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Expressões da
Questão Social
Material Teórico
Exclusão Socioterritorial
Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
Exclusão Socioterritorial
• Introdução
• Concepção de território
• Intervenções urbanas
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Unidade: Exclusão Sócioteritorial
Contextualização
Vamos iniciar esta unidade refletindo sobre a concepção de território, as intervenções urbanas
e os processos de exclusão socioterritorial, assim como sua relação com a pobreza. Veremos
também as estratégias de resistência da população na cidade de São Paulo.
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Introdução
A exclusão de bens materiais e culturais faz parte da vida cotidiana de um grande contingente
da população brasileira, a pobreza produz e mantém um enorme exército reserva de força de
trabalho. Um percurso da pobreza se estende do espaço metropolitano até as periferias que, tanto
geográfica, cultural quanto socialmente tornam-se cada vez mais afastadas dos centros urbanos.
Existe uma série de violações de direitos provocadas pelo sistema capitalista que fere vários
segmentos das classes empobrecidas por ele. A exploração de poucos sobre muitos gera uma
expressiva trama de ilegalidade que se entrelaça nas práticas urbanas e provoca profundos e
vastos sofrimentos.
As mudanças no mundo do trabalho vêm modificando ao longo da história o padrão
de crescimento das cidades. Temos como exemplo a cidade de São Paulo que, a partir da
década de 80, alterou sua imagem de polo industrial com o êxodo das indústrias para outras
cidades do Estado, houve, então, queda no crescimento populacional e empobrecimento de
parcelas significativas da burguesia e do proletariado, o emprego industrial foi substituído pela
terceirização, com esse processo de metamorfose as indústrias deram lugar ao centros comerciais
e setores de serviços.
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Unidade: Exclusão Sócioteritorial
Essas questões agravam-se à medida que a luta pela sobrevivência das famílias torna-se cada
vez maior frente a essas dinâmicas complexas. Ao mesmo tempo em que São Paulo se desenvolve
economicamente, traz com seu desenvolvimento mudanças significativas, ocasionadas por essas
novas configurações no mundo do trabalho – o crescimento da burguesia, a multiplicação de
funções e assalariamento do trabalho e o crescimento do setor terciário foram, sem dúvidas,
fatores de ampliação das desigualdades.
A população mais empobrecida foi expulsa por esse processo das áreas centrais, onde está
a melhor infraestrutura urbana. Ela se deslocou para áreas cada vez mais distantes e periféricas
da cidade em que o solo é menos valorizado. Quanto às regiões centrais, essas sofreram com o
processo de deterioração da proliferação de favelas e cortiços como forma de moradia, outra
situação que se faz cada vez mais constante e visível.
A pobreza é umas das principais violências presentes nas sociedades contemporâneas.
Seu impacto é destrutivo, causado pelo sistema capitalista, deixando profundas marcas nas
gerações de famílias empobrecidas – marcas que atingem a subjetividade dos indivíduos
e toda a sua vida prática, causadas por desemprego, saúde precária, moradia insalubre,
desconforto, insegurança alimentar, ignorância e alienação, fadiga diante de uma carga de
trabalho exploratória, entre outros fatores que delineiam a realidade das pessoas que vivem em
situações de subalternidade e pobreza.
Esses fatores são vistos em todas as partes, porém, nas cidades, essas condições são
evidenciadas à medida em que os territórios cheios de significados as qualificam dentro de um
espaço geográfico, ou seja, a pobreza nas cidades está bem desenhada por uma condição não
apenas social mas territorial.
A noção de pobreza é ampla e complexa, supõe gradações e também tem uma concepção
relativa devido a múltiplas condições e situações. Antigamente, ela era medida por apenas um
indicador, a renda, mas atualmente outros indicadores são usados em sua mensuração, como
educação, natalidade, saúde, usufrutos de recursos sociais, dentre outros. Essa mudança vem
apontando em suas pesquisas novos níveis e condições de pobreza que, mesmo ainda com um
viés economicista, irão defini-la como algo temporário ou permanente – pobres são aqueles que
não têm acesso ao mínimo de bens e recursos e, por isso, são excluídos em diferentes graus.
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A pobreza é expressão direta das ralações sociais e não está associada unicamente à privação
de materiais. Ela alcança vários níveis na vida e na condição humana – espiritual, social,
econômica, política, moral ético – e, de várias formas, intervém diretamente ou indiretamente
na sociedade como um todo, mas, principalmente, nos indivíduos que estão imersos na luta
pela sobrevivência.
Ao analisarmos a pobreza sob a ótica da exclusão social, esta constrói uma referência, um
lugar no mundo onde o poder é ausente, o mando de decisão fragilizado ou inexistente, as
práticas de resistência e luta andam lado a lado com as privações matérias e de conhecimento
dos processos sociais. As classes sociais assim divididas têm em sua composição a chamada
classe popular, caracterizada por sua semelhança e condição de vida empobrecida, geralmente
formada por trabalhadores pobres que em sua maioria vivem com poucos recursos.
De acordo com estudos realizados nos centros urbanos das cidades, constatou-se que essa
classe de trabalhadores urbanos não é homogenia. No Brasil, por exemplo, evidencia-se uma
classe diversificada com diferentes experiências de dominação
Concepção de Território
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2 - O cotidiano, ou seja, uma dinâmica de interação localizada e em constante movimento
no seu próprio entorno, onde há uma ação de todos não restrita ao chamado lugar, pois,
como já dissemos, o território tem significados que ultrapassam a circunscrição político-
jurídica, enquanto Estado-Nação, já o lugar tem sua posição limitada;
3 - A sociedade global, que se estabelece à medida em que as relações locais são
enraizadas e exercem uma dinâmica interativa no seu próprio entorno. Uma dinâmica
que estabelece uma rotação, onde todos interagem em volta de si mesmos e dos outros.
Essa dinâmica não se restringe ao âmbito lugar apenas; dependendo de sua posição, ela
cria sua própria identidade e se estabelece para além das limitações concretas vividas.
Ela se estende até as dimensões idealistas das representações do espaço em que se vive.
A diferença entre lugar e território: território não pode ser visto quanto a escala e a compreensão
geográfica, ele é um espaço abstrato, idealizado, vivido, sentido e que está englobado nos lugares
que pode assimilar suas diferenças e seus valores por meio da realidade; o lugar estabelece
uma delimitação real geográfica, diferente do território que tem seu significado expandido,
ultrapassando o lugar, mas profundamente assimilado por esse.
Lugar
Território
A apropriação do território pelo homem implica no dinamismo de interação entre o homem
e o espaço. Sendo que, nessa perspectiva, o território passa a ser a concretização dessa
relação. Apropriar-se do território significa interagir com ele, criando e recriando significados e
incorporando-os na vida cotidiana. Para tanto, usamos o termo territorialidade – termo singular
da apropriação, é o fazer uso da terra do território.
A territorialidade reflete as múltiplas dimensões da vida no território e nos remete ao campo
do sujeito social, do lugar social e do território.
O lugar concreto da vivência pode nos levar a compreender a história do lugar onde vivemos
e dos sujeitos que o construíram. Quando queremos entender como se deu a configuração
jurídica, política, social e econômica de um país, faz-se necessário um resgate histórico de sua
formação. Compreender o hoje exige um olhar para o passado.
No caso do Brasil, por exemplo, para compreender a sociedade, é necessário partir dos
pontos de vista social, cultural e político, os quais favorecem as bases formadoras do nosso país.
Além disso, precisamos analisar o que, ao longo de nossa história, foi tido como verdade e como
essas verdades foram utilizadas para a construção ideológica.
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Intervenções Urbanas
No século XIX, as políticas públicas no Brasil adotaram um sistema higienista que passou a ser
utilizado principalmente pelas políticas urbanistas de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo.
Em 1893, no Rio de Janeiro, aconteceram grandes ações de despejo no centro da cidade.
A grande maioria desses despejos ocorriam nos cortiços sob forte amparo policial, pois as
autoridades consideravam esses espaços como locais altamente perigosos, contaminados
e como abrigos de desordeiros que ameaçavam a paz e a ordem do centro urbano. Muitos
cortiços foram demolidos com motivos orientados por essa questão ideológica higienista e
científica. Essa ideologia passou a se destacar nas políticas desse período, principalmente nas da
saúde pública, que afirmavam ser essa prática necessária para a preservação da saúde de toda
a população. O discurso científico-higienista afirmava que espaços como os cortiços tinham
pouca iluminação e circulação de ar, estruturas precárias de fornecimento de água e esgoto,
fatores considerados como os principais responsáveis pelo alastramento de epidemias, sendo
necessárias a desinfecção e a demolição. Essa ação fazia com que as pessoas fossem desalojadas
e expulsas para as periferias das cidades.
Na segunda década do XX, os cortiços desapareceram por completo das intervenções
urbanísticas e, nos últimos cem anos, eles têm se reproduzido e reinventado.
Não tão distante, temos acompanhado situações semelhantes na cidade de São Paulo. A população
em situação de rua habitava permanentemente os vãos dos viadutos, mas foi expulsa desses lugares.
Os albergues do centro da cidade, constantemente lotados, não têm estrutura para atender a toda
essa população, sendo assim, grande parte desses morados acabam vagando durante o dia para, ao
entardecer, travar uma verdadeira batalha para conseguir abrigo nos albergues da cidade.
Essa tendência higienista não é exclusividade de ações voltadas aos moradores em situação
de rua, atinge também outras famílias que foram obrigadas a deixar suas casas por conta de
desapropriações de moradias consideradas irregulares. Essas pessoas tiveram como única
alternativa a migração para lugares mais distantes dos centros.
Os novos projetos urbanísticos têm como um de seus objetivos preservar a imagem pública da
cidade. As favelas são uma estratégia da população permanecer em espaços centrais ou próximo aos
centros urbanos. Mesmo com a precariedade interna das favelas (abastecimento de água, esgoto,
energia elétrica), as famílias permanecem nesses locais por não encontrarem outra alternativa.
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A principal característica das favelas é a ocupação em áreas públicas, onde são construídas e
multiplicadas dia após dia habitações precárias, geralmente erguidas em terrenos íngremes, sem
infraestrutura adequada. Nas periferias, esses espaços são, na maioria das vezes, socialmente
desvalorizados e construídos em áreas que não são vedadas pela legislação.
Espaços precários com poucos recursos e serviços públicos.
As desigualdades se constituem de diversas formas, inclusive na posse da terra. Manifesta-
se também no acesso desigual aos serviços públicos, como: escolas, postos de saúde, creches
infraestrutura urbana, asfalto, iluminação adequada, pouca ou nenhuma área de lazer; ou seja,
um conjunto crítico de situações que caracterizam esses espaços utilizados como forma de
enfrentamento da população para permanecer nos espaços urbanos ou em suas proximidades.
Considerações Finais
Ao considerarmos a pobreza como situação social concreta, produto das desigualdades,
percebemos que seu percurso atinge não só o que tange aos indivíduos, mas também está
visível em níveis regionais. O desenho geográfico da pobreza é visível quando pesquisas são
realizadas em territórios das cidades, identificando que em determinados lugares ela está
mais presente. As questões de renda, de acesso a serviços públicos, à moradia, ao trabalho,
às questões urbanísticas, entre outros caracterizam bem essa concretude da pobreza. Tem-se
notado que essa visibilidade se faz presente, principalmente, em bairros mais afastados dos
centros urbanos – os chamados bairros periféricos ou a periferia.
Uma população que foi expulsa das áreas mais valorizadas da cidade, que não estava de
acordo com os padrões estabelecidos pela organização desses espaços, foi se deslocando para
lugares mais distantes. Outra população, como forma de resistência permaneceram, mantém-
se em situações degradantes de moradia – em cortiços, por exemplo – e que são invisíveis nos
dias de hoje aos projetos urbanísticos. São pessoas que permanecem nesses espaços em função
da sobrevivência e, quando já não têm nem esses lugares como abrigo, por não conseguirem
mantê-los, encontram-se nas ruas perambulando durante o dia e compondo filas na frente dos
albergues pela noite, para ter um lugar onde descansar com segurança e fazer sua higiene.
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Essas pessoas estão o tempo todo em confronto com a própria noção de território, pois, como
no caso dos moradores de rua, esses já perderam, em sua maioria, o sentimento de pertencimento
e reconhecimento de seu território. Sua migração pelas cidades vizinhas ou bairros próximos ao
centro os coloca em um patamar de pertencer a tudo e não pertencer a nada.
O território nos traz a noção de pertencimento e este está além do lugar em que vivemos.
O território não nos limita ao espaço, mas nos coloca diante de uma identidade social. Quem
perde esse sentimento de pertencimento perde essa identidade, logo, sem essas referências,
torna-se extremamente vulnerável – em um alto grau de complexidade.
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Material Complementar
Explore
http://www.brasilescola.com/geografia/segregacao-desigualdades-nos-centros-urbanos.htm
··Desigualdades Regionais;
··Favelização e Segregação Urbana;
··Reforma Urbana;
··Renda per capita que compõe o IDH brasileiro.
Leia também:
Explore
CABANES, R., GEORGE, I.; RIZEK, C.S.; ETELLES, Veras (org.). Saídas de Emergência:
ganhar/perder a vida na periferia de São Paulo. São Paulo: Boitempo, 2011.
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Referências
KOGA, Dirce H; GANEV, E; FAVERO, E.T (Org.). Cidades e Questões Sociais. São Paulo:
Terracota, 2010.
YASBECK, Maria Carmelita. Classes Subalternas e Assistencial Social. 7. ed. São Paulo:
Cortez, 2009.
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Anotações
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