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Microconto

Miniconto,nanoconto...
O que é?
• Miniconto, ou microconto, ou nanoconto, é
uma espécie de conto muito pequeno, produção
esta que tem sido associada ao minimalismo.
Embora a teoria literária ainda não reconheça o
miniconto como um gênero literário à parte, fica
evidente que as características do que
chamamos de miniconto são diferentes das de
um "conto pequeno". No miniconto muito mais
importante que mostrar é sugerir, deixando ao
leitor a tarefa de "preencher" as elipses
narrativas e entender a história por trás da
história escrita.
• O número de letras é importante mas não
rígido, normalmente sendo atribuído pelos
autores ou organizadores de determinada
antologia, e naturalmente divulgados na
mesma. Marcelino Freire publicou em
2004 a obra Os cem menores contos do
século, em que desafiou cem escritores a
produzir contos com no máximo 50 letras,
por exemplo.
• "Nas águas da paixão
• Por Voltaire de Souza
É sempre difícil encontrar um amor. Fred tinha
pouca sorte com mulheres. Era rico. Simpático.
Charmoso. Mas vivia só. Fez até exame para
ver se tinha mau hálito. Mas não. Era azar
mesmo. Um fora atrás do outro. Estava
desanimado. “Festas? Bares? Nunca mais”. Um
amigo insistiu. Inauguração de uma choperia.
Fred pegou o carro. Chovia muito. A cidade
alagada. No túnel, largou o carro. Enfrentou a
correnteza. Boiando, passou por ele uma
boneca inflável. Agarrou-se à sereia de plástico.
A paixão foi imediata. Na enxurrada da vida, o
que cai na rede é peixe."
Para ler:
• Vale tudo: filosófico, poético,
ecologicamente-politicamente correto,
humor ácido. Para ter uma idéia de como
a coisinha funciona, vide o mais famoso
microconto do mundo:
• Quando acordou, o dinossauro ainda
estava lá. (Augusto Monterroso)
• No leito da morte, o ancião relembrava
toda a sua vida. Tudo o que desejava
agora era ter de volta suas bolinhas de
gude.
Exemplos:
• "Vivia insegura. Até perceber que o
namorado era estrábico". (Gabriela
Gomes)
“O casal de viajantes do tempo brigou
feio. Separaram-se. Ela foi para antes
de ele nascer; ele para depois de ela
morrer.”
Carlos Seabra
• “Ela estava no Brasil.Ele voltando para
Thailândia.Ela tinha 33 ele 43.Ela tinha
filhos.Ele não.Decidiram ser apenas amigos.”
(Thaisa Christine)
• “No muro de pedra, cantando à luz do luar, o
gato preto faz dupla com sua sombra.”(Zezé)
• “E porque ela esperava-o montado num cavalo
branco, nem o notou montado no elefante que
passou.” (Kiara Guedes)
• Coloquei a cortina esverdeada e pendurei nossa
lua na janela… Mas você não veio. Então
pendurei mais três estrelas… Assim nós cinco,
fizemos uma festa! (Kiara Guedes)
• “No convés, com as estrelas por
companheiras, pôs o olhar no horizonte e
sentiu que uma nova vida se iniciava.”
• “Mantinha seus sorrisos em cativeiro. Foi
descoberto e não teve escolha. Matou
todos. Nenhum viu a luz do dia. Jamais.”
• Quebrou o espelho pra não ver a tristeza
em seus olhos. Lágrimas caíram em
seguida, correndo pra se esconder nos
cacos que cobriam o chão.
Características do miniconto
• Concisão
• Narratividade (muitos dos ditos minicontos são,
na verdade, tiradas líricas)
• Totalidade (um miniconto não é uma story
line*)
• Subtexto
• Ausência de descrição
• Retrato de "pedaços da vida"
• Story line é um resumo da história a ser
transformada em roteiro, ele possui no máximo
cinco linhas e contém apenas o conflito principal
de sua história.
• Voando alto
• Por Voltaire de Souza

"A idade é muitas vezes cruel. Dona Corália estava com


80 anos. A cabeça andava fraca. Começou a tomar
remédios para a memória. O resultado foi inexpressivo.
Resolveu apelar para a religião. “Quero uma igreja
porreta”. Recomendaram uma perto do aeroporto. Era
um sábado à noite. Uma fila de mulheres na porta. Ela
entrou. “Padre de sunga? Impressionante”. Canções.
Ritmos. Stripe-tease. Era um clube de mulheres.

• Dona Corália tinha errado de endereço. Mas não


reclama. 'Já me sinto vinte anos mais jovem'. Não é
preciso olhar para cima quando se quer ver o céu."
• Mamãe querida
• Por Iarima Redü
• A maternidade é mesmo uma bênção. Dona Marieta que
o diga. Pariu e educou três filhos. Fez de tudo por eles.
Trocou fraldas. Dormiu mal durante muitas noites.
Correu para postinho médico. Ajudou no dever da
escola. Deu dinheiro para festinhas. Viu crescerem. Viu
casarem. Mas nenhum dos filhos quis ver a mãe
enviuvar. Diminuir. Adoecer. Perder o domínio do
intestino. Esquecer de tomar banho. D. Marieta foi
empurrada de um filho a outro qual batata quente.
Passava as férias num asilo fedorento ou no hospital.
Os filhos brigavam para ver quem ia ter de ficar com ela.
Um dia, todos a esqueceram. Não foram buscá-la na
rodoviária. D. Marieta morreu sozinha, esperando num
banco do terminal. Ser mãe é padecer no paraíso.
• "Pesquisa de mercado

• Por Voltaire de Souza


É importante desarmar a população. O sr. Licínio era
pela paz. Morava sozinho num sobrado do Ipiranga.
Sentiu-se feliz quando telefonaram de um instituto de
pesquisas de opinião. 'Claro, concordo. As armas devem
ser proibidas'. O pesquisador fez mais perguntas. Nível
de renda? Era bom. Televisões em casa? Duas. Alguma
arma guardada? Nenhuma. Na mesma noite, o sobrado
de Licínio foi visitado pela quadrilha de Nico. Com uma
lista na mão, o assaltante conferia os itens de valor.
'Procuro agir com método e segurança. Sem tiroteio'.
Pesquisar antes de agir é o segredo do sucesso sem
risco'. "

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