIDADES: O NORTE DO CARNEVALLI
DE MARINGÁ ENDLICH
PARANÁ FERNANDES
AS TRANSFORMAÇÕES SOCIOESPACIAIS DE FRUTAL- ADRIANO REIS DE UNIVERSIDADE FEDERAL VITOR RIBEIRO
MG PAULA E SILVA DE UBERLÂNDIA FILHO
180
ESPACIALIDADES EM ESVAZIAMENTO
CINTIA SILVIA UNIVERSIDADE ESTADUAL ÂNGELA MARIA
DEMOGRÁFICO DA MESORREEGIÃO NOROESTE
CARVALHO DE MARINGÁ ENDLICH
PARANAENSE E A OFERTA DE SERVIÇOS PÚBLICOS
2016 8
AGRUPAMENTOS DE CIDADES DE PEQUENO PORTE:
ALEXANDRE UNIVERSIDADE FEDERAL DIMAS MORAES
UM ESTUDO SOBRE BARRA DO GARÇAS- MT,
EDUARDO SANTOS DE GOIÁS PEIXINHO
PONTAL DO ARAGUAIA - MT E ARAGARÇAS - GO
DINÂMICA URBANA DA CIDADE DE FRONTEIRA: RAFAEL CARDOSO UNIVERSIDADE FEDERAL ELÓI MARTINS
BONFIM - RR DA SILVA NETO DE RORAIMA SENHORAS
A LUTA POR MORADIA NA CIDADE PEQUENA: JOSE MARIA FELIX UNIVERSIDADE ESTADUAL ANTÔNIA NEIDE
COREAÚ (CE) EM DISCUSSÃO MACHADO VALE DO ACARAÚ COSTA SANTANA
2019 4
O USO DO TERRITÓRIO E AS NOVAS DINÂMICAS UNIVERSIDADE EST.
LOCACIONAIS DA INDÚSTRIA: A IMPLANTAÇÃO DA MAURICIO PAULISTA JÚLIO DE AURO APARECIDO
MERCEDES-BENZ NA PEQUENA CIDADE DE LOVADINI MESQUITA FILHO/RIO MENDES
IRACEMÁPOLIS (SP) CLARO
PAISAGEM, LUGAR, MEMÓRIA E IMAGEM: DO DIEGO DE MELO UNIVERSIDADE ESTADUAL HENRIQUE MANOEL
DISTRITO DE PINHALÃO À CIDADE DE FAROL - PR OLIVEIRA DE MARINGÁ DA SILVA
184
UNIVERSIDADE EST.
KARIN GABRIEL
JOVENS DE CIDADES PEQUENAS NO INTERIOR PAULISTA JÚLIO DE
SILVA MORENO DE NECIO TURRA NETO
PAULISTA: PRÁTICAS ESPACIAIS E TEMPO LIVRE MESQUITA FILHO/PR.
SOUZA
PRUDENTE
RONDINELLE
PEQUENOS MUNICÍPIOS NA AMAZÔNIA: UNIVERSIDADE FEDERAL
HUDSON PEREIRA ARTUR ROSA FILHO
POTENCIALIDADES E LIMITAÇÕES NO CANTÁ-RR DE RORAIMA
DE ALBUQUERQUE
SIMÃO PEREIRA: TRANSFORMAÇÕES E INSERÇÃO DE TALISON PAULO UNIVERSIDADE FEDERAL WAGNER BARBOSA
UMA CIDADE LOCAL NA ZONA DA MATA MINEIRA FERREIRA DE JUIZ DE FORA BATELLA
(Fonte: CAPES, 2021. Elaborado pelo autor, 2022).
185
TABELA 16 - DADOS COMPLETOS DAS TESES SOBRE CIDADES PEQUENAS NO BRASIL (2000/2020)
ANO QUANTIDADE TÍTULO AUTOR UNIVERSIDADE ORIENTADOR
ANA MARIA
TRANSFORMAÇÕES DA REDE URBANA DO NORTE DO TANIA MARIA MARQUES
2000 1 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
PARANÁ: ESTUDO COMPARATIVO DE TRÊS CENTROS FRESCA CAMARGO
MARANGONI
MARIA ADÉLIA
A CONQUISTA DO TERRITÓRIO: PEQUENOS MUNICÍPIOS E JULEUSA MARIA
2001 1 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO APARECIDA DE
EMPRESAS EM REGIÃO DE CAMPINAS/SP THEODORO TURRA
SOUZA
2002 0 * * * *
2003 0 * * * *
MARIA
PEQUENAS CIDADES NA REGIÃO DE CATANDUVA-SP: MARA LÚCIA UNIVERSIDADE EST.PAULISTA
ENCARNAÇÃO
2004 1 PAPÉIS URBANOS, REPRODUÇÃO SOCIAL E PRODUÇÃO DE FALCONI DA HORA JÚLIO DE MESQUITA
BELTRÃO
MORADIAS BERNARDELLI FILHO/PR.PRUDENT
SPOSITO
2005 0 * * * *
MARIA
UNIVERSIDADE EST.PAULISTA
PENSANDO OS PAPÉIS E SIGNIFICADOS DAS PEQUENAS ANGELA MARIA ENCARNAÇÃO
2006 1 JÚLIO DE MESQUITA
CIDADES DO NOROESTE DO PARANÁ ENDLICH BELTRÃO
FILHO/PR.PRUDENT
SPOSITO
CIDADE-CAMPO, URBANO-RURAL: UMA CONTRIBUIÇÃO
MARIA HELENA UNIVERSIDADE FEDERAL DO GISELA AQUINO
2007 1 AO DEBATE A PARTIR DE PEQUENAS CIDADES EM MINAS
PALMER LIMA RIO DE JANEIRO PIRES DO RIO
GERAIS
PEQUENAS CIDADES DA MICRORREGIÃO GEOGRÁFICA DE BEATRIZ
NÁGELA APARECIDA UNIVERSIDADE FEDERAL DE
2008 3 CATALÃO (GO): ANÁLISES DE SEUS CONTEÚDOS E RIBEIRO
DE MELO UBERLÂNDIA
CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS SOARES
186
2012 0 * * * *
BRUNO LUIZ
A PRAÇA NO CONTEXTO DE PEQUENAS CIDADES NA VANESSA MEDEIROS UNIVERSIDADE ESTADUAL DE
2013 1 DOMINGOS DE
MICRORREGIÃO DE CAMPO MOURÃO - PR CORNELI MARINGÁ
ANGELIS
PEDRO HENRIQUE
UM ESPECTRO RONDA AS PEQUENAS CIDADES: O UNIVERSIDADE ESTADUAL DE ANGELA MARIA
CARNEVALLI
AUMENTO DA VIOLÊNCIA E DA INSEGURANÇA OBJETIVA MARINGÁ ENDLICH
FERNANDES
2019 2 MARGARETE
O CLIMA URBANO DAS CIDADES DE PEQUENO PORTE DO
UNIVERSIDADE EST. PAULISTA CRISTIANE DE
OESTE PAULISTA: ANÁLISE DO PERFIL TÉRMICO DE DANIELLE CARDOZO
JÚLIO DE MESQUITA FILHO/PR. COSTA
PRESIDENTE VENCESLAU, SANTO ANASTÁCIO E ÁLVARES FRASCA TEIXEIRA
PRUDENTE TRINDADE
MACHADO, BRASIL
AMORIM
189
CARLOS
UMA AGORDAGEM GEOGRÁFICA DO ENSINO SUPERIOR E ANA LUCIA DO
UNIVERSIDADE FEDERAL DA AUGUSTO DE
TECNOLÓGICO NAS CIDADES PEQUENAS DE AREIA, NASCIMENTO
PARAÍBA AMORIM
BANANEIRAS E GUARABIRA – PB PEREIRA
CARDOSO
2020 3 O CLIMA URBANO EM CIDADE DE PEQUENO PORTE NO JORGE RICARDO UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARIA ELISA
SEMIÁRIDO CEARENSE: O CASO DE CRATEÚS FELIX DE OLIVEIRA CEARÁ ZANELLA
BEATRIZ
ESPACIALIDADES DO ENVELHECIMENTO LGBT’S NAS ALEMAR MOREIRA UNIVERSIDADE FEDERAL DE
RIBEIRO
CIDADES PEQUENAS DE GOIÁS DE SOUSA UBERLÂNDIA
SOARES
(Fonte: CAPES, 2021. Elaborado pelo autor, 2022).
OS DIFERENTES URBANOS EM UM
PEQUENO MUNICÍPIO DA MONIQUE CARMO; SANDRA MARIA UNIVERSIDADE DO VALE DO
ESPAÇO URBANO
AMAZÔNIA: UM ESTUDO DE FONSECA DA COSTA PARAÍBA (UNIVAP)
BARCARENA/PA