ALI BENJAMIN

S uezy
asiv as
águas- v
Tradução
Cecília Camargo Bartalotti

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 Elaboração do manual:
Danielle Cristina Mendes Pereira
Doutora em Literatura Comparada e professora de Estudos Literários

Título Suzy e as águas-vivas

Páginas 224
Autor (a) Ali Benjamin
Tradutor (a) Cecília Camargo Bartalotti
Idioma Língua Portuguesa
Categoria 1
Tema (s) Autoconhecimento, sentimento e
emoções; família, amigos e escola

Gênero Literário Romance

Interdisciplinaridade Língua Portuguesa, Ciências e Geografia.

Desde fins do século XVIII, chamamos de romance a categoria

ficcional que pertence ao gênero narrativo. A forma literária ro-
manesca desenvolve-se em um texto longo, escrito em prosa e
dividido em capítulos. Surge como uma arte burguesa, focada
nos dramas amorosos e familiares desta classe social, e amplia-
-se, posteriormente, para a reflexão sobre temas e contextos
plurais.O pensador Georg Lukács considerou o herói romanes-
co um anti-herói, um herói problemático, que erra, hesita e não
tem certezas. Na contemporaneidade, o romance tende à frag-
mentação da discursividade tradicional e ao diálogo com outras
linguagens, sobretudo a do cinema.

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 Conversa com o Professor

E stimados professores, a adolescência é um período

delicado e de intensas transformações, sabemos to-
dos nós. O romance Suzy e as águas-vivas debruça-se
justamente sobre essa fase repleta de fragilidades e en-
frentamentos, com sensibilidade. A obra emprega uma
linguagem acessível ao aluno do segundo segmento do
Ensino Fundamental e destaca com delicadeza temas
como a perda, as dificuldades de relacionamento e o
bullying, cuja discussão é tão importante em nossos dias.
Esta obra literária apresenta-se como um instrumen-
to potente para que nossos alunos reflitam sobre a vida
e suas relações com o mundo. Ao afirmarmos isso, res-
saltamos a condição da literatura como instrumento de
reflexão, capaz de gerar empatia com experiências viven-
ciadas simbolicamente. Essa dimensão organiza-se com
força neste romance, aliada a um enredo adequado ao
público adolescente com situações vivenciadas por este
em seu cotidiano, como as relações com a família, os ami-
gos e as experiências escolares. Trata, ainda, sobre o sen-

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 timento de inadequação, gerado tanto pelas tendências
psicológicas naturais da idade, como por certas condi-
ções, como a síndrome de Asperger, a dislexia e o défi-
cit de atenção.
O prazer do conhecimento também integra-se ao li-
vro, por uma dupla dimensão. Primeiro, por conta da
própria natureza da literatura, como elemento produtor
de compreensão e de prazer. Segundo, pela presença no
enredo do tratamento da temática da aquisição do co-
nhecimento, representada por meio da relação entre a
reflexão da protagonista, a adolescente Suzy, e os seus
estudos sobre Ciências, disciplina pela qual é apaixonada.­
Desse modo, o elemento da água-viva converte-se em
uma metáfora para pensar os sentimentos e as ações pra-
ticadas pela protagonista, que também é a narradora. A
voz de Suzy conduz a narrativa romanesca e convida nos-
sos alunos a embarcarem em uma leitura sobre o conhe-
cimento, a dor, a vida e a esperança.

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 Quem escreveu a história

S uzy e as águas-vivas é o primeiro romance escrito por

Ali Benjamin, autora norte-americana, cujo verda-
deiro nome é Alison. Antes deste livro, a escritora já ha-
via publicado em revistas; além disso, escreveu, em
coautoria, livros de memórias, não dela, mas de Paige
Rawl, adolescente com HIV, e Tim Howard, jogador de
futebol norte-americano.
Ali cresceu perto de Nova York, em uma casa com
duas peculiaridades: a aparência de mal-assombrada e a
quantidade enorme de livros. Com certeza, o fato de cres-
cer rodeada de obras levou a autora a amar a literatura
e a se propor a criar outros livros que tratassem de as-
suntos que, segundo ela, sempre a fascinaram, especial-
mente os relacionados à natureza, como estrelas, insetos
e sapos.
A sua relação próxima com os livros levou-a a afir-
mar que aqueles lidos por ela quando criança lhe foram
especiais, considerando-os parte intrínseca de seu ser.
Ali Benjamin tem uma percepção muito sensível sobre

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 a importância da literatura infantil e juvenil e o impac-
to que esta pode produzir em seu público-alvo­. Tal com-
preensão vai ao encontro do próprio trabalho de
escrita literária da autora, que prima por promover uma
linguagem acessível e próxima de seu leitor, sem apelar
para soluções fáceis, imagens rasas ou vocabulário
­simplista.
Em relação ao romance Suzy e as águas-vivas, Ben-
jamin confessou: como a protagonista, ela ficou encanta­
da pela espécie ao visitar o aquário público. A escritora
também contou que, igual a Suzy, ficou impactada com
a descoberta de que existiam pessoas que dedicavam toda
a vida à pesquisa sobre as águas-vivas. Ela segredou em
uma entrevista que teve uma sensação de inveja, pois es-
sas pessoas­, embora dedicassem suas pesquisas somen-
te a um objeto — a água-viva —, sempre teriam novidades
a aprender.­
A autora ficou tão interessada nas águas-vivas que
começou uma intensa pesquisa sobre o assunto. Ao mes-
mo tempo, estava trabalhando em um romance sobre
uma adolescente. Quando o projeto do romance foi abo-
lido, ela buscou reunir sua pesquisa à história anterior-
mente iniciada. Desse modo, surgiu este romance.
Benjamin é mãe de duas filhas. Segundo a romancis-
ta, a maternidade catalisou algumas das reflexões pro-
postas pela obra, como o enfrentamento do luto e do
bullying. Atualmente, ela mora com suas meninas e seu
marido em Massachusetts, onde se passa a trama deste
romance.

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 A tradutora deste livro é Cecília Camargo Bartalotti.
Nascida em São Paulo, Bartalotti estudou Farmácia e Le-
tras, especializando-se posteriormente na área de Tradu-
ção. Sua produção como tradutora inclui vários livros de
literatura e de não ficção.

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 Mergulho no livro

S uzy e as águas-vivas foi escrito em 2015 e publicado

no Brasil no ano posterior. Diante de sua qualidade,
a obra conquistou o prestigiado prêmio de livro do ano
do New York Times Book Review.
O romance discorre sobre um período difícil enfren-
tado por sua protagonista e também narradora, a adoles­
cente Suzanne Swanson. Trata-se, pois, de uma narrativa
autodiegética.
Suzy, como é chamada, vê-se aos doze anos diante de
um período de luto, e é sobre as formas pelas quais ela
tenta compreendê-lo para, posteriormente, superá-lo que
trata o livro. Além disso, a obra aborda questões pertinen-
tes à tolerância e ao respeito às diferenças e às escolhas.­
A narrativa tem como temas centrais as questões dos
processos de autoconhecimento enfrentados pelos adoles-
centes, seus sentimentos e emoções, e suas relações com a
família, os amigos e a escola. O romance trata com muito
cuidado as mudanças da adolescência, sobretudo em tor-
no daqueles garotos e garotas que se sentem diferentes.­

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 Essas diferenças são apontadas como relacionadas a
certos sintomas de transtornos, representados na narra-
tiva por meio de traços específicos no comportamento
de personagens, apresentados tanto de forma explícita,
como implícita.
Assim, o personagem Justin, colega de classe de Suzy,
apresenta sintomas de TDAH, isto é, Transtorno de Dé-
ficit de Atenção e Hiperatividade. De maneira clara, a
narrativa o representa como um menino deslocado e com
comportamento não convencional, que muda positiva-
mente após o tratamento.
Segundo o site da Associação Brasileira do Déficit de
Atenção, o TDAH é um transtorno de cunho neurobio-
lógico caracterizado por comportamentos de de­sa­tenção­,
hiperatividade e impulsividade. Todas as características
apontadas como sintomáticas do transtorno aparecem
no personagem Justin, que anda com um alarme no pes-
coço, a fim de não se esquecer de sua medicação, e ver-
baliza para Suzy a sua condição de portador de Déficit
de Atenção. Essa verbalização é feita naturalmente, em
um diálogo prosaico. Há, portanto, uma representação
interessante da diferença provocada pelo transtorno, tan-
to porque destacam-se caminhos para seu controle, como
por Justin encará-lo sem dramas.
Um ponto importante para refletir é a abrangência
do TDAH no mundo, sendo este o transtorno mais re-
corrente encontrado em estudantes, alcançando a mar-
ca de 5% desta população. Nos Estados Unidos, onde
se passa a narrativa, o aluno portador de TDAH é am-

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 parado por uma lei que orienta as escolas a tratá-lo de
modo diferenciado.
Outro transtorno representado ficcionalmente na nar-
rativa, por meio da personagem Franny — a amiga que
Suzy perde —, é a dislexia. Todavia, ao contrário do
TDAH, que é claramente citado no romance, só são apre-
sentados ao leitor os sintomas de Franny: dificuldade
para ler e memorizar informações textuais, troca de le-
tras no processo de escrita e escrita espelhada.
A Associação Brasileira de Dislexia, em seu site, des-
creve a dislexia como um transtorno de aprendizagem
de natureza neurobiológica. Como características do
trans­torno, pode ser apontada a dificuldade do disléxico
de reconhecer de forma precisa ou fluente as palavras,
além de problemas na decodificação e soletração. Tais
dificuldades, segundo a referida associação, são geradas
por problemas no componente fonológico da linguagem,
que causam um desvio nas habilidades cognitivas rela-
cionadas à sua faixa etária.
O terceiro transtorno aludido no livro — este rela-
cionado à própria protagonista — é a síndrome de
Asperger­. Como ocorre com a personagem Franny, o
transtorno não é nomeado, porém são elencadas na nar-
rativa várias características de Suzy que convergem
para o diagnóstico de Asperger, como a alta inteligên-
cia, a sensibilidade a sons e toques, a dificuldade de in-
teração social e a fala contínua, apontada pelos pais dela,
por exemplo.

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 Embora Suzy comece a frequentar uma psicóloga
após optar pelo silenciamento, em nenhum momento a
narrativa aponta para a sua condição. Acreditamos que
isso ocorra porque a narração é conduzida pela prota-
gonista adolescente. O foco narrativo está limitado aos
pensamentos e percepções de Suzy sobre o mundo. O al-
cance sobre a condição do amigo com TDAH só ocorre
porque ele conta para Suzy sobre o remédio que precisa
tomar. Em relação à dislexia de Franny e às característi-
cas no espectro da síndrome de Asperger presentes em
Suzy, há uma alusão implícita, por conta da inconsciên-
cia desta, embora ela consiga tanto percebê-las como re-
fletir sobre estas.
Segundo o jornal da USP (Universidade de São Paulo­),
a síndrome de Asperger é um dos graus do Autismo, sen-
do um transtorno de neurodesenvolvimento. No campo
da ciência, apesar dos esforços de pesquisa, sabe-se ainda­
muito pouco sobre a síndrome de Asperger, o que leva
muitos dos indivíduos por ela afetados a descobri-la tar-
diamente, até mesmo na idade adulta.
As formas de perceber o mundo e a capacidade de
interação social são diferentes nas pessoas com Asper-
ger. Elas não possuem a cognição comprometida; pelo
contrário, tendem a ter a atenção focada em assuntos
específicos e habilidade incomum para a matemática,
características também encontradas na personagem
Suzy. Outra característica da síndrome de Asperger que
pode ser vista na protagonista é o gosto por padrões
repetitivos.­

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 Cabe destacar que a obra não coloca os transtornos
— de atenção, linguagem e comportamento — como
doen­ças, mas como diferenças que devem ser respeitadas­
por todos. Essa questão é importante, pois é essencial ao
trabalho com nosso aluno, em um momento em que a in-
clusão é objeto de discussão no país. Acreditamos que
com o processo de inclusão todos ganham, desde o alu-
no incluído, em uma dinâmica de acolhimento, até o aluno­
considerado “regular”, ao aprender e praticar o respei-
to às diferenças.
O papel dos adultos também é sublinhado no ro­
mance, em uma representação que põe em discussão a
impor­tância de pais e professores serem sensíveis aos
adolescentes.
Assim, por um lado, Suzy possui uma família na qual
existe amparo, confiança e amor, apesar da separação de
seus pais. A narrativa mostra, inclusive, que, apesar de
a separação ser um momento familiar frágil e difícil, os
laços entre pais e filhos podem manter-se fortes após o
processo, ofertando um novo ângulo para configurações
familiares não tradicionais. Sua mãe, seu pai e irmão são
amorosos e preocupados com ela.
Por outro lado, Suzy identifica professores que po-
dem ser sensíveis ou não. No acampamento onde sofre
bullying, praticado pela sua então melhor amiga, o pro-
fessor não consegue compreendê-la ou ser sensível à sua
forma de processar informações e entender o mundo ao
seu redor. Já a professora Sra. Turton, ao contrário, tem
maturidade e sensibilidade para conduzir Suzy a uma po-

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 sição mais confortável dentro da escola, incentivando o
seu potencial e respeitando as suas diferenças, assim
como as de Justin.
O bullying, palavra inglesa e assunto tão fundamen-
tal no contexto escolar da atualidade, é um dos eixos de
discussão do romance. Considera-se o bullying como um
fenômeno de largo alcance no sistema escolar brasilei-
ro. O site do Ministério da Educação informa que, de cada
dez estudantes, um sofre bullying na escola.
Para o Ministério da Educação, o bullying constitui-
-se como uma série de atos de intimidação e violência,
seja ela psicológica ou física, no contexto escolar. A le-
gislação brasileira, na forma da Lei 13.185/2015, define a
prática de bullying como sistemática e ocorrida em situa­
ções de violência e por meio de atos humilhantes ou dis-
criminatórios.
O bullying caracteriza-se pela continuidade, não sen-
do apenas uma mera briga ou discussão episódica, mas
uma condição de perseguição repetitiva. No romance,
Suzy é vítima de bullying e, por conta dele, passa por
uma humilhação durante uma viagem escolar, em uma
situação­que se torna ainda mais dolorosa por envolver
Franny.
A narrativa tem início com Franny morta e Suzy, re-
cém-ingressa no segundo segmento do Ensino Funda-
mental, iniciando um projeto de Ciências, nas aulas de
sua nova professora, a Sra. Turton, a quem, no decorrer
da história, se conectará. Haverá durante todo o roman-
ce uma relação entre o projeto de pesquisa e as etapas

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 referentes ao seu desenvolvimento científico — objetivo,
hipótese, referencial, variáveis, procedimento, resulta-
dos e conclusão — e as reflexões que Suzy organiza para
enfrentar os conflitos da vida.
Assim, cada uma das partes que compõem o proje-
to científico converte-se nos títulos das partes do roman-
ce. Ocorre uma simbiose entre a busca por respostas
científicas em torno do objeto de pesquisa escolhido por
Suzy — as águas-vivas —, a procura por respostas so-
bre a morte de Franny e o processo de luto vivenciado
pela protagonista.­
Suzy, sobretudo, está em busca de um sentido não
só para a morte da amiga, como para sua própria vida.
Ela decide deixar de falar, uma vez que também não con-
segue ver sentido no ato de se comunicar verbalmente.
A fala de Suzy passa a ser, então, e durante boa parte
da narrativa, convertida para dois receptores, ambos
imaginários: um “você”, com quem ela conversa, e que
no processo de leitura pode ser assumido como o nar-
ratário, criando-se assim uma ligação com o leitor; e
Franny, em páginas nas quais as palavras são grafadas
em itálico, a fim de diferenciar as duas instâncias da nar-
ração de Suzy.
A conversa com Franny é solitária e imaginária, uma
vez que a amiga já está morta. É um modo de Suzy aces-
sar a memória e tentar compreender sentimentos e com-
portamentos, de si e dos outros, sobretudo de Franny.
Amigas por anos e desde muito novas, Suzy encon-
trou em Franny uma pessoa com quem se identificava,

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 por ser a parceira também deslocada em relação ao que
se considera como o padrão. Elas constroem uma ami-
zade muito bonita, porém Franny começa a mudar e pas-
sa a desejar a companhia de outras meninas. No início,
ela tenta levar Suzy para o novo grupo, mas, como esta
não se encaixa, passa a evitá-la e a menosprezá-la, como
as novas amigas.
Na viagem à qual nos referimos, Franny está entre
as meninas mais populares da escola, enquanto Suzy
encontra-se sozinha e deslocada. Em dado momento,
Suzy está deitada e percebe a aproximação de um gru-
po. Alguém cospe em seu rosto e o grupo sai, rindo e
debochando da garota. Suzy, desolada, compreende
que Franny está envolvida na situação. Como contrapar­
tida, ela prepara uma situação vexatória para Franny,
ao colocar em seu armário discos congelados de uri-
na. Ela não tenta, com o ato, humilhar a amiga, mas
alertá-la para o seu comportamento, já que no passa-
do Franny pedira a Suzy que a avisasse, caso se tor-
nasse como o grupo de garotas com o qual passou a
andar posteriormente.
Após o episódio, Suzy espera uma reação de Franny,
que não vem. O que lhe chega é uma terrível notícia: em
uma viagem a Maryland, a menina, malgrado o fato de
ser ótima nadadora, havia se afogado. A morte de Franny
abala Suzy profundamente e a levará ao silêncio.
Ao ir ao aquário com a sua turma e se espantar com
as águas-vivas e a quantidade de pesquisas e informa-
ções que as cercavam, Suzy, além de escolhê-las como

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 seu objeto de estudo, passa a pensá-las como uma me­
táfo­ra de sua própria vida e escolhas. Por exemplo, ao
pen­sar­sobre como reagiu ao bullying de Franny, Suzy
reflete que o veneno é uma forma de defesa empreendi-
da pelos mais frágeis.
Além disso, sua ida ao aquário faz com que encontre
uma água-viva minúscula e mortalmente venenosa, da
es­pécie Irukandji. Como havia relatos da presença des-
sa espécie no local onde Franny morrera, Suzy tenta dar
um sentido para a morte da amiga, fazendo muitas pes-
quisas para provar a hipótese de que esta fora causada
pelo veneno da Irukandji.
No decorrer do livro, enquanto reflete sobre seu pas-
sado com Franny e suas relações no presente, Suzy co-
meça a pesquisar vários especialistas em águas-vivas,
para obter ajuda na comprovação de sua hipótese. ­Todos
os que são nominalmente citados no livro existem não só
no universo ficcional do romance, mas de fato. Dois de-
les terão grande importância na história: o biólo­go espe-
cialista em águas-vivas Jamie Seymour, da univer­sidade
australiana James Cook, e a nadadora sexagenária Diana­
Nyad, que tentara quatro vezes atravessar a nado a dis-
tância entre Cuba e a Flórida, sendo impedida pelas quei-
maduras de águas-vivas.
Ambos aparecem no romance, e suas referências nes-
ta ficção coincidem com dados reais, à exceção da data
da quinta travessia de Nyad, tratada com a liberdade fic-
cional franqueada à obra literária. Outras referências
existentes na realidade e aproveitadas no romance são

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 os materiais pesquisados e usados nas aulas de Ciências
por Suzy e sua professora — há no fim do livro uma re-
lação de onde encontrá-los.
Sobre o personagem Jamie, Suzy acredita que ele será
a única pessoa a entendê-la, já que o biólogo fora pica-
do por uma Irukandji e sobrevivera, tendo tudo sido re-
gistrado pela televisão. Porém, sobretudo, Suzy tem tal
crença porque Jamie, apesar de ter quase morrido, teve
a capacidade de perdoar as águas-vivas e de continuar a
estudá-las. Portanto, ele lhe parece uma promessa de
apren­dizado do perdão.
Aparece Jamie, assim, como uma metáfora para o
processo de cura do qual Suzy tanto necessita. Para en-
contrá-lo na Austrália, ela cria um plano de fuga, que fra-
cassa, fazendo-a atingir seu limite psicológico. Nesse
mo­mento, o arco de tensão da narrativa começa a se ar-
refecer, com o encontro de Suzy com a mãe, o irmão e o
cunhado, que a cercam de amor. A tensão é dissolvida
no momento em que a família assiste à notícia do sucesso­
de Nyad em sua quinta travessia, convertida no romance­
em uma metáfora para a superação. Nyad consegue o
feito ao usar uma máscara de silicone, o que também
alude­à importância de sabermos criar mecanismos de
prote­ção diante do mundo. A partir daí, Suzy volta­a se
comunicar e consegue superar obstáculos importantes,
em um processo de cura e perdão capaz de levá-la a su-
perar o luto.
O romance oferece-se, pois, como um instrumento
relevante para provocar a reflexão em nossos alunos

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 sobre­a necessidade fundamental de respeitarmos as di­
feren­ças, assim como de refletirmos sobre nossos senti-
mentos e ações, a fim de entendermos o nosso lugar no
mundo. Além disso, oferece vários pontos de interesse
sobre a experiência científica, ao demonstrar seu poder
para abrir novas perspectivas sobre o mundo.

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 Pré-leitura

A leitura da obra Suzy e as águas-vivas inclui várias

questões sobre o comportamento dos adolescentes,
especialmente os mais frágeis e portadores de transtor-
nos, e suas relações com o mundo, além de versar acer-
ca dos processos de ensino e aprendizagem de Ciências.
Em vista dessas abordagens, propomos aos professores
as leituras básicas a seguir. Todos os links foram acessa-
dos em junho de 2018:

• Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade:

“O que é TDAH”, no site tdah.org.br.
• Dislexia: “O que é dislexia”, em dislexia.org.br.
• Síndrome de Asperger: o artigo “Síndrome de As-
perger ainda é pouco conhecida da população”, no
site do jornal da USP — jornal.usp.br. No artigo, há
um link para a entrevista com a doutora Mirain Re-
vers, especialista no assunto. Há também no site da
revista Nova Escola uma reportagem interessante
sobre o tema, com o título de “O que é a síndrome
de Asperger”.

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 • Bullying: o artigo “Especialistas indicam formas de
combate a atos de intimidação”, acessível no Por-
tal do MEC.
• Águas-vivas: o artigo “Invasora marítima”, dispo-
nível no site da revista Ciência Hoje, no endereço
http://cienciahoje.org.br/invasora-maritima/.
• O romance como gênero literário: os livros A ascen-
são do romance, de Ian Watt, e Teoria do romance,
de Georg Lukács.

Ao professor que desejar aprofundar-se nos temas

aqui elencados, sugerimos a leitura da bibliografia indi-
cada ao fim deste manual.
Em relação ao trabalho de preparação com os alu-
nos, sugerimos três momentos:

• No primeiro momento, trabalhe em torno do tema

“inclusão e diferença”. Converse com a turma so-
bre como as pessoas podem perceber de formas di-
versas o mundo, sem que haja maneiras certas ou
erradas. Fale sobre a síndrome de Asperger, apre-
sentando, de modo que a turma compreenda, suas
principais características. Comente que existe um
programa no canal público da TVE voltado para a
inclusão, chamado Programa Especial. Exiba o ví-
deo “Conheça a menina Laura, que tem síndrome
de Asperger”, do Programa Especial, para a turma.
Converse com os alunos sobre o vídeo e sobre os
modos de Laura sentir o mundo e viver. Pergunte

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 quais pontos na vida de Laura são parecidos ou di-
ferentes em relação à vida deles. Peça que façam
uma história em quadrinhos, contando um pouco
sobre essa comparação.
• Em um segundo momento, exiba para a turma o ví-
deo Água-viva: perigo invisível (dublado HD com-
pleto), da Discovery Channel. Esse vídeo fala sobre
as águas-vivas em geral, mas também destaca a
Irukandji e o trabalho de Jamie Seymour. Após con-
versarem sobre o vídeo, apresente o livro e comen-
te sobre o seu enredo e as relações com aspectos
abordados nesse vídeo e naquele apresentado no
primeiro momento.
• Se a turma não tiver familiaridade com o gênero ro­
mance, aproveite para explorá-lo no momento pré-
-leitura, levando livros do gênero para a sala de aula
e comentando-os, além de levar os alunos à biblio-
teca para descobrirem outras obras.

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 Pós-leitura

N o momento posterior à leitura, é importante estabe-

lecer o debate em torno da obra. Nesse sentido, su-
gerimos abordar tanto as questões centrais da narrativa,
como a estrutura da obra e a constituição de seus ele-
mentos, pensando o modo como os personagens são
construídos, por exemplo. Compare com os alunos a his-
tória de Suzy e a realidade de suas vidas. Peça que co-
mentem os trechos do romance de que mais gostaram e
justifiquem. Converse sobre os personagens e pergunte
se os alunos conhecem pessoas parecidas com eles, em
suas vivências.

• Discuta com os alunos como a obra representa as

experiências de adolescentes com transtornos.
Per­gunte se percebem que a questão é tratada de
modo natural, não como doença, mas como dife-
rença. Proponha que a turma se divida em grupos
e desenvolva uma continuação para a história de
Suzy.

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 • Converse sobre a representação do bullying na obra.
Pergunte sobre as experiências vividas ou testemu-
nhadas pela turma em torno da prática de bullying.
Exiba o vídeo com a reportagem “Alunos tentam
virar o jogo e superar o bullying em escola pública
do Rio de Janeiro”, disponível em https://globoplay.
globo.com/v/4642368/. Acesso em junho de 2018.
• Divida a turma em quatro grupos e peça que listem
argumentos e ações contra o bullying. Solicite aos
alunos a apresentação para a turma. Oriente, a par-
tir do material apresentado, a elaboração de uma
campanha de prevenção ao bullying, voltada para
os alunos da escola, para a qual a turma deve criar
material com textos escritos e cartazes.

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 Interdisciplinaridade

S uzy e as águas-vivas é um romance com grande aber-

tura para a prática pedagógica interdisciplinar. Re-
comendamos a elaboração de um trabalho conjunto
entre docentes das áreas de Língua Portuguesa, Ciências
e Geografia. Para tanto, propomos como sugestões as
seguintes atividades:

• Desde o momento da pré-leitura, a participação con-

junta dos docentes de Língua Portuguesa, Ciências
e Geografia. Os professores de Ciências e de Geo-
grafia terão uma participação preciosa no segun-
do momento da pré-leitura, o primeiro explorando
estudos e atividades sobre a vida marinha e as
águas-vivas, e o segundo, os fenômenos do aqueci­
mento global e da poluição dos mares, especialmente­
por conta do uso excessivo do plástico, resultante
da sociedade de consumo no contexto da pós-mo-
dernidade.

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 • Após a leitura, pode-se programar uma visita ao
aquário da cidade ou das proximidades, ou a algum
Instituto de Biologia Marinha, se houver a possibi-
lidade. Nesse caso, podem-se elaborar em conjun-
to diretrizes para a construção de um relatório e de
um site para exibir seus resultados, além de fotos
da visita.
• No romance, Suzy é conduzida à realização de um
trabalho científico por sua professora. Proponha à
turma a elaboração de um trabalho similar. Ex­plique
como se constrói um projeto científico. Docentes­
de Língua Portuguesa podem retomar as partes do
romance para explicar as etapas do projeto, além
de auxiliarem no processo de escrita. Os profes­
sores das áreas de Geografia e de Ciências podem­
orientar os trabalhos, indicando temas ou, como no
romance, deixando-os à escolha da turma.
• Retomando o tema da poluição dos mares, os pro-
fessores podem pedir aos alunos que pesquisem o
assunto. Se a escola se situar em cidade litorânea,
pode-se, ainda, fazer pesquisa in loco, tirando fo-
tos e filmando o local, além de realizar entrevistas
com os banhistas. De qualquer modo, a turma pode
aproveitar o material coletado na pesquisa e cons-
truir uma página no Facebook para expor os dados
e sua análise, com o objetivo de conscientizar pes-
soas sobre o tema pesquisado.

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 PA R A S A B E R M A I S . . .

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SUSY E AS ÁGUAS-VIVAS-MANUAL DO PROFESSOR.indd 30 17/07/2018 15:10:44
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O QUE é dislexia? Disponível em http://www.dislexia.
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O QUE é TDAH? Disponível em http://tdah.org.br/sobre-
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SÍNDROME de Asperger ainda é pouco conhecida pela
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