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evolutivo, em especial a minha professora de artes do ensino fundamental Marli, que teve
um papel muito significativo na minha vida e ajudou a construir quem eu sou hoje. Também
a minha amiga Jennifer, que esteve presente em todo do percurso do trabalho me ajudando
com questões importantes e me acalmando em momentos de crise. A minha amiga Lilian
que esteve do meu lado por muito tempo durante o período da faculdade e foi a melhor
dupla de estudos que eu poderia ter. Também a todas as pessoas entrevistadas nesse
estudo, que me ajudaram a compreender melhor a magnitude do problema. Um
agradecimento mais que especial a minha melhor amiga Lohayni, que esteve ao meu lado
desde o início da faculdade e que foi presente em todo percurso do trabalho, me ajudando a
entender a área e discutindo questões política sobre a importância desse trabalho para o
local onde vivemos. O apoio dela, mas que qualquer outro, fez muita diferença para eu
chegar até aqui. A todos, muito obrigada.
Mas cada dia que passa, mais um sonho morre
E que por mais que eu não conheça, isso também tá me matando
Se veio de onde eu vim, já faz parte de mim
Se foi por fazer merda, quem sou eu pra julgar?
Ninguém sabe a mente de um favelado
Que faria de tudo pra fazer a vida mudar
Kawe
Tendo em vista que o distrito da Cidade Ademar sofre com um grande déficit habitacional e
tem índices significativos de vulnerabilidade social, pesquisa-se sobre as razões pela qual
esse tipo de ocupação foi necessária pela população de baixa renda nas periferias de São
Paulo, a fim de tentar entender o tipo de ocupação que se tem hoje e implementar uma
infraestrutura que haja como solução para problemas imediatos como habitação e lazer. Para
tanto, é necessário o estudo de projetos de habitação e paisagismo e a partir disso e das
necessidades locais realizar um plano estratégico para a região em uma escala micro.
Realiza-se, então, uma pesquisa por meio de entrevistas, visitas de campo e levantamentos
de dados, para compreender o crescimento demográfico da localidade. Diante disso, verifica-
se que o crescimento demográfico ultrapassou 200% em 40 anos e segue esse padrão de
crescimento atualmente. A ação das instituições públicas são se fazem suficiente deixando a
população expostas ainda mais a injustiças e desigualdades sociais, mesmo com um plano
diretor bem pensado, onde o objetivo principal seria tornar São Paulo uma cidade melhor para
todos, o que impõe a constatação de que para uma real mudança de cenário seria necessária
a implementação de políticas públicas que se fizessem valer o direto real a moradia, lazer e
espaço verde para a periferia, com mais de espaços de qualidade.
Considering that the City Ademar district suffers from a large housing deficit and has significant levels
of social vulnerability, research is being done on the reasons why this type of occupation was necessary
for the low-income population on the outskirts of São Paulo, in order to to try to understand the type of
occupation that we have today and to implement an infrastructure that has a solution for immediate
problems, such as housing and leisure. It is necessary to study housing, landscaping projects and local
needs, to carry out a strategic plan for the region on a microscale. Having said that, a survey is carried
out through interviews, field visits and data surveys, in order to understand the demographic growth of
the locality. It appears that demographic growth has exceeded 200% in 40 years and follows this pattern
of growth today. The action of public institutions is not enough and the population is exposed to even
more injustices and social inequalities, even with a well thought out master plan, where the main goal
would be to make São Paulo a better city for all, which imposes the observation that for a real change
of scenery, it would be necessary to implement public policies that would assert the real right to housing,
leisure and green space for the periphery, but quality spaces.
A escolha de tratar sobre habitação vem dos índices de déficit habitacional das periferias e
do cenário visível de um ambiente hostil onde a população pobre sobrevive. Locais com
presença de esgoto a céu aberto, pragas urbanas, aglomerados, com ausência de iluminação
e suscetíveis a doenças. Demonstrado inclusive em uma pesquisa feita pelo Laboratório
Direito à Cidade e Espaços Públicos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo, que aponta os maiores índices de mortalidade da COVID-19 está
na periferia da cidade.
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A expansão urbana da cidade de São Paulo começa e ter um crescimento acelerado entre
1950 e 1980 com a grande migração de pessoas vindas principalmente do Nordeste e de
imigração de europeus, japoneses, judeus entre outros. Esse grande fluxo migratório e a
expansão urbana da cidade está diretamente ligado ao desenvolvimento na indústria e na
economia na cidade nesse período. A produção habitacional não acompanha o crescimento
demográfico, no primeiro momento a população começa a morar em cortiços. Diversos
casarões se tornam cortiços e há também novas construções que foram criadas para esse
uso na região central.
Após o processo de renovação urbana no centro, onde o espaço começa a ser dominado pela
elite, o centro que antes era ocupado também por habitação passa a ter outro uso causando
uma gentrificação da região. A partir daí começa um crescimento desenfreado na periferia e
ocupações em costas e mananciais. Implicando no início das favelas em São Paulo. A
socióloga Sueli Andruccioli Felix (2002) aponta que:
A pressão demográfica, com baixos rendimentos e níveis de vida, aliada à atração que sempre
exerceram as maravilhas do meio urbano, acelerou a migração e um desequilíbrio nas relações
de produção. De um modo geral, as cidades não tiveram condições de absorver toda a oferta
de mão de obra migrante, tanto pela necessidade de qualificação. Este desequilíbrio nas
relações de produção levou, consequentemente, à desorganização social representada pela
situação ecológica e socioeconômica dessa população excluída do sistema dominante,
caracterizada pelo desemprego, subemprego no setor terciário, recolhimento de esmolas, lixos
etc., enfim, pela formação de um submundo.
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“(..) Com o apoio do governo, fizeram o que chamaram de uma “limpeza” no centro: demoliram
cortiços, despejaram favelas e aumentaram o valor dos aluguéis, que se tornou inviável para
maior parte dos trabalhadores. Ao mesmo tempo, abriram loteamentos clandestinos em áreas
distantes – onde não havia nada – para vender os lotes aos trabalhadores.
Sem ter outra alternativa, os trabalhadores compravam estes lotes, tendo ainda que usar os
finais de semana para construir suas casas com as próprias mãos. Tanto para comprar o lote
como para construir, muitos tinham que se endividar. Além disso, foram jogados em lugares
com infraestrutura precária (água, eletricidade, asfalto) e sem qualquer serviço público (saúde,
creche, escola, etc.).
Para possibilitar que os trabalhadores chegassem ao trabalho, o governo – que deixava os
proprietários e loteadores agirem livremente – chegava depois com infraestrutura básica, como
estradas e linhas de ônibus. Afinal, os patrões precisavam ter seus empregados na empresa,
para explorá-los e lucrar.
Mas o melhor ainda estava por vir. Os proprietários utilizaram uma malandragem que os fez
ganhar ainda mais. Ao abrir os novos loteamentos, deixavam sempre uma grande área vazia,
entre o local do loteamento e o centro da cidade. Grandes pedaços de terra, no meio do
caminho, que ficavam ali, sem serem loteados” (BOULOS,2012)
A classe operária sempre viveu em áreas precárias, antes nos cortiços e agora nas favelas, a
diferença nesse momento é a consciência e ação de instituição públicas para segregação da
população pobre da elite paulistana. O crescimento da cidade é pautado pela valorização
imobiliária.
Esse processo injusto e desenfreado da expansão urbana de São Paulo favoreceu a
ocupação de forma inadequada e o surgimento das favelas nas periferias da cidade, como
dito antes. Hoje analisando o contexto atual vemos a permanência e a reprodução desse
processo e o poder público continua atuante quando se torna incapaz de fazer valer políticas
públicas de moradia, acesso à cultura e saneamento básico. O Art. 6º da Constituição
Brasileira de 1988 prevê os direitos sociais, entre eles o da moradia. Se de fato a habitação e
a qualidade de vida fossem vistas como direito e não como mercadoria a ocupação da periferia
aconteceria de forma diferente, de modo de valorizasse a vida humana, fazendo valer diretos
básicos e cidadania a essas pessoas.
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O direito à moradia no Brasil é negligenciado, tendo em vista que só em São Paulo temos por
exemplo 12.651 pessoas em situação de rua e 11.693 acolhidas por albergues públicos. 3,19
milhões de habitações inadequadas segundo a secretária de habitação de São Paulo, seja
em favelas, barracos ou em áreas de risco como encostas.
A desigualdade no Brasil é um marco histórico. O Brasil foi o último país a abolir a escravatura
em 1888, pouco mais de 130 anos atrás, algo recente. E, mesmo após o processo de
industrialização, baseado em baixos salários, se manteve a segregação social. Após a
abolição não houve de fato nenhuma política pública de reparo histórico que amparasse as
pessoas libertas e ainda hoje as que temos são insuficientes para superar de forma real os
problemas da cidade, principalmente na periferia. Os anos passaram e a população se vê
livre, mas ainda dentro dos mesmos padrões Márcio Couto (2011) faz um paralelo entre a
Europa antiga e os dias atuais:
Sergio Vaz, poeta e produtor cultural da periferia, no documentário realizado pelo SescTV em
2019 também faz uma leitura da cidade que enxerga e periferia como lugar de condições sub-
humanas e negligenciado pelas instituições públicas quando diz:
A cidade de São Paulo é muito louca, porque ao mesmo tempo que dói dá prazer né? A gente
fica pensando, por que a gente não tem mais prazer que dor? Por que as pessoas não deixam
a gente ter prazer? Eu acho que são as artérias do nosso corpo, quando a gente vê sangrar
por ali. Eu acho que São Paulo sangra pela periferia, pelos cantos, pelos córregos, pelas vielas.
É onde São Paulo vomita tudo aquilo que bebe, toda sua arrogância ele vomita na gente, eu
vejo São Paulo assim. É como se a gente tivesse o tempo inteiro de pedir permissão, pra poder
entrar, pra poder ser feliz, pra poder andar nessas ruas que nossos pais e avôs construíram. É
como se deixassem a gente andar por concessão e não por apego á liberdade. Então eu acho
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que São Paulo é isso, é muito estranho, acho que se parece com o Brasil. O micro se parece
com o macro do Brasil. Quando eu vejo a gente falar “os coronéis do nordeste” e fico pensando,
nossa ! E tem mais coronéis que em São Paulo? (Direito a cidade, 2019. 10:37min à 11:46)
O conceito de direito à cidade foi cunhado pelo intelectual marxista francês Henri Lefebvre e
se populariza no Brasil com os movimentos estudantis e populares. Hoje a perspectiva que
temos do direito à cidade é a de que todos podem e devem experimentar a cidade e imprimir
nela tudo o que ela tem de melhor, nossos desejos e faltas, sem medos e com igualdade. A
luta pelo direito à cidade pressupõe a luta pelo direito à moradia, à luta dos ciclistas que
buscam espaço dentro da cidade, dos estudantes quando ocupam suas escolas fazendo
reinvindicações ou quando um cidadão vai ao parque com sua família. É a ideia de que a
cidade deve ser o melhor para todos, deixando o patrimonialismo de lado.
A questão da moradia e do direito à cidade foi discutida primeiro com o movimento sem-terra
na luta pela Reforma Agraria e hoje com a ocupação de edifícios vazios e abandonados que
estão com dívidas com o estado, na luta pela reforma urbana. Reivindicando o direito humano
de habitar e fazer valer o Estatuto da Cidade, o plano diretor e leis de Uso e Ocupação do
Solo (zoneamento), que prevê normas de ordem pública e interesse social para bem coletivo
dos cidadãos e do meio ambiente.
A ocupação dos edifícios surge então como forma de reivindicar os direitos do cidadão
conforme a lei, reivindicando que o governo a tome providência sobre o imóvel específico,
adequando-o para as famílias que o ocupam. A luta é embasada na lei e por isso legítima,
não só por justiça social, mas também pelo previsto no Estatuto da Cidade.
Para tornar a cidade um lugar de todos é importante estudar um agregado de políticas públicas
que funcionem de maneira conjunta e não isoladas. Por exemplo não se pode fazer um
programa de habitação sem levar em conta a especulação imobiliária. Caso contrário
terremos o processo de gentrificação, e assim, o problema nunca será resolvido. Erminia
Maricato (1985) enxerga essa ocupação da cidade, visando todos os aspectos como possível
solução. Quando se pensa em uma solução geral, não penas em problemas isolados
podemos ter uma transformação real da cidade.
A cidadania prevê o direito não apenas à terra, mas à cidade, com seus modos de vida, com
seus melhoramentos, com suas oportunidades de emprego, de lazer, de organização política.
Terra urbana, diante desse raciocínio significa terra urbanizada.
Enquanto a mudança não ocorre, esse contexto político e social acentua a desigualdade de
classes e as condições de vida nas periferias sujeitam os seus moradores a violências
cotidianas e se tornando lugares violentos, um contexto fértil para criminalidade.
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O aumento da criminalidade se dá a partir claro do crescimento demográfico da cidade, assim
como o processo de urbanização, mas o grande agente é a desigualdade social. Sueli
Andruccioli Felix (2002) argumenta que a criminalidade não está associada ao progresso
pessoal, pois isso isoladamente não muda o indivíduo, mas a convicção de inferioridade. Mas
mais que a pobreza o cenário urbano em que esse indivíduo está inserido, exposto a diversas
violências geradas pela segregação e desigualdade, é completamente relacionado e
condicionante de suas atitudes.
Segundo Felix as condições espaciais são, portanto, parte do problema e afetam a percepção
do que é certo e errado. A periferia é então o espaço onde a criminalidade é presente e
cotidiana na vida das pessoas, pelo fato de o poder público ali atuar de forma defasada, pois
a atenção maior está na centralidade e áreas nobres. Diversos estudos apontam as periferias
de São Paulo como foco de crimes violentos e tráfico, mas é importante frisar que os grandes
mandantes do tráfico em São Paulo não é o morador da periferia, tão pouco o crime é
praticado somente nela, mas o foco da violência policial concidentemente acontece em áreas
onde as pessoas têm menor poder aquisitivo. Veja por exemplo nas figuras 2 e 3 onde mostra
que a maior taxa de homicídios e tráfico acontecem em áreas mais afastadas do centro.
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Figura 1 – Criminalidade bairro a bairro 2017 (Homicídios)
Fonte: Diagramação Jornal Estadão com dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública de
São Paulo
Fonte: Diagramação Jornal Estadão com dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública de
São Paulo
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beneficiou a elite e população pobre ficou com a escória da cidade. E mesmo após anos o
poder público se distancia dos problemas. Como dito por Felix (2002):
De um modo geral e sob a ótica de segregações, a análise das hipóteses nos permite afirmar
que, mesmo de forma implícita, Criminalidade e Exclusão são conceitos apresentados na
literatura como extremamente associados e até com uma relação de causa-efeito. Os traços
que definem ambas, normalmente, nada mais são que sintomas externos e visíveis de um
processo histórico, que exclui vastos setores da população do aparato produtivo e de outros
segmentos dos setores dominantes. Define-se como desviante e/ou delinquente o
desempregado, o subempregado, o pobre e miserável, o negro, o habitante da favela e do
cortiço, o que não tem residência fixa, o que não possui documento ou, mais especificamente,
uma carteira de trabalho assinada etc., já que destes segmentos sociais sai o maior contingente
de criminosos e condenados, mesmo a despeito de se ter consciência de como age o sistema
e as agências de controle social.
A população da periferia sofre violências diárias causadas pelo sistema capitalista em que
vivemos quando o salário-mínimo é insuficiente para despesas mensais, ou quando passa
mais de 2hrs no trajeto de casa até o trabalho oque demanda boa parte do seu tempo,
chamado inclusive de espoliação urbana, sem que reste se quer um período do dia para lazer
ou sono de qualidade, quando esse mesmo cidadão por exemplo estuda.
O poder público tem o dever de viabilizar soluções para as periferias e estabelecer de reparo
para um problema que é histórico, implementando políticas públicas eficientes. Melhorar o
ambiente da periferia e viabilizar educação, lazer e infraestrutura de qualidade pode ser um
processo transformador, não só do ambiente, mas da moral da população que ali reside.
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São Paulo tem o maior Produto interno bruto (PIB) do Brasil e está em 21º colocado no
ranking das maiores economias do mundo, o PIB Paulista supera por exemplo o dobro da
média nacional, com base e dados do banco mundial, do Instituto Brasileira de Geografia
(IBGE) e a Fundação Seade em 2019.
Uma cidade com tantas riquezas e que concentra um PIB de 714.684 milhões, dado
levantado pelo IBGE em 2018, tem o dever de ser capaz de lidar com as desigualdades e
problemas sociais que nela existem. O Plano Diretor Estratégico (PDE) de São Paulo surge
então como forma de tentar controlar as desigualdades e tornar a cidade um ambiente
inclusivo e igualitário, fazendo-se valer o direito a cidade. Criando por exemplo as Zonas
Especiais de Interesse social (ZEIS), além das Zonas de Estruturação Urbana (ZEU) que
adensam infraestrutura e tem um programa para moradia popular. Além disso o PDE cria a
Cota de Solidariedade diz que:
(..) todos os empreendimentos imobiliários com mais de 20 mil m² de área construída são
obrigados a destinar o equivalente a 10% de sua área para HIS, que pode ser promovida no
próprio empreendimento, em terrenos bem localizados ou através de repasse de recursos ao
FUNDURB para fins de produção de Habitação de Interesse Social.
Habitação essas que serão construídas principalmente nas ZEIS, que ficam também em
áreas periféricas da cidade. Além da implementação da habitação de qualidade estabelece
também diretrizes de regulamentação fundiária, ampliação e criação de áreas de lazer e
infraestrutura urbana básica e planos de recuperação ambiental. Todas essas estratégias se
se somam para a construção de uma cidade mais igualitária.
O PDE divide em 5 as ZEIS, a que trata especialmente sobre favelas é a ZEIS-1 que são
locais com alta vulnerabilidade social, déficit habitacional por inadequação e população de
baixa renda. O maior objetivo da ZEIS-1 é a regulamentação fundiária e a construção de
novas Habitações de interesse social (HIS).
Por que é tão difícil implantar projetos mais significativos de paisagem? Como mudar essa
cultura que deixa projetos de paisagem aquém de seu potencial? Como mudar essa cultura
de projeto? Como o desenvolvimento científico e os avanços do conhecimento sobre o
sistema natural e construído da cidade podem contribuir para o projeto de paisagem? O que
seria essencial que os projetistas da paisagem soubessem. (pag. 14, 2017)
Essa infraestrutura chamada de verde seria composta por um conjunto de paisagens por
meio das quais se procuraria garantir uma urbanização mais duradoura. A combinação dos
termos “infraestrutura” e “verde”, paisagística ou ecológica, agrega um papel desafiador à
Arquitetura da paisagem e às outras áreas de projeto do ambiente construído (pag. 13, 2017)
Os espaços públicos livres são fundamentais e pode desempenhar um grande papel para a
humanidade o de conservação, preservação e sustentabilidade, unindo os moradores da
cidade com os elementos da paisagem. Aplicando a infraestrutura verde, teremos melhora
na qualidade do ar, pois as arvores e vegetais absorvem poluentes por contato ou absorção
foliar, a vegetação ajuda também a melhorar o clima, deixando o mais úmido e fresco.
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FICHA TÉCNICA
Local: Silvina Audi, São Bernardo do Campo
Ano: 2013–2016
Área Total: 3.558 m2
Área Construída: 10.052 m2
Autores: Marcos Boldarini, Lucas Nobre e Angelo Filardo
Arquitetos: Alexandre Vergara, Jhonny Rezende, Juliana
Junko, Paula Ferndr e Renato Bonfim
Realização: Secretaria de Habitação (Prefeitura de São Bernardo do Campo)
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Figura 4 – Vistas gerais
Fonte: Elaboração do autor a partir da planta original disponível no site do escritório - Boldarini
Arquitetos e Associados
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Figura 7 – Análise da ocupação em corte
Fonte: Elaboração do autor a partir do corte original disponível no site do escritório - Boldarini
Arquitetos e Associados
Fonte: Elaboração do autor a partir do corte original disponível no site do escritório - Boldarini
Arquitetos e Associados
O edifício propõe uma conexão importante entre a Rua João Soares da Silva e a Rua Duarte
Murtinho, permitindo a fruição publica por dentro do terreno e o acesso a área de comercio da
praça. Sua implantação, resolve as questões de insolação de ventilação mesmo em um
terreno estreito e com topografia acentuada. O recorte na topografia permite a entrada de sol
até nos apartamentos mais baixos.
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FICHA TÉCNICA
Local: Perus, São Paulo
PAISAGISMO
Ano: 2012 (projeto) – Em construção
Área: 9.060 m2
Equipe: Aline Santos, Leandro Fontana, Paula Martins, Rulian Nociti, Talita Barão
ARQUITETURA
Área: 39.800m2
Colaboradores: Anne Dieterich, Anselmo Turazzi, Beatriz Marques, Cícero Ferraz Cruz, Fred
Meyer, Gabriel Grinspum, Gabriel Mendonça, Luciana Dornellas, Pedro Del Guerra, Victor
Gurgel, Natália Coachman E Laura Ferraz
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Figura 10 – Vistas gerais do projeto
Fonte: Imagens disponíveis no site do escritório - Brasil Arquitetura
Fonte: Elaboração do autor a partir da planta original disponível no site do escritório - Raul Pereira
Arquitetos e Associados
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Figura 12 – Análise da ocupação em corte
Fonte: Elaboração do autor a partir do corte original disponível no site do escritório - Brasil
Arquitetura
Fonte: Elaboração do autor a partir da foto original disponível no site do escritório - Brasil Arquitetura
O projeto pensa em uma área de lazer para população do bairro, não só do condomínio. Cria
espaços de conexão e passagem, trazendo segurança e vida ao local. Mesmo entre ruas e a
praça interna a vegetação entra como tratamento acústico além da questão estética.
O projeto trás a proposta de mudança não só das moradia, trazendo uma habitação de
qualidade, mas também para o fazer do bairro e uma solução local para o ambiente com
intervenção na vegetação e o córrego, proporcionando melhor qualidade de vida.
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FICHA TÉCNICA
Ano: 2008–2010
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Figura 15 – Vistas gerais e renders
Fonte: Elaboração do autor a partir do corte original disponível no site do escritório - Boldarini
Arquitetos e Associados
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Figura 17 – Análise da ocupação em corte
Fonte: Elaboração do autor a partir do corte original disponível no site do escritório - Boldarini
Arquitetos e Associados
Fonte: Elaboração do autor a partir do corte original disponível no site do escritório - Boldarini
Arquitetos e Associados
Por estar em um terreno estreito e com uma implantação bastante adensada o projeto em
questão propõe uma área de lazer na cobertura, além de uma pequena praça privada ao
condomínio e outra pública que funciona em conjunto com uma área comercial ao lado os
edifícios.
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Figura 19 – Mapa ampliado da zona sul de São Paulo
Fonte: PREFEITURA, São Paulo. Caderno de Propostas dos Planos Regionais das Subprefeituras
Quadro Analítico Cidade Ademar. São Paulo, 2016
A ocupação na região na Cidade Ademar começa por volta de 1960 a partir da expansão
urbana e da instalação da usina Piratininga pela light. Apesar da usina o uso principal da
região passa a ser residencial, quando começam grande ocupações na região do Jardim
Apurá, Parque Doroteia, Guacuri e Cidade Julia. Pessoas vinhas de outras partes do Brasil e
de outras Zonas de São Paulo, como os operários, buscavam ali uma nova oportunidade e
vida. Assim começou a ocupação pelos loteamentos clandestinos, como conta a Subprefeitura
de São Paulo no quadro analítico da região.
Na década de 30, a região de Cidade Ademar era parada obrigatória para carros de boi que
vinham de São Bernardo do Campo em meio a muitas áreas verdes. Naquela época, as olarias
com a fabricação de tijolos e telhas, deram início à incipiente urbanização nessa região. O
processo de industrialização dos anos 50 e 60, concentrado às margens da ferrovia FEPASA,
próximas a Santo Amaro, induziu a ocupação residencial dessa área por operários e
comerciantes, o surgimento dos bairros e vilas geraram a decadência das fazendas, que foram
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loteadas e vendidas aos operários, migrantes que vieram de diversas partes do Brasil. Aos
poucos, a região foi ocupada, apesar de sua distância ao centro. Em 1960, com a instalação
da Usina Piratininga pela Light, chegou a energia elétrica e outros melhoramentos foram
conquistados pela reivindicação dos moradores. (Prefeitura de São Paulo/Subprefeitura
CIDADE ADEMAR,2016)
Por se tratar de uma região com terrenos declivosos a ocupação por moradia em alguns
desses lugares de torna perigosa pelo risco de erosão, além está em uma Área de Proteção
Permanente (APP) por ser encosta.
Fonte: Disponivel no instagram @museudofoco. Autor desconhecido meados dos anos 80.
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Figura 22 – Ocupação em encosta no Jardim Pantanal
Figura 23 – Aterro e cemitério clandestino no jardim pantanal (nomeado como Pq. Itatinga)
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As pessoas entrevistadas demonstram grande interesse quanto a áreas de lazer e a
requalificação dos cursos d’água. Comentam sobre a insegurança da região e a falta de
habitação pois há pessoas em situação de rua no local, que acabam desqualificando o
ambiente público e vivendo em uma situação de vulnerabilidade extrema.
Como chegou até aqui? Com quantos anos? Como chegou até aqui? Com quantos anos?
Cheguei em São Paulo com 3 anos, minha mãe já Vim pra cá pra São Paulo pois minha mãe se
tinha ido antes para procurar emprego. Ela queria separou do meu pai e a gente veio em busca de
mudar de vida e decidiu ir para São Paulo, onde algo melhor para nós duas, ter uma qualidade de
Ela foi a única da família formada em um curso A quanto tempo mora na região?
superior, técnico em contabilidade.
5 anos
Oque acha do lugar? Defeitos e qualidades pouco perigoso, não posso ter a mesma liberdade
que eu tinha antes.
Eu gosto do lugar por ser bem localizado, tem
comércios e transportes. Os defeitos são diversos... Oque pode mudar? do que você sente falta?
Córregos maltratados, ruas sem asfalto, moradores
Eu sinto falta de das coisas que eu fazia como as
de rua que deixam tudo imundo.
amizades. Os costumes, as pessoas da família,
Bom, a qualidade dos ambientes públicos. Ter mais Aqui as pessoas têm mais oportunidades de
áreas de lazer com brinquedos duráveis, área para emprego. Mas tem muitos moradores de rua, tem
ciclistas em bairros mais pobres e ruas mais pessoas que não tem casa e tem que pagar
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Lohayni, mulher, 23 anos Matheus, homem, 23 anos
A região é boa para morar, tem linhas de ônibus Oque acha do lugar? Defeitos e qualidades
para diversos lugares, tem ampla variedade de
O lugar por ser periferia, não nos passa muita
comércio e tem hospital próximo. Pontos negativos
segurança. Mas ainda assim é uma região que
são alagamentos, esgoto a céu aberto, mal cheiro
gosto de morar.
devido a poluição da represa, falta de infraestrutura
da região para acomodar tanta gente. Exemplo é o Oque pode mudar? do que você sente falta?
transporte público que vive cheio, as escolas e
Colocaria mais área de lazer por perto. Por aqui
creches com falta de vaga e o trânsito da região
para se ter um lazer ou você precisa de um meio de
que é absurdo devido à má sinalização.
transporte, ou precisa andar muito.
Oque pode mudar? do que você sente falta?
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Luci, mulher, 62 anos Veridiana, mulher, 47 anos
Como chegou até aqui? Com quantos anos? Como chegou até aqui? Com quantos anos?
Em busca do que? Em busca do que?
Eu vim pra cá com 20 anos de idade, vim buscar Cheguei aqui com 19 anos, em busca de emprego.
melhoria de vida.
A quanto temo mora na região?
A quanto tempo mora na região?
A 28 anos.
Moro na região a 42 anos.
Oque acha do lugar? Defeitos e qualidades
Oque acha do lugar? Defeitos e qualidades
É muito longe de tudo e foi criando várias
Pra mim o defeito que tem aqui é a bandidagem, o comunidades em volta do lugar onde eu moro e vez
resto tudo pra mim é uma maravilha. com que o bairro ficasse muito feio. Aqui não tem
nenhuma qualidade.
Oque pode mudar? do que você sente falta?
Oque pode mudar? do que você sente falta?
Eu gostaria que não tivesse cachorro solto na rua,
que eu acho uma judiação. Gostaria que não A represa é muito suja, os governantes não cuidam
tivesse mendigo da rua, que eu acho uma judiação. dela como deveriam. Tem uma área imensa em
Nosso país não precisa de ter mendigo na rua nem volta dela que poderia ser aproveitada, mas o
cachorro na rua. Nosso país poderia ser mais limpo descaso dos nossos governantes faz com que a
as ruas, deveria se preocupar mais com limpeza, população do bairro em geral se sinta mal porque
que o povo é muito porco. Já começa pelos não tem ninguém que cuide dessa parte.
mendigos, que eles ficam todos soltos na rua,
começam com eles..., mas em geral a população é
muito porca.
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Agnaldo, homem, 45 anos Nilton, homem, 45 anos
Sem Peixe – Minas Gerais São Paulo – Capital. Fiquei aqui até os 5 meses e
fui para a Bahia, onde fiquei por um tempo e depois
Como chegou até aqui? Com quantos anos?
voltei pra São Paulo
Em busca do que?
Como chegou até aqui? Com quantos anos?
Cheguei aqui com 3 anos de idade acompanhando
Em busca do que?
meus pais. Vi o futuro nessa cidade de São Paulo
após os estudos que eu tive, que foram poucos, Eu vim pra cá com minha mãe quando tinha 5 anos
mas hoje eu estou relativamente vivendo bem. de idade.
Atualmente eu sou comerciante
A quanto tempo mora na região?
A quanto tempo mora na região?
40 anos.
No mesmo bairro eu moro a 42 anos.
Oque acha do lugar? Defeitos e qualidades
Oque acha do lugar? Defeitos e qualidades
Qualidades: tranquilidade do lugar e ampla
Bom, defeitos é por ser um bairro de classe média variedade de comércio
baixa então você não tem aquela a qualidade de
Defeito: trânsito intenso e falta de estrutura para
vida que você imagina que uma pessoa quer ter,
comportar tanta gente
que é uma qualidade de vida ótima. Que é uma
qualidade de vida de locomoção, de transporte, de Oque pode mudar? do que você sente falta?
facilidades que um ser humano quer ter. E
Diversificar as opções de comércio, como por
qualidade é que eu moro próximo da represa, um
exemplo mais bancos.
local de ar livre e as paisagens são bonitas, essas
são as qualidades. Sinto falta de mais espaços de lazer, como parques
e ciclovias. Também de mais vagas de creche e
Oque pode mudar? do que você sente falta?
pré-escola.
Melhoria, por ser um bairro de classe média baixa
melhorar o transporte, a pavimentação aqui é
horrível as ruas são todas esburacadas, essa seria
minha principal reclamação. E ter mais opção de
lazer, que aqui a gente é bem devagar de lazer.
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Base de dados: Google Fonte: Elaborado pelo Autor
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A área de intervenção está localizada dentro de uma macro área
de redução da vulnerabilidade urbana e recuperação ambiental e
uma Zona especial de interesse social (ZEIS-1) no bairro Cidade
Julia, Subprefeitura da Cidade Ademar na zona sul de São Paulo,
próximo à divisa de Diadema. Área periférica da cidade, entre a
Ângelo Cristianini e na Rua do Guaicuri.
VIII – compatibilização de usos e tipologias para o parcelamento e uso do solo urbano com as
condicionantes geológico-geotécnicas e de relevo, com a legislação estadual de proteção e
recuperação aos mananciais e a legislação referente às unidades de conservação existentes,
inclusive sua zona de amortecimento;
X – proteção, recuperação e valorização dos bens e áreas de valor histórico, cultural, religioso e
ambiental;
XI – incentivar usos não residenciais nos eixos de estruturação da transformação urbana e nas
centralidades de bairro, visando gerar empregos e reduzir a distância entre moradia e trabalho
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Todas as estratégias indicadas para essa macrozona no plano diretor são apontadas como
desejos da população, visto nas entrevistas.
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Fonte: Google Maps
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Ventos predominantes na região de São Paulo sobram do Sudestre segundo levatamento
feito pelo Intituto Nacional de Meteorologia (INMET)
O estado de São Paulo sofre uma grande variação de temperatura durante o dia, porém a
média de temperatura está dentro do que podemos denominar como confortavel, sendo
assim a melhor solução para conforto ambiental seria a inércia térmica, além de permitir a
entrada de sol ao ambiente para aquecimento durante o inverto e aberturas extrategicas
para melhorar ventilação durando o verão.
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O terreno possui disnivel assentuado por estar em uma área de morro. Para implantação de
uma nova edificação no terreno, evitando cortes seria necessário um edificio escalonado ou
blocos separados.
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O uso predominante do local permanece residencial, a diferença entre hoje e 20 anos atrás é o
crescimento visível de infraestrutura na região com abertura de novas UBS, escolas, como o CEU
Alvarenga local que que também funciona a ETEC Takashi Morita.
Por estar inserido em uma ZEIS e pelo déficit habitacional justifica-se a implementação de um
conjunto habitacional de interesse social na localidade, em conjunto com uma área de lazer e
recuperação do córrego da Rua Guaicuri, que foi uma reivindicação da população e está previsto
para Macrozona de recuperação ambiental.
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Figura 26 – Foto por Satélite
Serão em torno de 50 famílias realocadas em um terreno que irá oferecer infraestrutura para
os moradores. A proposta é criar um conjunto habitacional com apoio de uma creche e com
o térreo que permita a fruição pública criando um escadão entre a Rua Guaicuri e o
condômino, permitindo principalmente o acesso da rua até a creche.
Apesar de o condomínio ser uma área particular adotaremos um térreo livre criando áreas
caminháveis e de permanência para visitantes e moradores, além de espaços privados de
lazer e estudo dentro de cada bloco habitacional.
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Base de dados: Google Fonte: Elaborado pelo Autor
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CORTE LONGITUDINAL
CORTE TRANSVERSAL
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DIAGRAMA
PERSPECTIVA
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A questão do trabalho surgiu da necessidade de compreender as dinâmicas responsáveis
para a formação das periferias de São Paulo, em especial na região Sul da cidade. Local
distante do centro e localizado em área de manancial. O crescimento demográfico na
periferia é atribuído ao desenvolvimento do setor industrial e a gentrificação do centro
Paulista, onde ouve a expulsão da população operaria do centro para locais pais distantes
como a Zona Norte, Zona Leste e a Zona Sul da capital, deixando a população a margem da
cidade. Além do crescente fluxo migratório de pessoas de outros estados em buscas de
novas oportunidades, principalmente de emprego. Demonstrado inclusive nas entrevistas
realizadas.
A inserção de áreas de lazer na região poderia influenciar diretamente nas dinâmicas sociais
do bairro, tornando o lugar vulnerável a fomentação de cultura e que poderia ser um marco
na vida de muitas pessoas que desse espaço usufruírem. Já que a qualidade do espaço em
que um indivíduo é inserido pode influenciar diretamente suas escolhas para bem ou mal.
Pelo tempo pré-determinado para essa pesquisa não foi possível aprofundar os estudos em
toda cidade de São Paulo, tão pouco analisar um referencial teórico mais abrangente. Além
da crise sanitária causa da COVID-19 não foi possível visitar todos os projetos referenciais,
dos quais seriam muito importantes para compreensão das soluções principalmente de
implantação, mas que poderão vir a ser analisadas em um próximo ponto do trabalho.
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BIBLIOGRAFIA
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